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ANARQUISMO E CIÊNCIA EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS

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Revista produzida por Secretaría de Comunicación de la CGT-Espanha 
 
Editorial traduzido para o português pela Biblioteca Emma Goldman 
ANARQUISMO E CIÊNCIA EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS 
 
Salvador – BA 
Junho - 2020 
 
1 
Segue link da Revista em Espanhol 
http://librepensamiento.org/wp-content/uploads/2020/05/LP-Nº-
102.pdf 
 
 
ANARQUISMO E CIÊNCIA EM TEMPOS DE 
CORONAVÍRUS 
 
O anarquismo representa um ensaio da aplicação 
das generalizações obtidas pelo método indutivo-
dedutivo das ciências naturais à apreciação da 
natureza das instituições humanas, bem como a 
previsão, com base nessas apreciações, dos 
aspectos prováveis na marcha futura da 
humanidade rumo à liberdade, à igualdade e à 
fraternidade. 
A ciência moderna e anarquismo. Piotr Kropotkin 
 
No contexto do Iluminismo, o anarquismo original foi alinhado 
com o desenvolvimento da ciência nos séculos XVII a XIX. Acreditava 
em uma ciência racionalista que pusesse fim ao obscurantismo, à 
superstição, às crenças inquisitoriais, à repressão, à ignorância, à 
pobreza, à escravidão; uma ciência que contribuísse para a 
transformação social, pondo fim aos modelos absolutistas e de 
servidão das monarquias do Antigo Regime. A ciência durante esses 
séculos desempenhou um papel revolucionário e o anarquismo 
valorizou e coexistiu com aquela perspectiva pela qual o 
conhecimento veio a ser utilizado como ferramenta de libertação 
coletiva. 
"Descartando o absoluto em todas as ordens e expandindo o 
relativo em termos ilimitados". Com esta máxima do final do século 
XIX do anarquista Marcial Lores de La Coruña, incluída na publicação 
de 2010 da Associação Isaac Puente, Crença e Ciência, ele defende 
http://librepensamiento.org/wp-content/uploads/2020/05/LP-Nº-102.pdf
http://librepensamiento.org/wp-content/uploads/2020/05/LP-Nº-102.pdf
 
2 
"uma ciência despojada de preconceitos, que experimenta a liberdade 
em busca do conhecimento". 
O anarquismo como filosofia política compartilhou esses 
postulados de liberdade, de relativismo, o que lhe permitiu iluminar 
novos tipos revolucionários de relações humanas, de poder, 
econômicas, sociais... que se manifestariam nos modelos teóricos e 
práticos das sociedades libertárias. 
Certamente esse apoio não foi uniforme, nem sempre foi uma 
relação idílica entre ciência e anarquismo, mas oscilou a partir do 
entusiasmo do "anarquismo científico" do naturalista Piotr Kropotkin, 
passando por Élisée Reclus ou Errico Malatesta até as objeções e 
advertências de Mikhail Bakunin sobre os riscos da nova alienação que 
supunha delegar o antigo poder abolido à ciência, transferindo a fé e a 
crença na religião em nome da fé na ciência positivista até considerá-
la como o novo deus que sabe tudo, nos guia e resolve tudo. 
Com o passar do tempo, a ciência vem deixando de lado suas 
convicções progressistas e a melhoria da vida da população para se 
tornar mais uma ferramenta a serviço de um sistema social classista e 
capitalista que mercantiliza tudo, até mesmo a saúde, como estamos 
vendo nessa pandemia de coronavírus. 
De sua parte, Paul K. Feyerabend, ampliou horizontes, em seu 
trabalho Contra o Método de 1975. Esboço de uma teoria anarquista 
do conhecimento, ele se mostra contrário a uma visão exclusivamente 
racionalista da ciência, apontando que outros recursos irracionais e 
emocionais devem ser levados em conta, já que, afinal, a ciência é 
apenas mais um dos cenários em que o caráter humano deve emergir. 
No processo de pesquisa científica realista e racional, obcecada com 
regras e sua aplicação, pode ser positivo dispensar regulamentações 
rígidas, ignorar o método científico se necessário e abrir um novo 
caminho de liberdade que leve a descobertas insuspeitas. 
É com essa abordagem alternativa, subversiva, alheia aos 
cânones da academia oficial, que "o anarquismo pode sem dúvida 
fornecer uma excelente base para a epistemologia e a filosofia da 
ciência". Para este anarquismo epistemológico de Feyerabend, "Se 
 
