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Humanização Hospitalar parceria entre a psicologia e o volintariado

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HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR: 
PARCERIA ENTRE A PSICOLOGIA E O VOLUNTARIADO 
 
Flávia Guimarães Rubin Carvalho
1
, Ana Silvia M. C. Faustino
2
 
Antonio Ramalho de Souza Carvalho
3
 
 
 
Resumo 
A preocupação com a responsabilidade social tem se tornado cada vez mais crescente, e 
o número de voluntários tem aumentado nas diferentes áreas da sociedade, o mesmo 
acontece nos hospitais. Essa preocupação com o bem estar do paciente e com a 
humanização no ambiente hospitalar torna-se cada vez mais notória, seja com atividades 
voltadas aos mesmos ou visitas periódicas aos pacientes que passam por longos 
períodos de internação. 
O psicólogo hospitalar encontra-se numa posição estratégica, sendo um intermediário 
entre a equipe hospitalar e o paciente e sua família e para tanto, em alguns hospitais, 
conta com o auxílio do trabalho de voluntários. Com o objetivo de demonstrar o 
psicólogo como mediador no processo de tratamento de uma enfermidade, por meio de 
um trabalho integrado, neste artigo demonstra-se o psicólogo como elo humanizador, 
onde a sua atuação deve ir além da visão médica do ser humano para lidar da melhor 
forma possível com situações diversas que vão além da rotina hospitalar. 
Entendendo-se como voluntário a pessoa que, motivada pelos valores sociais de 
participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho, talento, de maneira espontânea e 
sem remuneração, o que beneficia tanto o trabalho da equipe médica como o próprio 
paciente. 
Na busca pela minimização do sofrimento provocado pela hospitalização, depara-se, 
normalmente, com algumas barreiras, como: falta de apoio da equipe médica, má 
definição dos processos de humanização, comunicação frágil, desvalorização do 
trabalho voluntário e desconsideração do estado emocional do paciente. 
Sem a atuação dos psicólogos e com a correria do dia-a-dia em um hospital, médicos e 
enfermeiros nem sempre possuem um olhar atento às questões relacionadas ao bem 
estar emocional do paciente. Com o trabalho voluntário que doa seu tempo e dedicação 
e o conhecimento teórico do psicólogo, muitas situações traumatizantes poderiam ser 
evitadas ou vividas de forma mais saudável. 
 
Palavras-chaves: 1. humanização, 2. voluntariado, 3. psicólogo, 4. hospital 
 
1 Flávia Guimarães Rubin Carvalho, Licenciada em Letras e estudante de psicologia da Universidade Paulista – 
UNIP. 
2 Ana Silvia M. C. Faustino, Pedagoga, Especialista em Psicopedagogia e Psicomotricidade e estudante de 
psicologia da Universidade Paulista – UNIP. 
3 Antonio Ramalho de Souza Carvalho, Baracharel em Administração de Empresas, Pós-graduado em Marketing 
e Mestrando em Gestão e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Taubaté – UNITAU. 
 
