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UNIVERSIDADE RURAL DA AMAZÔNIA MARIA DOS REMÉDIOS PESSOA SERRÃO MARIA RAIMUNDA DOS SANTOS SERRÃO O LÚDICO COMO RECURSO DIDÁTICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL GURUPÁ – PARÁ 2015 UNIVERSIDADE RURAL DA AMAZÔNIA MARIA DOS REMÉDIOS PESSOA SERRÃO MARIA RAIMUNDA DOS SANTOS SERRÃO O LÚDICO COMO RECURSO DIDÁTICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado ao Curso de Pedagogia do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – PARFOR promovido pela Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA requisito de avaliação parcial para obtenção do Grau de Licenciado Pleno em Pedagogia. Orientadora: Vanessa Alcântara Cardoso GURUPÁ – PARÁ 2015 Serrão, Maria dos Remédios Pessoa O lúdico como recurso didático na educação infantil / Maria dos Remédios Pessoa Serrão, Maria Raimunda dos Santos Serrão. – Gurupá, PA, 2015. 60 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura Plena em Pedagogia) – Plano Nacional de Formação de Professores, Universidade Federal Rural da Amazônia, 2015. Orientadora: Vanessa Alcântara Cardoso 1.Educação Infantil 2.Lúdico 3.Jogos 4.Brinquedos 5. Brincadeiras I. Serrão, Maria Raimunda dos Santos II. Cardoso, Vanessa Alcântara, orient. III.Título CDD – 372 MARIA DOS REMÉDIOS PESSOA SERRÃO MARIA RAIMUNDA DOS SANTOS SERRÃO O LÚDICO COMO RECURSO DIDÁTICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL NOTA ATRIBUÍDA ___________________________________ BANCA EXAMINADORA __________________________________ Prof.º Orientador: Prof.ª Msc. Vanessa Alcântara Cardoso __________________________________ Prof.º 1º Avaliador: Prof.º Dr.º Pedro Silvestre da Silva Campos _________________________________ Prof.º 2º Avaliador: Prof.ª Esp. Maria Flaviana do Couto da Silva Data: ____ / ____ / 2015 GURUPÁ – PARÁ 2015 João e Maria Agora eu era o herói E o meu cavalo só falava inglês A noiva do cowboy Era você além das outras três. Eu enfrentava os batalhões Os alemães e seus canhões Guardava o meu bodoque E ensaiava um rock para as matinês. Agora eu era o rei Era o bedel e era também juiz E pela minha lei A gente era obrigado a ser feliz. E você era a princesa Que eu fiz coroar E era tão linda de se admirar Que andava nua pelo meu país. Não, não fuja não Finja que agora eu era o seu brinquedo Eu era o seu pião O seu bicho preferido. Vem, me dê a mão A gente agora já não tinha medo O tempo da maldade Acho que a gente nem tinha nascido. Agora era fatal Que o faz-de-conta terminasse assim Pra lá deste quintal Era uma noite que não tem mais fim. Pois você sumiu no mundo Sem me avisar E agora eu era um louco a perguntar O que é que a vida vai fazer de mim. CHICO BUARQUE DE HOLANDA RESUMO O estudo denominado O LÚDICO COMO RECURSO DIDÁTICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL resulta de uma pesquisa bibliográfica de caráter descritivo e de abordagem qualitativa quanto à discussão do tema, tendo em vista subsidiar a prática pedagógica dos professores que atuam na Educação Infantil, posto ser notório a ausência de práticas lúdicas neste nível de ensino, onde muitas escolas privilegiam o ensino formal do conhecimento acadêmico da leitura, contagem e escrita, sem preocupar-se com a natureza lúdica que permeia o universo infantil. O estudo destaca a importância dos jogos, brinquedos e brincadeiras que permeiam o universo infantil, destacando que o brincar é uma característica marcante da infância. O estudo é relevante na medida em que suscita a importância do lúdico para aprendizagem infantil e chama atenção dos professores para esta mesma importância, servindo de referencia conceitual as práticas pedagógicas na Educação Infantil. O estudo conclui que o lúdico contribui para a melhoria do processo ensino-aprendizagem, que toda criança tem direito de brincar e por meio do brincar, as crianças equilibram as tensões provenientes de seu mundo cultural, construindo sua marca pessoal e sua personalidade. O lúdico contribui para o desenvolvimento motor, social, afetivo e cognitivo da criança. Palavras Chave: Educação Infantil. Lúdico. Jogos. Brinquedos. Brincadeiras . ABSTRACT The called study THE PLAYFUL ONE AS DIDACTIC RESOURCE IN THE INFANTILE EDUCATIONT results of a bibliographical research of descriptive character and qualitative boarding how much to the quarrel of the subject, in view of subsidizing practical the pedagogical one of the professors who act in the Infantile Education, practical rank to be well- known the absence of playful in this level of education, where many schools privilege the formal education of the academic knowledge of the reading, counting and writing, without being worried about permeate the playful nature that the infantile universe. The study it detaches the importance of the games, toys and tricks that parmesan the infantile universe, detaching that playing it is a arcane characteristic of infancy. The study it is excellent in the measure where it excites the importance of the playful one for infantile learning and calls attention the professors for this same importance, serving of conceptual reference practical the pedagogical ones in the Infantile Education. The study it concludes that the playful one contributes for the improvement of the process teach-learning, that all child has right to play and by means of playing, the children balances the tensions proceeding from its cultural world, constructing to its personal mark and its personality. The playful one contributes for motor, social, affective and cognitive the development of the child. Words Key: Infantile. Playful Education. Games. Toys. Tricks SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 07 2. REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................ 08 2.1. BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL ..................................................... 08 2.2. A FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL ................................................................... 10 2.3. O BRINCAR E A ESCOLA ............................................................................................ 12 2.4. O LÚDICO: BREVE HISTÓRICO ................................................................................. 14 2.5. BREVE RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO LÚDICA ....................... 17 2.6. O BRINCAR E SUA IMPORTÂNCIA NA APRENDIZAGEM ................................... 20 2.7. JOGOS E BRINQUEDOS NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA: CONTRIBUIÇÕES DAS FASES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL – PIAGET ............................................... 23 2.8.IMPORTÂNCIA DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS ........................... 28 2.9.CARACTERIZAÇÃO DOS JOGOS E BRINQUEDOS .................................................. 32 2.10. CLASSIFICAÇÃO DOS JOGOS E BRINQUEDOS.................................................. 40 2.11. CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DAS BRINCADEIRAS ........................ 42 2.12. IMPORTÂNCIA DO ATO DE BRINCAR ................................................................... 44 3. MATERIAL E MÉTODO ................................................................................................ 52 4. RESULTADO E DISCUSSÃO ........................................................................................ 53 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS: BENEFÍCIOS DO LÚDICO ..... ................................... 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 57 1. INTRODUÇÃO Os jogos e as brincadeiras fazem parte da vida das crianças de diferentes culturas. Uma revisão na literatura pertinente ao tema revela que tanto os jogos como as brincadeiras são importantíssimos para o desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e cultural das crianças. Partindo-se deste pressuposto, desenvolveu-se o estudo denominado O lúdico como recurso didático na Educação Infantil, resultante de uma pesquisa bibliográfica de caráter descritivo e abordagem qualitativa quanto à discussão do tema proposto, tendo em vista subsidiar a prática pedagógica dos professores que atuam na Educação Infantil, posto ser notório a ausência de práticas lúdicas neste nível de ensino, onde muitas escolas privilegiam o ensino formal do conhecimento acadêmico da leitura, contagem e escrita, sem preocupar-se com a natureza lúdica que permeia o universo infantil, que por sua vez constitui sua clientela. Quanto à importância da abordagem qualitativa que dever permear a pesquisa acadêmica, desta Severino (2008) a respeito do processo de aquisição de conhecimentos por parte dos acadêmicos: A aquisição, por parte dos estudantes universitários, de uma postura investigativa não se dá espontaneamente por osmose, nem artificialmente por um receituário técnico, mecanicamente incorporado. De acordo com as premissas anteriormente colocadas, a aprendizagem universitária tem muito mais a ver com a incorporação de um processo epistêmico do que com a apropriação de produtos culturais, em grande quantidade. (2008, p. 23) Sobre a relevância do estudo bibliográfico, Marconi e Lakatos (2003) destacam: Os livros ou textos selecionados servem para leituras ou consultas; podem ajudar nos estudos em face dos conhecimentos técnicos e atualizados que contêm, ou oferecer subsídios para a elaboração de trabalhos científicos, incluindo seminários, trabalhos escolares e monografias. (2003, p. 20) Partindo-se deste pressuposto, a grande intenção deste breve estudo, é fundamentalmente constituir-se em uma referência conceitual para todos aqueles que ensejarem desenvolver estudos e pesquisas referentes ao tema em questão, corroborando ainda, para a melhoria das práticas pedagógicas dos professores que atuam na Educação Infantil. Analisar e discutir a importância do lúdico na Educação Infantil na perspectiva do aprender brincado, é sobretudo uma investigação desafiadora que permite-nos reflexões significativas para o entendimento da importância e significado da Educação Infantil. 