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HUMANIZAÇÃO HOSPITALAR: PARCERIA ENTRE A PSICOLOGIA E O VOLUNTARIADO Flávia Guimarães Rubin Carvalho 1 , Ana Silvia M. C. Faustino 2 Antonio Ramalho de Souza Carvalho 3 Resumo A preocupação com a responsabilidade social tem se tornado cada vez mais crescente, e o número de voluntários tem aumentado nas diferentes áreas da sociedade, o mesmo acontece nos hospitais. Essa preocupação com o bem estar do paciente e com a humanização no ambiente hospitalar torna-se cada vez mais notória, seja com atividades voltadas aos mesmos ou visitas periódicas aos pacientes que passam por longos períodos de internação. O psicólogo hospitalar encontra-se numa posição estratégica, sendo um intermediário entre a equipe hospitalar e o paciente e sua família e para tanto, em alguns hospitais, conta com o auxílio do trabalho de voluntários. Com o objetivo de demonstrar o psicólogo como mediador no processo de tratamento de uma enfermidade, por meio de um trabalho integrado, neste artigo demonstra-se o psicólogo como elo humanizador, onde a sua atuação deve ir além da visão médica do ser humano para lidar da melhor forma possível com situações diversas que vão além da rotina hospitalar. Entendendo-se como voluntário a pessoa que, motivada pelos valores sociais de participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho, talento, de maneira espontânea e sem remuneração, o que beneficia tanto o trabalho da equipe médica como o próprio paciente. Na busca pela minimização do sofrimento provocado pela hospitalização, depara-se, normalmente, com algumas barreiras, como: falta de apoio da equipe médica, má definição dos processos de humanização, comunicação frágil, desvalorização do trabalho voluntário e desconsideração do estado emocional do paciente. Sem a atuação dos psicólogos e com a correria do dia-a-dia em um hospital, médicos e enfermeiros nem sempre possuem um olhar atento às questões relacionadas ao bem estar emocional do paciente. Com o trabalho voluntário que doa seu tempo e dedicação e o conhecimento teórico do psicólogo, muitas situações traumatizantes poderiam ser evitadas ou vividas de forma mais saudável. Palavras-chaves: 1. humanização, 2. voluntariado, 3. psicólogo, 4. hospital 1 Flávia Guimarães Rubin Carvalho, Licenciada em Letras e estudante de psicologia da Universidade Paulista – UNIP. 2 Ana Silvia M. C. Faustino, Pedagoga, Especialista em Psicopedagogia e Psicomotricidade e estudante de psicologia da Universidade Paulista – UNIP. 3 Antonio Ramalho de Souza Carvalho, Baracharel em Administração de Empresas, Pós-graduado em Marketing e Mestrando em Gestão e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Taubaté – UNITAU. 2 1. Introdução Nos tempos atuais onde o avanço da tecnologia e as novas e eficientes formas de intervenção médica tem propiciado uma prática cada mais eficiente no tratamento de diversas doenças, percebe-se que nem sempre o paciente é compreendido como uma pessoa que possui identidade, valores e vivências a serem consideradas como fatores que podem facilitar ou não a evolução do tratamento médico. Considerando o paciente como alguém que possui necessidades, desejos, medos e angústias e não somente como uma doença a ser tratada, atividades diferenciadas que o levem a um bem estar físico e psíquico podem e devem ser realizadas de modo a tornar mais fácil seu dia-a-dia no hospital. Sendo assim, a humanização aparece como uma forma de prover a interação entre a equipe médica, a família e o paciente. Com o objetivo de demonstrar o psicólogo como mediador no processo de tratamento de uma enfermidade, através de um trabalho integrado à equipe médica, envolvendo também a família, os voluntários, e demais funcionários que convivem de maneira direta ou indireta com o paciente, neste artigo o psicólogo é visto como elo humanizador, onde a sua atuação deve ir além da visão médica do ser humano integrando a equipe e preparando-a para lidar da melhor forma possível com situações diversas que vão além da rotina hospitalar. 