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Marzolino/ ShutterStock
Sociologia
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CADERNO DO PROFESSOR
V E N D A P R O I B I D A
Material integrante do Ético Sistema de Ensino
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 
9.610, de 19 de fevereiro de 1998.
Teoria 1
Sociologia: uma ciência social .............................................................. 2
Émile Durkheim (1858-1917): o indivíduo na sociedade ........... 14
Karl Marx (1818-1883): a crítica à sociedade capitalista (I) ....... 25
Karl Marx (1818-1883): a crítica à sociedade capitalista (II) ...... 36
SL.01
SL.02
SL.03
SL.04
ELABORAÇÃO DE ORIGINAIS
Amir Abdala
Caio Aguilar Fernandes
Super Teoria 1
O que é a sociologia? 
A sociologia, assim como a antropologia, a economia, a ciência política, o di-
reito, a história, a pedagogia, a psicologia e a geografia, é uma forma de conheci-
mento situada no contexto das ciências denominadas ciências sociais. Portanto, a 
sociologia consiste em uma ciência que estuda vários aspectos da realidade social, 
utilizando, para esse objetivo, a observação, a descrição e a comparação de fatos 
e peculiaridades dos fenômenos sociais. Os estudos sociológicos são, assim, uma 
forma de observação sistemática dos fenômenos sociais, descobrindo conexões 
e regularidades do comportamento humano, bem como, muitas vezes, fazendo 
a crítica de elementos vinculados às diversas sociedades. 
Dessa maneira, pode-se dizer que a sociologia é o estudo científico das so-
ciedades humanas. Nesse sentido, o que seria “sociedade” em uma perspectiva 
sociológica? Peter Berger, em seu livro Perspectivas sociológicas: uma visão hu-
manística, escreve:
Para o sociólogo, “sociedade” designa um grande complexo de relações 
humanas ou, para usar uma linguagem mais técnica, um sistema de intera-
ção. É difícil especificar quantitativamente, nesse contexto, a palavra “gran-
de”. O sociólogo pode referir-se a uma “sociedade” que compreenda milhões 
de seres humanos (digamos, a “sociedade estadunidense”), mas também pode 
utilizar o termo para referir-se a uma coletividade muito menor (“a sociedade 
dos calouros de uma universidade”). Duas pessoas conversando numa esquina 
dificilmente constituirão uma sociedade, mas três pessoas abandonadas numa 
ilha, sim. Portanto, a aplicabilidade do conceito não pode ser decidida apenas 
por critérios quantitativos.
Adaptado de BERGER, Peter. A sociologia como forma de consciência. 
In:______. Perspectivas sociológicas: uma visão humanística. 9. ed. 
Petrópolis: Vozes, 1986. p. 36. 
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Sociologia: uma ciência social
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A sociologia ocupa-se, então, do estudo das relações sociais entre os seres hu-
manos. Entretanto, é essencial perceber que o atributo das sociedades humanas 
diz respeito tanto ao fato de que são formadas por pessoas, como ao fato de que 
essas mesmas pessoas estão vinculadas entre si por meio de um conjunto diverso 
de regras, valores, costumes e funções.
O surgimento da sociologia
A tentativa de compreender as sociedades e as relações entre seus membros 
sempre foi, ao longo da história, uma preocupação de autores, filósofos e pensa-
dores. Não é difícil encontrar obras, em diferentes momentos, que dediquem suas 
páginas para tentar compreender de que forma os seres humanos, as organiza-
ções e os agrupamentos sociais se comportam ou comportaram. Assim, podemos 
dizer que as questões sociais, bem como a forma de explicá-las e justificá-las, são 
tão antigas quanto o surgimento das primeiras civilizações humanas. Por exem-
plo, na Grécia e na Roma Antigas, a escravidão era vista como algo legítimo; na 
Idade Média feudal europeia, a divisão social em três estamentos era justificada 
pela Igreja católica como sendo a vontade de Deus. Entretanto, com a chegada 
da modernidade e a consequente ampliação do comércio europeu, as grandes 
navegações europeias e o renascimento cultural e científico, ocorrem mudanças 
na mentalidade da sociedade moderna, que vão implicar novas formas de expli-
cação para a realidade. Já no século XVIII, também conhecido como “o século das 
luzes”, liberdade e igualdade passaram a ser conceitos fundamentais para as 
mobilizações sociais. Nesse contexto, ocorreram as grandes revoluções burguesas, 
cujas transformações criaram novas necessidades de compreensão do que se vivia 
no mundo. Nesse sentido, as revoluções Industrial (Inglaterra, a partir de 1760) 
e Francesa (1789) abalaram definitivamente as estruturas da Europa, mudando 
práticas da vida social, econômica e política, e estabelecendo as bases históricas 
de uma nova ciência: a sociologia.
3
Sociologia: uma ciência social
A influência das revoluções no surgimento da sociologia
Podemos afirmar que a sociologia surgiu em uma época de grandes revolu-
ções, como uma forma de reflexão sobre as consequências sociais dos fenômenos 
históricos ocorridos na Inglaterra e na França. Da discussão sobre as mazelas e os 
dramas originários da consolidação do capitalismo — um sistema social mar-
cado pelas significativas desigualdades entre grupos sociais diferentes do ponto 
de vista econômico —, surgiram teorias e explicações que procuraram dar trata-
mento racional às causas desses fenômenos. O nascimento da sociologia ocorreu 
numa época em que a industrialização e a urbanização estavam transformando 
as bases da sociedade. Nos séculos XVII e XVIII, o aperfeiçoamento das técnicas 
de produção, visando produzir maiores quantidades e com maior rapidez, pos-
sibilitou a invenção de máquinas que aumentavam significativamente os lucros, 
substituindo gradativamente a produção manufatureira pela mecanização. Des-
se modo, apareceram as máquinas de tecer, a máquina de descaroçar algodão, 
bem como se iniciou um processo de aplicação industrial da máquina a vapor e 
de tantos outros inventos destinados a aumentar a produtividade do trabalho. 
Muitas etapas, antes realizadas por indivíduos, passaram a ser feitas por meio 
de máquinas, elevando consideravelmente a quantidade de mercadorias produ-
zidas. A Revolução Industrial pode ser vista sob dois prismas. De um lado, esse 
processo histórico trouxe (e ainda traz) benefícios e conforto para milhões de pes-
soas, no mundo todo. Por outro, a Revolução Industrial significou mais do que a 
introdução do trabalho realizado pelas máquinas. Ela acarretou o aprofundamento 
da divisão social do trabalho e a concentração do controle dos meios de produ-
ção nas mãos de uma classe social, a burguesia, cuja origem remonta à passagem 
da Baixa Idade Média para a Idade Moderna (séculos XIII a XV). Foi também o mo-
mento de supremacia do capital industrial, transformação que impôs uma nova 
realidade social, econômica e política para os indivíduos da época, modificando 
radicalmente as vidas de milhões de pessoas. A Revolução Francesa também pro-
vocou alterações significativas nos modos de organização social e nas formas de 
Figura 1. A Revolução Industrial, além de promover mudanças nos campos da economia, da ciência e da tecnologia, promoveu intensas trans-
formações na estrutura social.
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explicação da realidade. Os ideais iluministas — que defendiam o uso da razão 
como caminho para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação — 
surgidos ao longo do século XVIII ganhavam espaço, resultando em uma nova 
concepção do desenvolvimento humano. Como consequência da forte partici-
pação popular no processo revolucionário de 1789, o indivíduo foi trazido para 
o centro da discussão política e sua participação nas decisões da nação ganhou 
outra dimensão. Como as lutas que precederam e desencadearam a Revolução 
Francesa envolveram, numericamente, muitas pessoas, mais indivíduos foram 
obrigados a pensar sobre questões políticas que antes eram discutidas apenas 
por uma elite. Assim, a ideia de existência de uma liberdade e de uma igualdade 
permitiu aos indivíduos questionaros antigos valores e modelos da sociedade e 
exigir o estabelecimento de uma nova concepção de vida social. 
Nesse sentido, a sociologia clássica do século XIX e do início do século XX 
foi uma tentativa de vários intelectuais para entender e esclarecer essa série de 
mudanças e suas consequências sociais.
Principais linhas teóricas em sociologia
Em termos teóricos, podemos destacar três linhas sociológicas clássicas:
• Positivista-funcionalista. Tem como fundador o francês Auguste Comte 
(1798-1857). Émile Durkheim (1858-1917), também francês, estabeleceu as 
bases metodológicas e teóricas do funcionalismo. 
• Materialista histórico-dialética. Elaborada por Karl Marx (1818-1883), que, 
mesmo não sendo propriamente um sociólogo, iniciou uma fecunda linha de 
teoria e pesquisa social. 
• Sociologia compreensiva. Identificada nas obras do sociólogo alemão Max 
Weber (1864-1920).
Atualmente, a influência dessas linhas e de seus respectivos autores ainda se 
faz sentir em todo o mundo. Elas são modelos para os sociólogos e servem como 
inspiração para estudos de problemas contemporâneos, e muitos de seus con-
ceitos constituem pontos de partida de pesquisas sociológicas. Os trabalhos de 
Marx, Weber e Durkheim, embora tenham passado por vasta revisão crítica de 
outros pensadores, ainda oferecem elementos para a compreensão da sociedade 
contemporânea. A sociologia, ao surgir como uma reflexão sobre as questões nas-
cidas com a sociedade capitalista e também em razão dos caminhos que a ciência 
vinha abrindo, tem como marca de seu propósito buscar respostas a problemas 
que se colocam com base nos processos de desenvolvimento social, assim como 
questionar a validade de suas próprias conclusões.
O positivismo de Auguste Comte
Nascido em fins do século XVIII, na cidade francesa de Montpellier, Auguste 
Comte (1798-1857) propôs um sistema de conhecimento que, articulando a ra-
zão às observações empíricas, fosse capaz de descrever o conjunto da realidade, 
dos fenômenos da natureza à vida em sociedade. Estimulado pelos avanços das 
ciências naturais, postulava a extensão de seus procedimentos para as pesquisas 
sobre as relações dos homens em sociedade, caracterizando uma física social 
que, reformando intelectualmente os seres humanos, ofereceria fundamentos 
racionais para a organização política da sociedade.