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1. BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL Do ponto de vista histórico a infância foi marcada por um papel que caracteriza a ignorância dos adultos e a discriminação social, que à deixa a margem de um processo que se conta através dos pensamentos e realizações do adulto. Porém esta mesma história também é traçada por grandes descobertas, isto é o que nos revela a história. Segundo kishimoto (2003, p. 225) “a criança de zero a seis anos foi objeto de atenção nesses quinhentos anos, sobretudo por inspiração da Igreja, no início do processo de colonização [...] predominou a assistência social á infância”. Esta mesma assistência que perpassa décadas e consiste em permanecer até os dias de hoje, fazendo da educação infantil um nível de ensino em constante transformação e desafios. No Brasil, a Educação Infantil inicia em 1875, com a instalação de jardins de infância, asilos infantis e orfanatos, a partir daí foram conduzidos e observados porvários métodos e pesquisadores junto à área da educação, como Froelbel, Piaget e Vygotski visando uma aprendizagem de mais qualidade. É á criança interagindo com o meio e com o contado direto com o objeto. É a partir daí que a aprendizagem acontece, com eles melhoraram o ensino, e a qualidade deste nível educacional. No inicio do século XX a educação infantil passa a integrar a criança e seu desenvolvimento infantil, o que não deixa de buscar nos dias atuais uma educação de qualidade e com profissionais qualificados. As instituições de educação infantil foram se modificando com o passar dos anos, onde somente no século XIX, é que começam a surgir às creches, casas de infância, escolas, maternais e jardins de infância. Na análise de Didonet (1991), todas de caráter assistencialista fruto de uma crescente globalização e de mudanças da vida urbana na sociedade da época. Características que faz ainda parte de toda essa transformação cultural e social da criança e da família, que busca constantemente estar vinculada com as inovações educacionais e sociais. Ainda segundo Didonet (1991): A urbanização a crescente participação da mulher no mercado de trabalho extradomiciliar e as alterações na estrutura familiar são ainda hoje fatores determinantes da demanda social de creches e pré-escola. [...] Quando surge uma creche ou pré-escola, nova perspectiva abre-se para a mulher e para a criança, o melhor, para toda a família [...]. Mas a educação infantil não parou por ai. Várias ciências debruçaram-se sobre a criança, nos últimos cinqüenta anos, entre elas a psicologia, a sociologia, a biologia e a psicanálise infantil. (1991, p. 92) A partir de todas essas mudanças as escolas infantis tornaram-se espaços de grande importância para o desenvolvimento e aprendizagem. Estas que estão inseridas na Constituição de 1988, e que contempla o caráter educacional destas instituições, passando a educação infantil a ser direito da criança e dever do estado, cabendo a este manter e dar a educação infantil uma constante integração e valorização com o cuidar, o educar e o brincar elementos fundamentais no processo de ensino e aprendizagem infantil. As leis educacionais vigentes vieram para consolidar essas características educacionais, pois coube a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB Nº. 9.394/96 fixar a Educação Infantil enquanto etapa que precede a educação escolar formal (Ensino Fundamental e Médio). Isto constitui um fator principal para essas primeiras transformações educacionais, que passa de assistencial para um caráter totalmente educacional, onde se começa a ampliar a importância da educação infantil no processo de desenvolvimento, integração, socialização e aprendizagem. A LDB Nº 9.394/96 veio ainda exigir uma maior formação do profissional que atua na área como formação especifica e uma formação continuada. Sendo assim, não só os recursos físicos, mas os espaços que deve se adequar as novas normas, mas toda a ação direta com a criança, sendo esta obrigação dos órgãos mantenedores, municipais e filantrópicos, as regularizações, o que requer maior incentivo e aplicações para o melhoramento da educação nesta faixa etária. A este respeito, Didonet (1991) destaca: A criança é um todo orgânico, físico e psicológico. A educação infantil coloca como seu objetivo-síntese o desenvolvimento integral da criança compreendendo com isso, os aspectos físicos, cognitivos e afetivos de sua personalidade. (1991, p. 93) A criança começa a ser vista caracterizada pela infância que exige maior compreensão e investimento quanto aos aspectos que ela desenvolve, ser de uma especificidade e individualidade única e importante diante da sociedade,ela é agora vista como sujeito histórico e participante das transformações futuras, ou seja, a consolidação da educação brasileira. Assim sendo, cabem as instituições de educação infantil atender ás especificidades do desenvolvimento das crianças nas suas especialidades, pois é nestas instituições que começaram os primeiros indícios de que vale a pena investir em uma educação de qualidade é o processo educativo acontecendo, é a formação para a cidadania, o trabalho e o desenvolvimento da pessoa e suas transformações. As escolas de educação infantil necessitamde uma organização pedagógica que vise às experiências infantis, as especificidades e diversidades, que valorize e invista em uma docência de qualidade e eficaz. Sobre este aspecto, Oliveira (2005, p. 170), adverte: [...] o que requer estruturas curriculares abertas e flexíveis. Outro fator importante é a participação da família que também é importante nesse processo uma vez que a educação é uma continuidade da extensão família e escola. 2.2. A FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL Considerando os fatos históricos que acompanharam as instituições de educação infantil é possível observar seu crescimento e seus objetivos junto ao processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança, no sistema educacional, através de objetivos concretos e reflexivos que qualificam essas instituições e seu processo formativo, como as conquistas para a primeira etapa da Educação Básica. É a qualidade na educação infantil e seus princípios pedagógicos que se destacam como fatores fundamentais para o ensinar e o aprender , fatores estes que estão definidos no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998). Por meio deste é possível identificar as contribuições das diferentes áreas do conhecimento que compõem a organização das atividades a serem desenvolvidas junto à educação. De acordo com o Referencial Curricular da Educação Infantil (1998) a respeito da importância e significados da ludicidade enquanto princípio didático das práticas pedagógicas na Educação Infantil, a criança é um ser social e histórico e que está em processo de formação. E por isto é preciso tomar como meta alguns objetivos gerais, de modo a articular o processo educativo, e as necessidades das crianças. Segundo o Referencial Curricular da Educação Infantil (1998) Intenções educativas que estabelecem capacidades que às crianças poderão desenvolver como conseqüência de ações intencionais do professor. O que auxilia na seleção de conteúdos e os meios didáticos a serem utilizados. (1998, p. 47) Essa estrutura preconizada pelo Referencial Curricular da Educação Infantil (1998) permite uma segurança e flexibilidade na organização do trabalho do professor. Isso é importante, pois ainda de acordo com o Referencial Curricular da Educação Infantil (1998), todas estas instâncias permitiram o desenvolvimento físico, afetivo, cognitivo, ético, estético, de relação interpessoal e inserção social da criança. O Referencial Curricular da Educação Infantil (1998, p. 48) classifica essa ordem com característica própria, sendo elas de ordem: física, caracterizando o uso do corpo para uma melhor expressão das emoções e a coordenação motora, a de ordem cognitiva que deve envolver a comunicação do pensar, as resoluções de problemas, a de ordem afetiva para uma melhor convivência e auto-estima, a de ordem estética para a produção cultural e artística da criança, a de ordem ética denominadas para a construção de valores, para a relação interpessoal, destacando os valores de convivência com os diferentes costumes e cultura, e por fim as de ordem de inserção social que se classifica como a possibilidade que a criança deva a ter com relação à participação dela na comunidade e sociedade. Com esses fatores pode-se observar que a educação infantil ganha a partir daí características importantes que a integra definitivamente como fase de total importância para a formação social da criança de zero a cinco anos de idade. Ainda de acordo com o Referencial Curricular da Educação Infantil (1998) Para tanto estabelece uma integração curricular na qual os objetivos gerais para a educação infantil norteiam a definição de objetivos gerais e específicos para os diferentes eixos de trabalho. Desses objetivos específicos decorrem os conteúdos que possibilitam concretizar as intenções educativas. O trabalho didático que busca garantir a coerência entre objetivos e conteúdos se explicitam por meio das orientações didáticas. (BRASIL: 1998, p. 48) Toda essa organização pedagógica faz da educação infantil etapa de maior importância e que precisa ser valorizada e integrada à vida da criança pequena, pois a tríade entre o cuidar, o educar e o brincar são fatores