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ENSINO MÉDIO GRAMÁTICA 9 Capa_Humanas_cad9_gramatica.indd 2 06/12/16 18:14 G R A M ÁT IC A Morfossintaxe I G R A M ÁT IC A G R A M ÁT IC A Morfossintaxe I GRAMÁTICA Fábia Alvim Leite MORFOSSINTAXE I 1 Substantivo / Artigo / Adjetivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 As classes gramaticais e suas funções . . . . . . . . . . . . . .4 Morfossintaxe do substantivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6 Substantivo e semântica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 O substantivo na construção do texto . . . . . . . . . . . . . . .7 Morfossintaxe do artigo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 A referenciação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 A remissão textual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 Morfossintaxe do adjetivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 Adjetivo e semântica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 O adjetivo na construção do texto . . . . . . . . . . . . . . . . .14 2 Interpretação de Texto I. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 Texto e linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26 Para uma interpretação de texto eficiente . . . . . . . . . . .27 Texto verbal e não verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 A imagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30 O símbolo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 Textos em diálogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32 Revisão Obrigatória | 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Revisão Obrigatória | 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 2137858 (PR) MÓDULO Morfossintaxe I LA SS ED ES IG N EN / S H U TT ER ST O CK REFLETINDO SOBRE A IMAGEM Nossa interpretação do mundo depende de muitos fatores, sejam eles físicos, como, por exemplo, a necessidade dos óculos para en- xergar com nitidez, ou cognitivos, que dizem respeito ao nosso processo mental de percep- ção e raciocínio. E nesse processo mental está também o reconhecimento da linguagem, para o qual precisamos conhecer os elementos da materialidade linguística que a compõem e que, quando relacionados entre si, produzem sentido. Por isso, precisamos da morfossinta- xe: é através da análise morfológica (do nível da palavra) e sintática (do nível da frase) que compreendemos os elementos que compõem a variedade brasileira do português. Nesta uni- dade, você estudará o substantivo, o artigo e o adjetivo, e suas funcionalidades no texto. www.sesieducacao.com.br Objetivos: c Identificar os substan- tivos, os artigos e os adjetivos como instru- mentos linguísticos – classes de palavras – usados para objetivar a existência e a carac- terização das coisas no mundo. c Analisar as funções de substantivos, artigos e adjetivos em estru- turas ampliadas como a frase, a oração e o período, ou seja, à luz da morfossintaxe. c Reconhecer as varia- das funções sintáticas assumidas pelos subs- tantivos quando estes são núcleos, essências da significação nos períodos, para com- preender os sentidos de seu emprego nos textos. c Empregar os artigos definidos e indefinidos adequadamente, de acordo com a refe- renciação, a remissão textual e a interlocução desejada. c Identificar as funciona- lidades dos adjetivos na oração e aplicá-los adequadamente para promover os sentidos desejados na constru- ção textual. 4 Morfossintaxe I CAPÍTULO Para expressarmos de maneira completa, clara e (por que não?) surpreendente as características do que compõe uma imagem e tudo o que ela nos leva a perceber e sentir, precisamos de várias classes de palavras, como os substantivos e os adjetivos. Quando ainda não sabemos nomear tudo o que está inserido no mundo a nossa volta, mostra- mos (ou apontamos para) aquilo a que gostaríamos de nos referir. E essa impossibilidade se deve ao fato de desconhecermos muitos substantivos (“água”, “cachorro”, por exemplo) que fazem parte desse mundo que objetivamos apresentar e que surgem, tantas vezes, acompanhados pelos artigos: “a água”, “o cachorro”. Mais tarde, vendo ampliado o nosso vocabulário, então refi namos o modo de nos referir a tudo, porque já somos capazes de qualifi car ou caracterizar cada um daqueles substantivos que passamos a conhecer, e o fazemos por meio de adjetivos: “água fresca”, “cachorro peludo”. Surpreende a forma como a aquisição da linguagem acompanha uma crescente capacida- de de nos conectarmos ao mundo. E isso é só mais uma prova do quanto a nossa língua é versátil! Observe a tirinha para, em seguida, responder ao que se propõe. a) A palavra “vida”, que aparece no primeiro e no segundo quadrinhos, é usada, na tirinha, para nomear ou qualifi car? b) A mesma palavra, “vida”, tem sentidos diferentes para Messias e para seu pai. Quais são esses sentidos, com base nos quais se constrói o humor da tirinha? AS CLASSES GRAMATICAIS E SUAS FUNÇÕES Já tratamos do estudo da morfologia (em especial, das classes de palavras) e da sintaxe (perío- dos simples e compostos, concordância e regência). A partir de agora, estudaremos as classes de palavras sob um novo enfoque, analisando as funções que cada uma delas pode ter em estruturas A palavra é usada para nomear. Para o pai de Messias, “vida” tem um sentido mais amplo, referindo-se à vivência humana, desde o nascimento até a morte. Para Messias, “vida” tem um signifi cado ligado aos jogos de videogame, apenas. 1 Substantivo / Artigo / Adjetivo LA ER TE Professor, nesta atividade pode-se trabalhar a habilidade 1 da matriz de referência do Enem, em que temos como “identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracteri- zação dos sistemas de comunicação”, pois existem na comunicação diferentes interpretações dadas à mesma palavra. 5 G R A M ÁT IC A Morfossintaxe I que se ampliam — na frase, na oração, no período. Esse enfoque recebe o nome de morfossinta- xe, assunto explorado, em maior ou menor grau, nos vestibulares. É importante observarmos que, ao desenvolvermos estudos de morfossintaxe, conheceremos as possibilidades de uso das classes gramaticais na composição dos textos. Desse modo, compreen- der todas as questões que envolvem a semântica e a estilística é apropriar-se da possibilidade de construir ideias mais claras, amplas e completas. Leia, para começar, o quadro a seguir, que é uma síntese dessa apresentação morfossintática. Classes Flexões Características Funções sintáticas V A R I Á V E I S Substantivo Gênero Número Grau Nomeia o que é nomeável. Pode ser simples ou composto, primitivo ou derivado, comum ou próprio, concreto ou abstrato, coletivo. Núcleo do sujeito, do predicativo, do objeto, do complemento nominal, do adjunto adnominal, do agente da passiva, do adjunto adverbial, do aposto e do vocativo. Artigo Gênero Número Antecede mediata ou imediatamente o substantivo. Pode ser defi nido ou indefi nido. É quase exclusivamente adjunto adnominal. Adjetivo Gênero Número Grau Modifi ca o substantivo ou qualquer palavra no lugar do substantivo, com a função de caracterizá-lo. Pode ser simples ou composto, primitivo ou derivado, pátrio. Adjunto adnominal, predicativo do sujeito e predicativo do objeto. Numeral Gênero Número Quantifi ca o substantivo ou qualquer palavra no lugar do substantivo. Pode ser cardinal, ordinal, fracionário ou multiplicativo. Desempenha funções substantivas e adjetivas. Pronome Gênero Número Pessoa Caso Acompanha o substantivo (pronome adjetivo) ou o substitui (pronome substantivo). Pode ser pessoal (reto, oblíquo ou de tratamento), possessivo, demonstrativo, relativo, indefi nido e interrogativo. Desempenha funções substantivas e adjetivas. Verbo Modo Tempo Número Pessoa Voz Gênero (particípio) Expressa processos (ações, fenômenos, ocorrências, desejos etc.) e estados. Flexiona-se nos modos indicativo, subjuntivoe imperativo. Apresenta três formas nominais: infi nitivo, gerúndio e particípio. Intransitivo, transitivo direto, transitivo indireto, transitivo direto e indireto, de ligação, núcleo do predicado verbal. I N V A R I Á V E I S Advérbio Invariável Modifi ca o verbo, o adjetivo, o próprio advérbio e enunciados inteiros, atribuindo-lhes circunstâncias (de modo, lugar, intensidade, tempo etc.). Quase sempre é adjunto adverbial. Preposição Invariável Comumente une termos da mesma oração ou orações subordinadas à principal. Sem função sintática. Conjunção Invariável Comumente une orações — coordenadas e subordinadas — ou termos da mesma oração. Sem função sintática. Interjeição Invariável Expressa desejos, sentimentos, emoções: ah!, oh!, ei!, credo!, céus!, hein!? etc. Sem função sintática. 