A perspectiva comtiana reivindicava a completa renúncia à pesquisa filosófica 
de temas meramente especulativos, que, superestimando a capacidade cognitiva 
humana, se lançavam à busca de conhecimentos absolutos e que não possuem, 
Os temas Revolução In-
dustrial e Revolução Fran-
cesa são fundamentais 
dentro da área de história 
para o entendimento da 
formação da sociedade 
moderna e contemporâ-
nea. Os desdobramentos 
da Revolução Industrial 
também são centrais 
para a geografia, desde 
o entendimento da or-
ganização da produção 
econômica no contexto 
do capitalismo até às 
questões ambientais da 
atualidade.
Conexões
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Figura 2. Templo positivista de Porto 
Alegre, prédio histórico junto ao Parque 
Farroupilha – construção datada do início 
do século XX.
segundo Comte, uma base legítima, porque excedem o que é demonstrável 
pela experiência. Nesse sentido, defende sua substituição por uma investigação 
científica das leis naturais e sociais, ou seja, um conhecimento denominado de 
positivo, pois, além de ser estabelecido racionalmente, sustenta-se em demons-
trações objetivamente verificadas na realidade. Nascia, assim, o positivismo. As 
reflexões de Comte o conduziram à crescente convicção de que o progresso do 
conhecimento científico seria fundamental não apenas para a consolidação 
do domínio humano sobre a natureza, como também para a organização racional 
da sociedade, solucionando a crise moral por ele observada no mundo moderno. 
Segundo Comte, os progressos do conhecimento humano eram visíveis em dife-
rentes ramos do saber, e que na astronomia, na física, na química e na biologia 
as respostas às suas questões adquiriram contornos definitivamente científicos. 
Restava, então, estender a perspectiva objetiva da ciência para a esfera da so-
ciedade, uma vez que para esta eram comuns ainda as explicações vinculadas a 
concepções teológicas ou metafísicas. Por seu empenho em fixar o entendimento 
acerca dos fenômenos humanos em fundamentos científicos, Auguste Comte é 
considerado o fundador das ciências sociais ou, em sentido mais específico, do 
que depois seria denominado de sociologia.
Considerar Auguste Comte como o nome inaugural das ciências sociais signi-
fica dizer que ele foi o primeiro autor a procurar sistematicamente a compreen-
são científica da vida humana em sociedade. Essa postura seria muito comum 
no século XIX, motivada tanto pelo êxito das ciências da natureza quanto pelas 
questões e problemas relativos à sociedade industrial, diante dos quais se tor-
naram sem valor as explicações tradicionalmente aceitas sobre o ser humano e 
a sociedade. Posteriormente, o método estabelecido por Comte para as ciências 
da sociedade, assim como sua conceituação geral de ciência, foi contestado de 
maneira radical por estudiosos de diferentes áreas do saber. Em outras palavras, 
o positivismo sofreu pesadas críticas a partir do século XX, por causa da sua forte 
crença na ciência como solução para todos os problemas da humanidade. 
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Figura 3. Comte (1798-1857) viveu em uma época 
marcada pelas grandes transformações sociais, políticas 
e econômicas ocorridas na Europa, em decorrência das 
revoluções Industrial e Francesa.
A lei dos três estados 
Em sua obra Curso de filosofia positiva, editada em seis volumes 
a partir de 1830, Comte apresenta a evolução do conhecimento 
humano em direção à unidade do método científico, por meio do 
qual seria possível descrever as leis gerais que regem os fenômenos 
sociais da mesma forma que progrediam os saberes positivos em 
torno dos fenômenos da natureza. Comte afirma constatar uma lei 
fundamental do desenvolvimento da humanidade, que envolveria 
articuladamente as formas progressivas de conhecimento e as mo-
dalidades de estruturação da sociedade. Trata-se da lei dos três 
estados (ou estágios), segundo a qual a inteligência humana tem 
como ponto de partida o estágio teológico ou fictício (etapa em 
que os seres humanos explicam os fenômenos por meio da crença 
no sobrenatural, como, por exemplo, pela mitologia e pelos deuses), 
após o qual, como situação intermediária, tem-se a fase metafísica 
ou abstrata (nessa etapa, os seres humanos substituem os deuses 
pela filosofia como meio de se compreenderem e explicarem os fe-
nômenos); e, finalmente, o estágio positivo ou científico, como sua 
etapa superior e permanente, na qual os seres humanos explicam os 
fenômenos por meio da ciência. Essa última etapa corresponderia 
ao momento das sociedades industriais.
O estado positivo ou científico realiza a condição definitiva e su-
perior da inteligência humana, na qual os seres humanos reconhecem 
os limites de seu entendimento e abandonam a expectativa de um co-
nhecimento absoluto, mantendo a razão em permanente correspondência com os 
dados da experiência, ou seja: as indagações metafísicas não são mais discutidas. 
Em seu nível científico, o conhecimento postularia unicamente a identificação das 
leis que regulam os fenômenos observados, assim como as relações entre estes, 
sem empenhar-se na tarefa de vasculhar suas mais remotas causas. Assim, a razão 
estaria sempre conjugada ao que é empiricamente demonstrável, expandindo o 
conhecimento sobre as leis do funcionamento do Universo.
A física social
Após uma longa explanação sobre o desenvolvimento evolutivo das mais 
variadas ciências, Comte chega à física social, ou seja, à sociologia (ou, ainda, 
à filosofia social positiva), que se dirige à pesquisa das leis da sociedade. Con-
forme a convicção de Comte, o método empregado nas ciências naturais deve 
ser aplicado ao estudo da sociedade,e a física social é possível porque dispõe 
dos conhecimentos acumulados nas ciências que a precederam no tempo. O co-
nhecimento científico dos fenômenos da sociedade, sendo estes os mais comple-
xos e particulares por se referirem unicamente aos seres humanos, pressupõe a 
constituição de todas as demais ciências. Quando registramos que, para Auguste 
Comte, a ciência da sociedade conclui o repertório de conhecimentos científicos, 
não se deve entender com isso que a humanidade atinge a sabedoria máxima 
acerca de todos os fenômenos, mas que todos os fenômenos, dos astronômi-
cos aos sociais, são tratados cientificamente, isto é, pela condição superior da 
inteligência positiva. Para Comte, quando desaparecessem os vestígios teológi-
cos e metafísicos que ainda pairam sobre as explicações relativas à sociedade, 
o conhecimento científico seria a única forma de entendimento da realidade 
e jamais deixaria de se enriquecer com aquisições em todos os seus domínios. 
Dessa forma, a física social, assim como as demais ciências que oferecem aos 
homens meios mais eficientes de ação sobre a natureza, possibilitando-lhes o 
progresso tecnológico, propiciaria aos seres humanos os recursos indispensáveis 
à ordenação política da sociedade.
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A “Ordem” e o “Progresso” 
Nas modernas sociedades industriais da época de Comte, dissolviam-se an-
tigos padrões de sociabilidade, instaurando-se, em seu lugar, uma dinâmica 
social instável e permeada por numerosos conflitos, especialmente nos grandes 
centros urbanos, nos quais as crises eram mais contundentes e visíveis. A filo-
sofia positiva, nessas sociedades, então, é também uma resposta científica que 
se pretende dar aos problemas característicos do mundo moderno, que são 
classificados por Comte nos termos de uma desordem política e de uma “anar-
quia moral”, ou seja, como decorrentes da ausência de princípios de morali-
dade socialmente aceitos e pela inexistência de mecanismos políticos capazes 
de determinar a ordem social. Essa crise moral e política, por sua vez, foi com-
preendida como um desdobramento direto da confusão intelectual vigente na 
época. Afinal, enquanto todos os fenômenos naturais eram pesquisados cien-
tificamente, na esfera da sociedade predominavam ainda as especulações teo-
lógicas e metafísicas, sendo que estas, se em tempos passados estabeleciam a 
coesão das sociedades humanas, se tornaram ineficientes para garantir a ordem 
social diante da complexidade dos problemas modernos. O estabelecimento 
da ordem na sociedade, condição prévia do progresso, seria gerado, portanto, 
a partir da física social. Comte concebeu dois princípios atuando combinada-
mente nas sociedades humanas, o estático (ordem) e o dinâmico (progres-
so). O elemento estático, que significa a ordem existente em uma sociedade, 
assegura a conservação da vida social por intermédio de práticas e instituições 
de socialização. O elemento dinâmico, por meio do qual se realiza o progresso das 
sociedades humanas, segue a mesma linha evolutiva da lei dos três estados 
da inteligência humana, sendo sua condição final a sociedade industrial gover-
nada em conformidade com o saber da física social. Portanto, a física social, 
baseada na conjugação da observação empírica com a razão, possibilitaria a 
No Brasil, o positivismo encontrou um solo fértil, assim como em outros países 
latino-americanos que, na busca por uma identidade nacional, ofereceram um 
espaço propício a ser preenchido por doutrinas sociais europeias que corres-
pondessem aos anseios do desenvolvimento nacional. Importantes inte-
lectuais exerceram papel relevante na divulgação do positivismo no 
Brasil. O ápice das intervenções do positivismo na vida política brasi-
leira deu-se no movimento republicano. Os positivistas não foram o 
único grupo que proclamou a República no Brasil, mas são inegá-
veis o tamanho e a extensão de sua influência no processo de 
deposição da monarquia no país. O momento de maior interfe-
rência do pensamento positivista na vida republicana deu-se na 
elaboração da Constituição de 1891. Nela, encontramos clara-
mente a orientação política positivista de “Ordem e Progresso”, 
impressa também como lema da bandeira nacional.