importantes que precisam caminhar juntos para que o processo de desenvolvimento e aprendizagem aconteça. Sobre este aspecto, Moreno (2007), destaca: O trabalho pedagógico na educação infantil deve respeitar a criança quanto aos seus direitos e especificidades, isto é sua essência lúdica; sua constante curiosidade; seu desenvolvimento físico. Cognitivo. Afetivo e social; sua dependência e / ou necessidade de ajuda no cuidado com seu corpo, com sua alimentação, seus pertences etc. A partir desses objetivos e conceitos nos quais a educação infantil se inclui é que a denomina como uma das faixas etárias de maior importância, hoje, já que a criança necessita ser educada com princípios éticos e sociais, sobretudo por ser considerada cidadã. (2007, p. 57) A ação pedagógica que integra dois paradigmas: o cuidar e o educar indicam também uma aproximação entre dimensões educacionais e sociais e propõe ai outro método que possa possibilitar a aprendizagem de maneira lúdica que é o brincar na infância, uma vez que a criança pequena aprende se integra e se socializa com todos aqueles que estão ao seu redor por meio da brincadeira. Neste ambiente educacional onde a brincadeira é de caráter estimulativo, ela é também responsável pelo desenvolvimento da criança, o que se caracteriza em atividades próprias estimulando e exercitando seus sentidos, envolvendo todo o seu corpo com movimentos que se transformam em aprendizagem. A criança pode sentir, ouvir, tocar, degustar e vocalizar-se, por meio da brincadeira, já que ela é capaz de levá-la a conquistar sua autoconfiança e competência, se aperfeiçoando de acordo com sua capacidade de expressão. 2.3. O BRINCAR E A ESCOLA O brincar está associado à criança há séculos. Mas foi através de uma ruptura de pensamento que a brincadeira passou a ser percebida e valorizada no espaço educacional das crianças menores. No passado, o que se via era o brincar apenas como forma de fuga ou distração, não lhe sendo conferido o caráter educativo. O brincar tem a função socializadora e integradora. A sociedade moderna cada vez mais tem sofrido transformações em relação ao brincar e ao espaço que se tem para brincar, os pais e os filhos têm pouco tempo para ficarem juntos e brincar. A escola acaba sendo a única fonte transmissora de cultura, onde ainda existem espaços para as crianças brincarem, tendo os profissionais de educação à incumbência de ensinar e resgatar as brincadeiras populares, mas não só isso, como também o jogo deve fazer parte do cotidiano das crianças, e seria usado como uma nova forma de transmitir conhecimento, pois a atividade lúdica é benéfica ao aprendizado. De acordo com Almeida (2005): A brincadeira se caracteriza por alguma estruturação e pela utilização de regras. A brincadeira é uma atividade que pode ser tanto coletiva quanto individual. Na brincadeira a existência das regras não limita a ação lúdica, a criança pode modificá-la, ausentar-se quando desejar, incluir novos membros, modificar as próprias regras, enfim existe maior liberdade de ação para as crianças. (2005, p. 5) A prática da brincadeira na escola promove aspectos diversos na criança que serão de suma importância para o seu desenvolvimento biopsicosocial, sendo imprescindível para uma formação sólida e completa. Segundo Wajskop (2007): A criança desenvolve-se pela experiência social nas interações que estabelece, desde cedo, com a experiência sócio-histórica dos adultos e do mundo por eles criado. Dessa forma, a brincadeira é uma atividade humana na qual as crianças são introduzidas constituindo-se um modo de assimilar e recriar a experiência sócio- cultural dos alunos. (2007, p. 25) O brincar vai desde a suaprática livre até uma atividade dirigida, com regras e normas. Os jogos são ótimos para desenvolver o raciocínio lógico, e também para o desenvolvimento físico, motor, social e cognitivo, e atualmente a aplicação desta nova maneira de transmissão de conhecimento é até mais fácil pelos recursos e metodologias disponíveis para o professor. Apesar da visão renovada das possibilidades de utilização dos jogos na escola, o jogo ainda está muito distante de ser integrado realmente como recurso e metodologia. Em geral, o uso dos jogos no cotidiano escolar se restringe a atividades extremamente dirigidas, que contribuem muito pouco para o desenvolvimento da autonomia, da criatividade e da produção de cultura. Segundo Carneiro e Dodge (2007): Para que a prática da brincadeira se torne uma realidade na escola, é preciso mudar a visão dos estabelecimentos a respeito dessa ação e a maneira como entendem o currículo. Isso demanda uma transformação que necessita de um corpo docente capacitado e adequadamente instruído para refletir e alterar suas práticas. Envolve, para tanto, uma mudança de postura e disposição para muito trabalho. (2007, p. 91) Mas, vamos falar do brincar pelo brincar, atualmente, só é aberto o espaço para brincar na educação infantil, e nem sempre é aceito de uma forma natural. As crianças têm que brincar, porque, brincando aprende a participar das atividades pelo prazer de brincar, sem visar uma recompensa ou temer castigo, mas adquirindo o hábito de estar ocupada, fazendo alguma coisa inteligente e criativa, experimentando o mundo ao seu redor, buscando um sentido para sua vida. Mas, mesmo proporcionando todos esses benefícios, o brincar, a atividade lúdica, nas escolas de educação infantil quase sempre são muito dirigidos, se tornando menos espontâneo, criativo e prazeroso. Além disso, temos também a cobrança dos pais no sentido de obter um trabalho com bastante conteúdo, e na fase da educação infantil, a criança deve ser menos cobrada, havendo uma menor pressão dos pais em relação à obtenção de um trabalho com conteúdos mais estruturados. Muitas das vezes a escola não oferece oportunidades, espaços para a prática da brincadeira livre, e quase sempre, impede que aconteça. Seria valoroso que a escola se apropriasse da brincadeira, porque isso traria resultados mais relevantes e adequados às necessidades do mundo de hoje. Apesar da sua importância, a prática da brincadeira na pré-escola ainda tem o estigma de ser apenas preparatória para a escola, sem valor pedagógico ou como um passatempo. De acordo com Borba (2007): A brincadeira é uma palavra estritamente associada à infância e às crianças. Porém, ao menos nas sociedades ocidentais, ainda é considerada irrelevante ou de pouco valor do ponto de vista da educação formal, assumindo freqüentemente a significação de oposição ao trabalho, tanto no contexto da escola quanto no cotidiano familiar. (2007, p.34) Então, podemos dizer que isso é uma difícil tarefa a ser resolvida, porque nem sempre a instituição de ensino atribui o devido valor ao brincar, o que acontece no máximo é integrar a brincadeira fazendo uma atividade dirigida, e também depende do profissional de educação estar preparado para mudanças e usar isso no seu cotidiano. 2.4. O LÚDICO: BREVE HISTÓRICO Ao longo da história da humanidade o lúdico vem contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento psico-social e cultural da criança como recurso na transmissão de conhecimentos, valores, crenças e divertimentos. Compreendido dessa forma o lúdico assume importante papel no contexto social. Sobre este aspecto afirma Por isso afirma Kishimoto a respeito de Huizinga (2003). O lúdico é uma atividade antiga praticadas por sociedades primitivas, considerada como uma atividade cultural, com suas definições menos rigorosa e muito mais ampla, para buscar a essência e o prazer de brincar. Com isto chegou a chamar o homem de “homo Ludens” (homem que brinca), para ele a capacidade de jogar e brincar são tão importantes para a nossa espécie quanto o raciocínio e a construção de objetos. (2003, p.32). Com a evolução dos tempos em Roma e na Grécia antiga surge um novo sentido do lúdico. Um dos maiores pensadores da humanidade, segundo Lima (2008, p. 03), foi Platão (427 – 348), e este afirmava que os primeiros anos da criança deveriam ser ocupados com jogos educativos, praticados em comum pelos dois sexos, que deveriam aprender brincando. Platão dava ao jogo, tão difundido na época, valor educativo e moral, colocando o lúdico em pé de igualdade com a cultura intelectual, destacando a contribuição do mesmo na formação do caráter e da personalidade da criança. Com avento do Cristianismo, doutrina religiosa fundamentada nos ensinamentos de Jesus Cristo, os jogos perdem seu valor educativo, isso porque as escolas episcopais buscavam a imposição de dogmas sem considerar o desenvolvimento da inteligência. Na abordagem de Lima (2008, p. 03), o lúdico passa a ser considerado profano. Nesta concepção o mestre apenas recita e os alunos decoram sem considerar o lúdico como recurso importante na educação da criança. A partir do século XVI, com o movimento Humanista, o Lúdico passa novamente a ter um sentido educativo. Os Jesuítas foram os primeiros a recolocar o jogo como recurso educativo. Podem-se destacar como grandes acontecimentos do século XVI a criação do instituto dos Jesuítas. Inácio de Loiola um dos líderes da companhia de Jesus resgata a importância dos jogos para a formação do ser humano e defende sua utilização no sistema educativo. Durante o Renascimento, movimento que marca o nascimento do mundo moderno e de um novo homem dotado de concepções filosóficas, artísticas, literárias e científicas, ocorre também um novo ideal de lúdico. Leva-se em consideração a felicidade terrena e o desenvolvimento do corpo. Assim, de acordo com estudos de Kishimoto (2006, p. 28), reabilita-se o jogo, que deixa de ser objeto de reprovação, sendo incorporado ao cotidiano, não só como diversão, mas como tendência natural do ser humano. Com o passar dos tempos, surge no cenário educacional