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roadk/ ShutterStock Marzolino/ ShutterStock Sociologia Ciê nc ias hu ma na s CADERNO DO PROFESSOR V E N D A P R O I B I D A Material integrante do Ético Sistema de Ensino Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Teoria 1 Sociologia: uma ciência social .............................................................. 2 Émile Durkheim (1858-1917): o indivíduo na sociedade ........... 14 Karl Marx (1818-1883): a crítica à sociedade capitalista (I) ....... 25 Karl Marx (1818-1883): a crítica à sociedade capitalista (II) ...... 36 SL.01 SL.02 SL.03 SL.04 ELABORAÇÃO DE ORIGINAIS Amir Abdala Caio Aguilar Fernandes Super Teoria 1 O que é a sociologia? A sociologia, assim como a antropologia, a economia, a ciência política, o di- reito, a história, a pedagogia, a psicologia e a geografia, é uma forma de conheci- mento situada no contexto das ciências denominadas ciências sociais. Portanto, a sociologia consiste em uma ciência que estuda vários aspectos da realidade social, utilizando, para esse objetivo, a observação, a descrição e a comparação de fatos e peculiaridades dos fenômenos sociais. Os estudos sociológicos são, assim, uma forma de observação sistemática dos fenômenos sociais, descobrindo conexões e regularidades do comportamento humano, bem como, muitas vezes, fazendo a crítica de elementos vinculados às diversas sociedades. Dessa maneira, pode-se dizer que a sociologia é o estudo científico das so- ciedades humanas. Nesse sentido, o que seria “sociedade” em uma perspectiva sociológica? Peter Berger, em seu livro Perspectivas sociológicas: uma visão hu- manística, escreve: Para o sociólogo, “sociedade” designa um grande complexo de relações humanas ou, para usar uma linguagem mais técnica, um sistema de intera- ção. É difícil especificar quantitativamente, nesse contexto, a palavra “gran- de”. O sociólogo pode referir-se a uma “sociedade” que compreenda milhões de seres humanos (digamos, a “sociedade estadunidense”), mas também pode utilizar o termo para referir-se a uma coletividade muito menor (“a sociedade dos calouros de uma universidade”). Duas pessoas conversando numa esquina dificilmente constituirão uma sociedade, mas três pessoas abandonadas numa ilha, sim. Portanto, a aplicabilidade do conceito não pode ser decidida apenas por critérios quantitativos. Adaptado de BERGER, Peter. A sociologia como forma de consciência. In:______. Perspectivas sociológicas: uma visão humanística. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1986. p. 36. alekS Melnik/ShutterSto c k 2 SL .0 1 Sociologia: uma ciência social b lu r a z/ S h u tt e r St o c k A sociologia ocupa-se, então, do estudo das relações sociais entre os seres hu- manos. Entretanto, é essencial perceber que o atributo das sociedades humanas diz respeito tanto ao fato de que são formadas por pessoas, como ao fato de que essas mesmas pessoas estão vinculadas entre si por meio de um conjunto diverso de regras, valores, costumes e funções. O surgimento da sociologia A tentativa de compreender as sociedades e as relações entre seus membros sempre foi, ao longo da história, uma preocupação de autores, filósofos e pensa- dores. Não é difícil encontrar obras, em diferentes momentos, que dediquem suas páginas para tentar compreender de que forma os seres humanos, as organiza- ções e os agrupamentos sociais se comportam ou comportaram. Assim, podemos dizer que as questões sociais, bem como a forma de explicá-las e justificá-las, são tão antigas quanto o surgimento das primeiras civilizações humanas. Por exem- plo, na Grécia e na Roma Antigas, a escravidão era vista como algo legítimo; na Idade Média feudal europeia, a divisão social em três estamentos era justificada pela Igreja católica como sendo a vontade de Deus. Entretanto, com a chegada da modernidade e a consequente ampliação do comércio europeu, as grandes navegações europeias e o renascimento cultural e científico, ocorrem mudanças na mentalidade da sociedade moderna, que vão implicar novas formas de expli- cação para a realidade. Já no século XVIII, também conhecido como “o século das luzes”, liberdade e igualdade passaram a ser conceitos fundamentais para as mobilizações sociais. Nesse contexto, ocorreram as grandes revoluções burguesas, cujas transformações criaram novas necessidades de compreensão do que se vivia no mundo. Nesse sentido, as revoluções Industrial (Inglaterra, a partir de 1760) e Francesa (1789) abalaram definitivamente as estruturas da Europa, mudando práticas da vida social, econômica e política, e estabelecendo as bases históricas de uma nova ciência: a sociologia. 3 Sociologia: uma ciência social A influência das revoluções no surgimento da sociologia Podemos afirmar que a sociologia surgiu em uma época de grandes revolu- ções, como uma forma de reflexão sobre as consequências sociais dos fenômenos históricos ocorridos na Inglaterra e na França. Da discussão sobre as mazelas e os dramas originários da consolidação do capitalismo — um sistema social mar- cado pelas significativas desigualdades entre grupos sociais diferentes do ponto de vista econômico —, surgiram teorias e explicações que procuraram dar trata- mento racional às causas desses fenômenos. O nascimento da sociologia ocorreu numa época em que a industrialização e a urbanização estavam transformando as bases da sociedade. Nos séculos XVII e XVIII, o aperfeiçoamento das técnicas de produção, visando produzir maiores quantidades e com maior rapidez, pos- sibilitou a invenção de máquinas que aumentavam significativamente os lucros, substituindo gradativamente a produção manufatureira pela mecanização. Des- se modo, apareceram as máquinas de tecer, a máquina de descaroçar algodão, bem como se iniciou um processo de aplicação industrial da máquina a vapor e de tantos outros inventos destinados a aumentar a produtividade do trabalho. Muitas etapas, antes realizadas por indivíduos, passaram a ser feitas por meio de máquinas, elevando consideravelmente a quantidade de mercadorias produ- zidas. A Revolução Industrial pode ser vista sob dois prismas. De um lado, esse processo histórico trouxe (e ainda traz) benefícios e conforto para milhões de pes- soas, no mundo todo. Por outro, a Revolução Industrial significou mais do que a introdução do trabalho realizado pelas máquinas. Ela acarretou o aprofundamento da divisão social do trabalho e a concentração do controle dos meios de produ- ção nas mãos de uma classe social, a burguesia, cuja origem remonta à passagem da Baixa Idade Média para a Idade Moderna (séculos XIII a XV). Foi também o mo- mento de supremacia do capital industrial, transformação que impôs uma nova realidade social, econômica e política para os indivíduos da época, modificando radicalmente as vidas de milhões de pessoas. A Revolução Francesa também pro- vocou alterações significativas nos modos de organização social e nas formas de Figura 1. A Revolução Industrial, além de promover mudanças nos campos da economia, da ciência e da tecnologia, promoveu intensas trans- formações na estrutura social. 4 SL .0 1 ti M e & l if e P ic tu r e S/ G e tt y iM a G e S explicação da realidade. Os ideais iluministas — que defendiam o uso da razão como caminho para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação — surgidos ao longo do século XVIII ganhavam espaço, resultando em uma nova concepção do desenvolvimento humano. Como consequência da forte partici- pação popular no processo revolucionário de 1789, o indivíduo foi trazido para o centro da discussão política e sua participação nas decisões da nação ganhou outra dimensão. Como as lutas que precederam e desencadearam a Revolução Francesa envolveram, numericamente, muitas pessoas, mais indivíduos foram obrigados a pensar sobre questões políticas que antes eram discutidas apenas por uma elite. Assim, a ideia de existência de uma liberdade e de uma igualdade permitiu aos indivíduos questionaros antigos valores e modelos da sociedade e exigir o estabelecimento de uma nova concepção de vida social. Nesse sentido, a sociologia clássica do século XIX e do início do século XX foi uma tentativa de vários intelectuais para entender e esclarecer essa série de mudanças e suas consequências sociais. Principais linhas teóricas em sociologia Em termos teóricos, podemos destacar três linhas sociológicas clássicas: • Positivista-funcionalista. Tem como fundador o francês Auguste Comte (1798-1857). Émile Durkheim (1858-1917), também francês, estabeleceu as bases metodológicas e teóricas do funcionalismo. • Materialista histórico-dialética. Elaborada por Karl Marx (1818-1883), que, mesmo não sendo propriamente um sociólogo, iniciou uma fecunda linha de teoria e pesquisa social. • Sociologia compreensiva. Identificada nas obras do sociólogo alemão Max Weber (1864-1920). Atualmente, a influência dessas linhas e de seus respectivos autores ainda se faz sentir em todo o mundo. Elas são modelos para os sociólogos e servem como inspiração para estudos de problemas contemporâneos, e muitos de seus con- ceitos constituem pontos de partida de pesquisas sociológicas. Os trabalhos de Marx, Weber e Durkheim, embora tenham passado por vasta revisão crítica de outros pensadores, ainda oferecem elementos para a compreensão da sociedade contemporânea. A sociologia, ao surgir como uma reflexão sobre as questões nas- cidas com a sociedade capitalista e também em razão dos caminhos que a ciência vinha abrindo, tem como marca de seu propósito buscar respostas a problemas que se colocam com base nos processos de desenvolvimento social, assim como questionar a validade de suas próprias conclusões. O positivismo de Auguste Comte Nascido em fins do século XVIII, na cidade francesa de Montpellier, Auguste Comte (1798-1857) propôs um sistema de conhecimento que, articulando a ra- zão às observações empíricas, fosse