2. Psicólogo e voluntário no processo de humanização Em Brasil (2004) é demonstrada a crescente busca pela qualidade de vida da pessoa hospitalizada, na qual estudiosos, profissionais da saúde e representantes de organismos sociais vêm procurando práticas e soluções no ambiente hospitalar que permitam o bem estar social, melhoria na forma de atendimento hospitalar e na formação de profissionais capazes de introspectar a cultura da humanização. Essa busca torna-se ainda um conjunto de iniciativas, que embora pertençam as diretrizes baseadas no Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar - PNHAH, estão incipientes e desordenadas para sua aplicação. As dificuldades na implantação de forma efetiva do Programa tornam-no ainda mais desafiadoras, uma vez que as pessoas mais interessadas encontram-se hospitalizadas e privadas de sua rotina. Como é inegavelmente sabido, pessoas e máquinas se diferem na forma e prática de restabelecimento, embora no ambiente hospitalar essas práticas, não dificilmente, se confundem, e onde muitas vezes pessoas são vistas apenas como elementos na busca de peças de reposição na qual o tratamento do fator psicológico, principal elemento a ser considerado no processo de humanização, é visto apenas como uma disciplina teórica não posta em prática. Gouveia (2003, p. 139) deixa clara essa posição quando descreve que no ambiente hospitalar “o indivíduo deixa de ser um indivíduo e passa a ser uma hepatite, uma cirrose, um tumor etc”. Diniz (2001, p. 118) confirma essa falta de humanização em sua tese de doutorado quando trata da humanização em relação à assistência ao parto. Em um dos hospitais pesquisados foi constatado que, em caso de residentes, em um dos partos e em intervalo de menos de duas horas, três pessoas chegaram para uma paciente e, sem se apresentar ou lhe dirigir a palavra, fizeram toques vaginais que sequer foram registrados no prontuário. 3 Embora a análise descrita represente uma crítica ao sistema hospitalar em geral, essa situação deve ser vista como uma oportunidade para que o profissional psicólogo atue. Conforme entendido em Brasil (2004), nos encontros de estudiosos, profissionais da saúde e representantes de organismos sociais, são compartilhados conhecimentos e experiências que buscam valorizar tanto os profissionais da saúde como os hospitalizados. Esses encontros, de acordo com a prática apontada no PNHAH, buscam melhorar a estrutura e a dinâmica hospitalar. Em complemento a essa prática, torna-se, ainda, imprescindível promover a formação educacional dos profissionais da área com relação à valorização e o respeito ao ser humano internado. No Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, que convive com a gestão hospitalar humanizada, o conceito de humanização hospitalar é bem realista e simples de ser adotado, sendo ele: Humanizar o ambiente hospitalar é resgatar e fortalecer o comportamento ético, articular o cuidado técnico-científico, com o cuidado que incorpora a necessidade de acolher o imprevisível, o incontrolável, o diferente e singular. Mais do que isso, humanizar é adotar uma prática em que profissionais e usuários considerem o conjunto dos aspectos físicos, subjetivos e sociais, assumindo postura ética de respeito ao outro, de acolhimento do desconhecido e de reconhecimento de limites. (HC- UFMG, 2004) A humanização pode ser vista como forma de reforço social a ser utilizada no ambiente hospitalar. A prática de humanização, em alguns hospitais, tem sido deixada a cargo de voluntários que passaram a ser o maior agente de estímulos sociais e de aclimação da humanização, que embora comprometidos com esses comportamentos sociais, nem sempre estão tecnicamente preparados para essa prática ou sequerpossuem o comprometimento necessário com a instituição hospitalar, ou seja, nem sempre possuem conhecimento das regras, rotinas e objetivos da instituição. Os voluntários são frutos da “onda de responsabilidade social” que as organizações e a sociedade vem convivendo. Uma definição de responsabilidade social aceita é a prevista pela Associação Brasileira de Normas Técnicas: [...] a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da organização com todos os públicos com os quais se relaciona e pelo estabelecimento de metas compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais (ABNT, 2004). Os voluntários podem criar um diferencial significativo na atuação ação social da instituição. O profissionalismo e a responsabilidade por compromissos, conforme definido por Fisher e Falconer (1999), são essenciais para o desenvolvimento e a continuidade de projetos sociais. A Doutora em Psicologia Clínica Eliana Ribas, ex-coordenadora do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar, do Ministério da