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Instituto de Teologia Logos – “Preparando cristãos para a defesa da fé!” 
www.institutodeteologialogos.com.br | contato@institutodeteologialogos.com.br 
 
 
 
HAMARTIOLOGIA 
 
 
 
2 
SUMÁRIO 
 
1 - PORQUE ESTUDAR HAMARTIOLOGIA ................................................................................... 5 
2 - A ORIGEM DO PECADO ........................................................................................................ 9 
2.1. CONCEITOS HISTÓRICOS A RESPEITO DA ORIGEM DO PECADO ............................................................ 9 
2.2. DADOS BÍBLICOS A RESPEITO DA ORIGEM DO PECADO .................................................................... 10 
2.3. A NATUREZA DO PRIMEIRO PECADO OU DA QUEDA DO HOMEM ...................................................... 12 
2.4. O PRIMEIRO PECADO OU A QUEDA COMO OCASIONADA PELA TENTAÇÃO .......................................... 13 
2.5. A EXPLICAÇÃO EVOLUCIONISTA DA ORIGEM DO PECADO ................................................................. 16 
2.6. OS RESULTADOS DO PRIMEIRO PECADO ....................................................................................... 17 
3 - O CARÁTER ESSENCIAL DO PRIMEIRO PECADO ................................................................... 19 
3.1. TEORIAS FILOSÓFICAS A RESPEITO DA NATUREZA DO MAL ............................................................... 19 
3.2. A IDÉIA BÍBLICA DO PECADO ...................................................................................................... 23 
3.3. O CONCEITO PELAGIANO DE PECADO .......................................................................................... 26 
3.4. O CONCEITO CATÓLICO ROMANO DO PECADO .............................................................................. 28 
3.5. A PECAMINOSIDADE DE TODOS .................................................................................................. 29 
3.6. SER MERECEDOR DE CASTIGO .................................................................................................... 29 
3.7. A SALVAÇÃO DAS CRIANÇAS ...................................................................................................... 29 
4 - A TRANSMISSÃO DO PECADO ............................................................................................ 32 
4.1. RESENHA HISTÓRICA - ANTES DA REFORMA .................................................................................. 32 
4.2. APÓS A REFORMA ................................................................................................................... 33 
4.3. A UNIVERSALIDADE DO PECADO ................................................................................................. 34 
4.4. A RELAÇÃO DO PECADO DE ADÃO COM O DA RAÇA ........................................................................ 36 
4.5. TEORIAS QUE EXPLICAM A RELAÇÃO ENTRE ADÃO E A RAÇA ............................................................ 36 
4.6. TEORIA DA IMPUTAÇÃO IMEDIATA .............................................................................................. 38 
4.7. O PECADO ORIGINAL NA VIDA DA RAÇA HUMANA ......................................................................... 39 
4.8. CULPA ORIGINAL ..................................................................................................................... 41 
4.9. CORRUPÇÃO ORIGINAL ............................................................................................................. 42 
4.10. DEPRAVAÇÃO TOTAL ................................................................................................................ 42 
4.11. INCAPACIDADE TOTAL ............................................................................................................... 43 
4.12. O PECADO ORIGINAL E A LIBERDADE HUMANA ............................................................................. 45 
4.13. A TEOLOGIA DA CRISE E O PECADO ORIGINAL ............................................................................... 45 
4.14. OBJEÇÕES À DOUTRINA DA DEPRAVAÇÃO TOTAL E DA INCAPACIDADE TOTAL ...................................... 47 
4.15. O PECADO FATUAL .................................................................................................................. 48 
4.16. RELAÇÃO ENTRE O PECADO ORIGINAL E O PECADO FATUAL ............................................................. 48 
4.17. CLASSIFICAÇÃO DOS PECADOS FATUAIS ........................................................................................ 49 
4.18. O PECADO IMPERDOÁVEL ......................................................................................................... 50 
4.19. A CONCEPÇÃO CALVINISTA SOBRE TAL BLASFÊMIA ........................................................................ 51 
 
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HAMARTIOLOGIA 
 
 
 
3 
4.20. PASSAGENS QUE FALAM SOBRE A BLASFÊMIA ............................................................................... 52 
5 - A PUNIÇÃO DO PECADO ..................................................................................................... 54 
5.1. PUNIÇÕES NATURAIS E POSITIVAS ............................................................................................... 54 
5.2. A NATUREZA E O PROPÓSITO DAS PUNIÇÕES ................................................................................ 55 
5.3. O CASTIGO EFETIVO DO PECADO ................................................................................................ 57 
5.4. MORTE ESPIRITUAL ................................................................................................................. 58 
5.5. OS SOFRIMENTOS DA VIDA ....................................................................................................... 58 
5.6. MORTE FÍSICA ........................................................................................................................ 59 
5.7. MORTE ETERNA ...................................................................................................................... 60 
6 - O COMEÇO DO PECADO ..................................................................................................... 62 
7 - PECADO ORIGINAL – UMA ANÁLISE TEOLÓGICA ................................................................. 65 
7.1. CONCEITOS JUDAICOS .............................................................................................................. 65 
7.2. O AGNOSTICISMO ................................................................................................................... 65 
7.3. O PELAGIANISMO .................................................................................................................... 65 
7.4. O SEMIPELAGIANISMO ............................................................................................................. 66 
7.5. A TRANSMISSÃO NATURAL OU GENÉTICA ..................................................................................... 66 
7.6. A IMPUTAÇÃO MEDIADA .......................................................................................................... 66 
7.7. O REALISMO .......................................................................................................................... 66 
7.8. O FEDERALISMO ..................................................................................................................... 67 
7.9. UMA TEORIA INTEGRADA .......................................................................................................... 68 
8 - EXISTÊNCIA E DEFINIÇÕES DO PECADO ............................................................................... 72 
9 - CARACTERÍSTICAS DO PECADO ........................................................................................... 77 
10 - FORÇAE EXTENSÃO DO PECADO .................................................................................... 80 
11 - CONSEQUÊNCIAS DO PECADO ........................................................................................ 87 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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HAMARTIOLOGIA 
 
 
 
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AULA 
01 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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HAMARTIOLOGIA 
 
 
 
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1 - PORQUE ESTUDAR HAMARTIOLOGIA 
O ensino bíblico a respeito do pecado apresenta nitidamente dupla face: a 
depravação abissal da humanidade e a sobrepujante glória de Deus. A sombra do pecado 
está sobre cada aspecto da existência humana. Fora de nós, o pecado é um inimigo que 
seduz; por dentro, compele-nos ao mal, como parte de nossa natureza caída. Nesta vida, o 
pecado é intimamente conhecido, ainda que permaneça estranho e misterioso. Promete a 
liberdade, mas escraviza, produzindo desejos que não podem ser satisfeitos. Quanto mais 
nos debatemos para escapar ao seu domínio, tanto mais inextricavelmente nos enlaça. 
Compreender o pecado nos ajuda no conhecimento de Deus, porém o pecado distorce até 
mesmo nosso conhecimento do próprio-eu. Mas se a luz da iluminação divina consegue 
penetrar essas trevas, e não somente as trevas mas também a própria luz, então poderão 
ser melhor analisadas. 
Percebe-se a importância prática do estudo do pecado na sua gravidade. O pecado é 
contra Deus. Afeta a totalidade da criação, inclusive a humanidade. Até mesmo o menor 
dos pecados pode provocar o juízo eterno. E o remédio para o pecado é nada menos que a 
morte de Cristo na cruz. Os resultados do pecado abrangem todo o terror do sofrimento e 
da morte. Finalmente, as trevas do pecado demonstram – num contraste nítido e terrível - 
a glória de Deus. 
A importância prática do estudo da natureza do pecado também pode ser percebida 
no seu relacionamento com outras doutrinas. O pecado distorce todos os conhecimentos e 
lança dúvidas sobre eles. Ao defendermos a fé cristã, defrontamos com um dilema ético: 
como pode existir o mal no mundo governado por um Deus onipotente e inteiramente 
bom? 
O estudo da natureza divina deve considerar o controle providencial de Deus sobre 
um mundo amaldiçoado pelo pecado. O estudo do Universo deve descrevê-lo como tendo 
sido criado bom, mas que agora geme, ansiando pela redenção. O estudo da humanidade 
deve considerar a natureza humana, que se tornou grotescamente desumana e 
desnaturada. A doutrina de Cristo depara-se com a pergunta de como a natureza 
plenamente humana do Filho de Deus, nascido de uma virgem, pode ser totalmente 
impecável. O estudo da salvação deve declarar não somente para qual destino a 
humanidade é salva, mas também de qual destino foi resgatada. A doutrina do Espírito 
Santo deve considerar a convicção e a santificação, levando em conta a carne pecaminosa. 
A doutrina eclesiástica deve adaptar seu ministério a essa humanidade distorcida pelo 
pecado, dentro e fora da Igreja. O estudo dos tempos do fim precisa descrever, e também 
defender, o juízo divino contra os pecadores ao mesmo tempo em que aponta o fim do 
 
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HAMARTIOLOGIA 
 
 
 
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pecado. Finalmente, cabe à teologia praticar, evangelizar, aconselhar, educar, governar a 
Igreja, influir na sociedade e encorajar a santidade a despeito do pecado. 
O estudo do pecado, entretanto, apresenta muitas dificuldades. É revoltante, pois 
focaliza a fealdade grosseira do pecado generalizado e flagrante e o logro sutil do secreto e 
pessoal. A sociedade pós-cristã de hoje reduz o pecado a sentimentos ou atos, 
desconhecendo ou rejeitando totalmente o mal. Mais insidiosamente, o estudo do pecado 
é frustrado pelo próprio mal, uma vez que este é irracional por natureza. 
O número de conceitos extrabíblicos é imenso. A despeito de não serem bíblicos, 
estudá-los é importante porque nos permite: 
 Pensar mais clara e biblicamente a respeito do Cristianismo; 
 Defender melhor a fé e elaborar uma crítica mais correta dos outros sistemas; 
 Avaliar mais criticamente as novidades em psicoterapias, programas políticos, 
abordagens educacionais, e assim por diante; 
 Ministrar de modo mais eficaz aos crentes e não-crentes que mantêm essas e 
outras idéias antibíblicas. 
Muitas teorias, tomando como ponto de partida o existencialismo de Soren 
Kierkegaard, argumentam que os seres humanos enfrentam um dilema quando suas 
limitadas capacidades são inadequadas para satisfazer as possibilidades e escolhas 
virtualmente limitadas de suas percepções e imaginações. Tal situação produz tensão, 
ansiedade. O pecado é a tentativa fútil de se resolver à tensão, através de meios 
inapropriados, ao invés de aceitá-la de modo pessimista ou, no modo cristão de pensar, 
voltar-se para Deus. 
Num desdobramento mais radical, argumenta-se que a existência individual é um 
estado pecaminoso porque as pessoas estão alienadas da base da realidade 
(freqüentemente definida como “deus”) e umas das outras, mutuamente. Esse tema já 
aparece em forma primitiva com o filósofo judaico Filo. Atualmente, expressam-no 
teólogos liberais, como Paul Tillich, muitas das religiões orientais e o pensamento da Nova 
Era. 
Alguns acreditam que o pecado e o mal não sejam reais, porém meras ilusões que 
podem ser vencidas pela percepção correta. A Ciência Cristã, o hinduísmo, o budismo, o 
pensamento positivo de alguns tipos de cristianismo popular, boa parte da psicologia e 
aspectos do movimento da Nova Era ressoam essa teoria. 
O pecado também tem sido interpretado em termos dos restos não envolvidos de 
características animais primevas, como a agressão. Os defensores dessa idéia dizem que a 
 
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HAMARTIOLOGIA 
 
 
 
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história do Éden é realmente um mito a respeito do desenvolvimento da consciência 
moral, e não uma queda. 
A teologia da libertação entende que o pecado é a opressão de um grupo da 
sociedade por outro. Os teólogos da libertação freqüentemente combinam as teorias 
econômicas de Karl Marx (que falam da luta entre as classes, em que o proletariado 
acabará vencendo a burguesia) com temas bíblicos (tais como a vitória de Israel contra a 
escravidão) e também identificam os oprimidos pelo emprego de termos econômicos, 
raciais, de distinção entre os sexos e outros. O pecado é eliminado pela remoção das 
condições sociais que provocam a opressão. Os extremistas propõem a derrubada violenta 
dos opressores irredimíveis, ao passo que os moderados enfatizam a mudança através da 
ação social e da educação. 
Entre os mais antigos conceitos de pecado está o dualismo, a crença de que há uma 
luta entre forças preexistentes iguais (virtual ou realmente) - os deuses do bem e do mal. 
As duas forças cósmicas, com sua luta, são a causa da pecaminosidade na esfera temporal. 
Muitas vezes, a matéria má (especialmente a carne) ou contém ou realmente é pecado, 
que deve ser conquistado. Essa idéia aparece nas religiões do Oriente Próximo antigo, 
como o gnosticismo, o maniqueísmo e o zoroastrismo. Em muitas versões do hinduísmo e 
do budismo bem como na sua descendente, a Nova Era, o mal é reduzido a uma 
necessidade amoral. 
A teologia moderna vê “deus” como finito ou até mesmo em evolução moral. E o 
mundo sofrerá males enquanto o lado escuro da natureza divina não for controlado, idéia 
típicada mistura que a teologia do processo faz com a física e o misticismo oriental. 
Grande parte do pensamento popular, o cristianismo desinformado, o iSl amismo e 
muitos sistemas moralistas sustentam que o pecado consiste somente em ações 
deliberadas. Pessoas moralmente livres simplesmente fazem escolhas livres. Não existe a 
natureza pecaminosa, apenas eventos reais do pecado. A salvação é simplesmente 
comportar-se melhor e praticar o bem. 
O ateísmo sustenta que o mal é meramente uma probabilidade de um cosmos sem 
Deus. O pecado é rejeitado, a ética é apenas questão de preferência, e a salvação, mera 
autopromoção humanística. 
Embora muitas dessas teorias pareçam conter algum discernimento, nenhuma delas 
aceita a Bíblia como revelação plenamente inspirada. As Escrituras ensinam que o pecado 
é real e pessoal; que se originou na queda de Satanás, um ser pessoal, maligno e ativo; e 
que, através da queda de Adão, propagou-se entre a humanidade, que fora criada boa por 
um Deus totalmente bom. 
 
 
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AULA 
02 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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HAMARTIOLOGIA 
 
 
 
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2 - A ORIGEM DO PECADO 
O problema do mal que há no mundo sempre foi considerado um dos mais profundos 
problemas da filosofia e da teologia. É um problema que se impõe naturalmente à atenção 
do homem, visto que o poder do mal é forte e universal, é uma doença sempre presente 
na vida em todas as manifestações desta, e é matéria da experiência diária na vida de 
todos os homens. 
Os filósofos foram constrangidos a encarar o problema e a procurar uma resposta 
quanto à origem de todo mal, e particularmente do mal moral, que há no mundo. A alguns, 
pareceu uma parte de tal modo integrante da vida, que buscaram a solução na 
constituição natural das coisas. Outros, porém, estão convictos que o mal teve uma origem 
voluntária, isto é, que se originou na livre escolha do homem, quer na existência atual quer 
numa existência anterior. Estes acham-se bem mais perto da verdade revelada na Palavra 
de Deus. 
2.1. Conceitos Históricos a Respeito da Origem do Pecado 
Os mais antigos “pais da igreja”, assim chamados, não falam muito definidamente da 
origem do pecado, conquanto a idéia de que se originou na voluntária transgressão e 
queda de Adão no paraíso já achasse nos escritos de Irineu. Esta se tornou logo a idéia 
dominante na igreja, especialmente em oposição ao gnosticismo, que considerava o mal 
inerente à matéria e, como tal, produto do Demiurgo. O contato da alma humana com a 
matéria imediatamente a tornou pecaminosa. Essa teoria naturalmente priva o pecado do 
seu caráter voluntário e ético. 
Orígenes procurou manter isso com a sua teoria do preexistencialismo. Segundo ele, 
as almas dos homens pecaram voluntariamente numa existência anterior e, portanto, 
entraram no mundo numa condição pecaminosa. Esta idéia platônica estava tão 
sobrecarregada de dificuldades que não pôde encontrar aceitação geral. Contudo, durante 
os séculos dezoito e dezenove foi defendida por Mueller e Rueckert, e por filósofos como 
Lessing, Schelling e J. H. Fichte. Em geral os chamados pais da igreja grega, do terceiro e do 
quarto século, mostravam certa inclinação para reduzir entre o pecado de Adão e o dos 
seus descendentes, ao passo que os “pais” da igreja latina ensinavam cada vez com maior 
clareza que a atual condição pecaminosa do homem encontra a sua explicação na primeira 
transgressão de Adão no paraíso. 
Os ensinos da igreja oriental culminaram finalmente no pelagianismo, que negava a 
existência de alguma relação vital entre ambos, enquanto que os da igreja ocidental 
chegaram ao seu ponto culminante no agostinianismo, que acentuava o fato de que somos 
 
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HAMARTIOLOGIA 
 
 
 
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culpados e corruptos em Adão. O semipelagianismo admitia a conexão adâmica, mas 
sustentava que isso explica apenas a corrupção do pecado, não a culpa. 
Durante a Idade Media reconhecia-se geralmente essa conexão. Às vezes era 
interpretada à maneira agostiniana, mas com mais freqüência, à maneira semipelagiana. 
Os reformadores compartilhavam os conceitos de Agostinho, e os socinianos os de Pelágio, 
enquanto que os arminianos moviam-se em direção ao semipelagianismo. Sob a influencia 
do racionalismo e da filosofia evolucionista, a doutrina da queda do homem e de seus 
efeitos fatais sobre a raça humana aos poucos foi descartada. 
A idéia do pecado foi substituída pela do mal, e este mal era explicado de varias 
maneiras. Kant o considerava como uma coisa pertencente à esfera super - racional, que 
ele confessava não ter condições de explicar. Para Lebnitz, devia-se às necessárias 
limitações do universo. Schleiermacher via sua origem na natureza sentimental do homem, 
e Ritschl na ignorância humana, ao passo que o evolucionista o atribui à oposição das 
propensões inferiores à consciência moral em seu desenvolvimento gradativo. Barth fala 
da origem do pecado como o mistério da predestinação. 
O pecado originou-se na Queda, mas a Queda não foi um evento histórico; pertence à 
super-historia (Urgeschinchte). Adão foi de fato o primeiro pecador, mas a sua 
desobediência não pode ser considerada a causa do pecado do mundo. De algum modo, o 
pecado do homem está ligado à sua condição de criatura. A narrativa do paraíso apenas 
transmite ao homem a prazerosa informação de que ele não tem por que ser 
necessariamente um pecador. 
2.2. Dados Bíblicos a Respeito da Origem do Pecado 
Na Escritura, o mal moral existente no mundo transparece claramente como pecado, 
isto é, como transgressão da lei de Deus. Nela o homem sempre aparece como 
transgressor pó natureza, e surge naturalmente a questão: Como adquiriu ele essa 
natureza? Que revela a Bíblia sobre esse ponto? 
Deus Não Pode Ser Considerado o Autor do Pecado 
O decreto eterno de Deus evidentemente deu a certeza da entrada do pecado no 
mundo, mas não se pode interpretar isso de modo que faca de Deus a causa do pecado no 
sentido de ser Ele o seu autor responsável. 
Esta idéia claramente excluída pela Escritura. “Longe de Deus o praticar ele a 
perversidade, e do Todo-poderoso o cometer injustiça”, Jó 34.10. Ele o santo Deus, Is 6.3, e 
absolutamente não há falta de retidão nele, Dt 32.4; Sl 92.16. Ele não pode ser tentado 
pelo mal, e Ele próprio não tenta a ninguém, Tg 1.13. Quando criou o homem, criou-o bom 
e à Sua imagem. Ele positivamente odeia o pecado, Dt 25.16; Sl 5.4; 11.5; Zc 8.17; Lc 16.15, 
e em Cristo fez provisão para libertar do pecado o homem. 
 
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À luz disso tudo, seria blasfemo falar de Deus como o autor do pecado. E por essa 
razão, todos os conceitos deterministas que representam o pecado como uma necessidade 
inerente à própria natureza das coisas devem ser rejeitados. Por implicação, eles fazem de 
Deus o autor do pecado e são contrários, não somente à Escritura, mas também à voz da 
consciência, que atesta a responsabilidade do homem. 
O Pecado Originou-se no Mundo Angélico 
A Bíblia nos ensina que, na tentativa de investigar a origem do pecado, devemos 
retornar à queda do homem, na descrição de Gn 3 e fixar a tenção em algo que sucedeu no 
mundo angélico. Deus criou um grande número de anjos, e estes eram todos bons, quando 
saíram das mãos doseu Criador, Gn 1.31. Mas ocorreu uma queda no mundo angélico, 
queda na qual legiões de anjos se apartaram de Deus. 
A ocasião exata dessa queda não é indicada, mas em Jó 8.44 Jesus fala do diabo como 
assassino desde o princípio (kat’arches), e em 1 Jo 3.8 diz João que o diabo peca desde o 
princípio. A opinião é a de que a expressão kai’ arches significa desde o começo da história 
do homem. 
Muito pouco se diz sobre o pecado que ocasionou a queda dos anjos. Da exortação 
de Paulo a Timóteo, a que nenhum neófito fosse designado bispo, “para não suceder que 
se ensoberbeça, e incorra na condenação do diabo”, 1 Tm 3.6, podemos concluir que, com 
toda a probabilidade, foi o pecado do orgulho, de desejar ser como Deus em poder e 
autoridade. E esta idéia parece achar corroboração em Jd 6, onde se diz que os que caíram 
“não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio”. Não 
estavam contentes com a sua parte, com o governo e poder que lhes fora confiado. Se o 
desejo de serem semelhantes a Deus foi a tentação peculiar que sofreram, isto explica por 
que tentaram o homem nesse ponto particular. 
A Origem do Pecado na Raça Humana 
Com respeito à origem do pecado na história da humanidade, a Bíblia ensina que ele 
teve início com a transgressão de Adão no paraíso e, portanto, com um ato perfeitamente 
voluntário da parte do homem. O tentador veio do mundo dos espíritos com a sugestão de 
que o homem, colocando-se em oposição a Deus, poderia tornar-se semelhante a Deus. 
Adão se rendeu à tentação e cometeu o primeiro pecado, comendo do fruto 
proibido. Mas a coisa não parou aí, pois com esse primeiro pecado Adão passou a ser 
escravo do pecado. Esse pecado trouxe consigo corrupção permanente, corrupção que, 
dada a solidariedade da raça humana, teria efeito, não somente sobre Adão, mas também 
sobre todos os seus descendentes. Como resultado da Queda, o pai da raça só pôde 
transmitir uma natureza depravada aos pósteros. Dessa fonte não santa o pecado flui 
 
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numa corrente impura passando para todas as gerações de homens, corrompendo tudo e 
todos com que entra em contato. 
É exatamente esse estado de coisas que torna tão pertinente a pergunta de Jó, 
“Quem da imundícia poder tirar cousa pura? Ninguém”, Jó 14.4. Mas ainda isso não tudo. 
Adão pecou não somente como o pai da raça humana, mas também como chefe 
representativo de todos os seus descendentes; e, portanto, a culpa do seu pecado é posta 
na conta deles, pelo que todos são passíveis de punição e morte. É primariamente nesse 
sentido que o pecado de Adão é o pecado de todos. É o que Paulo ensina em Rm 5.12: 
“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a 
morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”. As 
últimas palavras só podem significar que pecaram em Adão, e isso de modo que se 
tornaram sujeitos ao castigo e à morte. 
Não se trata do pecado considerado meramente como corrupção, mas como culpa 
que leva consigo o castigo. Deus adjudica a todos os homens a condição de pecadores 
culpados em Adão, exatamente como adjudica a todos os crentes a condição de justos em 
Jesus Cristo. É o que Paulo quer dizer, quando afirma: “pois assim como por uma só ofensa 
veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de 
justiça veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como 
pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por 
meio da obediência de um só muitos se tornarão justos”, Rm 5.18, 
2.3. A Natureza do Primeiro Pecado ou da Queda do Homem 
Seu Caráter Formal 
Pode-se dizer que, numa perspectiva puramente formal, o primeiro pecado do 
homem consistiu em comer ele da árvore do conhecimento do bem e do mal. Não 
sabemos que espécie de árvore era. Poderia ser uma tamareira ou uma figueira ou 
qualquer outra árvore frutífera. Nada havia de ofensivo no fruto da árvore como tal. 
Comê-lo não era pecaminoso per se, pois não era uma transgressão da lei moral. Quer 
dizer que não seria pecaminoso, se Deus não tivesse dito: “da árvore do conhecimento do 
bem e do mal não comerás”. 
Não há opinião unânime quanto ao motivo pelo qual a árvore foi denominada do 
conhecimento do bem e do mal. Uma opinião das mais comuns é que a árvore foi chamada 
assim porque o comer do seu fruto infundiria conhecimento prático do bem e do mal; mas 
é difícil sustentar isso face à exposição bíblica segundo a qual, comendo-o, o homem 
passaria a ser como Deus, no conhecimento do bem e do mal, pois Deus não comete 
pecado e, portanto, não tem conhecimento prático dele. É muito mais provável que a 
árvore foi denominada desse modo porque fora destinada a revelar 
 
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HAMARTIOLOGIA 
 
 
 
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 se o estado futuro do homem seria bom ou mal; e 
 se o homem deixaria que Deus lhe determinasse o que era bom ou mau, ou se 
encarregaria de determina-lo por si e para si. 
Mas, seja qual for a explicação que se dê do nome, a ordem de Deus para não comer 
do fruto da árvore serviu simplesmente ao propósito de pôr à prova a obediência do 
homem. Foi um teste de pura obediência, desde que Deus de modo nenhum procurou 
justificar ou explicar a proibição. Adão tinha que mostrar sua disposição para submeter a 
sua vontade à vontade do seu Deus com obediência implícita. 
Seu Caráter Essencial e Material 
O primeiro pecado do homem foi um pecado típico, isto é, um pecado no qual a 
essência real do pecado se revela claramente. A essência desse pecado está no fato de que 
Adão se colocou em oposição a Deus, recusou -se a sujeitar a sua vontade à vontade de 
Deus de modo que Deus determinasse o curso da sua vida; e tentou ativamente tomar a 
coisa toda das mãos de Deus e determinar ele próprio o futuro. O homem, que não tinha 
absolutamente nenhum direito para alegar a Deus, e que só poderia estabelecer algum 
direito pelo cumprimento da condição da aliança das obras, desligou-se de Deus e agiu 
como se possuísse certos direitos contra Deus. 
A idéia de que o mandado de Deus era de fato uma infração dos direitos do homem 
parece que já estava na mente de Eva quando, em resposta à pergunta de Satanás, 
acrescentou as palavras, “nem tocareis nele”, Gn 3.3. Evidentemente ela quis salientar o 
fato de que a ordem não fora razoável. 
Partindo da pressuposição de que tinha certos direitos contra Deus, o homem 
promulgou o novo centro de operações, que viu nele próprio, onde agir contra o seu 
Criador. Isto explica o seu desejo de ser como Deus e a sua dúvida quanto às boas 
intenções de Deus ao dar-lhe a ordem. Naturalmente podem distinguir-se diferentes 
elementos do seu primeiro pecado. No intelecto revelou-se como incredulidade e orgulho, 
na vontade, como o desejo de ser como Deus, e nos sentimentos, como uma ímpia 
satisfação ao comer do fruto proibido. 
2.4. O Primeiro Pecado ou a Queda como Ocasionada pela 
Tentação 
Os Procedimentos do Tentador 
A queda do homem foi ocasionada pela tentação da serpente, que semeou na mente 
do homem as sementes da desconfiança e da descrença. Embora indubitavelmente a 
intenção do tentador fosse levar Adão, o chefe da aliança, a cair, não obstante dirigiu-se a 
Eva, provavelmente porque 
 