 
2 
1. Introdução 
Nos tempos atuais onde o avanço da tecnologia e as novas e eficientes formas de 
intervenção médica tem propiciado uma prática cada mais eficiente no tratamento de 
diversas doenças, percebe-se que nem sempre o paciente é compreendido como uma 
pessoa que possui identidade, valores e vivências a serem consideradas como fatores 
que podem facilitar ou não a evolução do tratamento médico. 
Considerando o paciente como alguém que possui necessidades, desejos, medos e 
angústias e não somente como uma doença a ser tratada, atividades diferenciadas que o 
levem a um bem estar físico e psíquico podem e devem ser realizadas de modo a tornar 
mais fácil seu dia-a-dia no hospital. Sendo assim, a humanização aparece como uma 
forma de prover a interação entre a equipe médica, a família e o paciente. 
Com o objetivo de demonstrar o psicólogo como mediador no processo de tratamento 
de uma enfermidade, através de um trabalho integrado à equipe médica, envolvendo 
também a família, os voluntários, e demais funcionários que convivem de maneira 
direta ou indireta com o paciente, neste artigo o psicólogo é visto como elo 
humanizador, onde a sua atuação deve ir além da visão médica do ser humano 
integrando a equipe e preparando-a para lidar da melhor forma possível com situações 
diversas que vão além da rotina hospitalar. 
2. Psicólogo e voluntário no processo de humanização 
Em Brasil (2004) é demonstrada a crescente busca pela qualidade de vida da pessoa 
hospitalizada, na qual estudiosos, profissionais da saúde e representantes de organismos 
sociais vêm procurando práticas e soluções no ambiente hospitalar que permitam o bem 
estar social, melhoria na forma de atendimento hospitalar e na formação de profissionais 
capazes de introspectar a cultura da humanização. Essa busca torna-se ainda um 
conjunto de iniciativas, que embora pertençam as diretrizes baseadas no Programa 
Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar - PNHAH, estão incipientes e 
desordenadas para sua aplicação. 
As dificuldades na implantação de forma efetiva do Programa tornam-no ainda mais 
desafiadoras, uma vez que as pessoas mais interessadas encontram-se hospitalizadas e 
privadas de sua rotina. 
Como é inegavelmente sabido, pessoas e máquinas se diferem na forma e prática de 
restabelecimento, embora no ambiente hospitalar essas práticas, não dificilmente, se 
confundem, e onde muitas vezes pessoas são vistas apenas como elementos na busca de 
peças de reposição na qual o tratamento do fator psicológico, principal elemento a ser 
considerado no processo de humanização, é visto apenas como uma disciplina teórica 
não posta em prática. Gouveia (2003, p. 139) deixa clara essa posição quando descreve 
que no ambiente hospitalar “o indivíduo deixa de ser um indivíduo e passa a ser uma 
hepatite, uma cirrose, um tumor etc”. 
Diniz (2001, p. 118) confirma essa falta de humanização em sua tese de doutorado 
quando trata da humanização em relação à assistência ao parto. Em um dos hospitais 
pesquisados foi constatado que, em caso de residentes, em um dos partos e em intervalo 
de menos de duas horas, três pessoas chegaram para uma paciente e, sem se apresentar 
ou lhe dirigir a palavra, fizeram toques vaginais que sequer foram registrados no 
prontuário. 
 
 
3 
Embora a análise descrita represente uma crítica ao sistema hospitalar em geral, essa 
situação deve ser vista como uma oportunidade para que o profissional psicólogo atue. 
Conforme entendido em Brasil (2004), nos encontros de estudiosos, profissionais da 
saúde e representantes de organismos sociais, são compartilhados conhecimentos e 
experiências que buscam valorizar tanto os profissionais da saúde como os 
hospitalizados. Esses encontros, de acordo com a prática apontada no PNHAH, buscam 
melhorar a estrutura e a dinâmica hospitalar. Em complemento a essa prática, torna-se, 
ainda, imprescindível promover a formação educacional dos profissionais da área com 
relação à valorização e o respeito ao ser humano internado. 
No Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, que convive com a 
gestão hospitalar humanizada, o conceito de humanização hospitalar é bem realista e 
simples de ser adotado, sendo ele: 
 
Humanizar o ambiente hospitalar é resgatar e fortalecer o comportamento 
ético, articular o cuidado técnico-científico, com o cuidado que incorpora 
a necessidade de acolher o imprevisível, o incontrolável, o diferente e 
singular. Mais do que isso, humanizar é adotar uma prática em que 
profissionais e usuários considerem o conjunto dos aspectos físicos, 
subjetivos e sociais, assumindo postura ética de respeito ao outro, de 
acolhimento do desconhecido e de reconhecimento de limites. (HC-
UFMG, 2004) 
 