3 
tudo vale, não há obstáculos ao conhecimento". 
Não se deve ter medo de dar menos atenção à ordem e ao 
direito na ciência, assim como não se deve ter medo das experiências 
e sociedades reguladas pela filosofia anarquista. Como Albert Einstein 
nos lembrou "Imaginação é mais importante que conhecimento". O 
conhecimento é limitado e a imaginação envolve o mundo". 
Tentando não ser etnocêntrico (a malária, por exemplo, causa 
600 mil mortes por ano), a realidade é que nos países mais 
desenvolvidos, vivemos em um estado de alarme surpreendente, com 
um terço da humanidade confinada às suas casas para que a 
pandemia de coronavírus não continue a se espalhar e cause uma 
saturação do sistema de saúde que leva a milhões de mortes. Esse 
fato provocou uma paralisia da economia capitalista globalizada com 
implicações no modelo social e de consumo em que praticamente 
todo o planeta está imerso e, paradoxalmente, estamos vendo as 
vantagens dessa situação de decrescimento real. A emissão de gases 
poluentes foi reduzida e a qualidade do ar melhorou; o processo de 
turistificação e gentrificação foi retardado; há sintomas do 
renascimento de certa flora e fauna; iniciativas de redes de apoio 
mútuo estão proliferando espontaneamente; estamos descobrindo 
novas formas de nos relacionarmos e repensarmos os cuidados com 
os idosos; valorizamos mais a saúde ocupacional; o frenesi consumista 
foi refreado; a criatividade e originalidade de nossas expressões, 
afetos e relações de vizinhança estão surgindo... 
Entretanto, a situação atual que estamos sofrendo com a 
pandemia nos deixa com questões muito complexas que nos 
permitem buscar novas formas de reflexão coletiva e explorar novas 
experiências práticas alternativas. 
Em primeiro lugar, a pandemia causou um extraordinário 
problema de saúde, uma emergência sanitária. Isso significa refletir 
sobre a necessidade de uma atenção universal à saúde; sobre os 
milhões de dólares em cortes econômicos e trabalhistas sofridos pelo 
sistema público de saúde, tanto em termos de materiais quanto de 
pessoal de saúde; sobre os recursos que dedicamos à saúde pública e 
 
4 
privada; sobre os cortes nos recursos destinados à pesquisa, ciência, 
busca de vacinas; sobre nossa dependência do mundo exterior e nossa 
própria incapacidade de produzir equipamentos de proteção, 
respiradores, máscaras, etc. 
Diretamente ligados a esta primeira área de reflexão, nos 
encontramos com as deficiências do sistema de cuidados 
desumanizados que temos orquestrado como sociedade com nossos 
idosos agora que eles se tornaram o primeiro grupo de risco contra o 
qual o vírus ataca com maior virulência. Um sistema de habitações 
mercantilizadas, extraordinariamente privatizadas, nas mãos de 
fundos de abutres, que permite o estacionamento de idosos porque 
as exigências do estilo de vida que nos é imposto pelo capitalismo nos 
impedem de prestar um atendimento mais direto. 
Estreitamente relacionados a estes aspectos estão os graves 
problemas de saúde mental causados pela falta de afeto, pela solidão 
do confinamento em que vivemos e deixamos nossos mais velhos, 
tendo causado uma alteração radical das regras básicas e ancestrais 
de convivência, de relação com a morte, de celebração de funerais na 
maior desumanização e solidão com que jamais poderíamos sonhar. 
Quem repara toda essa dor? 
Uma segunda questão tem a ver com ética, moralidade, o 
sistema de valores que regula a tomada de decisões sobre qual 
paciente tem mais direito de ser internado em uma UTI, de usar o 
ventilador, o respirador, a quem é proposto ou escolhido para salvar 
sua vida. Estamos diante de um sistema utilitário, impiedoso, típico da 
sociedade neoliberal pragmática e instrumental, em que as decisões 
são tomadas de acordo com a idade, as perspectivas de vida do 
paciente... 
Uma terceira questão é o dilema de escolher entre a saúde e 
segurança dos trabalhadores e da população como um todo (o que 
implica a suspensão de todos os tipos de trabalhoe atividade 
econômica não relacionados ao desempenho de empregos essenciais 
para a manutenção da vida) ou continuar com a atividade econômica 
mesmo em risco para a saúde das pessoas. Estamos diante de um 
 