defensores do lúdico na formação da criança. Dentre eles pode-se destacar: Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Froebel, Dewey, Decroly, Montessori, Piaget e Vygotsky. Na abordagem de Kishimoto (2006, p. 29) a respeito de Montaigne a observação através do lúdico é fator importante para despertar nas crianças curiosidade; para ele o jogo é um instrumento de desenvolvimento da linguagem e do imaginário, privilegiando os jogos que valorizam a escrita. Lima (2008. p. 03), ao referir-se a Comênio, enfatiza a relevância das imagens para a criança. Segundo o autor, o método de Comênio, fundamentava-se em três idéias que foram as bases da nova didática: naturalidade, intuição e auto-atividade. Levam em conta ainda as leis do desenvolvimento da criança possibilitando rapidez e consistência no aprendizado. Cerizara (2001, p.142), a referir-se a análise de Rousseau, demonstrou que a criança tem maneiras de ver, de pensar e de sentir que lhes são próprias. Cada idade, cada etapa da vida tem sua perfeição conveniente à espécie de maturidade que lhe é própria. Rousseau ainda ressalta que a educação não vem da força, é expressão livre da criança. Foi o crítico da escola de seu tempo, da sociedade, da intuição e do uso da memorização e propôs para as crianças uma educação que priorizasse as brincadeiras de acordo com sua realidade e de sua natureza própria. Em abordagem similar, Lima (2008, p. 03), ao referi-se aos estudos de Pestalozzi, defende que o jogo é um fator decisivo para o desenvolvimento da criança, pois enriquece o senso de responsabilidade e as normas de cooperação. Ainda Kishimoto (2006, p. 60) sobre Froebel, defende que a criança é capaz de criar, mediante estímulos. A partir dela se estabelecem os métodos lúdicos naeducação. Para autora, a melhor forma de conduzir as crianças as atividades seria através dos jogos de construção. Neste sentido, afirma Kishimoto (2006, p.40): “Os jogos de construção são considerados de grande importância por enriquecer a experiência sensorial, estimular a criatividade e desenvolver habilidades da criança”. Neste sentido, Lima (2008, p. 04) fazendo uma releitura dos pensamentos de Dewey, nos remete a idéia de que o jogo faz parte do ambiente natural das crianças e é o fator decisivo para assegurar o desenvolvimento cognitivo, já que o mesmo é algo espontâneo e inevitável. Segundo Lima (2008), devem-se preparar as crianças para a vida futura levando-as a ter domínio de si mesmas e uso pleno de suas capacidades. Kishimoto (2006, p. 40) ao enfatizar as contribuições de Montessori a respeito do lúdico, destaca a necessidade do lúdico para a educação de cada um dos sentidos. Ainda sobre este aspecto, Kishimoto (2006, p.113) quando analisa os estudos de Decroly, afirma que suas idéias representam um conjunto de materiais destinados à educação, destacando as infinitas funções dos jogos e os eixos que devem nortear as ações lúdicas para aquisição de novas informações no processo ensino aprendizagem, visando o desenvolvimento da percepção, motricidade e raciocínio, dentre outas habilidades. Kishimoto (2006, p. 32) analisando a teoria Piagetiana destaca os diversos fatos e experiências desenvolvidas por Piaget junto às crianças. Segundo a autora, para Piaget os jogos não são apenas uma forma de desafio ou entretenimento para gastar energia, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual da criança. Sobre Vygotsky, Kishimoto (2006, p. 32), analisa o lúdico e sua importância no processo de interação social das crianças e nos remete a uma visão primordial no contexto sociocultural em que as crianças estão inseridas, onde o desenvolvimento cognitivo das mesmas só será eficaz se for através da interação com este mesmo contexto. A revisão bibliográfica relativa a historicidade do lúdico, evidencia premissas teóricas que destacam que os objetivos das atividades lúdicas são a estimulações das relações cognitivas, afetivas, verbais, psicomotoras e sociais da criança. Neste sentido, o lúdico faz do ato de educar um compromisso consciente, intencional e modificador da sociedade. No entanto, ao compreender a importância do lúdico na vida das crianças estamos convictos que as atividades que elas realizam em cada contexto para se divertir, retratam de certa forma a cultura lúdica dos povos. Neste sentido é através das atividades lúdicas que a criança constrói seu vocabulário “linguagem oral e psicomotor linguagem escrita e o psicológico”, dando ênfase nas atividades espontâneas e criativas para estimular a essência e o prazer de brincar. Contudo, apresar da existência de uma vasta bibliografia sobre atividade lúdica, na realidade este estudo pouco influenciado na prática da educação infantil. Daí a relevância de mostrar a importância do lúdico no cotidiano das práticas de Educação Infantil. Nesta perspectiva, o lúdico se caracteriza por uma prática que valoriza a criatividade, sensibilidade e a afetividade da criança no espaço escolar infantil. A própria escola, pode contribuir para a difusão e o interesse dos jogos e brincadeiras que são elementos tão importantes para a preservação da cultura infantil dentro do processo educacional especificamente na educação infantil, e a qual se refere a presente pesquisa. De acordo com Lopes (2005) o jogo para criança é o exercício, e a preparação para a vida adulta. A criança aprende brincando, é o exercício que faz desenvolver sua potencialidade, convém ressaltar então que o lúdico assume um papel importante no desenvolvimento social, cognitivo, afetivo e cultural da criança. 2.5. BREVE RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO LÚDICA O ato de brincar é tão antigo quanto o ser humano. Alguns autores afirmam que esse ato não se limita apenas à humanidade, seria anterior inclusive ao próprio homem, pois já eram praticados por alguns animais. Johan Huizinga (1992) já firmava que os animais brincam tal qual o homem, o que permite perceber que brincar, além de ser uma antiga atividade, é uma necessidade natural inerente tanto ao ser humano, quanto aos animais. Buscando relacionar-se com os outros membros da sociedade, o homem encontra na brincadeira uma forma de expressar-se, estreitando assim, laços de amizade e união entre si. Dessa maneira, as brincadeiras vêm difundir-se com maior intensidade na Idade Média, onde o brincar era comum a toda sociedade sem discriminação de idade ou classe social, onde todos participavam igualmente, sendo comumente realizadas nas festas tradicionais próprias da época. Nesse sentido, o lúdico é a manifestação da cultura humana na perspectiva da própria continuidade da espécie. Analisar este fenômeno, é ainda analisar o próprio sentido da educação e a importância desta no aprendizado e desenvolvimento infantil, como condição primeira à formação integral do indivíduo, indispensável ao processo de socialização e interação entre os semelhantes na busca da harmonia e da convivência fraterna. Os jogos e as brincadeiras eram realizados tanto pelos meninos como pelas meninas, sendo os brinquedos comuns para ambos os sexos, no geral confeccionados no próprio ambiente familiar de forma artesanal. A maioria dos brinquedos tem origem também na Idade Média, primeiramente utilizados pelos adultos e posteriormente pelas crianças na perspectiva de imitar os adultos, como é o caso do cavalo-de-pau, que surgiu por ser o cavalo o principal meio de transporte da época, a boneca, que é um dos brinquedos mais antigos e difundidos em todas as culturas, além de muito apreciado pelas crianças. Os bibelôs, também considerados brinquedos, e as miniaturas como os moveizinhos, faziam parte não só do mundo infantil, como serviam para enfeitar as salas das casas e serem expostos em vitrines; já os bonecos e fantoches, serviam para divertir as pessoas, através da representação de personagens populares. Outros brinquedos, faziam parte de festas religiosas como o balanço, onde as meninas eram empurradas simbolizando o ritual da fertilidade. A domesticação de pássaros, muito comum ainda hoje, surgiu do costume de se enfeitar pássaros de madeira, os quais eram levados de casa em casa por crianças, em troca de presentes. Esta cerimônia fazia parte de uma festa tradicional muito apreciada na época. Posteriormente, essas atividades lúdicas, realizadas com participação dos adultos juntamente com as crianças, perderam seu caráter religioso e comunitário, adquirindo características individuais restritas às crianças. A relação direta que se estabelecia entre a criança e o adulto na Idade Média estava ligada ao fato das brincadeiras terem um papel significativo na educação daquele tempo, posto que as escolas eram poucas e destinadas, em sua maioria, ao clero. Deste modo, as crianças aprendiam brincando entre si e em companhia dos mais velhos. Na sociedade medieval, não existia um sentimento de infância, ou seja, uma consciência das particularidades infantis que diferenciam a criança do adulto; não havia distinção. Com a evolução da sociedade, desenvolveram-se novos sentimentos sobre a família e a infância. No século XVII, surge a preocupação de preservar e disciplinar as crianças; o que também refletiu na família, surgindo novas formas de organização da família e da educação. A escola aparece como Instituição Social que, aliada a família, tem grande importância na formação moral e espiritual das crianças. É nessa nova perspectiva educacional é que alguns jogos não são permitidos por serem impróprios às crianças. A atitude de reprovação ao uso dos jogos modificou-se ao longo da evolução social onde se percebeu o caráter educativo dos mesmos. Passou-se então apermitir o uso de alguns jogos nas escolas, com a preocupação moral e como forma das pessoas obterem a higiene do corpo e também como treino de rapazes para a