Saúde, apresenta a definição de voluntários como sendo “o cidadão que, motivado pelos valores de participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento, de maneira espontânea e não remunerada, para causas de interesse social e comunitário”. Nesse contexto, a doutora em psicologia apresenta a visão sobre o voluntariado brasileiro: 4 Historicamente associado a um trabalho de caráter religioso, assistencialista, paternalista e de ajuda às pessoas carentes e menos favorecidas, e muitas vezes ainda, associado a idéias de corrupção e de má fé, caminha, agora, em direção à expressão de uma ética da solidariedade e participação cidadã. A motivação por valores como da caridade, compaixão e amor ao próximo, começam a ceder espaço para a inclusão de uma motivação por valores como cidadania e participação responsável, consciente e comprometida com a comunidade, tanto dos indivíduos como das instituições. (RIBAS, 2001) Clary e Snyder (1999, p. 156), em pesquisa realizada nos Estados Unidos, descrevem que 49% da população adulta realiza algum tipo de trabalho voluntário, sendo que um quarto dela despende de cinco ou mais horas nessa atividade. Em pesquisa similar realizada no Brasil, Ribas (2001) descreve que 22,6% dos adultos no Brasil doam alguma parte de seu tempo para realizar ações voluntárias em instituições ou para ajuda de pessoa física fora de suas relações mais próximas, sendo o perfil do voluntário: Cidadão comum de diversas idades, rendas, níveis educacionais e filiações religiosas. A média de horas dedicadas aos serviços voluntários é de 74 horas por ano, ou de 6 horas mensais. Das atividades realizadas, 58% se realizam em instituições religiosas e 16,7% na área de assistência social. A área da saúde recebe, apenas, 6,5% de dedicação. Dessas ações, mais da metade estão ligadas à manutenção quotidiana da infra-estrutura das organizações, como: trabalho em escritório, manutenção das dependências e outros serviços gerais, os quais não requerem maiores qualificações por parte dos voluntários. (RIBAS, 2001) Com o crescimento do voluntariado nos últimos anos abriu uma porta para que pessoas venham a desempenhar o papel de acolher o paciente uma vez que o atendimento aos pacientes em hospitais, por mais eficiente que seja, não consegue suprir a necessidade de acolhimento de que necessitam. Como visto em pesquisa realizada por Carvalho e Carvalho (2004) foi constatado que a aproximação entre voluntário e paciente constitui fator importante para ambos e possibilita a este, um restabelecimento mais rápido e menos doloroso. Concluiu-se ainda que a humanização no atendimento hospitalar é um importante suporte que vem dar assistência ao paciente e seus familiares, estabelecendo um clima de tranqüilidade, confiança e ajuda mútua tanto por parte da equipe hospitalar como por parte dos beneficiados. Porém, nem todos os voluntários estão preparados para todas as situações hospitalares, na qual casos rotineiros e de baixa complexidade podem ser transferidos para esses colaboradores, sendo que em casos complexos a presença de um psicólogo não pode ser renunciada, uma vez que está comprovada, segundo Ribas (2001), que o “voluntariado sempre nasce de um impulso pessoal, solidário e de forte caráter emocional” e de enorme força motivacional. O psicólogo é visto como um agente da saúde que completa o quadro hospitalar, onde o respeito pela sua atuação não se encontra apenas no ponto de vista do conhecimento sobre o assunto, à “voz” ativa nas reivindicações e discussões sobre as questões pertinentes ao estado de saúde dos pacientes hospitalizados. Um fato interessante apresentado por Higarashi et al. (2003) é quando a humanização feita pelo próprio parente do paciente nem sempre é aceita no ambiente hospitalar, devido ao estreito relacionamento entre internado e humanizador. Os autores relatam fatos que direcionam 5 para uma intervenção de agentes da saúde, que se torna apropriado que essa intervenção seja feita por intermédio de psicólogos: A análise dos relatos evidenciou a percepção positiva acerca desta sistemática de assistência, reiterando os tantos benefícios já mencionados em literatura específica. Com relação as principais diferenças entre as percepções dos dois sujeitos coletivos, percebe-se que, embora haja concordância acerca da importância do SPM [sistema de permanência materna], no sentido da promoção do bem-estar e otimização