A humanização pode ser vista como forma de reforço social a ser utilizada no ambiente 
hospitalar. A prática de humanização, em alguns hospitais, tem sido deixada a cargo de 
voluntários que passaram a ser o maior agente de estímulos sociais e de aclimação da 
humanização, que embora comprometidos com esses comportamentos sociais, nem 
sempre estão tecnicamente preparados para essa prática ou sequerpossuem o 
comprometimento necessário com a instituição hospitalar, ou seja, nem sempre possuem 
conhecimento das regras, rotinas e objetivos da instituição. 
Os voluntários são frutos da “onda de responsabilidade social” que as organizações e a 
sociedade vem convivendo. Uma definição de responsabilidade social aceita é a prevista 
pela Associação Brasileira de Normas Técnicas: 
 
[...] a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da 
organização com todos os públicos com os quais se relaciona e pelo 
estabelecimento de metas compatíveis com o desenvolvimento sustentável 
da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações 
futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das 
desigualdades sociais (ABNT, 2004). 
 
Os voluntários podem criar um diferencial significativo na atuação ação social da 
instituição. O profissionalismo e a responsabilidade por compromissos, conforme 
definido por Fisher e Falconer (1999), são essenciais para o desenvolvimento e a 
continuidade de projetos sociais. 
A Doutora em Psicologia Clínica Eliana Ribas, ex-coordenadora do Programa Nacional 
de Humanização da Assistência Hospitalar, do Ministério da Saúde, apresenta a 
definição de voluntários como sendo “o cidadão que, motivado pelos valores de 
participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento, de maneira espontânea e 
não remunerada, para causas de interesse social e comunitário”. Nesse contexto, a 
doutora em psicologia apresenta a visão sobre o voluntariado brasileiro: 
 
 
4 
Historicamente associado a um trabalho de caráter religioso, 
assistencialista, paternalista e de ajuda às pessoas carentes e menos 
favorecidas, e muitas vezes ainda, associado a idéias de corrupção e de má 
fé, caminha, agora, em direção à expressão de uma ética da solidariedade 
e participação cidadã. A motivação por valores como da caridade, 
compaixão e amor ao próximo, começam a ceder espaço para a inclusão 
de uma motivação por valores como cidadania e participação responsável, 
consciente e comprometida com a comunidade, tanto dos indivíduos como 
das instituições. (RIBAS, 2001) 
 
Clary e Snyder (1999, p. 156), em pesquisa realizada nos Estados Unidos, descrevem 
que 49% da população adulta realiza algum tipo de trabalho voluntário, sendo que um 
quarto dela despende de cinco ou mais horas nessa atividade. Em pesquisa similar 
realizada no Brasil, Ribas (2001) descreve que 22,6% dos adultos no Brasil doam 
alguma parte de seu tempo para realizar ações voluntárias em instituições ou para ajuda 
de pessoa física fora de suas relações mais próximas, sendo o perfil do voluntário: 
 
Cidadão comum de diversas idades, rendas, níveis educacionais e filiações 
religiosas. A média de horas dedicadas aos serviços voluntários é de 74 
horas por ano, ou de 6 horas mensais. Das atividades realizadas, 58% se 
realizam em instituições religiosas e 16,7% na área de assistência social. 
A área da saúde recebe, apenas, 6,5% de dedicação. Dessas ações, mais 
da metade estão ligadas à manutenção quotidiana da infra-estrutura das 
organizações, como: trabalho em escritório, manutenção das dependências 
e outros serviços gerais, os quais não requerem maiores qualificações por 
parte dos voluntários. (RIBAS, 2001) 
 
