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cSangramentos de SegundaMetade daGravidez DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA (DPP) É a separação prematura da placenta, de forma parcial ou completa, inserida no corpo do útero, depois da 20ª semana de gestação, e antes da expulsão fetal, com consequente sangramento uterino e redução do aporte de oxigênio e nutrientes ao feto Incidência Ocorre em aproximadamente 1 a 2% das gestações 6,5 para cada 1000 partos 10% dos partos prematuros Maior incidência de hemorragia, anemias, coagulopatias, hemotransfusões, cesárea, histerectomia e até morte Principal causa de óbito perinatal Se o útero não contrai, continua sangrando e por isso às vezes é necessário retirá-lo 20% dos sangramentos são ocultos e o diagnóstico é baseado nos achados do exame físico e da história clínica Causas Traumáticas internas: brevidade do cordão (cordão curto), escoamento rápido de polidrâmio, movimentos fetais excessivos (versão fetal), retração uterina após o parto do primeiro gemelar, miomatose uterina (onde os miomas estão presentes, a placenta não consegue aderir), torção do útero gravídico, hipertensão da veia cava inferior por compressão uterina, traumatismo abdominal (acidentes, agressão física), hipertonia uterina (primária ou por abuso de ocitócicos) Não-traumáticas: constituem o aspecto etiológico mais importante, com destaque para os chamados fatores predisponentes. Os principais são hipertensão arterial, condição socioeconômica, multiparidade, idade materna avançada, passado obstétrico ruim, relato de DPP em gestação anterior, cesárea prévia. Restrição do crescimento intra-uterino, corioamnionite, gemelaridade, DM, placenta circunvalada,anemia e má nutrição, corioamnionite, tempo prolongado de rotura de membranas, tabagismo, etilismo e uso de drogas ilícitas, principalmente cocaína Manifestações do sangramento O sangramento pode se manifestar de 3 maneiras: Hemorragia exteriorizada Sangramento retroplacentário Hemoâmnio (sangramentos ocultos) Hemorragia decidual, formando-se o hematoma retroplacentário. Em 20% dos casos, a perda sanguínea se restringe ao espaço retroplacentário e não ocorre sangramento vaginal (hemorragia oculta) A coloração do sangue é escura A rotura alta das membranas pode provocar passagem de sangue para a cavidade amniótica, constituindo o hemoâmnio O sangue extravasado exerce uma ação irritante no útero A contratilidade uterina está quase sempre acompanhada por algum grau de hipertonia A hipertonia surge como mecanismo reflexo: Hipertonia por taquissistolia: contrações reentrantes em pequeno intervalo Hipertonia autêntica: o útero permanece contraído Útero se apresenta edemaciado, arroxeado e com sufusões hemorrágicas por causa da infiltração do sangue no miométrio Até 20% dos sangramentos no DPP são ocultos, com formação de coágulo retroplacentário e infiltração sanguínea intramiometrial (“útero de Couvelaire”) Quando o sangue exterioriza, tem menos chance de ter útero de Couvelaire Diagnóstico Fundamentalmente clínico Perda sanguínea em 80% dos casos Pesquisar antecedentes de hipertensão, ocorrência de trauma (incluindo violência física), abuso de drogas ou álcool e a presença de outros fatores de risco associados Apresentação clássica Presença de hipertensão + sangramento vaginal escuro na 2ª metade da gravidez, associados a hipertonia uterina e sofrimento fetal (bradicardia ou ausência de BCF) Em 20% dos casos não há exteriorização do sangramento Exame físico A paciente prefere o decúbito lateral homônimo ao lado da implantação placentária (sinal de Hastings de Mello e Ivan Figueiredo) Pode haver sinais de estado hipovolêmico e a pressão arterial pode até mostrar-se em níveis normais, e não elevados, em função dessas alterações Às vezes não se encontra hipertensão porque a paciente já sangrou tanto que está em choque hipovolêmico O exame obstétrico frequentemente detecta a hipertonia uterina e o foco comumente ausente O exame genital pode detectar a hemorragia e bolsa das águas tensas, devido ao aumento da pressão intra-amniótica A formação do coágulo retroplacentário e as alterações vasculares possibilitam aumento progressivo da altura uterina, por vezes, clinicamente detectável O USG tem papel muito limitado - é mais útil em afastar o diagnóstico de placenta prévia do que confirmar DPP Exames laboratoriais Usados para rastrear as complicações da DPP (anemia grave, choque hipovolêmico e discrasia sanguínea) Solicitar hemograma com contagem de plaquetas; tipagem sanguínea ABO Rh; coagulograma; fibrinogênio Exames de rotina para doença hipertensiva se apropriado Diagnóstico diferencial Principalmente com a inserção