do processo de recuperação da criança hospitalizada, há indícios de que os profissionais nem sempre compreendam ou aceitem bem as reações maternas frente à hospitalização. (HIGARASHI et al., 2003, p. 5) O psicólogo ao atuar num ambiente onde há um trabalho de humanização no atendimento hospitalar, preocupa-se com a saúde física e mental dos pacientes e dos agentes da saúde, sendo que sua interferência também busca o resgate da dignidade e do respeito ao paciente bem como um ambiente de trabalho saudável. Nesse sentido, além do fator humano imprescindível, a atuação do psicólogo permite resultados organizacionais, entre eles, melhoria na realização dos trabalhos, comprometimento dos trabalhadores e diminuição no tempo de internação dos pacientes. Buscando a diminuição no tempo de internação dos pacientes, o trabalho de humanização passa a receber o auxílio dos resultados promovidos pela tecnologia adequada na saúde dos internados, como descrita por Diniz (2001, p. 89). Essas tecnologias fazem com que os psicólogos convivam com ferramentais que extrapolam os conceitos aprendidos em sala de aula, obrigando-os a contornar situações adversas de âmbito da saúde dos pacientes, que, literalmente, se relacionam com a felicidade de uma nova vida ou de um breve retorno para a sociedade ou com a tristeza da perda de entes queridos ou da permanência no âmbito hospitalar. Chiattone (1996, p. 103) também demonstra a importância do psicólogo no contexto hospitalar no tratamento de crianças gravemente doentes ou em estado terminal, dirigindo-lhes atividades lúdicas programadas, pois através do brinquedo elas poderão experimentar sua nova forma de ser. Sendo o brincar uma forma de autoterapia, Chiattone (op. cit) coloca ainda que pode ser um excelente instrumento preventivo, diagnóstico, prognóstico e terapêutico às crianças na situação de morte, pois experenciando, tomando consciência ou descobrindo através do brinquedo, a criança terminal pode formular e assimilar o que experiencia, facilitando a internalização, amadurecimento e elaboração do processo de luto. Gouveia (2003) descreve sobre uma pesquisa com base no processo da projeção e nos estudos sobre o assunto, com o objetivode descrever o estado emocional da criança e do adolescente, bem como sua percepção em relação à internação, antes e depois do relato de uma história, isto é, da atividade dos contadores de histórias. Participaram desta pesquisa nove sujeitos com idades variando entre cinco a doze anos, internados na enfermaria de Pediatria do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas. O tempo de internação variava de dois a vinte e dois dias. Sendo assim, Gouveia (op. cit), apoiando-se em estudos anteriores dos testes projetivos gráficos, solicitou que os sujeitos fizessem um desenho com o tema da situação de hospitalização e em seguida era perguntado ao sujeito o que havia desenhado, solicitando-se que ele falasse sobre o próprio desenho. A aplicação deste teste ocorria antes e depois da atividade dos contadores de histórias. O primeiro desenho, antes da história ser contada, mostrava um sujeito com pouca energia vital, dificuldade para enfrentar sua situação de 6 internação, a qual estava sendo vivida com sentimentos de tristeza, medo e inferioridade e percebendo o meio como agressivo e hostil, porém já apontando uma busca de soluções. Percebemos a importância do processo de humanização, quando Gouveia ressalta nos desenhos posteriores à atividade com os contadores de história, nota-se que os aspectos de percepção, atenção, energia e sombreamento foram modificados para uma maior globalização, concentração da atenção, maior vitalidade e maior área sombreada, dando vazão às fantasias, bem como melhor integração dos sentimentos, alívio da angústia e aumento da confiança e esperança na recuperação. A autora continua demonstrando que a atividade dos contadores de histórias parece possibilitar às crianças e adolescentes maior uso de seus recursos afetivo-emocionais e, conseqüentemente, a hospitalização passou a ser percebida mais positivamente e como menos persecutória. De acordo com o observado nesta pesquisa, as atividades dos voluntários podem favorecer estados emocionais de maior segurança e bem-estar e isto levar à melhora das condições físicas e aproveitamento dos tratamentos médicos. O psicólogo passa a atuar como um agente que busca a minimização do sofrimento