Com o crescimento do voluntariado nos últimos anos abriu uma porta para que pessoas 
venham a desempenhar o papel de acolher o paciente uma vez que o atendimento aos 
pacientes em hospitais, por mais eficiente que seja, não consegue suprir a necessidade 
de acolhimento de que necessitam. 
Como visto em pesquisa realizada por Carvalho e Carvalho (2004) foi constatado que a 
aproximação entre voluntário e paciente constitui fator importante para ambos e 
possibilita a este, um restabelecimento mais rápido e menos doloroso. Concluiu-se ainda 
que a humanização no atendimento hospitalar é um importante suporte que vem dar 
assistência ao paciente e seus familiares, estabelecendo um clima de tranqüilidade, 
confiança e ajuda mútua tanto por parte da equipe hospitalar como por parte dos 
beneficiados. 
Porém, nem todos os voluntários estão preparados para todas as situações hospitalares, 
na qual casos rotineiros e de baixa complexidade podem ser transferidos para esses 
colaboradores, sendo que em casos complexos a presença de um psicólogo não pode ser 
renunciada, uma vez que está comprovada, segundo Ribas (2001), que o “voluntariado 
sempre nasce de um impulso pessoal, solidário e de forte caráter emocional” e de 
enorme força motivacional. 
O psicólogo é visto como um agente da saúde que completa o quadro hospitalar, onde o 
respeito pela sua atuação não se encontra apenas no ponto de vista do conhecimento 
sobre o assunto, à “voz” ativa nas reivindicações e discussões sobre as questões 
pertinentes ao estado de saúde dos pacientes hospitalizados. Um fato interessante 
apresentado por Higarashi et al. (2003) é quando a humanização feita pelo próprio 
parente do paciente nem sempre é aceita no ambiente hospitalar, devido ao estreito 
relacionamento entre internado e humanizador. Os autores relatam fatos que direcionam 
 
 
5 
para uma intervenção de agentes da saúde, que se torna apropriado que essa intervenção 
seja feita por intermédio de psicólogos: 
 
A análise dos relatos evidenciou a percepção positiva acerca desta 
sistemática de assistência, reiterando os tantos benefícios já mencionados 
em literatura específica. Com relação as principais diferenças entre as 
percepções dos dois sujeitos coletivos, percebe-se que, embora haja 
concordância acerca da importância do SPM [sistema de permanência 
materna], no sentido da promoção do bem-estar e otimização do processo 
de recuperação da criança hospitalizada, há indícios de que os 
profissionais nem sempre compreendam ou aceitem bem as reações 
maternas frente à hospitalização. (HIGARASHI et al., 2003, p. 5) 
 
O psicólogo ao atuar num ambiente onde há um trabalho de humanização no 
atendimento hospitalar, preocupa-se com a saúde física e mental dos pacientes e dos 
agentes da saúde, sendo que sua interferência também busca o resgate da dignidade e do 
respeito ao paciente bem como um ambiente de trabalho saudável. Nesse sentido, além 
do fator humano imprescindível, a atuação do psicólogo permite resultados 
organizacionais, entre eles, melhoria na realização dos trabalhos, comprometimento dos 
trabalhadores e diminuição no tempo de internação dos pacientes. 
Buscando a diminuição no tempo de internação dos pacientes, o trabalho de 
humanização passa a receber o auxílio dos resultados promovidos pela tecnologia 
adequada na saúde dos internados, como descrita por Diniz (2001, p. 89). Essas 
tecnologias fazem com que os psicólogos convivam com ferramentais que extrapolam 
os conceitos aprendidos em sala de aula, obrigando-os a contornar situações adversas de 
âmbito da saúde dos pacientes, que, literalmente, se relacionam com a felicidade de uma 
nova vida ou de um breve retorno para a sociedade ou com a tristeza da perda de entes 
queridos ou da permanência no âmbito hospitalar. 
Chiattone (1996, p. 103) também demonstra a importância do psicólogo no contexto 
hospitalar no tratamento de crianças gravemente doentes ou em estado terminal, 
dirigindo-lhes atividades lúdicas programadas, pois através do brinquedo elas poderão 
experimentar sua nova forma de ser. 
Sendo o brincar uma forma de autoterapia, Chiattone (op. cit) coloca ainda que pode ser 
um excelente instrumento preventivo, diagnóstico, prognóstico e terapêutico às crianças 
na situação de morte, pois experenciando, tomando consciência ou descobrindo através 
do brinquedo, a criança terminal pode formular e assimilar o que experiencia, 
facilitando a internalização, amadurecimento e elaboração do processo de luto. 
Gouveia (2003) descreve sobre uma pesquisa com base no processo da projeção e nos 
estudos sobre o assunto, com o objetivode descrever o estado emocional da criança e do 
adolescente, bem como sua percepção em relação à internação, antes e depois do relato 
de uma história, isto é, da atividade dos contadores de histórias. Participaram desta 
pesquisa nove sujeitos com idades variando entre cinco a doze anos, internados na 
enfermaria de Pediatria do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de 
Campinas. O tempo de internação variava de dois a vinte e dois dias. Sendo assim, 
Gouveia (op. cit), apoiando-se em estudos anteriores dos testes projetivos gráficos, 
solicitou que os sujeitos fizessem um desenho com o tema da situação de hospitalização 
e em seguida era perguntado ao sujeito o que havia desenhado, solicitando-se que ele 
falasse sobre o próprio desenho. A aplicação deste teste ocorria antes e depois da 
atividade dos contadores de histórias. O primeiro desenho, antes da história ser contada, 
mostrava um sujeito com pouca energia vital, dificuldade para enfrentar sua situação de 
 