baixa de placenta (placenta prévia), rotura de seio marginal, rotura uterina, rotura de vasa prévia, trabalho de parto prematuro Outras intercorrências clínico-cirúrgicas Conduta O primeiro passo deve ser a aferição de sinais vitais com medidas iniciais das manobras de ressuscitação em suspeita de DPP: Verificar se vias aéreas estão pérvias Checar respiração e circulação Dois acessos venosos calibrosos com 1.000ml de solução cristalóide correndo em cada um deles, a velocidade inicial de 500ml nos primeiros 10 minutos Manutenção de infusão 250ml/hora Pacientes podem apresentar mais tardiamente sinais de instabilidade circulatória (alterações posturais da pressão e/ou taquicardia) - pode haver perda de até 30% da volemia Palpação uterina observando a apresentação fetal e se o tônus uterino está aumentado Fazer medida da AU e ausculta dos BCFs (monitoração fetal contínua) A ausência de hipertensão no momento da chegada não exclui a etiologia hipertensiva, já que a gestante pode estar chocada Tratamento Parturição rápida - quase sempre é cesariana Adequada transfusão sanguínea Adequada analgesia Monitorização da condição materna Avaliação da condição fetal Tratamento profilático: Planejamento familiar Assistência pré-natal adequada Acompanhamento de gestantes hipertensas, tentando evitar a sobreposição de toxemia gravídica e promovendo a antecipação do parto em época oportuna, na dependência da gravidade Tratamento curativo: Manutenção do estado volêmico Casos graves devem ser acompanhados conjuntamente com o hematologista para a correta e rápida restituição dos elementos sanguíneos Tratamento obstétrico: Dependerá do grau do descolamento (grau 1, 2 ou 3) que se reflete no estado hemodinâmico materno e da vitalidade fetal Classificação de Sher Grau 1: sangramento genital discreto sem hipertonia uterina significativa Vitalidade fetal preservada Sem repercussões hemodinâmicas e coagulopatia Geralmente diagnosticado no pós-parto com a identificação do coágulo retroplacentário Grau 2: sangramento genital moderado e contrações tetânicas Presença de taquicardia materna e alterações posturais da PA Alterações iniciais da coagulação com queda dos níveis de fibrinogênio BCF presente, porém com sinais de comprometimento de vitalidade Grau 3: sangramento genital importante com hipertonia uterina, hipotensão arterial materna e óbito fetal Grau 3A: sem coagulopatia instalada Grau 3B: com coagulopatia instalada Vantagens da amniotomia frente à suspeita de DPP Reduz a compressão da veia cava inferior Dificulta a ampliação da área do descolamento Melhora a hipertonia uterina Coordena as contrações Diminui a hemorragia Evidencia o hemoâmnio Diminui a pressão intra-uterina Diminui a incidência de coagulopatias ou melhora-as quando já instaladas Induz ou acelera o trabalho de parto PLACENTA PRÉVIA Placenta prévia é aquela que recobre total ou parcialmente o orifício interno do colo uterino Placenta de inserção baixa: implantação no segmento inferior, distando no máximo 2 cm do orifício interno do colo uterino Placenta prévia marginal é quando ela toca oo orifício Ocorre em 4 a cada 1.000 partos Incidência: 0,26% a 1% Fatores de risco Idade >35 anos Multiparidade Cesarianas prévias Endometrite Abortamento provocado Curetagens uterinas prévias Situações de grande volume placentário Tabagismo Todos os fatores de risco acima tem em comum vascularização deficiente Classificação Centro total: cobre completamente o orifício do colo do útero Parcial: cobre parcialmente o orifício do colo uterino Marginal: toca o orifício interno do colo uterino Baixa inserção ou baixa-lateral: fica a 2 cm do orifício interno do colo uterino Quadro clínico Hemorragia espontânea, indolor com sangue vermelho rutilante que se exterioriza sempre e totalmente Início e cessar súbitos Sangramentos repetidos Exame físico Se a paciente já tem o diagnóstico ou suspeita de placenta prévia, não realiza toque vaginal porque se a placenta é tocada na dilatação, ela pode descolar Diagnóstico Ultrassonografia Complicações Atonia pós-parto e hemorragia Infecção puerperal Lacerações de trajeto Distócia de parto Acretismo placentário Parto prematuro Amniorrexe prematura Apresentação anômala Tratamento Depende da idade gestacional, da intensidade do sangramento, do tipo de inserção e da presença ou não de trabalho de parto Placenta prévia total: com feto vivo ou morto, a via de parto é sempre cesariana Placenta prévia parcial: em multíparas, se o parto estiver próximo do fim, sangramento discreto e ausência de obstáculo mecânico importante, pode-se usar a via vaginal Placenta marginal ou baixa: permite-se o parto vaginal, atentando ao sangramento Conduta