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 não exercia a chefia da aliança e, portanto, não teria o mesmo senso de 
responsabilidade; 
 não recebeu diretamente a ordem de Deus, mas apenasindiretamente e, por 
conseguinte, seria mais suscetível de ceder à argumentação e duvidar; e 
 seria sem dúvida o instrumento mais eficiente para alcançar o coração de Adão. 
O curso seguido pelo tentador é bem claro. 
Em primeiro lugar, ele semeia as sementes da dúvida pondo em questão as boas 
intenções de Deus e insinuando que Sua ordem era realmente uma violação da liberdade e 
dos direitos do homem. Quando nota, pela reação de Eva, que a semente tinha criado raiz, 
acrescenta as sementes da descrença e do orgulho, negando que a transgressão resultaria 
na morte e dando a entender claramente que a ordem divina fora motivada pelo objetivo 
egoísta de manter o homem em sujeição. Ele afirma que, ao comer da árvore, o homem 
passaria a ser como Deus. 
As elevadas expectativas assim geradas induziram Eva a observar com atenção a 
árvore, e quanto mais olhava, melhor lhe parecia o fruto. Finalmente, o desejo lhe moveu 
a mão, e ela comeu do fruto e também o deu ao marido, e ele comeu. 
Como Interpretar Esta Tentação 
Freqüentes tentativas têm sido feitas, e continuam sendo feitas, para explicar a 
Queda negando-lhe o caráter histórico. Alguns acham que toda a narrativa de Gênesis 3 é 
uma alegoria que representa figuradamente a autodepravação do homem e sua mudança 
gradativa. 
Barth e Brunner consideram a narrativa do estado original e da queda do homem um 
mito. Para eles, tanto a Criação como a Queda pertencem, não à história, mas ao que 
denominam super-história (Urgeschichte) e, daí, ambas são igualmente incompreensíveis. 
A narrativa dada em Gênesis ensina-nos meramente que, embora o homem seja 
atualmente incapaz de realizar algum bem e esteja sujeito à lei da morte, não há por que 
ser necessariamente assim. É possível ao homem livrar -se do pecado e da morte por uma 
vida de comunhão com Deus. Tal é a vida retratada para nós na narrativa sobre o paraíso, 
e ela prefigura a vida que nos é assegurada naquele de quem Adão foi apenas um tipo, a 
saber Cristo. Mas não é a classe de vida que o homem vive agora, ou que sempre viveu, 
desde o início da história. 
O paraíso não é uma certa localidade que podemos assinalar mas existe onde Deus é 
Senhor e o homem e as demais criaturas Lhe são sujeitos voluntariamente. O paraíso do 
passado está além dos limites da história humana. Diz Barth: “Quando a história do 
homem começou; quando o tempo do homem teve seu começo; quando o tempo e a 
 
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HAMARTIOLOGIA 
 
 
 
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história começaram onde o homem tem a primeira e a última palavra, o paraíso 
desapareceu”. 
É do mesmo teor o que Brunner fala, quando diz: “Assim como com respeito Criação 
perguntamos em vão: Como, quando e onde aconteceu?. Também se dá com a Queda. 
Tanto a Criação como a Queda estão por trás da realidade histórica visível”. 
Outros, que não negam o caráter histórico da narrativa de Gênesis, afirmam que pelo 
menos a serpente não deve ser considerada como um animal literal, mas apenas como um 
nome ou um símbolo da cobiça, do desejo sexual, do raciocínio pecaminoso, ou de 
Satanás. Ainda outros asseveram que, para dizer o mínimo, o falar da serpente deve ser 
entendido figuradamente. Mas todas estas interpretações, e outras quejandas, são 
insustentáveis à luz da Escritura. 
As passagens que precedem e se seguem a Gn 3.1-7 manifestam evidente propósito 
de construir uma pura e simples narrativa histórica. Pode-se provar que assim foram 
entendidas pelos escritores bíblicos, mediante muitas referências, como por exemplo, Jó 
31.33; Ec 7.29; Is 43.27; Os 6.7; Rm 5.12, 18, 19; 1 Co 5.21; 2 Co 11.3; 1 Tm 2.14, e, 
portanto, não temos o direito de afirmar que os referidos versículos, que constituem parte 
integrante da narrativa, devem ser interpretados figuradamente. 
Além disso, certamente a serpente é considerada como um animal em Gn 3.1, e não 
daria bom sentido substituir “serpente” por “Satanás”. O castigo de que fala Gn 3.14, 15 
pressupõe uma serpente literal, e Paulo não a entende doutro modo, em 2 Co 11.3. E, 
apesar de poder-se entender num sentido figurado a serpente falar por meio de gestos, 
não parece possível imaginá-la mantendo dessa maneira a conversação registrada em Gn 
3. 
A transação toda, a fala da serpente inclusive, sem dúvida acha sua explicação na 
operação de algum poder sobrenatural, não mencionado em Gn 3. A Escritura dá a 
entender claramente que a serpente foi apenas um instrumento de Satanás, e que Satanás 
foi o real tentador, que agiu na serpente e por meio dela, como posteriormente agiu em 
homens e em porcos, Jo 8.44; Rm 16.20; 2 Co 11.3; Ap 12.9. A serpente foi um instrumento 
próprio para Satanás, pois ele é a personificação do pecado, e a serpente simboliza o 
pecado (a) em sua natureza astuta e enganosa, e (b) em sua picada venenosa, com a qual 
mata o homem. 
A Queda Pela Tentação e a Salvabilidade do Homem 
Tem-se sugerido que o fato de que a queda do homem foi ocasionada pela tentação 
proveniente de fora, pode ser uma das razões pelas quais o homem é salvável, 
diversamente dos anjos, que não estiveram sujeitos a uma tentação externa, mas caíram 
pelas incitações da sua própria natureza interior. Nada de certo se pode dizer sobre este 
 
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ponto, porém. Mas, seja qual for o significado da tentação a este respeito, certamente não 
será suficiente para explicar como um ser santo como Adão pôde cair em pecado’. É-nos 
impossível dizer como a tentação pôde encontrar um ponto de contato numa pessoa 
santa. E mais difícil de explicar ainda, é a origem do pecado no mundo angélico. 
2.5. A Explicação Evolucionista da Origem do Pecado 
Naturalmente, uma teoria evolucionista coerente não pode admitir a doutrina da 
Queda, e bom número de teólogos modernistas a rejeitaram como incompatível com o 
evolucionismo. É verdade que já alguns teólogos muito conservadores como Denney, Gore 
e Orr que aceitam, embora com reserva, a explicação evolucionista da origem do homem, 
e acham que ela deixa lugar para a doutrina da Queda nalgum sentido da palavra. 
Mas é significativo que todos eles concebem a narrativa da Queda como uma 
representação mítica ou alegórica de uma experiência ética ou de uma catástrofe moral 
realmente sucedida no princípio da história que resultou em sofrimento e morte. Significa 
que eles não aceitaram a narrativa da Queda como um relato histórico do que realmente 
sucedeu no jardim do Éden. Em suas Conferências Hulseanas sobre A Origem e a 
Propagação do Pecado, Tennant fez um relato minucioso e interessante da origem do 
pecado segundo o ponto de vista evolucionista. Ele se deu conta de que o homem não 
poderia herdar o pecado dos seus antepassados animais, visto que estes não tinham 
pecado algum. Quer dizer que os impulsos, propensões, desejos e qualidades que o 
homem herdou dos animais inferiores não podem ter o nome de pecado. 
Segundo a sua avaliação, eles constituem apenas o material do pecado, e não se 
tornam pecados de fato enquanto a consciência moral não se desperta no homem, e se 
permite que eles assumam o controle na determinação das ações do homem, 
contrariamente à voz da consciência e às sanções éticas. Ele sustenta que, no curso do seu 
desenvolvimento, o homem foi-se tornando aos poucos um ser ético, tendo uma vontade 
indeterminada, sem explicar como tal vontade é possível onde prevalece a lei da evolução, 
e considera essa vontade como a causa única o pecado. Define o pecado “como uma 
atividade da vontade expressa em pensamentos, palavras ou atos contrários à consciência 
individual, à sua noção do que o bem e o direito, o conhecimento da lei moral e a vontadede Deus”. 
Conforme a raça humana se desenvolve, os padrões éticos se tornam mais rigorosos, 
e a hediondez do pecado aumenta. O ambiente pecaminoso torna mais difícil ao homem 
refrear-se quanto ao pecado. Esta opinião de Tennant não deixa lugar para a queda do 
homem no sentido geralmente aceito da palavra. Na verdade, Tennant repudia 
explicitamente a doutrina da queda, reconhecida em todas as grandes confissões históricas 
da igreja. Diz W. H. Johnson: “Os críticos de Tennant estão de acordo em que a sua teoria 
não deixa espaço para o clamor do coração contrito que, não somente confessa atos 
 
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isolados de pecado, mas também declara: ‘Fui formado em iniqüidade; há uma lei de 
morte em meus membros’”. 
 
2.6. Os Resultados do Primeiro Pecado 
A primeira transgressão do homem teve os seguintes resultados: 
1. O concomitante imediato do primeiro pecado e, portanto, dificilmente um 
resultado dele no sentido estrito da palavra, foi a depravação total da natureza 
humana. O contágio do seu pecado espalhou-se imediatamente pelo homem 
todo, não ficando sem ser tocada nenhuma parte da sua natureza, mas 
contaminando todos os poderes e faculdades do corpo e da alma. Esta completa 
corrupção do homem é ensinada claramente na Escritura, Gn 6.5; Sl 14.3; Rm 
7.18. A depravação total de que se trata aqui não significa que a natureza humana 
ficou logo tão completamente depravada como teria a possibilidade de vir a ser. 
Na vontade essa depravação manifestou-se como incapacidade espiritual. 
2. Imediatamente relacionada com a matéria do item anterior, deu -se a perda da 
comunhão com Deus mediante o Espírito Santo. Esta é simplesmente o reverso da 
completa corrupção mencionada no parágrafo anterior. Ambos podem ser 
combinados numa única declaração, de que o homem perdeu a imagem de Deus 
no sentido de retidão original. Ele rompeu com a verdadeira fonte de vida e bem-
aventurança, e o resultado foi uma condição de morte espiritual, Ef 2.1, 5, 12; 
4.18. 
Esta mudança da condição real do homem refletiu-se também em sua consciência. 
Houve, primeiramente, uma consciência da corrupção, revelando-se no sentido de 
vergonha, e no esforço que os nossos primeiros pais fizeram para cobrir a sua nudez. E 
depois houve uma consciência de culpa, que achou expressão numa consciência acusadora 
e no temor de Deus que isso inspirou. 
Não somente a morte espiritual, mas também a morte física resultou do primeiro 
pecado do homem. De um estado de posse non mori desceu a um estado de non possenon 
mori. Havendo pecado, ele foi condenado a retornar ao pó do qual fora tomado, Gn 3.19. 
Diz-nos Paulo que por um homem a morte entrou no mundo e passou a todos os homens, 
Rm 5.12, e que o salário do pecado é a morte, Rm 6.23. 
Esta mudança redundou também numa necessária mudança de resistência. O 
homem foi expulso do paraíso, porque este representava o lugar da comunhão com Deus, 
e era símbolo da vida mais completa e de uma bem-aventurança maior reservadas para 
ele, se continuasse firme. Foi-lhe vedada a árvore da vida, porque esta era o símbolo da 
vida prometida na aliança das obras. 
 
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AULA 
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3 - O CARÁTER ESSENCIAL DO PRIMEIRO PECADO 
O pecado é um dos mais tristes fenômenos da vida humana, e também o mais 
comum. Faz parte da experiência comum da humanidade e, portanto, impõe-se à atenção 
de todos os que não fecham deliberadamente os olhos para as realidades da vida humana. 
Há os que sonham por algum tempo com a bondade essencial do homem e falam com 
indulgência das palavras e ações isoladas que não se enquadram nos padrões éticos da boa 
sociedade, descrevendo -as como simples paixões e fraquezas, pelas quais o homem não é 
responsável e as quais prontamente cedem a medidas corretivas; mas, com o correr do 
tempo, com o fracasso de todas as medidas de reforma externa, e com a verificação de 
que a supressão de um mal só serve para liberar outro, essas pessoas ficam 
inevitavelmente desiludidas. Tomam consciência do fato de que estiveram lutando 
meramente com os sintomas de uma doença arraigada profundamente e que defrontam, 
não apenas o problema dos pecados, isto é, dos atos pecaminosos isolados, mas o 
problema muito maior e mais profundo do pecado, de um mal inerente à natureza 
humana. 
É exatamente o que estamos começando a presenciar na época atual. Muitos 
modernistas de hoje não hesitam em dizer que a doutrina de Rousseau a respeito da 
bondade inerente do homem evidenciou-se como um dos mais perniciosos ensinos do 
período do Iluminismo, e agora reclamam a presença de maior medida de realismo no 
reconhecimento do pecado. Assim, Walter Horton, que pleiteia uma teologia realista e 
acredita que esta requer a aceitação de alguns princípios marxistas, diz: “Creio que o 
cristianismo ortodoxo representa uma profunda compreensão de todo o predicamento 
humano. Creio que a dificuldade humana básica é aquela perversão da vontade, aquela 
traição contra a vontade divina, que se chama pecado; e creio que o pecador é, num certo 
sentido, uma enfermidade racial, transmissível de geração a geração. Ao afirmar essas 
coisas, os ‘pais’ cristãos e os reformadores protestantes falavam como realista, e podiam 
ter coletado pilhas de provas empíricas para suporte das suas ideias”. 
Em vista do fato de que o pecado é real e ninguém pode livrar-se dele na presente 
existência, não admira que os filósofos, como os teólogos, se decidiram a atracar-se com o 
problema do pecado, conquanto na filosofia seja mais conhecido como o problema do mal 
que do pecado, consideramos abreviadamente algumas das mais importantes teorias 
filosóficas sobre o mal, antes de expormos a doutrina escriturística do pecado. 
3.1. Teorias Filosóficas a Respeito da Natureza do Mal 
Teoria Dualista 
 
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Esta é uma das teorias que foram comuns na filosofia grega. Na forma do 
gnosticismo, conseguiu penetrar na Igreja Primitiva. Admite a existência de um princípio 
eterno do mal, e sustenta que no homem o espírito representa o princípio do bem, e 
corpo, o do mal. É objetável por várias razões: (a) É posição filosoficamente insustentável 
que haja fora de Deus algo que seja eterno e independente da Sua vontade. (b) Essa teoria 
retira do pecado o seu caráter ético, fazendo dele uma coisa puramente física e 
independente da vontade humana, e, deste modo, destrói na verdade a idéia de pecado, 
(c) Também elimina a responsabilidade do homem, apresentando o pecado como uma 
necessidade ou inevitabilidade física. Segundo essa teoria, o único meio de escarparmos 
do pecado consiste em livrar-nos do corpo. 
Teoria do Pecado Como Mera Privação 
De acordo com Leibnitiz, o presente mundo é o melhor mundo possível. A existência 
do pecado deve ser considerada inevitável. O pecado não pode ser atribuído à acaso 
pessoal de Deus e, portanto, deve ser considerado como simples negação ou privação, sem 
necessidade de nenhuma causa eficiente. 
As limitações da criatura o tornam inevitável. Essa teoria torna o pecado um mal 
necessário, desde que as criaturas são necessariamente limitadas, e o pecado é uma 
conseqüência inevitável dessalimitação. Sua tentativa de evitar fazer de Deus o autor do 
pecado não tem bom êxito, pois, mesmo que o pecado fosse apenas uma negação sem 
nenhuma causa eficiente, Deus seria, não obstante, o autor da limitação da qual ele 
resultaria. Além disso, a teoria tende a obliterar a distinção entre o mal moral e o mal 
físico, visto que descreve o pecado como pouco mais que um infortúnio sobrevindo ao 
homem. 
Conseqüentemente, propende a embotar no homem a noção do mal ou da corrupção 
do pecado, destruir o sentimento de culpa e abrogar a responsabilidade enfraquecendo a 
natureza sensorial, o domínio dos sentidos, necessariamente enfraquece a força moral do 
ser humano. 
 Teoria do Pecado Como Uma Ilusão 
Para Spinoza, como para Leibnitiz, o pecado é simplesmente um defeito, uma 
limitação da qual o homem está cônscio; mas enquanto Leibnitiz considera a noção do mal, 
que surge dessa limitação, como necessária, Spinoza sustenta que a resultante consciência 
do pecado deve-se simplesmente à inadequação do conhecimento do homem, que não 
consegue ver tudo sub specie aeternitatis, isto é, em unidade com a eterna e infinita 
essência de Deus. 
Se o conhecimento do homem fosse adequado, de sorte que visse tudo em Deus, ele 
não teria nenhuma idéia do pecado; este seria simplesmente inexistente para ele. Mas 
 
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essa teoria, que apresenta o pecado como uma coisa puramente negativa, não explica os 
seus terríveis resultados que a experiência universal da humanidade atesta da maneira 
mais convincente. Levada adiante coerentemente, ela abroga todas as distinções e reduz 
conceitos como “caráter moral” e “conduta moral” a frases sem sentido. De fato, reduz 
toda a vida do homem a uma ilusão: seu conhecimento, sua experiência, o testemunho da 
consciência, e assim por diante, pois todo o seu conhecimento é inadequado. Além disso, 
vai contra a experiência da humanidade, que atesta que os mais inteligentes são, muitas 
vezes, os maiores pecadores, sendo Satanás o maior de todos. 
Teoria da Falta de Consciência Divina e a Natureza 
É o conceito de Schleiermacher. Segundo ele, a consciência do pecado, da parte do 
homem, depende da sua consciência de Deus. Quando o senso da realidade de Deus se 
desperta no homem, imediatamente toma consciência da oposição da sua natureza 
inferior àquela noção. Esta oposição segue-se da própria constituição de seu ser, de sua 
natureza sensorial, presa aos sentidos, da ligação da alma com um organismo físico. 
É, pois, uma imperfeição inerente, mas uma imperfeição que o homem sente como 
pecado e culpa. Contudo, isso não faz de Deus o autor do pecado, uma vez que o homem 
concebe erroneamente essa imperfeição como pecado. 
O pecado não tem existência objetiva, mas existe somente na consciência do homem. 
Mas essa teoria declara o homem constitutivamente mau. O mal estava presente no 
homem mesmo em seu estado original, quando sua consciência de Deus não era suficiente 
forte para dominar a natureza sensorial do homem, presa aos sentidos. Isso está em 
flagrante oposição à Escritura, quando esta sustenta que o homem erroneamente julga 
que esse mal é o pecado e, assim, entende o pecado e a culpa como puramente subjetivos. 
E embora Schleiermacher queira evitar esta conclusão, faz de Deus o autor do pecado, 
responsável por este, pois Ele é o Criador da natureza sensorial do homem. 
A teoria repousa também numa incompleta indução dos fatos, visto que não leva em 
conta o fato de que muitos dos mais odiosos pecados do homem não pertencem à sua 
natureza física, e, sim, à sua natureza espiritual, como por exemplo a avareza, a inveja, o 
orgulho, a malícia, e outros. Além disso, leva às conclusões mais absurdas como, por 
exemplo, a de que o ascetismo, seus sentidos; a de que o único redentor é a morte; e a de 
que os espíritos desencarnados ou incorpóreos, o diabo inclusive, não tem nenhum 
pecado. 
Teoria do Pecado Como Falta de Confiança ou Oposição ao Reino, Devida a 
Ignorância 
Como Schleiermacher, Ritschl também dá ênfase ao fato de que o pecado é 
entendido somente do ponto de vista da consciência cristã. Os que se acham fora dos 
 
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limites da religião cristã, e os que estão ainda alheios à experiência da redenção, não têm 
nenhum conhecimento do pecado. Sob a influencia da obra redentora de Deus, o homem 
toma consciência da sua falta de confiança em Deus e da sua oposição ao reino de Deus, 
que constitui o bem supremo. 
O pecado não é determinado pela atitude do homem para com a lei de Deus, mas por 
sua relação com o propósito de D eus, que visa ao estabelecimento do Reino. O homem 
imputa a si próprio, como culpa, o seu fracasso em não conseguir tornar seu propósito de 
Deus, mas Deus o considera apenas como ignorância e, porque ignorância, é imperdoável. 
Esse conceito de Ritschal lembra-nos, por contraste, a máxima grega: Conhecimento é 
virtude, Absolutamente não faz justiça à posição escriturística de que o pecado é, acima de 
tudo, transgressão da lei de Deus e, portanto, torna o homem culpado à vista de Deus e 
merecedor de condenação. Além disso, a idéia de que o pecado é ignorância vai contra a 
voz da experiência cristã. 
O homem que leva sobre si o fardo o senso de pecado, certamente não pensa nisso 
daquele modo. Também é grato porque não somente os pecados cometidos na ignorância 
são doáveis, mas igualmente todos os demais, com a única exceção da blasfêmia contra o 
Espírito Santo. 
Teoria do Pecado Como Egoísmo 
Assumem essa posição Mueller e A H. Strong, entre outros. Alguns que assumem essa 
posição concebem o egoísmo apenas como o oposto do altruísmo ou da generosidade; 
outros o entendem como a escolha do ego, em vez de Deus, como o supremo objeto do 
amor. Ora, essa teoria, especialmente quando concebe o egoísmo como a colocação do 
ego no lugar de Deus, é, de longe, a melhor das teorias mencionadas. Todavia, dificilmente 
se pode dizer que é satisfatória. 
Embora todo egoísmo seja pecado, e haja um elemento de egoísmo em todo pecado, 
não se pode dizer que o egoísmo é a essência do pecado. Só se pode definir propriamente 
o pecado com referencia à lei de Deus, referencia completamente ausente da definição em 
foco. Além disso, há muitos pecados nos quais o egoísmo está longe de ser o principio 
dominante. Quando um pai é abatido pela pobreza e vê a esposa e os filhos esmorecidos 
por falta de alimento, e, em, seu desesperado desejo de socorrê-los acaba recorrendo ao 
roubo, dificilmente se pode dizer que isso é puro egoísmo. Até pode ser que a idéia de ego 
estivesse inteiramente ausente. 
A inimizade para com Deus, a dureza de coração, a impenitência e a incredulidade 
são pecados hediondos, mas não podem ser simplesmente classificados como egoísmo. E 
certamente a idéia de que toda virtude é desinteresse próprio ou generosidade, o que 
parece constituir um necessário corolário da teoria que estamos considerando, não é 
válida, pelo menos numa das suas formas. 
 
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Um, ato deixa de ser virtuoso quando a sua realização cumpre e satisfaz alguma 
exigência da nossa natureza. Ademais, a justiça, a fidelidade, a humanidade, a clemência, a 
paciência e outras virtudes podem ser cultivadas ou praticadas, não como formas de 
generosidade, mas como virtudes inerentemente excelentes, não meramente pela 
promoção da felicidade de outros, mas pelo que elas são em si mesmas. 
Teoria do PecadoComo Oposição à Natureza Humana 
Essa opinião foi desenvolvida, como foi assinalado, em suas Conferências Hulseanas. 
É a doutrina do pecado elaborado de acordo com a teoria evolucionista. Os impulsos 
naturais e as qualidades herdadas, derivadas dos animais inferiores, compõem o material 
do pecado, mas não se tornam pecado concretamente enquanto não forem tolerados 
contrariamente ao senso moral da humanidade em seu desenvolvimento gradual. As 
teorias de McDowall e Fiske seguem linhas semelhantes. A teoria apresentada por Tennant 
hesita um tanto entre a idéia bíblica sobre o homem e a idéia apresentada pela teoria 
evolucionista, inclinado-se ora para um lado, ora para outro. Pressupõe que o homem 
tinha livre arbítrio – vontade livre – mesmo antes do despertar da sua consciência moral, 
de modo que podia fazer uma escolha quando era posto diante de um ideal moral; mas 
não explica como se pode conceber uma vontade livre e indeterminada num processo de 
evolução. A teoria limita o pecado às transgressões da lei moral cometidas com clara 
consciência de um ideal moral e, portanto, condenadas como más pela consciência. É, na 
verdade, apenas a velha idéia pelagiana do pecado enxertada na teoria evolucionista e, 
portanto, está aberta a todas as objeções que pesam sobre o pelagianismo. 
O defeito radical dessas teorias todas é que procuram definir o pecado sem levar em 
consideração que o pecado é essencialmente o abandono de Deus, a oposição a Deus e a 
transgressão da lei de Deus. Sempre se deve definir o pecado em termos da relação do 
homem com Deus e Sua vontade como vem expressa na lei moral. 
3.2. A Idéia Bíblica do Pecado 
Ao dar a idéia bíblica do pecado, é necessário chamar a atenção para diversas 
particularidades. 
O Pecado é o Mal Numa Categoria Específica 
Hoje em dia ouvimos falar muito do mal, e relativamente pouco do pecado; e isso é 
muito enganoso. Nem todo mal é pecado. Não se deve confundir o pecado com o mal 
físico, com aquilo que é danoso ou calamitoso. É possível falar de pecado. E mesmo nesta 
esfera não desej vel substituir a palavra “pecado” pela palavra “mal” sem acrescentar 
algum qualificativo, pois aquela mais especifica do que esta. O pecado um mal moral. 
Muitos nomes empregados na Escritura para designar o pecado indicam o seu teor 
moral. Chatta’th dirige a atenção para o pecado como feito que era o alvo e que consiste 
 
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num desvio do caminho certo. ’Avel e ’avon indicam que é uma falta de integridade e 
retidão, uma saída da vereda designada. Pesha’ refere-se a ele como uma revolta ou uma 
recusa de sujeição à autoridade legitima, uma positiva transgressão da lei, e um 
rompimento da aliança. E resha’ o assinala como uma fuga ímpia e culposa da lei. Ademais, 
é designado como culpa por ’asham, como infidelidade e traição por ma’al, como vaidade 
por ’aven e como perversão ou distorção da natureza (torção) por ’avah. 
As palavras neotestamentárias correspondentes, como hamartia, adikia, parabasis, 
paraptoma, anomia, paranomia e outras, indicam as mesmas idéias. Em vista do emprego 
dessas palavras e do modo pelo qual a Bíblia falar, não só do pecado mas da doença, como 
um mal, então, a palavra “mal” empregada normalmente fala do pecado, não se pode 
duvidar do seu teor ético. Não é uma calamidade que sobreveio inopinadamente ao 
homem, envenenou sua vida e arruinou sua felicidade, mas um curso que o homem 
decidiu seguir deliberadamente e que leva consigo misera inaudita. 
Fundamentalmente não é uma coisa passiva, como uma fraqueza, um defeito, ou 
uma imperfeição pela qual não podemos ser responsabilizados, mas uma ativa oposição a 
Deus, e uma positiva transgressão da Sua lei, constituindo culpa. O pecado é o resultado 
de uma escolha livre, porém má, do homem. 
Este é o ensino claro da Palavra de Deus, Gn 3.1-6; Is 48.8; Rm 1.18-32; 1 Jo 3.4. A 
aplicação da filosofia evolucionista ao estudo do Velho Testamento levou alguns eruditos à 
convicção de que a idéia ética do pecado não se desenvolveu até o tempo dos profetas, 
mas esta opinião não encontra apoio na maneira como os mais antigos livros da Bíblia 
falam do pecado. 
O Pecado tem Caráter Absoluto 
Na esfera ética, o constante entre o bem e o mal é absoluto. Não há condição neutra 
entre ambos. Apesar de indubitavelmente haver graus nos dois, não há graduação entre o 
bem e o mal. A transição de um para o outro não é de caráter quantitativo, e sim, 
qualitativo. Um ser moral bom não se torna mau por uma simples diminuição da sua 
bondade, mas somente por uma mudança qualitativa radical, por um volver ao pecado. 
O pecado não é um grau menor de bondade, mas mal positivo. Isso é ensinado 
claramente na Bíblia. Quem não ama a Deus é, por isso, caracterizado como mau. A 
Escritura não reconhece nenhuma posição de neutralidade. Ela concita o ímpio a voltar -se 
para a retidão e, às vezes, fala do justo como caindo no mal; mas não contem nem uma só 
indicação de que um ou outro alguma vez fica numa posição neutra. O homem esta do 
lado certo ou do lado errado, Mt 10.32, 33; 12.30; Lc 11.23; Tg 2.10. 
O Pecado Tem Sempre Relação com Deus e Sua Vontade 
 