guerra. Havendo, dessa forma, uma relação positiva referente ao jogo como fonte de instrução e saúde, assim como sua classificação de acordo com a idade. No século XIX, com a Revolução Industrial e a expansão do capitalismo, entra em cena uma nova classe social, a operária, formada por pessoas da sociedade urbana e de baixa renda, objetivando melhores condições de vida, o que na realidade não ocorreu, ao contrário, acentuou-se a exploração, aumentando o antagonismo entre as classes. Com a crescente industrialização, intensificou-se o processo de urbanização, ocasionando mudanças no cotidiano das cidades. Há separação da vida da criança da vida do adulto, interferindo no desenvolvimento do aprendizado infantil; mudam-se também as brincadeiras infantis, já que houve uma redução do espaço físico, impedindo que as crianças brincassem na rua devido às faltas de espaço, de tranqüilidade e de segurança. Aliado ao espaço físico, há também a redução do tempo da família, com a inserção da mulher no mercado de trabalho e o preenchimento do tempo infantil pela televisão. Com o incremento da indústria, o brinquedo passa a ser mercadoria de consumo, em detrimento dos artesanais que antes eram fabricados pelas próprias crianças, havendo assim, uma relação direta com o brinquedo, o que não ocorre com o industrializado, onde uma preocupação com a produção em série para atender à demanda dos centros urbanos em expansão. Os novos brinquedos utilizados pelas crianças são totalmente desvinculados do real significado do ato de brincar, são considerados perfeitos, transportando à criança a função de mero espectador passivo, são objetos caros, desprovidos de imaginação, despertando na criança apenas o interesse imediato de tê-lo e a curiosidade de destruí-lo para saber o que se encontra no seu interior. Alguns reproduzem a violência característica de nossos dias atuais, graças a intensa massificação de valores e idéias proporcionados pela mídia. O processo de industrialização destruiu não apenas o lado criativo do brincar infantil, como ocasionou o esquecimento das brincadeiras realizadas nas ruas visto que, com o preenchimento do espaço urbano pelo tráfego de veículos e pessoas, não é permitido que se brinque como antes, sendo assim, a relação estabelecida anteriormente no cotidiano social, perde-se na modernidade do século XX. No Brasil, a modernização surge em meio ao atraso cultural e tecnológico, tendo sua origem no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Ocorre neste período grandes transformações, reduzindo o espaço até então freqüentado por crianças, como forma de estreitar os laços de amizade e sociabilidade entre as crianças, que tinham sua diversão voltada para as ruas e os quintais de suas casas. Neste período a vida das crianças, transcorria numa relação direta como meio ambiente, brincava-se livremente nas ruas de amarelinha, lenço-atrás, pula-corda, pipas, bolas feitas de meia, brincadeiras estas que favoreciam a integração, influenciando diretamente no aprendizado e desenvolvimento infantil. Atualmente, o caráter lúdico da educação tende a especializar-se sob novas formas de jogos e brincadeiras, levando-se em conta o avanço descontrolado da tecnologia, impulsionando a educação de crianças e adultos, para o atendimento das expectativas do final do milênio. Vale ressaltar que, apesar do avanço tecnológico ocorrido no decorrer dos tempos, na sociedade atual, ainda persistem aspectos da vida passada, pois encontramos nas ruas crianças brincando de futebol, de roda e de amarelinha, é claro que não com a mesma intensidade e liberdade de antes, mostrando que as brincadeiras existentes no passado não foram totalmente esquecidas. Sobre este aspecto refere-se Friedmann (2000): Cada geração de crianças transforma brincadeiras antigas, ao mesmo tempo em que criam as suas próprias, específicas. Assim usando o antigo e o novo, cada geração tem suas próprias características e padrões de sensibilidade. Na sociedade infantil, a atividade lúdica é a forma através da qual essa sensibilidade e potencial são liberados e modelados, o que outorga à mesma um papel importante nas realizações culturais e sociais. (2000, p. 39) 2.6. O BRINCAR E SUA IMPORTÂNCIA NA APRENDIZAGEM As razões para brincar, quando consideramos o brincar como uma característica da infância, compreenderemos que o lúdico é extremamente importante para o desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo e social da criança. É brincando que a criança expressa vontades e desejos construídos ao longo de sua vida, e quanto mais oportunidades a criança tiver de brincar mais fácil será o seu desenvolvimento. Segundo Carneiro e Dodge (2007, pág. 59), “... o movimento é, sobretudo para criança pequena, uma forma de expressão e mostra a relação existente entre ação, pensamento e linguagem”. A criança consegue lidar com situações novas e inesperadas, e age de maneira independente, e consegue enxergar e entender o mundo fora do seu cotidiano. Atualmente as crianças entendem por brincadeira os jogos eletrônicos, fazendo com que as mesmas não se movimentem e as deixando estáticas e com isso vão ficando sedentárias e obesas. Com as brincadeiras tradicionais, como, por exemplo, pular corda, elástico, pique alto, etc, fazem com que as crianças se movimentem a todo tempo, gastando energia e dando liberdade para criar proporcionando alegria e prazer. As razões para brincar são inúmeras, posto que a brincadeira só faz bem, e só não entendemos porque em muitos lugares isso incomoda tanto algumas pessoas, pais, professores, uma vez que o brincar é um direito da criança, conforme preconiza a Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente, que no seu Capítulo II, Art. 16°, Inciso IV, fixa que toda criança tem o direito de brincar, praticar esportes e divertir-se. Portanto, a criança tem o direito de brincar, pois está amparada por lei, e esta é mais uma razão para brincar, além das inúmeras que já citamos, porque o brincar favorece a descoberta, a curiosidade, uma vez que auxilia na concentração, na percepção, na observação, e, além disso, as crianças desenvolvem os músculos, absorvem oxigênio, crescem, movimentam-se no espaço, descobrindo o seu próprio corpo. O brincar tem um papel fundamental neste processo, nas etapas de desenvolvimento da criança. Na brincadeira, a criança representa o mundo em que está inserida, transformando-o de acordo com as suas fantasias e vontades e com isso solucionando problemas. Para Cunha (2000), o brincar é uma característica primordial na vida das crianças, porque é bom, é gostoso e dá felicidade Além disso, ser feliz e estar mais predisposto a ser bondoso, a amar o próximo e a partilhar fraternalmente, são outros pontos positivos dessa prática. Na teoria piagetiana, a brincadeira não recebe uma conceituação específica. Na análise de Piaget (1971), a brincadeira é entendida como ação assimiladora, e surge como forma de expressão da conduta, dotada de características espontânea e prazerosa, onde a criança constrói conhecimentos. Para Piaget (1971), quando brinca, a criança assimila o mundo à sua maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interação com o objetivo não depende da natureza do objeto mas da função que a criança lhe atribui. O brincar representa uma fase no desenvolvimento da inteligência, marcada pelo domínio da assimilação sobre a acomodação, tendo como função consolidar a experiência passada. No entanto, para Vygotsky, os processos psicológicos são construídos a partir de injunções do contexto sociocultural. Seus paradigmas para explicitar a brincadeira infantil, localizam-se na filosofia que concebe o mundo como resultado de processos históricosociais que alteram não só o modo de vida da sociedade mas inclusive as formas de pensamento do ser humano. Já para os freudianos, a brincadeira infantil é o meio de estudar a criança e perceber seus comportamentos. De acordo com estudos realizados por Moura (1991), a importância do jogo, do brincar, está nas possibilidades de aproximar a criança do conhecimento científico, levando-a a vivenciar situações de solução de problemas que a aproximem daquelas que o homem enfrenta ou enfrentou. Ainda segundo Antunes (2003), as brincadeiras constituem extraordinário instrumento de motivação, uma vez transformam o conhecimento a ser assimilado em um recurso de ludicidade e em sadia competitividade. Antunes (2003) também considera que professores erram ao ensinar seus alunos, pois não os ensinam a ouvir, a concentrar-se, a exporem com objetividade suas idéias. Acredita que o emprego de jogos na aprendizagem, contribui poderosamente, pois, na análise de Antunes (2003): ... desta forma, antes de iniciarmos a criança na aprendizagem de operações aritméticas, por exemplo, é interessante levá-la a exercitar, através de brincadeiras lúdicas, seu senso de raciocínio e sua capacidade de abstração; da mesma maneira como é interessante jogarmos com a criança práticas visuais e verbais, antes de iniciá-la nas regras da Comunicação e Expressão ou nos fundamentos da Arte. Alunos que brincam com jogos que operacionalizam suas reflexões espaciais e temporais aprendem mais facilmente Geografia e História, enquanto que jogos voltados para o aprimoramento da capacidade de concentração da criança facilitam em diversos aspectos em sua futura missão estudantil. (2003, p. 15) Antunes (2003, p. 140) enfatiza, que os jogos lúdicos, se praticados ocasionalmente ou em desacordo, representam apenas inocentes e inconseqüentes momentos de alegria. Mas, se visam um plano específico e são propostos em gradativos níveis de dificuldades, podem contribuir bastante para aprimorar conhecimentos, pois entende que a criança, ainda que dotada de instintos, é um ser em permanente busca de aprimoramento e que tais aprimoramentos, somente são eficientes se propostos de forma agradável, envolvente, mas, sobretudo motivador. Na abordagem da psicologia cognitiva, a criança constrói um conceito através de um processo lento e gradual. Daí a necessidade de iniciá-la informalmente, desde cedo, por meio de jogos, em atividades manipuláveis e de exploração espontâneas e intuitivas. Quando a criança brinca livremente com objetos e materiais consta-se suas diferenças e semelhanças, podendo assim, afirmar que a criança aprende muito enquanto joga e brinca. Atitudes e situações assim estimulam a criança a pensar por si própria e a elaborar cada vez mais sua rede interna de conhecimento. Expor desafios e atingir princípios como a construir e desenvolver a inteligência. Numa visão construtivista, isso significa ser capaz de adaptar-se às demandas do ambiente, transformando o pensamento em ação e ação em movimento. Sobre este aspecto, Piaget (1971) considera que os jogos e brincadeiras facilitam a construção do conhecimento, tornando-se prazeroso e desejável por todos. Assim, a criança se sente segura em relação às outras e a ela mesma, capaz de lançar hipóteses e curiosidades sobre o meio. Portanto, o jogo e a brincadeira permitem o relacionamento da criança com o objeto num processo interacionista, onde a assimilação remite a adaptação das ações dos mesmos, provocando e encarando uma acomodação com o objeto. 