5 
dilema de posicionamento ideológico claro. Das posições libertárias 
não há dúvida de que a opção é garantir absolutamente a vida e a 
saúde no trabalho diante de qualquer variável econômica, como 
recessão, redução do PIB, etc. Contra o modelo neoliberal e 
capitalista, propomos um modelo humanista, antiutilitário, alheio ao 
egoísmo individual, ao invés da busca imperiosa da felicidade ligada a 
cálculos meramente economicistas, como definidos há anos por 
autores como Alain Caillé, Karl Polanyi ou o desconstrucionista Serge 
Latouche. 
Outra quarta e extraordinária questão está relacionada ao 
desenvolvimento tecnológico, ao controle social dos nossos dados 
digitais, das nossas vidas (aplicações informáticas, geolocalização, 
reconhecimento facial...) e à perda da liberdade e privacidade 
individual e coletiva, com a desculpa de que com isso o Estado e a 
autoridade zelam pela nossa segurança e saúde. A linguagem belicista 
que se impõe na análise da pandemia, a justificativa da presença das 
forças armadas e policiais tanto nas ruas quanto na mídia, refletem 
essa tendência totalitária e autoritária do poder e do Estado, o dono 
absoluto de nossas vidas, no qual a população só tem que obedecer 
(confinamento nas casas e saída apenas para o trabalho e que a 
economia não pára). 
O exemplo da China é paradigmático como aponta o filósofo 
Byung-Chul Han em seu recente artigo The Viral Emergency and the 
World of Tomorrow ao descrever o funcionamento daquela sociedade 
em relação ao uso de grandes dados para controle e vigilância digital 
da população e ao custo de perder liberdade e privacidade. 
Possivelmente, e muito lamentavelmente, a maioria da 
população não vai recusar o controle digital e assim defender sua 
liberdade porque, até agora, sem que ninguém nos peça para fazê-lo 
compulsivamente, essa maioria já vem colocando sua vida à 
disposição das grandes empresas de comunicações e redes sociais em 
um processo de irresponsabilidade e renúncia expressa à nossa 
privacidade e liberdade, ignorando descaradamente o fato de que os 
poderes - que serão sempre vigilantes e usarão todas essas 
informações para garantir sua segurança e não a nossa. O controle já 
 
6 
existe, como denunciaram Julian Assange e WikiLeaks, mas pode ser 
um bom momento para refletir sobre a escalada que vem ocorrendo 
com o controle dos celulares e o acompanhamento dos nossos 
movimentos como ferramenta de combate à pandemia. 
Finalmente, e isto é o que menos se ouve no debate público, 
teremos que nos perguntar, como quinta pergunta, porque surgem 
estes tipos de epidemias (que estão se tornando cada vez mais 
freqüentes) e refletir sobre a ligação entre elas e o modelo produtivo 
e social em que vivemos. Reflitamos sobre a mudança necessária no 
modelo produtivo, econômico e social para evitar que este tipo de 
pandemia continue a se desenvolver nos próximos anos, como muitas 
pesquisas já previram, encontrando ligações diretas entre este 
modelo de exploração do trabalho (com superlotação em cidades 
contaminadas, pessoas medicalizadas imunologicamente vulneráveis, 
esgotamento de recursos...) e a geração deste tipo de doença. Neste 
sentido, Robert G. Wallace, em seu livro de 2016, Big Farms Generate 
Big Flues, o grupo Chuang em sua publicação de março de 2020 
Contato Social. As guerras de classes microbiológicas na China, 
mostram a conexão entre a atual agroindústria capitalista, o modelo 
consumista ocidental e a etiologia das recentes epidemias (SARS, 
Ébola, Gripe Aviária, Covid-19...). 
O que diz a ciência sobre todas essas grandes questões que 
surgiram? 
A pesquisa científica está atualmente engajada numa corrida 
global para encontrar a vacina que libertará a humanidade da temida 
Covid-19. Na verdade, esta é a solução concreta e imediata para um 
problema que é apenas o sintoma de uma grande síndrome chamada 
capitalismo, neoliberalismo, darwinismo social... 
Será encontrada uma vacina que ajudará a acabar com a 
pandemia, nos libertará de seus efeitos mortais e ao mesmo tempo 
enriquecerá os grandes grupos empresariais e farmacêuticos (a vacina 
não será colocada a serviço da população com critérios de equidade 
social, mas a serviço do mercado com preços exorbitantes, 
priorizando critérios econômicos), mas as soluções para as pandemias 
 