6 Morfossintaxe I MORFOSSINTAXE DO SUBSTANTIVO O substantivo pode ter várias funções sintáticas, sendo o núcleo de todas elas a essência de sua significação. Observe os exemplos que seguem, tomando por base o nome “Tiago”. Tiago ganhou o concurso de literatura. (sujeito) O novo morador da república era Tiago. (predicativo do sujeito) Passaram a chamá-lo simplesmente de Tiago. (predicativo do objeto) Os rapazes da escola não viram Tiago na sala de aula. (objeto direto) A mãe precisava de Tiago naquele momento. (objeto indireto) A mãe de Tiago procurou-o por toda parte. (adjunto adnominal) Na festa, a aniversariante fez alusão a Tiago. (complemento nominal) Os desenhos foram feitos por Tiago. (agente da passiva) Ela chegou à festa com Tiago. (adjunto adverbial) O novo aluno, Tiago, perdeu metade das provas. (aposto) Meu Deus, Tiago, tire essas roupas do caminho! (vocativo) “Tiago”, na morfologia, é um substantivo próprio, simples, concreto e primitivo; na sintaxe, pode ter todas as funções mencionadas. Isso comprova que uma palavra pode pertencer a uma única classe gramatical, mas, por estabelecer as mais diversas relações numa oração, pode ter funções sintáticas diferentes. Observe o título e o subtítulo deste anúncio. Repare como os substantivos sempre ocupam a posição de núcleos, constituindo-se como essência das ideias. Além do nome do produto, que aparece em destaque no texto do anúncio, outros dois subs- tantivos cooperam para a compreensão de que se trata de um produto gostoso e prático: “sabor” e “lugar”. Esses substantivos, com o adjetivo “inconfundível” e o pronome “qualquer”, mostram ao leitor que se trata de um alimento que pode ser ingerido onde se deseja e que, principalmente, não decepciona no sabor. RE PR O D U ÇÃ O 7 G R A M ÁT IC A Morfossintaxe I SUBSTANTIVO E SEMÂNTICA Da mesma forma que qualquer palavra pode ser substantivada, o substantivo pode, por vezes, pertencer a outra classe gramatical, dependendo do contexto e de sua posição na frase. Leia com atenção este fragmento de “Ode ao burguês”, de Mário de Andrade. Eu insulto o burguês! O burguês-níquel, o burguês-burguês! A digestão benfeita de São Paulo! O homem-curva! o homem-nádegas! O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco a pouco! Eu insulto as aristocracias cautelosas! Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros! que vivem dentro de muros sem pulos, e gemem sangues de alguns mil-réis fracos para dizerem que as fi lhas da senhora falam o francês e tocam o “Printemps” com as unhas! […] Nos termos destacados na primeira estrofe, o segundo elemento, normalmente substantivo, caracteriza o primeiro, funcionando, portanto, como adjetivo. Essa construção atribui ao texto uma conotação especial, principalmente se considerados o contexto e o momento artístico da época. O SUBSTANTIVO NA CONSTRUÇÃO DO TEXTO Leia a letra da composição de Arnaldo Antunes. Cultura O girino é o peixinho do sapo O silêncio é o começo do papo O bigode é a antena do gato O cavalo é pasto do carrapato O cabrito é o cordeiro da cabra O pescoço é a barriga da cobra O leitão é um porquinho mais novo A galinha é um pouquinho do ovo O desejo é o começo do corpo Engordar é a tarefa do porco A cegonha é a girafa do ganso O cachorro é um lobo mais manso O escuro é a metade da zebra As raízes são as veias da seiva O camelo é um cavalo sem sede Tartaruga por dentro é parede O potrinho é o bezerro da égua A batalha é o começo da trégua Papagaio é um dragão miniatura Bactérias num meio é cultura Nesse texto, percebe-se que o autor emprega, no início de cada verso, um substantivo (na maioria dos versos, antecedido de artigo). Também, em cada verso, o autor apresenta um conceito criativo e diferente para os substantivos escolhidos. O uso de substantivos empresta, por vezes, às ideias, um estilo econômico, conciso, como é o caso de Graciliano Ramos em sua obra Vida secas. Leia um fragmento. Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o gado, arrependeu-se, enfi m deixou a transação meio apalavrada e foi consultar a mulher. Sinha Vitória mandou os meninos para o barreiro, sentou-se na cozinha, concentrou-se, distribuiu no chão sementes de várias espé- cies, realizou somas e diminuições. No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio notou que as operações de Sinha Vitória, como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual: a diferença era proveniente de juros. 8 Morfossintaxe I Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entre- gando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria! O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar ser- viço noutra fazenda. Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra à toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor, mas sabia respeitar os homens. Devia ser ignorância da mulher, provavelmente devia ser igno- rância da mulher. Até estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia ler (um bruto, sim senhor), acreditara na sua velha. Mas pedia desculpa e jurava não cair noutra. O amo abran- dou, e Fabiano saiu de costas, o chapéu varrendo o tijolo. Na porta, virando-se, enganchou as rosetas das esporas, afastou-se tropeçando, os sapatões de couro cru batendo no chão como cascos. [...] Note como o substantivo, muitas vezes, ajuda a caracterizar as personagens: “mas a mulher tinha miolo” (tinha esperteza, inteligência). Textos figurativos e temáticos Os substantivos concretos e abstratos têm especial importância na construção dos textos, a ponto de se classificarem os textos em figurativos ou temáticos, dependendo de qual substantivo predominar. Leia esta fábula de La Fontaine. Uma ratinha ingênua e inexperiente, ao sair da sua toca, teve a infelicidade de cair nas garras de um velho gato sabido. Mas, julgando que podia enternecê-lo, com sua vozinha flébil e mimosa, implora clemência. — Deixa-me viver; será acaso pesada a carga para esta despensa uma ratinha tão insignifi- cante como eu, que tão pouco se alimenta? Vê, um simples grão de trigo é bastante para meu estômago e uma pequenina noz já me engorda; achas que com isso matarei de fome o dono, a dona e demais gente dessa casa? Não creio! Deixa-me viver mais algum tempo, agora estou muito magra ainda, mas, quando crescer e ficar mais gordinha, terás em mim um delicioso petisco para teus senhores filhos; reserva pois esta regalia! Esta e outras coisas dizia a pobre ratinha, pensando comover o velho gatão; mas este respondeu: — Não há dúvida que te enganaste. Justamente a mim é que se dizem tais coisas? É o mesmo que falar a um surdo! Gato e velho, perdoar alguém! Isto jamais aconteceu. De acordo com a lei em vigor nestemundo, vais morrer e passar para meu bucho; vai discursar lá dentro, que não te faltará ensejo. Quanto aos meus filhos, não terão dificuldade em encontrar outros manjares por aí, não lhes falta estofo. Assim dizendo, abocanhou a ingênua, tragando-a de uma só vez. Eis o sentido moral conveniente a esta fábula: “A mocidade ilude-se que pode conseguir tudo, pois não se dá conta de que a velhice é implacável”. Se tivéssemos de levar a uma criança esse ensinamento, com certeza escolheríamos o texto, e não a moral, porque as figuras presentes nele representam melhor ações e comportamentos que ela apreende de forma inconsciente. O texto é chamado figurativo por conter substantivos concre- tos, que remetem a algo presente no mundo natural e produzem um efeito de realidade: ratinha, gato, toca, grão de trigo, estômago etc. A moral constitui-se de palavras abstratas, ou seja, de ideias que interpretam e concei- 9 G R A M ÁT IC A Morfossintaxe I tuam a realidade, como forma de explicar o texto e o contexto. Palavras como “mocidade” e “velhice” trazem com elas uma gama de signifi cados, e é necessário um nível de abstração (entenda-se reelaboração do pensamento e da linguagem), o que vem explicar por que provér- bios e ditos populares têm suas “mensagens” captadas com mais rapidez do que conceitos e teses. ATIVIDADES de expressão não intuitivas ou menos espontâneas e mais sutis, mantendo um constante diálogo com a história. A linguística contribui, assim, para uma compreensão do fenômeno linguístico como parte indissociável da cultura. CAMARGO, Th aís Nicoleti de. Folha de S.Paulo, 22 ago. 2002. 1 (UFPE) Assinale a alternativa em que as palavras destacadas são semanticamente equivalentes. a) “a faz sair de relativa obscuridade” (§ 1) — sair de relativa dormência b) “a defesa intransigente da norma culta” (§ 4) — a defesa descabida da norma culta c) “se apoia em certos cânones” (§ 5) — em certas regras d) “afi ança-se na tradição” (§ 5) — desenvolve-se na tradição e) “parte indissociável da cultura” (§ 6) — imprescindível da cultura 2 (UFPE) Conforme o texto, “a linguística elabora uma gramática descritiva em lugar de uma gramática prescritiva”. Essa ideia é apresentada, com outras palavras, em uma das alternativas se- guintes. Assinale-a. a) A linguística objetiva investigar os fenômenos linguísticos e descobrir o seu funcionamento, não se preocupando com as noções de “certo” e de “errado”. b) A linguística é uma ciência e, como tal, objetiva orientar a elaboração das gramáticas prescritivas, para que os falantes dominem as normas que regem sua língua. c) A preocupação precípua da linguística é a de manter a tradição da língua, para preservação dos modelos fornecidos pelas formas clássicas da literatura. d) É interesse da linguística defender os padrões da norma culta e elaborar as regras que defi nem a ma nutenção dos estratos sociais mais aceitos e bem-sucedidos. e) A linguística investiga os conteúdos oriundos da história e da cultura, com o objetivo de estabelecer as normas que regulam o melhor uso da língua. 