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identificação das leis inerentes à vida em sociedade, fornecendo aos seres humanos o conhecimento necessário ao 
estabelecimento da ordem sociopolítica e à adoção de medidas que conduzissem ao progresso. O ponto de parti-
da para a remoção da desordem moral e política seria, então, uma extensa reforma educacional que suscitasse a 
reorganização da sociedade em bases racionais e científicas, isto é, a ciência da sociedade é concebida por Comte 
como a fonte de uma sociedade racionalmente ordenada. Sobre a realidade social precária do proletariado indus-
trial-urbano de sua época, Comte entendia que essa situação seria naturalmente resolvida com o desenvolvimento 
e a aplicação das ciências positivas, fazendo com que seus efeitos fossem sentidos sobre a classe mais numerosa e 
mais pobre. Em nenhum momento, o pensador positivista acreditou na incompatibilidade entre progresso técnico 
(capitaneado pelo capital industrial) e a força de trabalho assalariada. Ao contrário, Comte chegou a afirmar que o 
protagonismo dos movimentos operários serviria para domesticar o egoísmo dos capitalistas e imprimir uma ordem 
moral humanitária. Comte não acreditava que a eliminação da propriedade privada e da classe capitalista traria a 
dissolução dos conflitos sociais, mas, sim, aprofundaria o atraso entre os detentores do capital e os que contavam 
apenas com a força de trabalho. O desejo de estabelecer o caminho para uma profunda reforma intelectual e social, 
contudo, não se limitou ao desenvolvimento de uma estratégia política.
Comte foi além e propôs a criação de uma religião da humanidade. Tal fato ocorreu durante os úl-
timos quinze anos de sua vida, quando estabeleceu os aspectos principais do que seria essa nova religião. 
Levando até as últimas consequências a ideia de que a teoria positivista consistiria em uma nova reli-
gião para a humanidade, Comte se dedicou a elaborar um novo calendário, cujos meses receberam nomes 
de grandes figuras da história do pensamento. Como a maioria das religiões, Comte escreveu um catecismo 
(o Catecismo positivista), cujo ponto-chave seria a mudança da concepção de Deus como centro de tudo para a huma-
nidade como objetivo último da vida humana.
Em foco
C4 — Entender as transformações técnicas e tecno-
lógicas e seu impacto nos processos de produção, no 
desenvolvimento do conhecimento e na vida social.
H18 — Analisar diferentes processos de produção ou 
circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais.
(Enem-MEC) Leia o texto a seguir. 
A Inglaterra pedia lucros e recebia lucros. Tudo se 
transformava em lucro. As cidades tinham sua sujeira 
lucrativa, suas favelas lucrativas, sua fumaça lucrativa, 
sua desordem lucrativa, seu desespero lucrativo. As 
novas fábricas e os novos altos-fornos eram como as 
Pirâmides, mostrando mais a escravização do homem 
que seu poder.
Adaptado de DEANE, P. A Revolução Industrial. 
Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
Qual relação é estabelecida no texto entre os avanços 
tecnológicos ocorridos no contexto da Revolução Indus-
trial inglesa e as características das cidades industriais no 
início do século XIX?
a) A facilidade em se estabelecer relações lucrativas 
transformava as cidades em espaços privilegiados 
para a livre-iniciativa, característica da nova socie-
dade capitalista.
b) O desenvolvimento de métodos de planejamento 
urbano aumentava a eficiência do trabalho industrial.
c) A construção de núcleos urbanos integrados por 
meios de transporte facilitava o deslocamento dos 
trabalhadores das periferias até as fábricas.
d) A grandiosidade dos prédios onde se localizavam 
as fábricas revelava os avanços da engenhariae da arquitetura do período, transformando as 
cidades em locais de experimentação estética e 
artística.
e) O alto nível de exploração dos trabalhadores in-
dustriais ocasionava o surgimento de aglomerados 
urbanos marcados por péssimas condições de 
moradia, saúde e higiene.
Alternativa e
O texto é explícito quanto à submissão, nas cidades 
industriais, de todas as formas de sociabilidade e de 
ocupação do espaço ao princípio do lucro, mencionando 
as precárias condições de habitação de boa parte da 
população urbana e a deterioração dos elementos am-
bientais como produtos dessa voracidade lucrativa. Nessa 
perspectiva, situa-se a acentuada exploração exercida 
sobre os trabalhadores industriais.
a) (F) O texto não estabelece qualquer indicação de 
que as cidades tenham se convertido em espaços 
férteis à livre-iniciativa.
b) (F) O texto não sugere a existência de planeja-
mento urbano nessas cidades industriais.
c) (F) Não há, no texto, qualquer menção ou sugestão 
de uma organização de transportes públicos.
d) (F) A afirmação de que as cidades comportavam 
inovações arquitetônicas que as transformavam 
em centros de experimentação estética não en-
contra respaldo no texto.
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ATIVIDADES
1 (UPE) Leia o texto a seguir:
[…] grandes mudanças que ocorreram na história da 
humanidade, aquelas que aconteceram no século XVIII — e 
que se estenderam no século XIX — só foram superadas pelas 
grandes transformações do final do século XX. As mudanças 
provocadas pela revolução científico-tecnológica, que deno-
minamos Revolução Industrial, marcaram profundamente a 
organização social, alterando-a por completo, criando novas 
formas de organização e causando modificações culturais 
duradouras, que perduram até os dias atuais.
DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. São Paulo: 
Pearson Prentice Hall, 2004. p. 124.
Percebe-se que as transformações ocorridas nas socieda-
des ocidentais permitiram a formação de relações sociais 
complexas. Nesse sentido, a sociologia surgiu com o obje-
tivo de compreender essas relações, explicando suas ori-
gens e consequências. Sobre o surgimento da sociologia 
e das mudanças históricas apontadas no texto, assinale a 
alternativa correta.
a) A grande mecanização das fábricas nas cidades possi-
bilitou o desenvolvimento econômico da população 
rural por meio do aumento de empregos.
b) A divisão social do trabalho foi minimizada com as no-
vas tecnologias introduzidas pelas revoluções do século 
XVIII.
c) A sociologia foi uma resposta intelectual aos problemas 
sociais, que surgiram com a Revolução Industrial.
d) O controle teológico da sociedade foi possível com 
o emprego sistemático da razão e do livre exame da 
realidade.
e) As atividades rurais do período histórico, tratado no 
texto, foram o objeto de estudo que deu origem à so-
ciologia como ciência.
A sociologia, como ciência, é uma tentativa de compreensão dos efeitos 
das transformações ocorridas no mundo ocidental a partir das Revoluções 
Francesa e Industrial.
a) (F) A industrialização fez com que a população rural migrasse para as 
cidades.
b) (F) A divisão do trabalho aumenta com os processos de industrialização.
d) (F) O pensamento racional e científico implicou a perda de força das 
instituições religiosas.
e) (F) Ao contrário, os objetos de estudo da sociologia, vistos em uma pers-
pectiva ampla, devem-se aos processos de urbanização e industrialização.
Alternativa c
2 (U. F. Uberlândia-MG) A partir do século XIX, o ideal 
científico no campo da sociologia consistiu na formula-
ção de teorias sobre o homem e a sociedade. Acerca do 
pensamento científico sociológico, assinale a alternativa 
correta.
a) Os principais métodos nas ciências sociais em geral 
e na sociologia em particular excluem a observação 
sistemática de ambientes sociais, uma vez que os pro-
cessos de interação entre os homens e os homens e o 
meio sociocultural não são observáveis.
b) A pesquisa sociológica e a realizada nas demais áreas 
das ciências sociais independem da formulação de ge-
neralizações, uma vez que as relações entre os homens 
e os homens e o meio sociocultural pautam-se pelas 
particularidades.
c) As ideias científicas diferem do senso comum e de ou-
tras formas de conhecimento, pois devem ser avaliadas 
à luz de evidências sistematicamente coletadas e do 
escrutínio público.
d) O pensamento científico na sociologia deve estar com-
prometido com a ideia de que as teorias são tempora-
riamente verdadeiras e que as questões nunca estão 
resolvidas por completo; nesse sentido, o pensamento 
científico sociológico se iguala ao senso comum.
A perspectiva científica implica um distanciamento do senso comum, na 
medida em que pedem a observação sistemática da realidade e a divulga-
ção e discussão dos dados coletados e conclusões obtidas.
a) (F) As ciências sociais, como quaisquer outras ciências, não excluem a 
observação sistemática de seus respectivos objetos de análise. Esse é um 
dos principais requisitos do pensamento científico. Para a sociologia, os 
processos de interação dos homens entre si e entre os homens e o meio 
sociocultural são, sim, observáveis.
b) (F) As pesquisas realizadas pelas ciências sociais, que incluem a sociolo-
gia, implicam a formulação de generalizações. 
d) (F) Embora a primeira parte do enunciado possa ser considerado válida, 
o fato de não existirem “verdades eternas”, isso não torna a sociologia 
equivalente ao senso comum.
Alternativa c
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1
3 (C1/H1) Leia o texto a seguir e responda à questão proposta.
As famílias estadunidenses gastam muito e poupam pou-
co. O governo é ainda pior. O custo enorme e rapidamente 
crescente da saúde é uma das principais razões. […]. Mas 
a saúde dos EUA ainda exclui muitas pessoas e é ineficien-
te. A expectativa de vida, a mortalidade infantil e outros 
indicadores são substancialmente piores que os de outros países 
ricos. O alto custo da saúde nos EUA pode ser atribuído prin-
cipalmente aos preços altos, e não à utilização maior do 
sistema por uma sociedade em processo de envelhecimento.
NAÍM, Moisés. EUA desperdiçam catástrofe. Folha de S. Paulo/Mundo. 
5 abr. 2013. Adaptado de www1.folha.uol.com.br 
(acesso em 22 abr. 2013).
No texto citado, o termo “sociedade” refere-se a:
a) uma associação sem fins lucrativos.
b) um Estado-nação.
c) um grupo definido apenas por vínculos religiosos.
d) uma associação de caráter comercial.
e) um grupo definido pelo gênero.