Hemorragia intensa, com comprometimento hemodinâmico materno Medidas gerias para estabilização hemodinâmica (venóclise, infusão de solutos, hemotransfusão) Após estabilização hemodinâmica - interromper gestação Hemorragia discreta a modera: avaliar a idade gestacional Se < 36 semanas - conduta expectante: Manter a paciente internada Repouso no leito com privilégio de banheiro Reposição adequada de ferro, ácido fólico Rastrear perdas e necessidades de reposição Aceleração da maturação pulmonar fetal entre 24 e 34 semanas de gestação (protocolo específico) Controle da vitalidade fetal (cardiotocografia em gestações superiores a 28 semanas e USG semanal) Em casos selecionados, na presença de atividade uterina e bom estado materno, se pode tentar a detenção do parto prematuro com a finalidade de se praticar a aceleração da maturação pulmonar fetal, quando indicada Se > 36 semanas - considerar interrupção da gestação: Parto abdominal: placenta prévio central total ou parcial, colo desfavorável, sangramento abundante Parto vaginal: placenta prévia marginal ou lateral, colo favorável, sem perdas abundantes Feto morto: Avaliar a IG, presença de cicatrizes uterinas anteriores, tempo do óbito fetal, condições do colo uterino e vitalidade materna Parto normal é recomendado Parto abdominal nas situações de placenta prévia central total Só fecha diagnóstico de placenta prévia a partir de 28 semanas (principalmente se for placenta de inserção baixa) É muito difícil que uma placenta prévia total total deixar de ser total Existe um fenômeno denominado de migração placentária que é quando a placenta “muda de lugar” pelo crescimento do útero ACRESTISMO PLACENTÁRIO É qualquer implantação placentária na qual há aderência anormalmente firme à parede uterina. Quando a área onde a placenta está inserida tem uma vascularização ruim, ela tende a se aprofundar para conseguir mais vascularização fazendo com que ela fique mais aderida no endométrio, adentrando ao miométrio e podendo atingir serosa, bexiga, reto Acreta: a placenta se insere profundamente na decídua Increta: ultrapassa a decídua e chega à musculatura uterina Percreta: ultrapassa a musculatura uterina podendo atingir órgãos vizinhos Fatores de risco Idade materna > 35 anos Multíparas (maior ou igual a 6) Defeitos endometriais Leiomiomas submucosos Tabagismo Miomectomias Curetagem uterina Cesárea anterior Quadro clínico Hemorragia profusa no momento de descolamento placentário A placenta percreta com invasão vesical pode causar hematúria Diagnóstico Em geral, não é feito no pré-natal São achados característicos na USG ou na dificuldade de extração placentária e estudo anátomo patológico no pós-cirúrgico Placenta prévia e cesárea anterior - suspeita no pré-natal Tratamento Parto realizado entre 36 e 37 semanas em centro de referência com experiência em acretismo Acreta: extração manual da placenta e se não resolver faz histerectomia Increta: histerectomia Percreta: histerectomia ROTURA UTERINA É o rompimento parcial ou total do miométrio durante a gravidez ou trabalho de parto Completa: quando há total rotura da parede uterina Incompleta: quando o peritônio visceral permanece intacto Incidência De 1 a cada 585 partos a 1 a cada 6.673 partos Maior fator de risco é a presença de cicatriz uterina e o antecedente de cesariana é o principal Rara em primigestas A rotura uterina pode cursar cm lesão vesical, o que ocorre em 0,1% dos casos Sua frequência é inversamente proporcional a qualidade de assistência pré-natal, e ao parto, além da história anterior de cesarianas Etiologia Espontânea: processo lento e progressivo, assintomática, ocorre no final da gestação em úteros predispostos pelo enfraquecimento da parede por cicatriz prévia de cesariana, miomectomia, outras cirurgias uterinas. O local de rotura é habitualmente fúndico Traumáticas: quedas sobre o ventre, pancadas resultantes de acidentes de trânsito, ferimentos penetrantes de armas brancas ou de fogo, manuseio da cavidade uterina No parto: pode ser espontânea, quando não há interferência do obstetra, ou provocada, como versão uterina, extração podal, fórceps, administração intempestiva de ocitocina Fatores predisponentes Cirurgia uterina prévia Anomalias congênitas uterinas Neoplasia trofoblástica gestacional Adenomiose Uso de misoprostol e ocitocina (misoprostol deve ser evitado em pacientes que possuem cicatriz uterina) Anomalia fetal Sobredistensão uterina (gemelares, polidrâmio, macrossomia) Dependendo do tipo de incisão que o útero sofreu, aumenta a chance de rotura A incisão transversa baixa tem menos chance de rotura As incisões longitudinais ou em T aumentam a chance Multiparidade Hiperdistensão uterina