capaz de descrever o conjunto da realidade, dos fenômenos da natureza à vida em sociedade. Estimulado pelos avanços das ciências naturais, postulava a extensão de seus procedimentos para as pesquisas sobre as relações dos homens em sociedade, caracterizando uma física social que, reformando intelectualmente os seres humanos, ofereceria fundamentos racionais para a organização política da sociedade. A perspectiva comtiana reivindicava a completa renúncia à pesquisa filosófica de temas meramente especulativos, que, superestimando a capacidade cognitiva humana, se lançavam à busca de conhecimentos absolutos e que não possuem, Os temas Revolução In- dustrial e Revolução Fran- cesa são fundamentais dentro da área de história para o entendimento da formação da sociedade moderna e contemporâ- nea. Os desdobramentos da Revolução Industrial também são centrais para a geografia, desde o entendimento da or- ganização da produção econômica no contexto do capitalismo até às questões ambientais da atualidade. Conexões 5 So cio lo ig a Figura 2. Templo positivista de Porto Alegre, prédio histórico junto ao Parque Farroupilha – construção datada do início do século XX. segundo Comte, uma base legítima, porque excedem o que é demonstrável pela experiência. Nesse sentido, defende sua substituição por uma investigação científica das leis naturais e sociais, ou seja, um conhecimento denominado de positivo, pois, além de ser estabelecido racionalmente, sustenta-se em demons- trações objetivamente verificadas na realidade. Nascia, assim, o positivismo. As reflexões de Comte o conduziram à crescente convicção de que o progresso do conhecimento científico seria fundamental não apenas para a consolidação do domínio humano sobre a natureza, como também para a organização racional da sociedade, solucionando a crise moral por ele observada no mundo moderno. Segundo Comte, os progressos do conhecimento humano eram visíveis em dife- rentes ramos do saber, e que na astronomia, na física, na química e na biologia as respostas às suas questões adquiriram contornos definitivamente científicos. Restava, então, estender a perspectiva objetiva da ciência para a esfera da so- ciedade, uma vez que para esta eram comuns ainda as explicações vinculadas a concepções teológicas ou metafísicas. Por seu empenho em fixar o entendimento acerca dos fenômenos humanos em fundamentos científicos, Auguste Comte é considerado o fundador das ciências sociais ou, em sentido mais específico, do que depois seria denominado de sociologia. Considerar Auguste Comte como o nome inaugural das ciências sociais signi- fica dizer que ele foi o primeiro autor a procurar sistematicamente a compreen- são científica da vida humana em sociedade. Essa postura seria muito comum no século XIX, motivada tanto pelo êxito das ciências da natureza quanto pelas questões e problemas relativos à sociedade industrial, diante dos quais se tor- naram sem valor as explicações tradicionalmente aceitas sobre o ser humano e a sociedade. Posteriormente, o método estabelecido por Comte para as ciências da sociedade, assim como sua conceituação geral de ciência, foi contestado de maneira radical por estudiosos de diferentes áreas do saber. Em outras palavras, o positivismo sofreu pesadas críticas a partir do século XX, por causa da sua forte crença na ciência como solução para todos os problemas da humanidade. E u g E n io H a n sE n , o Fs 6 SL .0 1 Figura 3. Comte (1798-1857) viveu em uma época marcada pelas grandes transformações sociais, políticas e econômicas ocorridas na Europa, em decorrência das revoluções Industrial e Francesa. A lei dos três estados Em sua obra Curso de filosofia positiva, editada em seis volumes a partir de 1830, Comte apresenta a evolução do conhecimento humano em direção à unidade do método científico, por meio do qual seria possível descrever as leis gerais que regem os fenômenos sociais da mesma forma que progrediam os saberes positivos em torno dos fenômenos da natureza. Comte afirma constatar uma lei fundamental do desenvolvimento da humanidade, que envolveria articuladamente as formas progressivas de conhecimento e as mo- dalidades de estruturação da sociedade. Trata-se da lei dos três estados (ou estágios), segundo a qual a inteligência humana tem como ponto de partida o estágio teológico ou fictício (etapa em que os seres humanos explicam os fenômenos por meio da crença no sobrenatural, como, por exemplo, pela mitologia e pelos deuses), após o qual, como situação intermediária, tem-se a fase metafísica ou abstrata (nessa etapa, os seres humanos substituem os deuses pela filosofia como meio de se compreenderem e explicarem os fe- nômenos); e, finalmente, o estágio positivo ou científico, como sua etapa superior e permanente, na qual os seres humanos explicam os fenômenos por meio da ciência. Essa última etapa corresponderia ao momento das sociedades industriais. O estado positivo ou científico realiza a condição definitiva e su- perior da inteligência humana, na qual os seres humanos reconhecem os limites de seu entendimento e abandonam a expectativa de um co- nhecimento absoluto, mantendo a razão em permanente correspondência com os dados da experiência, ou seja: as indagações metafísicas não são mais discutidas. Em seu nível científico, o conhecimento postularia unicamente a identificação das leis que regulam os fenômenos observados, assim como as relações entre estes, sem empenhar-se na tarefa de vasculhar suas mais remotas causas. Assim, a razão estaria sempre conjugada ao que é empiricamente demonstrável, expandindo o conhecimento sobre as leis do funcionamento do Universo. A física social Após uma longa explanação sobre o desenvolvimento evolutivo das mais variadas ciências, Comte chega à física social, ou seja, à sociologia (ou, ainda, à filosofia social positiva), que se dirige à pesquisa das leis da sociedade. Con- forme a convicção de Comte, o método empregado nas ciências naturais deve ser aplicado ao estudo da sociedade,e a física social é possível porque dispõe dos conhecimentos acumulados nas ciências que a precederam no tempo. O co- nhecimento científico dos fenômenos da sociedade, sendo estes os mais comple- xos e particulares por se referirem unicamente aos seres humanos, pressupõe a constituição de todas as demais ciências. Quando registramos que, para Auguste Comte, a ciência da sociedade conclui o repertório de conhecimentos científicos, não se deve entender com isso que a humanidade atinge a sabedoria máxima acerca de todos os fenômenos, mas que todos os fenômenos, dos astronômi- cos aos sociais, são tratados cientificamente, isto é, pela condição superior da inteligência positiva. Para Comte, quando desaparecessem os vestígios teológi- cos e metafísicos que ainda pairam sobre as explicações relativas à sociedade, o conhecimento científico seria a única forma de entendimento da realidade e jamais deixaria de se enriquecer com aquisições em todos os seus domínios. Dessa forma, a física social, assim como as demais ciências que oferecem aos homens meios mais eficientes de ação sobre a natureza, possibilitando-lhes o progresso tecnológico, propiciaria aos seres humanos os recursos indispensáveis à ordenação política da sociedade. 7 So cio lo ig a h u lt o n a r c h iv e / G e tt y iM a G e S A “Ordem” e o “Progresso” Nas modernas sociedades industriais da época de Comte, dissolviam-se an- tigos padrões de sociabilidade, instaurando-se, em seu lugar, uma dinâmica social instável e permeada por numerosos conflitos, especialmente nos grandes centros urbanos, nos quais as crises eram mais contundentes e visíveis. A filo- sofia positiva, nessas sociedades, então, é também uma resposta científica que se pretende dar aos problemas característicos do mundo moderno, que são classificados por Comte nos termos de uma desordem política e de uma “anar- quia moral”, ou seja, como decorrentes da ausência de princípios de morali- dade socialmente aceitos e pela inexistência de mecanismos políticos capazes de determinar a ordem social. Essa crise moral e política, por sua vez, foi com- preendida como um desdobramento direto da confusão intelectual vigente na época. Afinal, enquanto todos os fenômenos naturais eram pesquisados cien- tificamente, na esfera da sociedade predominavam ainda as especulações teo- lógicas e metafísicas, sendo que estas, se em tempos passados estabeleciam a coesão das sociedades humanas, se tornaram ineficientes para garantir a ordem social diante da complexidade dos problemas modernos. O estabelecimento da ordem na sociedade, condição prévia do progresso, seria gerado, portanto, a partir da física social. Comte concebeu dois princípios atuando combinada- mente nas sociedades humanas, o estático (ordem) e o dinâmico (progres- so). O elemento estático, que significa a ordem existente em uma sociedade, assegura a conservação da vida social por intermédio de práticas e instituições de socialização. O elemento dinâmico, por meio do qual se realiza o progresso das sociedades humanas, segue a mesma linha evolutiva da lei dos três estados da inteligência humana, sendo sua condição final a sociedade industrial gover- nada em conformidade com o saber da física social. Portanto, a física social, baseada na conjugação da observação empírica com a razão, possibilitaria a No Brasil, o positivismo encontrou um solo fértil, assim como em outros países latino-americanos que, na busca por uma identidade nacional, ofereceram um espaço propício a ser preenchido por doutrinas sociais europeias que corres- pondessem aos anseios do desenvolvimento nacional. Importantes inte- lectuais exerceram papel relevante na divulgação do positivismo no Brasil. O ápice das intervenções do positivismo na vida política brasi- leira deu-se no movimento republicano. Os positivistas não foram o único grupo que proclamou a República no Brasil, mas são inegá- veis o tamanho e a extensão de sua influência no processo de deposição da monarquia no país. O momento de maior interfe- rência do pensamento positivista na vida republicana deu-se na elaboração da Constituição de 1891. Nela, encontramos clara- mente a orientação política positivista de “Ordem e Progresso”, impressa também como lema da bandeira nacional. 