O termo “sociedade”, tal como aparece no texto, remete ao conceito de 
Estado-nação, ou seja, de país. Por sociedade, entende-se, no texto, socie-
dade estadunidense, definida em termos territoriais, políticos e culturais.
a) (F) Não se trata de uma associação sem fins lucrativos, como em “So-
ciedade dos músicos da cidade”. O próprio conceito de sociedade, em 
termos sociológicos, não se aplicaria nesse sentido.
c) (F) Um país não é um grupo de indivíduos ligados unicamente por vín-
culos religiosos, embora essa seja uma dimensão importante.
d) (F) Nesta alternativa, temos a mesma orientação da alternativa (a). Em 
termos sociológicos, e no caso específico do texto, a alternativa não se 
aplica ao contexto.
e) (F) O texto refere-se a um amplo grupo de pessoas (a sociedade ameri-
cana — que estaria em processo de envelhecimento) e não há, nesse 
caso, uma segmentação por gênero.
Alternativa b
4 (C1/H5) Leia o texto a seguir e responda à questão proposta.
Mani era uma linda indiazinha, neta de um grande caci-
que de uma tribo antiga. Desde que nasceu andava e falava. 
De repente morreu sem ficar doente e sem sofrer. A indiazi-
nha foi enterrada dentro da própria oca onde sempre morou 
e como era a tradição do seu povo. Todos os dias os índios da 
aldeia iam visitá-la e choravam sobre sua sepultura, até que 
nela surgiu uma planta desconhecida, então os índios resol-
veram cavar para ver que planta era aquela, tiraram-na da 
terra e ao examinar sua raiz viram que era marrom, por fora, e 
branquinha por dentro. Após cozinhareme provarem a raiz en-
tenderam que se tratava de um presente do Deus Tupã. A raiz 
de Mani veio para saciar a fome da tribo. Os índios deram o 
nome da raiz de Mani e como nasceu dentro de uma oca ficou 
Manioca, que hoje conhecemos como mandioca.
Mandioca. Disponível em: www.sohistoria.com.br 
(acesso em 29 mar. 2013)
Considerando a teoria sociológica dos três estados de Auguste 
Comte, o texto citado seria um exemplo:
a) do conhecimento produzido em sociedades historica-
mente anteriores ao estágio teológico.
b) do conhecimento produzido em sociedades vinculadas 
ao estágio positivo.
c) do conhecimento produzido em sociedades denomi-
nadas complexas.
d) do conhecimento orientado pelo método dedutivo.
e) do conhecimento produzido em sociedades vinculadas 
ao estágio teológico.
O texto citado é um mito, ou seja, uma forma de conhecimento presente 
nas sociedades tribais e tradicionais. Considerando a perspectiva de Au-
guste Comte, tal forma de conhecimento — que explica fenômenos com 
base mágico-religiosa, ou na intervenção de deuses — seria característica 
de uma sociedade que estaria no estágio teológico.
a) (F) Não há, na teoria comtiana dos três estados, um estágio anterior ao 
teológico nas sociedades históricas humanas.
b) (F) Considerando as ideias de Comte, o estágio teológico seria caracterís-
tico das sociedades ditas simples ou mesmo tribais. As sociedades com-
plexas (os países europeus do século XIX) estagiam no estado positivo, 
em que a ciência é a forma de conhecimento estabelecida.
c) (F) No caso desta alternativa, a orientação é a mesma que a da alterna-
tiva b.
d) (F) O método dedutivo pressupõe uma percepção racional da realidade, 
bem como o entendimento de leis gerais com base nas quais se pode 
obter uma conclusão de caráter particular. O que vemos, no texto citado, 
é um exemplo que não se enquadra nas características dessa forma de 
raciocínio.
Alternativa e
5 (C1/H4) Leia o trecho da canção e responda à questão pro-
posta.
O amor vem por princípio, a ordem por base
O progresso é que deve vir por fim
Desprezastes esta lei de Augusto Comte
E fostes ser feliz longe de mim
ROSA, Noel. Positivismo. Disponível em: http://letras.mus.br 
(acesso em 22 mar. 2013)
No trecho da canção composta por Noel Rosa são apresen-
tadas as palavras ordem e progresso. Elas constituem, na 
obra de Auguste Comte:
a) conceitos que representam uma filosofia da história e 
do desenvolvimento humano.
b) elementos que aparecem como sinônimos do estágio 
positivo.
c) conceitos que explicam as questões da divisão do tra-
balho nas sociedades modernas.
d) conceitos explicativos do desenvolvimento das socie-
dades pré-capitalistas.
e) termos que se relacionam à crítica à divisão do traba-
lho no mundo contemporâneo. 
Ordem e Progresso, na teoria sociológica de Auguste Comte, remetem à 
estática e à dinâmica, elementos que definem, de uma lado, a estabilida-
de das instituições e, de outro, o processo da evolução do conhecimento 
humano ao longo da história expresso na teoria dos três estados. Trata-se 
assim, de uma filosofia da história, ou seja, uma forma geral e abstrata da 
percepção de como se processa a história humana.
b) (F) Como conceitos que se referem a princípios atuantes na história hu-
mana, ordem e progresso referem-se a todos os estágios, e não apenas ao 
positivo.
c) (F) Na alternativa b, os princípios dinâmico e estático dizem respeito 
a um universo mais amplo que o da questão da divisão do trabalho, até 
mesmo mais geral do que essa questão presente nas sociedades modernas 
ou capitalistas.
d) (F) A justificativa é semelhante à das alternativas b e c, no sentido da 
abrangência dos conceitos, na medida em que caracterizam uma filosofia 
da história.
e) (F) A justificativa é semelhante à das alternativas b, c e d, incluindo-se o 
fato de que esses conceitos não se relacionam com uma crítica da divisão 
do trabalho no mundo contemporâneo.
Alternativa a
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http://www1.folha.uol.com.br/
http://www.sohistoria.com.br
http://letras.mus.br
COMPLEMENTARES
1 (U. E. Maringá-PR) Leia o texto a seguir e assinale o que for 
correto sobre a constituição da perspectiva sociológica. Dê 
a soma dos números dos itens corretos.
O fascínio da sociologia está no fato de que sua pers-
pectiva nos leva a ver sob a nova luz o próprio mundo em 
que vivemos. Isto também constitui uma transformação da 
consciência. […] O sociólogo vive no mundo comum dos 
homens, perto daquilo que a maioria das pessoas chamaria 
de real. As categorias que ele utiliza em suas análises consti-
tuem apenas refinamentos das categorias em que os outros 
homens se baseiam — poder, classe, status, raça, etnia. Em 
consequência, algumas investigações sociológicas parecem — 
ilusoriamente — simples e óbvias.
BERGER, P. Perspectivas sociológicas: uma visão humanística. 
Petrópolis: Vozes, 1973, p. 31.
(01) Só é possível conhecer sociologicamente uma socie-
dade distante, com a qual o pesquisador não tenha 
estabelecido relação prévia, até o momento de sua 
pesquisa.
(02) A sociologia opera com categorias analíticas que inte-
gram um vocabulário próprio, criando um conjunto 
de classificações que não possuem correspondentes 
no mundo histórico e social.
(04) Os resultados das investigações sociológicas revelam 
a produção de um mundo social com regras bastante 
simples e óbvias.
(08) A criação da perspectiva sociológica promove, naquele 
que a detém, uma transformação de consciência, pois 
o sociólogo vive a mesma realidade social que inves-
tiga.
(16) Uma das tarefas do sociólogo é revelar os muitos níveis 
de significados atribuídos pelos homens à realidade 
social que os cerca.
2 (U. F. Uberlândia-MG, adaptada) O surgimento da sociolo-
gia como ciência particular está intimamente relacionado 
à expansão do capitalismo na Europa. As novas condições 
práticas impostas por esse sistema social elegiam a socie-
dade como um problema a ser investigado e, já no século 
XVIII, pensadores sociais preconizavam o que no século XIX 
seria conhecido como sociologia. 
Em face das condições empíricas da sociedade capitalista 
e das respostas teóricas dadas pela nascente sociologia, 
julgue (V ou F).
 I. As revoluções burguesas que romperam com o An-
tigo Regime foram de ordem política na medida em 
que instauraram, no caso da Inglaterra, a monarquia 
parlamentar e, no caso da França, a república presi-
dencialista; porém, não alteraram a estrutura meta-
física e teológica do antigo regime. 
 II. A Revolução Industrial inaugurou um novo modo 
de organização do trabalho e de relações sociais de 
produção, cujas consequências sociais e econômicas 
colocaram em foco a situação dramática na qual vivia 
a classe trabalhadora, sendo este um problema prá-
tico que a nova ciência do social teria de responder. 
 III. Na nascente sociologia do século XIX, a sociedade é 
comparável a um sistema físico ou biológico; ou seja, 
ela possui uma estrutura, cuja produção e reprodu-
ção dependem do funcionamento harmonioso das e 
entre as partes que a constituem. 
 IV. As primeiras teorias sociológicas basearam-se no 
evolucionismo social, corrente que explica a origem 
e a história das sociedades, com base na passagem 
do simples ao complexo, do subjetivo para o objeti-
vo, da solidariedade mecânica para a solidariedade 
orgânica. 
3 (U. F. Uberlândia-MG) De um ponto de vista histórico, a 
sociologia como disciplina científica surgiu ao longo do 
século XIX, como uma resposta acadêmica para os novos 
desafios da modernidade. Além das concepções advindas 
da Revolução Francesa e dos fortes impactos gerados pela 
Revolução Industrial na estrutura da sociedade, muitos 
outros processos também contribuíram para essa nova 
configuração da sociedade.
Em seu desenvolvimento ao longo do século XIX, a socio-
logia esperava entender:
a) os grupos sociais e as causas da desintegração social 
vigente.
b) como a Revolução Industrial encerrou a transição en-
tre feudalismo e capitalismo, sem prejuízo da classetrabalhadora, pois foi beneficiada por esse processo.
c) a subjetividade dos indivíduos nas pesquisas sociológi-
cas, como uma disciplina científica com metodologia 
própria.
d) a Revolução Francesa como um marco revolucionário 
que modificou o pensamento, apesar de manter as 
tradições aristocratas.