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Os mais antigos teólogos compreendem que é impossível ter uma correta concepção 
do pecado sem vê-lo em relação a Deus e Sua vontade e, portanto, acentuavam este 
aspecto e normalmente falavam do pecado como “falta de conformidade com a lei de 
Deus”. , sem duvida, uma correta definião formal do pecado. 
Mas surge a questão: Qual é precisamente o conteúdo material da lei? Que é ela 
exige? 
Respondendo-se esta questão, será possível determinar o que é o pecado num 
sentido material. Ora, não há duvida de que a grande e central exigência da lei é o amor a 
Deus. E se ponto de vista material, a bondade consiste em amar a Deus, o mal moral 
consiste no oposto. É a separação de Deus, a oposição a Deus, o ódio a Deus, e isto se 
manifesta em constante transgressão da lei de Deus, em pensamento, palavra e ato. As 
seguintes passagens mostram claramente mente que a Escritura vê o pecado em relação a 
Deus e Sua lei, quer como lei escrita nas tabuas do coração, quer como dada por meio de 
Moises, Rm 1.32; 2.12-14; 4.15; Tg 2.9; 1 Jo 3.4. 
O Pecado Inclui Culpa e Corrupção 
A culpa é o estado de merecimento da condenação ou de ser passível de punição pela 
violação de uma lei ou de uma exigência moral. Ela expressa a relação do pecado com a 
justiça ou da penalidade com a lei. Mesmo assim, porém, apalavra tem duplo sentido. 
Pode indicar uma qualidade inerente ao pecador, a saber, o seu demérito, más qualidades 
ou cumplicidade, que o faz merecedor de castigo. Dabney fala disso como “culpa 
potencial”. 
É inseparável do pecado, jamais se encontra em quem não é pessoalmente pecador, 
e é permanente, de modo que, uma vez estabelecida, não pode ser removida pelo perdão. 
Mas também pode indicar a obrigação de satisfazer a jus tiça, pagar a penalidade do 
pecado – a “culpa de fato”, como lhe chama Dabney. Não inerente ao homem, mas é o 
estatuto penal do legislador, que fixa a penalidade da culpa. Pode ser removida pela 
satisfação pessoal ou vicária das justas exigências da lei. Embora muitos neguem que o 
pecado inclui culpa, essa negação não se harmoniza com o fato de que o pecado é 
ameaçado com castigo, e de fato o recebe, e evidentemente contradiz claras afirmações da 
escritura, Mt 6.12; Rm 3.19; 5.18; Ef 2.3. Por corrupção entendemos a corrosiva 
contaminação inerente, a que todo pecador está sujeito. É uma realidade na vida de todos 
os indivíduos. É inconcebível sem a culpa,embora a culpa, como incluída numa relação 
penal, seja concebível sem a corrupção imediata. Mas é sempre seguida pela corrupção. 
Todo aquele que é culpado em Adão, também nasce com uma natureza corrupta, em 
conseqüência. Ensina-se claramente a doutrina da corrupção do pecado em passagens 
como, Jó 14.4; Jr 17.9; Mt 7.15-20; Rm 8.5-8; Ef 4.17-19. 
O Pecado tem Sua Sede no Coração 
 
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O pecado não reside nalguma faculdade da alma, mas no coração, que na psicologia 
da Escritura é o órgão central da alma, onde estão as saídas da vida. E desse centro, sua 
influencia e suas operações espalham-se para o intelecto, a vontade, as emoções – em 
suma, a todo homem, seu corpo inclusive. 
Em seu estado pecaminoso, o homem completo é objeto de desprazer de Deus. Há 
um sentido em que se pode dizer que o pecado teve origem na vontade do homem, caso 
em que a vontade não designa uma volição efetiva, na medida em que isto sucede com a 
natureza volitiva do homem. Havia uma tendência do coração, subjacente à volição 
efetiva, quando o pecado entrou no mundo. Esta maneira de ver está em perfeita 
harmonia com as descrições bíblicas, em passagens como as seguintes: Pv 4.23; Jr 17.9; Mt 
15.19, 20; Lc 6.45; Hb 3.12. 
O Pecado Não Consiste Apenas de Atos Manifestos 
O pecado não consiste somente de atos patentes, mas também de hábitos 
pecaminosos e de uma condição pecaminosa da alma. Estes três âmbitos se 
interrelacionam do seguinte modo: O estado pecaminoso á a base dos hábitos 
pecaminosos, e estes se manifestam em ações pecaminosas. Também há verdade, porém, 
na alegação de que os atos pecaminosos repetidos levam ao estabelecimento de hábitos 
pecaminosos. As ações e as disposições pecaminosas do homem devem ser atribuídas a 
uma natureza corrupta, que as explica. As passagens citadas no parágrafo anterior 
consubstanciam esta opinião, pois provam com clareza que o estado ou a condição do 
homem é completamente pecaminosa. E se for necessário levantar a questão sobre se os 
pensamentos e os sentimentos do homem natural, chamado “carne” na Escritura, devam 
ser considerados como constituindo pecado, poder-se-ia responder indicando passagens 
como as seguintes: Mt 5.22, 28; Rm 7.7; Gl 5.17, 24, e outras. Em conclusão, pode-se dizer 
que se pode definir o pecado como falta de conformidade com a lei moral de Deus, em 
ato, disposição ou estado. 
3.3. O Conceito Pelagiano de Pecado 
O conceito pelagiano do pecado é completamente diverso do que foi apresentado 
acima. O único ponto de semelhança está em que o pelagiano também vê o pecado em 
relação à lei de Deus, e o considera uma transgressão da lei. Mas em todas as outras 
particularidades, sua concepção difere amplamente do conceito bíblico e agostiniano. 
Exposição do Conceito Pelagiano 
Pelágio tomou o seu ponto de partida na capacidade do homem. Sua proposição 
fundamental é: Deus ordenou ao homem que praticasse o bem; daí, este deve ter 
capacidade para fazê-lo. Significa que o homem tem livre arbítrio no sentido absoluto da 
expressão, de modo que lhe é possível decidir a favor ou contra o que é bom, e também 
 
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praticar tanto o bem como o mal. A decisão não depende de qualquer caráter moral que 
haja no homem, pois a vontade é inteiramente indeterminada. Se o homem vai fazer o 
bem ou o mal depende simplesmente da sua vontade livre e independente. Disto se segue, 
naturalmente, que não existe o que chamam de desenvolvimento moral do indivíduo. O 
bem e o mal estão localizados nas ações isoladas do homem. Desta posição fundamental 
decorre naturalmente o ensino de Pelágio a respeito do pecado. O pecado consiste 
somente nos atos isolados provenientes da vontade. A coisa chamada natureza 
pecaminosa não existe, como tampouco as chamadas disposições pecaminosas. O pecado 
é sempre uma escolha deliberada do mal, escolha feita por uma vontade perfeitamente 
livre e que igualmente pode escolher e seguir o bem. 
Nesse caso, ele não era nem bom nem mau, e, portanto, não tinha natureza moral; 
mas ele escolheu o curso do mal, e assim se tornou pecaminoso. Considerando que o 
pecado consiste unicamente em atos isolados decorrentes da vontade, a idéia da sua 
propagação pela procriação é absurda. Uma natureza pecaminosa, se existisse tal coisa, 
poderia passar de pai a filho, mas os atos pecaminosos não podem ser propagados dessa 
maneira. Isso é por natureza uma impossibilidade. Adão foi o primeiro pecador, mas em 
nenhum sentido o seu pecado passou aos seus descendentes. O que chamam de pecado 
original, não existe. As crianças nascem num estado de neutralidade, começando 
exatamente como Adão começou, com a exceção de que levam a desvantagem de terem 
maus exemplos ao seu redor. O seu curso futuro terá que ser determinado pela própria 
livre escolha. A universidade do pecado é admitida, porquanto toda experiência a testifica. 
Deve-se à limitação e ao hábito de pecar, que se forma gradativamente. Estritamente 
falando, segundo o ponto de vista pelagiano, não há pecadores, mas tão somente atos 
pecaminosos isolados. Isso impossibilita completamente uma concepção religiosa da 
história da raça. 
Objeções ao Conceito Pelagiano 
Há várias objeções fortes ao conceito pelagiano do pecado, das quais as mais 
importantes são as seguintes: 
A posição fundamental de que Deus só responsabiliza o homem por aquilo que este é 
capaz de fazer, é absolutamente contrária ao testemunho da consciência e à palavra de 
Deus. É um fato inegável que, conforme o homem cresce no pecado, decresce a sua 
capacidade para o bem. Ele se torna, em proporção cada vez maior, um escravo do 
pecado. Segundo a teria em foco, isso também envolveria uma diminuição da sua 
responsabilidade. Mas isso equivale a dizer que o próprio pecado redime gradativamente 
as suas vitimas, aliviando-as da sua responsabilidade. Quanto mais pecador, menos 
responsável o homem é. Contra essa posição a consciência registra um vigoroso protesto. 
Paulo não diz que os pecadores endurecidos que ele descreve em Rm 1. 18-32 estavam 
 
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virtualmente sem responsabilidade, mas, antes, considera-os dignos de morte. Disse Jesus 
que os ímpios judeus que se vangloriavam da sua liberdade, mas manifestaram a sua 
extrema iniqüidade procurando mata-lo, eram escravos do pecado, não compreendiam a 
Sua linguagem porque eram incapazes de ouvir a Sua palavra, e iam morrer em seus 
pecados, Jo 8.21, 22, 34, 43. Embora escravos do pecado, eram, não obstante, 
responsáveis. 
Negar que o homem tem por sua natureza uma estrutura moral é simplesmente 
rebaixa-lo ao nível dos animais. Segundo esse conceito, tudo da vida do homem que não 
seja uma consciente escolha da vontade, está privado de toda e qualquer qualidade moral. 
Mas a esses elementos também possuem um caráter moral. No pelagianismo, o pecado e 
a virtude são reduzidos a apêndices superficiais do homem, de maneira nenhuma 
vinculados à sua vida interior. As passagens que damos a seguir mostram que a opinião da 
Escritura é completamente diversa: Jr 17.9; Sl 51.6, 10; Mt 15.19; Tg 4.1,2. 
Uma escolha da vontade que não seja de modo nenhum determinada pelo caráter do 
homem, não somente é inimaginável, como também é eticamente destituída de valor. Se 
uma boa ação do homem simplesmente acontece porque sim, e não se pode dar nenhuma 
razão que explique por que não sucedeu o oposto, noutras palavras, se a açãonão é uma 
expressão do caráter do homem, falta-lhe por completo valor moral. É só como um 
expoente do caráter que uma ação tem o valor moral que se lhe atribui. 
A teoria pelagiana não pode explicar satisfatoriamente a universalidade do pecado. O 
mau exemplo dos pais e avós não oferece uma verdadeira explicação. A simples e abstrata 
possibilidade de um homem vir a pecar, mesmo quando fortalecida pelo mau exemplo, 
não explica como aconteceu que, de fato, todos os homens pecaram. Como se pode 
explicar que a vontade sempre e invariavelmente seguiu na direção do pecado, e nunca na 
direção oposta? É muito mais natural pensar numa disposição geral para pecar. 
3.4. O Conceito Católico romano do Pecado 
Conquanto os Cânones e Decretos do Concilio de Trento sejam um tanto ambíguos 
sobre a doutrina do pecado, o conceito católico romano do pecado predominante pode ser 
expresso como segue: O verdadeiro pecado sempre consiste num ato consciente da 
vontade. É certo que as disposições e os hábitos que não estão de acordo com a vontade 
de Deus são de caráter pecaminoso; contudo, não se lhes pode chamar pecados, no 
sentido estrito da palavra. A concupiscência que está presente no homem e por trás do 
pecado, ganhou domínio sobre o homem no paraíso e, assim, precipitou a perda do donun 
superadditum da justiça original, não pode ser considerada pecado, mas somente a lenha ( 
fomes) ou o combustível par o pecado. A pecaminosidade dos descendentes de Adão é 
primordialmente uma condição negativa, apenas, consistindo na ausência de algo que 
devia estar presente, isto é, da justiça original, que não é essencial à natureza humana. 
 
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Alguma coisa essencial estaria faltando somente se, como alguns sustentam, a justitia 
naturalis também fosse perdida. 
As objeções a esse conceito evidenciam-se perfeitamente no que foi dito com relação 
à teoria pelagiana. Um simples lembrete delas parece mais que suficiente. Até onde 
sustenta que o verdadeiro pecado consiste somente numa escolha deliberada da vontade 
e em atos manifestos, as objeções levantadas contra o pelagianismo lhe são pertinentes. A 
idéia de que a justiça original foi acrescentada sobrenaturalmente à constituição natural 
do homem, e de que a sua perda não macula a natureza humana, é antibíblica, como foi 
demonstrada em nossa discussão da imagem de Deus no homem. De acordo com a Bíblia, 
a concupiscência é pecado, verdadeiro pecado, e raiz de muitas ações pecaminosas. 
Expusemos isso quando consideramos o conceito bíblico do pecado. 
3.5. A Pecaminosidade de Todos 
Romanos 5.12 declara que “todos pecaram”. Romanos 5.18 diz que mediante um só 
pecado todos foram condenados, o que subentende que todos pecaram. Romanos 5.19 diz 
que mediante o pecado de um só homem todos foram feitos pecadores. Textos que falam 
da pecaminosidade universal não fazem exceções à infância. Crianças impecáveis seriam 
salvas sem Cristo, mas isto é (antibíblico Jo 14.6; At 4.12). Ser merecedor de castigo 
também indica o pecado. 
3.6. Ser Merecedor de Castigo 
Todas as pessoas, até mesmo as crianças pequenas, estão sujeitas ao castigo. “Filhos 
da ira” (Ef 2.3) é um semitismo que indica o castigo divino (cf. 2Pe 2.14). As imprecações 
bíblicas contra crianças (Sl 137.9) indicam esse fato. E Romanos 5.12 diz que a morte física 
(cf. 5.6-8,10,14,17) chega a todos porque todos têm pecado, aparentemente até as 
crianças. As crianças, antes da idade de responsabilidade ou consentimento moral (a idade 
cronológica provavelmente varia com o indivíduo), não são pessoalmente culpadas. As 
crianças não têm o conhecimento do bem e do mal (Dt 1.39; cf. Gn 2.17). Romanos 7-9-11 
declara que Paulo “vivia” até à chegada da lei mosaica (cf. 7.1), a qual fez “reviver o 
pecado”, que o enganou e matou espiritualmente. 
3.7. A Salvação das Crianças 
Embora as crianças sejam consideradas pecadoras e, portanto, passíveis do inferno, 
isso não significa que serão realmente mandadas para lá. Várias doutrinas indicam 
diferentes mecanismos para a salvação de algumas ou de todas: a eleição condicional 
dentro do calvinismo; o batismo das crianças dentro do sacramentalismo; a fé pré-
consciente; a presciência de Deus de como a criança teria vivido; a graciosidade específica 
de Deus para com as crianças; a aliança implícita com uma família crente (talvez incluindo 
a “lei do coração”, Rm 2.14,15), que toma o lugar da aliança com Adão; a graça 
 
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proveniente (do latim, “que vem antes da” salvação) que oferece a expiação a todos que 
não têm idade para a prestação de contas. De qualquer maneira, podemos estar certos de 
que o “Juiz de toda a terra” faz tudo com justiça (Gn 18.25). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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AULA 
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4 - A TRANSMISSÃO DO PECADO 
Tanto a Escritura como a experiência nos ensinam que o pecado é universal e, de 
acordo com a Bíblia, a explicação dessa universalidade está na queda de Adão. Estes dois 
pontos, a universalidade do pecado e a relação de Adão com a humanidade em geral, 
pedem consideração agora. Enquanto tem havido acordo geral quanto à universalidade do 
pecado, tem havido diferentes explicações da ligação entre o pecado de Adão e o dos seus 
descendentes. 
4.1. Resenha Histórica - Antes da Reforma 
Os escritos dos apologetas nada contêm de definido a respeito do pecado original, ao 
passo que os de Irineu e Tertuliano ensinam claramente que a nossa condição pecaminosa 
é resultado da queda de Adão. Mas a doutrina da direta imputação do pecado de Adão aos 
seus descendentes, até a eles é estranha. Tertuliano tinha uma concepção realista da 
humanidade. Segundo ele, toda a raça humana estava potencial e numericamente em 
Adão e, portanto, pecou quando ele pecou, e se tornou corrupta quando ele se tornou 
corrupto. A natureza humana completa pecou em Adão e, daí, toda individualização dessa 
natureza também é pecaminosa. 
Orígenes, que foi profundamente influenciado pela filosofia grega, tinha um conceito 
diferente sobre o assunto, e praticamente não reconhecia ligação alguma entre o pecado 
de Adão e o dos seus descendentes. Ele via e explicação da pecaminosidade da raça 
humana primariamente no pecado pessoal de cada alma num estado pré-temporal, 
embora mencione também certo mistério de geração. Agostinho partilhava a concepção 
realista de Tertuliano. 
Apesar de falar de “imputação”, ainda não tinha em mente a imputação direta ou 
imediata da culpa de Adão à sua posteridade. Sua doutrina do pecado original não é 
inteiramente clara. Talvez isto se deva ao fato de que ele hesitava na escolha entre o 
traducionismo e o criacionismo. Embora acentuasse o fato de que todos os homens 
estavam seminalmente presentes em Adão e pecaram de fato nele, também se 
aproximava muito da idéia de que eles pecaram em Adão como seu representante. 
Contudo, sua ênfase principal recaía na transmissão da corrupção do pecado. O pecado é 
transmitido por propagação, e esta propagação do pecado de Adão é, ao mesmo tempo, 
um castigo por seu pecado. 
Wiggers expe resumidamente a idia com estas palavras: “Acorrupção da natureza 
humana, na raça toda, foi o justo castigo da transgressão do primeiro homem, em quem 
todos os homens já existiam”. O grande oponente de Agostinho, Pelágio, negava essa 
conexão entre o pecado de Adão e o da sua posteridade. Como ele a via, a propagação do 
 
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pecado pela geração natural envolvia a teoria traducionista sobre a origem da alma que ele 
considerava um erro herético; e a imputação do pecado de Adão a quem quer que fosse, a 
não ser a ele próprio, estaria em conflito com a retidão divina. 
O Conceito pelagiano foi rejeitado pela igreja, e o pensamento dos escolásticos em 
geral seguia as linhas indicadas por Agostinho, sempre recaindo a ênfase na transmissão da 
corrupção de Adão, e não na transmissão da sua culpa. Hugo de São Vítor e Pedro 
Lombardo sustentavam que a concupiscência real macula o sêmen no ato de procriação, e 
que essa mancha de algum modo contamina a alma em sua união com o corpo. Anselmo, 
Alexandre de Hales e Bonaventura salientavam a concepção realista da ligação entre Adão 
e sua posteridade. Toda a raça humana estava seminalmente presente em Adão, e, 
portanto, também pecou nele. Sua desobediência dói desobediência da raça humana 
inteira. Ao mesmo tempo, a geração era considerada a condição sine qua non da 
transmissão da natureza pecaminosa. Em Bonaventura e outros depois dele, a distinção 
entre a culpa original e a corrupção original foi expressa mais claramente. A idéia 
fundamental era que a culpa do pecado de Adão é imputada a todos os seus 
descendentes. Adão sofreu a perda da justiça original e com isso incorreu no desprazer 
divino. 
Como o resultado, todos os seus descendentes estão privados da justiça original e, 
nessas condições, são objetos da ira divina. Além disso, de algum modo a corrupção do 
pecado de Adão passou à sua posteridade, mas a maneira como se deu essa transmissão 
era matéria de discussão entre os escolásticos. Visto que não eram traducionistas e, 
portanto, não podiam dizer que a alma, que, afinal de contas, é a verdadeira sede do mal 
no homem, passa de pai a filho pelo processo de sua vez, contamina a alma assim que 
entra em contato com ela. Outros, sentindo o perigo dessa explicação, procuravam-na no 
simples fato de que todo homem nasce agora no estado em que Adão estava antes de ser 
dotado da justiça original, e, assim, está sujeito à luta entre a carne, livre e desenfreada, e 
o espírito. Em Tomaz de Aquino, a ênfase realista reaparece, e vigorosamente, embora 
numa forma modificada. Ele assinalou que a raça humana constitui um organismo e que, 
como o ato de um membro do corpo – digamos , a mão – é considerado como ato da 
pessoa, assim o pecado de um membro do organismo da humanidade é imputado ao 
organismo todo. 
4.2. Após a Reforma 
Embora os reformadores não concordassem com os escolásticos quanto à natureza 
do pecado original, a opinião que tinham da sua transmissão não continha quaisquer 
elementos novos. As idéias de Adão como representante da raça humana, e da imputaão 
“imediata” da sua culpa aos seus descendentes, não foram expressas com clareza em suas 
obras. De acordo com Lutero, somos tidos como culpados por Deus por Deus por causa do 
 
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pecado herdado de Adão e que reside em nós. Calvino fala num tom um tanto semelhante. 
Ele sustenta que, desde que Adão foi, não somente o progenitor da raça humana, mas 
também a sua raiz, todos os seus descendentes nascem com natureza corrupta; e que 
tanto a culpa do pecado de Adão como a própria corrupção inata são-lhes imputadas como 
pecado. O desenvolvimento da teologia federal trouxe à primeira plana a idéia de Adão 
como o representante da raça humana, e possibilitou uma distinção mais clara entre a 
transmissão da culpa e a da corrupção nata constitui também culpa aos olhos de Deus, a 
teologia federal deu ênfase ao fato de que há uma imputação “imediata” da culpa de Adão 
aos que ele representou como o chefe da aliança. 
Os socinianos e os arminianos rejeitaram a idéia da imputação do pecado de Adão 
aos seus descendentes. Placeus, da escola de Saumur, defendeu a idia da imputação 
“mediata”. Negando toda imputação imediata, ele sustentava que, porque herdamos de 
Adão uma natureza pecaminosa, merecemos ser tratados como se tivéssemos cometido a 
ofensa original. Este ensino foi uma novidade na teologia reformada (calvinista), e Rivet 
não teve dificuldade para provar isso, coletando longa lista de testemunhos. Seguiu-se um 
debate no qual a imputação “imediata” e a “mediata” foram apresentadas como doutrinas 
mutuamente exclusivas; e no qual se fez parecer que a questão real era se o homem é 
culpado à vista de Deus unicamente por causa do pecado de Adão, imputando àqueles, ou 
unicamente por causa do seu próprio pecado inerente. A primeira destas não é a doutrina 
das igrejas reformadas (calvinistas), e a segunda não foi ensinada nelas antes da época de 
Placeus. 
Os ensinamentos deste se introduziram na teologia da Nova Inglaterra, e se tornaram 
a principal característica da Nova Escola (New Haven). Na teologia modernista, a doutrina 
da transmissão do pecado de Adão a sua posteridade é inteiramente desacreditada. Ela 
prefere buscar a explicação do mal existente no mundo numa herança animal, que não é 
pecaminosa. Por estranho que pareça. Até Barth e Brunner, se oporem violentamente ao 
modernismo teológico, não consideram a pecaminosidade universal da raça humana como 
resultado do pecado de Adão. Historicamente, este ocupa um lugar único apesar de 
meramente como o primeiro pecador. 
4.3. A Universalidade do Pecado 
Poucos se inclinarão a negar a presença do mal no coração humano, mas há muitas 
divergências quanto à natureza desse mal e quanto ao modo como se originou. Mesmo os 
pelagianos e os socinianos estão prontos a admitir que o pecado é universal. Este é um 
fato que se impõe à atenção de toda gente. 
A História das Religiões e Filosofia Atestam a Universalidade do Pecado 
 
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A história das religiões dá testemunho da universalidade do pecado. A pergunta de 
Jó, “Como seria justo o homem perante Deus?” (ver Jó 25.4) não foi feita somente nos 
domínios da revelação especial, mas também fora deles, no mundo gentílico. 
As religiões pagãs atestam uma consciência universal do pecado, e a necessidade de 
reconciliação com o Ser Supremo. Há um sentimento generalizado de que os deuses estão 
ofendidos e devem ser aplacados de algum modo. Há uma voz universal da consciência 
dando testemunho do fato de que o homem carece do ideal e está condenado à vista de 
algum Poder mais alto. Altares cheirando ao sangue dos sacrifícios, muitas vezes dos 
sacrifícios de filhos queridos, repetidas confissões de más ações, e orações para livramento 
do mal – tudo aponta para a consciência de pecado. Os missionários vêem isso por onde 
vão. A história da filosofia indica o mesmo fato. 
Os mais antigos filósofos gregos já tiveram que lutar com o problema do mal moral, e 
desde a época deles, nenhum filósofo de renome pôde ignora-lo. Todos foram 
constrangidos a admitir a sua universalidade, e isso a despeito do fato de que não foram 
capazes de explicar o fenômeno. Houve, é verdade, um otimismo superficial no século 
dezoito, que sonhava com a inerente bondade do homem, mas, em sua insensatez, fugia 
dos fatos e recebeu cortante censura de Kant. Muitos teólogos modernistas formainduzidos a crer e a pregar essa bondade humana inerente como na verdade evangélica, 
mas hoje em dia muitos deles o qualificam como um dos mais perniciosos erros do 
passado. Uma coisa é certa: os fatos da vida não autorizam esse otimismo. 
A Bíblia Ensina Claramente Sobre a Universalidade do Pecado 
Há inequívocas declarações a Escritura que indicam a pecaminosidade universal do 
homem, como nas seguintes passagens: 1 Rs 8.46; Sl 143.2; Pv 20.9; Ec 7.20; Rm 3.1-12, 
19, 20, 23; Gl 3.22; Tg 3.2; 1 Jo 1.8, 10. Várias passagens da Escritura ensinam que o 
pecado é herança do homem desde a hora do seu nascimento e, portanto, está presente 
na natureza humana tão cedo que não há possibilidade de ser considerado como resultado 
de imitação, Sl 51.5; Jó 14.4; Jo 3.6. Em Ef 2.3 diz o apóstolo Paulo que os efésios eram 
“por natureza” filhos da ira, como tamb m os demais”. Nesta passagem a expressão “por 
natureza” indica uma coisa inata e original, em distinção daquilo que adquirido. 
Então, o pecado é uma coisa original, da qual participam todos os homens e que os 
faz culpados diante de Deus. Além disso, de acordo com a Escritura, a morte sobrevém 
mesmo aos que nunca exerceram uma escolha pessoal e consciente, Rm 5.12-14. esta 
passagem implica que o pecado existe no caso de crianças, antes de possuírem 
discernimento moral. Desde que sucede que as crianças morrem e, portanto, o efeito do 
pecado está presente na situação delas, é simplesmente natural supor que a causa 
também está presente. 
 
