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P á g i n a | 1 Hemorragia Pós Parto Fisiologia Alterações gestacionais que incluem aumento de 40% do volume plasmático e 25% dos glóbulos vermelhos ocorrem em antecipação à perda sanguínea. Com a separação da placenta, a hemostasia do sítio placentário se processa por meio de vasoespaso local e formação de trombo nos vasos uterinos, além da hemostasia que é feita por contração e retração do miométrio, que comprime um grande número de vasos. Definição É definida e diagnosticada clinicamente como sangramento excessivo que torna a paciente sintomática (visão turva, vertigem, síncope) e/ou em sinais de hipovolemia (hipotensão, taquicardia ou oligúria). Outra definição proposta é perda sanguínea > 500mL após o parto e > 1000mL após a cesárea. Não é muito utilizada, porque pode haver uma subestimação do valor. Outra clássica definição é de queda maior que 10% do hematócrito entre a admissão da gestante e o período pós-parto. Não é muito utilizada porque a queda no hematócrito pode ser muito posterior a emergência. Recentemente, um grupo de especialistas definiu como sangramento > 1000mL nas primeiras 24 horas após o parto que persiste apesar das medidas iniciais de correção, que incluem drogas isotônicas e massagem uterina. Pode ser primária, quando ocorre nas primeiras 24 horas após o parto ou secundária quando >24 horas até 12 semanas após o parto. Incidência É diagnosticada em 4 a 8% de todos os partos vaginais. Se utilizar a definição do hematócrito, pode representar 3,9% dos casos. Isabela Terra Raupp P á g i n a | 2 Nas cesáreas, estima-se que 6% dos casos, nas primeiras 24 horas, evoluam com hemorragia pós-parto. 60% das mortes maternas ocorrem no pós parto e 45% desses incidem nas primeiras 24h. É responsável por 25% das mortes maternas no planeta. O risco de óbito materno depende não somente da quantidade de sangue perdido, mas também do estado prévio de saúde da mulher. Fatores de risco Multiparidade Placenta anômala Trabalho de parto prolongado Gestante com hipovolemia e anemia. Infiltração hematomiometral Placenta retida Sobredistensão uterina Cesariana prévia e atual Parto instrumentado Episiotomia Curetagem Uterina pós-parto Tempo prolongado do terceiro período Corioamnionite Uso de ocitocina no primeiro período Uso de uteroinibidores Atonia uterina prévia Plaquetopenia ou hipofibrinogenemia Pré-eclâmpsia Descolamento prematuro de placenta Embolia amniótica Anestesia condutiva Obesidade Alta prematuridade Parto rápido. Defeito de fatores de coagulação. Etiologia Atonia uterina Lacerações do períneo, da vagina ou do colo uterino Coagulopatia dilucional (placenta prévia) ou de consumo (descolamento prematuro de placenta, sepse, embolia amniótica) Retenção placentária ou acretismo placentário Inversão uterina, rotura uterina Deiscência de cicatriz de histerotomia P ri n c ip a is c a u s a s Atonia uterina Retenção de fragmentos placentários Laceração no canal de parto 4 T Tônus Tecido Trombina Trauma P á g i n a | 3 Laceração de histerotomia com acometimento de vasos uterinos Hemostasia inadequada Diagnóstico Em geral é obvio, exceto pelos casos de acúmulo de sangue na cavidade uterina ou alguns eventos de rotura uterina com hemorragia intraperitoneal. Deve-se seguir os seguintes passos para o exame, avaliando os 4 Ts: 1) Esvaziar a bexiga e realizar toque vaginal bimanual, pensando em atonia → útero amolecido e pouco contraído sugere atonia. Se há persistência de sangramento e o útero se encontra contraído, outros fatores devem ser considerados. P á g i n a | 4 2) Descartar lacerações pelo exame minucioso do canal de parto 3) Hematomas do trato genital devem ser avaliados → são acompanhados de pressão pélvica ou retal e dor. 4) Avaliar retenção de fragmentos placentários → dequitação espontânea, inspeção da placenta com aparente integridade dos cotilédones e ausência de cirurgia uterina tornam o diagnóstico menos provável. É auxiliado por US uterina. 