 
6 
internação, a qual estava sendo vivida com sentimentos de tristeza, medo e inferioridade 
e percebendo o meio como agressivo e hostil, porém já apontando uma busca de 
soluções. 
Percebemos a importância do processo de humanização, quando Gouveia ressalta nos 
desenhos posteriores à atividade com os contadores de história, nota-se que os aspectos 
de percepção, atenção, energia e sombreamento foram modificados para uma maior 
globalização, concentração da atenção, maior vitalidade e maior área sombreada, dando 
vazão às fantasias, bem como melhor integração dos sentimentos, alívio da angústia e 
aumento da confiança e esperança na recuperação. 
A autora continua demonstrando que a atividade dos contadores de histórias parece 
possibilitar às crianças e adolescentes maior uso de seus recursos afetivo-emocionais e, 
conseqüentemente, a hospitalização passou a ser percebida mais positivamente e como 
menos persecutória. De acordo com o observado nesta pesquisa, as atividades dos 
voluntários podem favorecer estados emocionais de maior segurança e bem-estar e isto 
levar à melhora das condições físicas e aproveitamento dos tratamentos médicos. 
O psicólogo passa a atuar como um agente que busca a minimização do sofrimento 
provocado pela hospitalização, na qual, conforme descrito por Romano (1999, p.10), 
será o agente capaz de buscar o entendimento sobre o que o indivíduo tem de doença em 
geral, bem como de sua doença em particular com objetivo de ocupar-se de toda 
simbologia cultural, social e individual ligada à doença daquela pessoa. 
Como visto, o psicólogo passa a ter em suas mãos desafios e oportunidades da 
aplicabilidade de seus conhecimentos para a humanização hospitalar, sendo que 
barreiras como a falta de apoio da equipe médica que muitas vezes não compreende a 
importância da humanização; má definição do processo de humanização com recursos 
projetados incompatíveis com aqueles necessários; comunicação interna frágil ou 
insipiente, que não propicia uma cultura para o processo de humanização; e falta de 
efetividade na implantação do processo de desenvolvimento dessa cultura, podem 
ocorrer e devem ser consideradas. 
Para o fortalecimento das atividades do psicólogo, as competências individuais 
demonstradas no Quadro 1 devem estar presentes também no ambiente hospitalar, para 
que os desafios da profissão não se tornem barreiras profissionais. 
 