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Finalmente, a Escritura ensina também que todos os homens se acham sob 
condenação e, portanto, necessitam da redenção que há em Cristo Jesus. Nunca se declara 
que as crianças constituem exceção a essa regra; Cf. As passagens recém -citadas e 
também Jo 3.3, 5; 1 Jo 5. 12. Não contradizem isto as pass agens que atribuem certa justiça 
ao homem, como Mt 9.12, 13; At 10.35; Rm 2.14; Fp 3.6; 1 Co 1.30, pois esta pode ser a 
justiça civil, cerimonial ou pactual, a justiça da lei ou a justiça que há em Cristo Jesus. 
4.4. A Relação do Pecado de Adão com o da Raça 
Alguns negam a relação causal do pecado de Adão com a pecaminosidade da raça, 
total ou parcialmente. 
Os pelagianos e os socinianos negam absolutamente que haja alguma ligação 
necessária entre o nosso pecado e o de Adão. O primeiro pecado foi de Adão somente, e 
nada tem a ver com a sua posteridade, de forma alguma. O máximo que eles admitiram é 
que o mal exemplo de Adão induziu à imitação. 
Os semipelagianos e os mais antigos arminianos ensinam que o homem herdou a 
incapacidade natural de Adão, mas não é responsável por essa incapacidade, de modo que 
não se liga a isso nenhuma culpa, e até se pode dizer que, nalguma medida, Deus está na 
obrigação de prover cura para isso. Os arminianos wesleyanos admitem que essa 
corrupção inata também envolve culpa. 
A teoria da Nova Escola (New Haven) ensina que o homem nasce com uma tendência 
inerente para pecar, em virtude da qual a sua preferência moral é invariavelmente errada; 
mas que essa tendência não pode propriamente ser chamada pecado, dado que, sempre e 
exclusivamente, o pecado consiste em consciente e intencional transgressão da lei. 
A teologia da crise acentua a solidariedade do pecado na raça humana, mas nega que 
o pecado se tenha originado num ato de Adão no paraíso. A Queda pertence à pré ou 
super-história, e já era uma coisa do passado quando o Adão histórico entrou em cena. É o 
segredo da predestinação de Deus. A narrativa da Queda é um mito. Adão aparece como o 
tipo de Cristo, tendo-se em conta quanto se possa ver nele que a vida sem pecado é 
possível em comunhão com Deus. Diz Brunner: “Em Adão todos pecaram – é a afirmação 
bíblica; mas como? A Bíblia não nos diz isso. A doutrina do pecado original implantada 
nela”. 
4.5. Teorias Que Explicam a Relação Entre Adão e a Raça 
Teoria Realista 
O mais antigo método usado para explicar a relação existente entre o pecado de 
Adão e a culpa e corrupção de todos os seus descendentes foi a teoria realista. Essa teoria 
pretende que a natureza constitui uma única unidade, não apenas genérica, mas também 
 
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numericamente. Adão possuía a natureza humana completa, e nele ela se corrompeu, por 
ato de apostasia dela em Adão. 
Individualmente, os homens não são substâncias isoladas, mas, sim, manifestações 
da mesma substância geral; são numericamente um só. Essa natureza humana universal 
tornou-se corrupta e culpada em Adão, e, conseqüentemente, cada individualização dela 
nos descendentes de Adão também é corrupta e culpada desde o inicio da sua existência. 
Quer dizer que todos os homens pecaram de fato em Adão, antes de ter começo a 
individualização da natureza humana. Essa teoria foi aceita por alguns dos “pais da igreja” 
primitivos e por alguns dos escolásticos, e foi defendida mais recentemente pelo dr. 
Shedd. Contudo, está sujeita a diversas objeções: 
 Descrevendo as almas dos homens como individualizações da substância 
espiritual geral que estava presente em Adão, parece implicar que a substância 
da alma é de natureza material, e assim nos larga inevitavelmente nalgum tipo 
de materialismo. 
 É contrária ao testemunho da consciência e não protege suficientemente os 
interesses da personalidade humana. Todo homem tem consciência de que é 
uma personalidade à parte, e, portanto, é muito mais que uma simples onda que 
passa no oceano geral da existência. 
 Ela não explica por que os descendentes de Adão são responsabilizados somente 
pelo primeiro pecado dele, e não por seus pecados posteriores, nem pelos 
pecados de todas as gerações de antepassados subseqüentes a Adão. 
 Tampouco essa teoria responde a importante indagação, por que Cristo não foi 
responsabilizado pela prática fatual do pecado em Adão, pois certamente Ele 
compartilhou a mesma natureza que pecou de fato em Adão. 
A Doutrina da Aliança das Obras 
Esta implica que Adão tinha dupla relação com os seus descendentes, a saber, a de 
chefe natural da humanidade, e a de chefe representativo de toda a raça humana na 
aliança das obras. 
A. A Relação Natural. Em sua relação natural, Adão foi o pai de toda a humanidade. 
Quando foi criado por Deus, estava sujeito a mudança, e não tinha direito legítimo a um 
estado imutável. Estava obrigado a obedecer a Deus, e esta obediência não lhe dava 
direito a nenhuma recompensa. Por outro lado, se pecasse, ficaria sujeito à corrupção e ao 
castigo, mas o pecado seria só dele, e não poderia ser lançado na conta dos seus 
descendentes. Dabney sustenta que, de acordo com a lei de que os iguais se reproduzem 
(o igual gera o seu igual), a corrupção de Adão passaria aos seus descendentes. Mas, seja 
como for – e é útil especular sobre isso – eles não poderiam se responsabilizados por essa 
 
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corrupção. Não poderiam ser considerados culpados em Adão meramente em virtude da 
relação natural que havia entre ele e a raça. A apresentação reformada (calvinista) habitual 
é diferente. 
B. A Relação Pactual. À relação natural de Adão com os seus descendentes, Deus, por 
Sua graça, acrescentou uma relação pactual composta de vários elementos positivos: 
 Um elemento de representação. Deus ordenou que nessa aliança Adão não 
estaria só por si próprio, mas como o representante de todos os seus 
descendentes. Conseqüentemente, ele foi o chefe da raça, não somente numsentido paterno, mas também num sentido federal. 
 Um elemento de prova. Enquanto que, sem essa aliança, Adão e os seus 
descendentes estariam num continuado estado de prova, em constante risco de 
pecar, a aliança garantiu que a perseverança persiste por um período fixo de 
tempo, seria recompensada com o estabelecimento do homem num 
permanente estado de santidade e bem-aventurança. 
 Um elemento de recompensa ou punição. Segundo os termos da aliança, obteria 
legítimos direitos à vida eterna, se cumprisse as condições da aliança. E não 
somente ele, mas também todos os seus descendentes participarem dessa 
bênção. Portanto, em sua operação normal, as disposições pactuais seriam de 
incalculável benefício para a humanidade. Mas havia a possibilidade de que o 
homem desobedecesse, e, nesse caso, os resultados seriam 
correspondentemente desastrosos. A transgressão do mandamento incluso na 
aliança redundaria em morte. Adão escolheu o curso da desobediência, 
corrompeu-se pelo pecado, tornou-se culpado aos olhos de Deus e, como tal, 
sujeito à sentença de morte. E porque ele era o representante federal da raça, 
sua desobediência afetou os seus descendentes todos. Em Seu reto juízo, Deus 
imputa a culpa do primeiro pecado, cometido pelo chefe da aliança, a todos 
quantos se relacionam federalmente com ele. E, como resultado, nascem 
também numa condição depravada e pecaminosa, e essa corrupção inerente 
envolve culpa também. Esta doutrina explica por que somente o primeiro 
pecado de Adão, e não os seus pecados subseqüentes nem os dos outros 
antepassados nossos, é-nos imputado, e também salvaguarda a impecabilidade 
de Jesus, pois Ele não era uma pessoa humana e, portanto, não fazia parte da 
aliança das obras. 
4.6. Teoria da Imputação Imediata 
Essa teoria nega que a culpa do pecado de Adão seja diretamente imputada aos seus 
descendentes, e apresenta a matéria como segue: Os descendentes de Adão herdam dele 
 
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a sua corrupção inata por um processo de geração natural, e somente com base na 
depravação inerente que eles compartem com ele, são considerados culpados da apostasia 
dele. Não nascem corruptos porque são culpados em Adão, mas são considerados 
culpados porque são corruptos. Sua condição não se baseia em sua posição legal, mas a 
sua posição legal se baseia em sua condição. 
Essa teoria, defendida primeiramente por Placeus, foi adotada por Vitringa e 
Venema, ambos juniores, por vários teólogos da Nova Inglaterra e pro alguns teólogos da 
Escola Nova, da Igreja Presbiteriana. Essa teoria é objetável por diversas razões: 
 Uma coisa não pode ser mediada por suas próprias conseqüências. A depravação 
inerente com a qual nascem os descendentes de Adão já é resultado do pecado 
de Adão e, portanto, não pode ser considerada como a base sobre a qual sã o 
culpados do pecado de Adão. 
 Ela não oferece base objetiva nenhuma para a transmissão da culpa e 
depravação de Adão e todos os seus descendentes. Mas é preciso que haja uma 
base legal objetiva para isso. 
 Se essa teoria fosse coerente, teria que ensinar a imputação mediata dos 
pecados de todas as gerações precedentes às subseqüentes, pois a sua 
corrupção conjunta é transmitida por geração. 
 Ela parte, ainda, do pressuposto de que é possível haver corrupção moral que 
não é culpa ao mesmo tempo, corrupção que não torna a pessoa passível de 
punição. 
 E, finalmente, se a corrupção inerente, que está presente nos descendentes de 
Adão, pode ser considerada como a base legal para a explicação de alguma outra 
coisa, já não há necessidade de nenhuma imputação mediata. 
4.7. O Pecado Original na Vida da Raça Humana 
O estado e condição de pecado em que os homens nascem é designado na teologia 
pelo nome de peccatun originale, literalmente traduzido por “pecado original”. Esta 
expressão melhor que o nome holandês “erfzonde”, visto que este último, estritamente 
falando, não cobre tudo quanto pertence ao pecado original. 
Não é um apropriado designativo da culpa original, pois esta não é herdada, mas, 
sim, é-nos imputada. Chama-se “pecado original” 
 Porque derivado da raiz original da raça humana; 
 Porque está presente na vida de todo e qualquer indivíduo, desde a hora do seu 
nascimento e, portanto, não pode ser considerado como resultado de imitação; 
 
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 Porque é a raiz interna de todos os pecados concretizados que corrompem a 
vida do homem. 
Devemos estar vigilantes contra o erro de pensar que a expressão implica, de alguma 
forma, que o pecado por ela designado pertence à constituição original da natureza 
humana, o que implicaria que Deus criou o homem já na condição de pecador. 
Os escritos dos primeiros “pais da igreja” não contam nada que seja muito definido a 
respeito do pecado original. Segundo os “pais” gregos, há uma corrupção física da raça 
humana, corrupção derivada de Adão, mas esta não constitui pecado e não envolve culpa. 
A liberdade da vontade não foi afetada diretamente pela Queda, mas só indiretamente, 
pela corrupção física herdada. A tendência patente na igreja grega culminou finalmente no 
pelagianismo, que negava absolutamente o pecado original. 
Na igreja latina apareceu uma tendência diversa, especialmente em Tertuliano, de 
acordo com o qual a propagação da alma envolve a propagação do pecado. Ele 
considerava o pecado original como uma mancha ou corrupção hereditária e pecaminosa, 
que não excluía a presença de algum bem no homem. Ambrósio foi além de Tertuliano, 
considerando o pecado original como um estado e distinguindo entre a corrupção inata e a 
resultante culpa do homem. O livre arbítrio do homem foi enfraquecido pela Queda. Foi 
especialmente em Agostinho que a doutrina do pecado original alcançou desenvolvimento 
mais completo. Segundo ele, a natureza do homem, tanto física como moral, é totalmente 
corrompida pelo pecado de Adão, de modo que ele não pode deixar de pecar. Essa 
corrupção ou esse pecado original herdado é um castigo moral pelo pecado de Adão. 
A qualidade da natureza do homem é tal que, em seu estado natural, ele só pode e só 
quer praticar o mal. Em virtude desse pecado, o homem já está debaixo de condenação. 
Não é apenas corrupção, mas também culpa. O semipelagiano reagiu contra o absolutismo 
do conceito agostiniano. Admita que a raça humana toda está envolvida na queda de 
Adão, que a natureza humana está contaminada pelo pecado hereditário, e que todos os 
homens são, por natureza, propensos ao mal e incapazes, sem a graça de Deus, de 
consumar qualquer boa obra; mas negava a depravação total do homem, a culpa do 
pecado original e a perda da liberdade da vontade. Este veio a ser o conceito 
predominante durante a Idade Média, embora houvesse alguns escolásticos proeminentes 
que, de modo geral, eram agostinianos em sua conceituação do pecado original. 
O conceito que Anselmo tinha do pecado original estava em completa harmonia com 
o de Agostinho. Segundo esse conceito, o pecado original consiste da culpa da natureza (a 
natureza da raça humana inteira), contraída por um único ato de Adão, e da resultante e 
inerente corrupção da natureza humana, transmitida à posteridade e se manifestando 
numa tendência para pecar. Esse pecado envolve também a perda do poder de 
 
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autodeterminação rumo à santidade (liberdade material da vontade), e faz do homem um 
escravo do pecado. 
A opinião predominanteentre os escolásticos era que o pecado original não é uma 
coisa positiva, mas , antes, a ausência de algo que devia estar presente, em particular a 
privação da justiça original, conquanto alguns acrescentassem um elemento positivo, a 
saber, uma inclinação para o mal. Tomaz de Aquino sustentava que o pecado original, 
considerando em seu elemento material, é concupiscência, mas considerado em seu 
elemento formal, é a privação da justiça original. Há uma dissolução da harmonia na qual a 
justiça original consistia, e, neste sentido, o pecado original pode ser descrito como um 
amolecimento da natureza. 
Falando em termos gerais, os reformadores estavam de acordo com Agostinho, 
embora Calvino diferisse dele, especialmente em dois pontos, acentuando o fato de que o 
pecado não é uma coisa puramente negativa, e que não se limita à natureza sensorial e 
emocional do homem. Na época da Reforma, os socinianos seguiam os pelagianos, em sua 
negação do pecado original, e no século dezessete os arminianos romperam com a fé 
reformada e aceitaram o conceito semipelagiano do pecado original. Desde aquele tempo, 
várias nuanças de opinião forma defendidas nas igrejas protestantes, tanto da Europa 
como da América. 
Devemos distinguir dois elementos no pecado original, a saber: 
4.8. Culpa Original 
A palavra “culpa” expressa a relaão que h entre o pecado e a justiça, ou, como o 
colocam os teólogos mais antigos, e a penalidade da lei. Quem é culpado está numa 
relação penal com a lei. Podemos falar da culpa em dois sentidos, a saber, como reatus 
culpae (réu convicto) e como reatus poenae (réu passível de condenação). A primeira, que 
Turretino chama de “culpa potencial”, o demrito moral de um ato ou estado. Essa culpa da 
essência do pecado e é uma parte inseparável da sua pecaminosidade. Prende-se somente 
aos que praticam pessoalmente ações pecaminosas, e prende-se a eles permanentemente. 
Não pode ser removida pelo perdão, não é removida pela justificação baseada nos méritos 
de Jesus Cristo, e muito menos pelo perdão puro e simples. Os pecados do homem são 
inerentemente merecedores de males, mesmo depois que ele foi justificado. Neste 
sentido, a culpa não pode ser transferida de uma pessoa para outra. O sentido habitual, 
porem, em que falamos de culpa na teologia, é o de reatus poenae. Com isto se quer dizer 
merecimento de punição, ou obrigação de prestar satisfação à justiça de Deus pela 
violação da lei, feita por determinação pessoal. Neste sentido, a culpa não faz parte da 
essência do pecado, mas é, antes, uma relação com a sanção penal da lei. 
 
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Se não houvesse nenhuma sanção ligada à inobservância das relações morais, todo 
abandono da lei seria pecado, mas não envolveria sujeição. Neste sentido, a culpa pode ser 
removida pela satisfação da justiça, pessoal ou vicariamente. Pode ser transferida de uma 
pessoa para outra, ou pode ser assumida por uma pessoa em lugar de outra. É retirada dos 
crentes pela justificação, de modo que os seus pecados, embora merecedores de 
condenação, não os tornam sujeitos ao castigo. Os semipelagianos e os mais antigos 
arminianos, ou “remonstrantes”, negavam que o pecado original envolve culpa. A culpa do 
pecado de Adão, cometido por ele na qualidade de chefe federal da raça humana, é 
imputada a todos os seus descendentes. Isso é evidenciado pelo fato de que, com a Bíblia 
ensina, a morte, como castigo do pecado, passou de Adão a todos os seus descendentes: 
Rm 5.12-19; Ef 2.3; 1 Co 15.22. 
4.9. Corrupção Original 
A corrupção original inclui duas coisas, a saber, a ausência da justiça original e a 
presença do mal positivo. Deve-se notar: 
1. Que a corrupção original não é apenas uma moléstia, como a descrevem alguns 
dos “pais” gregos e os arminianos, mas, sim, pecado, no sentido real da palavra. A 
culpa está ligada ao pecado; quem nega isto não tem uma concepção bíblica da 
corrupção original. 
2. Que não se deve considerar essa corrupção como uma substancia infundida na 
alma humana, nem como uma mudança da substancia no sentido metafísico da 
palavra. Este foi o erro dos maniqueus, e de Flacius Illyricus nos dias da Reforma. 
Se a substancia da alma fosse pecaminosa, seria substituída por uma nova 
substancia na regeneração; mas não é o que acontece. 
3. Que não é mera privação. Em sua polemica com os maniqueus, Agostinho não 
somente negava que o pecado era uma substancia, mas também afirmava que era 
apenas uma privação. Chamava-lhe privatio boni (privação do bem). Mas o 
pecado original não é somente negativo; é também uma disposição positiva para 
o pecado. A corrupção original pode ser examinada em mais de uma perspectiva, 
a saber, como depravação total e como incapacidade total. 
4.10. Depravação Total 
Em vista do seu caráter impregnante, a corrupção herdada toma o nome de 
depravação total. Muitas vezes esta frase é mal compreendida, e, portanto, requer 
cuidadosa discriminação. Negativamente, não implica: 
1. Que todo homem é tão completamente depravado como poderia chegar a ser; 
 
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2. Que o pecado não tem nenhum conhecimento inato de Deus, nem tampouco tem 
uma consciência que discerne entre o bem e o mal; 
3. Que o homem pecador raramente admira o caráter e os atos virtuosos dos outros, 
ou que é incapaz de afetos e atos desinteressados em suas relações com os seus 
semelhantes; nem 
4. Que todos os homens não regenerados, em virtude da sua pecaminosidade 
inerente, se entregarão a todas as formas de pecado: muitas vezes acontece que 
uma forma de pecado exclui outra. 
Positivamente, a expressão “depravação total” indica: 
1. Que a corrupção inerente abrange todas as partes da natureza do homem, todas 
as faculdades e poderes da alma e do corpo; e 
2. Que absolutamente não há no pecador bem espiritual algum, isto é, bem com 
relação a Deus, mas somente perversão. 
Esta depravação total é negada pelos pelagianos, pelo socinianos e pelos arminianos 
do século dezessete, mas é ensinada claramente na Escritura, Jô 5.42; Rm 7.18, 23; 8.7; Ef 
4.18; 2 Tm 3.2-4; Tg 1.15; Hb 3.12. 
4.11. Incapacidade total 
Com respeito ao seu efeito sobre os pecadores espirituais do homem, a corrupção 
original herdada toma o nome de incapacidade total. Aqui, de novo, é necessário fazer 
adequada distinção. Na atribuição de incapacidade total à natureza do homem, não 
queremos dizer que lhe é impossível fazer o bem em todo e qualquer sentido da palavra. 
Os teólogos reformados (calvinistas) geralmente dizem que ele ainda é capaz de realizar: 
1. O bem natural; 
2. O bem civil ou a justiça civil; e 
3. Exatamente, o bem religioso. 
Admite-se que o mesmo o não regenerado possui alguma virtude, a qual se revela 
nas relações da vida social, em muitos atos e sentimentos que merecem a sincera 
aprovação e gratidão dos seus semelhantes, e que ate encontram a aprovação de Deus, 
até certo ponto. 
Ao mesmo tempo, afirma-se que esses mesmo atos e sentimentos, quando 
considerados em relação a Deus, são radicalmente defeituosos. Seu defeito fatal é que não 
são motivados pelo amor a Deus, nem pela consideração de que a vontade de Deus os 
exige. Quando falamos da corrupção do homem em termos de incapacidade total, 
queremos dizer duas coisas: 
 
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1. Que o pecador não regenerado não pode praticar nenhum ato, por insignificante 
que seja, que fundamentalmente obtenha a aprovação de Deus ecorresponda às 
exigências da santa lei de Deus; e 
2. Que ele não pode mudar a sua preferência fundamental pelo pecado e por isso 
mesmo, trocando-a pelo amor a Deus; não pode sequer fazer algo que se 
aproxime de tal mudança. Numa palavra, ele é incapaz de fazer qualquer bem 
espiritual. Há abundante suporte bíblico para esta doutrina: Jô 1.13; 3.5; 6.44; 
8.34; 15.4, 5; Rm 7.18, 24; 8.7, 8; 1 Co 2.14; 2 Co 3.5; Ef 2.1, 8-10; Hb 11.6. 
Todavia, os pelagianos acreditam na plena capacidade do homem, negando que as 
suas faculdades morais foram prejudicadas pelo pecado. Os arminianos falam de uma 
capacidade advinda da graça, porque acreditam que Deus infunde a Sua graça comum a 
todos os homens, capacitando-os à conversão a Deus e à fé. Os teólogos da Nova Escola 
atribuem ao homem uma capacidade natural, distinta de uma capacidade moral, distinção 
copiada da grande obra de Edward, Sobre a Vontade (On the Will). O sentido do seu ensino 
é que o homem, em seu estado decaído, continua de posse de todas as faculdades naturais 
que se requerem para a realização de algum bem espiritual (intelecto, vontade etc.), mas 
lhe falta capacidade moral, isto é, a capacidade de dar apropriada direção àquelas 
faculdades, direção agradável a Deus. A distinção em foco é apresentada com o fim de 
salientar o fato de que o homem é voluntariamente pecaminoso, e bem que se pode dar 
ênfase a isto. Mas os teólogos da Nova Escola afirmam que o homem seria capaz de 
praticar o bem espiritual se tão somente quisesse faze-lo. Significa que a “capacidade 
natural” da qual eles falam, afinal de contas, capacidade para praticar verdadeiro bem 
espiritual. 
Pode-se dizer em geral que a distinção feita entre a capacidade natural e a 
capacidade moral não é desejável, pois: 
1. Não tem base na Escritura, a qual ensina que o homem não é capaz de fazer o que 
dele se requer; 
2. Essa distinção é essencialmente ambígua e enganosa: a posse das faculdades 
requeridas para a realização do bem espiritual não constitui ainda uma 
capacidade para realiza-lo; 
3. “Natural” não é uma antítese apropriada de “moral”, pois uma coisa pode ser 
natural e moral ao mesmo tempo; e a incapacidade do homem também é natural 
num sentido importante, a saber, no sentido de ser própria da sua natureza no 
presente estado desta como propagada naturalmente; e 
4. A linguagem não expressa com precisão a importante distinção pretendida; o que 
se quer dizer é que é moral, e não física nem constitucional; tem sua base, não na 
 
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falta de alguma faculdade, mas no estado moral corrupto das faculdades e da 
disposição do coração. 
4.12. O Pecado Original e a Liberdade Humana 
No contexto da doutrina da incapacidade total do homem, naturalmente surge a 
questão se, então, o pecado também envolve a perda da liberdade, ou daquilo a que 
geralmente chama liberum arbitrium – livre arbítrio, vontade livre. Esta questão deve ser 
respondida com discriminação pois, colocada desta maneira geral, pode ser respondida 
negativa e positivamente. Em certo sentido, o homem perdeu a sua liberdade; noutro 
sentido, não a perdeu. 
Há uma certa liberdade que é possessão inalienável de um agente livre, a saber, a 
liberdade de escolher o que lhe agrada, em pleno acordo com as disposições e tendências 
predominantes da sua alma. O homem não perdeu nenhum das faculdades constitucionais 
necessárias para constituí-lo um agente moral responsável. Ele ainda possui razão, 
consciência e a liberdade de escolha. Ele tem capacidade para adquirir conhecimento e 
para sentir e reconhecer distinções e obrigações morais; e os seus afetos, tendências e 
ações são espontâneos, de sorte que ele escolhe e recusa conforme ache que o objeto de 
exame lhe sirva ou não. Além disso, ele tem a capacidade de apreciar e de fazer muitas 
coisas que são boas e amáveis, benévolas e justas, nas relações que ele mantém com os 
seus semelhantes. Mas o homem perdeu a sua liberdade material, isto é, o poder racional 
de determinar o procedimento, rumo ao bem supremo, que esteja em harmonia com a 
constituição moral original da sua natureza. 
O homem tem, por sua natureza, uma irresistível inclinação para o mal. Ele não é 
capaz de compreender e de amar a excelência espiritual, de procurar e realizar coisas 
espirituais, as coisas de Deus, que pertencem à salvação.Esta posição, que é agostiniana e 
calvinista, é peremptoriamente contraditada pelo pelagianismo e pelo socianismo e, em 
parte, também pelo semipelagianismo e pelo arminianismo. O liberalismo modernista, que 
é essencialmente pelagiano, julga a doutrina de que o homem perdeu a capacidade de 
determinar sua vida em direção à real justiça e santidade, altamente ofensiva, e se 
vangloria da capacidade do homem, de escolher e fazer o que é reto e bom. Por outro 
lado, a teologia dialética (o bartianismo) reafirma vigorosamente a completa incapacidade 
do homem, de fazer sequer o mais leve movimento em direção a Deus. O pecador é 
escravo do pecado e não tem a menor possibilidade de tomar a direção oposta. 
4.13. A Teologia da Crise e o Pecado Original 
Talvez seja bom, nesta altura, definir abreviadamente a posição da teologia da Crise, 
ou do bartianismo, com relação à doutrina do pecado original. Walter Lowrie diz 
corretamente: “Barth tem muito que dizer sobre a Queda – mas nada sabe do ‘pecado 
 
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original’. Que o homem um ser decaído, podemos ver com clareza; mas a Queda não é um 
evento para o qual podemos apontar, na história; pertence decididamente à pré-história, à 
Urgeschichte, num sentido metafísico”. Brunner tem algo que dizer sobre isso em sua obra 
sobre O Homem em Revolta (Man in Revolt). Ele não aceita a doutrina do pecado original 
no sentido tradicional e eclesiástico da expressão. O primeiro pecado de Adão não podia 
ser lançado na conta de todos os seus descendentes, e não foi; tampouco rendou esse 
pecado num estado pecaminoso, que passou à sua posteridade e que atualmente é a 
frutífera raiz de todo pecado real e concreto. “Jamais o pecado um estado, mas sempre um 
ato. Mesmo ser um pecador não um estado, mas, sim, um ato, porque ser uma pessoa”. 
Na opinião de Brunner, o conceito tradicional contém um indesejável elemento de 
determinismo, e não salvaguarda a responsabilidade do homem. Mas a sua rejeição 
salienta acertadamente a solidariedade da raça humana quanto ao pecado, e a 
transmissão “da natureza espiritual, do ‘caráter’, dos pais aos filhos”. Contudo, ele busca a 
explicação da universalidade do pecado noutra coisa que não o “pecado original”. 
O homem que Deus criou não era simplesmente um homem só, mas uma pessoa 
responsável, criada em ligação comunitária com outras pessoas e para viver 
comunitariamente. O indivíduo isolado não passa de uma abstração. “na criação nós 
somos uma unidade individualizada e articulada, um corpo com muitos membros.” Se um 
membro sofre, todos os membros sofrem com ele. 
Prosseguindo, diz ele: “Se a nossa origem isso, nossa oposição a esta origem não 
pode ser uma experiência, um ato, do individuo como tal... Certamente cada indivíduo é 
um pecador como um indivíduo; mas, ao mesmo tempo ele é o todo em sua solidariedade 
unida, o corpo, a humanidade real e completa.” Portanto, houve solidariedade quando o 
homem pecou; a raça humana caiu e se afastou de Deus; mas pertence à própria natureza 
do pecado negarmos nós esta solidariedade no pecado. O resultado desse pecado inicial é 
que agora o homem é pecador; mas o fato de que o homem agora é pecador não deve ser 
considerado como a causa das suas ações pecaminosasindividuais. Não se pode admitir 
essa relação causal, pois todo pecado que o homem comete é uma nova decisão contra 
Deus. A declaração de que o homem é pecador não significa que ele se acha num estado 
ou condição de pecado, mas, sim, que ele está de fato engajado numa rebelião contra 
Deus. Como Adão, nós também nos afastamos de Deus, e “aquele que comete esta 
apostasia não pode senão repeti-la continuadamente, não porque se lhe tornou um 
hábito, mas porque este é o caráter distintivo deste ato”. O homem não pode inverter o 
curso, mas continua a pecar, sem parar. A Bíblia nunca fala do pecado, senão como o ato 
de afastar-se de Deus. “Mas no próprio conceito de ‘ser pecador’. Este ato concebido 
como um ato que determina a existência completa do homem.” Nessa descrição há muita 
coisa que lembra a descrição realista de Tomaz de Aquino. 
 