5) Se suspeita de alterações na coagulação, por antecedente pessoal ou familiar ou pelo quadro clínico, considerar: HELLP, DPP, óbito fetal, sepse e embolia amniótica. Deve-se pedir hemograma com plaquetas, tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial ativafa, fibrinogênio, produtos da degradação de fibrina e tipo sanguíneo. Recorrência e prevenção Recorrência de 15% em gravidez subsequente. Conduta ativa do terceiro período do parto: clampeamento umbilical precoce, massagem uterina, tração controlada do cordão umbilical e administração de agente uterotônico. Conduta Trabalho em equipe: obstetra, enfermeiros, anestesista, hematologista e banco de sangue. Porque diminuir o risco de coagulopatia dilucional, histerectomia, morbidade e mortalidade materna, pensar no que repor em caso de hemorragia maior e choque. 1. Esvaziamento da bexiga por cateterismo. 2. Massagem em fundo uterino: O útero deve ser elevado e massageado, para estirar as artérias uterinas, levando a compressão, enquanto o miométrio é estimulado a contrair. 3. Acesso venoso calibroso para administração de líquidos, sangue e medicações. 4. Administração de drogas uterotônicas: a. Ocitocina: 10 a 40 UI em 1000mL de solução salina intravenosa contínua, porque estimula contrações na porção superior do corpo uterino. b. Metilergometrina:0,2 mg IM a cada 2 ou 4 h, provoca contrações em 2 a 5 minutos. P á g i n a | 5 c. Misoprostol (Prostaglandia E1) 800 a 1000 μg via retal, 200 μg VO + 400 μg sublingual + 400 μg via retal. O tempo médio de resposta é 1,4 minutos. Pode fazer febre. 5. Infusão de grandes volumes de cristaloides para prevenir hipotensão. 6. Transfusão de hemoderivados de acordo com a necessidade, para manter a perfusão tecidual adequada e boa troca de oxigênio. No caso de as medidas iniciais não controlarem a hemorragia, pode-se fazer as manobras: 1. Compressão uterina bimanual (Manobra de Hamilton): uma das mãos fixa o útero enquanto a outra é posicionada fechada pelo canal vaginal, anterior ao colo uterino, comprimindo as paredes uterinas. 2. Reparo de lacerações: categute simples 0 ou 2-0, com sutura contínua ou em pontos sepatados, com colocação de tampão vaginal com nitrofurazona ou vaselina. 3. Curetagem e/ou curetagem uterina: retira qualquer fragmento placentário retido, deve-se fazer exploração uterina em busca de soluções de continuidade que sugiram rotura uterina. 4. Tamponamento uterino: Colocação de tampão (compressa ou gaze) em toda a cavidade uterina com monitorização da hemoglobina e débito urinário, com anterior administração de antibióticos de largo espectro e manter no tempo em que o tampão estiver na cavidade uterina. Também pode se utilizar a sonda de Foley, o balão de Sengstaken-Blakemore ou balão de Bakri. 5. Embolização arterial: Alternativa efetiva à cirurgia para controle da hemorragia uterina se a paciente estiver estável. Deve utilizar anbioticos de largo espectro por via intravenosa. Precisa ser guidão por angiografia diagnóstica para localização do sangramento. 6. Laparotomia: incisão mediana infraumbilical, com melhor exposição do campo cirúrgico, com injeção intramiometral de ocitocina ou metilergometrina com tentativa de reverter a atonia. Se um pequeno vaso for o motivo do sangramento, deve- se clampea-lo. 7. Ligadura das artérias uterinas: melhor acesso, é mais eficaz. Deve-se usar categute cromado 0 ou Vycryl 0 de cada lado da margem lateral do segmento inferior do útero, P á g i n a | 6 retornando lateralmente pelo ligamento largo e passando rente aos vasos uterinos. Pode ser necessário ligar os vasos uterovarianostambém. 8. Suturas de B-Lynch: Comprime o útero, com resultado semelhante ao obtido por compressão bimanual. Não deve ser usado em casos de acretismo e não protege de hemorragia futura. Uma agulha grande de categute cromado 2 é usada para entrar e sair lateralmente na face anterior do segmento inferior do útero. 