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1 Juan Carlos Pacheco - 83 CONTROLE ESPINHAL DO MOVIMENTO INTRODUÇÃO • O sistema motor consiste em todos os nossos músculos e os neurônios que os controlam. Seu comando pode ser dividido em duas partes: o O comando e o controle da medula espinhal sobre a contração muscular coordenada. o O comando e o controle do encéfalo sobre os programas motores na medula espinhal. • Nessa aula estudaremos apenas o controle do movimento feito pela medula, que é responsável pelos movimentos reflexos e pelos movimentos rítmicos. [Os outros tipos de movimento são os de equilíbrio (feito pelo tronco encefálico) e os coordenados (feito pelo córtex cerebral) – Esses movimentos serão vistos na próxima aula] O SISTEMA MOTOR SOMÁTICO • O músculo esquelético constitui a maior parte da massa muscular do corpo e sua função é mover os ossos em torno das articulações. • Dentro de cada músculo há centenas de fibras musculares, cada uma inervada por uma única ramificação axônica do sistema nervoso central. • Como são derivados embriologicamente dos somitos, esses músculos e as partes do sistema nervoso que os controlam são chamados coletivamente de sistema motor somático. • Os músculos esqueléticos são divididos em 3 tipos: o Músculos axiais: responsáveis pelos movimentos do tronco. o Músculos proximais: movimentam o ombro, o cotovelo, a pelve e o joelho. o Músculos distais: movem as mãos, os pés e dedos. O neurônio motor inferior • A musculatura somática é inervada pelos neurônios motores somáticos do corno ventral da medula espinhal, também chamados de neurônios motores inferiores. • Esses neurônios controlam diretamente a contração muscular. • Existem dois tipos de neurônio motor inferior: o alfa e o gama. 2 Juan Carlos Pacheco - 83 Organização segmentar dos neurônios motores inferiores • Os axônios desses neurônios se agrupam para formar raízes ventrais. • Cada raiz ventral se junta a uma raiz dorsal e forma um nervo espinhal, que deixa a medula através dos espaços entre as vértebras. • Como vimos na última aula, temos 30 espaços entre as vertebras, logo temos 30 pares de nervos espinhais mistos. [misto pq possuem fibras sensoriais e motoras] • Além disso, as células que inervam os músculos axiais são mediais em relação àquelas que inervam os músculos distais, e as células que inervam os flexores são dorsais em relação àquelas que inervam os extensores. • Algumas partes do corpo possuem uma musculatura maior e mais ativa, então a região da medula responsável pela sua inervação também será maior. [ver imagem ao lado] [Por exemplo, os cornos dorsais e ventrais que inervam a musculatura da perna e do braço são maiores que os cornos que inervam musculatura do abdome] Neurônios motores alfa • São os responsáveis pela geração da força pelo músculo. • O neurônio motor alfa, em conjunto com todas as fibras musculares que ele inerva, é chamado de unidade motora. Controle da contração pelos neurônios motores alfa • Algumas situações exigem uma contração mais forte, enquanto outras nem tanto. • O sistema nervoso usa vários mecanismos para controlar a força da contração muscular de uma forma gradual e precisa. • A primeira forma de controle é variando a taxa de disparo dos neurônios motores. o O neurônio motor alfa libera ACh na junção neuromuscular, causando um potencial excitatório pós-sináptico (PEPS) na fibra muscular. o O potencial de ação gerado provoca um abalo na musculatura (rápida contração, seguida de relaxamento). o Uma contração sustentada requer uma sequência contínua de potenciais de ação. 3 Juan Carlos Pacheco - 83 • A segunda maneira é recrutando unidades motoras sinérgicas adicionais. o A tensão extra provida pelo recrutamento de uma unidade motora ativa depende de quantas fibras musculares há nessa unidade. o A maioria dos músculos contém unidades motoras de vários tamanhos, as quais são recrutadas em ordem, da menor à maior. Aferências para os neurônios motores alfa • Para entender o controle dos movimentos esqueléticos, precisamos primeiro entender o que regula os neurônios motores. • Existem três fontes sensoriais que enviam sinais para um neurônio motor alfa: 1. Células ganglionares da raiz dorsal da medula. Essa entrada vem do próprio músculo, é um sinal de retroalimentação. 