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As Ideias de Popper sobre a Demarcação Científica

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AS IDEIAS DE POPPER
O Princípio (ou Critério) de Demarcação de Karl Popper, ou como é tratado no jargão do meio, simplesmente demarcação, é um conceito fundamental no estabelecimento de hipóteses a serem consideradas em Teorias Científicas.
As hipóteses a serem consideradas como fundamento de uma teoria científica são aquelas que tem de ser corroboradas pela experimentação e observação de fenômenos, que tem de ser amparadas na verificabilidade empírica. Popper trata a questão sempre por um enfoque experimental, de verificação por meio da repetição de experimentos para a corroboração da hipótese, ou o seu descarte, pelo “falseamento” (obter-se um resultado que não corrobora a hipótese).
Assim, por exemplo, no surgimento da vida na Terra, não se pode considerar um agente externo jamais detectado, que não deixou vestígios de sua existência e ação, nem muito menos um ente sobrenatural, transcendente ao real, pois o limite de profundidade no tratamento do científico, no sentido “popperiano”, é o natural, é o físico, é o detectável. Assim, as entidades de tradições religiosas, sejam quais forem elas e sua conceituação no sentido de tais fés, não são permitidas serem colocadas como premissas da construção de uma teoria científica, nem podem ser a base de sua fundamentação mais profunda, como por exemplo, que tal ente criou o universo, ou os seres vivos.
Para Popper a possibilidade de identificar uma teoria como científica ou não é a possibilidade de um possível falseamento empírico, ou seja, se não há experiência capaz de falseá-la, ela deve ser reconhecida como um mito, explicação pseudocientífica do real. 
Para Popper, o falseamento se dá por intermédio dos falseadores potenciais, ou seja, os resultados experimentais previstos pela teoria que, se ocorrerem, a falsearão. Em outras palavras, por uma questão de honestidade intelectual, ao propor uma teoria, o cientista também deve explicitar em que condições abriria mão dela. Para Popper, o fato de uma teoria não ser considerada científica não quer dizer que seja desprovida de significado ou importância, muito pelo contrário, ela pode ser desenvolvida para vir a ser testável.
Do ponto de vista metodológico, as teorias devem ser expostas a críticas e não devem ser modificadas de maneira ad hoc com a introdução de acréscimos impossíveis de testar para resolver evidências problemáticas.
Para Popper, a busca do conhecimento não se dá a partir da simples observação de fatos e inferência de enunciados. Na verdade, esta nova concepção pressupõe um interesse do sujeito em conhecer determinada realidade que o seu quadro de referências já não mais satisfaz. Por isso, a mera observação não é levada em conta, mas sim uma observação intencional orientada e seletiva que busca criar um novo quadro de referências. A partir da seleção do objeto a ser observado, e verificada a insuficiência do quadro de referências, o cientista formula uma hipótese geral da qual se deduzem consequências que permitem a possibilidade de uma experiência.
A Falseabilidade ou sua tentativa é o critério de demarcação entre o que é científico e o que é metafísico, mítico ou poético etc. Para Popper, este método caracteriza (senão acentua) o aspecto criativo da ciência em detrimento ao modelo da inferência que não responde por nenhuma expectativa do sujeito/cientista.
O princípio proposto por Popper, em vez de buscar a verificação de experiências empíricas que confirmassem uma teoria, buscava fatos particulares que, depois de verificados, refutariam a hipótese. Assim, em vez de se preocupar em provar que uma teoria era verdadeira, ele se preocupava em provar que ela era falsa. Quando a teoria resiste à refutação pela experiência, pode ser considerada comprovada.
Com o princípio da falseabilidade, Popper estabeleceu o momento da crítica de uma teoria como o ponto em que é possível considerá-la científica. As teorias que não oferecem possibilidade de serem refutadas por meio da experiência devem ser consideradas como mitos, não como ciência. Dizer que uma teoria científica deve ser falseável empiricamente significa dizer que uma teoria científica deve oferecer possibilidade de refutação – e, se refutadas, não devem ser consideradas.
Para testar uma teoria, Popper segue quatro passos, ou espécies de provas.
1º Testes internos: buscam a coerência das conclusões extraídas a partir do enunciado.
2º Testes da forma: consiste nos testes para se saber se a teoria é, de fato, uma teoria empírica ou científica ou meramente tautologia.
3º Testes de inovação: verificação se a teoria realmente é nova ou já está compreendida por outras existentes no sistema.
4º Testes empíricos: verificação da aplicabilidade das conclusões extraídas da teoria nova. Estes são os principais dos testes, pois a teoria pode passar incólume nos três passos anteriores e ser falseada pela aplicação empírica de suas conclusões, caso em que a teoria não será considerada válida.
A sustentação de uma teoria é sempre provisória, já que suas conclusões estarão sempre sendo testadas empiricamente. Enquanto a teoria se sustentar, nenhum progresso terá havido. Ao contrário, quando uma prova falsear a teoria vigente, então a ciência evoluirá. Nesse sentido é que se deve, pois, sempre buscar falsear a teoria e não confirmá-la. Popper afirma que uma teoria será mais válida quanto mais for falseável, ou seja, quanto mais possibilidades de ser falseada existirem e, mesmo assim, ela continuar respondendo aos problemas científicos.
AS IDEIAS DE KUHN
Uma das maiores contribuições de Thomas Kuhn foi a noção de que a ciência é historicamente orientada. Kuhn percebeu uma relação mais profunda entre a história e a ciência, muito além da compilação de fatos realizados por cientistas e de suas teorias. Kuhn caracteriza a ciência como um processo cíclico que alterna períodos, nos quais o paradigma vigente é mantido, e períodos de crise, que podem culminar com a emergência das descobertas científicas e a quebra do paradigma, o que constitui uma revolução científica. Ao mudar de paradigma, o pensamento muda de lugar, pois a imagem de mundo é outra, e o que era considerado verdade ou erro talvez não o seja mais.
Entenda-se “processo cíclico” como a alternância entre ciência normal e revolução científica, o que não implica uma repetição de conteúdo, apenas de forma. O que está em jogo aqui é uma concepção de ciência historicamente orientada, que se caracteriza por um modelo circular, em contraposição, por exemplo, a um modelo linear e cumulativo. Nesse modelo circular, é possível recontar uma história a partir de outra perspectiva, de outra imagem de mundo, ou seja, de outro paradigma.
Segundo Kuhn, a ciência normal é a prática científica tradicional com a qual os cientistas ocupam a maior parte do seu tempo. Ela é condicionada por uma educação profissional que tenta submeter a natureza a esquemas conceituais. A ciência normal pressupõe o comprometimento e o consenso da comunidade cientifica:
O paradigma é constituído de “realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência”. De um lado, indica toda a constelação de crenças, valores, técnicas, etc., partilhadas pelos membros de uma comunidade determinada. De outro, denota um tipo de elemento dessa constelação: as soluções concretas de quebra-cabeças que, empregadas como modelos ou exemplos, podem substituir regras explicitas como base para a solução dos restantes quebra-cabeças da ciência normal.
A ciência, entendida como historicamente orientada, desenvolve-se de acordo com as seguintes etapas:
1) Adoção de um paradigma e o amadurecimento de uma ciência.
2) O período de ciência normal.
3) O período de crise – ciência extraordinária.
4) Período revolucionário – criação de um novo paradigma.

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