4 (U. E. Maringá-PR) Leia o texto a seguir.
A sociologia não se limita ao estudo das condições de 
existência social dos seres humanos. Todavia, essa consti-
tui a porção mais fascinante ou importante de seu objeto 
e aquela que alimentou a própria preocupação de aplicar 
o ponto de vista científico à observação e à explicação dos 
fenômenos sociais. Ora, ao se falar do homem, como objeto 
de indagações específicas do pensamento, é impossível fixar, 
com exatidão, onde tais indagações se iniciam e quais são 
os seus limites. Pode-se, no máximo, dizer que essas indaga-
ções começam a adquirir consistência científica no mundo 
moderno, graças à extensão dos princípios e do método da 
ciência à investigação das condições de existência social dos 
seres humanos. Sob outros aspectos, já se disse que o ho-
mem sempre foi o principal objeto da curiosidade humana. 
Atrás do mito da religião ou da filosofia sempre se acha um 
agente humano, que se preocupa, fundamental e primaria-
mente, com questões relativas à origem, à vida e ao destino 
de seus semelhantes.
FERNANDES, F. A herança intelectual da sociologia. In: FORACCHI, M. e 
MARTINS, J. S. Sociologia e sociedade. Rio de Janeiro: Livros 
Técnicos e Científicos, 1977. p. 11.
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Pode-se concluir do texto que a sociologia:
(01) nasce e se desenvolve procurando compreender a Ida-
de Média. Os sociólogos utilizaram os recursos expli-
cativos gerados, sobretudo, pelas doutrinas religiosas 
para analisar a organização do mundo.
(02) empreende uma reflexão sistemática sobre as trans-
formações sociais em curso nas sociedades em que a 
ciência se tornou uma poderosa ferramenta de com-
preensão do mundo.
(04) define, ao refletir sobre os conflitos estabelecidos 
nas relações entre indivíduo e sociedade, que a fun-
ção dos sociólogos é encontrar soluções para esses 
conflitos.
(08) objetiva construir formas de conhecimento científico 
sobre a realidade, estabelecendo teorias e metodolo-
gias que gerem compreensão dos fenômenos sociais.
(16) elabora um estudo organizado do comportamento 
humano. Logo, podem ser objetos de estudo dessa 
ciência, dentre outros: as formas de exclusão social, os 
novos arranjos familiares, os processos de construção 
da cidadania e o fenômeno da violência urbana.
Dê a soma dos números dos itens corretos.
5 (UFPA) Acreditava-se, nos primórdios da sociologia, como 
aliás com relação às ciências sociais de uma maneira geral, 
ser possível atingir a mesma neutralidade e objetividade 
que se imaginava poder atingir nas ciências naturais. Por 
isso, essa nova ciência da sociedade recebeu inicialmente 
o nome de física social, e só posteriormente, passou a ser 
denominada de sociologia. Entre as alternativas a seguir, a 
única que não expressa uma perspectiva desse momento 
inicial da sociologia é:
a) os métodos das ciências naturais poderiam e deveriam 
ser aplicados aos estudos sobre a sociedade.
b) havia a necessidade de desenvolver técnicas racionais 
para controlar os conflitos criados pelas sucessivas cri-
ses do século XIX.
c) a única fonte legítima da ciência seria a experiência 
externa. O testemunho da consciência e as experiên-
cias subjetivas, como fonte de observação científica, 
não tinham valor.
d) acreditava-se que seria necessário compreender e 
controlar racionalmente a natureza com o objetivo de 
encontrar mecanismos capazes de promover a preser-
vação do meio ambiente, pois já se previa que os danos 
ambientais causados pela aplicação da tecnologia na 
esfera da produção poderiam causar sérias consequên-
cias às gerações futuras.
e) o fundamento inicial da sociologia era o método po-
sitivo, alicerçado em um conjunto hierarquizado de 
ciências. Na larga base dessas ciências encontrava-se 
a matemática e, em seu vértice, a sociologia.
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A sociedade como consciência coletiva 
Émile Durkheim (1858-1917) é considerado um dos mais 
notáveis sociólogos franceses. Um de seus maiores méritos 
foi o de conferir à sociologia o status de ciência. Tendo 
isso como objetivo intelectual, organizou o méto-
do sociológico, indicando como deveria ser a 
abordagem dos problemas sociais e quais re-
gras deveriam ser seguidas na análise de tais 
problemas. A objetividade científica na análise 
da vida social foi uma questão fundamental 
na sua proposição do método sociológico, 
pois não existe uma ciência de fato se não 
há para ela uma metodologia. O desenvol-
vimento de uma metodologia específica para 
o entendimento da sociedade ainda não havia sido 
d e v i d a - mente formulado, mesmo por Auguste Comte. Duas 
grandes influências atuaram sobre o pensamento de Durkheim: o próprio posi-
tivismo comtiano e as ciências naturais que, no século XIX, ganhavam enorme 
destaque. O rigor metodológico dessas ciências, somado ao destaque dado pelo 
positivismo para o campo científico, levaram Durkheim a dedicar a sua vida em 
prol da sociologia como um campo específico do saber científico. 
Durkheim não escapa às características dos primeiros pensadores da sociolo-
gia, muito interessados na compreensão da sociedade criada pela Revolução In-
dustrial. Contudo, seu enfoque está em entender essa mesma sociedade à luz da 
ciência, tendo-a como um elemento que apresenta também um caráter moral. Na 
concepção de Durkheim, é a consciência coletiva que traduz uma organização 
social, ou seja, a sociedade somente é possível graças à consciência coletiva. Em 
As regras do método sociológico, de 1895, Durkheim escreveu:
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Émile Durkheim (1858-1917): o indivíduo na sociedade
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Figura 1. Em razão da sua preocupa-
ção com a questão das funções que cada 
organismo social tem de cumprir para o 
bom funcionamento do social, Durkheim 
também é considerado o fundador da 
escola funcionalista em sociologia, uma 
corrente de pensamento que defende a 
ideia de que determinados elementos de 
uma sociedade cumprem um papel vital 
na manutenção do equilíbrio de conjun-
to, sendo, portanto, indispensáveis para 
o bom funcionamento de tal sociedade. 
Como o bom funcionamento dos órgãos 
humanos é vital para o próprio ser hu-
mano, assim também seria na sociedade, 
com as instituições sociais (família, escola, 
igreja, Estado) cumprindo seu papel como 
os órgãos humanos. 
Parece-nos pura evidência que a matéria da vida social não se possa explicar 
por fatos puramente psicológicos, quer dizer, por estados da consciência individual. 
Com efeito, as representações coletivas traduzem a maneira como o grupo se pen-
sa nas suas relações com os objetos que o afetam. Ora, o grupo é constituído de 
modo diferente do indivíduo, e as coisas que o afetam são de outra natureza. Logo, 
representações que não exprimem nem os mesmos sujeitos nem os mesmos objetos 
não poderiam depender das mesmas causas. Para compreender a maneira como 
a sociedade se representa a si própria e ao mundo que a rodeia, precisamos consi-
derar a natureza da sociedade e não a dos particulares.
DURKHEIM, Émile. Os pensadores: Durkheim. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 79.
As atitudes individuais isoladas em nada interessam quando se pretende es-
tudar uma sociedade, uma vez que o meio social só pode ser apreendido pelo 
sociólogo por meio daquilo que move as pessoas em direção ao coletivo: trata-
-se dos fatos sociais, pois são eles que convertem a sociedade num sistema que 
representa determinada realidade com características próprias e pertinentes de 
serem estudadas pelos sociólogos. Ao tentar delimitar o campo de estudo da so-
ciologia, Durkheim constata que o conceitode social é aplicado a quase todos os 
fenômenos que se passam no interior da sociedade. Vendo nisso um problema, 
já que a metodologia requer a delimitação do objeto a ser estudado, ele procu-
rou estabelecer qual tipo de fato mereceria a qualificação de social. À sociologia 
como ciência caberia, então, ocupar-se daqueles fatos que apresentassem as 
características específicas para serem considerados fatos sociais. Ao viverem em 
sociedade, os seres humanos deparam-se com regras de conduta que não foram 
criadas por eles, mas devem ser aceitas e seguidas por todos, pois sem essas regras 
a sociedade não existiria como coletividade com diferentes graus de organização. 
Entretanto, nem tudo o que acontece em uma sociedade pode ser apreendido como 
um fato social. São três as características apresentadas por Durkheim para que um 
determinado elemento presente em uma sociedade possa ser tomado como um fato 
social: a coercitividade (coerção social), a exterioridade e a generalidade.
A coerção social liga-se à força que os fatos sociais exercem sobre os indivídu-
os e que os levam a conformarem-se com as regras da sociedade em que vivem, 
independentemente de sua escolha ou vontade. Tenha ou não consciência da 
coerção que atua sobre si, o indivíduo é levado a comportar-se de determinada 
forma; a coerção é uma realidade na vida do indivíduo. A exterioridade é a se-
gunda característica. Durkheim demonstra que os fatos sociais, além de existirem, 
atuam sobre os indivíduos involuntariamente, sem qualquer relação com a sua 
vontade ou sua adesão. Comprova que as regras sociais já existem, assim como 
os costumes e as leis, sendo anteriores ao nascimento das pessoas e estabelecidos 
por mecanismos de coerção. Desses mecanismos, a educação é provavelmente o 
mais comum e consolidado em nossa sociedade. Por fim, com a generalidade, 
Durkheim caracteriza como social todo fato que é geral, que se aplica a todos os 
indivíduos ou à sua maior parte. É na generalidade que se encontra a natureza 
coletiva dos fatos sociais, o seu estado comum ao grupo.