Manter sigilo Cultivar a ética 
Demonstrar ciência sobre código de 
ética profissional 
Demonstrar ciência sobre legislação 
pertinente 
Trabalhar em equipe 
Manter imparcialidade e 
neutralidade 
Demonstrar bom senso Respeitar os limites de atuação Ser psico-analisado 
Ser psico-terapeutizado Demonstrar continência (Acolhedor) 
Demonstrar interesse pela 
pessoa/ser humano 
Ouvir ativamente (saber ouvir) Manter-se atualizado Contornar situações adversas 
Respeitar valores e crenças dos 
clientes 
Demonstrar capacidade de 
observação 
Demonstrar habilidade de questionar 
Amar a verdade Manter o setting analítico 
Demonstrar autonomia de 
pensamento 
Demonstrar espírito crítico Respeitar os limites do cliente 
Tomar decisões em situações de 
pressão 
Quadro 1 – Competências individuais do psicólogo (adaptado de Brasil, 2002) 
 
 
7 
Entre os desafios encontra-se também a valorização e o aperfeiçoamento do trabalho 
dos voluntários, que cada vez mais vem se tornando uma figura representativa nas 
instituições hospitalares. A representabilidade desses novos agentes não está apenas no 
fator humanização, mas pode apresentar uma dualidade de interesses tanto por parte do 
hospital quando busca mão de obra de baixo custo e dos voluntários quando vêem no 
voluntariado uma oportunidade de emprego formal. 
Dentro dessa realidade, o trabalho do psicólogo no âmbito hospitalar torna-se mais 
austero e fica evidente sua posição como o elo humanizador, como pode ser verificado 
na Figura 1, na qual têm-se o psicólogo interagindo diretamente com todas as partes 
envolvidas e interessadas pelo restabelecimento do paciente, incluindo o próprio 
paciente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 – Posição do psicólogo na humanização hospitalar 
 
 
A posição idealizada do psicólogo no processo de humanização vem ao encontro do 
previsto na Classificação Brasileira de Ocupações – CBO 2002, quando trata da análise, 
orientação e educação de indíviduos e grupos: 
 
Estudam, pesquisam e avaliam o desenvolvimento emocional e os 
processos mentais e sociais de indivíduos, grupos e instituições, com a 
finalidade de análise, tratamento, orientação e educação; diagnosticam e 
avaliam distúrbios emocionais e mentais e de adaptação social, elucidando 
conflitos e questões e acompanhando o(s) paciente(s) durante o processo 
de tratamento ou cura; investigam os fatores inconscientes do 
comportamento individual e grupal, tornando-os conscientes; 
desenvolvem pesquisas experimentais, teóricas e clínicas e coordenam 
equipes e atividades de área e afins. (BRASIL, 2002) 
 
Novamente, percebe-se o psicólogo hospitalar investigando as pessoas e entendendo os 
problemas, com objetivo de mediar grupos e instituição para resolução de conflitos, 
propondo as intervenções sempre que a análise e julgamento do caso demonstrar 
necessidade. Na sua atuação pode-se enumerar as áreas de atividades de atuação do 
psicólogo conforme demonstrado na Figura 2. 
Esta obrigatoriedade de formação profissional do psicólogo direciona-o para ser o 
agente facilitador da implantação do processo de humanização hospitalar. 
 
 
 
 
PSICÓLOGO 
 
Familiares 
Paciente 
Voluntários 
Equipe Administrativa 
Equipe Médica 
 
 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2 - Áreas de Atividades do Psicólogo (Brasil, 2002) 
 