provocado pela hospitalização, na qual, conforme descrito por Romano (1999, p.10), será o agente capaz de buscar o entendimento sobre o que o indivíduo tem de doença em geral, bem como de sua doença em particular com objetivo de ocupar-se de toda simbologia cultural, social e individual ligada à doença daquela pessoa. Como visto, o psicólogo passa a ter em suas mãos desafios e oportunidades da aplicabilidade de seus conhecimentos para a humanização hospitalar, sendo que barreiras como a falta de apoio da equipe médica que muitas vezes não compreende a importância da humanização; má definição do processo de humanização com recursos projetados incompatíveis com aqueles necessários; comunicação interna frágil ou insipiente, que não propicia uma cultura para o processo de humanização; e falta de efetividade na implantação do processo de desenvolvimento dessa cultura, podem ocorrer e devem ser consideradas. Para o fortalecimento das atividades do psicólogo, as competências individuais demonstradas no Quadro 1 devem estar presentes também no ambiente hospitalar, para que os desafios da profissão não se tornem barreiras profissionais. Manter sigilo Cultivar a ética Demonstrar ciência sobre código de ética profissional Demonstrar ciência sobre legislação pertinente Trabalhar em equipe Manter imparcialidade e neutralidade Demonstrar bom senso Respeitar os limites de atuação Ser psico-analisado Ser psico-terapeutizado Demonstrar continência (Acolhedor) Demonstrar interesse pela pessoa/ser humano Ouvir ativamente (saber ouvir) Manter-se atualizado Contornar situações adversas Respeitar valores e crenças dos clientes Demonstrar capacidade de observação Demonstrar habilidade de questionar Amar a verdade Manter o setting analítico Demonstrar autonomia de pensamento Demonstrar espírito crítico Respeitar os limites do cliente Tomar decisões em situações de pressão Quadro 1 – Competências individuais do psicólogo (adaptado de Brasil, 2002) 7 Entre os desafios encontra-se também a valorização e o aperfeiçoamento do trabalho dos voluntários, que cada vez mais vem se tornando uma figura representativa nas instituições hospitalares. A representabilidade desses novos agentes não está apenas no fator humanização, mas pode apresentar uma dualidade de interesses tanto por parte do hospital quando busca mão de obra de baixo custo e dos voluntários quando vêem no voluntariado uma oportunidade de emprego formal. Dentro dessa realidade, o trabalho do psicólogo no âmbito hospitalar torna-se mais austero e fica evidente sua posição como o elo humanizador, como pode ser verificado na Figura 1, na qual têm-se o psicólogo interagindo diretamente com todas as partes envolvidas e interessadas pelo restabelecimento do paciente, incluindo o próprio paciente. Figura 1 – Posição do psicólogo na humanização hospitalar A posição idealizada do psicólogo no processo de humanização vem ao encontro do previsto na Classificação Brasileira de Ocupações – CBO 2002, quando trata da análise, orientação e educação de indíviduos e grupos: Estudam, pesquisam e avaliam o desenvolvimento emocional e os processos mentais e sociais de indivíduos, grupos e instituições, com a finalidade de análise, tratamento, orientação e educação; diagnosticam e avaliam distúrbios emocionais e mentais e de adaptação social, elucidando conflitos e questões e acompanhando o(s) paciente(s) durante o processo de tratamento ou cura; investigam os fatores inconscientes do comportamento individual e grupal, tornando-os conscientes; desenvolvem pesquisas experimentais, teóricas e clínicas e coordenam equipes e atividades de área e afins. (BRASIL, 2002) Novamente, percebe-se o psicólogo hospitalar investigando as pessoas e entendendo os problemas, com objetivo de mediar grupos e instituição para resolução de conflitos, propondo as intervenções sempre que a análise e julgamento do caso demonstrar necessidade. Na sua atuação pode-se enumerar as áreas de atividades de atuação do psicólogo conforme demonstrado na Figura 2. Esta obrigatoriedade de formação profissional do psicólogo direciona-o para ser o agente facilitador da implantação do processo de humanização hospitalar. PSICÓLOGO Familiares Paciente Voluntários Equipe Administrativa Equipe Médica 8 Figura 2 - Áreas de Atividades do Psicólogo (Brasil, 2002) 3. Discutindo o papel do psicólogo Hoje, mais do que nunca fala-se em qualidade de vida e responsabilidade