A educação é um dos exemplos utilizados por Durkheim para definir o que 
é um fato social. Seja ela formal ou não, a educação tem a importante tarefa do 
ajustamento dos indivíduos à sociedade na qual vivem. Estabelece regras que 
devem ser aprendidas, internalizadas e transformadas em hábitos de conduta, 
ou seja, a sociedade deve educar os indivíduos para que aprendam as normas 
necessárias para a organização da vida social. A definição de fato social se con-
firma para Durkheim a partir de um exemplo corriqueiro em que ele mostra o 
modo como as crianças são educadas. A educação se concentra em um esforço 
sucessivo para impor às crianças padrões fixos de conduta no modo de ver, de 
sentir ou de agir, padrões esses que não se adquirem espontaneamente. A pressão 
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Émile Durkheim (1858-1917): o indivíduo na sociedade
que a criança sofre é a própria pressão do meio social, tendendo a moldá-la à 
sua imagem, pressão da qual os pais e os mestres seriam apenas representantes 
e intermediários.
A sociedade e a solidariedade 
Os laços que unem cada indivíduo ao grupo constituem a solidariedade, 
que pode ser de dois tipos: mecânica ou orgânica. As sociedades tradicionais, 
ou pré-capitalistas, seriam caracterizadas pela solidariedade mecânica. Quando 
os vínculos que unem o indivíduo à sociedade se assemelham aos que ligam um 
déspota aos seus súditos, sua natureza é análoga à daqueles que unem um pro-
prietário a seus bens: eles não são recíprocos, mas, sim, são de natureza mecâni-
ca. O indivíduo não se pertence, diz Durkheim: ele é, literalmente, uma coisa de 
que a sociedade dispõe. Nas sociedades em que essas ligações predominam, as 
ideias e as tendências comuns a todos os seus membros ultrapassam em número 
e intensidade aquelas que pertencem a cada um deles pessoalmente. Isso signi-
fica que não encontramos ali aquelas características que diferenciam tão nitida-
mente os membros de uma mesma sociedade, a ponto de podermos chamá-los 
de indivíduos. Suas consciências se assemelham, eles são pouco ou quase nada 
desiguais entre si e, por isso, são solidários graças às suas similitudes. Mesmo a 
propriedade não pode ser individual, o que só vem a acontecer quando o indiví-
duo se desliga e se distingue da maior parte da população.
A solidariedade pode ser denominada mecânica quando relaciona diretamente 
o indivíduo à sociedade, sem nenhum intermediário; constitui-se em uma reu-
nião de crenças e sentimentos comuns a todos os membros do grupo, ou seja, é 
o tipo coletivo. A quantidade de responsabilidade atribuída à solidariedade me-
cânica na integração social depende da extensão da vida social que ela envolve, 
regulamentada pela consciência comum. A consolidação de um poder absoluto, 
cuja extraordinária autoridade surge de uma consciência comum, é a primeira 
divisão do trabalho entre os povos primitivos. Nessas sociedades, ditas “simples”, 
Figura 2. Para Durkheim, a educação 
tem um importante papel na socialização 
das novas gerações pelas gerações mais 
velhas. A escola faz parte de uma educa-
ção institucionalizada, contudo é no seio 
da família que o processo de aprendizado 
tem início. 
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os tipos individuais são rudimentares, enquanto o tipo coletivo é bastante de-
senvolvido. Assim, toda vida social é generalizada e, em vez de concentrar-se numa 
quantidade de pequenos lares distintos e semelhantes, reduzem-se os “vácuos 
morais” que separam os indivíduos e, desse modo, as relações sociais tornam-
se mais numerosas e se estendem. Essa aproximação é tida por Durkheim como 
o resultado de um aumento da densidade moral e dinâmica ou intensidade 
dinâmica. Os indivíduos passam a estar em contato suficiente de modo a agir e 
reagir uns sobre os outros desde o ponto de vista moral; eles não apenas trocam 
serviços ou fazem concorrência uns com os outros, mas têm uma vida comum.
Daí a força da consciência coletiva no contexto da solidariedade mecânica. 
Concomitantemente a isso, desenvolve-se a densidade material, que corresponde 
à concentração da população, à formação de cidades, ao aumento da natalidade 
e das vias de comunicação e transmissão rápidas e em quantidade que, suprimin-
do ou diminuindo os vazios que separavam os segmentos sociais, aumentam a 
densidade da sociedade. À medida que se acentua a divisão do trabalho social, 
a solidariedade mecânica se reduz, formando-se uma nova: a solidariedade 
orgânica ou derivada da divisão do trabalho, gerando um processo de indivi-
dualização. Sendo assim, a função da divisão do trabalho é a de integrar o corpo 
social, assegurando-lhe a unidade. É, portanto, uma condição de existência da 
sociedade, sendo esta “um sistema de funções diferentes e especiais”, em que 
cada órgão tem um papel diferenciado. A função que o indivíduo desempenha é 
o que marca seu lugar na sociedade, e os grupos por afinidades especiais tornam-
se órgãos. Como exemplo, podemos citar a sociedade capitalista moderna.
Essas duas formas de solidariedade evoluem em caminhos inversos: enquan-
to uma progride, a outra se retrai, mas cada uma delas, a seu modo, cumpre a 
função de assegurar a coesão social nas sociedades chamadas simples ou com-
plexas. Nesse sentido, quando a solidariedade social é forte, esta coloca os seres 
humanos pertencentes a uma coletividade em frequente contato, multiplicando 
as ocasiões em que têm de se relacionar. Quanto mais solidários são os membros 
de uma sociedade, mais interações diversas são sustentadas entre eles.
Moralidade e anomia 
A preocupação com os problemas da então moderna sociedade capitalista 
industrial levou Durkheim a ressaltar a importância dos fatos morais na integra-
ção dos indivíduos à vida social. Para ele, moral representa tudo o que é fonte 
de solidariedade, o que força um ser humano a contar com seu próximo, regula 
seus movimentoscom base em outro evento que não os impulsos de seu ego-
ísmo, e a moralidade é mais sólida na medida em que esses laços são mais nu-
merosos. Durkheim acreditava que a França se encontrava imersa em uma crise 
provocada pela ausência dos valores e das instituições protetoras e envolventes 
do mundo feudal, dentre as quais as corporações de ofício. Conflitos e desordens 
eram sintomas da anomia jurídica e moral presentes na vida econômica, cujo 
progresso sem precedentes não foi acompanhado pelo desenvolvimento de ins-
tituições morais dotadas de uma autoridade capaz de regulamentar os interesses 
e instituir limites. Etimologicamente, anomia vem do grego e significa “sem lei, 
sem regra”. Na análise durkheimiana, a anomia corresponde a um estado pato-
lógico pelo qual determinada sociedade pode passar, por causa da ausência de 
regras. Isto poderia ocorrer uma vez que essa sociedade vivesse em processo de 
mudança e não obedecesse mais suas regras antigas, ao mesmo tempo em que 
novas regras ainda não estivessem determinadas. Assim, quando a sociedade é 
perturbada por uma crise desse tipo, ela se torna momentaneamente incapaci-
tada de desempenhar sobre os seus membros o papel de freio moral, de uma 
consciência superior à dos indivíduos. Consequentemente, estes deixam de ser 
solidários e a própria harmonia social se vê ameaçada, pois as tréguas impostas 
pela violência são provisórias e não deixam que os indivíduos fiquem em paz. 
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Isso ocorre porque as paixões humanas encontram limites apenas diante de um 
poder moral que impõe autoridade; caso contrário, a lei do mais forte governa 
e, assim, latente ou agudo, o estado de guerra se estabelece. 
Na visão de Durkheim, além da anomia jurídica e moral, a França de seu 
tempo via a própria moral profissional ainda em um nível rudimentar. O mundo 
moderno seria marcado por uma redução na eficácia de determinadas instituições 
integradoras, como a religião e a família, uma vez que os indivíduos passam a 
se agrupar de acordo com suas atividades profissionais. O modelo familiar tradi-
cional havia desaparecido, fato que acarretou a consequente perda de autorida-
de dessa instituição social sobre a vida privada, e o Estado mantinha-se distante 
dos indivíduos, tendo com eles relações muito exteriores e intermitentes para 
permitir penetrar profundamente nas consciências individuais e socializá-las in-
teriormente. A diversidade de correntes de pensamento tornou as religiões, em 
contrapartida, pouco eficazes, uma vez que não mais subordinavam completa-
mente o indivíduo. Sob esse aspecto, a profissão adquire uma importância cada 
vez maior na vida social. 
Assim, o grupo profissional preenche as duas condições necessárias para a 
regulamentação da vida social então anômica: o grupo está interessado na vida 
econômica e tem uma perenidade ao menos equivalente à da família. De acordo 
com Durkheim, o grupo profissional, ou corporação, por ser mais restrito que 
o Estado ou a vida econômica e por estar mais próximo da profissão, é adequa-
do para conhecer bem seu funcionamento, para perceber todos os seus anseios 
e seguir todas as suas sanções. O grupo seria capaz, portanto, de exercer sobre 
os seus membros uma regulamentação moral capaz de frear-lhe certos impulsos 
e de pôr fim aos estados anômicos, quando manifestados. No estado em que se 
encontrava a sociedade, o grupo ocupacional ou profissional seria o único capaz 
de suceder a família nas funções econômicas e morais que ela se tornava cada vez 
mais incapaz de preencher. Seria preciso, gradativamente, vincular os indivíduos 
às suas vidas profissionais, organizar os grupos desse gênero, e que o dever profis-
sional assumisse o mesmo papel que o dever doméstico desempenhara até então. 