2.7. JOGOS E BRINQUEDOS NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA: CONTRIBUIÇÕES DAS FASES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL – PIAGET O entendimento da aprendizagem infantil e sua importância no processo de formação da criança requerem uma compreensão do valor educativo dos jogos e brinquedos neste processo, pois os mesmos devem estar adequados ao interesse, às necessidades e às capacidades da etapa de desenvolvimento, na qual a criança se encontra. O desenvolvimento infantil decorre de princípios básicos que o regulam. Estes princípios, universais, ocorrem em crianças em todas as faixas econômicas e culturais. Os princípios são os seguintes: • O desenvolvimento segue em direção cefalocaudal; • O desenvolvimento segue em direção próximo-distal, da região central para as extremidades; • O desenvolvimento provoca a aquisição a princípio de comportamentos mais gerais, passando posteriormente a comportamentos mais específicos e diferenciados; • O desenvolvimento implica uma evolução, passando de comportamentos simples a operações coordenadas com intuito de atingir uma meta; • O desenvolvimento ocorre numa sucessão de estágios • Um determinado estágio é produto dos seus antecedentes e será um preparo paro o estágio subseqüente. Cada criança tem seu ritmo próprio de desenvolvimento e características pessoais que a diferem das demais. Embora os estágios do desenvolvimento, pelos quais toda criança passa, sejam semelhantes, à época e a forma como ele se processa pode variar bastante. Nesse sentido, é fundamental o conhecimento das etapas ou estágios do Desenvolvimento Infantil, enquanto componente do desenvolvimento integral do homem. Para essa análise, tomou-se como base de referência teórica, os fundamentos de Piaget (1971), que enfatiza as características básicas da criança em cada estágio do desenvolvimento infantil. Na concepção Piagetiana, o desenvolvimento infantil inicia-se no desempenho psicomotor, de forma atingir níveis mais complexos, alcançando o que denominam-se, conforme Piaget (1971), de Operações Formais, que culminarão com o desenvolvimento do adolescente a partir dos 12 (doze) anos de idade, conforme podemos identificar no quadro a seguir, adaptado para este estudo: ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET Períodos ou Estágios de Desenvolvimento Características ⇒ Sensório Motor (0 a 2 anos) • Comportamentos reflexos (0 à 1 mês) • Reações circulares primárias (1 à 4 meses) • Reações circulares secundárias (4 à 8 meses) • Coordenação de esquemas secundários (8 à 12 meses) • Reações circulares terciárias (12 à 18 meses) • Invenções de novos meios através de combinações mentais (18 a 24 meses) ⇒ Operações Concretas (2 a 12 anos) • Pré Operacional (2 à 7 anos) • Pré Conceitual (2 à 4 anos) • Intuitivo (4 à 7 anos) • Operações Concretas (7 à 12 anos) ⇒ Operações Formais (12 anos em diante) • Desenvolvimento do pensamento abstrato e concreto (uso da razão e da lógica) O Estágio Sensório Motor compreende a atividade lúdica sob a forma de simples exercícios motores que, através da repetição, conduz a criança ao prazer de dominar o que aprendeu; esses exercícios de caráter exploratório, conduzirão a criança sentir a necessidade de utilizá-los repetidamente, por mero prazer funcional. Os exercícios interiorizados servirão de base para a construção de condutas mais complexas. Nesta fase é indispensável o contato com os adultos visando o crescimento e desenvolvimento das relações sociais. É justamente esse contato afetuoso e estimulante do adulto com a criança que caracteriza o primeiro sinal de uma verdadeira Educação Lúdica. O Estágio das Operações Concretas compreende a Fase Pré Operacional e a Fase das Operações Concretas propriamente dita. A primeira representada na natureza simbólica e intuitiva das manifestações lúdicas. A Natureza Simbólica (também denominado de Fase Simbólica ou Pré Conceitual), representadas nos jogos de ficção, imaginação ou imitação, incluindo-se a transformação de objetos. O jogo simbólico desenvolve-se a partir de esquemas sensório-motores que, na medida que são interiorizados, dão origem a imitação e, posteriormente, à representação. Neste sentido, o jogo simbólico tem como função assimilar a realidade, seja através dos conflitos, da compensação de necessidadesnão satisfeitas ou da simples inversão de papéis. É o transporte a um mundo de faz-de-conta que possibilita a criança realizar seus sonhos e fantasias. O jogo simbólico é simultaneamente, uma forma de assimilação do real e um meio de auto-expressão. Através da atividade lúdica, a criança expressa sua forma de pensar, organizar e desorganizar, de modo simbólico, demonstrando sentimentos, vontades e fantasias. A natureza intuitiva das manifestações lúdicas (também denominada de Fase Intuitiva) é a fase onde a criança imita e quer saber de tudo (Fase do Porquê). A criança passa a transformar o real em função das múltiplas necessidades do EU, a partir de exercícios psicomotores e simbólicos. Os jogos e brincadeiras passam a ter uma seriedade absoluta na vida das crianças e um sentido funcional e utilitário. Nesta fase a criança se reúne com outras para brincar, porém é resistente às regras, ocasionando desentendimentos constantes. Neste sentido, a família e a escola devem proporcionar um ambiente rico de informações para facilitar e estimular o desenvolvimento da criança, porém, nunca forçá-la a assimilar nada além daquilo que é capaz de fazer com prazer e naturalidade. Na Fase Intuitiva, a criança define praticamente grande parte do seu desenvolvimento físico, mental e afetivo (equilíbrio emocional e social), onde a participação e a postura do adulto são importantíssimas. A segunda, representada na Fase das Operações Concretas Propriamente Ditas, corresponde na vida escolar à Alfabetização e as Séries Iniciais do Ensino Fundamental. É o período escolar de aprendizagem infantil por excelência, onde a criança incorporará os conhecimentos sistematizados, passando a ter consciência de seus atos e a cooperar com seus semelhantes, agindo de forma inteligente, com certa lógica, discernindo o certo e o errado. Nessa fase, os jogos e brincadeiras transformam-se em construções adaptadas, exigindo sempre mais o trabalho efetivo e participativo no processo de aprendizagem que começa a sistematizar o conhecimento existente. A partir desta fase, as brincadeiras os jogos construtivos, bem como os brinquedos, aparecem sempre em forma de interação social, munidos de regras. O jogo de regras se origina essencialmente de dois recursos intimamente ligados: a inteligência operacional concreta e o domínio de um código transmitido de geração em geração; permitindo que a criança tenha acesso a um universo social institucionalizado (normas, regras, leis impostas pela sociedade). A interação entre inteligência operacional + regras, permite a socialização. A partir deste estágio, a escola assumirá importante significado para vida da criança, cabendo aos adultos possibilitar-lhes o exercício da liberdade e da responsabilidade, encorajando-a às práticas criativas e dinâmicas do lúdico. O Estágio das Operações Formais compreende a concretização do período de maturação infantil representado no exercício do domínio da razão, dando início ao período da Puberdade, caracterizado pelos impactos dos Jogos Sexuais, além do total aperfeiçoamento e especialização das atividades lúdicas. Outro teórico que oferece-nos importantes considerações quanto as fases do desenvolvimento humano é Vygotsky (1991), ao referir-se ao processo de construção da linguagem humana, razão pela qual destaca o significado dos símbolos, enfatizando sua importância na análise dos sistemas simbólicos e o processo de internalização. Assim, a linguagem é o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos, sendo indispensável à atividade lúdica. A questão do desenvolvimento da linguagem e suas relações com o pensamento e construção do lúdico, é um dos temas centrais das investigações de Vygotsky (1991), que destaca da seguinte forma sua importância: A transmissão racional e intencional de experiências e pensamentos, requer um sistema mediador cujo protótipo é a fala humana, oriunda da necessidade de intercâmbio durante o trabalho. Assim, a verdadeira comunicação humana, pressupõe uma atitude generalizante, que constitui