8 SL .0 1 Jo Sé c r u z/ a b r Jo Sé c r u z/ a b r identificação das leis inerentes à vida em sociedade, fornecendo aos seres humanos o conhecimento necessário ao estabelecimento da ordem sociopolítica e à adoção de medidas que conduzissem ao progresso. O ponto de parti- da para a remoção da desordem moral e política seria, então, uma extensa reforma educacional que suscitasse a reorganização da sociedade em bases racionais e científicas, isto é, a ciência da sociedade é concebida por Comte como a fonte de uma sociedade racionalmente ordenada. Sobre a realidade social precária do proletariado indus- trial-urbano de sua época, Comte entendia que essa situação seria naturalmente resolvida com o desenvolvimento e a aplicação das ciências positivas, fazendo com que seus efeitos fossem sentidos sobre a classe mais numerosa e mais pobre. Em nenhum momento, o pensador positivista acreditou na incompatibilidade entre progresso técnico (capitaneado pelo capital industrial) e a força de trabalho assalariada. Ao contrário, Comte chegou a afirmar que o protagonismo dos movimentos operários serviria para domesticar o egoísmo dos capitalistas e imprimir uma ordem moral humanitária. Comte não acreditava que a eliminação da propriedade privada e da classe capitalista traria a dissolução dos conflitos sociais, mas, sim, aprofundaria o atraso entre os detentores do capital e os que contavam apenas com a força de trabalho. O desejo de estabelecer o caminho para uma profunda reforma intelectual e social, contudo, não se limitou ao desenvolvimento de uma estratégia política. Comte foi além e propôs a criação de uma religião da humanidade. Tal fato ocorreu durante os úl- timos quinze anos de sua vida, quando estabeleceu os aspectos principais do que seria essa nova religião. Levando até as últimas consequências a ideia de que a teoria positivista consistiria em uma nova reli- gião para a humanidade, Comte se dedicou a elaborar um novo calendário, cujos meses receberam nomes de grandes figuras da história do pensamento. Como a maioria das religiões, Comte escreveu um catecismo (o Catecismo positivista), cujo ponto-chave seria a mudança da concepção de Deus como centro de tudo para a huma- nidade como objetivo último da vida humana. Em foco C4 — Entender as transformações técnicas e tecno- lógicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social. H18 — Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais. (Enem-MEC) Leia o texto a seguir. A Inglaterra pedia lucros e recebia lucros. Tudo se transformava em lucro. As cidades tinham sua sujeira lucrativa, suas favelas lucrativas, sua fumaça lucrativa, sua desordem lucrativa, seu desespero lucrativo. As novas fábricas e os novos altos-fornos eram como as Pirâmides, mostrando mais a escravização do homem que seu poder. Adaptado de DEANE, P. A Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. Qual relação é estabelecida no texto entre os avanços tecnológicos ocorridos no contexto da Revolução Indus- trial inglesa e as características das cidades industriais no início do século XIX? a) A facilidade em se estabelecer relações lucrativas transformava as cidades em espaços privilegiados para a livre-iniciativa, característica da nova socie- dade capitalista. b) O desenvolvimento de métodos de planejamento urbano aumentava a eficiência do trabalho industrial. c) A construção de núcleos urbanos integrados por meios de transporte facilitava o deslocamento dos trabalhadores das periferias até as fábricas. d) A grandiosidade dos prédios onde se localizavam as fábricas revelava os avanços da engenhariae da arquitetura do período, transformando as cidades em locais de experimentação estética e artística. e) O alto nível de exploração dos trabalhadores in- dustriais ocasionava o surgimento de aglomerados urbanos marcados por péssimas condições de moradia, saúde e higiene. Alternativa e O texto é explícito quanto à submissão, nas cidades industriais, de todas as formas de sociabilidade e de ocupação do espaço ao princípio do lucro, mencionando as precárias condições de habitação de boa parte da população urbana e a deterioração dos elementos am- bientais como produtos dessa voracidade lucrativa. Nessa perspectiva, situa-se a acentuada exploração exercida sobre os trabalhadores industriais. a) (F) O texto não estabelece qualquer indicação de que as cidades tenham se convertido em espaços férteis à livre-iniciativa. b) (F) O texto não sugere a existência de planeja- mento urbano nessas cidades industriais. c) (F) Não há, no texto, qualquer menção ou sugestão de uma organização de transportes públicos. d) (F) A afirmação de que as cidades comportavam inovações arquitetônicas que as transformavam em centros de experimentação estética não en- contra respaldo no texto. 9 So cio lo ig a ATIVIDADES 1 (UPE) Leia o texto a seguir: […] grandes mudanças que ocorreram na história da humanidade, aquelas que aconteceram no século XVIII — e que se estenderam no século XIX — só foram superadas pelas grandes transformações do final do século XX. As mudanças provocadas pela revolução científico-tecnológica, que deno- minamos Revolução Industrial, marcaram profundamente a organização social, alterando-a por completo, criando novas formas de organização e causando modificações culturais duradouras, que perduram até os dias atuais. DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. p. 124. Percebe-se que as transformações ocorridas nas socieda- des ocidentais permitiram a formação de relações sociais complexas. Nesse sentido, a sociologia surgiu com o obje- tivo de compreender essas relações, explicando suas ori- gens e consequências. Sobre o surgimento da sociologia e das mudanças históricas apontadas no texto, assinale a alternativa correta. a) A grande mecanização das fábricas nas cidades possi- bilitou o desenvolvimento econômico da população rural por meio do aumento de empregos. b) A divisão social do trabalho foi minimizada com as no- vas tecnologias introduzidas pelas revoluções do século XVIII. c) A sociologia foi uma resposta intelectual aos problemas sociais, que surgiram com a Revolução Industrial. d) O controle teológico da sociedade foi possível com o emprego sistemático da razão e do livre exame da realidade. e) As atividades rurais do período histórico, tratado no texto, foram o objeto de estudo que deu origem à so- ciologia como ciência. A sociologia, como ciência, é uma tentativa de compreensão dos efeitos das transformações ocorridas no mundo ocidental a partir das Revoluções Francesa e Industrial. a) (F) A industrialização fez com que a população rural migrasse para as cidades. b) (F) A divisão do trabalho aumenta com os processos de industrialização. d) (F) O pensamento racional e científico implicou a perda de força das instituições religiosas. e) (F) Ao contrário, os objetos de estudo da sociologia, vistos em uma pers- pectiva ampla, devem-se aos processos de urbanização e industrialização. Alternativa c 2 (U. F. Uberlândia-MG) A partir do século XIX, o ideal científico no campo da sociologia consistiu na formula- ção de teorias sobre o homem e a sociedade. Acerca do pensamento científico sociológico, assinale a alternativa correta. a) Os principais métodos nas ciências sociais em geral e na sociologia em particular excluem a observação sistemática de ambientes sociais, uma vez que os pro- cessos de interação entre os homens e os homens e o meio sociocultural não são observáveis. b) A pesquisa sociológica e a realizada nas demais áreas das ciências sociais independem da formulação de ge- neralizações, uma vez que as relações entre os homens e os homens e o meio sociocultural pautam-se pelas particularidades. c) As ideias científicas diferem do senso comum e de ou- tras formas de conhecimento, pois devem ser avaliadas à luz de evidências sistematicamente coletadas e do escrutínio público. d) O pensamento científico na sociologia deve estar com- prometido com a ideia de que as teorias são tempora- riamente verdadeiras e que as questões nunca estão resolvidas por completo; nesse sentido, o pensamento científico sociológico se iguala ao senso comum. A perspectiva científica implica um distanciamento do senso comum, na medida em que pedem a observação sistemática da realidade e a divulga- ção e discussão dos dados coletados e conclusões obtidas. a) (F) As ciências sociais, como quaisquer outras ciências, não excluem a observação sistemática de seus respectivos objetos de análise. Esse é um dos principais requisitos do pensamento científico. Para a sociologia, os processos de interação dos homens entre si e entre os homens e o meio sociocultural são, sim, observáveis. b) (F) As pesquisas realizadas pelas ciências sociais, que incluem a sociolo- gia, implicam a formulação de generalizações. d) (F) Embora a primeira parte do enunciado possa ser considerado válida, o fato de não existirem “verdades eternas”, isso não torna a sociologia equivalente ao senso comum. Alternativa c 10 SL .0 1 3 (C1/H1) Leia o texto a seguir e responda à questão proposta. As famílias estadunidenses gastam muito e poupam pou- co. O governo é ainda pior. O custo enorme e rapidamente crescente da saúde é uma das principais razões. […]. Mas a saúde dos EUA ainda exclui muitas pessoas e é ineficien- te. A expectativa de vida, a mortalidade infantil e outros indicadores são substancialmente piores que os de outros países ricos. O alto custo da saúde nos EUA pode ser atribuído prin- cipalmente aos preços altos, e não à utilização maior do sistema por uma sociedade em processo de envelhecimento. NAÍM, Moisés. EUA desperdiçam catástrofe. Folha de S. Paulo/Mundo. 