Insistência de parto por via baixa em casos de desproporção Uso inadequado do fórceps Trabalho de parto após cesariana Acretismo placentário Quadro clínico Deterioração do padrão dos BCF Gestante queixa de dor aguda de forte intensidade Sangramento vaginal Parada das contrações Subida da apresentação ao toque vaginal Partes fetais palpáveis facilmente no abdome materno Taquicardia importante e hipotensão grave - pode cursar como choque Diagnóstico Interrupção das contrações com sangramento vaginal Ausência de BCF Mudança de posição fetal Dor súbita Hipotensão Taquicardia materna Se houver síncope pós-parto, suspeitar de rotura Sinal da ampulheta: indica iminência de rotura uterina e se faz no momento da contração - quando a rotura acontece de fato, esse sinal não vai existir mais Fazer diagnóstico diferencial com bexigoma Sinais de iminência de ruptura para prevenção Contrações excessivamente dolorosas - quando rompe de fato, as contrações param Taquissistolia (mais de 5 contrações em 10 minutos) e hipersistolia (contrações duradouras) Palidez, sudorese e agitação Distensão segmentar: Sinal de Bandl: anel fibromuscular transversal no segmento inferior - útero com aspecto semelhante a uma ampulheta Sinal de Frommel: ligamentos redondos retesados e hipocontraídos - desvio anterior do útero Conduta Estabilidade hemodinâmica da gestante Considerar a possibilidade de hemoderivados e reposição volêmica Laparotomia - cesariana Morbidade materna depende do grau de hemorragia e do pronto tratamentodo choque Histerrofia ou histerectomia Paciente que passa por incisão em T ou histerorrafia deve ser orientada a tomar cuidado no próximo trabalho de parto ROTURA DE VASA PRÉVIA Anomalia de inserção do funículo umbilical na placenta, onde os vasos umbilicais cruzam o segmento inferior uterino e se colocam à frente da apresentação, ou seja, estão desprotegidos pelas membranas ovulares Inserção velamentosa do cordão na placenta Placentas sucenturiadas: elas são divididas em tem-se um lobo menor e um maior e entre eles uma membrana na qual podem estar passando vasos desprotegidos Incidência 0,5 a 1% das gestações únicas Cerca de 10% das gestações gemelares É quase regra em gestações trigemelares Perda sanguínea de origem fetal Taxa de mortalidade fetal em torno de 50% Quando suspeitar Quando ao fazer toque vaginal, palpa-se vasos fetais nas membranas e essa compressão pode causar alteração na frequência cardíaca fetal Os vasos podem ser visualizados diretamente ou através da dopplerfluxometria passando pelo colo uterino Fatores de risco Inserções marginais do cordão Placentas bilobadas Placentas sucenturiadas Gestação múltipla Inserção velamentosa do funículo umbilical (50% dos casos) Quadro clínico Sangramento inicia no momento da rotura das membranas - quando se rompe a bolsa e vem sangue de grande quantidade na paciente que não estava apresentando hipertonia, suspeita de rotura uterina, DPP - pensar na vasa prévia Diagnóstico pré-parto muito difícil - toque vaginal e amnioscopia USG com doppler colorido deve ser considerada em gestantes de alto risco USG pré-natal com dopplerfluxometria colorida Placenta baixa, bilopada, sucenturiada, gravidez por reprodução assistida Placenta de localização baixo é o principal fator de risco Diagnóstico Diagnóstico intraparto é difícil Apt-Test: coleta de sangue vaginal e avalia resposta colorimétrica - rosa é positivo ao hidróxido de sódio a 1% e indica que é sangue fetal Coloração de Wright: avaliar hemácias nucleadas no sangue vaginal com corante - hemácias dos fetos tem núcleos Muito difícil de dar tempo de fazer os testes Deterioração dos BCF no momento da rotura - cesariana de urgência Prognóstico Pior quando a veia umbilical é acometida e melhor quando a artéria umbilical é envolvida (o cordão 2 artérias e 1 veia, sendo as artérias responsáveis por carregar sangue com CO2 e a veia sangue com O2) Conduta A melhor conduta é a interrupção eletiva da gestação por via alta (cesariana) em todas as pacientes com 34-37 semanas (pré-termo tardio) ROTURA DE SEIO MARGINAL Acaba sendo um diagnóstico de exclusão O seio marginal é a extrema periferia do espaço interviloso, circunda a placenta e representa um dos sistemas coletores do sangue venoso materno Suas paredes são formadas (encontro) pela placa basal e pelas membranas, ponto onde ambos se refletem sobre a decídua vera Quadro clínico Sangramentos vaginais indolores, contínuos, de pequena monta Vermelho-vivo Tônus uterino normal BCF normal Placenta normoposicionada Origemmaterna Pequena intensidade Bom prognóstico fetal Diagnóstico após saída da placenta (histopatológico)
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