3 +Enem [H21] Leia, a seguir, o início de um artigo escrito por Evanildo Bechara, membro da Academia Brasileira de Letras, em que ele emite sua opinião sobre a adoção, no Brasil, do acordo ortográfi co de 1990. ABL reage às críticas ao acordo Para imortal da Academia, adiamento da obrigatoriedade Nas alternativas a, b, d e e há signifi cativa alteração de sentido. Alternativa c. As questões 1 e 2 têm como referência o texto a seguir. Língua é objeto de investigação científi ca A cada dia os estudantes têm demonstrado mais curio- sidade pelo campo de estudo da linguística. O interesse vem revelar tanto o desconhecimento dessa área do saber como o seu crescente prestígio, que já a faz sair de relativa obscuridade. A linguística lança sobre o idioma, seu objeto de estudo, o olhar da ciência, com seu método investigativo de ob- servação dos fenômenos e total ausência de preconceito, condições preliminares para a busca do conhecimento. Essa isenção, aliada à disposição de descobrir o real funcionamento das línguas e os fatores intralinguísticos e extralinguísticos que o regem, faz que a linguística não trabalhe com os conceitos de “certo” e “errado”. Elabora uma gramática descritiva em lugar de uma gramática prescritiva. Por ser uma ciência, a linguística não é sensível às preo- cupações com o suposto risco de “decadência“ do idioma, visto que, por sua natureza, a língua só assimila as trans- formações que lhe são úteis e necessárias. Assim, a defesa intransigente da norma culta — o padrão dos estratos mais bem-sucedidos na sociedade — entendida como o único modelo de correção, pode levar ao reforço de certos pre- conceitos associados a usos linguísticos próprios de cama- das economicamente desfavorecidas. A linguagem espontânea é igualmente alvo do interesse da linguística, pois ela representa a língua viva, em ação. Já a norma tida como culta é preservada graças a uma atitude disciplinadora que se apoia em certos cânones. Afi ança-se na tradição, explicação última para a escolha de uma forma em detrimento de outra. Mas a própria literatura — forne- cedora dos modelos de realização linguística — incorporou defi nitivamente elementos da linguagem oral. Diante disso, o estudo das possibilidades oferecidas pela norma culta conserva sua importância em virtu- de de a expressão, sobretudo, de conteúdos complexos e racionais, servir-se das estruturas que a história e a cul- tura nos põem à disposição. Não se trata de abandonar o passado — como se fosse possível renegar a história — tampouco de substituir uma construção por outra como mera afi rmação de um saber como valor em si. Trata-se antes de acrescentar à capacidade linguística alternativas 2. Elaborar uma gramática “descritiva” no lugar de “prescritiva” signifi ca dizer que não há separação entre o que está certo e o que está errado, mas que, pelo contrário, se pretende simplesmente observar como a língua se comporta em seu uso, independentemente de regras preestabelecidas. Alternativa a. 10 Morfossintaxe I da reforma ortográfi ca é “lamentável” e protestos, “inconsis- tentes” Volta e meia aparecem críticas [...] ao acordo ortográfi co de 1990. Agora que um inócuo e lamentável decreto [...] pror- roga até o fi m de 2015 o prazo da transição de suas bases no Brasil, acreditamos que aproveitem esses críticos o in- tervalo para, estudando-as melhor, não lancem tantas injú- rias desconexas a um texto preso a uma tradição mais que centenária. [...] Disponível em: http://revistalingua.uol.com.br (acesso em 01 dez. 2016) Sobre o texto e sua organização, pode-se afi rmar corretamente que: a) o adjetivo “imortal”, empregado no subtítulo, indica que, espiritualmente, por motivos religiosos, considera-se que alguns membros da Academia Brasileira de Letras não são susceptíveis a doenças ou à morte. b) no subtítulo do artigo não aparecem artigos, o que é uma regra rígida à qual não se pode fugir, já que o uso dessa classe de palavras, ainda que raramente, leva à impossibilidade de compreensão desses subtítulos. c) os adjetivos “lamentável” e “inócuo”, empregados pelo autor para caracterizar o decreto de que trata o texto, mostram o apoio de Evanildo Bechara em relação a essa decisão. d) o substantivo “injúrias”, empregado pelo autor do texto para se referir às ideias disseminadas por alguns críticos a respeito das bases do acordo, deixa claro que Evanildo Bechara não considera tais ideias confi áveis. e) as palavras “tradição” e “centenária” anulam-se semantica- mente, já que o substantivo tem uma acepção positiva e o adjetivo que o segue uma acepção totalmente negativa. Leia o texto a seguir para responder às questões que seguem. Consoada Quando a Indesejada das gentes chegar (Não sei se dura ou caroável), Talvez eu tenha medo. Talvez sorria, ou diga: — Alô, Ineludível! O meu dia foi bom, pode a noite descer. (A noite com seus sortilégios.)Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, A mesa posta, Com cada coisa em seu lugar. Manuel Bandeira 4 (Iesville-SC, adaptada) Em “Consoada”, a expressão “Indesejada das gentes” e o termo “Ineludível” referem-se a que fenômeno? a) Ao nascimento. Ao longo de todo o poema, Bandeira refere-se à morte, tanto por meio de expressões metafóricas quanto por meio de adjetivos, como “dura” e “caroável”. Alternativa c. b) À velhice. c) À morte. d) À loucura. e) À adolescência. 5 (Iesville-SC, adaptada) Talvez o sentido de “caroável” não seja muito diretamente perceptível, por se tratar de um adjetivo não muito comum. Pelo contexto, porém, seria possível determinar seu sentido? Qual seria ele? PARA PRATICARCOMPLEMENTARES 6 (UFAL) Considere o poema seguinte, para responder à questão. Erro de português Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português. Identifi que a função sintática da palavra “índio”, em cada uma das ocorrências no texto. 7 (UFBA, adaptada) Universidade sem luz A metáfora não poderia ser mais perfeita: por falta de verbas, a universidade fi cou sem luz. [...] Por atrasos nos pagamen- tos, a Light cortou o fornecimento de energia elétrica para diversos prédios da UFRJ, incluindo centros hospitalares. A associação mais clara entre universidade e luz remonta ao iluminismo (ou fi losofi a das luzes), o movimento que surgiu na França do século XVIII e que se caracterizava pela confi ança no progresso e na razão, pelo desafi o à tra- dição e à autoridade e pelo incentivo à liberdade de pen- samento. [...] Essa matriz de pensamento lançou as bases do racionalis- mo ocidental contemporâneo, e alguns de seus princípios constituem o núcleo dos direitos políticos das democracias. Uma universidade sem luz simboliza, portanto, a negação de tudo o que uma universidade deve ser. Folha de S.Paulo. São Paulo, 7 ago. 2002. Opinião, p. A2. Editorial. Identifique os sentidos da palavra “luz”, destacada no tex- to mais de uma vez, considerando-a em seu contexto. 8 (Fatec-SP) “Sonham com bife a cavalo, batata frita. E a sobremesa é goiabada-cascão com muito queijo.” Os substantivos “sobre- mesa” e “goiabada-cascão”, respectivamente, têm a função de É possível determinar seu sentido por meio da palavra “ou”, que, embora tenha um sentido de alternância, induz à ideia de contrariedade, de oposição. Com isso, o leitor é levado a pensar no adjetivo “caroável” como algo oposto a “dura”. Logo, o sentido seria o de algo amável, doce. 3. O adjetivo “imortal”, empregado comumente para se referir aos membros da ABL, não tem relação direta com questões espirituais nem indica que eles não fi quem doentes, o que invalida a; o problema em b é que aparecem, sim, artigos no subtítulo (embora, de fato, esse uso seja feito com muita parcimônia), ainda que estejam unidos a preposições; c está errada porque Bechara, ao contrário de apoiar tais ideias, escolheu os adjetivos citados para mostrar que não concorda com elas; a afi rmativa contida em e é equivocada porque substantivo e adjetivo, neste caso, somam-se em seus sentidos. Alternativa d. 11 G R A M ÁT IC A Morfossintaxe I Tarefa proposta 1-13 MORFOSSINTAXE DO ARTIGO O artigo é a classe gramatical que acompanha somente o substantivo, especifi cando-o ou ge- neralizando-o, precedendo-o imediatamente ou por um intermediário. Qualquer palavra associa- da a um artigo é substantivo. Sua única função sintática é a de adjunto adnominal, a não ser que apareça transformado em um substantivo. Os artigos defi nidos e indefi nidos aparecem em sua forma simples, contraídos ou combinados com preposição. Veja a seguir. Preposições Artigos defi nidos o a os as a ao à aos às de do da dos das em no na nos nas por (per) pelo pela pelos pelas Preposições Artigos indefi nidos um uma uns umas de dum duma duns dumas em num numa nuns numas Repare que, em alguns casos, os artigos se unem às preposições sem que haja modifi cações fo- néticas, ou seja, sem perda de sons (a + o = ao, a + os = aos). A esse tipo de junção damos o nome de combinação. Em outros casos, porém, o que ocorre é uma contração, com o desaparecimento de sons, porque os artigos se unem às preposições ajustando-se o som da palavra formada (de + o = do, em + a = na). a + o = ao a + os = aos combinação de + o = do em + a = na contração Conforme prescrição gramatical, quando o artigo preceder o substantivo com função de sujeito, não poderá estar contraído com preposição. Exemplos: Gostaria de ir embora antes do diretor chegar. (incorreto) Gostaria de ir embora antes de o diretor chegar. (correto) É hora dele partir. (incorreto) É hora de ele partir. (correto) O uso do artigo é sempre obrigatório após “ambos” e “ambas”, seguidos de nomes. Exemplos: Ambas escolas eram excelentes e foi dif ícil escolher uma delas. (incorreto) Ambas as escolas eram excelentes e foi dif ícil escolher uma delas. (correto) Não se deve usar artigo depois de “cujo” e suas variações. Exemplo: Era aquele o homem cujas as fi lhas estavam voltando no próximo voo. (incorreto) Era aquele o homem cujas fi lhas estavam voltando no próximo voo. (correto) 1 núcleo: a) do predicativo e do sujeito. b) do objeto direto e do sujeito. c) do sujeito e do objeto indireto. d) do vocativo e do predicativo. e) do sujeito e do predicativo do sujeito. CURIOSIDADE 1 Particularidades sobre os artigos. Existe diferença entre o emprego de “todo” e “todo o”, “toda” e “toda a”. Essa diferença reside exatamente no emprego e na omissão do artigo. Atribui-se a “todo”, “toda”, o sentido de qualquer, cada um(a), e a ”todo o”, “toda a”, o sentido de inteiro(a). Observe estes exemplos: Meu avô costumava ler todo livro que lhe caía nas mãos. (= Meu avô costu- mava ler qualquer/cada livro que lhe caía nas mãos.) Ele leu todo o livro com rapidez. (Ele leu o livro inteiro com rapidez.) O pronome indefi nido plural “todos” será empregado sem artigo quando um numeral substantivo for o seu subsequente. Observe: Todos seis pertencem à mesma fa- mília. Se o numeral vier seguido de substan- tivo, o artigo é obrigatório. Observe: Todas as seis pessoas pertencem à mesma família. 