5 abr. 2013. Adaptado de www1.folha.uol.com.br (acesso em 22 abr. 2013). No texto citado, o termo “sociedade” refere-se a: a) uma associação sem fins lucrativos. b) um Estado-nação. c) um grupo definido apenas por vínculos religiosos. d) uma associação de caráter comercial. e) um grupo definido pelo gênero. O termo “sociedade”, tal como aparece no texto, remete ao conceito de Estado-nação, ou seja, de país. Por sociedade, entende-se, no texto, socie- dade estadunidense, definida em termos territoriais, políticos e culturais. a) (F) Não se trata de uma associação sem fins lucrativos, como em “So- ciedade dos músicos da cidade”. O próprio conceito de sociedade, em termos sociológicos, não se aplicaria nesse sentido. c) (F) Um país não é um grupo de indivíduos ligados unicamente por vín- culos religiosos, embora essa seja uma dimensão importante. d) (F) Nesta alternativa, temos a mesma orientação da alternativa (a). Em termos sociológicos, e no caso específico do texto, a alternativa não se aplica ao contexto. e) (F) O texto refere-se a um amplo grupo de pessoas (a sociedade ameri- cana — que estaria em processo de envelhecimento) e não há, nesse caso, uma segmentação por gênero. Alternativa b 4 (C1/H5) Leia o texto a seguir e responda à questão proposta. Mani era uma linda indiazinha, neta de um grande caci- que de uma tribo antiga. Desde que nasceu andava e falava. De repente morreu sem ficar doente e sem sofrer. A indiazi- nha foi enterrada dentro da própria oca onde sempre morou e como era a tradição do seu povo. Todos os dias os índios da aldeia iam visitá-la e choravam sobre sua sepultura, até que nela surgiu uma planta desconhecida, então os índios resol- veram cavar para ver que planta era aquela, tiraram-na da terra e ao examinar sua raiz viram que era marrom, por fora, e branquinha por dentro. Após cozinhareme provarem a raiz en- tenderam que se tratava de um presente do Deus Tupã. A raiz de Mani veio para saciar a fome da tribo. Os índios deram o nome da raiz de Mani e como nasceu dentro de uma oca ficou Manioca, que hoje conhecemos como mandioca. Mandioca. Disponível em: www.sohistoria.com.br (acesso em 29 mar. 2013) Considerando a teoria sociológica dos três estados de Auguste Comte, o texto citado seria um exemplo: a) do conhecimento produzido em sociedades historica- mente anteriores ao estágio teológico. b) do conhecimento produzido em sociedades vinculadas ao estágio positivo. c) do conhecimento produzido em sociedades denomi- nadas complexas. d) do conhecimento orientado pelo método dedutivo. e) do conhecimento produzido em sociedades vinculadas ao estágio teológico. O texto citado é um mito, ou seja, uma forma de conhecimento presente nas sociedades tribais e tradicionais. Considerando a perspectiva de Au- guste Comte, tal forma de conhecimento — que explica fenômenos com base mágico-religiosa, ou na intervenção de deuses — seria característica de uma sociedade que estaria no estágio teológico. a) (F) Não há, na teoria comtiana dos três estados, um estágio anterior ao teológico nas sociedades históricas humanas. b) (F) Considerando as ideias de Comte, o estágio teológico seria caracterís- tico das sociedades ditas simples ou mesmo tribais. As sociedades com- plexas (os países europeus do século XIX) estagiam no estado positivo, em que a ciência é a forma de conhecimento estabelecida. c) (F) No caso desta alternativa, a orientação é a mesma que a da alterna- tiva b. d) (F) O método dedutivo pressupõe uma percepção racional da realidade, bem como o entendimento de leis gerais com base nas quais se pode obter uma conclusão de caráter particular. O que vemos, no texto citado, é um exemplo que não se enquadra nas características dessa forma de raciocínio. Alternativa e 5 (C1/H4) Leia o trecho da canção e responda à questão pro- posta. O amor vem por princípio, a ordem por base O progresso é que deve vir por fim Desprezastes esta lei de Augusto Comte E fostes ser feliz longe de mim ROSA, Noel. Positivismo. Disponível em: http://letras.mus.br (acesso em 22 mar. 2013) No trecho da canção composta por Noel Rosa são apresen- tadas as palavras ordem e progresso. Elas constituem, na obra de Auguste Comte: a) conceitos que representam uma filosofia da história e do desenvolvimento humano. b) elementos que aparecem como sinônimos do estágio positivo. c) conceitos que explicam as questões da divisão do tra- balho nas sociedades modernas. d) conceitos explicativos do desenvolvimento das socie- dades pré-capitalistas. e) termos que se relacionam à crítica à divisão do traba- lho no mundo contemporâneo. Ordem e Progresso, na teoria sociológica de Auguste Comte, remetem à estática e à dinâmica, elementos que definem, de uma lado, a estabilida- de das instituições e, de outro, o processo da evolução do conhecimento humano ao longo da história expresso na teoria dos três estados. Trata-se assim, de uma filosofia da história, ou seja, uma forma geral e abstrata da percepção de como se processa a história humana. b) (F) Como conceitos que se referem a princípios atuantes na história hu- mana, ordem e progresso referem-se a todos os estágios, e não apenas ao positivo. c) (F) Na alternativa b, os princípios dinâmico e estático dizem respeito a um universo mais amplo que o da questão da divisão do trabalho, até mesmo mais geral do que essa questão presente nas sociedades modernas ou capitalistas. d) (F) A justificativa é semelhante à das alternativas b e c, no sentido da abrangência dos conceitos, na medida em que caracterizam uma filosofia da história. e) (F) A justificativa é semelhante à das alternativas b, c e d, incluindo-se o fato de que esses conceitos não se relacionam com uma crítica da divisão do trabalho no mundo contemporâneo. Alternativa a 11 So cio lo gi a http://www1.folha.uol.com.br/ http://www.sohistoria.com.br http://letras.mus.br COMPLEMENTARES 1 (U. E. Maringá-PR) Leia o texto a seguir e assinale o que for correto sobre a constituição da perspectiva sociológica. Dê a soma dos números dos itens corretos. O fascínio da sociologia está no fato de que sua pers- pectiva nos leva a ver sob a nova luz o próprio mundo em que vivemos. Isto também constitui uma transformação da consciência. […] O sociólogo vive no mundo comum dos homens, perto daquilo que a maioria das pessoas chamaria de real. As categorias que ele utiliza em suas análises consti- tuem apenas refinamentos das categorias em que os outros homens se baseiam — poder, classe, status, raça, etnia. Em consequência, algumas investigações sociológicas parecem — ilusoriamente — simples e óbvias. BERGER, P. Perspectivas sociológicas: uma visão humanística. Petrópolis: Vozes, 1973, p. 31. (01) Só é possível conhecer sociologicamente uma socie- dade distante, com a qual o pesquisador não tenha estabelecido relação prévia, até o momento de sua pesquisa. (02) A sociologia opera com categorias analíticas que inte- gram um vocabulário próprio, criando um conjunto de classificações que não possuem correspondentes no mundo histórico e social. (04) Os resultados das investigações sociológicas revelam a produção de um mundo social com regras bastante simples e óbvias. (08) A criação da perspectiva sociológica promove, naquele que a detém, uma transformação de consciência, pois o sociólogo vive a mesma realidade social que inves- tiga. (16) Uma das tarefas do sociólogo é revelar os muitos níveis de significados atribuídos pelos homens à realidade social que os cerca. 2 (U. F. Uberlândia-MG, adaptada) O surgimento da sociolo- gia como ciência particular está intimamente relacionado à expansão do capitalismo na Europa. As novas condições práticas impostas por esse sistema social elegiam a socie- dade como um problema a ser investigado e, já no século XVIII, pensadores sociais preconizavam o que no século XIX seria conhecido como sociologia. Em face das condições empíricas da sociedade capitalista e das respostas teóricas dadas pela nascente sociologia, julgue (V ou F). I. As revoluções burguesas que romperam com o An- tigo Regime foram de ordem política na medida em que instauraram, no caso da Inglaterra, a monarquia parlamentar e, no caso da França, a república presi- dencialista; porém, não alteraram a estrutura meta- física e teológica do antigo regime. II. A Revolução Industrial inaugurou um novo modo de organização do trabalho e de relações sociais de produção, cujas consequências sociais e econômicas colocaram em foco a situação dramática na qual vivia a classe trabalhadora, sendo este um problema prá- tico que a nova ciência do social teria de responder. III. Na nascente sociologia do século XIX, a sociedade é comparável a um sistema físico ou biológico; ou seja, ela possui uma estrutura, cuja produção e reprodu- ção dependem do funcionamento harmonioso das e entre as partes que a constituem. IV. As primeiras teorias sociológicas basearam-se no evolucionismo social, corrente que explica a origem e a história das sociedades, com base na passagem do simples ao complexo, do subjetivo para o objeti- vo, da solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica. 3 (U. F. Uberlândia-MG) De um ponto de vista histórico, a sociologia como disciplina científica surgiu ao longo do século XIX, como uma resposta acadêmica para os novos desafios da modernidade. Além das concepções advindas da Revolução Francesa e dos fortes impactos gerados pela Revolução Industrial na estrutura da sociedade, muitos outros processos também contribuíram para essa nova configuração da sociedade. Em seu desenvolvimento ao longo do século XIX, a socio- logia esperava entender: a) os grupos sociais e as causas da desintegração social vigente. b) como a Revolução Industrial encerrou a transição en- tre feudalismo e capitalismo, sem prejuízo da classetrabalhadora, pois foi beneficiada por esse processo. c) a subjetividade dos indivíduos nas pesquisas sociológi- cas, como uma disciplina científica com metodologia própria. d) a Revolução Francesa como um marco revolucionário que modificou o pensamento, apesar de manter as tradições aristocratas. 