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4.14. Objeções à Doutrina da Depravação Total e da Incapacidade 
Total 
É Incoerente Com a Obrigação Moral 
A mais óbvia e a mais plausível objeção à doutrina da depravação total e da 
incapacidade total é a de que ela é incoerente com a obrigação moral. Diz-se que não se 
pode responsabilizar com justiça o homem por uma coisa para a qual ele não tem a 
capacidade requerida. Mas a implicação geral este princípio é uma falácia. Ele pode ser 
mantido nos caos de incapacidade resultante de uma limitação imposta por Deus à 
natureza do homem; mas certamente não se aplica na esfera da moralidade e da religião, 
como já foi exposto no item anterior. Não devemos esquecer-nos de que a incapacidade 
que aqui está sendo examinada é auto-imposta, tem origem moral e não se deve a 
nenhuma limitação que Deus tenha imposto ao homem. O homem é incapaz como 
resultado da escolha pervertida que fez em Adão. 
Ela Retira Todos os Motivos Para o Esforço 
Uma segunda objeção alega que esta doutrina elimina todos os motivos para o 
esforço humano e destrói todas as bases racionais para a utilização dos meios de graça. Se 
sabemos que não conseguiremos levar a efeito um determinado fim, por que havemos de 
utilizar os meios recomendados para a sua realização? Pois bem, é perfeitamente certo 
que o pecador iluminado pelo Espírito Santo e verdadeiramente cônscio da sua 
incapacidade natural, renuncia à justiça das obras. E é Isso exatamente o necessário. Mas 
isso não vale para o homem natural, pis ele é totalmente dominado pela justiça própria. 
Além disso, não é verdade que a doutrina da incapacidade tende naturalmente a fomentar 
a negligência no uso dos meios de graça ordenados por Deus. Com base neste princípio, o 
agricultor também poderia dizer: não posso produzir uma colheita; por que devo cultivar 
as minhas terras? Mas isto seria loucura total. Em todos os departamentos da atividade 
humana, o resultado depende da cooperação de causas sobre as quais o homem não tem 
domínio. As bases escriturísticas para o emprego dos meios permanece: Deus manda 
empregar meios; os meios ordenados por Deus são adaptados ao fim colimado; 
ordinariamente o fim não é atingido, exceto pelo uso dos meios designados; e Deus 
prometeu a utilização desses meios. 
Favorece o Atraso da Conversão 
Afirma-se também que esta doutrina favorece o atraso da conversão. Se o homem 
crer que não poderá mudar o seu coração, que não poderá arrepender-se e crer no 
Evangelho, achará que pode aguardar passivamente a ocasião em que Deus agrade mudar 
a direção da sua vida. Ora, pode haver, e a experiência ensina que há, alguns que de fato 
adotam essa atitude; mas em regra o efeito da doutrina em foco é completamente 
 
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diferente. Se os pecadores, para os quais o pecado veio a ser muito querido, estivessem 
cônscios do seu poder de mudar as suas vidas quando quisessem, seriam tentados a deixar 
essa mudança para o último momento. Mas, se a pessoa estiver cônscia do fato de que 
essa realização tão desejável está fora dos limites das suas forças, instintivamente 
procurará auxílio de fora. O pecador que pensa deste modo, quanto à sua salvação, 
procurará a ajuda do grande Médico da alma, reconhecendo assim a sua própria 
incapacidade. 
4.15. O Pecado Fatual 
Os católicos romanos e aos arminianos menosprezaram a idéia do pecado original e, 
depois, desenvolveram doutrinas como a da purificação do pecado original (se bem que 
não só desse) pelo batismo e pela graça suficiente, pelo que fica muito obscurecida a sua 
gravidade. A ênfase é data clara e completamente aos pecados atuais. Os pelagianos, os 
socinianos, os teólogos modernistas – e, por estranho que pareça – também a Teologia da 
Crise, só reconhecem os pecados atuais. Deve-se dizer, porém, que esta teologia fala do 
pecado igualmente no singular e no plural, isto é, ela reconhece a solidariedade no pecado, 
não reconhecida por alguns dos outros. A teologia reformada (calvinista) sempre 
reconheceu devidamente o pecado original e sua relação com os pecados atuais. 
4.16. Relação Entre o Pecado Original e o Pecado Fatual 
Aquele originou-se num ato livre de Adão como o representante da raça humana, 
numa transgressão da lei de Deus e numa corrupção da natureza humana, tornando-se 
sujeito à punição de Deus. Aos olhos de Deus, o pecado de Adão foi o pecado de todos os 
seus descendentes, de modo que eles nascem como pecadores, isto é, num estado de 
culpa e numa condição corrupta. 
O pecado original tanto é um estado como uma qualidade inerente à corrupção do 
homem. Todo homem é culpado em Adão e, conseqüentemente, nasce com uma natureza 
depravada e corrupta. E esta corrupção interna é a fonte poluída de todos os pecados 
atuais. Quando falamos de pecado fatual, ou peccatum actuale, empregamos a palavra 
“fatual” ou “actuale” num sentido compreensivo. A expressão “pecados fatuais” não indica 
apenas as ações externas praticadas por meio do corpo, mas também todos os 
pensamentos e volições conscientes que decorrem do pecado original. São os pecados 
individuais expressos em atos, diversamente da natureza e inclinação herdada. 
O pecado original é somente um; o pecado fatual é múltiplo. Os pecados fatuais 
podem ser interiores, como no caso de uma dúvida consciente e particular, ou de um mau 
desígnio sediado na mente, ou de uma cobiça consciente e particular do coração; mas 
também podem ser exteriores, como a fraude, o furto, o adultério, o assassínio etc. 
Enquanto que a existência do pecado original tem-se defrontado com a sua negação 
 
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amplamente generalizada, a presença do pecado fatual na vida do homem geralmente é 
admitida. Contudo, isso não quer dizer que as pessoas sempre tiveram consciência 
igualmente profunda de pecado. 
Hoje em dia ouvimos falar muito da “perda do sentimento de pecado”, embora os 
modernistas se apressem a garantir -nos que, enquanto perdemos o senso ou sentimento 
de pecado, adquirimos os senso ou sentimento dos pecados; no plural, isto é, de pecados 
fatuais definidos. Mas não há duvida de que, numa alarmante extensão, as pessoas 
perderam o senso da hediondez do pecado, cometido contra um Deus santo, e mormente 
o consideram mera infração dos direitos do próximo. Deixam de ver que o pecado é um 
poder fatal em suas vidas, poder que a cada passo incita os seus espíritos rebeldes, torna-
os culpados diante de Deus e os coloca debaixo de uma sentença de condenação. Um dos 
méritos da Teologia da Crise é que ela chama de novo a atenção para a gravidadedo 
pecado como revolta contra Deus, como uma revolucionária tentativa de ser como Deus. 
4.17. Classificação dos Pecados Fatuais 
É impossível dar uma classificação uns e compreensiva dos pecados fatuais. Eles 
variam em grau e em espécie, e podem ser diferenciados segundo mais de um ponto de 
vista. Os católicos romanos fazem a conhecida distinção entre pecados veniais e pecados 
mortais, mas admitem que é extremamente difícil e perigoso decidir se um pecado é 
mortal ou venial. Eles foram levados a essa distinção pela afirmação de Paulo em Gl 5.21, 
de que “não herdarão o reino de Deus os que tais cousas (enumeradas pelo apóstolo) 
praticam”. 
A pessoa comete um pecado mortal quando viola voluntariamente a lei de Deus em 
matéria que ela acredita ou sabe que é importante. Isso torna o pecador passível de 
castigo eterno. E a pessoa comete pecado venial quando transgride a lei de Deus em 
matéria de importância não grave, ou quando a transgressão não é inteiramente 
voluntária. Tal pecado é perdoado com maior facilidade, e até mesmo sem confissão. O 
perdão pelos pecados mortais só pode ser obtido pelo sacramento da penitência. A 
distinção não é bíblica, pois, de acordo com a Escritura, todo pecado é essencialmente 
anomia (falta de retidão; falta de obediência à lei), e merece punição eterna. Além disso, 
tem efeito deletério na vida prática, desde que gera um sentimento de incerteza, às vezes 
um sentimento de medo mórbido, por um lado, ou de distinção entre pecados cometidos 
atrevidamente (“à mão levantada”), e pecados cometidos sem premeditação, isto é, como 
resultado de ignorância, fraqueza ou erro, Nm 15.29-31. 
Os primeiros não podiam ser expiados por sacrifícios e eram punidos com grande 
severidade, enquanto que os últimos podiam ser expiados sacrificialmente e eram punidos 
com muito maior brandura. O principio fundamental encarnado nessa distinção ainda é 
aplicável. Os pecados cometidos de propósito, com plena consciência do mal envolvido, e 
 
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com deliberação, são maiores e mais condenáveis do que os pecados resultantes de 
ignorância, de uma concepção errônea das coisas, ou da fraqueza de caráter. Não 
obstante, estes também são pecados reais e tornam a pessoa culpada aos olhos de Deus, 
Gl 6.1; Ef 4.18; 1 Tm 1.13; 5.24. 
O Novo Testamento nos ensina com maior clareza que o grau do pecado é em grande 
medida determinado pelo grau de luz que o pecador possua. Os pagãos são deveras 
culpados, mas os que têm a revelação de Deus e gozam os privilégios do ministério do 
Evangelho são muito mais culpados. Mt 10.15; Lc 12.47, 48; 23.34; Jo 19.11; At 17.30; Rm 
1.32; 2.12; 1 Tm 1.13, 15, 16. 
4.18. O Pecado Imperdoável 
Diversas passagens da Escritura falam de um pecado que não pode ser perdoado, 
após o qual é impossível a mudança do coração e pelo qual não é necessário orar. É 
geralmente conhecido como pecado ou blasfêmia contra o Espírito Santo. O Salvador fala 
explicitamente dele em Mt 12.31, 32 e passagens paralelas; e em geral se pensa que Hb 
6.4-6; 10.26, 27 e 1 Jo 5.16 também se referem a esse pecado. 
Opiniões sem fundamento, a respeito desse pecado. Tem havido grande variedade de 
opinião sobre a natureza do pecado imperdoável. 
1. Jerônimo e Crisóstomo consideravam-no um pecado que só podia ser cometido 
durante a estada de Cristo na terra, e sustentavam que ele foi cometido pelos que 
estavam convencidos em seus corações de que Cristo realizava os Seus milagres 
pelo poder do Espírito Santo, mas, a despeito da sua convicção, recusaram 
reconhecer esses milagres como tais e os atribuíram à operação de Satanás. 
Contudo, esta limitação é inteiramente destituída de fundamento, como as 
passagens de Hebreus e 1 João parecem provar. 
2. Agostinho, os dogmáticos da Igreja Luterana, de linha de Melanchton, e uns 
poucos teólogos escoceses (Guthrie, Chalmers) entendiam que o pecado 
imperdoável consiste de impoenitentia finalis, isto é, impenitência obstinada até o 
fim. Um conceito relacionado com esse é o expresso por alguns nos dias atuais, de 
que consiste de incredulidade persistente, uma recusa até o fim a aceitar Jesus 
Cristo pela fé. Mas, supondo-se isso, seguir-se-ia que todos os que morreram num 
estado de impenitência e descrença cometeram esse pecado, enquanto que, 
segundo a Escritura, ele tem que ser uma coisa de natureza muito especifica. 
3. Em relação com a sua negação da perseverança dos santos, os teólogos luteranos 
mais recentes ensinavam que somente as pessoas regeneradas poderiam cometer 
esse pecado, e procuravam apoio para essa idéia em Hb 6.4-6. Mas esta posição é 
 
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antibíblica, e os Cânones de Dort rejeitam, entre outros, também o erro dos que 
ensinam que os regenerados podem cometer pecado contra o Espírito Santo. 
4.19. A Concepção Calvinista Sobre Tal Blasfêmia 
O titulo “pecado contra o Espírito Santo” é demasiado geral, pois também há pecados 
contra o Espírito Santo que são perdoáveis, Ef. 4.30. 
A Bíblia fala mais especialmente de “falar contra o Espírito Santo”, Mt 12.32; Mc 3.29; 
Lc 12.10. Evidentemente, é um pecado cometido durante a presente vida, pecado que 
torna impossíveis a conversão e o perdão. O pecado consiste na rejeição e calúnia 
consciente, maldosa e voluntária, e isso contra as evidências e respectiva convicção do 
testemunho do Espírito Santo a respeito da graça de Deus em Cristo, atribuindo-o, por 
ódio ou inimizade, ao príncipe das trevas. Isto pressupõe, objetivamente, uma revelação 
da graça de Deus em Cristo, numa poderosa operação do Espírito Santo; e, 
subjetivamente, uma iluminação e convicção intelectual tão forte e poderosa que 
impossibilita uma franca negação da verdade. E, depois, o pecado mesmo consiste, não em 
duvidar da verdade, nem numa simples negação dela, mas sim numa contradição dela que 
vai contra a convicção da mente, a iluminação da consciência, e até mesmo contra o 
veredicto do coração. 
Ao cometer esse pecado, o homem atribui voluntária, maldosa e intencionalmente o 
que se reconhece claramente como obra de Deus à influencia e operação de Satanás. Não 
é nada menos que uma difamação do Espírito Santo, uma audaciosa declaração de que o 
Espírito Santo é o espírito do abismo, que a verdade é mentira e que Cristo é Satanás. Não 
é tanto um pecado contra a pessoa do Espírito Santo, como contra a Sua obra oficial que 
consiste em revelar, tanto objetiva como subjetivamente, a graça e a gloria de Deus em 
Cristo. A raiz desse pecado é o consciente e deliberado ódio a Deus e a tudo quanto se 
reconhece como divino. É imperdoável, não porque a sua culpa transcende os méritos de 
Cristo, ou porque o pecador esteja fora do alcance do poder renovador do Espírito Santo, 
mas, sim porque há também no mundo de pecado certas leis e ordenanças estabelecidas 
por Deus e por Ele mantidas. E, no caso desse pecado particular, a lei é que ele exclui toda 
a possibilidade de arrependimento, cauteriza a consciência, endurece o pecador e, assim, 
torna imperdoável o pecado. 
Daí, nos que cometeram esse pecado podemos esperar ver um pronunciado ódio a 
Deus, uma atitude desafiadora para com Ele e para com tudo quanto é divino, um prazer 
em ridicularizar e difamar aquilo que é santo, e um desinteresse absoluto quanto ao bem-
estar da alma e à vida futura. Em vista do fato de que esse pecado não é seguido pelo 
arrependimento, podemos estar razoavelmente seguros de que os que receiam havê-lo 
cometido e se preocupam com isso, e desejam as orações doutras pessoas por eles, não o 
cometeram. 
 
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4.20. Passagens Que Falam Sobre a Blasfêmia 
Exceto nos evangelhos, esse pecado não é mencionado nominalmente na Bíblia. 
Assim, surge a questão, se as passagens de Hb 6.4-6; 10.26, 27, 29 e 1 Jo 5.16 também se 
referem a ele. Pois bem, é mais que evidente que elas falam de um pecado imperdoável; e 
porque J esus diz em Mt 12.31, “por isso vos declaro: Todo pecado e blasfêmia serão 
perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não ser perdoada”, 
indicando com isso que só existe um pecado imperdoável. 
Deve-se notar, porém, que Hebreus 6 fala de uma forma específica desse pecado, 
forma que só poderia ocorrer na era apostólica, quando o Espírito se revelava com dons e 
poderes extraordinários. O fato de que nem sempre se teve isto em mente, muitas vezes 
levou à errônea opinião de que esta passagem, com as suas expressões desusadamente 
fortes, refere-se a pessoas que de fato foram regeneradas pelo Espírito de Deus. Mas, 
embora Hb 6.4-6 fale de experiências que transcendem as da fé temporal e comum, não 
atestam necessariamente a presença da graça regeneradora no coração. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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AULA 
05 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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5 - A PUNIÇÃO DO PECADO 
O pecado é coisa muito séria, e é levado a sério por Deus, embora os homens muitas 
vezes o tratem ligeiramente. Não é somente uma transgressão da lei de Deus; é também u 
ataque ao grande Legislador, uma revolta contra Deus. É uma infração da inviolável justiça 
de Deus, que é o fundamento do Seu trono (Sal 97.2), e uma afronta à imaculada santidade 
de Deus, que requer que sejamos santos em toda a nossa maneira de viver (1 Pe 1.16). em 
vista disso, é simplesmente natural que Deus visite o pecado com punição. Numa palavra 
de fundamental significação, diz Ele: “Eu sou o Senhor teu Deus, Deus zeloso, que visito a 
iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me 
aborrecem”, Ex 20.5. A Bíblia atesta abundantemente o fato de que Deus pune o pecado, 
nesta vida e na vida por vir. 
5.1. Punições Naturais e Positivas 
Uma distinção muito comum aplicada às punições pelo pecado é entre as 
penalidades naturais e as positivas. Há punições que são resultados naturais do pecado e 
das quais os homens não podem escapar por serem as conseqüências inevitáveis do 
pecado. O homem não se salva delas pelo arrependimento e perdão. Nalguns casos elas 
podem ser abrandadas, e até neutralizadas, pelos meios que Deus colocou à nossa 
disposição, mas noutros casos elas permanecem e servem de lembranças das nossas 
transgressões passadas. O preguiçoso cai na pobreza, o ébrio se arruína e à sua família, o 
fornicário contrai moléstia repugnante e incurável e ao criminoso sobrevém pesado fardo 
de vergonha e, mesmo quando sai dos muros da prisão, acha extremamente difícil 
começar vida nova. 
A Bíblia fala dessas punições em Jó 4.8; Sl 9.15; 94.23; Pv 5.22; 24.14; 31.3. Mas há 
também punições no sentido mais comum da palavra e mais diretamente ligadas à lei. 
Pressupõem não apenas as leis naturais da vida, mas também uma lei positiva do grande 
Legislador, acrescida de sanções. Não são penalidades que resultam naturalmente da 
natureza da transgressão, mas, sim, penalidades ligadas às transgressões por decretos 
divinos. São sobrepostas pela lei divina, que é de autoridade absoluta. É a esse tipo de 
punição que a Bíblia se refere normalmente. Isso está particularmente patente no Velho 
Testamento. Deus deu a Israel um minucioso código de leis para regulamentar a sua vida 
civil, moral e religiosa, e estipulou claramente a punição a ser aplicada a cada transgressão; 
cf Êx 20 a 23. E embora muitos dos regulamentos civis e religiosos dessa lei, na forma em 
que foram transmitidos, fossem destinados unicamente a Israel, os princípios 
fundamentais que encarnam aplicam-se igualmente na dispensação do Novo Testamento. 
Numa conceituação bíblica da penalidade do pecado, teremos que levar em conta o 
resultado natural bem como o resultado necessário da voluntária oposição a Deus e a 
 
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penalidade legalmente estabelecida e adaptada por Deus à ofensa. Agora, há alguns 
unitários, universalistas e modernistas que negam a existência de qualquer punição do 
pecado, exceto as conseqüências que resultam da ação pecaminosa. A punição não é a 
execução de uma sentença pronunciada pelo Ser divino com base nos méritos do caso em 
apreço, mas é apenas a operação de uma lei geral. 
Esta posição é tomada por J. F. Clarke, Thayer, Willianson e Washington Gladden. 
Este último diz: “A teologia antiga fazia esta penalidade (a penalidade do pecado) consistir 
em sofrimentos infligidos ao pecador por um processo judicial na vida futura... A 
penalidade do pecado é o pecado. Tudo que o homem semear, isso ele ceifar”. A idéia não 
é nova; estava presente na mente de Dante, pois em seu famoso poema os tormentos do 
inferno simbolizam as conseqüências do pecado; e Schelling a tinha em mente, quando 
falou da história do mundo como o julgamento do mundo. Há, porém, copiosas evidências 
na Escritura de que essa idéia é completamente antibíblica. A Bíblia fala de penalidades 
que em nenhum sentido são resultados ou conseqüências naturais do pecado, por 
exemplo, em Êx. 32.33; Lv 26.21; Nm 15.31; 1 Cr 10.13; Sl 11.6; 75.8; Is 1.24, 28; Mt 3.10; 
24.51. 
Todas estas passagens falam de uma punição do pecado por um ato direto de Deus. 
Além disso, segundo o conceito em foco, realmente não há recompensa ou punição; a 
virtude e o vício naturalmente incluem os seus diversos produtos. Ademais, segundo essa 
posição, não há boa razão para considerar o sofrimento como punição, pois ela nega a 
culpa, e é exatamente a culpa que faz do sofrimento uma punição. E depois, em muitos 
casos não é o culpado que recebe o castigo mais severo, mas o inocente, como, por 
exemplo, os dependentes de um beberrão ou de Washington Gladden expressa isso de 
maneira a mais explícita. 
5.2. A Natureza e o Propósito das Punições 
A palavra “punição” vem do termo latino poena, significando punição, expiação ou 
pena. Denota a dor ou o sofrimento infligido em razão de algum mal praticado. Mais 
especificamente, pode-se definir como a dor ou perda infligida direta ou indiretamente 
pelo Legislador, em vindicação da Sua justiça ultrajada pela violação da lei. Origina-se na 
retidão de Deus, ou em Sua justiça punitiva, pela qual Ele se mantém como o Santo e 
necessariamente exige santidade e justiça de todas as Suas criaturas nacionais. 
A punição é a penalidade que natural e necessariamente se requer do pecador por 
causa do seu pecado; é, de fato, um débito para com a justiça essencial de Deus. As 
punições do pecado são de duas espécies diferentes. Há uma punição que é o necessário 
concomitante do pecado, pois, pela sua própria natureza, o pecado causa separação entre 
Deus e o homem, leva consigo culpa e corrupção e enche o coração de medo e de 
vergonha. Mas há também uma espécie de punição imposta de fora ao homem pelo 
 
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HAMARTIOLOGIA56 
supremo Legislador, como toda sorte de calamidades nesta existência e o castigo do 
Inferno no futuro. 
Neste ponto surge a questão quanto ao objetivo ou propósito de punição do pecado. 
E sobre isso há considerável diferença de opinião. Não devemos ver a punição do pecado 
como simples questão de vingança e como infligida com o desejo de ferir alguém que 
previamente feriu. Os três conceitos mais importantes a respeito do propósito da punição 
são os seguintes: 
Vindicar a Retidão ou a Justiça Divina. Diz Turretino: “Se a justiça um atributo de 
Deus, então o pecado tem que receber o que lhe devido, que a punição”. A lei requer que 
o pecado seja punido por causa do seu demérito inerente, independente de quaisquer 
outras considerações. Aplica-se este princípio quando da administração das leis humanas e 
das leis divinas. A justiça exige a punição do transgressor. Deus está por trás da lei e, 
portanto, também se pode dizer que a punição visa à vindicação da justiça e santidade do 
grande legislador. A santidade de Deus reage necessariamente contra o pecado, e esta 
reação se manifesta na punição do pecado. Este princípio é fundamental quanto a todas as 
passagens da Escritura que falam de Deus como reto Juiz, que retribui a todo homem de 
acordo com os seus merecimentos. 
“Eis a Rocha! Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus 
é fidelidade, e não há nele injustiça; justo e reto”, Dt 32.4. “Longe de Deus o praticar ele a 
perversidade, e do Todo-Poderoso o cometer injustiça. Pois retribuirá ao homem segundo 
as suas obras, e faz que cada um toque segundo seu caminho”, Jó 34.10, 11. “A cada um 
retribuis que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com 
temor durante o tempo da vossa peregrinação”. 1 Pe 1.17. 
A vindicação da justiça e santidade de Deus, e daquela justa lei que é a própria 
expressão do Seu se, é certamente o propósito primordial da punição do pecado. Contudo, 
há dois outros conceitos que erroneamente colocam alguma coisa mais no primeiro plano. 
Reformar o Pecador. Nos dias presentes há uma idéia, colocada em primeira plana, 
de que não há nenhuma justiça punitiva de Deus que exija inexoravelmente a punição do 
pecador, e que Deus não está irado com o pecador, mas o ama, e só lhe inflige dolorosas 
experiências com o fim de reclama-lo para Si e leva-lo de volta ao lar paterno. Este 
conceito é antibíblico, obliterando a distinção entre punição e castigo disciplinar. 
A penalidade do pecado não parte do amor e misericórdia do legislador, mas, sim, da 
Sua justiça. Se a reforma se segue à imposição da punição, isto não se deve à penalidade 
como tal, mas é fruto de alguma operação da graça de Deus pela qual Ele transforma 
aquilo que em si mesmo é um mal para o pecador numa coisa benéfica. Deve-se manter a 
distinção entre punição e castigo disciplinar. A Bíblia nos ensina, por um lado, que Deus 
ama e castiga o Seu povo, Jó 5.17; Sl 6.1; 94.12; 118.18; Pv 3.11; Is 26.16; Hb 12.5-8; Ap 
 