12 Morfossintaxe I A REFERENCIAÇÃO A operação de referenciação na língua portuguesa realiza-se tanto por meio de substantivos (que referenciam ao nomearem) quanto por signos de valor pronominal (em função substantiva ou adjetiva). Observe os enunciados a seguir. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Naquele quarto, Bruna, en�m, o descobriu: Márcio estava sob a minha cama. — Ou você sai já desse lugar, ou eu vou te pegar!, ameaçou ela. Note que os termos destacados estão inter-relacionados e se referem a outros termos do texto. À exceção dos substantivos “Bruna” e “Márcio”, os demais termos numerados denominam-se fóricos (palavra de origem grega com os sentidos de “levar”, “trazer”). As palavras fóricas remetem sempre a algum elemento (anterior ou posterior a ele) e constituem uma teia de referenciação em que se fundamentam a remissão textual e a interlocução. Veja que “naquele” (1) se refere a “quarto”. “Eu” (9) e “ela” (11) se referem a “Bruna” (2). “Már- cio” (4), “você” (7) e “te” (10), por sua vez, ligam-se a “o” (3), assim como “o” (3), “você” (7) e “te” (10) se relacionam com “Márcio” (4). Outras palavras, no exemplo dado, também têm essa função de fóricos, como “a” (5) e “minha” (6), que se referem a “cama”. Em todos os textos há elementos que se ligam a outros. Esse mecanismo é imprescindível para a clareza e compreensão de um texto. A REMISSÃO TEXTUAL Na remissão textual, empregam-se palavras fóricas que fazem referência aos elementos envol- vidos numa situação de que se fala no texto. Para isso, há um sistema referencial fundado numa bipolarização que inclui o referenciador textual (o termo que faz referência a outro) e o refe- rente textual (o termo ao qual o outro se refere). Têm o papel de referenciadores textuais: os artigos defi nidos; os pronomes pessoais de terceira pessoa; os pronomes possessivos; os pronomes demonstrativos. 1 Observe atentamente, no texto a seguir, a presença dos artigos defi nidos, referenciadores, que estão destacados. Também com o Renascimento surge pela primeira vez a ideia de gênio, que trouxe consi- go uma outra, a de propriedade intelectual. Na Idade Média, faltando essa ideia, não havia a preocupação de ser original. Sendo a arte concebida como manifestação da ideia de Deus, o artista era apenas um instrumento pelo qual se fazia visível a ordem eterna […]. Enquanto na Idade Média a obra tinha apenas o valor de objeto, sem a valorização da au- toria, no Renascimento, ela passa a ser considerada também pela personalidade que, através dela, fala […]. No Renascimento […] o público passa a julgar a arte não somente do ponto de vista da vida e da religião, mas também a partir do ponto de vista da própria arte [seus aspectos for- mais: construção, estilo etc.]. Lígia Cademartori Os termos destacados no texto citado são endofóricos; além disso, tais referenciadores são todos da terceira pessoa e não se relacionam a interlocutor algum, isto é, seus referentes não são nem o emissor nem o receptor da mensagem. OBSERVAÇÃO 1 Se o referente figura no segmento de texto anteriormente ao referen- ciador, realiza-se uma referenciação anafórica, ou, simplesmente, uma anáfora. Por exemplo: “Estou des- confi ada de você”, foi isso que ela me disse. Um termo como “isso” é anafó- rico, pois recupera semanticamente um referente já mencionado (“Estou desconfi ada de você”) e acumula todas as afi rmações relacionadas a ele. De outro modo, quando o referente é posterior ao referenciador, opera- -se uma referenciação catafórica, ou, apenas, uma catáfora. Por exemplo: Então, ela me disse isto: “Estou des- confi ada de você”. Diferentemente, o termo “isto” é catafórico, ao sinalizar a presença de um referente que ainda não foi citado. A referenciação num diálogo, ou interlocução, acarreta o emprego de palavras fóricas que aludem aos agentes do discurso, os interlocutores, ou seja, o emissor (ou o falante) e o receptor (ou o ouvinte). Na interlo- cução, um falante (primeira pessoa) introduz os locutores, os participantes de um ato de fala (ou elocução). Em outras palavras, o falante introduz seu interlocutor (segunda pessoa) e a si mesmo, por meio de: pronomes pessoais de primeira pessoa (falante); pronomes pessoais de segunda pessoa (ouvinte). Tais pronomes, na interlocução, são palavras exofóricas porque remetem a referentes exteriores ao texto e envolvidos na situação de discurso. Quando um termo se refere a ele- mentos implicados dentro do texto, é chamado de endofórico. 13 G R A M ÁT IC A Morfossintaxe I Os referenciadores catafóricos Os artigos defi nidos (o, a, os, as) são referenciadores sempre catafóricos e podem ser empregados na sua forma simples ou contraídos (ou combinados) com preposição. Veja este anúncio: Na chamada do anúncio, há quantificadores (“Mais de 15.000 itens”, “um exemplo”) e referenciadores endofóricos (“Este”, que remete ao enunciado anterior, “o” em “do respeito”, e “a” em “a Renault”). Com humor, o referenciador exofórico “você” é substituído respeitosamente por “Vossa Senhoria”. MORFOSSINTAXE DO ADJETIVO Adjetivo é toda palavra que, ao se associar a um substantivo, indica qualidade, defeito, estado ou condição. Exerce as funções sintáticas de adjunto adnominal, predicativo do sujeito e pre- dicativo do objeto. Veja estes exemplos: Uma noite morna chegou de repente. (adjunto adnominal de “noite”) Naquela manhã, ele estava bastante abatido. (predicativo do sujeito “ele”) Achei Geraldo meio triste ontem. (predicativo do objeto direto “Geraldo”) Chamaram a Juarez de panaca. (predicativo do objeto indireto “Juarez”) ADJETIVO E SEMÂNTICA Alguns adjetivos, em virtude de sua posição em relação ao substantivo, mudam de signifi ca- do. Observe: AP L/ RE N AU LT B RA SI L 14 Morfossintaxe I A pobre criança agarrou-se ainda mais à mãe. (infeliz) A criança pobre agarrou-se ainda mais à mãe. (sem recursos) Você não pode responder a uma simples pergunta? (mera) Você não pode responder a uma pergunta simples? (fácil) Embora os adjetivos em destaque tenham significados diferentes, têm a mesma função sintá- tica: todos são adjuntos adnominais. Quando associado ao artigo definido, no grau superlativo relativo — especialmente de supe- rioridade —, o adjetivo adquire sentido especial, como no exemplo a seguir. Nesta peça publicitária, texto e imagem constroem a alusão ao mito de Narciso. A expressão “o mais belo” não deixa dúvidas quanto ao sentido que se quer produzir. Adjetivo com valor de advérbio Um adjetivo pode vir modificado por um advérbio, como neste exemplo: “Os garotos mostra- vam-se pouco confiantes na palavra do líder”. Nessa frase, o advérbio “pouco” modifica (intensi- fica) o adjetivo “confiantes”. Pode ocorrer, porém, de o adjetivo, ou melhor, de sua forma adjetiva, aparecer com valor de advérbio, ou seja, ser um adjetivo adverbializado. Observe: Apesar de pequena, a garota escreve correto. (= corretamente) Não sei como você consegue comer tão rápido. (= rapidamente) Em ambos os casos, os termos destacados não qualificam um substantivo, mas indicam o modo como se escreve e como se come, portanto estão ligados ao verbo, modificando-o. O ADJETIVO NA CONSTRUÇÃO DO TEXTO Leia os três textos a seguir, prestando atenção nos adjetivos empregados. Texto I Hostal Martín Calle Atocha 43, 1o izq, 28012 (91 429 95 79/www.hostalmartin.com). Metrô Antón Martín. Preço € 39 solteiro; € 48 duplo; € 60 triplo. M CC AN N /G M D O B RA SI L 15 G R A M ÁT IC A Morfossintaxe I Cc AmEx, DC, MC, V. Mapa pág. 328 H13. Este simpático e aconchegante hostal de apenas um andar tem agradável ar familiar. To- dos os 26 apartamentos têm ar condicionado, pé-direito alto, banheiro e uma ótima ducha. O casal de proprietários fala vários idiomas e pode fazer reservas em outros hotéis caso você esteja indo para outras regiões do país. O café da manhã farto inclui frutas frescas e café de excelente qualidade. TV (satélite). O Estado de S. Paulo, 2008, p. 64. Guia Time Out. Coleção Guias Estadão. Texto II Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, quando levantou a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido em segmen- tos arqueados, sobre o qual a coberta, prestes a deslizar de vez, apenas se mantinha com difi - culdade. Suas muitas pernas, lamentavelmente fi nas em comparação com o volume do resto de seu corpo, vibravam desamparadas ante seus olhos. KAFKA, Franz. A metamorfose. Tradução de Marcelo Backes. Porto Alegre: L&PM, 2001. Texto III Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros amei- gavam o canto. José de Alencar. Iracema. Repare como os adjetivos ajudam na construção dos textos. No texto I, eles têm o objetivo de qualifi car o albergue Martín como um lugar agradável para se hospedar. O hostal é elogiado por meio dos adjetivos “simpático” e “aconchegante”,com um ar “agradável” e “familiar”. A ducha, segundo o autor, é “ótima”. No café da manhã, que é “farto”, as frutas são “frescas” e o café tem uma qualidade “excelente”. Ou seja, segundo o autor da descrição, vale a pena hospedar-se no Hostal Martín. O que ocorre com o texto de Franz Kafka, no entanto, é o extremo oposto. Nada é qualifi- cado positivamente, mas, sim, de modo a causar certo asco no leitor, que, com isso, se sente compadecido em relação à situação do pobre Gregor Samsa, que, de repente, pela manhã, acorda transformado em um “monstruoso” inseto, depois de haver tido sonhos “intranquilos”. O monstro em que Gregor havia se transformado tem as costas “duras”, o ventre “abaulado” e “marrom”, em segmentos “arqueados”, e as pernas “fi nas”. Para desespero de Samsa, partes de seu corpo vibravam “desamparadas”. Vemos, então, que os adjetivos, ao se relacionarem com os substantivos que qualifi cam, aju- dam a construir o sentido do texto. No texto III, na descrição e caracterização de Iracema e seus predicados, o autor faz uso abun- dante do adjetivo, principalmente no grau comparativo. A exploração do adjetivo é uma caracterís- tica do Romantismo, que necessitava desse recurso estilístico para expressar sentimentos, emoções das personagens ou do eu lírico. Agora, observe como, na poesia de Álvares de Azevedo, o eu lírico supervaloriza seus sentimentos. 