4 (U. E. Maringá-PR) Leia o texto a seguir. A sociologia não se limita ao estudo das condições de existência social dos seres humanos. Todavia, essa consti- tui a porção mais fascinante ou importante de seu objeto e aquela que alimentou a própria preocupação de aplicar o ponto de vista científico à observação e à explicação dos fenômenos sociais. Ora, ao se falar do homem, como objeto de indagações específicas do pensamento, é impossível fixar, com exatidão, onde tais indagações se iniciam e quais são os seus limites. Pode-se, no máximo, dizer que essas indaga- ções começam a adquirir consistência científica no mundo moderno, graças à extensão dos princípios e do método da ciência à investigação das condições de existência social dos seres humanos. Sob outros aspectos, já se disse que o ho- mem sempre foi o principal objeto da curiosidade humana. Atrás do mito da religião ou da filosofia sempre se acha um agente humano, que se preocupa, fundamental e primaria- mente, com questões relativas à origem, à vida e ao destino de seus semelhantes. FERNANDES, F. A herança intelectual da sociologia. In: FORACCHI, M. e MARTINS, J. S. Sociologia e sociedade. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1977. p. 11. 12 SL .0 1 Pode-se concluir do texto que a sociologia: (01) nasce e se desenvolve procurando compreender a Ida- de Média. Os sociólogos utilizaram os recursos expli- cativos gerados, sobretudo, pelas doutrinas religiosas para analisar a organização do mundo. (02) empreende uma reflexão sistemática sobre as trans- formações sociais em curso nas sociedades em que a ciência se tornou uma poderosa ferramenta de com- preensão do mundo. (04) define, ao refletir sobre os conflitos estabelecidos nas relações entre indivíduo e sociedade, que a fun- ção dos sociólogos é encontrar soluções para esses conflitos. (08) objetiva construir formas de conhecimento científico sobre a realidade, estabelecendo teorias e metodolo- gias que gerem compreensão dos fenômenos sociais. (16) elabora um estudo organizado do comportamento humano. Logo, podem ser objetos de estudo dessa ciência, dentre outros: as formas de exclusão social, os novos arranjos familiares, os processos de construção da cidadania e o fenômeno da violência urbana. Dê a soma dos números dos itens corretos. 5 (UFPA) Acreditava-se, nos primórdios da sociologia, como aliás com relação às ciências sociais de uma maneira geral, ser possível atingir a mesma neutralidade e objetividade que se imaginava poder atingir nas ciências naturais. Por isso, essa nova ciência da sociedade recebeu inicialmente o nome de física social, e só posteriormente, passou a ser denominada de sociologia. Entre as alternativas a seguir, a única que não expressa uma perspectiva desse momento inicial da sociologia é: a) os métodos das ciências naturais poderiam e deveriam ser aplicados aos estudos sobre a sociedade. b) havia a necessidade de desenvolver técnicas racionais para controlar os conflitos criados pelas sucessivas cri- ses do século XIX. c) a única fonte legítima da ciência seria a experiência externa. O testemunho da consciência e as experiên- cias subjetivas, como fonte de observação científica, não tinham valor. d) acreditava-se que seria necessário compreender e controlar racionalmente a natureza com o objetivo de encontrar mecanismos capazes de promover a preser- vação do meio ambiente, pois já se previa que os danos ambientais causados pela aplicação da tecnologia na esfera da produção poderiam causar sérias consequên- cias às gerações futuras. e) o fundamento inicial da sociologia era o método po- sitivo, alicerçado em um conjunto hierarquizado de ciências. Na larga base dessas ciências encontrava-se a matemática e, em seu vértice, a sociologia. 13 So cio lo gi a A sociedade como consciência coletiva Émile Durkheim (1858-1917) é considerado um dos mais notáveis sociólogos franceses. Um de seus maiores méritos foi o de conferir à sociologia o status de ciência. Tendo isso como objetivo intelectual, organizou o méto- do sociológico, indicando como deveria ser a abordagem dos problemas sociais e quais re- gras deveriam ser seguidas na análise de tais problemas. A objetividade científica na análise da vida social foi uma questão fundamental na sua proposição do método sociológico, pois não existe uma ciência de fato se não há para ela uma metodologia. O desenvol- vimento de uma metodologia específica para o entendimento da sociedade ainda não havia sido d e v i d a - mente formulado, mesmo por Auguste Comte. Duas grandes influências atuaram sobre o pensamento de Durkheim: o próprio posi- tivismo comtiano e as ciências naturais que, no século XIX, ganhavam enorme destaque. O rigor metodológico dessas ciências, somado ao destaque dado pelo positivismo para o campo científico, levaram Durkheim a dedicar a sua vida em prol da sociologia como um campo específico do saber científico. Durkheim não escapa às características dos primeiros pensadores da sociolo- gia, muito interessados na compreensão da sociedade criada pela Revolução In- dustrial. Contudo, seu enfoque está em entender essa mesma sociedade à luz da ciência, tendo-a como um elemento que apresenta também um caráter moral. Na concepção de Durkheim, é a consciência coletiva que traduz uma organização social, ou seja, a sociedade somente é possível graças à consciência coletiva. Em As regras do método sociológico, de 1895, Durkheim escreveu: [1 ] e [2 ] M o n a M iS /S h u tt e r St o c k , [3 ] a lP h a SP ir it /S h u tt e r St o c k [1] [2] [3] alekS Melnik/ShutterSto c k 14 Émile Durkheim (1858-1917): o indivíduo na sociedade SL .0 2 Figura 1. Em razão da sua preocupa- ção com a questão das funções que cada organismo social tem de cumprir para o bom funcionamento do social, Durkheim também é considerado o fundador da escola funcionalista em sociologia, uma corrente de pensamento que defende a ideia de que determinados elementos de uma sociedade cumprem um papel vital na manutenção do equilíbrio de conjun- to, sendo, portanto, indispensáveis para o bom funcionamento de tal sociedade. Como o bom funcionamento dos órgãos humanos é vital para o próprio ser hu- mano, assim também seria na sociedade, com as instituições sociais (família, escola, igreja, Estado) cumprindo seu papel como os órgãos humanos. Parece-nos pura evidência que a matéria da vida social não se possa explicar por fatos puramente psicológicos, quer dizer, por estados da consciência individual. Com efeito, as representações coletivas traduzem a maneira como o grupo se pen- sa nas suas relações com os objetos que o afetam. Ora, o grupo é constituído de modo diferente do indivíduo, e as coisas que o afetam são de outra natureza. Logo, representações que não exprimem nem os mesmos sujeitos nem os mesmos objetos não poderiam depender das mesmas causas. Para compreender a maneira como a sociedade se representa a si própria e ao mundo que a rodeia, precisamos consi- derar a natureza da sociedade e não a dos particulares. DURKHEIM, Émile. Os pensadores: Durkheim. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 79. As atitudes individuais isoladas em nada interessam quando se pretende es- tudar uma sociedade, uma vez que o meio social só pode ser apreendido pelo sociólogo por meio daquilo que move as pessoas em direção ao coletivo: trata- -se dos fatos sociais, pois são eles que convertem a sociedade num sistema que representa determinada realidade com características próprias e pertinentes de serem estudadas pelos sociólogos. Ao tentar delimitar o campo de estudo da so- ciologia, Durkheim constata que o conceitode social é aplicado a quase todos os fenômenos que se passam no interior da sociedade. Vendo nisso um problema, já que a metodologia requer a delimitação do objeto a ser estudado, ele procu- rou estabelecer qual tipo de fato mereceria a qualificação de social. À sociologia como ciência caberia, então, ocupar-se daqueles fatos que apresentassem as características específicas para serem considerados fatos sociais. Ao viverem em sociedade, os seres humanos deparam-se com regras de conduta que não foram criadas por eles, mas devem ser aceitas e seguidas por todos, pois sem essas regras a sociedade não existiria como coletividade com diferentes graus de organização. Entretanto, nem tudo o que acontece em uma sociedade pode ser apreendido como um fato social. São três as características apresentadas por Durkheim para que um determinado elemento presente em uma sociedade possa ser tomado como um fato social: a coercitividade (coerção social), a exterioridade e a generalidade. A coerção social liga-se à força que os fatos sociais exercem sobre os indivídu- os e que os levam a conformarem-se com as regras da sociedade em que vivem, independentemente de sua escolha ou vontade. Tenha ou não consciência da coerção que atua sobre si, o indivíduo é levado a comportar-se de determinada forma; a coerção é uma realidade na vida do indivíduo. A exterioridade é a se- gunda característica. Durkheim demonstra que os fatos sociais, além de existirem, atuam sobre os indivíduos involuntariamente, sem qualquer relação com a sua vontade ou sua adesão. Comprova que as regras sociais já existem, assim como os costumes e as leis, sendo anteriores ao nascimento das pessoas e estabelecidos por mecanismos de coerção. Desses mecanismos, a educação é provavelmente o mais comum e consolidado em nossa sociedade. Por fim, com a generalidade, Durkheim caracteriza como social todo fato que é geral, que se aplica a todos os indivíduos ou à sua maior parte. É