social, o que nos faz refletir sobre as iniciativas tomadas no âmbito hospitalar para cumprimento de tais itens, se existem e se realmente são transformados em ações. Muitos profissionais da saúde vêm discutindo a qualidade de vida da pessoa hospitalizada, sendo que muitos estudiosos têm dirigido seu olhar para esta questão. Dessa forma a humanização por meio de projetos realizados principalmente por diferentes atividades de voluntários, vêm mostrar-nos que tais atividades estão intimamente relacionadas com a melhora do paciente, considerando o aumento da auto- estima, colaboração quanto aos procedimentos hospitalares como exames e possíveis intervenções cirúrgicas. O ambiente humanizado conforta e ameniza os desconfortos causados pela internação tanto em crianças como em adultos como relatado por Gouveia (2003). Sendo assim, é importante a formação de voluntários no nível profissional para que saibam lidar com as situações que embora muitas vezes desconhecidas para ele, são rotineiras dentro do hospital, pois a necessidade deacolher o imprevisível, o incontrolável, o diferente, o singular exige preparo constante dos voluntários, que assumindo uma postura ética de respeito e acolhimento ao outro, não vê limites para sua atuação. Por isso, é necessário também que se estabeleça quais são as atribuições do voluntário e as da equipe médica e administrativa do hospital. O psicólogo é o agente principal no processo de humanização, uma vez que seu trabalho vai além das práticas psicológicas dirigidas aos pacientes, mas também à equipe médica, administrativa, aos familiares e aos voluntários que trabalham na instituição. PSICÓLOGO AVALIAR COMPORTAMENTOS INDIVIDUAL, GRUPAL E INSTITUCIONAL ANALISAR - TRATAR INDIVÍDUOS, GRUPOS E INSTITUIÇÕES ORIENTAR INDIVÍDUOS, GRUPOS E INSTITUIÇÕES ACOMPANHAR INDIVÍDUOS, GRUPOS E INSTITUIÇÕES EDUCAR INDIVÍDUOS, GRUPOS E INSTITUIÇÕES DESENVOLVER PESQUISAS EXPERIMENTAIS, TEÓRICAS E CLÍNICAS COORDENAR EQUIPES E ATIVIDADES DE ÁREA E AFINS PARTICIPAR DE ATIVIDADES PARA CONSENSO E DIVULGAÇÃO PROFISSIONAL REALIZAR TAREFAS ADMINISTRATIVAS 9 O psicólogo no hospital busca minimizar o sofrimento do paciente que, uma vez internado, é visto sem identidade, mas como uma doença a ser tratada, informar os procedimentos utilizados no paciente e tratar do emocional frente às exigências que a internação exige, uma vez que sentimentos como medo, angústia e solidão não são consideradas pelos demais funcionários do hospital e não chegam a impedir procedimentos invasivos como cirurgias . É importante que se crie um elo humanizador entre todos os funcionários do hospital, uma vez que convivem com a dor e o sofrimento de pessoas e seus familiares, bem como a morte e o abandono. 4. Considerações finais Como visto, o aumento de voluntários tem-se tornado uma realidade mundial, envolvidos em diversas áreas sociais. Cabe ao psicólogo, no caso de atividades de voluntários em hospital, prover meios para integrar e profissionalizar essa nova classe de trabalhadores sociais. Não se admite ignorar essa nova classe de trabalhadores, nem transferir a eles procedimentos nos quais são exigidos anos de formação e estudo, mas sim, torná-los parte de uma comunidade onde responsabilidades e competências são bem definidas, como qualquer outro trabalhador, respeitando, logicamente, a posição de voluntário e as leis trabalhistas. Essa integração desejada não ocorrerá com apenas a presença do psicólogo e dos voluntários, trata-se de ações e de intervenções que lidam diretamente com a cultura da organização na qual encontram-se todos os envolvidos, sendo que não existe um prazo para essa integração, pois ela acontece todos os dias através de aprendizagem e respeito mútuos. 5. Referências Bibliográficas ABNT. Projeto ISO - Projeto 00:001.55-001 - Responsabilidade Social – Sistema da gestão – Requisitos. Associação Brasileira de Normas Técnicas Grupo Tarefa de Responsabilidade Social (ABNT/GTRS). ABNT. Abr de 2004. BRASIL. Ministério do Trabalho e do Emprego. Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). 2002. Disponível em <http://www.mtecbo.gov.br/index.htm> acesso em 13 julho de 2005. BRASIL. Oficina de nacional de humanização: construindo a política de humanização, 19 a 20 de novembro de 2003. Relatório final. Ministério da Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. 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