3. Discutindo o papel do psicólogo 
Hoje, mais do que nunca fala-se em qualidade de vida e responsabilidade social, o que 
nos faz refletir sobre as iniciativas tomadas no âmbito hospitalar para cumprimento de 
tais itens, se existem e se realmente são transformados em ações. Muitos profissionais 
da saúde vêm discutindo a qualidade de vida da pessoa hospitalizada, sendo que muitos 
estudiosos têm dirigido seu olhar para esta questão. 
Dessa forma a humanização por meio de projetos realizados principalmente por 
diferentes atividades de voluntários, vêm mostrar-nos que tais atividades estão 
intimamente relacionadas com a melhora do paciente, considerando o aumento da auto-
estima, colaboração quanto aos procedimentos hospitalares como exames e possíveis 
intervenções cirúrgicas. O ambiente humanizado conforta e ameniza os desconfortos 
causados pela internação tanto em crianças como em adultos como relatado por Gouveia 
(2003). 
Sendo assim, é importante a formação de voluntários no nível profissional para que 
saibam lidar com as situações que embora muitas vezes desconhecidas para ele, são 
rotineiras dentro do hospital, pois a necessidade deacolher o imprevisível, o 
incontrolável, o diferente, o singular exige preparo constante dos voluntários, que 
assumindo uma postura ética de respeito e acolhimento ao outro, não vê limites para sua 
atuação. 
Por isso, é necessário também que se estabeleça quais são as atribuições do voluntário e 
as da equipe médica e administrativa do hospital. 
O psicólogo é o agente principal no processo de humanização, uma vez que seu trabalho 
vai além das práticas psicológicas dirigidas aos pacientes, mas também à equipe 
médica, administrativa, aos familiares e aos voluntários que trabalham na instituição. 
 
 
PSICÓLOGO 
AVALIAR 
COMPORTAMENTOS 
INDIVIDUAL, GRUPAL E 
INSTITUCIONAL 
ANALISAR - TRATAR 
INDIVÍDUOS, GRUPOS E 
INSTITUIÇÕES 
ORIENTAR INDIVÍDUOS, 
GRUPOS E INSTITUIÇÕES 
ACOMPANHAR 
INDIVÍDUOS, GRUPOS E 
INSTITUIÇÕES 
EDUCAR INDIVÍDUOS, 
GRUPOS E 
INSTITUIÇÕES 
 
DESENVOLVER 
PESQUISAS 
EXPERIMENTAIS, 
TEÓRICAS E CLÍNICAS 
COORDENAR EQUIPES 
E ATIVIDADES DE ÁREA 
E AFINS 
PARTICIPAR DE ATIVIDADES 
PARA CONSENSO E 
DIVULGAÇÃO PROFISSIONAL 
REALIZAR TAREFAS 
ADMINISTRATIVAS 
 
 
9 
O psicólogo no hospital busca minimizar o sofrimento do paciente que, uma vez 
internado, é visto sem identidade, mas como uma doença a ser tratada, informar os 
procedimentos utilizados no paciente e tratar do emocional frente às exigências que a 
internação exige, uma vez que sentimentos como medo, angústia e solidão não são 
consideradas pelos demais funcionários do hospital e não chegam a impedir 
procedimentos invasivos como cirurgias . 
É importante que se crie um elo humanizador entre todos os funcionários do hospital, 
uma vez que convivem com a dor e o sofrimento de pessoas e seus familiares, bem 
como a morte e o abandono. 
4. Considerações finais 
Como visto, o aumento de voluntários tem-se tornado uma realidade mundial, 
envolvidos em diversas áreas sociais. Cabe ao psicólogo, no caso de atividades de 
voluntários em hospital, prover meios para integrar e profissionalizar essa nova classe 
de trabalhadores sociais. 
Não se admite ignorar essa nova classe de trabalhadores, nem transferir a eles 
procedimentos nos quais são exigidos anos de formação e estudo, mas sim, torná-los 
parte de uma comunidade onde responsabilidades e competências são bem definidas, 
como qualquer outro trabalhador, respeitando, logicamente, a posição de voluntário e as 
leis trabalhistas. 
Essa integração desejada não ocorrerá com apenas a presença do psicólogo e dos 
voluntários, trata-se de ações e de intervenções que lidam diretamente com a cultura da 
organização na qual encontram-se todos os envolvidos, sendo que não existe um prazo 
para essa integração, pois ela acontece todos os dias através de aprendizagem e respeito 
mútuos. 
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