Durkheim notava que o estado de anomia não poderia ser atribuído somente à 
distribuição desigual da riqueza, mas, principalmente, à falta de regulamentação 
das atividades econômicas, cujo desenvolvimento havia sido tão extraordinário 
nos últimos dois séculos que elas deixaram de ocupar o lugar secundário de an-
tes. Do mesmo modo, ele atribuiu aos problemas provocados por uma divisão 
anômica do trabalho uma parte da responsabilidade nas desigualdades e nas 
insatisfações das sociedades modernas. Embora tendo absorvido uma considerável 
quantidade de indivíduos no meio industrial, tais atividades não se apresentavam 
como uma autoridade que lhes impusesse deveres, regras e limites, isto é, não 
exerciam a coerção, sem a qual não havia moral. Existe uma moral profissional do 
advogado, do magistrado, do militar, do docente, do médico, do sacerdote etc.; 
entretanto, ao fixar uma linguagem definida para as ideias em curso, definindo 
as relações do empregador com o empregado, dos industriais concorrentes entre 
si ou com o público, quais fórmulas se obteriam? A fidelidade e a dedicação que 
os assalariados de todos os tipos devem àqueles que os empregam, a moderação 
com a qual os empregadores precisam utilizar a sua superioridade econômica, 
e certa reprovação por toda concorrência evidentemente desleal ou, ainda, por 
toda exploração por demais injusta do consumidor: eis, aproximadamente, o que 
caracteriza a função moral dessas profissões. 
Indivíduos que são parte de um grupo com ideias, sentimentos e ocupações 
afins são atraídos entre si, associam-se e terminam por estabelecer um grupo 
especial do qual vem a desprender-se uma vida moral, um sentimento de com-
pletude. Essa união com algo que supera o indivíduo, ou seja, a subordinação 
dos interesses particulares ao interesse geral, acentua a própria fonte de toda a 
atividade moral. Se esse sentimento pode ser definido e determinado, quando 
aplicado às circunstâncias mais ordinárias e mais importantes da vida, e se é tra-
duzido em fórmulas específicas, temos, assim, um corpo de regras morais prestes a 
É de Durkheim o estudo so-
ciológico clássico sobre a ques-
tão do desvio social de conduta. 
Do ponto de vista da teoria fun-
cionalista, o desvio é produto 
cultural porque somente por 
meio da criação de normas é 
que existe a possibilidade de 
elas serem violadas. De acordo 
com o funcionalismo, normas e 
desvios constituem dois lados 
de uma mesma moeda: consti-
tuem a definição e a regulação 
das fronteiras dos sistemas so-
ciais, pois somente a lealdade e 
a obediência a essas regras é 
que classificam os indivíduos 
como pertencentes a uma deter-
minada sociedade, ao mesmo 
tempo em que aqueles que vio-
lam as regras servem ao reforço 
do senso de coesão e integração 
daqueles que se conformam às 
regras sociais.
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se constituir. O espaço que a reflexão sobre esse tema 
ocupa na obra durkheimiana mostra a preocupação 
do autor com questões da ordem mundial, que, 
para ele, se decompunha moralmente. Ainda 
que tenha sido ativamente engajado nos de-
bates políticos da França, Durkheim rejeitava 
as soluções para os problemas sociais propostas 
pelos grupos que se consideravam socialistas. Ele 
acreditava existirem nessas propostas somente indica-
dores de um mal-estar social, pois, para Durkheim, 
o socialismo já estaria inserido na própria nobreza 
das sociedades superiores, na medida em que a 
complexidade da divisão do trabalho seria uma 
decorrência natural da evolução das funções eco-
nômicas cada vez mais otimizadas. Afinal, sendo a 
divisão do trabalho um fato social, seu principal efei-
to não é aumentar o rendimento das funções divididas, mas 
produzir mais solidariedade. Se isso não ocorre, é sinal de que os 
órgãos que compõem uma sociedade dividida em funções não se autor-
regulam, deixam de realizar intercâmbios suficientes, não estão em bastante nem 
prolongado contato, nem podem, assim, garantir o equilíbrio e a coesão social. 
Nesses casos, o estado de anomia é eminente. Pois, sob certas circunstâncias, a 
divisão do trabalho age de maneira dissolvente, deixando de cumprir seu papel 
moralque é o de tornar solidárias as funções divididas.
Seriam três os casos em que ocorre um estado de anomia: nas sociedades 
industriais e comerciais, em que as funções sociais não estão bem adaptadas 
entre si; nas lutas entre o trabalho e o capital, que indicam a falta de unidade e 
a desarmonia entre os trabalhadores e os patrões; e na divisão extrema de espe-
cialidades no interior da ciência. Durkheim exemplifica tal estado com a situação 
de mercado em que um intenso crescimento reduz os contatos entre as partes, 
entre produtores e consumidores. A grande indústria separou inteiramente o pa-
trão e o empregado, modificou as relações de trabalho e distanciou os membros 
das famílias. E os interesses em conflito ainda não foram capazes de atingir um 
novo equilíbrio. Se a função da divisão do trabalho falha, a anomia e o perigo da 
desintegração ameaçam todo o campo social. Percebe-se, então, que o centro 
da harmonia é constituído por regras morais que devem ser capazes de garantir 
a vida em sociedade. No momento em que o indivíduo, absorvido por sua tarefa, 
isola-se em sua atividade especial, já não percebe os colaboradores que traba-
lham a seu lado, na mesma obra, e muito menos tem ideia dessa obra comum. 
Durkheim considera injustas as acusações de que a divisão do trabalho reduziu o 
trabalhador a uma máquina que repete rotineiramente os mesmos movimentos 
e que não relaciona a um propósito as ações que lhe são exigidas. Se ele já não é 
uma célula viva de um organismo vivo que vibra sem cessar ao contato das cé-
lulas vizinhas, é porque se torna uma engrenagem inerte que uma força externa 
põe em funcionamento. Tal sistema não o deixa indiferente à moral. Perde-se o 
indivíduo e limita-se a fonte da vida social, o que é uma ameaça não só às fun-
ções econômicas, mas, principalmente, a todas as funções sociais. A solução para 
isso não está em ampliar a cultura dos trabalhadores, mas em demonstrar-lhes 
que suas ações têm uma finalidade fora de si mesmas. Entretanto, a desarmonia 
entre as aptidões individuais e o gênero das tarefas que são atribuídas ao tra-
balhador, por meio de alguma forma de coação, constitui outra inquietação da 
solidariedade, mas não é uma consequência necessária da divisão do trabalho 
em condições habituais. Durkheim argumenta que o trabalho só se divide espon-
taneamente se a sociedade está constituída de tal maneira que as desigualdades 
sociais expressam exatamente as desigualdades naturais. Sempre que a riqueza 
for transmitida por herança, existirão ricos e pobres de nascimento. As condições 
morais de nossa vida social são tais que as sociedades não poderão se manter a 
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não ser que as desigualdades exteriores, dentro das quais 
os indivíduos estão situados, forem se nivelando cada vez 
mais. É preciso entender, com isso, não que os homens de-
vem tornar-se iguais entre si; ao contrário: a desigualdade 
interior estará sempre aumentando, aquela que deriva do 
valor pessoal de cada um, sem que esse valor seja exagera-
do ou diminuído por alguma causa exterior. Ora, a riqueza 
hereditária é uma dessas causas. Segundo Durkheim, mes-
mo que a extinção da instituição da herança possibilitasse 
a cada indivíduo entrar na luta pela vida com os mesmos 
recursos, não deixaria de subsistir certa hereditariedade. 
Os dons naturais, a inteligência, o gosto, o valor científico, 
artístico, literário, industrial, a coragem, a destreza natu-
ral são forças que cada um de nós recebe ao nascer, como 
o proprietário nato recebe o seu capital. Será, portanto, 
necessária ainda certa disciplina moral para forçar os me-
nos favorecidos pela natureza a aceitar o que devem ao 
acaso de seu nascimento. Haverá quem reivindique uma 
partilha igual para todos e quem não conceda vantagem 
alguma aos mais úteis e merecedores — nesse caso, seria 
preciso uma disciplina muito mais enérgica para obrigar 
estes últimos a aceitar um tratamento simplesmente igual 
ao dispensado aos medíocres e impotentes.
Os temas “industrialização” e “urbanização” 
são também fundamentais para a área da geo-
grafia, pois determinam e englobam problemas 
sociais que se relacionam com a economia, a 
transformação das paisagens e o meio ambiente.
Conexões
A sociedade e sua ação 
sobre o indivíduo 
Em sua obra O suicídio, de 1897, Durkheim analisa de 
maneira rigorosa e original um fenômeno cujas causas 
parecem sempre ser explicáveis do ponto de vista do in-
divíduo. Considera-se geralmente que o suicídio se confi-
gura como uma ação da pessoa, dependendo unicamente 
de fatores individuais; sua compreensão, portanto, diria 
respeito apenas à psicologia. Diferentemente dessa hipó-
tese, Durkheim coloca que a decisão do suicida não se 
explica pela sua personalidade, por seu humor, por seus 
antecedentes nem pelos fatos da sua história privada. 
Essa hipótese opõe-se ao comumente aceito. Durkheim 
procurará demonstrar de que modo o conjunto desses 
fenômenos poderá ser tomado como um fato novo e sui 
generis (peculiar), resultante de fatores de origem social 
que chama de “correntes suicidogêneas”, algo como es-
tímulos que atuariam sobre os indivíduos, exortando-os 
ou possibilitando que eles procurassem a própria morte. 
Durkheim examina estatísticas nacionais europeias e, 
com base nelas, argumenta que a evolução do suicídio 
ocorre por ondas de movimento que, embora variem de 
uma para outra sociedade, constituem taxas constantes 
durante longos períodos. Como Durkheim propunha em 
seu método, deve-se começar por uma definição objetiva 
de suicídio; delimitando o fato que pretende investigar, 
deve-se passar a considerá-lo como um fenômeno coletivo, 
tomando dados relativos a algumas sociedades, para en-
contrar regularidades e construir uma taxa específica para 
cada uma delas. Do ponto de vista sociológico, Durkheim 
elaborou uma tipologia dos suicídios. Com isso, procurou, 
uma vez mais, distinguir a sociologia de outras ciências 
que tinham o ser humano como objeto. Para Durkheim, 
aqueles que buscaram explicar o suicídio considerando 
casos isolados não chegaram à sua causa geradora, que 
é, segundo ele, exterior aos indivíduos. 
