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A educação no Renascimento - Humanismo, Reforma e Contra reforma

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A educação no Renascimento: 
humanismo, Reforma e Contrarreforma 
 
Edilian Arrais* 
CONTEXTO HISTÓRICO 
 
O Renascimento é o período que compreende entre os 
séculos XV e XVI e leva esse nome por significar a 
retomada dos valores greco-romanos. Desencadeou o 
movimento conhecido como humanismo, indicando a 
procura de uma imagem do ser humano e da cultura, em 
contraposição às concepções predominantemente teológicas 
da Idade Média e ao espírito autoritário delas decorrente. 
Há um esforço para superar o teocentrismo, ao se 
enfatizarem os valores antropocêntricos. 
Foi um período marcado pelas viagens ultramarinas que 
ampliaram os negócios da burguesia europeia. 
Dentro desse período acontece, para os brasileiros, a 
chegada dos portugueses no ano de 1500, o que dá início à 
colonização e à catequese dos índios. 
 
O humanismo 
Prevalece durante o Renascimento a tendência de ver a Idade Média como ‘idade das trevas’, essa 
resistência pode ser compreendida pelo fato dos renascentistas se recusarem determinantemente aos 
valores medievais. 
Retorna-se às fontes da cultura greco-latina. Acontece uma secularização do saber, despojando-o da 
parcialidade religiosa. A intenção era formar o espírito do indivíduo culto mundano — o gentil-homem. 
O olhar humano antes voltado para o céu, agora se encontra na terra, o que aguça o interesse pelo corpo 
humano e pela natureza. Esse fenômeno irá impulsionar os conhecimentos na área da medicina, em 
especial na área de anatomia com a prática da dissecação de cadáveres, o que antes era proibido pela 
Igreja. 
Uma nova imagem de mundo surge em toda parte, na pintura, na arquitetura, escultura e literatura. 
A ascensão burguesa 
Essa nova maneira de pensar do homem do século XV está associada às transformações econômicas que 
começaram a acontecer desde o final da Idade Média e que se estendem cada vez mais fortemente nos 
séculos seguintes — o desenvolvimento das atividades artesanais e comerciais da burguesia, a liberdade 
dos antigos servos, a revolução comercial do século XVI, a consolidação dos Estados Nacionais, o 
fortalecimento das monarquias absolutistas. 
É um período de grandes invenções (pólvora, imprensa, o papel, a bússola etc.) e das viagens ultramarinas 
(advindas da necessidade de ampliação dos negócios burgueses). 
Figura 5 – Panorama geral do Renascimento 
 
Reforma e contrarreforma 
O espírito inovador do Renascimento, inevitavelmente afeta também a religião. Interesses 
políticos nacionalistas e de natureza econômica sustentavam os movimentos de ruptura 
representados pelos luteranismo, pelo calvinismo e pelo anglicanismo. 
É importante esclarecer que esses movimentos não eram apenas de natureza religiosa, por 
trás dessa “rebeldia” estavam também os interesses da burguesia em libertar-se dos senhores 
feudais, das restrições econômicas e dos empréstimos a juros feitos pela Igreja. 
O “boom” da crise de fato veio a dar-se no século XVI, com a Reforma Protestante, que levantou-se 
notoriamente contra a ideia negativa que os católicos tinham em relação aos negócios e às riquezas. Na 
contrapartida, os protestantes defendiam o enriquecimento como um sinal de favor divino. 
Evidentemente, com tal proposta, Lutero5 recebeu o apoio dos nobres interessados nos confisco dos bens 
do clero e Calvino6 teve apoio da rica burguesia. 
A Igreja Católica reage ao movimento protestante, com o que é conhecido pela Contrarreforma. A 
Inquisição, experimentada por alguns na Idade Média, tornar-se ainda mais incisiva, sobretudo em 
Portugal e na Espanha. 
EDUCAÇÃO NO RENASCIMENTO 
Nascimento do colégio 
Os mais ricos continuam sendo educados por preceptores em seus próprios castelos, a pequena nobreza e 
a burguesia também queriam educar os filhos e os encaminhavam para a escola, na esperança de melhor 
prepará-los para a liderança e a administração política e dos negócios. 
Educar nesse período tornava-se questão de moda e uma exigência, conforme a nova concepção de se 
humano. 
O aparecimento dos colégios, do século XVI até o XVIII, foi um fenômeno paralelo ao surgimento da 
nova imagem da infância e da família. As crianças começam finalmente a ser notadas, a serem vista sob 
um novo olhar, distinto daquele da Idade Média. A universidades continuavam decadentes, impermeáveis 
às novidades. 
Educação leiga 
A maioria dos colégios continuava por conta das ordens religiosas, isso significa que nem sempre os 
ideias renascentistas eram implantados. Entretanto, algumas escolas humanistas foram criadas, como 
resposta à iniciativa de alguns leigos. Só no século XVII apareceram as primeiras academias científicas 
(quando ocorreu o chamado renascimento científico). 
 