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3.19; e por outro lado, que Ele aborrece e pune os que praticam o mal, Sl 5.5; 7.11; Na 1.2; 
Rm 12.5, 6; 2 Ts 1.6; Hb 10.26, 27. 
Além disso, a punição deve ser reconhecida como justa, isto é, como estando em 
harmonia com a justiça, para ser reformatória. Segundo a teoria em foco, o pecador que já 
se reformou não poderá mais ser punido; tampouco se poderia punir alguém que esteja 
completamente fora da possibilidade de reformar-se, de modo que não poderia haver 
punição para Satanás; a pena de morte imposta ao pecador teria que ser abolida, e a 
punição eterna não teria razão de ser. 
Dissuadir do Pecado os Homens. Outra teoria de geral aceitação em nossos dias é a 
de que o pecador deve ser punido para a proteção da sociedade, dissuadindo outros de 
cometerem a mesmas faltas. Não se pode duvidar de que este fim é freqüentemente 
obtido na família, no estado e no governo moral do mundo, mas este é um resultado 
acidental que Deus misericordiosamente efetua pela imposição da pena. Certamente não 
pode ser esta a base para a imposição da pena. Não há nenhuma justiça em punir um 
indivíduo simplesmente pelo bem da sociedade. 
O fato é que o pecador sempre é punido por seu pecado, e acidentalmente isto pode 
ser para benefício da sociedade. E aqui se pode dizer outra vez que nenhuma punição terá 
efeito dissuasivo, se não for justa e reta. A punição só produz bom efeito quando é 
evidente que a pessoa a quem é imposta merece realmente punição. Se essa teoria fosse 
verdadeira, um criminoso podia ser logo posto em liberdade, caso não houvesse a 
possibilidade de que outros fossem dissuadidos do pecado pela punição dele. Além disso, o 
homem poderia cometer um prospectiva. Mas, nesta suposição, é muito difícil explicar por 
que a punição invariavelmente leva o pecador a olhar retrospectivamente e a confessar, 
com o coração contrito, os pecados passados, como notamos em passagens como as 
seguintes: Gn 42.21; Nm 21.7; 1 Sm 15.24, 25; 2 Sm 12. 13; 24.10; Ed 9.6, 10, 13; Ne 9.33-
35; Jó 7.21; Sl 51.1-4; Jr 3.25. 
Estes exemplos poderiam ser multiplicados. Em oposição a ambas as teorias aqui 
consideradas, deve-se sustentar que a punição do pecado é totalmente retrospectiva em 
seu objetivo primordial, conquanto a imposição da pena possa ter conseqüências 
benéficas para o indivíduo e para a sociedade. 
5.3. O Castigo Efetivo do Pecado 
A penalidade com a qual Deus ameaçou o homem no paraíso foi a pena de morte. A 
morte que aqui se tem em mente não é a morte do corpo, mas do homem total, morte no 
sentido bíblico da palavra. A Bíblia desconhece a distinção, tão comum conosco, entre a 
morte física, a espiritual e a eterna; ela tem uma visão sintética da morte e a considera 
como separação entre Deus e o homem. A pena foi também executada efetivamente no 
 
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dia em que o homem pecou, embora a plena execução dela tenha sido sustada 
temporariamente pela graça de Deus. De maneira bem antibíblica, alguns transferem a sua 
distinção para a Bíblia, e sustentam que a morte física não deve ser considerada como 
pena do pecado, mas, antes, como o resultado natural da constituição física do homem. 
Mas a Bíblia ignora esta exceção. Ela nos faz sabedores da penalidade constante da 
ameaça, que é a morte no sentido compree nsivo da palavra, e nos informa que a morte 
entrou no mundo por meio do pecado (Rm 5.12), e que o salário do pecado é a morte (Rm 
6.23). A penalidade do pecado certamente inclui a morte física, mas inclui muito mais que 
isso. 
Fazendo a distinção a que estamos acostumados, podemos dizer que ela inclui os 
seguintes fatos: 
5.4. Morte Espiritual 
Há uma profunda verdade no pronunciamento de Agostinho de que o pecado 
também é punição do pecado. Significa que o estado e a condição pecaminosos em que o 
homem nasce, por natureza fazem parte da penalidade do pecado. São, é certo, as 
conseqüências imediatas do pecado, mas também fazem parte da penalidade ameaçada. O 
pecado separa de Deus o homem, e isso quer dize r morte, pois é só na comunhão com o 
Deus vivo que o homem pode viver de verdade. No estado de morte, que resultou da 
entrada do pecado no mundo, levamos o fardo da culpa do pecado, culpa que só pode ser 
removida pela obra redentora de Jesus Cristo. Portanto, estamos obrigados a padecer os 
sofrimentos resultantes da transgressão da lei. O homem natural carrega para onde vai o 
senso da sujeição à punição. A consciência constantemente o faz lembrar-se da sua culpa, 
e com freqüência o temor da punição enche o seu coração. A morteespiritual significa, 
não somente culpa, mas também corrupção. 
O pecado é sempre uma influencia corruptora na vida, e isso é parte da nossa morte. 
Por natureza somos, não somente injustos aos olhos de Deus, mas também impuros. Esta 
impureza se manifesta em nossos pensamentos, em nossas palavras e em nossas orações. 
É sempre ativa dentro de nós, agindo como uma fonte envenenada a poluir as correntes da 
vida. E se não fosse a influencia restringente da graça comum de Deus, tornaria a vida 
social inteiramente impossível. 
5.5. Os Sofrimentos da Vida 
Os sofrimentos da vida, que resultam da entrada do pecado no mundo, também 
estão incluídos na penalidade do pecado. O pecado produziu distúrbios em todos os 
aspectos da vida do homem. Sua vida física caiu presa de fraquezas e doenças, que 
redundam em desconfortos e, muitas vezes, em penosas agonias; e sua vida mental ficou 
sujeita a perturbações angustiantes, que muitas vezes o privam da alegria de viver, 
 
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desqualificam-no para o seu labor diário e, por vezes, destroem por completo o seu 
equilíbrio mental. Sua própria alma veio a ser um campo de batalha de pensamentos, 
paixões e desejos conflitantes. 
A vontade se recusa a seguir o julgamento do intelecto, e as paixões se mantinham, 
sem o controle de uma vontade inteligente. A verdadeira harmonia da vida se acha num 
estado de dissolução que freqüentemente leva consigo os sofrimentos mais pungentes. E 
não só isso, mas, com o homem e por causa dele, toda a criação ficou sujeita à vaidade e à 
escravidão da corrupção. Especialmente os evolucionistas nos ensinaram a ver a natureza 
“rubra (de sangue) nas garras e nos dentes”. 
Muitas vezes as forças destruidoras são liberadas causando terremotos, ciclones, 
tornados, erupções vulcânicas e inundações que trazem indescritível miséria à 
humanidade. Pois bem, há muitos, principalmente em nossos dias, que não vêem a mão de 
Deus niss o tudo e não consideram essas calamidades como parte da penalidade do 
pecado. E, todavia, é exatamente o que elas são, num sentido geral. Contudo, não será 
seguro particularizar e interpreta-las como punições especiais por graves pecados 
cometidos pelos que vivem nas áreas atingidas. Tampouco será prudente ridicularizar a 
idéia de que essa relação existiu no caso das cidades da planície (Sodoma e Gomorra), que 
foram destruídas pelo fogo do céu. 
Devemos ter sempre em mente que há uma responsabilidade coletiva, e que sempre 
há motivos suficientes para Deus visitar cidades, regiões ou países com calamidades 
medonhas. Antes é de se admirar que não os visite mais vezes em Sua ira e em Seu severo 
desprazer. É bom ter sempre em mente o que Jesus disse uma vez aos judeus que Lhe 
trouxeram informações sobre uma calamidade que sobreviera a certos galileus, e 
evidentemente insinuaram que aqueles galileus deviam ter s ido grandes pecadores: 
“Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por 
terem padecido estas coisas? Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos 
arrependerdes, todos igualmente perecereis. Ou cuidais que aqueles dezoito, sobre os 
quais desabou a torre de Siloé e os matou, eram mais culpados que todos os outros 
habitantes de Jerusalém? Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, 
todos igualmente perecereis” (Lc 13.2-5). 
5.6. Morte Física 
A separação de corpo e alma também faz parte da penalidade do pecado. 
Que o Senhor tinha isto em mente também na penalidade ameaçada é mais que 
evidente na explicação dele feita com as palavras “tu és pó e ao pó tornarás”. Gn 3.19. 
Também transparece na argumentação de Paulo em Rm 5.12-21 e em 1 Co 15.12-23. A 
posição da igreja sempre foi que a morte, no pleno sentido da palavra, inclusa a morte 
 
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física, não somente conseqüência, mas também, penalidade do pecado. O salário do 
pecado é a morte. 
O pelagianismo negou esta relação, mas o Sínodo geral Norte-africano de Cartago 
(418) pronunciou um anátema contra quem quer que diga “que Adão, o primeiro homem, 
foi criado mortal, de maneira que, pecasse ou não, morreria, não como sal rio do pecado, 
mas por necessidade da natureza”. 
Os socinianos e os racionalistas deram continuidade ao erro pelagiano, e mesmo em 
tempos mais recentes este erro foi reproduzido nos sistemas daqueles teólogos 
Kantinianos, helegianos ou ritschlianos que virtualmente fazem do pecado uma força 
necessária ao desenvolvimento moral e espiritual do homem. Suas opiniões encontram 
apoio na ciência natural dos dias atuais, que considera a morte física um fenômeno natural 
do organismo humano. A natureza física do homem é tal, que ele morre necessariamente. 
Mas esta idéia não se faz recomendável, em vista do fato de que o organismo físico do 
homem se renova a cada sete anos, e de que relativamente são poucas as pessoas que 
morrem em idade provecta e por exaustão total. Em número muitíssimo maior, morrem 
em resultado de doença ou acidente. A idéia é contrária também ao fato de que o homem 
não sente que a morte é uma coisa natural, mas a teme como uma antinatural separação 
de coisas que se pertencem mutuamente. 
5.7. Morte Eterna 
Esta pode ser considerada como a culminância e a consumação da morte espiritual. 
As restrições do presente desaparecem, e a corrupção do pecado tem a sua obra 
completa. O peso total da ira de Deus desce sobre os condenados, e isto significa morte no 
sentido mais terrível da palavra. A condenação eterna deles é levada a corresponder ao 
estado interno das suas ímpias almas. H angustias de consciência e sofrimentos físicos. E “a 
fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos” (Ap 14.11). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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6 - O COMEÇO DO PECADO 
A Bíblia refere-se a um evento nos recônditos mais distantes do tempo, além da 
experiência humana, quando o pecado se tornou uma realidade. Uma criatura 
extraordinária, a serpente, já estava confirmada na iniqüidade antes de “o pecado entrar 
no mundo” através de Adão (Rm 5.12; ver Gn 3). Essa antiga serpente aparece em outros 
lugares como o grande dragão, Satanás e o diabo (Ap 12.9; 20.2). O diabo tem andado 
pecando e assassinando desde o princípio (Jo 8.44; 1Jo 3.8). O orgulho (1Tm 3.6) e uma 
queda de anjos (Jd 6; Ap 12.7-9) também se associam a essa catástrofe cósmica. 
As Escrituras também nos ensinam a respeito de outra queda: Adão e Eva foram 
criados “bons” e colocados num jardim idílico, no Éden, desfrutando de estreita comunhão 
com Deus (Gn 1.26-2.25). Por não serem divinos e porque eram capazes de pecar, era 
necessária uma contínua dependência de Deus. Semelhantemente, precisavam comer 
regularmente da árvore da vida. Isto nos é sugerido pelo convite a comer de todas as 
árvores, inclusive da árvore da vida, antes da Queda (Gn 2.16), e pela rigorosa proibição 
depois desta (Gn 3.22,23). Houvessem obedecido, teriam sido frutíferos e alegres para 
sempre (Gn 1.28-30). Alternativamente, após um período de prova, poderiam conseguir 
um estado mais permanente de imortalidade, mediante a trasladação para o céu (Gn 5.21-
24; 2Rs 2.1-12) ou pela ressurreição docorpo sepultado na terra (cf. os crentes, 1Co 15.35-
54). 
Deus permitiu que o Éden fosse invadido por Satanás, o qual tentou Eva com astúcia 
(Gn 3.1-5). Desconsiderando a Palavra de Deus, Eva entregou-se ao desejo por beleza e 
sabedoria. Tomou do fruto proibido, ofereceu-o ao seu marido e juntos comeram-no (Gn 
3.6). Eva fora enganada pela serpente, mas Adão parece ter pecado em plena consciência 
(2Co 11.3; 1Tm 2.14; Deus concorda tacitamente com esse fato em Gn 3.13-19). É possível 
que Adão tenha recebido do próprio Deus a proibição de comer da árvore e que Eva a 
tenha ouvido somente através do marido (Gn 2.17; cf. 2.22). Adão, portanto, tinha mais 
responsabilidade diante de Deus, e Eva era mais suscetível diante de Satanás (cf. Jo 20.29). 
Talvez seja esta a explicação da ênfase que a Bíblia atribui ao pecado de Adão (Rm 5.12-21; 
1Co 15.21,22), embora, na realidade, Eva tenha pecado primeiro. Finalmente, é crucial 
observar que o pecado deles começou na sua livre escolha moral, e não na tentação (a que 
poderiam ter resistido: 1Co 10.13; Tg 4.7). Isto é, embora a tentação os incentivasse a 
pecar, a serpente não colheu o fruto tampouco os forçou a comê-lo. O casal optou por 
assim fazer. 
O primeiro pecado da humanidade abrangeu todos os demais pecados: a afronta e 
desobediência a Deus, o orgulho, a incredulidade, desejos errados, o desviar outras 
pessoas, assassinato em massa da posteridade e a submissão voluntária ao diabo. As 
 
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conseqüências imediatas foram numerosas, extensivas e irônicas (observe 
cuidadosamente Gn 1.26-3.24). O relacionamento entre Deus e os homens, de franca 
comunhão, amor, confiança e segurança, foi trocado por isolamento, autodefesa, culpa e 
banimento. Adão e Eva, bem como o relacionamento entre eles, entraram em 
degeneração. A intimidade e a inocência cederam lugar à acusação (jogavam a culpa um 
sobre o outro). Seu desejo rebelde pela independência resultou em dores de parto, labuta 
e morte. Seus olhos realmente foram abertos, e eles conheceram o bem e o mal (mediante 
um atalho), mas era pesado esse conhecimento sem o equilíbrio de outros atributos 
divinos, como o amor, a sabedoria e o conhecimento. A criação, confiada aos cuidados de 
Adão, foi amaldiçoada, gemendo pela libertação dos resultados da infidelidade dele (Rm 
8.20,22). Satanás, que oferecera a Eva as alturas da divindade e prometera ao homem e à 
mulher que estes não morreriam, foi mais amaldiçoado que todas as criaturas e 
condenado à destruição eterna pela descendência de Eva (ver Mt 25.41). Finalmente, o 
primeiro casal humano trouxe a morte a todos os seus filhos (Rm 5.12-21; 1Co 15.20-28). 
O Midrash judaico entende a advertência divina de que a morte viria quando 
(literalmente “no dia em que”) comessem da árvore (Gn 2.17) como uma referência à 
morte física de Adão (Gn 3.19; 5.5), pois um dia, aos olhos de Deus, é como mil anos (Sl 
90.4) - e Adão viveu apenas 930 anos (Gn 5.5). Outros a entendem como uma 
conseqüência natural do afastamento da árvore da vida. Muitos rabinos judaicos 
defendiam a idéia de que Adão nunca foi imortal e que sua morte teria chegado 
imediatamente se Deus, em sua misericórdia, não a tivesse adiado. A maioria sustenta que 
a morte espiritual - ou a separação de Deus - ocorreu naquele mesmo dia. 
Não obstante a condenação, Deus graciosamente confeccionou túnicas de peles para 
Adão e Eva, a fim de substituir os aventais de folhas que eles haviam providenciado por 
sua própria iniciativa (Gn 3.7,21). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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7 - PECADO ORIGINAL – UMA ANÁLISE 
TEOLÓGICA 
Muitas tentativas foram feitas para construir um modelo ou teoria teológica que 
encaixassem esses parâmetros complexos. Algumas das teorias mais relevantes são 
consideradas aqui. 
7.1. Conceitos Judaicos 
Três correntes principais são identificadas no judaísmo. A teoria predominante é a 
das duas naturezas: a boa - yetser tov - e a má - yetser ra' (cf. Gn 6.5; 8.21). Os rabinos 
debatiam sobre a idade em que esses impulsos se manifestam, e se o impulso mau é 
realmente iniqüidade ou apenas instinto natural. Seja como for, os maus são controlados 
pelo impulso mau, ao passo que os bons o controlam. A segunda teoria diz respeito aos 
“vigilantes” (Gn 6.1-4), anjos cujo dever era fiscalizar a humanidade mas que acabaram 
pecando com as mulheres. Finalmente, há conceitos de pecado original que antecipam o 
Cristianismo. Mais dramaticamente, o Midrash explica, por analogia, a morte do justo 
Moisés. Uma criança pergunta ao rei por que ela está na prisão. O soberano responde que 
é por causa do pecado da mãe dela. Semelhantemente, Moisés morreu por causa do 
primeiro homem que trouxe a morte ao mundo. Resumindo, o pecado original não é 
inovação paulina. Pelo contrário, Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, desenvolveu-o de 
conformidade com a revelação progressiva. 
7.2. O Agnosticismo 
Há os que sustentam não haver evidências bíblicas suficientes para uma teoria 
detalhada do pecado original. Qualquer assertiva quanto a pecaminosidade que vá além 
de uma conexão entre Adão e a raça humana é considerada especulação filosófica. Embora 
esteja correto que a doutrina não deve basear-se em especulações extrabíblicas, é válida a 
dedução das Escrituras. 
7.3. O Pelagianismo 
O pelagianismo enfatiza fortemente a responsabilidade pessoal na oposição à 
frouxidão moral. Pelágio (de 361 - de 420 d.C.) ensinava que a justiça de Deus não 
permitiria a transferência do pecado de Adão a outras pessoas e que, portanto, todas as 
pessoas nascem sem pecado e com total livre-arbítrio. O pecado é disseminado 
exclusivamente pelo mau exemplo. Por isso há uma possibilidade real de vidas sem 
pecado, e elas se acham dentro e fora da Bíblia. Tudo isso, porém, é antibíblico, além de 
anular as conexões que a Bíblia faz entre Adão e a humanidade. A morte de Cristo é 
reduzida tão-somente a bom exemplo. A salvação fica sendo meramente boas obras. A 
 
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vida nova em Cristo não passa da antiga disciplina. Embora o pelagianismo tenha razão 
quando enfatiza a responsabilidade pessoal, a santidade e o fato de que alguns pecados 
são aprendidos, o movimento tem sido apropriadamente condenado como heresia. 
7.4. O Semipelagianismo 
O semipelagianismo sustenta que, embora a humanidade tenha se enfraquecido com 
a natureza de Adão, sobrou livre-arbítrio suficiente para a iniciativa de ter fé em Deus, e 
então Ele corresponderá. A natureza enfraquecida é transmitida naturalmente a partir de 
Adão. Porém, como se sustenta à justiça de Deus após permitir que pessoas inocentes 
recebam uma natureza maculada e como é salvaguardada a natureza impecável de Cristo, 
ainda não foi bem explicado. Mais importante, em algumas formulações o 
semipelagianismo ensina que, embora a natureza humana esteja tão enfraquecida pela 
Queda, a ponto de ser inevitável que as pessoas pequem, a bondade inerente que 
possuem é suficiente para iniciar a verdadeira fé. 
7.5. A Transmissão Natural ou Genética 
Essa teoria sustenta que a transmissão da natureza corrupta baseia-se na lei da 
herança. Tomapor certo que as características espirituais são transmitidas da mesma 
forma que as naturais. Tais teorias mencionam usualmente a transmissão da natureza 
corrompida, mas não a da culpa. Mesmo assim, não parece haver base adequada para 
Deus infligir numa alma virtuosa uma natureza corrupta. Nem está claro como Cristo pode 
ter uma natureza plenamente humana e ao mesmo tempo livre do pecado. 
7.6. A Imputação Mediada 
A imputação mediada entende que Deus imputou culpa aos descendentes de Adão 
por meios indiretos, ou mediados. O pecado de Adão o fez culpado e, como castigo, Deus 
corrompeu-lhe a natureza. E, como ninguém da sua posteridade tomou parte na sua ação, 
nenhum de seus descendentes é culpado. Mesmo assim, recebem a sua natureza como 
conseqüência natural de serem descendentes dele (não como julgamento). Porém, antes 
de cometerem qualquer pecado real ou pessoal (que a sua natureza necessita), Deus os 
julga culpados de possuir aquela natureza corrompida. Infelizmente, essa tentativa de 
proteger Deus da inflição injusta da “culpa exclusiva” de Adão à humanidade resulta em 
acusar Deus de uma injustiça ainda maior - permitir que a corrupção, causadora do 
pecado, enfraqueça pessoas destituídas de culpa e depois julgá-las culpadas dessa mesma 
corrupção. 
7.7. O Realismo 
O realismo e o federalismo (ver abaixo) são as teorias mais importantes. O realismo 
sustenta que o “tecido da alma” de todas as pessoas estava real e pessoalmente em Adão 
 
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(“seminalmente presente”, segundo o conceito traduciano da origem da alma), 
participando de fato do seu pecado. Cada pessoa é culpada porque, na realidade, cada 
uma pecou. A natureza da pessoa passa então a ser corrompida por Deus, como 
julgamento contra aquele pecado. Não há transmissão de pecado, mas a participação total 
da raça naquele primeiro pecado. Agostinho (354-430) aperfeiçoou a teoria, dizendo que a 
corrupção era transmitida mediante o ato sexual. Assim, conseguia manter Cristo livre do 
pecado original, porque Ele nasceu de uma virgem. W. G. T. Shedd (1820-1994) acrescenta 
um argumento mais sofisticado: por baixo da vontade das escolhas de todos os dias há a 
vontade profunda, a “vontade propriamente dita”, que determina a direção que a pessoa 
segue em última análise. Foi essa vontade profunda que realmente pecou em Adão. 
O realismo tem pontos fortes. Não apresenta o problema da culpa de terceiros, a 
solidariedade de Adão e da raça no pecado daquele é levada a sério e parece bem 
explicada a expressão “todos pecaram”, de Romanos 5.12. 
Apresenta, no entanto, alguns problemas. O realismo possui todas as fraquezas do 
traducianismo extremo. O tipo de presença pessoal necessária em Adão e Eva distorce até 
mesmo Hebreus 7.9,10 (cf. Gn 46.26), a passagem clássica traducianista. A expressão “para 
assim dizer” (Hb 7.9), em grego, sugere seja entendido figuradamente o que se segue. 
Idéias como a de uma “vontade profunda” tendem a exigir e pressupor um conceito 
determinista, calvinista, da salvação. O realismo por si só não pode explicar porque ou em 
que base Deus amaldiçoa a terra. 
Portanto, torna-se necessário algo como a aliança. Para a humanidade de Jesus ser 
isenta de pecado, Ele deve ter cometido o primeiro pecado em Adão, sendo 
posteriormente purificado; ou Ele não estava mesmo presente em Adão; ou Ele estava 
presente mas não pecou, e seus antepassados humanos diretos permaneceram sem 
pecado em suas gerações. Cada uma dessas opiniões apresenta dificuldades (uma 
alternativa é sugerida adiante). A idéia de que todos pecaram pessoalmente parece 
contradizer o conceito de que o pecado de um só homem faz de todos pecadores (Rm 
5.12,15-19). Posto que todos pecaram em Adão, com Adão e como Adão, sugere terem 
pecado segundo o padrão do primeiro homem, o que contraria 5.14. 
7.8. O Federalismo 
A teoria federal da transmissão sustenta que a corrupção e a culpa se estendem a 
toda a humanidade porque Adão era a cabeça da raça num sentido representativo, 
governamental ou federal quando pecou. Toda pessoa está sujeita à aliança entre Adão e 
Deus (a aliança adâmica - ou aliança das obras - por contraste à aliança da graça). Faz-se 
uma analogia com uma nação que declara guerra. Seus cidadãos sofrem, quer concordem 
com ela ou a condenem e mesmo sem terem participado da decisão. Os descendentes de 
Adão não estão pessoalmente culpados até realmente pecarem, mas vivem um estado de 
 
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culpa e são passíveis do inferno por ter-lhes sido imputado - de conformidade com a 
aliança - o pecado de Adão. Por causa desse estado, Deus os castiga com a corrupção. 
Muitos federalistas, portanto, distinguem entre o pecado herdado (a corrupção) e o 
imputado (a culpa) da parte de Adão. A maioria dos federalistas são criacionistas no 
tocante à origem da alma, mas o federalismo não é incompatível com o traducianismo. A 
aliança com Adão incluía sua posição de despenseiro da criação - a base perfeita para Deus 
amaldiçoar a terra. Cristo, como cabeça de uma nova aliança e de uma nova raça, está 
isento do julgamento da corrupção sendo, portanto, impecável. 
O federalismo tem pontos fortes. A aliança, como base bíblica para a transmissão do 
pecado, concorda razoavelmente com Romanos 5.12-21 e fornece mecanismos para a 
maldição da terra e para proteger Cristo do pecado. No entanto, apresenta algumas 
fraquezas. Romanos 7 deve descrever somente o conhecimento que Paulo tomou de sua 
própria natureza pecaminosa, e não a experiência física do pecado que o matava. Mais 
importante que isso, a transmissão da “culpa exclusiva” de Adão é freqüentemente 
considerada injusta. 
7.9. Uma Teoria Integrada 
Várias das teorias acima podem ser combinadas para formar uma abordagem 
integrada, resultando numa teoria que faz distinção entre a pessoa individual e a natureza 
pecaminosa da carne. Quando Adão pecou separou-se de Deus, e isto produziu nele - 
como indivíduo e na sua natureza - a corrupção (inclusive a morte). Pelo fato de ele conter 
toda a natureza genérica, ela toda ficou corrompida. A natureza genérica é transmitida 
naturalmente ao aspecto individual da pessoa, o “próprio-eu” (como em Rm 7).A aliança 
adâmica é a justa base dessa transmissão e também da maldição contra a terra. O “eu” 
não é corrompido nem culpado por causa da natureza genérica, mas a natureza genérica o 
impede de agradar a Deus (Jo 14.21; 1Jo 5.3). Ao chegar à idade da responsabilidade 
pessoal, o “eu”, lutando contra a natureza, ou corresponde à graça proveniente de Deus 
na salvação ou realmente peca ao desconsiderá-la, de modo que o mesmo “eu” fica 
separado de Deus, tornando-se culpado e corrupto. Deus continua estendendo a mão para 
o “eu” mediante a graça proveniente. 
Logo, Romanos 5.12 pode dizer que “todos pecaram” e que todos estão corrompidos 
e necessitando de salvação, mas nenhuma culpa é infligida àqueles que ainda não pecaram 
na realidade. Isto é consistente com a luta descrita em Romanos 7. Nem todas as pessoas 
pecam da mesma forma que Adão (Rm 5.14), mas o pecado de um só homem realmente 
traz a morte e transforma todos em pecadores. E o faz mediante a aliança adâmica, um 
mecanismo paralelo à obra de Cristo, que é tornar justos os pecadores (Rm 5.12-21). Evita-
se o semipelagianismo extremado, porque o “eu” é capaz de reconhecer a sua necessidade 
mas não pode agir com fé por causa da natureza humana genérica (Tg 2.26). Sendo o ficar 
 