16 Morfossintaxe I Adeus, meus sonhos! Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro! Não levo da existência uma saudade! E tanta vida que meu peito enchia Morreu na minha triste mocidade! Misérrimo! votei meus pobres dias À sina doida de um amor sem fruto E minh’alma na treva agora dorme Como um olhar que a morte envolve em luto. Que me resta, meu Deus?!… morra comigo A estrela de meus cândidos amores, Já que não levo no meu peito morto Um punhado sequer de murchas fl ores! Usando o grau superlativo absoluto sintético (“Misérrimo!”), o eu lírico engrandece exagerada- mente o que sente. O BLEND LEXICAL O fenômeno do blend lexical é classifi cado como um tipo de formação de palavras, característico por unir duas palavras que adquirem um sen- tido diferente das duas bases individuais. Normalmente, tais construções são mais recorrentes nas expressões musicais, literárias, jornalísticas e, obviamente, nos momentos de espontaneidade do falante. O quadro seguinte exemplifi ca os itens lexicais individualmente e unifi cados, tomando como parâmetro o que se encontra no dicionário e o sentido adquirido após o cruzamento. 1 Item 1 Item 2 Blend lexical Abraço – envolvimento com os braços Beijo – carinho com os lábios Abreijo – contração de abraço e beijo Chá – infusão com plantas Café – bebida do fruto do cafeeiro Chafé – café fraco; café com aparência de chá Craque – exímio esportista Caquético – com grande enfraquecimento Craquético – craque pouco capaz Mato – lugar com plantas não cultivadas Motel – hotel, normalmente, usado para encontros amorosos Matel – motel no mato Namorado – pessoa a quem se namora Marido – homem unido a uma mulher pelo casamento Namorido – viver junto sem “papel passado” Pai – genitor Mãe – mulher que deu à luz Pãe – pai e mãe ao mesmo tempo A despeito dos cruzamentos anteriormente apresentados, determinadas construções já se tornaram categóricas na língua de tal forma que não são mais percebidas como cruzamentos e estão nos dicionários, como mostra o quadro a seguir. Motel Motor + hotel w hotel com estacionamento para veículos motorizados, em que se tem acesso aos quartos diretamente da área em que fi cam os veículos. Futivôlei Futebol + vôlei w jogo parecido com o vôlei, em que os jogadores usam, no lugar das mãos, os pés e a cabeça, assemelhando-se ao futebol. Portunhol Português + espanhol w português mesclado com palavras e elementos fonéticos do espanhol. Showmício Show + comício w reunião em praça pública, com números musicais e discursos de caráter social ou político. Sacolé Saco + picolé w picolé preparado dentro de sacos plásticos. Adaptado de http://linguaportuguesa.uol.com.br (acesso em 01 dez. 2016). 1 Em que medida o blend de uísque se relaciona ao blend lexical? 2 Em sua opinião, a criação de blends contribui para o enriquecimento da língua ou é um problema, já que gera palavras não dicionarizadas? 3 Crie outros blends, não citados no texto como exemplos, e dê seus respectivos signifi cados. CONEXÕES CURIOSIDADE 1 Blend, termo de origem inglesa, que signifi ca “mistura, combinação”, designa também uma variação de uísque. Um blended whisky é produzido por meio de uma mistura (blend) de vários uísques fabricados por meio da destilação de grãos e malte, ao contrário do puro escocês, que é fabricado apenas pela destila- ção do malte.. 17 G R A M ÁT IC A Morfossintaxe I ATIVIDADES 9 (UFAL) Identifi que o fato linguístico que ocorre em cada um dos pares de palavras destacadas nas frases abaixo. a) Era devoto de São Jorge. Via-se que ali estava um homem são. b) A exposição atraiu um fl uxo permanente de visitantes. Os visitantes surgiam de modo intermitente, sem qualquer previsão. Observe o outdoor para, em seguida, responder às questões 10 e 11. 10 A palavra “um”, que aparece duas vezes no texto do anúncio, é artigo indefi nido. Considerando a mensagem que aponta para a direção segura, esse artigo funciona como adjunto adnomi- nal de qual palavra, que está implícita propositadamente, para gerar ambiguidade? O artigo precede a palavra “táxi”, que está implícita no texto. 11 (UFBA, adaptada) Faça uma análise do outdoor, considerando a construção do texto e o contexto em que ele se insere. No outdoor, há uma ambiguidade proposital, causada pela elipse da palavra “táxi”. Isso gera um aparente paradoxo, que seria o de um outdoor recomendar que o motorista ingira bebidas alcoólicas antes de dirigir. A foto à esquerda do texto, porém, mostra que, na verdade, a recomendação é a de que se utilizem táxis, para evitar que se dirija antes e depois de beber. Em a, a palavra “São” é substantivo na primeira frase e adjetivo na segunda; em b, as palavras são antônimas. CO T 12 (U. São Judas Tadeu-SP) Em: “No momento da iniciação às drogas, o adolescente não vê os amigos morrendo, sendo pressionados por trafi cantes nem se acabando nas sarjetas”, os substantivos destacados exercem respectivamente as funções sintáticas de: a) complemento nominal, agente da passiva, adjunto adverbial. b) adjunto adnominal, sujeito, complemento nominal. c) objeto indireto, objeto indireto, adjunto adverbial. d) complemento nominal, objeto indireto, objeto indireto. e) adjunto adnominal, agente da passiva, objeto indireto. 13 +Enem [H27] Os adjetivos, muito comumente, classifi cam-se como adjuntos adnominais de substantivos, ligando-se direta- mente a eles. Leia os trechos do romance Iaiá Garcia, de Ma- chado de Assis, e assinale a alternativa em que isso ocorre em relação às palavras destacadas. a) Oxalá não viesse a ter outras de mais alto voo! b) Era alto e magro, um começo de calva, barba rapada, ar circunspecto. c) Iaiá leu-a; eram duas páginas escritas de alto a baixo, e por letra desconhecida. d) É grande demais; e depois, fi ca muito longe da cidade. Se fosse mais para baixo... e) Luzia-lhe nos olhos alguma coisa que espreitava a alma da outra por baixo das pálpebras descidas. PARA PRATICARCOMPLEMENTARES Leia a matéria a seguir para responder às questões 14 e 15. Tsunami no Japão pode ter matado 15 mil só na região mais atingida, diz polícia Os números não incluem as fatalidades que também estão sendo contabilizadas nas áreas atingidas ao norte e ao sul, ra- zão pela qual já se fala em 20 mil mortos na maior tragédia a atingir o Japão desde a Segunda Guerra Mundial. Por ora, as estatísticas ofi ciais não param de subir. O nú- mero confi rmado de mortos já se aproxima de 8,5 mil e o de desaparecidos, de 13 mil. Cerca de 360 mil pessoas abando- naram suas casas e 26 mil foram resgatadas. As autoridades deram início à construçãode casas tem- porárias para atender parte das centenas de milhares de pessoas — incluindo 100 mil crianças — atualmente abrigadas nos centros de emergência montados pelo governo. 4 Como ocorre a formação do blend “mautorista”? 5 Qual é o efeito de sentido do blend citado no item anterior? 12. Reconhecer o complemento nominal do substantivo “iniciação” não apresentará grandes difi culdades nesse caso. O agente da passiva pode ser visto de forma mais clara caso se transforme em voz ativa: “os trafi cantes pressionam os amigos”. O adjunto adverbial em questão é de lugar. Alternativa a. 13. Trata-se da única alternativa em que o adjetivo se liga diretamente a um substantivo — nesse caso, “voo”, classifi cando-se como adjunto adnominal. Alternativa a. 18 Morfossintaxe I Tarefa proposta 14-24 Os sobreviventes estão enfrentando temperaturas abaixo de zero e carência de água, eletricidade, combustível e até ali- mentos. Para fazer uma ligação gratuita de um minuto para familiares, eles têm de enfrentar horas na fi la, porque a rede de telefonia móvel entrou em colapso. Disponível em: www.estadao.com.br (acesso em 01 dez. 2016) 14 Repare que, no título da matéria, não há emprego de artigos, a não ser em contrações (no, na). Qual é o efeito desse recurso para o leitor? 15 Em “Os sobreviventes estão enfrentando temperaturas abaixo de zero”, os substantivos “sobreviventes” e “temperaturas” são núcleos, respectivamente, de quais termos da oração? a) Objeto direto e sujeito. b) Sujeito e predicativo. c) Sujeito e objeto direto. d) Objeto direto e predicativo. e) Objeto direto e objeto direto. 