5
 Martinho Lutero (1483-1546) foi sacerdote católico. Personagem principal da Reforma Protestante. Nasceu na Turíngia, 
Alemanha, no dia 10 de novembro de 1483. Para evitar a exploração da população ignorante, elaborou 95 teses sobre a venda de 
indulgências e no dia 31 de outubro de 1517, afixou-as na porta da igreja. Em 1520, o Papa Leão X dá um prazo de sessenta dias 
para Lutero se retratar, Lutero queima publicamente a bula papal e em consequência é excomungado. Disponível em 
http://www.e-biografias.net/martinho_lutero/ Acesso em 14 Out. 2012 
6
 João Calvino (1509-1564) nasceu em Noyon, na França, e estudou latim em Paris e Direito em Orleans, onde começou a se 
interessar por teologia e o estudo da Bíblia. Em Burgos, além de outras cidades francesas, ele começou a disseminar suas 
doutrinas reformistas. Em 1535, uniu-se a Nicolas Cop, reitor do Universidade de Paris, quando este anunciou seu apoio a 
Martinho Lutero. Acusados de heresia, ambos foram obrigado a abandonar Paris. Em 1536, Calvino publicou a primeira edição do 
seu A Instituição da Religião Cristã, um conciso e provocativo estudo que o colocou na vanguarda do protestantismo europeu. 
Disponível em http://www.sohistoria.com.br/biografias/calvino/ Acesso em 14 Out. 2012 
Figura 6 – Lutero 
Educação religiosa reformada 
A reforma protestante criticava a igreja medieval e apresentava uma proposta de retorno às origens pela 
consulta direta ao texto bíblico, sem a intermediação dos sacerdotes católicos. O humanismo influência, 
portanto, também o plano religioso. Há uma defesa da personalidade autônoma, repúdio à hierarquia e um 
incentivo de que os fiéis buque sua relação pessoal e direta com Deus. 
A educação torna um importante instrumento para a reforma, uma vez que a grande ênfase desse 
movimento estava no acesso igualitário da leitura e interpretação da Bíblia. 
Outro fator importante apregoado por Lutero foi a implantação da escola primária para todos, ainda que 
houvesse distinção entre a educação que receberia a classe trabalhadora, que deveria receber educação 
elementar, enquanto a classe privilegiada receberia a educação voltada ao ensino médio e superior. 
Havia também uma crítica aos castigos e ao verbalismo da Escolástica, em lugar disso Lutero propõe 
jogos, exercícios físicos e música, valoriza os conteúdos literários e recomenda o estudo de história e das 
matemáticas. 
Reação católica: os colégios jesuítas 
Os colégios jesuítas são uma reação à educação reformada. Além disso, exerceram forte influência não só 
na concepção da educação na Europa, mas também no Brasil. 
Inácio de Loyola vê-se desafiado por essa causa e funda a Companhia de Jesus em 1534, com o apoio do 
Papa III em 1540. Inicialmente o objetivo da Ordem era a propagação da fé, a luta contra os infiéis e 
hereges. Logo que perceberam os adultos eram mais resistentes, voltaram-se para os jovens, tendo nas 
escolas a grande ferramenta pra moldar as jovens mentes. 
As práticas e conteúdos que os jesuítas usavam estava em consonância com as regras codificadasno Ratio 
Studiorium7. 
Os alunos estudavam as principais obras greco-latinas e aperfeiçoavam a capacidade de expressão e 
estilo, permanecendo muito presos aos padrões clássicos. 
Após mais de 200 anos de educação jesuítica, em 1759, o marquês de Pombal, então primeiro-ministro de 
Portugal, expulsa os jesuítas do reino e de seus domínios, inclusive do Brasil. O argumento era de que o 
ensino jesuítico promovia separação entre a escola e a vida, não transmitia aos alunos as inovações do seu 
tempo; não dava muito importância à história e à geografia, e a matemática. Além disso, ocupava-se mais 
em erudição e retórica e seus métodos não propiciavam a formação de um espírito crítico. 
A secularização do pensamento 
A produção intelectual do Renascimento demonstrava interesse em superar as contradições entre o 
pensamento religioso medieval e o anseio da secularização da burguesia. 
Nesse contexto de critica à tradição medieval, a educação procurava bases naturais, não-religiosas, a fim 
de se tornar instrumento adequado para a difusão de valores burgueses. 
 