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separado de Deus a causa da corrupção, a união entre Cristo e sua parte da natureza 
genérica restaurada à santidade. Por ter o Espírito Santo chegado a Maria na concepção do 
“eu” humano de Cristo, este era pré-responsável e, portanto, impecável. Essa disposição é 
justa, pois Cristo é o cabeça de uma nova aliança. Semelhantemente, a união entre o 
Espírito Santo e o crente na salvação é regeneradora. 
Embora as Escrituras não afirmem explicitamente que a aliança é a base para a 
transmissão, há muitas evidências em favor dessa idéia. As alianças fazem parte 
fundamental do plano de Deus (Gn 6.18; 9-9-17; 15.18; 17.2-21; Êx 34.27, 28; Jr 31.31; Hb 
8.6,13; 12.24). Houve uma aliança entre Deus e Adão. Oséias 6.7 - “Mas eles traspassaram 
o concerto, como Adão” - refere-se muito provavelmente a essa aliança, uma vez que a 
tradução alternativa (“homens”, NIV) é tautológica. Hebreus 8.7, que diz ter sido a aliança 
com Israel à primeira, não exclui a aliança com Adão, pois o contexto indica que se trata da 
primeira aliança entre Deus e Israel (e não com a humanidade inteira). E há uma aliança (a 
Bíblia ARC emprega “pacto”, “concerto” e “aliança” como sinônimos) explícita anterior, 
com Noé (Gn 6.18; 9.9-17). As alianças bíblicas são obrigatórias às gerações futuras, quer 
para o bem (Noé, Gn 6.18; 9.9-17 quer para o mal Josué e os gibeonitas, Js 9.15). As 
alianças são freqüentemente a única base observável para o julgamento (os israelitas que 
morreram em ai por causa do pecado de Acã em Jericó, Js 7; o sofrimento dos súditos de 
Davi porque este os numerou, 2Sm 24). A circuncisão segundo a aliança podia até mesmo 
acolher crianças estrangeiras na nação de Israel. 
Alguns estudiosos objetam que qualquer teoria que transmita a outras alguma 
conseqüência do pecado de Adão é inerentemente injusta, pois lhe imputa o pecado sem 
fundamento nem base. (Somente o pelagianismo evita totalmente essa objeção, ao tornar 
todos os seres humanos pessoalmente responsáveis. O “pecado pré-consciente” do 
realismo detém a maioria das dificuldades). As alianças, no entanto, constituem base justa 
para esse tipo de transmissão, pelas seguintes razões: os descendentes de Adão teriam 
sido tão abençoados por causa do seu bom comportamento como foram amaldiçoados por 
suas obras más; a aliança certamente é mais justa que a mera transmissão genética; a 
culpa e as conseqüências transmitidas pelo concerto são semelhantes aos pecados da 
ignorância (Gn 20). 
Há também o argumento de que Deuteronômio 24.16 e Ezequiel 18.20 proíbem o 
julgamento de uma geração para outra. Mas outros textos mencionam julgamentos assim 
(os primogênitos do Egito; Moabe; Êx 20.5; 34.6,7; Jr 32.18). É possível, no entanto, que os 
dois textos acima se refiram à chefia biológica como base insuficiente para transmissão de 
julgamento, ao passo que os textos mencionados entre parênteses referem-se a uma base 
pactuar, adequada à transmissão do julgamento. Alternativamente, segundo a teoria 
integrada, se a natureza corrompida não é um juízo positivo de Deus, a execução de um 
castigo pelo pecado do pai realmente não ocorre. Finalmente, quem, mesmo sem 
 
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corrupção e dentro do jardim perfeito, se comportaria melhor que Adão, quanto à 
obediência aos mandamentos de Deus? E, sem dúvida, a suposta “injustiça” do pecado 
imputado é mais que contrabalançada pelo dom gratuito da salvação em Jesus Cristo, 
oferecido a todos livremente . Embora seja especulativa e não sem algumas dificuldades, 
uma teoria integrada que utilize a aliança parece explicar boa parte dos dados bíblicos e 
talvez sugira uma terceira alternativa às teorias predominantes do realismo e do 
federalismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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8 - EXISTÊNCIA E DEFINIÇÕES DO PECADO 
Como pode existir o mal, se Deus é onipotente e totalmente bom? Esta pergunta, 
juntamente com a questão correlata a respeito da origem do mal, é o fantasma que 
assombra todas as tentativas de se compreender o pecado. Antes de continuarmos este 
estudo, façamos uma distinção entre algumas formas do mal. O mal moral - ou pecado - é 
a iniqüidade cometida por criaturas dotadas de vontade. (O mal natural é a desordem e 
decadência do Universo) (calamidades naturais, algumas doenças etc.). Está ligado à 
maldição que Deus pronunciou contra a terra (Gn 3.17,18). O mal metafísico é aquele 
involuntário, resultante da finitude das criaturas (insuficiência mental e física etc.). 
A Bíblia afirma a perfeição moral de Deus (Sl 100.5; Mc 10.18) e o seu poder Mt 
19.26). Foi Ele só quem criou (Gn 1.1, 2; Jo 1.1-3), e tudo quanto Ele criou era bom (Gn 1; 
Ec 7.29). Ele não criou o mal, a que odeia (Sl 7.11; Rm 1.18). Ele não tenta, nem é tentado 
(Tg 1.13). Apesar disso, dois textos bíblicos que parecem contradizer esse fato devem ser 
considerados. Isaías 45.7 diz que Deus cria o mal (ARC). Mas ra' (“mal”) também possui um 
sentido que nada tem que ver com a moralidade (Gn 47.9) ou apresenta-se como 
antônimo de “paz” (Am 6.3). Pode significar também “desventura”, “calamidade”, 
“desgraça”, palavras que neste contexto são boas traduções. Deus, portanto, traz o 
julgamento moral, mas não o mal imoral. 
O fato de Deus endurecer ou cegar as pessoas também levanta dúvidas. Pode tratar-
se de uma “entrega” passiva em que Deus simplesmente deixa as pessoas viverem 
conforme desejam (Sl 81.12; Rm 1. 18-28; 1Tm 4-1,2) ou uma imposição ativa de 
endurecimento a pessoas que já assumiram um compromisso irrevogável com o mal (Êx 
1.8-15,21; Dt 2.30; Js 11.20; Is 6.9,10; 2Co 3.14,15; Ef 4.17-19; 2Ts 2.9,12). 
Observe o exemplo de Faraó (Êx 1.8-15,21). Ele não foi criado com o propósito de ser 
endurecido (o que pode sugerir uma leitura superficial de Romanos 9.17: “... te levantei”). 
O verbo hebraico 'amad e seu equivalente na Septuaginta (LXX), diatereõ (Êx 9.16), 
referem-se a posição ou categoria (e não à criação), fato este que está dentro do alcance 
semântico de exegeirõ (Rm 9.17). Faraó já mereceu o castigo divino quando rejeitou a 
petição de Moisés pela primeira vez (Êx 5.2). Deus, porém, o preservou, para ser 
glorificado através do rei egípcio. Inicialmente, Deus apenas predisse o endurecimento do 
coração de Faraó (Êx 4.21, heb. 'achazzeq, “tornarei forte”; Êx 7-3, heb. 'aqsheh, “tornarei 
pesado”, ou seja, difícil de ser movido). Antes de Deus agir, no entanto, Faraó endureceu 
seu próprio coração (implicitamente, Êx 1.8-22; 5.2; e explicitamente, Êx 7.13,14). O 
coração de Faraó “endureceu-se” (literalmente “tornou-se forte”), aparentemente um 
modo de reagir ao milagre que removeu a praga, e Deus disse que o coração de Faraó não 
 
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cedia (heb. Kavedh, “estar pesado”, Êx 7.22,23; 8.15,32; 9.7). Faraó, então, continuou o 
processo (Êx 9.34,35) com a ajuda e Deus (Êx 9.12; 10.1,20,27; 11.10; 14.4,8,17). 
Esse sistema está explícito em outros casos ou é compatível com eles e com a santa 
justiça de Deus (Rm 1.18). Por isso Deus pode acelerar a pecaminosidade deliberada, 
visando seus próprios propósitos (Sl 105.25), mas ospecadores continuam arcando com a 
responsabilidade (Rm 1.20). 
Deus não criou o mal, porém realmente criou tudo que existe. Assim, o mal não pode 
ter uma existência independente. O mal é a ausência ou a perversão do bem. Este fato 
pode ser ilustrado pelo sal de cozinha, que é um composto (ou mistura compacta) de duas 
matérias químicas: o sódio e o cloreto. Estes dois elementos, em separado, são altamente 
mortíferos. O sódio irrompe em chamas ao entrar em contato com a água, e o cloro é um 
veneno fatal. Assim como a alteração na composição do sal, a criação perfeita de Deus é 
mortífera quando o pecado lhe estraga o equilíbrio. Das quedas de Satanás e de Adão 
surge todo o mal. Por isso, o mal natural provém do mal moral. Todas as doenças provêm, 
em última análise, do mal, porém não necessariamente do pecado daquele que está 
enfermo ao (Jo 9.1-3), embora este possa ser o caso (Sl 107.17; Is 3.17; At 12.23). A grande 
ironia de Gênesis 1.3 é que tanto Deus quanto Satanás empregam a linguagem: Deus, num 
gesto criador, para trazer à existência a realidade e a ordem ex nihilo; e Satanás, de modo 
imitativo, para trazer engano e desordem. O mal depende do bem, e a obra de Satanás não 
passa de imitação. 
Por ter Deus a capacidade de impedir o mal (isolando a árvore, por exemplo) e não o 
ter feito, e, por saber o que aconteceria, parece que Ele permitiu que o mal surgisse (isto é 
muito diferente de causá-lo). Segue-se que o Deus Santo viu que do permitir o mal surgiria 
um maior bem. Eis algumas sugestões quanto à natureza desse bem: 
 Que a humanidade amadureceria através do sofrimento (cf. Hb 5.7-9); 
 Que as pessoas poderiam amar a Deus livre e sinceramente, uma vez que tamanho 
amor só pode existir onde houver a possibilidade do ódio e do pecado; 
 Que as maneiras como Deus se expressa seriam impossíveis de outra forma (tais 
como seu ódio ao mal, Rm 9.22, e seu amor gracioso aos pecadores, Ef 2.7). Todos 
esses pontos de vista têm sua validade. 
Descrever o pecado é uma tarefa difícil. Talvez a dificuldade provenha da sua 
natureza parasítica, posto que não tem existência em separado, mas é condicionado por 
aquilo a que se agarra. Mesmo assim, delineia-se nas Escrituras uma imagem - algo 
camaleônica - da existência derivada do pecado. 
Há muitas sugestões a respeito da essência do pecado: a incredulidade, o orgulho, o 
egoísmo, a rebelião, a corrupção moral, a luta entre a carne e o espírito, a idolatria e 
 
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combinações entre todos esses itens. Embora todas essas idéias sejam informativas, 
nenhuma delas caracteriza a totalidade dos pecados (os pecados da ignorância, por 
exemplo) nem explica adequadamente o pecado como natureza (a pecaminosidade). De 
modo mais significativo, todas definem o pecado. em termos de pecadores, que são 
muitos, variados e imperfeitos. Parece preferível definir o pecado como algo cometido 
contra Deus. Somente Ele é uno, consistente e absoluto, e a qualidade perversa e iníqua do 
pecado é revelada contra o pano de fundo de sua santidade. 
Talvez a melhor definição do pecado seja a encontrada em 1 João 3.4: “O pecado é 
iniqüidade”. Seja o que mais o pecado for, ele é, no seu âmago, uma violação da lei de 
Deus. E, já que “toda a iniqüidade *gr. adikia, literalmente “injustiça”+ é pecado” (1Jo 5.17), 
toda injustiça quebra a lei de Deus. Por isso, Davi confessa: “Contra ti, contra ti somente 
pequei” (Sl 51.4; cf. Lc 15. 18,2 1). Além disso, a transgressão provoca a separação entre a 
pessoa e o Deus da vida e da santidade, que necessariamente resulta na corrupção 
(inclusive a morte) da natureza humana finita e dependente. Logo, essa definição do 
pecado é bíblica, exata, e abrange todos os tipos do pecado; explica os efeitos do pecado 
sobre a natureza; e tem Deus (e não a humanidade) como ponto de referência. Isto é, 
reconhecemos a verdadeira natureza do pecado ao observarmos seu contraste com Deus, 
e não por meio de comparar seus efeitos entre os seres humanos. 
Embora os crentes não estejam debaixo da lei mosaica, ainda existem padrões 
objetivos, passíveis de serem violados (Jo 4.21; 1Jo 5.3; os muitos regulamentos nas 
epístolas). Por causa da incapacidade humana de cumprir a Lei, somente um 
relacionamento com Cristo pode suprir a expiação para apagar o pecado e o poder para 
viver uma vida segundo a vontade de Deus. O crente que ainda peca precisa confessar e, 
se possível, fazer restituição, não visando a absolvição, mas para reafirmar seu 
relacionamento com Cristo. É essa fé que sempre se contrasta com a “justiça segundo as 
obras” (Hc 2.4; Rm 1.17; Gl 3.11; Hb 10.38), de modo que tudo quanto não é de fé é 
pecado (Rm 14.23; cf. Tt 1.15; Hb 11.6). Por isso, o pecado - nos crentes ou nos incrédulos, 
antes ou depois da crucificação - é sempre a violação da Lei, e a única solução é a fé em 
Cristo. 
Não se define o pecado por sentimentos, nem por filosofias, mas somente por Deus, 
na sua lei, no seu desejo e na sua vontade. É nas Escrituras que descobrimos esse fato de 
modo mais concreto. Embora, na melhor das hipóteses, o coração do crente (no seu 
sentido mais lato) perceba o que é o pecado (Rm 2.13 - 15; 1Jo 3.21), sua sensibilidade 
espiritual para com o bem e o mal precisa ser aprimorada (Hb 5.14). O coração tem sido 
desesperançosamente corrupto (Jr 17.9) e pode ser cauterizado (1Tm 4.2). Pode, também, 
sentir falsa culpa (1Jo 3.20). Assim, os sentimentos subjetivos jamais devem ser colocados 
acima da Palavra objetiva e escrita de Deus. Nem por isso, entretanto, devemos deixar de 
ser espiritualmente sensíveis. 
 
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A idéia do pecado como uma violação da lei está embutida na própria linguagem das 
Escrituras. O grupo de palavras hebraicas representado por chatta’th (o assunto do pecado 
tem a idéia básica de “errar o alvo” Jz 20.16; Pv 19.2). Essa idéia de alvo - ou padrão 
objetivo - permite a referência aos pecados deliberados (Êx 10.17; Dt 9.18; Sl 25.7), a uma 
realidade externa do pecado (Gn 4.7), a um padrão sistemático do pecado (Gn 18.20; 1Rs 
8.36), aos erros (Lv 4.2) e às ofertas exigidas por causa dos pecados (Lv 4.8). 'Awon 
(“iniqüidade”), proveniente da idéia de ser “torto” ou “pervertido”, refere-se a pecados 
graves e muitas vezes forma um paralelo com chatta'th (Is 43.24). O verbo 'avar fala em ir 
além de uma fronteira e, portanto (metaforicamente), da transgressão (Nm 14.41; Dt 
17.2). Resha' pode referir-se a coisa errada (Pv 11.10) ou à injustiça (Pv 28.3,4). 
Um grupo de palavras gregas representado por hamartia é usado para o conceito 
genérico de pecado no Novo Testamento. Tem o sentido básico de “errar o alvo” (assim 
como em chatta’th), e é um termo amplo, originalmente sem conotação moral. No Novo 
Testamento, porém, refere-se a pecados específicos (Mc 1.5; At 2.38; Gl 1.4; Hb 10.12) e 
ao pecado como uma força (Rm 6.6,12; Hb 12.1). Anomia (gr. nomos, “lei”, mais o prefixo 
negativo a - “sem lei”, “ilegalidade”, “iniqüidade”) e seus termos correlatos representam 
provavelmente a linguagem mais contundente para o pecado. O adjetivo e o advérbio 
talvez se refiram àqueles que não têm a Torá (Rm 2.12; 1Co 9.21), mas a palavra 
usualmente identifica qualquer pessoa que violou alguma lei divina (Mt 7.23; 1Jo 3.4). E, 
também, “injustiça” de 2 Tessalonicenses 2.7-12. 
Outro termo para o pecado, adikia, é mais literalmente traduzido por “ilegalidade” 
(mais comumente “iniqüidade”, em nossas Bíblias) e varia desde um mero engano até 
violações grosseiras da lei. É grande injustiça (2Pe 2.13-15) e contrasta-se com a justiça 
(Rm 6.13).Parabasis (“passar além”, “transgressão”) e seus derivados indicam o violar um 
padrão. A palavra descreve a Queda (Rm 5.14; cf 1Tm 2.14), a transgressão da lei como 
pecado (Tg 2.9,11) e a perda do apostolado de Judas (At 1.25). Asebeia (“impiedade” - o 
prefixo negativo a com sebomai *“reverenciar”, “adorar” etc.+), sugere uma insensibilidade 
espiritual que resulta em pecado grosseiro (Jd 4) e grande condenação (1Pe 4.18; 2Pe 
2.5;3.7). 
A idéia do pecado como quebra de lei e como desordem evidencia um contraste 
marcante com o Deus pessoal que, pela sua palavra, trouxe à existência um mundo ordeiro 
e bom. A própria idéia de uma personalidade (humana ou divina) exige ordem. A ausência 
desta dá origem ao termo técnico “desordem da personalidade”. 
 
 
 
 
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9 - CARACTERÍSTICAS DO PECADO 
Muitas das facetas do pecado estão refletidas nas características a seguir, tiradas do 
registro bíblico. 
O pecado como incredulidade, ou falta de fé, é visto na Queda, na rejeição da 
humanidade à revelação geral (Rm 1.18; 2.2) e naqueles condenados à segunda morte (Ap 
21.8). Está estreitamente vinculado à desobediência de Israel no deserto (Hb 3.18,19). A 
palavra grega apistia (“incredulidade”, At 28.24) combina o prefixo negativo a com pistis 
(“fé”, “confiança”, “fidelidade”). Tudo o que não é de fé é pecado (Rm 14.23; Hb 11.6). A 
incredulidade é o antônimo da fé salvífica (At 13.39; Rm 10.9) e leva à condenação eterna 
(Jo 3.16; Hb 4.6,11). 
O orgulho é a auto-exaltação. Ironicamente, é tanto o desejo de ser semelhante a 
Deus (como na ocasião em que Satanás tentou Eva) quanto a rejeição a Ele (Sl 10.4). A 
despeito do terrível custo, não tem valor diante de Deus (Is 2.11) e é por Ele odiado (Am 
6.8). O orgulho engana (Hb 3) e leva à destruição (Pv 16.18; Ob 4; Zc 10.11). Ajudou a 
tornar a incredulidade de Cafarnaum pior que a depravação de Sodoma (Mt 11. 23; Lc 
10.15), e é a antítese da humildade de Jesus (Mt 11.29; 20.28; cf. Fp 2.3-8). No Juízo Final, 
os orgulhosos serão humilhados, e os humildes, exaltados (Mt 23.1-12; Lc 14.7-14). 
Embora apresente um lado positivo, o hebraico ga’on (Am 6.8) e o grego huperêphanos (Tg 
4.6) tipicamente denotam uma arrogância profunda e permanente. 
Intimamente relacionado ao orgulho, o desejo malsão - ou mal orientado - e seu 
egocentrismo são pecado e motivam ao pecado (1Jo 2.15-17). Epithumia (“desejo”, Tg 4.2), 
usado num mau sentido, leva ao assassínio e à guerra, e pleonexia, a apaixonada “cobiça” 
ou o “desejo de ter mais”, é equiparada à idolatria. 
Conseqüentemente, são condenados todos os desejos iníquos (Rm 6.12). Quer se 
trate da desobediência de Adão ou da falta de amor no crente (1Co 14.15,21; 15.10), todo 
pecado consciente é rebelião contra Deus. Em hebraico, pesha' envolve a “rebelião” 
deliberada e premeditada (Is 59.13). A rebelião também é refletida em marah (“ser 
refratário, obstinado”, Dt 9.7) e em sarar (“ser teimoso”, Sl 78.8), e no grego apeitheia 
(“desobediência”, Ef 2.2), apostasia (“apostasia” ou “abandono, rebelde, traição”, 2Ts 2.3) 
e parakoê (“recusa de ouvir”, “desobediência”, 2Co 10.6). E assim, a rebelião é equiparada 
ao pecado da adivinhação, que busca orientação em outras fontes que não Deus ou sua 
Palavra (1Sm 15.23). 
O pecado, que provém do “pai da mentira” (Jo 8.44), é a antítese da verdade de Deus 
(Sl 31.5; Jo 14.6; 1Jo 5.20). Desde o princípio tem sido enganoso nas suas promessas, 
incitando pessoas enganadas a cometer mais prevaricação (Jo 3.20; 2Tm 3.13). Pode 
 
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outorgar prazer dramático, mas sempre temporário (Hb 11.25). O hebraico ma'al 
(“infidelidade”, “engano”, Lv 26.40) e o grego paraptõma (“passo em falso”, 
“transgressão”, Hb 6.6), podem igualmente significar traição devida à incredulidade. 
O lado objetivo da mentira que é o pecado é a distorção real do bem. “Iniqüidade” 
(‘awon), que provém da idéia de torcido ou pervertido, representa esse conceito (Gn 
19.15; Sl 31.10; Zc 3.9). Vários compostos de strephõ (“virar”- apo-, Lc 23.14; dia-, At 
20.30; meta-, Gl 1.7; ek-, Tt 3.11) também apresentam o mesmo sentido em grego, assim 
como skolios (“Perverso”, “inescrupuloso”, At 2.40). 
De modo genérico, o conceito bíblico do mal abrange tanto o pecado quanto o seu 
resultado. O hebraico ra' apresenta uma ampla variedade de usos: animais inadequados 
para o sacrifício (Lv 27.10), as dificuldades da vida (Gn 47.9), a árvore proibida do Éden (Gn 
2.17), as imaginações do coração (Gn 6.5), atos iníquos (Êx 23.2) , pessoas perversas (Gn 
38.7), a retribuição (Gn 31.29) e o justo juízo de Deus (Jr 6.19). O grego, kakos tipicamente 
designa coisas más ou desagradáveis (At 28.5). No entanto, kakos e os seus compostos 
podem ter um significado mais amplo, moral, que designa pensamentos (Mc 7.21), ações 
(2Co 5.10), pessoas (Tt 1.12) e o mal como uma força (Rm 7.21; 12.21). Ponêria e a sua 
classe de palavras desenvolvem conotações forte, mente éticas no Novo Testamento, 
inclusive Satanás como o “maligno” (Mt 13.19; ver também Mc 4.15; cf. 1Jo 2.13) e o mal 
coletivo (Gl 1.4). 
Os pecados especialmente repugnantes para Deus são designados como detestáveis 
(“abominações”). To'evah (“coisa abominável, detestável, ofensiva”) pode referir-se aos 
ímpios (Pv 29.27), ao transvestismo (Dt 22.5), ao homossexualismo (Lv 18.22), à idolatria 
(Dt 7.25,26), ao sacrifício infantil (Dt 12.31) e a outros pecados graves (Pv 6.16-19). A 
palavra grega correspondente, bdelugma, fala de grande hipocrisia (Lc 16.15), da 
profanação final do Lugar Santo (Mt 24.15; Mc 13.14) e do conteúdo da taça nas mãos da 
prostituta Babilônia (Ap 17.4). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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AULA 
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10 - FORÇA E EXTENSÃO DO PECADO 
Conforme indicam a totalidade deste capítulo e o estudo sobre Satanás, uma força 
maligna real e pessoal está operando no Universo, contra Deus e contra o seu povo. Esse 
fato sugere a importância crucial do exorcismo, da guerra espiritual e de coisas 
semelhantes, mas sem o histerismo pouco religioso que tão freqüentemente acompanha 
esses esforços. 
O pecado não consiste apenas de ações isoladas, mas também é uma realidade, ou 
natureza, dentro da pessoa (ver Ef 2.3). O pecado, como natureza, indica a “sede” ou a sua 
“localização” no interior da pessoa, como a origem imediata dos pecados. Inversamente, é 
visto na necessidade do novo nascimento, de uma nova natureza a substituir a velha, 
pecaminosa (Jo 3.3-7; At 3.19; 1Pe 1.23). Esse fato é revelado na idéia de que a 
regeneração só pode acontecer de fora para dentro da pessoa (Jr 24.7; Ez 11.19; 36.26,27; 
37-1-14; 1Pe 1.3). 
O Novo Testamento relaciona a natureza pecaminosa com sarx (a “carne”). Embora a 
palavra originalmente se referisse ao corpo material, Paulo (inovando) equiparou-a à 
natureza pecaminosa (Rm 7.5-8.13; Gl 5.13,19). Neste sentido, sarx é o centro dos desejospecaminosos (Rm 13.14; Gl 5. 16,24; Ef 2.3; 1Pe 4.2; 2Pe 2. 10; 1Jo 2.16). O pecado e as 
paixões surgem da carne (Rm 7.5; Gl 5.17,21), onde não habita nenhuma coisa boa (Rm 
7.18), e os pecadores mais sórdidos dentro da igreja são entregues a Satanás, “para 
destruição da carne”, possivelmente uma enfermidade que os leve ao arrependimento 
(1Co 5.5; cf. 1Tm 1.20). Sõma (“corpo”) é usado de modo semelhante apenas em algumas 
ocasiões (Rm 6.6; 7.24; 8.13; Cl 2.11). O corpo físico não é considerado um mal em si 
mesmo. 
O hebraico lev, ou levav (“coração”, “mente” ou “entendimento”), indica a essência 
da pessoa. O coração do homem pode ser pecaminoso (Gn 6.5; Dt 15.9; Is 29.13) acima de 
todas as coisas (Jr 17.9). Pois isso precisa de renovação (Sl 51.10; Jr 31.33; Ez 11.19). Dele 
fluem as más intenções (Jr 3.17; 7.24), e todas as suas inclinações são más (Gn 6.5). O 
grego kardia (“coração”) também indica a vida interior e o próprio-eu. Tanto o mal quanto 
o bem são dele provenientes (Mt 12.33-35; 15.18; Lc 6.43-45). Pode significar a pessoa 
essencial (Mt 15.19; At 15.9; Hb 3.12). Kardia pode ser duro (Mc 3.5; 6.52; 8.17; Jo 12.40; 
Rm 1.21; Hb 3.8). Assim como sarx, kardia pode ser a origem de desejos errados (Rm 1.24). 
Da mesma forma a mente (nous) pode ser má nas suas operações (Rm 1.28; Ef 4.17; Cl 
2.18; 1Tm 6.5; 2Tm 3.8; Tt 1.15) e necessitar de renovação (Rm 12.2). 
O pecado luta contra o Espírito. A natureza pecaminosa está totalmente contrária ao 
Escrito e além do controle da pessoa (Gl 5.17; cf. Rm 7.7-25). E morte para o ser humano 
(Rm 8.7,8; 1Co 15.50). Dela provém epithumia, a inteira gama de desejos malignos (Rm 
 