16 (UFBA) JO AQ U ÍN S AL VA D O R LA VA D O (Q U IN O ). TO D A M AF AL D A. M AR TI N S FO N TE S, 1 99 1. JO AQ U ÍN S AL VA D O R LA VA D O (Q U IN O ). TO D A M AF AL D A. M AR TI N S FO N TE S, 1 99 1. QUINO. Toda Mafalda. Tradução de Andrea Stahel M. da Silva et al. São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 16. Nas falas das personagens Filipe e Mafalda, estabelece-se um diálogo refl exivo e questionador sobre dinheiro e cultura. No último quadrinho da tira, uma terceira personagem — Manolito — interfere e expõe uma nova visão. Faça uma avaliação crítica dos pontos de vista de cada personagem, ressaltando o signifi cado do julgamento das ideias de Filipe como “ingênuas” e “perigosas”. TAREFA PROPOSTA 1 (UFAL, adaptada) Analise as relações de sentido apresentadas a seguir e julgue-as (V ou F). I. “O contato com a literatura não é apenas benfazejo…” (O ter- mo que expressa o sentido contrário do destacado é “nocivo”.) II. “Na literatura nacional, não se passa incólume…” (O termo destacado signifi ca “ileso”.) III. “… cujas folhas já traziam as manchas indeléveis do tem- po.” (A expressão destacada equivale a “marcas que não se podem destruir”.) Leia o texto para responder às questões de 2 a 4. Antes de começar a aula — matéria e exercícios no quadro, como muita gente entende —, o mestre sempre declamava um poema e fazia vibrar sua alma de tanta empolgação e os alunos fi cavam admirados. Com a sutileza de um sábio foi nos ensinando a linguagem poética mesclada ao ritmo, à melodia e a própria sensibilidade artística. Um verdadeiro deleite para o espírito, uma sensação de paz, harmonia. OSÓRIO, T. Meu querido professor. Vale Paraibano, 15 out. 1999. 2 (ITA-SP) Qual a interpretação que pode ser dada à ausência da crase no trecho “a própria sensibilidade artística”? 3 (ITA-SP) Qual seria a interpretação caso houvesse a crase? 4 (ITA-SP) Reescreva o trecho “… fazia vibrar sua alma de tanta empolgação e os alunos fi cavam admirados”, substituindo o substantivo “empolgação” e o adjetivo “admirados” por sinôni- mos e fazendo as adaptações necessárias. 5 (UFMG) “Ele observou-a e achou aquele gesto feio, grosseiro, mas- culinizado.” Os termos destacados são: a) predicativos do objeto. b) predicativos do sujeito. c) adjuntos adnominais. d) objetos diretos. As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos. 19 G R A M ÁT IC A Morfossintaxe I 15 Em “Os sobreviventes estão enfrentando temperaturas abaixo de zero”, os substantivos “sobreviventes” e “temperaturas” são núcleos, respectivamente, de quais termos da oração? a) Objeto direto e sujeito. b) Sujeito e predicativo. c) Sujeito e objeto direto. d) Objeto direto e predicativo. e) Objeto direto e objeto direto. 16 (UFBA) JO AQ U ÍN S AL VA D O R LA VA D O (Q U IN O ). TO D A M AF AL D A. M AR TI N S FO N TE S, 1 99 1. e) adjuntos adverbiais de modo. 6 +Enem [H12] As fábulas de Esopo são um conjunto de histórias cuja autoria se atribui a um escravo, Esopo, que viveu alguns sé- culos antes de Cristo na Grécia Antiga. Há, nesse conjunto, fábulas que tratam de comportamentos exemplares, que são louváveis ou passíveis de críticas. Observe a reprodução de uma das primeiras ilustrações para o livro Fábulas de Esopo. O autor da ilustração é Arthur Rackhan. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br (acesso em 01 dez. 2016) Sobre a ilustração e o conteúdo que ela representa, assinale a alternativa correta. a) A presença de palavras em língua estranha ao português brasileiro, mas original das fábulas de Esopo, impede que um observador das imagens compreenda a que se referem tais desenhos. b) Os desenhos remetem a animais que fazem parte, como personagens, das histórias; assim como as imagens são re- presentações dos animais, os substantivos que os nomeiam também os representam, embora, nesse caso, a representação se dê de maneira arbitrária. c) A maneira como os animais são representados por ima- gens mostra, com clareza, quais deles atuam de maneira D O M ÍN IO P Ú BL IC O positiva, servindo como exemplo para as crianças que leem as histórias, e quais atuam de maneira controversa, oferecendo exemplo negativo. d) A presença de animais na capa do livro é uma contradição, já que as fábulas são textos em que, raramente, aparecem animais como personagens. e) O uso da língua empregada por Esopo para formar a capa do livro, juntamente com as imagens, é uma maneira de ser fi el à escrita do autor, embora, no miolo da publicação, a língua usada seja o português brasileiro. 7 (UFAL) A escola, como transmissora da cultura e geradora de co- nhecimentos, deve interpelar os fatos numa perspectiva da dinâmica do dia a dia, estampada nos meios de comunica- ção, devendo, portanto, a educação e a comunicação cami- nhar juntas na construção de uma democracia mais plena. KUWSCH, R. Pedagogia da comunicação. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Substitua os termos em destaque por sinônimos, fazendo as adaptações necessárias. 8 Leia o seguinte soneto, de Camões, para responder à questão. Alma minha gentil, que te partiste tão cedo desta vida descontente, repousa lá no céu eternamente, e viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento etéreo, onde subiste, memória desta vida se consente, não te esqueças daquele amor ardente que já nos olhos meus tão puro viste. E se vires que pode merecer-te alguma causa a dor que me fi cou da mágoa, sem remédio, de perder-te, roga a Deus, que teus anos encurtou, que tão cedo de cá me leve a ver-te, quão cedo de meus olhos te levou. Analise as afi rmações e julgue-as verdadeiras (V) ou falsas (F). I. A palavra “alma”, no primeiro verso, exerce função sintática de núcleo do sujeito. II. A função que exerce a palavra “vida”, no segundo verso, é a mesma que exerce “eu” no quarto verso. III. A expressão “assento etéreo” remete a vida, a nascimento, em oposição a “céu”. IV. Os versos tratam da melancolia do eu lírico em relação à morte precoce da pessoa amada. V. O eu lírico deseja que, para reencontrar a pessoa amada, também ele se vá cedo da vida. 9 (UFMA) O texto publicitário produzido para a divulgação do Especial Chico Buarque, que enfoca o romance Budapeste, explora a noção 20 Morfossintaxe I de polissemia em relação à palavra“prosa”. Veja, 5 out. 2005, p.33. Quais são os sentidos (explícitos e implícitos) da palavra “prosa” no texto? 10 (ITA-SP, adaptada) Em “Mães que se orgulham de vestir a roupeta da fi lha adolescente, de frequentar os mesmos lugares e até de conquistar os colegas delas são patéticas. Pais que se consideram parceiros apenas porque bancam os garotões, idem”, o uso do substantivo “roupa” acrescido do sufi xo “eta” ajuda a construir uma ideia que se refere: a) à falta de atitudes autoritárias dos pais atuais. b) à necessidade de acompanhar os fi lhos na sua adolescência. c) à imaturidade de comportamento de alguns pais. d) ao excesso de liberdade que causa problemas na família atual. e) à anulação de papéis distintos de pai e fi lho na família atual. Leia com atenção um fragmento do poema extraído do livro A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade, e responda às questões 11 e 12. A fl or e a náusea Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias espreitam-me. Devo seguir até o enjoo? RE PR O D U ÇÃ O Posso, sem armas, revoltar-me? Olhos sujos no relógio da torre: Não, o tempo não chegou de completa justiça. O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações [e espera. O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse. Em vão me tento explicar, os muros são surdos. Sob a pele das palavras há cifras e códigos. O sol consola os doentes e não os renova. As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem [ênfase. [...] Uma fl or nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do [tráfego. Uma fl or ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma fl or nasceu. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma fl or. Sento-me no chão da capital do país às cinco horas [da tarde e lentamente passo a mão nessa forma insegura. Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se. Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas [em pânico. É feia. Mas é uma fl or. Furou o asfalto, o tédio, o nojo [e o ódio. 11 (UFABC-SP) O termo “enjoo” usado no quarto verso: a) está usado em sentido literal e expressa a indiferença da multidão na rua por um anônimo que não se sente bem. b) está usado em sentido literal e expressa a saúde precária dos menos favorecidos. c) é utilizado em sentido fi gurado e signifi ca que o eu lírico deseja ter acesso a mercadorias que não pode comprar. d) é utilizado em sentido fi gurado e expressa a difi culdade de o eu lírico assumir decisões sobre sua vida pessoal. e) é utilizado em sentido fi gurado e expressa a aversão do eu lírico à realidade opressiva em que vive. 12 (UFABC-SP, adaptada) Sabendo que “fl or” alcança sentido meta- fórico no texto, a leitura atenta do poema permite inferir que: a) sendo “feia”, simboliza o futuro, com toda sua carga de opressão e violência. 21 G R A M ÁT IC A Morfossintaxe I b) sendo “frágil”, simboliza a impossibilidade de transformação social, a não ser por meio da passividade. c) sendo “frágil” e “feia”, simboliza a facilidade de lutar por uma vida melhor. d) sendo “frágil”, mostra que lutar por dias melhores não é impossível, ainda que seja difícil. e) simboliza a certeza de que dias de maior igualdade social chegarão em breve. 13 (Fuvest-SP, adaptada) E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfi ar seu fi o, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida; mesmo quando é assim pequena a explosão, como a ocorrida; mesmo quando é uma explosão como a de há pouco, franzina; mesmo quando é a explosão de uma vida severina. João Cabral de Melo Neto. Morte e vida severina. A fi m de obter um efeito expressivo, o poeta emprega, em “a fá- brica” e “se fabrica”, um substantivo e um verbo que têm o mes- mo radical. Cite da estrofe outro exemplo desse mesmo recurso. Leia com atenção estes textos, para responder às questões 14 e 15. Texto I Folha de S.Paulo, 11 set. 2005, p. E9. Texto II À glória sucede o que sucede à água: 20 15 K IN G FE AT U RE S SY N D IC AT E/ IP RE SS . por mais água que beba, qual lhe sacia a sede? Diverso o sucesso, basta-lhe um verso para essa desgraça que se chama dar certo. LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos. São Paulo: Brasiliense, 1995. p. 95. Texto III Gastei uma hora pensando um verso que a pena não quer escrever. No entanto ele está cá dentro inquieto, vivo. Ele está cá dentro e não quer sair. Mas a poesia deste momento inunda minha vida inteira. ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 65. 14 (UFES) Existe uma ideia de sucesso, sobretudo econômico, que circula, sem perspectiva crítica, nos meios de comunicação de massa. De que modo os dois poemas citados e os quadrinhos podem problematizar essa ideia? Argumente. 15 (UFES) Comente o efeito expressivo na tirinha, gerado pelo uso dos adjetivos. Leia o texto para responder às questões de 16 a 18. Dinossauros em tempos dif íceis A sobrevivência da espécie (dos escritores) e da cultura é uma boa causa Minha vocação nasceu com a ideia de que o trabalho lite- rário é uma responsabilidade que não se limita ao lado ar- tístico: ela está ligada à preocupação moral e à ação cívica. Até o presente, esses fatores animaram tudo o que escrevi e, por isso, vão fazendo de mim, nesta época da realidade virtual, um dinossauro que usa calças e gravata, rodeado de computadores. [...] Em nossa época se escrevem e publicam muitos livros, mas ninguém à minha volta — ou quase ninguém, para não discriminar os pobres dinossauros — acredita mais que a literatura sirva de grande coisa, a não ser para evitar que as pessoas se aborreçam muito no ônibus ou no metrô, e para que, adaptada para o cinema e a televisão, a fi cção literá- ria — se for sobre marcianos, horror, vampirismo ou crimes sadomasoquistas, melhor — se torne televisiva ou cinema- tográfi ca. Para sobreviver, a literatura tornou-se light — é um erro tra- duzir essa noção por “leve”, porque, na verdade, ela signifi ca “irresponsável” e, muitas vezes, idiota. [...] Se o objetivo é apenas o de entreter e fazer com que 20 15 K IN G FE AT U RE S SY N D IC AT E/ IP RE SS . 22 Morfossintaxe I os seres humanos passem momentos agradáveis, perdidos na irrealidade, emancipados da sordidez cotidiana, do in- ferno doméstico ou da angústia econômica, em descon- traída indolência intelectual, as fi cções da literatura não podem competir com as oferecidas pelas telas, sejam de cinema ou de TV. As ilusões forjadas com a palavra exigem a participação ativa do leitor, um esforço de imaginação, e, às vezes — quando se trata de literatura moderna —, complicadas operações de memória, associação e criação, algo de que as imagens do cinema e da televisão dispensam os espectadores. E, por isso, os espectadores se tornam cada vez mais preguiçosos, mais alérgicos a um entreteni- mento que requeira esforço intelectual. Digo isso sem a menor intenção beligerante contra os meios audiovisuais, e a partir de minha condição confessa de apreciador de cinema — vejo dois ou três fi lmes por semana — que também desfruta com prazer um bom pro- grama de TV (essa raridade). Mas, justamente por isso, com o conhecimento de causa necessário para afi rmar que nenhum dos fi lmes que vi, e me divertiram tanto, me aju- dou a compreender o labirinto da psicologia humana como os romances de Dostoievski — ou os mecanismos da vida social como os livros de Tolstoi e de Balzac, ou os abis- mos e os pontos altos que podem coexistir no ser huma- no, como me ensinaram as sagas literárias de um Th omas Mann, um Faulkner, um Kafka, um Joyce ou um Proust. As ficções apresentadas nas telas são intensas por seu imediatismo e efêmeras por seus resultados. Prendem- -nos e nos desencarceram quase de imediato — das fic- çõesliterárias nos tornamos prisioneiros pela vida toda. Dizer que os livros daqueles escritores entretêm seria injuriá-los, porque, embora seja impossível não ler tais livros em estado de transe, o importante de sua boa lite- ratura é sempre posterior à leitura — um efeito deflagra- do na memória e no tempo. Ao menos é o que acontece comigo, porque, sem elas, para o bem ou para o mal, eu não seria como sou, não acreditaria no que acredito nem teria as dúvidas e as certezas que me fazem viver. Mario Vargas Llosa. In: O Estado de S. Paulo, 1996. 16 (Ibmec-SP) “... me divertiram tanto, me ajudou a compreender o labirinto da psicologia humana como os romances de Dos- toievski — ou os mecanismos da vida social como os livros de Tolstoi e de Balzac, ou os abismos e os pontos altos que podem coexistir no ser humano, como ensinaram as sagas literárias de um Thomas Mann...” Segundo o fragmento, a natureza humana é: a) insegura e instável. b) introspectiva e desequilibrada. c) solitária e imprevisível. d) efêmera e contrastante. e) complexa e ambígua. 17 (Ibmec-SP) Assinale a alternativa que melhor corresponde à ideia central do texto de Mario Vargas Llosa. a) Os meios audiovisuais diminuíram o poder da palavra escrita. b) O papel cívico da literatura está na complexidade do con- teúdo da obra e dispensa o leitor. c) O avanço da tecnologia audiovisual contribuiu para a morte da literatura. d) A literatura que não mobiliza o leitor torna-se estéril. e) A literatura light possibilita a fuga da realidade objetiva. 18 (Ibmec-SP, adaptada) A metáfora que dá título ao texto refere-se: a) ao caráter de passado que se atrela à literatura diante dos meios audiovisuais. b) à literatura que trata cientifi camente da Pré-História. c) aos escritores que negam o caráter efêmero da literatura de entretenimento. d) ao desprestígio dos autores consagrados. e) aos escritores que tentam emocionar seus leitores. 19 (PUC/Campinas-SP) Se existe uma instituição moderna que de jovem não tem nada é o restaurante. Não é tão velho como pode parecer — tal como o conhecemos, quase nada tem a ver com as estalagens da Antiguidade ou as tabernas medievais. Mas também não nasceu ontem: o perfil do restaurante moderno vem da segunda metade do século 18, portanto há quase 250 anos. MELO, Josimar. Caldo inaugura a história dos restaurantes. Folha [sinapse]. Folha de S.Paulo, 24 set. 2002, p. 34. O sentido da primeira frase do texto está corretamente repre- sentado em: a) O restaurante é uma instituição moderna, mas não recente. b) O restaurante é uma instituição atual e jovem. c) Nem todo restaurante é jovem, só o moderno. d) Como instituição, o restaurante não é nem moderno nem jovem. e) Não existe instituição moderna que seja jovem como o restaurante. 20 +Enem [H14] Observe a imagem abaixo, que é uma gravura de Mauricio Nascimento. Um artista, quando decide representar determinada cena, imagem, sensação ou ideia, pode fazê-lo de maneira livre, M AU RÍ CI O N AS CI M EN TO 23 G R A M ÁT IC A Morfossintaxe I mais fl exível em relação às regras da verossimilhança e da fi delidade aos fatos e à realidade tangível do que um jorna- lista, por exemplo, ao escrever uma notícia, ou um desenhista que faz representações do corpo humano para um livro de anatomia. Considerando essas informações, analise as afi r- mações, com especial atenção para o sentido dos adjetivos em destaque, e depois assinale a alternativa correta. a) A relação de tamanho entre o submarino e o peixe é desproporcional na gravura, considerando-se que a representação visual do peixe da gravura não é de uma espécie que possa atingir grandes proporções. b) O fato de o peixe aparecer representado em um quadro à parte mostra que, segundo as concepções do artista, submarinos são nocivos à vida marinha e devem ser banidos das águas dos mares e oceanos. c) O peixe, representado em tamanho gigantesco, mostra — de maneira metafórica — que a vida marinha pode ser prejudicial para as pesquisas e expedições científi cas realizadas por submarinos. d) O tamanho do submarino, em relação à profundidade de oceano representada, é proporcional, reproduzindo de maneira fi el a realidade; isso não ocorre, porém, com o tamanho do peixe. e) A falta de proporção entre os elementos principais que apa- recem na gravura — água, submarino, peixe e montanhas — exclui o desenho da arte, não podendo essa representação ser considerada uma manifestação artística. Leia o fragmento de texto seguinte para responder às questões 21 e 22. [...] O almocreve salvara-me talvez a vida; era positivo; eu sentia-o no sangue que me agitava o coração. Bom almocre- ve! Enquanto eu tornava à consciência de mim mesmo, ele cuidava de consertar os arreios do jumento, com muito zelo e arte. Resolvi dar-lhe três moedas de ouro das cinco que trazia comigo; não porque tal fosse o preço da minha vida — essa era inestimável; mas porque era uma recompensa digna da dedicação com que ele me salvou. Está dito, dou- -lhe as três moedas. [...] Fui aos alforjes, tirei um colete velho, em cujo bolso trazia as cinco moedas de ouro, e durante algum tempo cogitei se não era excessiva a gratifi cação, se não bastavam duas moe- das. Talvez uma. Com efeito, uma moeda era bastante para lhe dar estremeções de alegria. [...] Ri-me, hesitei, meti-lhe na mão um cruzado em prata, ca- valguei o jumento, e segui a trote largo, um pouco vexado, melhor direi um pouco incerto do efeito da pratinha. [...] Meti os dedos no bolso do colete que trazia no corpo e senti umas moedas de cobre; eram os vinténs que eu deve- ra ter dado ao almocreve, em lugar do cruzado em prata. Porque, enfi m, ele não levou em mira nenhuma recompen- sa ou virtude, cedeu a um impulso natural, ao tempera- mento, aos hábitos do of ício; acresce que a circunstância de estar, não mais adiante nem mais atrás, mas justamente no ponto do desastre, parecia constituí-lo simples instru- mento da providência; e de um ou de outro modo, o méri- to do ato era positivamente nenhum. Fiquei desconsolado com esta refl exão, chamei-me pródigo, lancei o cruzado à conta das minhas dissipações antigas; tive (por que não direi tudo?) tive remorsos. Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. Capítulo XXI — O almocreve. 21 (U. F. Itajubá-MG) Examine as substituições lexicais realizadas e assinale aquela em que não se manteve o sentido. a) “essa era inestimável” — essa era incalculável b) “Fui aos alforjes, tirei um colete velho” — Fui até o cofre, tirei um colete velho c) “um pouco vexado” — um pouco constrangido d) “chamei-me pródigo” — chamei-me esbanjador 22 (U. F. Itajubá-MG) Pela leitura do texto, é possível afi rmar: a) A ação do personagem é coerente do início ao fi m do acon- tecimento. b) O personagem não hesita sobre o valor da recompensa. c) O personagem sente remorsos por não ter recompensado devidamente seu salvador. d) A valoração do ato do almocreve diminui gradativamente: de fato heroico a fato sem mérito algum. Leia os textos para responder às questões 23 e 24. Texto I A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana e vinha, Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um bem frequente olheiro, Que a vida do vizinho e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha, Para o levar à praça e ao terreiro. Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos sob os pés os homens nobres, Posta nas palmas toda a picardia. Estupendas usuras nos mercados, Todos os que não furtam muito pobres: E eis aqui a cidade da Bahia. MATOS, Gregório de. In: DIMAS, Antonio (org.). Literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1981. p. 13. Texto II Eu nem sei si vale a pena Cantar São Paulo na lida, Só gente muito iludida 24 Morfossintaxe I Limpa o gosto e assopra a avena, Esta angústia não serena, Muita fome pouco pão, Eu só vejo na função Miséria, dolo, ferida, Isso é vida? São glórias desta cidade Ver a arte contando história,A religião sem memória De quem foi Cristo em verdade, Os chefes nossa amizade, Os estudantes sem textos, Jornalismo no cabresto, Tolos cantando vitória, Isso é glória? [...] Mas o pior desta nação É ter fábrica de gás Que donos-da-vida faz Ianques e ingleses de ação, Tudo vem de convulsão Enquanto se insulta o Eixo, Lights, tramas, Corporation, E a gente de trás pra trás, Isso é paz? ANDRADE, Mário de. Lira paulistana. In: Poesias completas. Edição crítica de Diléa Zanotto Manfi o. Belo Horizonte: Villa Rica, 1993. p. 360-361. 23 Sobre trechos dos textos, responda ao que se propõe. a) “A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana e vinha, Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro.” Qual adjetivo descreveria, isoladamente, uma pessoa como a descrita pelo poeta nos versos transcritos? b) “Esta angústia não serena.” Reescreva o verso de três manei- ras diferentes, substituindo “não serena” por uma palavra apenas, sem que haja modifi cação signifi cativa de sentido. 24 (Cefet-RJ, adaptada) Nos textos I e II, os sentimentos que defi nem a visão dos poetas sobre suas cidades são: a) orgulho e esperança. b) desencanto e crítica. c) desencanto e indiferença. d) apego e ufanismo. e) apreço e tédio. Escute Ouça “Cultura”, de Arnaldo Antunes, gravada no CD Canções curiosas, de 2009, do grupo Palavra Cantada. Observe como a letra da canção ajuda a construir a mensagem que você leu na teoria. Perceba como os conceitos criados por Antunes fi cam ainda mais inte- ressantes quando aparecem acompanhados da melodia. VÁ EM FRENTE ANOTAÇÕES Objetivos: c Compreender os textos verbais como a organi- zação de um sistema simbólico partilhado, que ganha sentido por meio da intencionalida- de pretendida na inte- ração e comunicação. c Reconhecer a exis- tência de textos não verbais, tais como a imagem e os símbo- los, e compreender suas formas de leitura características. 25 G R A M ÁT IC A Morfossintaxe I CAPÍTULO Todos nós, seres humanos, nos comunicamos de formas muito diferentes. Ainda bem! Mas essa diferença também tem suas desvantagens porque, embora existam símbolos que apresentam uma linguagem universal, algumas vezes gostaríamos de compreender o que as pessoas falam em outras línguas ou simplesmente decifrar algum símbolo que não conhecemos, quando o vemos em uma placa, por exemplo. Assim também ocorre com os textos, sejam eles verbais ou não ver- bais. Algumas vezes parece haver uma barreira entre eles e a nossa realidade que não nos permite compreendê-los de forma completa e clara. Isso porque nasceram de alguém diferente de nós, às vezes, num lugar muito distante. Passamos a perceber, então, que, para se compreender um texto, só há uma saída: tornar-se íntimo dele, aproximar-se da realidade que ele nos apresenta. E para isso, também, só existe uma solução: ampliar, cada vez mais, o nosso universo de leitura. Observe o seguinte poema. O poema citado é exemplo de um tipo de poesia chamada de “poesia concreta”. Em que medida esse nome se relaciona com esse texto? Como você interpreta o poema apresentado? A poesia concreta é aquela em que a estrutura mais tradicional do poema, com versos e estrofes, se perde para dar lugar a uma poesia que se assemelha quase a um objeto, algo que ocupa o espaço do papel de maneira diferente, sugestiva e cheia de signifi cação. Resposta pessoal. Algumas observações são importantes, como a de que a disposição das datas, desde a primeira linha horizontal, indicando o início da construção das torres gêmeas, até seu “desaparecimento” (letras mais claras), após o 11 de setembro de 2001. 2 Interpretação de Texto I JO ÃO G RA N D O Professor, nesta atividade pode-se trabalhar a habilidade 18 da matriz de referência do Enem, em que o aluno deve “identifi car os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos”, pois todo o texto se constrói em uma imagem, como se faz nos poemas concretos. 26 Morfossintaxe I TEXTO E LINGUAGEM Já há algum tempo, os vestibulares e concursos públicos vêm privilegiando, em suas provas, como forma de avaliar o nível de conhecimento de seus candidatos, questões voltadas ao estudo e à interpretação da linguagem presente em textos diversos, cuja elaboração se pode considerar, em algumas delas, bastante sofisticada. Por meio dos mais variados tipos de texto (em prosa, em versos, charges, tirinhas, fotos, resenhas, editoriais etc.), analisam, avaliam e selecionam candi- datos a uma vaga em uma universidade ou que pleiteiam um emprego no mercado de trabalho. Dominar a palavra escrita ou oralizada (“penetrar profundamente em seu reino”), principalmente as sutilezas do idioma, é tarefa árdua, que exige paciência, estudo e dedicação. Para isso há várias explicações. Uma delas é que cada texto é fruto de um tempo, de um lugar e de um conjunto de crenças e tradições. E tais características podem ter mudado muito desde a época em que o texto foi escrito até o momento em que ele é lido. Até mesmo a linguagem varia com o tempo, e não é pouco. O modo de escrever de outra época é uma barreira para compreendermos um texto. Não nos parece comum e simples, hoje, um texto de alguns séculos atrás. Assim, para que o leitor consiga desvendar o que o texto, às vezes, teima em manter es- condido, é preciso não somente saber ler o que se apresenta sobre suas linhas (palavras e frases), mas também conhecer o mundo e as diferentes realidades que permeiam cada texto. Logo, é preciso aproximar-se do texto escrito, chegar cada vez mais perto da mensagem que ali se pretende comunicar. E isso só é possível por meio da leitura, o treino mais eficiente para a interpretação de textos. O leitor assíduo torna-se exigente e crítico, passando a des- vendar aquilo que lê de forma cada vez mais profunda e complexa. Há pouco mais de uma década, a criação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) apre- sentou uma nova forma de avaliar o conhecimento do aluno, revolucionando não só os vesti- bulares, mas também o ensino na sala de aula. A avaliação é feita por meio das habilidades e competências que uma pessoa deve adquirir (pressupõe-se) até terminar o ensino médio. Observando o estilo da prova do Enem ou buscando uma adaptação dessa prova, os vesti- bulares mudaram, e o texto (verbal e não verbal) passou a ter lugar de honra nas avaliações. O que se valoriza, hoje em dia, é a diversidade. As provas trazem textos dos mais variados gê- neros e fontes, que vão desde as bulas de remédio até as charges divulgadas mais recentemente e que se referem a temas da atualidade. Ou seja, saber o que acontece no mundo, hoje, é o primeiro passo para a interpretação de textos das provas. O ensino e a avaliação, modernamente, estão divididos em três grandes áreas: linguagens, có- digos e suas tecnologias, ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Os textos não verbais também estão cada vez mais presentes nas provas. Isso porque eles es- tão cada vez mais presentes no mundo. Basta repararmos como há símbolos que nos rodeiam, desenhos, grafites nos muros das grandes cidades, bandeiras, cores que representam ideologias e empresas conhecidas. Quantas vezes não reconhecemos uma rede de lojas ou restaurantes sim- plesmente porque avistamos seus símbolos, a distância? Para compreender melhor como a interpretação de textos tem-se apresentado nas provas atuais, leia, a seguir, um fragmento dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), parte de uma proposta de inovação para o ensino. […] Não há linguagem no vazio; seu grande objetivo é a interação, a comunicação com um outro, dentro de um espaço social, como, por exemplo, a língua, produto humano e social que organiza e ordena de forma articulada os dados das experiências comuns aos membros de determinada comunidade linguística. Nas práticas sociais, o homem cria a linguagem verbal, a fala. Na e com a linguagem, o homem reproduz
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