na generalidade que se encontra a natureza coletiva dos fatos sociais, o seu estado comum ao grupo. A educação é um dos exemplos utilizados por Durkheim para definir o que é um fato social. Seja ela formal ou não, a educação tem a importante tarefa do ajustamento dos indivíduos à sociedade na qual vivem. Estabelece regras que devem ser aprendidas, internalizadas e transformadas em hábitos de conduta, ou seja, a sociedade deve educar os indivíduos para que aprendam as normas necessárias para a organização da vida social. A definição de fato social se con- firma para Durkheim a partir de um exemplo corriqueiro em que ele mostra o modo como as crianças são educadas. A educação se concentra em um esforço sucessivo para impor às crianças padrões fixos de conduta no modo de ver, de sentir ou de agir, padrões esses que não se adquirem espontaneamente. A pressão r e Pr o d u ç ã o a lP h a SP ir it /S h u tt e r St o c k 15 Émile Durkheim (1858-1917): o indivíduo na sociedade que a criança sofre é a própria pressão do meio social, tendendo a moldá-la à sua imagem, pressão da qual os pais e os mestres seriam apenas representantes e intermediários. A sociedade e a solidariedade Os laços que unem cada indivíduo ao grupo constituem a solidariedade, que pode ser de dois tipos: mecânica ou orgânica. As sociedades tradicionais, ou pré-capitalistas, seriam caracterizadas pela solidariedade mecânica. Quando os vínculos que unem o indivíduo à sociedade se assemelham aos que ligam um déspota aos seus súditos, sua natureza é análoga à daqueles que unem um pro- prietário a seus bens: eles não são recíprocos, mas, sim, são de natureza mecâni- ca. O indivíduo não se pertence, diz Durkheim: ele é, literalmente, uma coisa de que a sociedade dispõe. Nas sociedades em que essas ligações predominam, as ideias e as tendências comuns a todos os seus membros ultrapassam em número e intensidade aquelas que pertencem a cada um deles pessoalmente. Isso signi- fica que não encontramos ali aquelas características que diferenciam tão nitida- mente os membros de uma mesma sociedade, a ponto de podermos chamá-los de indivíduos. Suas consciências se assemelham, eles são pouco ou quase nada desiguais entre si e, por isso, são solidários graças às suas similitudes. Mesmo a propriedade não pode ser individual, o que só vem a acontecer quando o indiví- duo se desliga e se distingue da maior parte da população. A solidariedade pode ser denominada mecânica quando relaciona diretamente o indivíduo à sociedade, sem nenhum intermediário; constitui-se em uma reu- nião de crenças e sentimentos comuns a todos os membros do grupo, ou seja, é o tipo coletivo. A quantidade de responsabilidade atribuída à solidariedade me- cânica na integração social depende da extensão da vida social que ela envolve, regulamentada pela consciência comum. A consolidação de um poder absoluto, cuja extraordinária autoridade surge de uma consciência comum, é a primeira divisão do trabalho entre os povos primitivos. Nessas sociedades, ditas “simples”, Figura 2. Para Durkheim, a educação tem um importante papel na socialização das novas gerações pelas gerações mais velhas. A escola faz parte de uma educa- ção institucionalizada, contudo é no seio da família que o processo de aprendizado tem início. io fo to /S h u tt e r St o c k 16 SL .0 2 os tipos individuais são rudimentares, enquanto o tipo coletivo é bastante de- senvolvido. Assim, toda vida social é generalizada e, em vez de concentrar-se numa quantidade de pequenos lares distintos e semelhantes, reduzem-se os “vácuos morais” que separam os indivíduos e, desse modo, as relações sociais tornam- se mais numerosas e se estendem. Essa aproximação é tida por Durkheim como o resultado de um aumento da densidade moral e dinâmica ou intensidade dinâmica. Os indivíduos passam a estar em contato suficiente de modo a agir e reagir uns sobre os outros desde o ponto de vista moral; eles não apenas trocam serviços ou fazem concorrência uns com os outros, mas têm uma vida comum. Daí a força da consciência coletiva no contexto da solidariedade mecânica. Concomitantemente a isso, desenvolve-se a densidade material, que corresponde à concentração da população, à formação de cidades, ao aumento da natalidade e das vias de comunicação e transmissão rápidas e em quantidade que, suprimin- do ou diminuindo os vazios que separavam os segmentos sociais, aumentam a densidade da sociedade. À medida que se acentua a divisão do trabalho social, a solidariedade mecânica se reduz, formando-se uma nova: a solidariedade orgânica ou derivada da divisão do trabalho, gerando um processo de indivi- dualização. Sendo assim, a função da divisão do trabalho é a de integrar o corpo social, assegurando-lhe a unidade. É, portanto, uma condição de existência da sociedade, sendo esta “um sistema de funções diferentes e especiais”, em que cada órgão tem um papel diferenciado. A função que o indivíduo desempenha é o que marca seu lugar na sociedade, e os grupos por afinidades especiais tornam- se órgãos. Como exemplo, podemos citar a sociedade capitalista moderna. Essas duas formas de solidariedade evoluem em caminhos inversos: enquan- to uma progride, a outra se retrai, mas cada uma delas, a seu modo, cumpre a função de assegurar a coesão social nas sociedades chamadas simples ou com- plexas. Nesse sentido, quando a solidariedade social é forte, esta coloca os seres humanos pertencentes a uma coletividade em frequente contato, multiplicando as ocasiões em que têm de se relacionar. Quanto mais solidários são os membros de uma sociedade, mais interações diversas são sustentadas entre eles. Moralidade e anomia A preocupação com os problemas da então moderna sociedade capitalista industrial levou Durkheim a ressaltar a importância dos fatos morais na integra- ção dos indivíduos à vida social. Para ele, moral representa tudo o que é fonte de solidariedade, o que força um ser humano a contar com seu próximo, regula seus movimentoscom base em outro evento que não os impulsos de seu ego- ísmo, e a moralidade é mais sólida na medida em que esses laços são mais nu- merosos. Durkheim acreditava que a França se encontrava imersa em uma crise provocada pela ausência dos valores e das instituições protetoras e envolventes do mundo feudal, dentre as quais as corporações de ofício. Conflitos e desordens eram sintomas da anomia jurídica e moral presentes na vida econômica, cujo progresso sem precedentes não foi acompanhado pelo desenvolvimento de ins- tituições morais dotadas de uma autoridade capaz de regulamentar os interesses e instituir limites. Etimologicamente, anomia vem do grego e significa “sem lei, sem regra”. Na análise durkheimiana, a anomia corresponde a um estado pato- lógico pelo qual determinada sociedade pode passar, por causa da ausência de regras. Isto poderia ocorrer uma vez que essa sociedade vivesse em processo de mudança e não obedecesse mais suas regras antigas, ao mesmo tempo em que novas regras ainda não estivessem determinadas. Assim, quando a sociedade é perturbada por uma crise desse tipo, ela se torna momentaneamente incapaci- tada de desempenhar sobre os seus membros o papel de freio moral, de uma consciência superior à dos indivíduos. Consequentemente, estes deixam de ser solidários e a própria harmonia social se vê ameaçada, pois as tréguas impostas pela violência são provisórias e não deixam que os indivíduos fiquem em paz. a lP h a SP ir it /S h u tt e r St o c k 17 So cio lo ig a Isso ocorre porque as paixões humanas encontram limites apenas diante de um poder moral que impõe autoridade; caso contrário, a lei do mais forte governa e, assim, latente ou agudo, o estado de guerra se estabelece. Na visão de Durkheim, além da anomia jurídica e moral, a França de seu tempo via a própria moral profissional ainda em um nível rudimentar. O mundo moderno seria marcado por uma redução na eficácia de determinadas instituições integradoras, como a religião e a família, uma vez que os indivíduos passam a se agrupar de acordo com suas atividades profissionais. O modelo familiar tradi- cional havia desaparecido, fato que acarretou a consequente perda de autorida- de dessa instituição social sobre a vida privada, e o Estado mantinha-se distante dos indivíduos, tendo com eles relações muito exteriores e intermitentes para permitir penetrar profundamente nas consciências individuais e socializá-las in- teriormente. A diversidade de correntes de pensamento tornou as religiões, em contrapartida, pouco eficazes, uma vez que não mais subordinavam completa- mente o indivíduo. Sob esse aspecto, a profissão adquire uma importância cada vez maior na vida social. Assim, o grupo profissional preenche as duas condições necessárias para a regulamentação da vida social então anômica: o grupo está interessado na vida econômica e tem uma perenidade ao menos equivalente à da família. De acordo com Durkheim, o grupo profissional, ou corporação, por ser mais restrito que o Estado ou a vida econômica e por estar mais próximo da profissão, é adequa- do para conhecer bem seu funcionamento, para perceber todos os seus anseios e seguir todas as suas sanções. O grupo seria capaz, portanto, de exercer sobre os seus membros uma regulamentação moral capaz de frear-lhe certos impulsos e de pôr fim aos estados anômicos, quando manifestados. No estado em que se encontrava a sociedade, o grupo ocupacional ou profissional seria o único capaz de suceder a família nas funções econômicas e morais que ela se tornava cada vez mais incapaz de preencher. Seria preciso, gradativamente, vincular os indivíduos às suas vidas profissionais, organizar os grupos desse gênero, e que o dever profis- sional assumisse o mesmo papel que o dever doméstico desempenhara até então. Durkheim notava que o estado de anomia não poderia ser atribuído somente à distribuição desigual da riqueza, mas, principalmente, à