9. Ligadura das artérias ilíacas internas: usada especialmente em caso de útero grande, incisão transversa pequena, pelve com grande quantidade de sangue e obstetra pouco habituado à exploração do espaço retroperitoneal. 10. Histerectomia. 11. Fator VII ativado recombinante: Pode ser usado se causada por atonia uterina. Tem custo elevado e pode causar tromboembolismo. Atonia uterina: Representa 80% dos casos. Faz parte do componente do tônus. Fisiopatologia: O fluxo sanguíneo médio durante o parto é de 600mL/min o miométrio é incapaz de contrair efetivamente, não há P á g i n a | 7 constrição das artérias espiraladas do útero, havendo sangramento profuso pela decídua, o que leva ao choque hipovolêmico. Fatores de risco: segundo período do parto prolongado, parto instrumentado, sobredistensão uterina (macrossomia, gestação múltipla, polidrâmnio), uso de medicações (tocolíticos e anestésicos halogenados) e corioamnionite. Diagnóstico e conduta: 1- Esvaziamento vesical (bexiga): avaliar débito urinário, hiperdistensão vesical dificulta a involução uterina. 2- Massagem uterina 3- Primeiro medicamento é a ocitocina de maneira endovenosa (junto com a ocitocina deve se administrar o ácido tranexâmico 1 grama em 10 minutos), ou metilergonovina 0,2 mg IM (evitar em hipertensos-risco de AVC), e/ou misoprostol 200– 1000 microgramas via retal. 4- Reposição de solução salina e sangue conforme necessidade. 5- Tamponamento uterino (manter 24 hs) sob ATB – compressão dos vasos que estão sangrando, onde houve descolamento da placenta ou sonda de foley, por 24 h. 6- Histerectomia. Prevenção: O uso rotineiro de ocitocina (10 U IM) após o desprendimento do ombro anterior ou após o nascimento do feto, tem sido um método eficaz na prevenção da hemorragia pós- parto. Misoprostol também é eficaz. Inversão uterina Ocorre quando o fundo uterino se move para o interior da cavidade endometrial. Pode ser incompleta (fundo se projeta para dentro da cavidade uterina), completa (fundo invertido ultrapassa o orifício externo do colo uterino) ou prolapsada (corpo uterino ultrapassa o introito vaginal). Causa pouco comum de hemorragia pós-parto. Ocorre geralmente devido a multiparidade, acretismo placentário, tração excessiva do cordão umbilical, cordão curto, uso prolongado de ocitocina ou sulfato de magnésio, primiparidade, anomalias uterinas, remoção manual da placenta. Pode causar choque hipovolêmico e neurogênico pela perda de sangue e dor intensa. P á g i n a | 8 Tratamento é a utilização de uterolitico seguida de realização da manobra de Taxes sob anestesia ou miorrelaxante ou laparotomia (procedimento de Huntington). Manter ocitócitos após a reposição uterina e sangue se necessário. Ruptura uterina Quando se detecta a ruptura uterina deve ser realizada a laparotomia, podendo realizar a simples rafia do útero ou a histerectomia subtotal ou total. Laceração de trajeto Devido principalmente a fetos macrossômicos, uso de fórcipe, manobras intempestivas e partos rápidos. O tratamento é a sutura das lacerações e tamponamento local que deve ser retirado 3 a 6 h após. Hematoma perineal É de instalação rápida, deve ser drenado e identificar o vaso sangrante, em casos mais extensos manter dreno de Penrose. P á g i n a | 9 Retenção placentária e placentação anômala Considera-se retenção placentária quando a dequitação ultrapassa 30 minutos, em casos de hemorragia intensa faz-se a extração manual. Após a extração placentária faz-se uma curagem e após curetagem. Se a extração manual não for possível faz-se a laparotomia e histerectomia principalmente nos casos de placenta percreta. Placenta percreta onde não há plano de clivagem e ela invadiu esse útero ou increta que invadiu a musculatura. A placenta não dectou. É diferente dos restos placentários que vem depois. Retenção de restos placentários: Existência de cotilédones da placenta dentro do útero. Causa mais tardia de hemorragia