Assim, cada grupo social tem uma inclinação coletiva 
para o suicídio, e desta derivam as inclinações individuais. 
Trata-se das correntes de egoísmo, de altruísmo e de ano-
mia, que afligem a sociedade. Em geral, essas três correntes 
compensam-se mutuamente e mantêm os indivíduos em 
equilíbrio; a ultrapassagem, por parte de qualquer delas, de 
seu grau normal de intensidade pode expor alguns mem-
bros a determinadas formas de suicídio. Desejos particula-
res, profissões ou confissões religiosas estimulam-nos ou 
detêm-nos, mas a influência das conjunturas particulares 
de cada um, que são, em geral, tomadas por causas ime-
diatas do suicídio, não passa de ressonâncias do estado 
moral da sociedade. As causas são, portanto, objetivas, 
exteriores aos indivíduos, estimulando-os ou detendo-os: 
são tendências coletivas e constituem, segundo Durkheim, 
forças tão reais quanto as forças cósmicas, embora de ou-
tra natureza. A maior coesão é a vitalidade das instituições 
às quais o indivíduo está ligado, a intensidade com que se 
manifesta a solidariedade em seu grupo religioso, a solidez 
dos laços que o unem à sua família, a força dos sentimentos 
que o vinculam à sociedade política e que contribuem para 
preservá-lo de cometer um ato dessa natureza. Portanto, a 
religião e as dimensões doméstica e política podem exercer 
sobre o suicídio uma influência moderadora; instituídas 
como grupos profundamente integrados, elas protegem 
seus membros. Diante de um processo de desintegração, o 
indivíduo que a elas pertence pode sentir-se estimulado a 
se suicidar, pois, quanto mais fracos se tornam os grupos 
sociais nos quais está inserido, menos ele se subordinará 
a esses grupos. Consequentemente, dependerá apenas de 
si mesmopara reconhecer as regras de conduta que con-
vêm aos seus interesses particulares. As causas do suicídio 
egoísta estão relacionadas à desintegração social, consti-
tuída com base na decepção, na melancolia e na sensação 
de desamparo moral. Durkheim acreditava que a lacuna 
gerada pela carência da vida social era muito maior entre 
povos modernos do que entre os primitivos e afligia muito 
mais os homens do que as mulheres. Considerados seres 
socialmente mais complexos, os homens, de acordo com 
o pensador, suportam menos situações, como a solidão, se 
comparados a uma viúva ou a uma mulher solteira, que 
possuem necessidades mais rudimentares nos aspectos so-
ciais e são satisfeitas com menor renda.
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Aqui convém lembrar que as pesquisas e conclusões de 
Durkheim estão circunscritas à época na qual ele desen-
volveu suas pesquisas, o que não corresponde exatamen-
te à realidade atual. Dentro das consideradas sociedades 
tradicionais, os suicídios mais frequentes eram os que 
Durkheim denominou altruístas, que abarcam aqueles 
praticados por enfermos ou pessoas que chegam ao limi-
te da velhice; viúvas, por causa da morte do marido; fiéis 
e servidores com o falecimento de seus chefes; ou os atos 
heroicos, por ocasião de guerras ou convulsões sociais. 
Nesse contexto, o suicídio é visto como um dever que, se 
não for cumprido, pode ser punido pela desonra, perda 
da estima pública ou por castigos religiosos. Enquanto no 
suicídio do tipo egoísta afrouxam-se os laços com a socie-
dade e com as instituições sociais fundamentais (como a 
família e a religião) a ponto de deixar o indivíduo escapar 
das pressões sociais, no suicídio altruísta o indivíduo é 
“diluído” em seu grupo ou coletividade, ou seja, a forte 
ligação aos grupos dos quais ele faz parte, como a família, 
o Estado ou a Igreja, exerce forte influência na decisão de 
colocar um fim a sua própria vida. Durkheim identificou 
nas sociedades modernas a ocorrência do suicídio altruísta 
entre mártires religiosos e, num estado crônico, entre os 
militares. Ele denomina o terceiro tipo de suicídio como 
anômico, presente nas sociedades modernas e ligado a 
um estado de desregramento social em que as normas 
estão ausentes ou não são respeitadas. A sociedade deixa 
de estar suficientemente presente para regular as paixões 
individuais, deixando-as correr desenfreadas. Se, em uma 
sociedade baseada na divisão do trabalho, as relações entre 
os órgãos não estão regulamentadas, ou os órgãos sociais 
não estão em contato suficiente uns com os outros, uma 
autorregulação em situações de desequilíbrio torna-se 
difícil ou impossível. O sentimento de interdependência 
torna-se fragilizado, as relações tornam-se precárias, e as 
regras que as equilibram são indefinidas e vagas. Essa é a 
consolidação do estado de anomia, impossível de exis-
tir onde os órgãos solidários estão em contato suficiente 
e prolongado. 
A ocorrência de uma crise econômica ou de mudan-
ças súbitas nas crenças vigentes em uma sociedade pode 
impedir que se cumpra a função reguladora e disciplinar, 
desse modo, o estado de anomia tornar-se-ia habitual. Um 
desastre econômico, por exemplo, lança algumas pessoas 
a uma situação inferior aos padrões econômicos e de vida 
com os quais se encontravam acostumadas; tal fato poderia 
levar os indivíduos a uma reformulação de conceitos e esca-
las de valores morais e de visão de mundo. Ou, ainda, um 
brusco aumento da riqueza ou do poder leva o indivíduo 
ao mesmo desajuste, passando a não existir mais ambições 
pessoais. De acordo com Durkheim, as ocupações industriais 
e comerciais encontram-se entre as profissões que registram 
maior número de suicídios, dada a sua frágil e incipiente 
moralidade, e seus padrões, possivelmente, estão entre os 
mais atingidos pelo tipo chamado de anômico.
Dessa forma, em O suicídio, Émile Durkheim conseguiu, 
dentro de seus pressupostos teóricos, observar, em um ato 
fundamentalmente individual, a presença das regulações 
sociais, ou seja, a demonstração da ação da sociedade so-
bre o indivíduo.
Em foco
C3 — Compreender a produção e o papel histórico das 
instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as 
aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 — Identificar registros de práticas de grupos 
sociais no tempo e no espaço.
Leia o texto a seguir.
A proposição segundo a qual os fatos sociais devem 
ser tratados como coisas — proposição que está na base 
de nosso método — é das que mais têm provocado con-
tradições. Consideraram paradoxal e escandaloso que assi-
milássemos às realidades do mundo exterior às do mundo 
social. Era equivocar-se singularmente sobre o sentido e 
o alcance dessa assimilação, cujo objeto não é rebaixar 
as formas superiores do ser às formas inferiores, mas ao 
contrário, reivindicar para as primeiras um grau de realidade 
pelo menos igual ao que todos reconhecem nas segundas.
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São 
Paulo: Martins Fontes, 2009. p. 17.
De acordo com o texto, Durkheim, ao afirmar que os fatos 
sociais são coisas, pretende:
a) definir a sociologia como ciência complementar 
ao conhecimento psicológico.
b) garantir a cientificidade e a objetividade do co-
nhecimento sociológico.
c) assegurar à sociologia um grau de certeza superior 
ao obtido das ciências naturais.
d) caracterizar o conhecimento sociológico como 
ciência centrada nos conflitos sociais.
e) transformar a ciência da sociedade em inspiração 
teórica para a revolução social.
Alternativa b
Durkheim afirma que define os fatos sociais como coisas 
porque os concebe como realidades passíveis de serem 
estudas e conhecidas cientificamente, com objetividade 
idêntica à empregada nas ciências da natureza.
a) (F) Durkheim não estabelece qualquer associação 
entre conhecimento sociológico e conhecimento 
psicológico.
c) (F) Durkheim não afirma que a sociologia pode 
superar as ciências da natureza no que tange à 
certeza do conhecimento.
d) (F) A perspectiva sociológica de Durkheim não 
confere relevo aos conflitos sociais.
e) (F) A perspectiva sociológica de Durkheim não 
tem orientação revolucionária.
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ATIVIDADES
1 (U. F. Uberlândia-MG, adaptada) Leia a tirinha a seguir. 
(Quino, Mafalda)
A tirinha de Quino ilustra um aspecto do conceito de fato 
social, como elaborado por Émile Durkheim. Este aspec-
to seria:
a) ser geral e igual em todas as sociedades.
b) proporcionar a total liberdade ao indivíduo em uma 
dada sociedade. 
c) ser particular a cada indivíduo, sem interferência do 
grupo social. 
d) exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior.
A partir da tirinha de Quino, observamos a coerção que o grupo exerce 
sobre o indivíduo que, no caso, tem uma atitude entendida como muito 
diferente do grupo ao qual pertence. O fato social, além das características 
de generalidade e exterioridade, também tem a característica da coerção 
sobre os indivíduos.
a) (F) Os fatos sociais são gerais, mas não necessariamente os mesmos em 
todas as sociedades.
b) (F) Os fatos sociais exercem coerção sobre os indivíduos, e dentro de uma 
perspectiva funcionalista, não há, nas sociedades, uma noção como “total 
liberdade”.
c) (F) Os fatos sociais são um fenômeno geral, no sentido de comuns a uma 
grande coletividade.
Alternativa d
2 (U. F. Uberlândia-MG) Segundo Durkheim, o crime é um fato 
social presente em toda sociedade. Para esse autor, nem 
todo o crime é anômico, mas apenas aquele que corres-
ponde a uma crise de coesão social. De acordo com essas 
informações, marque a alternativa correta sobre anomia 
em Durkheim.
a) Conceito que descreve a ocorrência, nas sociedades 
modernas, industrializadas, de um estado de comple-
mentaridade e interdependência entre os indivíduos, 
o que leva a uma menor divisão do trabalho social e 
ao fortalecimento das instituições sociais.
b) Ocorre, quando há, nas sociedades modernas, com 
seus intensos processos de mudança, uma situação 
em que o conjunto de regras, valores

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