falta de regulamentação das atividades econômicas, cujo desenvolvimento havia sido tão extraordinário nos últimos dois séculos que elas deixaram de ocupar o lugar secundário de an- tes. Do mesmo modo, ele atribuiu aos problemas provocados por uma divisão anômica do trabalho uma parte da responsabilidade nas desigualdades e nas insatisfações das sociedades modernas. Embora tendo absorvido uma considerável quantidade de indivíduos no meio industrial, tais atividades não se apresentavam como uma autoridade que lhes impusesse deveres, regras e limites, isto é, não exerciam a coerção, sem a qual não havia moral. Existe uma moral profissional do advogado, do magistrado, do militar, do docente, do médico, do sacerdote etc.; entretanto, ao fixar uma linguagem definida para as ideias em curso, definindo as relações do empregador com o empregado, dos industriais concorrentes entre si ou com o público, quais fórmulas se obteriam? A fidelidade e a dedicação que os assalariados de todos os tipos devem àqueles que os empregam, a moderação com a qual os empregadores precisam utilizar a sua superioridade econômica, e certa reprovação por toda concorrência evidentemente desleal ou, ainda, por toda exploração por demais injusta do consumidor: eis, aproximadamente, o que caracteriza a função moral dessas profissões. Indivíduos que são parte de um grupo com ideias, sentimentos e ocupações afins são atraídos entre si, associam-se e terminam por estabelecer um grupo especial do qual vem a desprender-se uma vida moral, um sentimento de com- pletude. Essa união com algo que supera o indivíduo, ou seja, a subordinação dos interesses particulares ao interesse geral, acentua a própria fonte de toda a atividade moral. Se esse sentimento pode ser definido e determinado, quando aplicado às circunstâncias mais ordinárias e mais importantes da vida, e se é tra- duzido em fórmulas específicas, temos, assim, um corpo de regras morais prestes a É de Durkheim o estudo so- ciológico clássico sobre a ques- tão do desvio social de conduta. Do ponto de vista da teoria fun- cionalista, o desvio é produto cultural porque somente por meio da criação de normas é que existe a possibilidade de elas serem violadas. De acordo com o funcionalismo, normas e desvios constituem dois lados de uma mesma moeda: consti- tuem a definição e a regulação das fronteiras dos sistemas so- ciais, pois somente a lealdade e a obediência a essas regras é que classificam os indivíduos como pertencentes a uma deter- minada sociedade, ao mesmo tempo em que aqueles que vio- lam as regras servem ao reforço do senso de coesão e integração daqueles que se conformam às regras sociais. a lP h a SP ir it /S h u tt e r St o c k 18 SL .0 2 se constituir. O espaço que a reflexão sobre esse tema ocupa na obra durkheimiana mostra a preocupação do autor com questões da ordem mundial, que, para ele, se decompunha moralmente. Ainda que tenha sido ativamente engajado nos de- bates políticos da França, Durkheim rejeitava as soluções para os problemas sociais propostas pelos grupos que se consideravam socialistas. Ele acreditava existirem nessas propostas somente indica- dores de um mal-estar social, pois, para Durkheim, o socialismo já estaria inserido na própria nobreza das sociedades superiores, na medida em que a complexidade da divisão do trabalho seria uma decorrência natural da evolução das funções eco- nômicas cada vez mais otimizadas. Afinal, sendo a divisão do trabalho um fato social, seu principal efei- to não é aumentar o rendimento das funções divididas, mas produzir mais solidariedade. Se isso não ocorre, é sinal de que os órgãos que compõem uma sociedade dividida em funções não se autor- regulam, deixam de realizar intercâmbios suficientes, não estão em bastante nem prolongado contato, nem podem, assim, garantir o equilíbrio e a coesão social. Nesses casos, o estado de anomia é eminente. Pois, sob certas circunstâncias, a divisão do trabalho age de maneira dissolvente, deixando de cumprir seu papel moralque é o de tornar solidárias as funções divididas. Seriam três os casos em que ocorre um estado de anomia: nas sociedades industriais e comerciais, em que as funções sociais não estão bem adaptadas entre si; nas lutas entre o trabalho e o capital, que indicam a falta de unidade e a desarmonia entre os trabalhadores e os patrões; e na divisão extrema de espe- cialidades no interior da ciência. Durkheim exemplifica tal estado com a situação de mercado em que um intenso crescimento reduz os contatos entre as partes, entre produtores e consumidores. A grande indústria separou inteiramente o pa- trão e o empregado, modificou as relações de trabalho e distanciou os membros das famílias. E os interesses em conflito ainda não foram capazes de atingir um novo equilíbrio. Se a função da divisão do trabalho falha, a anomia e o perigo da desintegração ameaçam todo o campo social. Percebe-se, então, que o centro da harmonia é constituído por regras morais que devem ser capazes de garantir a vida em sociedade. No momento em que o indivíduo, absorvido por sua tarefa, isola-se em sua atividade especial, já não percebe os colaboradores que traba- lham a seu lado, na mesma obra, e muito menos tem ideia dessa obra comum. Durkheim considera injustas as acusações de que a divisão do trabalho reduziu o trabalhador a uma máquina que repete rotineiramente os mesmos movimentos e que não relaciona a um propósito as ações que lhe são exigidas. Se ele já não é uma célula viva de um organismo vivo que vibra sem cessar ao contato das cé- lulas vizinhas, é porque se torna uma engrenagem inerte que uma força externa põe em funcionamento. Tal sistema não o deixa indiferente à moral. Perde-se o indivíduo e limita-se a fonte da vida social, o que é uma ameaça não só às fun- ções econômicas, mas, principalmente, a todas as funções sociais. A solução para isso não está em ampliar a cultura dos trabalhadores, mas em demonstrar-lhes que suas ações têm uma finalidade fora de si mesmas. Entretanto, a desarmonia entre as aptidões individuais e o gênero das tarefas que são atribuídas ao tra- balhador, por meio de alguma forma de coação, constitui outra inquietação da solidariedade, mas não é uma consequência necessária da divisão do trabalho em condições habituais. Durkheim argumenta que o trabalho só se divide espon- taneamente se a sociedade está constituída de tal maneira que as desigualdades sociais expressam exatamente as desigualdades naturais. Sempre que a riqueza for transmitida por herança, existirão ricos e pobres de nascimento. As condições morais de nossa vida social são tais que as sociedades não poderão se manter a [1 ] v ic to r ia k h /S h u tt e r St o c k , [ 2] a lP h a SP ir it /S h u tt e r St o c k [1] [2] 19 So cio lo ig a não ser que as desigualdades exteriores, dentro das quais os indivíduos estão situados, forem se nivelando cada vez mais. É preciso entender, com isso, não que os homens de- vem tornar-se iguais entre si; ao contrário: a desigualdade interior estará sempre aumentando, aquela que deriva do valor pessoal de cada um, sem que esse valor seja exagera- do ou diminuído por alguma causa exterior. Ora, a riqueza hereditária é uma dessas causas. Segundo Durkheim, mes- mo que a extinção da instituição da herança possibilitasse a cada indivíduo entrar na luta pela vida com os mesmos recursos, não deixaria de subsistir certa hereditariedade. Os dons naturais, a inteligência, o gosto, o valor científico, artístico, literário, industrial, a coragem, a destreza natu- ral são forças que cada um de nós recebe ao nascer, como o proprietário nato recebe o seu capital. Será, portanto, necessária ainda certa disciplina moral para forçar os me- nos favorecidos pela natureza a aceitar o que devem ao acaso de seu nascimento. Haverá quem reivindique uma partilha igual para todos e quem não conceda vantagem alguma aos mais úteis e merecedores — nesse caso, seria preciso uma disciplina muito mais enérgica para obrigar estes últimos a aceitar um tratamento simplesmente igual ao dispensado aos medíocres e impotentes. Os temas “industrialização” e “urbanização” são também fundamentais para a área da geo- grafia, pois determinam e englobam problemas sociais que se relacionam com a economia, a transformação das paisagens e o meio ambiente. Conexões A sociedade e sua ação sobre o indivíduo Em sua obra O suicídio, de 1897, Durkheim analisa de maneira rigorosa e original um fenômeno cujas causas parecem sempre ser explicáveis do ponto de vista do in- divíduo. Considera-se geralmente que o suicídio se confi- gura como uma ação da pessoa, dependendo unicamente de fatores individuais; sua compreensão, portanto, diria respeito apenas à psicologia. Diferentemente dessa hipó- tese, Durkheim coloca que a decisão do suicida não se explica pela sua personalidade, por seu humor, por seus antecedentes nem pelos fatos da sua história privada. Essa hipótese opõe-se ao comumente aceito. Durkheim procurará demonstrar de que modo o conjunto desses fenômenos poderá ser tomado como um fato novo e sui generis (peculiar), resultante de fatores de origem social que chama de “correntes suicidogêneas”, algo como es- tímulos que atuariam sobre os indivíduos, exortando-os ou possibilitando que eles procurassem a própria morte. Durkheim examina estatísticas nacionais europeias e, com base nelas, argumenta que a evolução do suicídio ocorre por ondas de movimento que, embora variem de uma para outra sociedade, constituem taxas constantes durante longos períodos. Como Durkheim propunha em seu método, deve-se começar por uma definição objetiva de suicídio; delimitando o fato que pretende investigar, deve-se passar a considerá-lo como um fenômeno coletivo, tomando dados relativos a algumas sociedades, para en- contrar regularidades e construir uma taxa específica para cada uma delas. Do ponto de vista