2. Interneurônios da medula espinhal, podendo ser excitatória ou inibitória. 3. Neurônios motores superiores, localizados no córtex motor e no tronco. [Os itens 1 e 2 serão explicados mais abaixo. O item 3 será tema da próxima aula] CONTROLE ESPINHAL DE UNIDADES MOTORAS [Aqui será analisado como a atividade do neurônio motor é controlada, começando pela primeira fonte de entrada – a retroalimentação sensorial - a partir dos próprios músculos. Ou seja, o músculo, ao ser estimulado, manda um comando sensorial para a medula, que envia uma resposta motora para o mesmo músculo] Propriocepção dos fusos musculares • No interior da maioria dos músculos esqueléticos existem estruturas especializadas, chamadas de fusos musculares, que também pode ser chamado de receptor de estiramento. • Na região central dos fusos estão axônios sensórias do grupo Ia, que se enrolam nas fibras musculares. • Neurônios do grupo I são os mais grossos e mielinizados, isso significa que eles possuem potenciais de ação muito rápida • O conjunto [fuso + axônios Ia] forma uma estrutura especializada em detectar alterações no comprimento do músculo (estiramento). • Essa estrutura é um exemplo de proprioceptor, ou seja, um receptor do sistema somatossensorial especializado na “sensação corporal”. 4 Juan Carlos Pacheco - 83 • Os axônios sensoriais Ia saem do músculo e penetram na medula espinhal através das raízes dorsais. • Na medula, ramificam-se várias vezes e formam sinapses excitatórias com os interneurônios e os neurônios motores alfa dos cornos ventrais. O reflexo de estiramento • Quando um músculo é estirado, ele tende a reagir contraindo-se. • O axônio Ia e os neurônios motores alfa nos quais faz sinapse constituem o arco reflexo de estiramento. • O estiramento da região central do fuso despolariza os axônios sensoriais Ia, que faz sinapse com os neurônios motores alfa no corno ventral da medula. • Os neurônios motores alfa respondem com aumento de suas frequências de potenciais de ação, fazendo o músculo se contrair. [O reflexo patelar é um exemplo de reflexo de estiramento. Quando seu médico bate no tendão abaixo do seu joelho, o tendão estende muito rapidamente. Por reflexo, o músculo do quadríceps da coxa contrai e faz a sua perna estender] Propriocepção dos órgãos tendinosos de Golgi • Outro sensor do músculo esquelético é o órgão tendinoso de Golgi, que funciona como um medidor de tensão muito sensível. • Eles estão localizados na junção do músculo com o tendão e são inervados por axônios sensoriais do grupo Ib, que são ligeiramente mais finos que os axônios Ia. • Dentro do órgão, os axônios se entrelaçam entre as fibras de colágeno. • Quando o músculo se contrai, a tensão sobre as fibrilas de colágeno aumenta. • Os axônios Ib são espremidos, seus canais iônicos mecanossensíveis são ativados, e os potenciais de ação podem ser acionados. 5 Juan Carlos Pacheco - 83 • Os axônios sensoriais Ib entram na medula espinhal e fazem sinapse com interneurônios inibitórios Ib, no corno ventral. • Alguns dos interneurônios Ib formam conexões inibitórias com os neurônios motores alfa que inervam o mesmo músculo. • Esse reflexo tem como função regular a tensão muscular dentro de uma faixa ideal. • À medida que a tensão muscular aumenta, o neurônio motor alfa é inibido e a contração muscular diminui. • Este arco reflexo Ib pode proteger o músculo de sersobrecarregado. Propriocepção das articulações • Além dos fusos musculares e dos órgãos tendinosos de Golgi, vários axônios proprioceptivos estão presentes nos tecidos conectivos das articulações. • Eles estão principalmente no tecido fibroso que envolve as articulações e os ligamentos. • Esses axônios mecanossensíveis respondem a mudanças de ângulo, direção e velocidade de movimento Neurônios motores gama • As fibras extrafusais, mais numerosas, estão fora do fuso e formam a massa muscular. • Apenas essas fibras são inervadas pelos neurônios