7
 Conjunto de normas criado para regulamentar o ensino nos colégios jesuíticos. Sua primeira edição, de 1599, além de sustentar 
a educação jesuítica ganhou status de norma para toda a Companhia de Jesus. Tinha por finalidade ordenar as atividades, funções 
e os métodos de avaliação nas escolas jesuíticas. Não estava explícito no texto o desejo de que ela se tornasse um método 
inovador que influenciasse a educação moderna, mesmo assim, foi ponte entre o ensino medieval e o moderno. Antes do 
documento em questão ser elaborado, a ordem tinha suas normas para o regimento interno dos colégios, os chamados 
Ordenamentos de Estudos, que serviram de inspiração e ponto de partida para a elaboração da Ratio Studiorum. 
A Ratio Studiorum se transformou de apenas uma razão de estudos em uma razão política, uma vez que exerceu importante 
influência em meios políticos, mesmo não católicos. O objetivo maior da educação jesuítica segundo a própria Companhia não era 
o de inovar, mas sim de cumprir as palavras de Cristo: “Docete omnes gentes, ensinai, instrui, mostrai a todos a verdade.” Esse foi 
um dos motivos pelos quais os jesuítas desempenharam na Europa e também no chamado “Novo Mundo” o papel de educadores, 
unido à veia missionária da Ordem. Para seu estudo é obrigatória a leitura da tradução do documento para o português, feita pelo 
padre jesuíta Leonel FRANCA (1952). 
Apesar de todo afã por conhecimento, não havia propriamente uma filosofia da educação como sistema 
coerente e organizado com exceção de Vives, Erasmo, Rabelais e Montaigne. 
A pedagogia da contrarreforma 
Para os católicos adeptos da contrarreforma, a intenção era estudar os autores greco-romanos, mas de 
acordo com um olhar religioso que pudesse adaptá-los às verdades eternas da fé. Por isso estudavam 
Platão e Aristóteles sob o viés cristianizado de Santo Agostinho e Santo Tomás. 
Nem todas as orientações religiosas, no entanto, distanciaram-se tanto do humanismo 
renascentista. Uma exceção foi a Congregação do Oratório, que no século XVII, buscou 
conciliar os ideais da religião às ideias da pedagogia humanista. Outro exemplo são os 
franciscanos que na Escola de Oxford demonstraram interesse pelas ciências experimentais e 
pela atuação social. 
Em suma o Renascimento foi um período: 
• de contradições, devido à época de transição; 
• enriquecimento da burguesia 
• aspiração de educação por parte da burguesia (para controlar seus negócios) 
• multiplicação das escolas religiosas na Europa e no resto do mundo colonizado 
• recusa dos valores dogmáticos impostos pela Igreja 
 
PALAVRAS-CHAVE 
Antropocentrismo – Reforma e Contrarreforma – Valorização do saber 
 
*Graduada em Letras Português/Espanhol; pós-graduanda em Ensino de Língua Espanhola e Usos 
de Novas Tecnologias 
Figura 7 – Santo Agostinho

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