7 
que virão no futuro, que são o resultado do atual sistema econômico e 
social, a ciência não está em condições de fornecê-las porque a ciência 
se tornou mais um elo nesse sistema. A ciência deixou de 
desempenhar o papel revolucionário que um dia desempenhou e 
tornou-se mera tecnologia científica, um mero negócio, incapaz de 
libertar a humanidade dos anti-valores que a regulamentam, sem 
pretensões filosóficas ou políticas. A ciência se posicionou, sob seu 
estigma de neutralidade e objetividade fictícia, a serviço do poder, do 
Estado, dos exércitos e das grandes multinacionais, tornando-se uma 
ferramenta útil para perpetuar o sistema. 
O que o anarquismo lhe pede, o que ele traz à ciência nestes 
tempos de coronavírus, é que seja subversivo, integrador do 
conhecimento, holístico, humanista, que se torne independente do 
poder, pois assim se tornará independente de sua própria 
fragmentação intencional em áreas de pesquisa desconectadas, 
departamentalizadas e especializadas, como Élisée Reclus já apontou, 
e de seu próprio paradigma metodológico universal e fixo, adotando 
uma epistemologia adaptável aos contextos. A ciência é condicionada 
por seu rígido método científico e, portanto, está perdendo 
possibilidades de olhar para o que está acontecendo na realidade com 
maior amplitude. Flexibilidade e adaptabilidade são necessárias, 
levando em conta o ser humano de forma mais integral, como 
lembrou Feyerabend, a fim de propor respostas globais ao drama 
existencial da vida. 
Atualmente a pesquisa científica é muito parcial, não 
respondendo às grandes teorias que respondem às preocupações 
globais da humanidade. São também teorias que são apresentadas 
com base na concorrência e na rivalidade, sem compartilhamento ou 
cooperação. 
O vírus não é combatido a partir de uma ciência fragmentada, 
mas propondo modelos teóricos que integram todos os parâmetros 
que afetam a vida e a saúde do planeta, como, por exemplo, modelos 
de prevenção sanitária; modelos urbanos e habitacionais longe da 
superlotação; modelos econômicos decrescentes, anticapitalistas, de 
economia solidária e de autogestão; Modelos de exploração agrícola e 
 
8 
pecuária não-intensiva, sem macrofazendas ou superlotação de 
animais e desmatamento, que respeitem a soberania alimentar; 
modelos que desacelerem as mudanças climáticas, apostando na 
sustentabilidade da vida com um novo modelo energético e de 
energias renováveis; modelos que integrem os processos de 
robotização e novas tecnologias e a distribuição do trabalho e da 
riqueza; modelos sociais de assembléias em que as decisões se 
tornem coletivas. .. Em suma, modelos globais, cientistas não 
clássicos, antipatriarcais, antiracistas, ecologistas, libertários. 
Vamos resgatar a ciência de sua domesticação, das garras do 
capital, para que ela avance e deixe de ser mera tecnologia. Façamos 
com que ela recupere o seu sentido transformador, pois há muitos 
desafios para continuar vivendo. 
Recuperemos o sentido ancestral da ciência na busca da verdade 
e do conhecimento, a partir do relativismo, partindo da premissa de 
que a ciência é a ferramenta menos imperfeita que temos para 
continuar avançando como espécie. É o que vem fazendo há milhares 
de anos, num processo de experimentação, empírico, de observação, 
de tentativa e erro permanente, antidogmático, incansável. 
Nesse sentido, o anarquismo e a ciência podem retornar às 
alianças, compartilhando parâmetros de subversão, espontaneidade,criatividade, arte, cultura, liberdade... para poder dar soluções 
coletivas, imaginativas, inovadoras, longe das exigências dos 
mercados e dos interesses comerciais. O dossiê que se segue mostra 
esta rica relação bidirecional entre anarquismo e ciência, longe das 
abordagens economistas e utilitárias. 
Do mundo do pensamento e da ciência, prevê-se que as saídas para 
esta crise podem oscilar entre o fortalecimento de um capitalismo 
mais totalitário (Byung-Chul Han) ou um comunismo reinventado 
(Slavoj Zizek). 
Que análise pode ser feita a partir de posições libertárias e 
anarquistas? Certamente, respostas de solidariedade e apoio mútuo 
começam a surgir em toda parte diante das concepções de uma 
sociedade totalitária, onisciente, omnipresente, "Big Brother". 
 
9 
Demonstremos com nossas idéias e práticas anarquistas que a saída 
real, aquela que vai melhorar nossas vidas, só acontecerá se for 
libertária, coletiva, auto-organizadora, tecendo redes de apoio mútuo 
e de solidariedade.

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