um estágio avançado do desenvolvimento do significado da palavra e seus diferentes jogos de linguagem. (1991, p. 47) Como podemos observar, o signo (linguagem) exerce uma função mediadora nas atividades humanas também representadas nas atividades lúdicas. Uma espécie de instrumento psico-físico indispensável à sobrevivência, lembrando-se que o signo pode manifestar-se de diferentes formas (verbal, escrito, simbólico, mímica, etc.). Segundo Vygostsky (1991), no decorrer do desenvolvimento humano, ocorrem duas mudanças fundamentais no uso do signo e que passam orientar a atividade lúdica: • A utilização dos signos externos que se transformam em processos internos de mediação (processo de internalização); • O desenvolvimento de sistemas simbólicos sob a forma de estruturas/organizações mais complexas e articuladas. Esta última é fundamental para o desempenho dos processos mentais superiores e, conseqüentemente para as atividades lúdicas na aprendizagem infantil, evidenciando a importância das relações sociais entre os indivíduos na construção dos processos psicológicos. Assim, os aspectos afetivos e cognitivos da aprendizagem suscitados por Piaget (1971), representam na concepção de Vygotsky (1991), processos mentais superiores em detrimento dos aspectos psicomotores de domínio da linguagem. Na sua análise, Vygotsky (1991) relaciona duas importantes expressões: pensamento e linguagem. O pensamento representa a criação interna, orientado inicialmente pelos instintos. A linguagem é a manifestação e/ou expressão do pensamento que, nos níveis mais elevados do seu desempenho, possui o duplo caráter intencionalidade-racionalidade, favorecendo o “intercâmbio social nas espécies superiores”; no caso humano traduz-se na transformação do meio físico-social e na ação coletiva. No Desenvolvimento da Linguagem, Vygotsky (1991) destaca duas fases distintas: a) Pré- linguística do pensamento; b) Pré-intelectual da linguagem. A primeira refere-se ao momento inicial do ser humano, com ênfase aos aspectos psicomotores e a utilização da “inteligência prática” a partir de instrumentos próprios com destaque aos impulsos do instinto, representado em inúmeros jogos lúdicos. Representa os mecanismos básicos de sobrevivência, independentes da linguagem e que priorizam a capacidade de solução de problemas e de alteração do ambiente para obtenção de determinados fins. Esta fase é ainda observável na maioria das espécies animais e correspondem às fases sensóriomotora e simbólica, preconizadas na Teoria do Desenvolvimento Infantil de Piaget (1971). A segunda refere-se à especialização da fase anterior, onde os aspectos psicomotores atingem pleno desenvolvimento, favorecendo o exercício das atividades cognitivas propriamente ditas, onde os impulsos dos instintos passam a ser secundários. Constitui-se, pois, na fase de domínio dos diversos signos, especialmente da fala, indispensável ao intercâmbio social, favorecendo o planejamento de ações coletivas. O surgimento do pensamento verbal e da linguagem como sistema de signos, é um momento crucial no desenvolvimento da espécie humana, momento em que o biológico transforma-se em sócio histórico, proporcionando aumento nos níveis de satisfação emocional. Vale ressaltar que a ludicidade na sua essência além de contribuir para o entendimento da importância da Aprendizagem Infantil, traz importantes contribuições para a compreensão do processo de formação da criança e do adolescente, possibilitando contribuir para o seu desenvolvimento psicossocial como um todo. 2.11. IMPORTÂNCIA DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS O jogo sempre foi uma característica do ser humano e, dessa forma, deve fazer parte também de suas atividades educativas. Assim é que, segundo Kishimoto (1998): Do ponto de vista histórico, a análise do jogo é feita apartir da imagem da criança presente no cotidiano de uma determinada época. O lugar que a criança ocupa num contexto social específico, e a educação a que está submetida e o conjunto de relações sociais que a mantém com personagens do seu mundo, tudo isso permite compreender melhor o cotidiano infantil - é nesse cotidiano que se forma a imagem da criança e do seu brincar. (1998, p. 43) Sua importância e utilização na educação das crianças dá-se historicamente desde a Grécia Antiga com o pensador Platão e a partir dai com os egípcios, romanos, maias e mais tarde com os Humanistas (Séc. XVI), teóricos da educação e estudiosos da Pedagogia Ativa como Dewey, Montessori, Rosseau, Froebel, Piaget, Frinet e Paulo Freire, dentre outros. Esta importância sempre foi percebida, principalmente quando se apresenta como fator essencial na construção da personalidade integral da criança. Quando a criança brinca, explora e manuseia tudo aquilo que está à sua volta, através de esforços físicos e mentais e sem se sentir coagida pelo adulto, começa a desenvolver sentimentos de liberdade e satisfação pelo que faz. Segundo Araújo (1992, p. 36): “Jogo é uma atividade espontânea e desinteressada, admitindo uma regra livremente escolhida, que deve ser observada, ou um obstáculo deliberadamente estabelecido, que deve ser superado”. Desta forma, através do jogo a criança busca o prazer e, o jogo é causa de prazer porque da ilusão, satisfaz imediatamente os desejos infantis. Ele permite esforço e conquista, por isso é motivo de prazer. No jogo individual ou coletivo, a criança ao escolher ou recusar uma atividade, ao decidir qual a forma de realizar essa atividade, ao demonstrar sua capacidade de continuidade e de esforço, estará espelhando sua personalidade. Dai resulta a importância do jogo no processo da formação lúdica dos indivíduos e conseqüentemente da aprendizagem infantil. A infância é dominada pelo jogo. Sua carência pode favorecer neuroses infantis que se desencadearão até a fase adulta, uma vez que não foram superados suficientemente, os níveis de agressividade, competividade, etc. Desta forma o jogo se torna fundamental na vida da criança como instrumento indispensável ao seu pleno desenvolvimento, enquanto recurso de integração, socialização e de superação de inúmeros desajustamentos de ordem psicossocial, ao mesmo tempo em que estimula a criatividade, raciocínio, investigação, etc. Nesse sentido, todas as atividades desenvolvidas no âmbito da aprendizagem infantil devem partir do jogo como recurso de desafio à participação ativa das crianças na expectativa de construção do conhecimento. A partir dos estudos de Stern (1993), os Jogos podem ser classificados conforme o quadro a seguir, adaptado para este estudo a partir de referências teóricas propostas por Cunha (2000), ao referir-se aos Estágios de Desenvolvimento Infantil propostos por Piaget (1971) relacionados no quadro anterior. JOGOS E SUA IMPORTÂNCIA NA APRENDIZAGEM INFANTIL Categorias ou Classificação Características ⇒ Jogos Solitários • A criança brinca sozinha, escolhe seus equipamentos e/ou brinquedos de acordo com critérios de utilização que lhes são próprios ⇒ Jogos Paralelos • representam o conjunto de jogos em que a criança brinca com os mesmos brinquedos semelhantes aos que outras brincam a sua volta, sem contudo interagir ⇒ Jogos Cooperativos • Representam o conjunto de jogos em que a criança interage com outras, trocando idéias e/ou estabelecendo novos critérios de utilização dos brinquedos, ou simplesmente realizando a mesma atividade Os jogos representam recursos didáticos de grande valor na aprendizagem infantil, pois a criança aprende melhor brincando e todos os conteúdos podem ser ensinados através da brincadeira e jogos. Segundo Piaget (1971, p. 57): “Os jogos não são apenas uma forma de entretenimento para gastar energias das crianças, mais meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual”. A idéia de aplicar o lúdico na aprendizagem infantil difundiu-se principalmente a partir do advento do Movimento Escolanovista. Nesta perspectiva, o brinquedo surge para enriquecer e implementar a atividade lúdica juntamente com os jogos, desenvolvendo assim, relevante papel no que concerne às atividades cotidianas das crianças. Almeida (1990), faz referência ao brinquedo quando afirma que: O brinquedo faz parte da vida da criança. Ele simboliza a relação pensamento x ação e, sob este ponto, constitui provavelmente a matriz de toda atividade lingüística, ao tornar possível o uso da fala, do pensamento e da imaginação. (1990, p.43) Ainda quanto esta importância do brinquedo e das brincadeiras na aprendizagem infantil e o desenvolvimento da linguagem, refere-se Cunha (2000, p. 23): “O brinquedo e as brincadeiras são excelentes oportunidades para nutrir a linguagem da criança. O contato com diferentes situações estimula também a linguagem interna e o aumento do vocabulário”. O entusiasmo da brincadeira faz com que a linguagem verbal se torne mais fluente e haja maior interesse pelo conhecimento de palavras novas. A variedade de situações que o brinquedo possibilita pode favorecer a aquisição de novos conceitos. A participação de um adulto, ou criança mais velha, pode enriquecer o processo; a criança faz experiências descobrindo as leis da natureza, o adulto introduz novos conceitos por ela vivenciados, complementando assim,a sua integração. Ainda quanto esta importância do brinquedo e das brincadeiras na aprendizagem infantil e o desenvolvimento da linguagem, refere-se Cunha (2000): O brinquedo e as brincadeiras são excelentes oportunidades para nutrir a linguagem da criança. O contato com diferentes situações estimula também a linguagem interna e o aumento do vocabulário. O entusiasmo da brincadeira faz com que a linguagem verbal se torne mais fluente e haja maior interesse pelo conhecimento de palavras novas. A variedade de situações que o brinquedo possibilita pode favorecer