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1.24; 7.8; Tt 2.12; 1Jo 2.16). O pecado até mesmo habita dentro da pessoa (Rm 7.17-24; 
8.5-8), como um princípio ou lei (Rm 7.21,23,25). 
Os pecados propriamente ditos começam na natureza pecaminosa, freqüentemente 
como resultado de tentações mundanas ou sobrenaturais (Tg 1.14,15; 1Jo 2.16). Uma das 
características mais insidiosas do pecado é a de dar ainda vazão a mais pecado. O pecado, 
por ser crescimento maligno, avoluma-se por conta própria a proporções fatais, tanto na 
intensidade, a não ser quando freado pela purificação no sangue de Cristo. A maneira 
como o pecado reproduz a si mesmo pode ser vista na Queda (Gn 3.1-13), na maneira de 
Caim descer da inveja ao homicídio (Gn 4-1-15) e na concupiscência de Davi, que deu à luz 
o adultério, o assassínio e gerações de sofrimentos (2Sm 11 e 12). Romanos 1.18-32 relata 
a caminhada descendente da humanidade, desde a rejeição à revelação até sua 
reprovação por Deus e a conseqüente perversidade total. Semelhantemente, os “sete 
pecados mortais” (um catálogo antigo de vícios contrastados com virtudes paralelas) têm 
sido considerados não somente pecados radicais, como também uma seqüência 
descendente de pecados. 
O processo de pecado se alimentando de pecado é levado a efeito através de muitos 
mecanismos. O ambicioso autor da iniqüidade, Satanás, é o antagonista principal desse 
drama maligno. Como governante da presente era (Jo 12.31; 14.30; 16.11; Ef 2.2), ele tem 
procurado constantemente enganar, tentar, peneirar e devorar (Lc 22.31-34; 2Co 11.14; 
1Ts 3.5; 1Pe 5.8), até mesmo por incitamento direto ao coração (1Cr 21.1). A inclinação 
natural da carne, que ainda aguarda a redenção plena, também desempenha o seu papel. 
As tentações do mundo apelam ao coração (Tg 1.2-4; 1Jo 2.16). O pecado muitas vezes 
requer mais pecados para alcançar o seu alvo elusivo, assim como aconteceu, a Caim, que 
tentou esconder de Deus o seu crime (Gn 4.9). O prazer do pecado (Hb 11.25,26) pode 
reforçar o próprio pecado. Os pecadores provocam as suas vítimas a reagir de modo 
pecaminoso (observe as exortações contrárias: Pv 20.22; Mt 5.38-48; 1Ts 5.15; 1Pe 3.9). Os 
pecadores seduzem outras pessoas ao pecado (Gn 3.1-6; Êx 32.1; 1Rs 21.25; Pv 1.10-14; 
Mt 4.1-11; 5.19; Mc 1.12,13; Lc 4.1-13; 2Tm 3.6-9; 2Pe 2.18,19; 3.17; 1Jo 2.26). Os 
pecadores encorajam outros pecadores ao pecado (Sl 64.5; Rm 1.19-32). Os indivíduos 
endurecem seus corações contra Deus, procurando evitar a aflição mental do pecado (1Sm 
6.6; Pv 28.14; Rm 1.24,26,28; 2.5; Hb 3.7-19; 4.7). Finalmente, o endurecimento do 
coração por Deus pode facilitar esse processo. 
Nunca se deve confundir tentação com pecado. Jesus sofreu maiores tentações (Mt 
4.1-11; Mc 1.12,13; Lc 4.1-13; Hb 2.18; 4.15) e permaneceu sem pecado (2Co 5.21; Hb 
4.15; 7.26-28; 1Pe 1.19; 2.22; 1Jo 3.5; e as provas da divindade). Além disso, se a tentação 
fosse pecado, Deus não providenciaria socorro para ajudar a suportá-la (1Co 10.13). 
Embora Deus realmente submeta à provas os que são seus (Gn 22.1-14; Jo 6.6) e 
obviamente permita a tentação (Gn 3), Ele mesmo não tenta (Tg 1.13). Na prática, a Bíblia 
 
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admoesta a respeito do perigo da tentação e da necessidade de evitá-la e livrar-se dela (Mt 
6.13; Lc 11.4; 22.46; 1Co 10.13; 1Tm 6.6-12; Hb 3.8; 2Pe 2.9). 
A Bíblia contém abundantes descrições de atos pecaminosos e advertências contra 
eles, inclusive catálogos de vícios (tipicamente em Rm 1.29-31; 13.13; 1Co 5.10,11; 6.9,10; 
2Co 12.20,21; Gl 5. 19-21; Ef 4.31; 5.3-5; Cl 3.5,8; Ap 21.8; 22.15). Essas listas indicam a 
gravidade do pecado e demonstram sua incrível variedade. No entanto, por si só, podem 
incitar o desespero mórbido em razão de pecados passados ou futuros. Mais grave ainda, 
podem ser entendidas no sentido de reduzir o pecado a meras ações, sem se levar em 
conta sua profundidade como lei, natureza e força dentro da pessoa e do Universo. Nesse 
caso, a pessoa acabaria vendo apenas os sintomas, sem tomar consciência da própria 
enfermidade. 
As Escrituras descrevem muitas categorias de pecados. Podem ser cometidos por 
incrédulos ou por crentes, sendo que estes dois grupos são lesados pelos pecados e 
precisam da graça. Os pecados podem ser cometidos contra Deus, contra o próximo, 
contra o próprio-eu ou contra alguma combinação destes. Em última análise, porém, todo 
o pecado é contra Deus (Sl 51.4; cf. Lc 15.18,21). O pecado pode ser confessado e 
perdoado. Não sendo perdoado, continuará exercendo o seu domínio sobre a pessoa. A 
Bíblia ensina que uma atitude pode ser tão pecaminosa quanto um ato. Por exemplo, a 
fúria contra alguém pode ser tão pecaminosa quanto o assassinato, e um olhar de 
concupiscência, tão pecaminoso quanto o adultério (Mt 5.21,22,27,28; Tg 3.14-16). A 
atitude pecaminosa inutiliza a oração (Sl 66.18). O pecado pode ser ativo ou passivo, ou 
seja, a prática do mal ou a negligência à prática do bem (Lc 10.30-37; Tg 4.17). Os pecados 
sexuais físicos são lastimáveis para os cristãos, porque abusam o corpo do Senhor na 
pessoa do crente e porque o corpo é o templo do Espírito Santo (1Co 6.12-20). 
Os pecados podem ser cometidos por ignorância (Gn 20; Lv 5.17-19; Nm 35.22-24; Lc 
12.47-48; 23.34). O salmista, com muita sabedoria, pede ajuda para discerni-los (Sl 19.12). 
Parece que aqueles que só possuem a lei da natureza (Rm 2.13-15) cometem pecados da 
ignorância (At 17.30). Todas as pessoas são, até certo grau, responsáveis e sem desculpa 
(Rm 1.20), e a ignorância deliberada, como a de Faraó, proveniente do contínuo 
endurecimento do próprio coração, é condenada vigorosamente. O pecado secreto é tão 
iníquo quanto o praticado em público (Ef 5.11-13). Assim acontece especialmente no caso 
da hipocrisia, uma forma de pecado secreto no qual a aparência exterior serve de máscara 
à realidade interior (Mt 23.1-33; note o v. 5). Os pecados cometidos abertamente, no 
entanto,tendem à presunção e à subversão da comunidade (Tt 1.9-11; 2Pe 2.1,2). Muitos 
rabinos acreditavam que o pecado secreto também era, na prática, uma negação da 
onipresença de Deus.” 
 
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Os pecados cometidos por fraqueza têm origem no desejo dividido, usualmente após 
uma luta contra a tentação (Mt 26.36-46; Mc 14.32-42; Lc 22.31-34,54,62; talvez Rm 7.14-
25). Os pecados presunçosos são cometidos com intenção profundamente iníqua, ou “à 
mão levantada” (Nm 15.30). Os pecados de fraqueza constituem menor afronta a Deus 
que os presunçosos. Indicam esse fato a severidade com que as Escrituras consideram os 
pecados presunçosos (Êx 21.12-14; Sl 19.13; Is 5.18-25; 2Pe 2.10) e a ausência de expiação 
para eles na lei mosaica (não no Evangelho, porém). Mesmo assim, a distinção entre 
fraqueza e presunção jamais deve ser usada como desculpa para tratar levianamente 
qualquer pecado. 
A teologia católica romana faz distinção entre pecados veniais (lat. venia - “favor”, 
“perdão”, “bondade”) e pecados mortais. Nos pecados veniais (assim como nos de 
fraqueza), a vontade, embora consinta ou concorde com o ato do pecado, recusa-se a 
alterar sua identidade piedosa fundamental. Os pecados veniais podem levar aos pecados 
mortais. Entretanto, estes envolvem uma reorientação radical da pessoa, que leva a um 
estado de rebelião contra Deus e perda da salvação, embora a possibilidade do perdão 
permaneça. A verdadeira distinção entre esses tipos de pecado não parece achar-se na sua 
própria natureza, mas na natureza da salvação. O catolicismo acredita não serem os 
pecados inerentemente veniais, mas que se tornam em tais porque os fiéis possuem uma 
retidão que, em grande medida, mitiga o efeito dos pecados menores. Nessa qualidade, 
não são diretamente prejudiciais ao relacionamento entre o fiel e Deus e, tecnicamente, 
não exigem a confissão. Esse conceito não é bíblico (Tg 5.16; 1Jo 1.9). 
Além de todos os demais pecados, o próprio Jesus ensinava que há um pecado sem 
perdão (Mt 12.22-37; Mc 3.20-30; Lc 12.1-12). Muito se tem debatido a respeito da 
natureza desse “pecado imperdoável” ou “blasfêmia contra o Espírito Santo”. O texto 
sugere vários critérios que toda análise precisa levar em conta. 
Deve ter alguma referência ao Espírito Santo (Mt 12.31; Mc 3.29; Lc 12.10). No 
entanto, a blasfêmia contra Deus ou contra outros membros da Trindade (Mt 12.31-32; Mc 
3.28; Lc 12.10; At 26.11; Cl 3.8; 1Tm 1.13,20) é perdoável. Não pode ser um pecado que a 
Bíblia aliste como alcançado com o perdão. Tais pecados incluem aqueles cometidos antes 
de se conhecer a Deus - a possessão demoníaca (Lc 8.2-3), a crucificação do Senhor, a 
impiedade de duração quase vitalícia, a blasfêmia (1Tm 1.13), o compelir os crentes a 
blasfemar - e os cometidos depois de se ter conhecimento de Deus. Além disso, o pecado 
imperdoável não inclui negar o Deus dos milagres (Êx 32), voltar à idolatria a despeito de 
grandes milagres (Êx 32), assassinato (2Sm 11 e 12), imoralidade grosseira (1Co 5.1-5), 
negar Jesus (Mt 26.69-75), ver os milagres de Jesus e considerá-lo “fora de si” (Mc 3.21, 
imediatamente antes do seu ensino acerca da blasfêmia) e nem a volta à Lei depois de se 
conhecer a graça (Gl 2.11-21). 
 
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Esse pecado deve ser forçosamente blasfêmia (gr. blasphêmia), a calúnia mais vil 
contra Deus. Na LXX, blasphêmia freqüentemente descreve o ato de negar o poder e a 
glória de Deus, que é consistente com a atitude dos líderes judaicos de atribuir os milagres 
de Jesus ao diabo. O pecado da blasfêmia deve ser comparável aos dos líderes judaicos ao 
acusarem Jesus de ter um espírito maligno (Mc 3.30). Não pode ser meramente negar o 
testemunho dos milagres, pois Pedro negou Jesus (Mt 26.69-75) e Tomé duvidou dEle (Jo 
20.24-29) depois de verem muitos milagres, mas os dois foram perdoados. 
Devido à explícita afirmação de Jesus de que todos os demais pecados podem ser 
perdoados (Mt 12.31; Mc 3.28), o pecado contra o Espírito Santo precisa ser comparado 
com Hebreus 6.4-8; 10.26-31; 2Pe 2.20-22; e 1 João 5.16,17 - que também descrevem o 
pecado imperdoável. Notavelmente, Hebreus 10.29 liga esse pecado com o ultraje ao 
Espírito Santo. Parece, também, que podem ser incluídos o endurecimento do coração e a 
presunção (2Ts 2.11,12). É bom acrescentar que tal pecado não envolve necessariamente a 
presença do Jesus encarnado nem a dos apóstolos, pois eles não foram vistos por ninguém 
no Antigo Testamento nem (mais provavelmente) pelos destinatários de Hebreus, 2 Pedro 
e 1 João. Assim, o pecado imperdoável não pode ser a falta de correspondência às 
manifestações milagrosas do Jesus encarnado ou dos apóstolos. Nem pode tratar-se de 
uma negação temporária à fé, que as Escrituras consideram perdoável. 
O pecado imperdoável é melhor definido como a rejeição deliberada e derradeira da 
obra especial do Espírito Santo (Jo 16.7-11), que testemunha diretamente ao coração a 
respeito de Jesus como Senhor e Salvador, resultando na recusa total de crer. Por isso a 
blasfêmia contra o Espírito Santo não é uma indiscrição momentânea, mas uma disposição 
definitiva da vontade, embora as declarações de Jesus sugiram que possa manifestar-se 
num ato específico. Isto concorda com a avaliação de João de que os crentes não podem 
continuar pecando (1Jo 3.6,9). A preocupação sincera indica que o pecado imperdoável 
não ocorreu. Tal preocupação, no entanto, não é mensurada nas emoções ou na depressão 
suicida (Mt 27.3-5; talvez Hb 12.16,17), antes em uma renovada busca por Deus, em fé e 
dependência dele. As passagens em Hebreus exemplificam este inabalável ainda que 
delicado equilíbrio pastoral. 
A Bíblia admite diferentes graus de pecado. Esse fato é algumas das categorias de 
pecado (já citadas) e nos diferentes julgamentos divinos (Mt 11.24; Mc 12.38-40; Lc 10.12; 
12.47,48; Jo 19.11). Mas a Bíblia também ensina o mínimo pecado cometido torna a 
pessoa plenamente pecadora (Dt 27.26;28.1; Gl 3.10; Tg 2.10). A discrepância aparente é 
resolvida pelo fato de que tanto o pecado mais insignificante quanto o mais hediondo são 
suficientes para levar à condenação eterna. Mesmo assim, pecados mais graves 
usualmente têm implicações mais significativas, não somente para as pessoas contra quem 
foram cometidos mas também para o pecador, que assim se afasta cada vez mais da 
presença de Deus. 
 
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A Bíblia ensina que somente Deus e os seres espirituais não-caídos (como os anjos) 
não possuem a mácula do pecado. A idéia de que os povos antigos viviam uma vida 
simples e quieta é desmentida pela antropologia, que revela um lado escuro em todas as 
sociedades humanas. Até mesmo as explicações evolucionárias que a teologia liberal 
oferece a respeito do pecado reconhecem a universalidade deste. 
O pecado contamina o mundo dos espíritos. A depravação de Satanás (Jó 1.6-2.6), 
sua queda (Lc 10.18 e Ap 12.8,9, com suas interpretações), a “guerra” no céu (Dn 10.13; Ap 
12.7) e referências aos espíritos maus ou impuros (2Co 12.7; Ef 6.10-18; Tg 4.7) dão 
testemunho disso. O pecado tem afetado o Universo além do escopo da ciência física. 
As Escrituras também ensinam que todo ser humano, individualmente, é pecaminoso 
em algum sentido. Desde os tempos no Éden, o pecado tem ocorrido dentro de grupos. O 
pecado é claramente encorajado pelas atividades em grupo. A sociedade contemporânea é 
uma sementeirade tendências baseadas em capacidade (desde a vida embrionária), sexo, 
raça, antecedentes étnicos, religião, preferência sexual e até mesmo em posição política. 
Assim como o pecado se achava em Israel, também há pecado na Igreja. Jesus o 
previu (Mt 18.15-20), e as Epístolas dão testemunho de sua presença (1Co 1.11; 5.1,2; Gl 
1.6; 3.1; Jd 4-19). A Igreja sem mácula nem ruga não será uma realidade antes da segunda 
vinda de Jesus (Ef 5.27; Ap 21.27). 
As Escrituras ensinam que os efeitos do pecado se encontram até mesmo na criação 
não-humana. A maldição de Gênesis 3.17,18 marca o início desse mal, e Romanos 8.19-22 
declara o estado desordenado da natureza. A criação geme, esperando a consumação. A 
palavra grega mataiotês (“frustração”, “vazio”, Rm 8.20) descreve a inutilidade de um 
objeto totalmente separado de seu propósito original e sintetiza a futilidade do estado 
presente do próprio Universo. O pensamento divino aqui pode abranger tudo, desde 
plantas e animais a quarks e galáxias. 
A extensão do pecado tem limitação cronológica. Antes da criação e durante um 
período posterior não especificado, o pecado não existia, e tudo era bom. Entretanto, não 
somente a lembrança mas também a esperança cristã conhece um futuro em que, 
finalmente, o pecado e a morte já não existem (Mt 25.41; 1Co 15.25,26,51-56; Ap 
20.10,14,15). 
 
 
 
 
 
 
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11 - CONSEQUÊNCIAS DO PECADO 
O pecado, por sua própria natureza, é destrutivo. Já descrevemos boa parte dos seus 
efeitos. Mesmo assim, é necessário aqui um breve resumo. 
O estudo das conseqüências do pecado devem considerar a culpa e o castigo. Há 
vários tipos de culpa (heb. 'asham, Gn 26.10; gr. enochos, Tg 2.10). A culpa individual ou 
pessoal pode ser distinguida da comunitária, que pesa sobre as sociedades. A culpa 
objetiva refere-se à transgressão real, quer posta em prática pelo culpado, quer não. A 
culpa subjetiva refere-se à sensação de culpa numa pessoa, que pode ser sincera e levar ao 
arrependimento (Sl 51; At 2.40- 47; cf Jo 16.7-11). Pode, também, ser insincera (com a 
aparência externa de sinceridade), mas ou desconhece a realidade do pecado (e só 
corresponde quando apanhada em flagrante e exposta à vergonha e castigada, etc.) ou 
evidencia uma mera mudança temporária e externa, sem uma reorientação real, 
duradoura e interna (por exemplo, Faraó). A culpa subjetiva pode ser puramente 
psicológica na sua origem e provocar muitas aflições sem, porém, fundamentar-se em 
qualquer pecado real (1Jo 3.19,20). 
A penalidade, ou castigo, é o resultado justo do pecado, infligido por uma autoridade 
aos pecadores e fundamentado na culpa destes. O castigo natural refere-se ao mal natural 
(indiretamente da parte de Deus) incorrido por atos pecaminosos (como a doença venérea 
provocada pelos pecados sexuais e a deterioração física e mental provocada pelo abuso de 
substâncias). O castigo positivo é infligido sobrenatural e diretamente por Deus. O pecador 
é fulminado, etc. 
Os possíveis propósitos do castigo são relacionados a seguir. 
1. A retribuição ou a vingança pertencem exclusivamente a Deus (Sl 94.1; Rm 12.19); 
2. A expiação traz a restauração do culpado (esta realizada em nosso favor pela 
expiação vicária oferecida por Cristo); 
3. O julgamento leva o culpado a dispor-se a restituir o que foi tirado ou destruído, e 
assim pode ser comprovada a obra que Deus realizou numa vida (Êx 22.1; Lc 19.8); 
4. A correção influencia o culpado a não pecar no futuro. Esta é uma expressão do 
amor de Deus (Sl 94.12; Hb 12.5-17); 
5. O castigo do culpado serve para dissuadir a outros do mesmo comportamento. A 
dissuasão é usada freqüentemente nas advertências divinas (Sl 95.8-11; 1Co 
10.11). 
Os resultados do pecado são muitos e complexos. Podem ser considerados em 
termos de quem e o que é afetado por ele. 
 
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O pecado tem seu efeito sobre Deus. Embora sua justiça e sua onipotência não sejam 
prejudicadas pelo pecado, as Escrituras dão testemunho de seu ódio por ele (Rm 1. 18), de 
sua paciência para com os pecadores (Êx 34.6; 2Pe 3.9), de sua, busca pela humanidade 
perdida (Is 1.1 8; 1Jo 4.9-10,19), de sua mágoa por causa do pecado (Os 11.8), de sua 
lamentação pelos perdidos (Mt 23.37; Lc 13.34) e de seu sacrifício em favor da salvação da 
humanidade (Rm 5.8; 1Jo 4:14; Ap 13.8). De todas as revelações bíblicas a respeito do 
pecado, estas talvez sejam as mais humilhantes. 
Todas as interações de uma sociedade humana outrora pura estão pervertidas pelo 
pecado. As Escrituras protestam, repetidas vezes, contra as injustiças praticadas pelos 
pecadores contra os “inocentes” (Pv 4.16; sociais, Tg 2.9; econômicas, Tg 5.1-4; físicas, Sl 
11.5; etc.). 
O mundo físico também sofre os efeitos do pecado. A decadência natural do pecado 
contribui para os problemas da saúde e do meio ambiente. 
Os efeitos mais variados do pecado podem ser notados na mais complexa criação de 
Deus: a pessoa humana. Ironicamente, o pecado traz benefícios (segundo as aparências). O 
pecado pode até mesmo produzir uma alegria transitória (Sl 10.1-11; Hb 11.25,26). O 
pecado também produz pensamentos enganosos, segundo os quais o mal parece bem. 
Como conseqüência, as pessoas mentem e distorcem a verdade (Gn 4.9; Is 5.20; Mt 7.3-5), 
negando o pecado pessoal (Is 29.13) e até mesmo a Deus (Rm 1. 20; Tt 1.16). Em última 
análise, o engano do que parece ser bom revela-se como mau. A culpa, a insegurança, o 
tumulto, o medo do juízo e coisas semelhantes acompanham a iniqüidade (Sl 38.3,4; Is 
57.20,21; Rm 2.8,9; 8.15; Hb 2.15; 10.27). 
O pecado é futilidade. A palavra hebraica 'awen (“dano”, “aflição”, “engano”, 
“nulidade”) evoca a imagem da infrutuosidade do pecado. É o mal angustioso ceifado por 
quem semeia iniqüidade (Pv 22.8) e é a inutilidade prevalecente em Betel (chamada com 
desprezo: Beth’ Awen - “casa de nulidade”) apesar da grande tradição de que antes 
desfrutava (Os 4.15; 5.8; 10.5, 8; Am 5.5; cf. Gn 28.10-22). Hevel (“nada”, “vazio”) é a 
repetida “vaidade” - ou “irrelevância” - de Eclesiastes e do frio consolo dos ídolos (Zc 10.2). 
Seu equivalente em grego, mataiotês, retrata o vazio ou a futilidade da criação 
amaldiçoada pelo pecado (Rm 8.20) e as palavras enfatuadas dos falsos mestres (2Pe 2.18). 
Em Efésios 4.17, os incrédulos são apanhados “na vaidade do seu sentido” por causa do 
seu entendimento entenebrecido e da separação de Deus causada pela dureza de coração. 
O pecado envolve o pecador numa dependência cada vez mais exigente (Jo 8.34; Rm 
6.12-23; 2Pe 2.12-19), tornando-se uma lei ímpia no íntimo (Rm 7.23,25; 8.2). Desde Adão 
até ao Anticristo, o pecado é caracterizado pela rebelião, que pode assumir a forma de 
“tentar a Deus” (1Co 10.9) ou de hostilidade contra Ele (Rm 8.7; Tg 4.4). O pecado nos 
separa de Deus (Gn 2.17, cf. 3.22-24; SI 78.58-60; Mt 7.21-23; 25.31-46; Ef 2.12-19; 4.18). 
 
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O resultado pode ser não somente a ira de Deus, mas também o seu silêncio (Sl 66.18; Pv 
1. 28; Mq 3.4-7; Jo 9.3 1). 
A morte (heb. maweth, gr. thanatos) teve sua origem no pecado, e é o resultado final 
do pecado (Gn2.17; Rm 5.12-21; 6.16,23; 1Co 15.21,22,56; Tg 1.15). É possível distinguir 
entre a morte física e a espiritual (Mt 10.28; Lc 12.4). A morte física é uma penalidade ao 
pecado (Gn 2.17; 3.19; Ez 18.4,20; Rm 5.12-17; 1Co 15.21,22) e pode vir como um juízo 
específico (Gn 6-7,11-13; 1Cr 10.13,14; At 12.23). Entretanto, para os crentes (que estão 
mortos para o pecado, Rm 6.2; Cl 3.3; em Cristo, Rm 6.3,4; 2Tm 2.11) significa uma 
restauração mediante o sangue de Cristo (Jó 19.25-27; 1Co 15.21,22) porque Deus tem 
triunfado sobre a morte (Is 25.8; 1Co 15.26,55-57; 2Tm 1.10; Hb 2.14,15; Ap 20.14). 
Os não-salvos vivem na morte espiritual (Jo 6.50-53; Rm 7.11; Ef 2.1-6; 5.14; Cl 2.13; 
1Tm 5.6; Tg 5.20; 1Pe 2.24; 1Jo 5. 12), que é a derradeira expressão da alienação entre a 
alma e Deus. Até mesmo os crentes, quando pecam, experimentam uma separação parcial 
de Deus (Sl 66.18), mas Ele está sempre disposto a perdoar (Sl 32.1-6; Tg 5.16; 1Jo 1.8,9). 
A morte espiritual e a morte física estão associadas e serão plenamente realizadas 
após o Juízo Final (Ap 20.12-14). Embora Deus tenha ordenado o triste fim dos pecadores 
(Gn 2.17; Mt 10.28; Lc 12.4), este fim não lhe dá prazer (Ez 18.23; 33. 11; 1Tm 2.4; 2Pe 
3.9). 
A única maneira de se lidar com o pecado é amando a Deus em primeiro lugar, e 
então passar a ser um canal para levar ao próximo o seu amor, mediante a graça divina. 
Somente o amor é capaz de opor-se ao pecado, que se opõe a tudo (Rm 13.10; 1Jo 4.7 -8). 
Somente o amor pode cobrir o pecado (Pv 10.12; 1Pe 4.8) e, em último lugar, ser o 
remédio contra ele (1Jo 4.10). E somente “Deus é amor” (1Jo 4.8). No que diz respeito ao 
pecado, o amor pode expressar-se de maneiras específicas. 
O conhecimento do pecado deve gerar santidade na vida do indivíduo e uma ênfase à 
mesma santidade, na pregação e no ensino à igreja. 
A Igreja deve reafirmar a sua identidade, a de uma comunidade de pecadores salvos 
por Deus, ministrando na confissão, no perdão e na cura. A humildade deve caracterizar 
todos os relacionamentos cristãos, à medida que os crentes tomam consciência, não 
somente da vida e morte terríveis das quais foram salvos, mas também do preço ainda 
mais terrível daquela salvação. Quando uma pessoa é salva da mesma natureza 
pecaminosa, nenhuma quantidade de dons espirituais, ministérios ou autoridade pode 
justificar a elevação de uma pessoa acima de outra. Pelo contrário, cada pessoa deve 
preferir e honrar as outras mais que a si mesma (Fp 2.3). 
 
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A amplidão universal e a profundidade sobrenatural do pecado devem levar a Igreja a 
corresponder, com a dedicação de todos os membros e o revestimento do poder 
milagroso do Espírito Santo, ao imperativo da Grande Comissão (Mt 28.18-20). 
A compreensão da natureza do pecado deve renovar a nossa sensibilidade diante das 
questões do meio ambiente e levar-nos a retomar a comissão original de cuidar do mundo 
de Deus, o qual não devemos deixar nas mãos daqueles que preferem adorar a criação ao 
invés de ao Criador. 
Questões de justiça social e necessidade humana devem ser advogadas pela Igreja 
como testemunho da veracidade do amor, em contraste à mentira que é o pecado. Mesmo 
assim, semelhante testemunho deve apontar sempre para o Deus da justiça e do amor, 
que enviou o seu Filho a morrer por nós. Somente a salvação, e não a legislação ou um 
evangelho social que desconsidera a cruz ou ainda a ação violenta ou militar, pode curar o 
problema e seus sintomas. 
Finalmente, a vida deve ser vivida na esperança certa de um futuro além do pecado e 
da morte (Ap 21 e 22). Então, purificados e regenerados, os crentes verão a face daquele 
que já não lembra mais do seu pecado (Jr 31.34; Hb 10.17). 
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática de Strong. São Paulo: 
HAGNOS, 2003.

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