pós-parto, seu diagnóstico é dado pelo exame cuidadoso da porção dequitada e pela constatação de ausência parcial ou total de um ou mais cotilédones. Pode ser dado pela ultrassonografia, mas ás vezes este confunde restos com lóquios. Na verdade tem pouca utilidade, porque não é capaz de diferenciar tecido placentário de coágulos intrauterinos. Realiza-se a curetagem uterina, lembrar da associação com endometrite e iniciar antibióticos no mínimo 30 minutos antes. P á g i n a | 10 Hipovolemia sem coagulopatia : Restaurar volume com soluções cristalóides (SF 0,9% ou RL) ou colóides (albumina a 5%), transfundir CHAD se anemia e necessidade de melhorar o transporte de O2. CIVD: O manejo depende do tratamento precoce e correto da doença que iniciou o distúrbio de coagulação. Deve-se manter a PA e funções vitais. Combate-se com transfusão de plasma fresco congelado ou crioprecipitado e concentrado de plaquetas. Síndrome HELLP: Transfundir plasma fresco congelado quando TP e KTTP prolongados ou sangramento anormal. Repor plaquetas se abaixo de 30000/mm3. Fígado gorduroso agudo da gestação: Queda de fibrinogênio e risco de CIVD. Transfusão de plasma fresco congelado. Mortalidade materna de 80%. Descolamento prematuro de placenta: Se sinais de coagulopatia, transfundir 8 a 10 unidades de crioprecipitado. Se TP e KTTP prolongados, infundir plasma fresco congelado e se plaquetas abaixo de 30000 transfundir concentrado de plaquetas. Síndrome do feto morto retido: Retenção intra-útero do feto e da placenta por mais de 3 a 4 semanas após a morte fetal, associa-se algumas vezes a um quadro de coagulopatia de consumo, que evolui para diátese hemorrágica e/ou trombose. Monitora-se com provas de coagulação, sendo o fibrinogênio o parâmetro mais importante. Se quadro franco de CIVD e em trabalho de parto repor fatores de coagulação. Se não estiver em trabalho de parto utiliza-se 2500 a 5000UI de heparina a cada 8 ou 12h monitorando o fibrinogênio se atingir um nível de 200mg pode-se interromper a gestação. Embolia amniótica: Situação dramática na obstetrícia com índices de mortalidade acima de 80%. Dos 40% das pacientes que sobrevivem aos distúrbios hemodinâmicos iniciais desenvolvem coagulopatia. Administra-se CHAD e Plasma fresco congelado. Pode ser de grande valia o uso de heparina na ausência de diátese hemorrágica (10000 em bolo e após 1000U/h). Anemia Falciforme: Reserva-se a transfusão de sangue quando hemoglobina abaixo de 6g/dl. Nas crises falciformes internar a gestante com oxigenioterapia e transfusão sanguínea. Indicado o uso de ácido fólico durante a gestação, repor ferro só se ferritina estiver abaixo de 12micrograma/l. P á g i n a | 11 Indicações de hemoderivados CHAD: Prepara-se removendo o plasma do sangue total. Tem volume de 300ml. Indicado em pacientes anêmicas para melhorar o transporte de oxigênio. Cada unidade de CHAD aumenta em 3 a 4% o hematócrito e em 1g/dl a hemoglobina. Concentrado de plaquetas: Está indicada em tratamento de quadros hemorrágicos secundários a alterações quantitativas e qualitativas. Cada unidade aumenta em 5000/ul em adulto de 70 KG. Plasma fresco congelado: Cada unidade tem um volume de 200-250 ml, contendo todos os fatores de coagulação, inclusive os lábeis (Fator V e VIII). Indicado nos quadrosde sangramento devido a deficiências nos fatores de coagulação (CIVD, hepatopatias, coagulopatias diluicionais e coagulopatias congênitas). Uma unidade aumenta o fibrinogênio em 500mg/dl. Crioprecipitado: Contêm fibrinogênio e os fatores VII, XIII e de Von Willebrand, com volume de 10 a 15 ml. Indicado na deficiência adquirida (CIVD, feto morto retido, DPP) ou congênita de fibrinogênio e na doença de Von Willebrand (mutação do cromossomo 12-cursa com perda do FatorVIII e disfunção placentária). Concentrado de fatores de coagulação: Mais importantes os fatores VIII e IX. Sangue total: Raramente indicada.
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