a aquisição de novos conceitos. A participação de um adulto, ou criança mais velha, pode enriquecer o processo; a criança faz experiências descobrindo as leis da natureza, o adulto introduz novos conceitos por ela vivenciados, complementando assim, a sua integração. (2000, p. 35) A criança utiliza como primeiro brinquedo de sua vida, o próprio corpo. Ela explora no decorrer dos primeiros meses de vida, passando em seguida explorar objetos que despertam sua atenção visual ou auditiva. Daí em diante, o brinquedo estará presente em sua vida até a fase adulta. É necessário que a criança brinque para expressar suas fantasias, desejos e experiências, pois o mundo do faz-de-conta é possível destruir o que incomoda; para dominar suas angústias, seus medos; para exprimir sua natural agressividade, de forma tranqüila e segura, de modo socialmente aceito; para estabelecer e desenvolver a sociabilidade; para aumentar suas experiências e aprender que é permitido errar e que pode tentar de novo; sem críticas destrutivas, para promover sua criatividade e favorecer toda expressão de sua personalidade. Nesse sentido, brincar é realmente uma das coisas mais importantes na vida da criança, de tal forma que a previsão de brincar pode torná-la infeliz, desajustada, perdendo o significado de viver. Ao contrário do que muitos pensam, o brinquedo não é uma simples recreação ou passatempo, mas a forma mais completa que a criança tem de se comunicar consigo mesma e com todo mundo. É a partir da magia do brinquedo que ela desenvolve a auto-estima, a imaginação, a confiança, a cooperação, a curiosidade, a iniciativa, o relacionamento interpessoal. Quando a criança brinca, experimenta, descobre, inventa, exercita e confere suas habilidades. A criança brinca atendendo a uma necessidade vital de crescimento biológico, psíquico e social; ela cresce brincando. Sobreeste aspecto reafirma Cunha (2000): ... no brincar existe necessariamente participação e engajamento, o brinquedo é certamente uma forma de desenvolver a capacidade de engajar-se, de manter-se ativo e participante. A criança que brinca bastante será um adulto trabalhador. A criança que sempre participou de jogos e brincadeiras grupais saberá trabalhar em grupo; por ter aprendido a aceitar as regras do jogo, saberá também respeitar as normas grupais e sociais. É brincando bastante que a criança vai aprender a ser um adulto consciente, capaz de participar e engajar-se na vida de sua comunidade. O brinquedo é o trabalho da criança. (...) Se a criança brinca, acostuma-se a ter seu tempo livre criativamente utilizado. (2000, p. 40) O brinquedo desempenha um importante papel no desenvolvimento de habilidades verbais na criança; já que através do brinquedo, a criança tanto se comunica com seu companheiro de brincadeira, como tenta se comunicar com seu próprio brinquedo, desenvolvendo pequenos diálogos. Uma criança quando brinca de boneca, por exemplo, conversa com a mesma como se está tivesse vida, procura usar a linguagem que naturalmente só usa quando está brincando, ou seja, a criança tenta conversar com a boneca de forma correta; tentativa de não apenas copiar a linguagem do adulto, mas de criar também a sua própria maneira de se comunicar. E sobre esta relação brinquedo X palavra, Vygotsky (1991) apresenta a seguinte consideração: No brinquedo, espontaneamente a criança usa sua capacidade de separar significado de objeto sem saber o que esta fazendo, da mesma forma que ela não sabe estar falando em prosa e, no entanto fala, sem prestar atenção às palavras. Dessa forma, através do brinquedo, a criança atinge uma direção funcional de conceitos e objetos, e as palavras passam a se tornar parte de algo concreto. (1991, p. 32) Vale ressaltar que quando brinca, a criança não está totalmente inconsciente, ou seja, não perde a noção do real; ela sabe que esta apenas representando um objeto, situação ou fato. Em suma, os jogos, os brinquedos e as brincadeiras, proporcionam o aprender-fazendo, o pleno desenvolvimento da linguagem, o senso de companheirismo e a criatividade. 2.9. CARACTERIZAÇÃO DOS JOGOS E BRINQUEDOS O jogo sempre foi uma característica do ser humano e, dessa forma, deve fazer parte também de suas atividades educativas. Assim é que, segundo Kishimoto (1998): Do ponto de vista histórico, a análise do jogo é feita a partir da imagem da criança presente no cotidiano de uma determinada época. O lugar que a criança ocupa num contexto social específico, e a educação a que está submetida e o conjunto de relações sociais que a mantém com personagens do seu mundo, tudo isso permite compreender melhor o cotidiano infantil - é nesse cotidiano que se forma a imagem da criança e do seu brincar. (1998, p. 43) Sua importância e utilização na educação das crianças dá-se historicamente desde a Grécia Antiga com o pensador Platão e a partir dai com os egípcios, romanos, maias e mais tarde com os Humanistas (Séc. XVI), teóricos da educação e estudiosos da Pedagogia Ativa como Dewey, Montessori, Rosseau, Froebel, Piaget, Frinet e Paulo Freire, dentre outros. Esta importância sempre foi percebida, principalmente quando se apresenta como fator essencial na construção da personalidade integral da criança. Quando a criança brinca, explora e manuseia tudo aquilo que está à sua volta, através de esforços físicos e mentais e sem se sentir coagida pelo adulto, começa a desenvolver sentimentos de liberdade e satisfação pelo que faz. Segundo Araújo (1992, p. 44): “Jogo é uma atividade espontânea e desinteressada, admitindo uma regra livremente escolhida, que deve ser observada, ou um obstáculo deliberadamente estabelecido, que deve ser superado”. Desta forma, através do jogo a criança busca o prazer e, o jogo é causa de prazer porque da ilusão, satisfaz imediatamente os desejos infantis. Ele permite esforço e conquista, por isso é motivo de prazer. O jogo também pode ser considerado como um fenômeno cultural, presente na vida de diversas civilizações do mundo antigo e contemporâneo. Por isso o jogo pode ser definido como ação ou efeito de jogar e tem como pressuposto o divertimento para se ter a essência e o prazer em sua prática. O jogo também é considerado como uma das principais atividades do ser humano por ser de caráter espontâneo e de livre escolha. A respeito do jogo Friedmann (1992) destaca: O jogo como é uma atividade livre, conscientemente tomada como não-séria e exterior a vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorver o jogador de maneira intensa e total. É uma atividade desligada de todo e qualquer interesse material, com a qual não se pode obter qualquer lucro, praticada dentro de limites espaciais e temporais, próprios, segundo certa ordem e certas regras. (1992, p.22) Desta forma, o jogo como uma atividade livre de caráter não-sério é uma mola propulsora na qual as crianças, jovens e adultos desenvolvem suas experiências motoras, cognitivas e afetivas de acordo com as suas fases de desenvolvimento psico-social. Todavia, quando se analisa os jogos dentro do processo de maturação e desenvolvimento da criança, percebe-se que o jogo é de suma importância dentro de cada contexto ou etapas de seu desenvolvimento, e que ele tem como objetivo principal desenvolver uma capacidade de valorização pedagógica e social das atividades lúdicas como forma expressiva de intervenção educativa. Com isto, eles têm como propósito favorecer o desenvolvimento físico, cognitivo, social, cultura, afetivo e moral nas crianças. Por isso afirma Kishimoto (2006). As crianças ficam mais motivadas ao usar a inteligência, pois querem jogar bem; sendo assim, esforçam-se para superar obstáculos, tanto cognitivos, quanto emocionais. Estando mais motivadas durante o jogo, ficam também mais ativas mentalmente. (2006, p.96) Neste sentido o brincar é uma das formas mais comuns do comportamento humano, principalmente durante a infância conficurando-lhes característica desta fase do desenvolvimento humano. As crianças vêm brincado e jogado em todos os tempos, ao longo da História e em todas as culturas. Brincar é instintivo, voluntário e espontâneo, é natural e exploratório. A limitação deste comportamento na infância, poderá comprometer níveis de desenvolvimento, intelectual, interativo e motor. Cabe ressaltar também que de forma geral, os jogos estão presentes na vida cotidiana das crianças, pois ao interagir com o outro, os indivíduos envolvidos tendem a respeitar regras, promover a socialização, o cooperativismo, com o ato livre e a escolha de jogar, com isto, a criança sentirá o prazer e a motivação de brincar de maneira mais lúdica, aprenderá a refletir, a questionar, a falar e analisar o mundo a sua volta. De acordo com Lopes (2005, p. 35), “o jogo para a criança é o exercício, e a preparação para a vida adulta. A criança aprende buscando, é o exercício que o faz desenvolver suas potencialidades”. Nota-se que ao postular a natureza livre de jogar, o jogo é uma atividade voluntária, criativa não visa nenhum resultado, o que importa é ato criador de brincar, quando a criança brinca está tomando certa distância da vida cotidiana e está no mundo “imaginário”. Neste sentido afirma Kishimoto a respeito da atitude da criança em relação ao lúdico (1997, p 24): “Quando ela brinca não está preocupada com aquisição de conhecimento ou desenvolvimento de qualquer habilidade mental ou física”. Observa-se também que o jogo só é jogo quando a criança pensa apenas em brincar e sentir o prazer e a sensação de liberdade em seu aspecto de livre escolha, dando ênfase que, jogar com espontaneidade, sem nenhuma cobrança, a criança desenvolve sua criatividade, é mais espontânea e torna-se mais flexível na busca de suas ações. Ao tratar o jogo como perda
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