motores alfa. • Porém, o fuso muscular contém fibras musculares esqueléticas modificadas no seu interior, chamadas de fibras intrafusais. • As fibras intrafusais recebem sua inervação motora de neurônio motor gama. • Esses neurônios gama inervam as fibras musculares intrafusais nas duas extremidades do fuso muscular. • Sua ativação causa a contração dos dois polos do fuso muscular, tracionando, portanto, a região central e mantendo os axônios sensoriais Ia ativos. • Observe que a ativação dos neurônios motores alfa e gama tem efeitos opostos: o A ativação alfa, por si só, diminui a atividade Ia, ao passo que a ativação gama a aumenta. 6 Juan Carlos Pacheco - 83 [Agora veremos a segunda fonte de entrada para o controle do neurônio motor, que é feito por interneurônios da medula espinhal] Interneurônios espinhais • As ações dos neurônios sensoriais Ib dos órgãos tendinosos de Golgi dependem de conexões polissinápticas, todas mediadas por interneurônios da medula. • Os interneurônios espinhais recebem conexões sinápticas de axônios sensoriais primários, de axônios descendentes do encéfalo e de axônios colaterais de neurônios motores inferiores. Entrada inibitória • Quando um grupo de músculo se contrai, outros grupos precisam estar relaxados. • Por exemplo, se formos erguer peso com nossos braços, o bíceps irá contrair, em contrapartida, o tríceps precisa relaxar. • Essa contração de um conjunto de músculos acompanhada pelo relaxamento dos músculos antagonistas é chamada de inibição recíproca. Entrada excitatória • Um exemplo de reflexo mediado por interneurônios excitatórios é o reflexo flexor de retirada. • Ele é ativado pelos axônios Aδ nociceptivos que provocam dor. • Esses axônios sensoriais adentram a medula e realizam sinapse com vários interneurônios. • Em consequência, essas células ativam os neurônios motores alfa, que fazem o músculo se mover na direção contrária ao estímulo de dor. 7 Juan Carlos Pacheco - 83 • Agora pense que você está andando e pisa em uma tachinha. Graças ao reflexo flexor você irá retirar o pé. • Porém, se você simplesmente retirasse o pé, provavelmente você cairia por falta de equilíbrio. • Para que isso não ocorra, o corpo possui um mecanismo, chamado reflexo extensor cruzado. • Nesse caso, ao flexionar a perna que pisou na tachinha, a outra perna sofre extensão, permitindo que você mantenha a postura. [Observe que esse é outro exemplo de inibição recíproca, mas, nesse caso, a ativação dos flexores em um lado da medula espinhal é acompanhada pela inibição dos flexores no lado oposto] A geração de programas motores para a locomoção • Esse reflexo extensor cruzado parece fornecer as bases para a locomoção, pois quando caminhamos, alternadamente, flexionamos e estendemos nossas pernas. • Porém, precisamos de um mecanismo que coordene o tempo dos movimentos. • Esse mecanismo é realizado pela medula espinhal, que gera circuitos chamados de geradores centrais de padrão. • Esses geradores possuem interneurônios que trabalham como um marca-passo, disparando potencias em sequência. • Como consequência, os neurônios motores são ativados e geram comportamentos cíclicos, como a marcha. • No entanto, os neurônios marca-passo não agem sozinhos, eles fazem parte de circuitos, que estabelecem interconexões: o A entrada de estímulo ativa interneurônios, sendo que um gera flexão e outro gera extensão. o Esses interneurônios, reciprocamente, se inibem, de modo que a flexão de um lado é acompanhada pela extensão no outro. [Poderíamos pensar que o ato de andar é gerado pelo encéfalo. Porém, estudos mostram que ao se seccionar a medula do encéfalo, os comandos para o movimento continuam. Um exemplo é o corte da cabeça de galinhas, que continuam correndo, mesmo sem o encéfalo. Isso prova que é a medula a responsável pela geração da locomoção. Contudo, percebemos também que quando sem cabeça, as galinhas correm sem direção nenhuma. É aí que entra o papel do encéfalo, que através de padrões complexos e coordenados, irá dar sentido ao movimento – esse será o tema da próxima aula]
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