sociológico, Durkheim elaborou uma tipologia dos suicídios. Com isso, procurou, uma vez mais, distinguir a sociologia de outras ciências que tinham o ser humano como objeto. Para Durkheim, aqueles que buscaram explicar o suicídio considerando casos isolados não chegaram à sua causa geradora, que é, segundo ele, exterior aos indivíduos. Assim, cada grupo social tem uma inclinação coletiva para o suicídio, e desta derivam as inclinações individuais. Trata-se das correntes de egoísmo, de altruísmo e de ano- mia, que afligem a sociedade. Em geral, essas três correntes compensam-se mutuamente e mantêm os indivíduos em equilíbrio; a ultrapassagem, por parte de qualquer delas, de seu grau normal de intensidade pode expor alguns mem- bros a determinadas formas de suicídio. Desejos particula- res, profissões ou confissões religiosas estimulam-nos ou detêm-nos, mas a influência das conjunturas particulares de cada um, que são, em geral, tomadas por causas ime- diatas do suicídio, não passa de ressonâncias do estado moral da sociedade. As causas são, portanto, objetivas, exteriores aos indivíduos, estimulando-os ou detendo-os: são tendências coletivas e constituem, segundo Durkheim, forças tão reais quanto as forças cósmicas, embora de ou- tra natureza. A maior coesão é a vitalidade das instituições às quais o indivíduo está ligado, a intensidade com que se manifesta a solidariedade em seu grupo religioso, a solidez dos laços que o unem à sua família, a força dos sentimentos que o vinculam à sociedade política e que contribuem para preservá-lo de cometer um ato dessa natureza. Portanto, a religião e as dimensões doméstica e política podem exercer sobre o suicídio uma influência moderadora; instituídas como grupos profundamente integrados, elas protegem seus membros. Diante de um processo de desintegração, o indivíduo que a elas pertence pode sentir-se estimulado a se suicidar, pois, quanto mais fracos se tornam os grupos sociais nos quais está inserido, menos ele se subordinará a esses grupos. Consequentemente, dependerá apenas de si mesmopara reconhecer as regras de conduta que con- vêm aos seus interesses particulares. As causas do suicídio egoísta estão relacionadas à desintegração social, consti- tuída com base na decepção, na melancolia e na sensação de desamparo moral. Durkheim acreditava que a lacuna gerada pela carência da vida social era muito maior entre povos modernos do que entre os primitivos e afligia muito mais os homens do que as mulheres. Considerados seres socialmente mais complexos, os homens, de acordo com o pensador, suportam menos situações, como a solidão, se comparados a uma viúva ou a uma mulher solteira, que possuem necessidades mais rudimentares nos aspectos so- ciais e são satisfeitas com menor renda. 20 SL .0 2 Aqui convém lembrar que as pesquisas e conclusões de Durkheim estão circunscritas à época na qual ele desen- volveu suas pesquisas, o que não corresponde exatamen- te à realidade atual. Dentro das consideradas sociedades tradicionais, os suicídios mais frequentes eram os que Durkheim denominou altruístas, que abarcam aqueles praticados por enfermos ou pessoas que chegam ao limi- te da velhice; viúvas, por causa da morte do marido; fiéis e servidores com o falecimento de seus chefes; ou os atos heroicos, por ocasião de guerras ou convulsões sociais. Nesse contexto, o suicídio é visto como um dever que, se não for cumprido, pode ser punido pela desonra, perda da estima pública ou por castigos religiosos. Enquanto no suicídio do tipo egoísta afrouxam-se os laços com a socie- dade e com as instituições sociais fundamentais (como a família e a religião) a ponto de deixar o indivíduo escapar das pressões sociais, no suicídio altruísta o indivíduo é “diluído” em seu grupo ou coletividade, ou seja, a forte ligação aos grupos dos quais ele faz parte, como a família, o Estado ou a Igreja, exerce forte influência na decisão de colocar um fim a sua própria vida. Durkheim identificou nas sociedades modernas a ocorrência do suicídio altruísta entre mártires religiosos e, num estado crônico, entre os militares. Ele denomina o terceiro tipo de suicídio como anômico, presente nas sociedades modernas e ligado a um estado de desregramento social em que as normas estão ausentes ou não são respeitadas. A sociedade deixa de estar suficientemente presente para regular as paixões individuais, deixando-as correr desenfreadas. Se, em uma sociedade baseada na divisão do trabalho, as relações entre os órgãos não estão regulamentadas, ou os órgãos sociais não estão em contato suficiente uns com os outros, uma autorregulação em situações de desequilíbrio torna-se difícil ou impossível. O sentimento de interdependência torna-se fragilizado, as relações tornam-se precárias, e as regras que as equilibram são indefinidas e vagas. Essa é a consolidação do estado de anomia, impossível de exis- tir onde os órgãos solidários estão em contato suficiente e prolongado. A ocorrência de uma crise econômica ou de mudan- ças súbitas nas crenças vigentes em uma sociedade pode impedir que se cumpra a função reguladora e disciplinar, desse modo, o estado de anomia tornar-se-ia habitual. Um desastre econômico, por exemplo, lança algumas pessoas a uma situação inferior aos padrões econômicos e de vida com os quais se encontravam acostumadas; tal fato poderia levar os indivíduos a uma reformulação de conceitos e esca- las de valores morais e de visão de mundo. Ou, ainda, um brusco aumento da riqueza ou do poder leva o indivíduo ao mesmo desajuste, passando a não existir mais ambições pessoais. De acordo com Durkheim, as ocupações industriais e comerciais encontram-se entre as profissões que registram maior número de suicídios, dada a sua frágil e incipiente moralidade, e seus padrões, possivelmente, estão entre os mais atingidos pelo tipo chamado de anômico. Dessa forma, em O suicídio, Émile Durkheim conseguiu, dentro de seus pressupostos teóricos, observar, em um ato fundamentalmente individual, a presença das regulações sociais, ou seja, a demonstração da ação da sociedade so- bre o indivíduo. Em foco C3 — Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais. H11 — Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço. Leia o texto a seguir. A proposição segundo a qual os fatos sociais devem ser tratados como coisas — proposição que está na base de nosso método — é das que mais têm provocado con- tradições. Consideraram paradoxal e escandaloso que assi- milássemos às realidades do mundo exterior às do mundo social. Era equivocar-se singularmente sobre o sentido e o alcance dessa assimilação, cujo objeto não é rebaixar as formas superiores do ser às formas inferiores, mas ao contrário, reivindicar para as primeiras um grau de realidade pelo menos igual ao que todos reconhecem nas segundas. DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2009. p. 17. De acordo com o texto, Durkheim, ao afirmar que os fatos sociais são coisas, pretende: a) definir a sociologia como ciência complementar ao conhecimento psicológico. b) garantir a cientificidade e a objetividade do co- nhecimento sociológico. c) assegurar à sociologia um grau de certeza superior ao obtido das ciências naturais. d) caracterizar o conhecimento sociológico como ciência centrada nos conflitos sociais. e) transformar a ciência da sociedade em inspiração teórica para a revolução social. Alternativa b Durkheim afirma que define os fatos sociais como coisas porque os concebe como realidades passíveis de serem estudas e conhecidas cientificamente, com objetividade idêntica à empregada nas ciências da natureza. a) (F) Durkheim não estabelece qualquer associação entre conhecimento sociológico e conhecimento psicológico. c) (F) Durkheim não afirma que a sociologia pode superar as ciências da natureza no que tange à certeza do conhecimento. d) (F) A perspectiva sociológica de Durkheim não confere relevo aos conflitos sociais. e) (F) A perspectiva sociológica de Durkheim não tem orientação revolucionária. 21 So cio lo gi a ATIVIDADES 1 (U. F. Uberlândia-MG, adaptada) Leia a tirinha a seguir. (Quino, Mafalda) A tirinha de Quino ilustra um aspecto do conceito de fato social, como elaborado por Émile Durkheim. Este aspec- to seria: a) ser geral e igual em todas as sociedades. b) proporcionar a total liberdade ao indivíduo em uma dada sociedade. c) ser particular a cada indivíduo, sem interferência do grupo social. d) exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior. A partir da tirinha de Quino, observamos a coerção que o grupo exerce sobre o indivíduo que, no caso, tem uma atitude entendida como muito diferente do grupo ao qual pertence. O fato social, além das características de generalidade e exterioridade, também tem a característica da coerção sobre os indivíduos. a) (F) Os fatos sociais são gerais, mas não necessariamente os mesmos em todas as sociedades. b) (F) Os fatos sociais exercem coerção sobre os indivíduos, e dentro de uma perspectiva funcionalista, não há, nas sociedades, uma noção como “total liberdade”. c) (F) Os fatos sociais são um fenômeno geral, no sentido de comuns a uma grande coletividade. Alternativa d 2 (U. F. Uberlândia-MG) Segundo Durkheim, o crime é um fato social presente em toda sociedade. Para esse autor, nem todo o crime é anômico, mas apenas aquele que corres- ponde a uma crise de coesão social. De acordo com essas informações, marque a alternativa correta sobre anomia em Durkheim. a) Conceito que descreve a ocorrência, nas sociedades modernas, industrializadas, de um estado de comple- mentaridade e interdependência entre os indivíduos, o que leva a uma menor divisão do trabalho social e ao fortalecimento das instituições sociais. b) Ocorre, quando há, nas sociedades modernas, com seus intensos processos de mudança, uma situação em que o conjunto de regras, valores
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