Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Laís Kemelly UNIME – 2020.1 Os sons são variações audíveis na pressão do ar. Quase todas as coisas que podem mover moléculas do ar podem gerar um som. • O movimento do objeto comprime um trecho do ar, aumentando a densidade das moléculas. • Quando o objeto se afasta, o ar fica rarefeito, ou seja, a densidade das moléculas é reduzida. A frequência do som é o número de trecho de ar comprimidos ou rarefeitos que passam pelos nossos ouvidos a cada segundo. Um ciclo de som é a distância entre trechos comprimidos sucessivos. Alta frequência → + regiões comprimidas e rarefeitas Baixa frequência → – regiões comprimidas e rarefeitas A definição de frequência também permite diferenciar o som em relação ao seu tom, sendo grave ou agudo. Por fim, outra propriedade da onda sonora é sua intensidade ou amplitude, que é a diferença de pressão entre os trechos rarefeitos e comprimidos. A intensidade do som é diretamente proporcional ao volume que é percebido. • Pavilhão auricular Porção visível do ouvido. Consiste em cartilagem recoberta por pele, tendo como característica marcante a presença de eminências e depressões, que exercem um papel importante na localização dos sons. • Meato acústico externo É a entrada para o ouvido interno, tendo uma extensão de 2,5cm até a porção mais interna. • Membrana timpânica É movimentada de acordo com as ondas sonoras • Ossículos Pequenos ossos (os menores do corpo) que se conectam à superfície medial timpânica, localizados em uma câmara preenchida de ar. • Janela oval Recebem as transferências dos movimentos que a membrana timpânica exerce sob os ossículos. • Cóclea Estrutura preenchida por fluido que transforma o mecanismo físico em uma resposta neural. Laís Kemelly UNIME – 2020.1 Depois que o ouvido interno (mais especificamente, a cóclea) gera a resposta neural, essa inicia seu caminho até o córtex auditivo. Inicialmente, esse sinal é transferido para diversos núcleos do tronco encefálico e depois segue para o núcleo de retransmissão no tálamo, o núcleo geniculado medial (NGM). O NGM projeta-se para o córtex auditivo primário, localizado no lobo temporal. receptor sensorial → tronco encefálico → núcleo de retransmissão talâmico → córtex sensorial Suas estruturas básicas são: • Membrana timpânica, que tem um formato levemente cônico. A ponta desse cone projeta-se para o interior do ouvido médio. • Ossículos o Martelo o Bigorna o Estribo. Esse último tem uma porção basal chamada de platina, que faz um movimento de pistão, para dentro e para fora. São esses movimentos que transmitem as vibrações sonoras aos fluidos da cóclea no ouvido interno. • Tuba de Eustáquio: porção que conecta o ar circulante no ouvido médio com o ar dacavidade nasal. Normalmente, esse tubo é fechado por uma válvula. Por que sentimos dor de ouvido ao viajar de avião? Quando o avião sobe, a pressão do ar no meio externo diminui. No entanto, como a tuba de Eustáquio normalmente está fechada, a pressão no ouvido médio vai permanecer a mesma de quando você estava no solo. Ou seja, nesse ponto: P interna > P externa. O aumento da pressão no ouvido médio causa uma protrusão da membrana timpânica, resultando naquela sensação desagradável. O bocejo ou a deglutição abrem a tuba de Eustáquio, podendo igualar a pressão do ouvido médio à pressão do meio externo e aliviar a dor. As ondas sonoras movem a membrana timpânica, que transmite essa vibração para os ossículos que por fim, movem a membrana da janela oval. Os ossículos são essenciais para a efetividade dessa transmissão porque a força precisa ser aumentada para que a cóclea (porção do ouvido interno) consiga se mover, já que ela é preenchida por fluido. Como o fluido tem uma resistência maior ao movimento, a pressão deve ser aumentada para que a transmissão seja eficaz. Para que a pressão (P = F/A) sofra esse aumento, dois mecanismos são necessários: • A força sobre a membrana da janela oval deve ser maior do que sobre a membrana timpânica Os movimentos gerados na membrana timpânica são “fragmentados” pelos ossículos em vibrações menores, porém mais fortes, que chegam na janela oval. Laís Kemelly UNIME – 2020.1 • A área de superfície da janela oval deve ser menor do que a área da membrana timpânica. (e ela é) Assim, a pressão exercida na janela oval é 20x maior do que sobre a membrana timpânica, possibilitando que o fluido do ouvido interno seja movimentado. • Músculo tensor do tímpano: ligado ao martelo • Músculo estapédio: ligado ao estribo A contração desses músculos confere rigidez à cadeia de ossículos, reduzindo a condução de som ao ouvido interno. Essa contração é mediada por uma resposta neural ao som barulhento, chamada de reflexo de atenuação, tendo como funções: • Adaptar o ouvido ao som contínuo de alta intensidade • Proteger o ouvido interno de sons barulhentos que poderiam o danificar No entanto, esse reflexo tem um retardo de 50 a 100ms em relação ao tempo que o som alcança o ouvido. Assim, na exposição repentina à sons muito intensos, pode ser que o som cause dano antes do mecanismo de proteção ser ativado. O ouvido interno tem relação com a audição e o equilíbrio, sendo composto pela cóclea e sistema vestibular. Como o foco desse resumo é o som, vamos falar bem da cóclea. Anatomia Aqui não tem jeito, vou listar as estruturas e você vai namorar bastante as imagens pra entender o processo depois. • Janela oval • Janela redonda • Escala vestibular o Membrana de Reissner: separa a escala vestibular da média • Escala média o Membrana basilar: separa a escala timpânica da média o Órgão de Corti: contém as células receptivas o Membrana tectorial • Escala timpânica Todas as escalas são preenchidas por fluido, mas há uma diferença entre a média e as outras. Laís Kemelly UNIME – 2020.1 O fluido na escala vestibular e timpânica é a perilinfa, com concentrações baixas de K+ e altas de Na+. Na escala média, temos a endolinfa, que tem concentrações inversas: alta de K+ e baixas de Na+. Isso acontece por meio de processos de transporte ativo que acontecem na estria vascular. Ela reabsorve Na+ da endolinfa e secreta K+ nela, permitindo essa diferenciação iônica. Nesse momento você pode estar se perguntando: “tá, mas e daí?”. Então, o que acontece é que essa diferença de concentração iônica permite que o potencial elétrico da endolinfa seja 80mV mais positivo do que o da perilinfa. Esse potencial endococlear é responsável por aumentar a transdução auditiva. Fisiologia • Os ossículos movem a membrana que recobre a janela oval • A janela oval faz um movimento “para dentro” • A perilinfa na escala vestibular é empurrada pelo movimento da janela oval. Todo movimento na janela oval é acompanhado por um movimento complementar da janela redonda, já que a pressão do fluido faz com que a membrana da janela oval se abaule para fora. A resposta da membrana basilar ao som tem uma relação muito intrínseca com a sua estrutura. • A membrana é mais larga no ápice • A base é mais rígida O som empurra a platina (porção basal do estribo) sobre a janela oval, fazendo com que a perilinfa desloque-se dentro da escala vestibular. Esse movimento também movimenta a endolinfa na escala média, porque a membrana de Reissner (que separa média de vestibular) é bem flexível. O som também puxa a platina, invertendo o gradiente de pressão e mantendo esse movimento de puxa e empurra. • Empurra a platina • Movimenta a perilinfa • Movimenta a endolinfa • Puxa a platina O movimento da endolinfa faz a membrana basilar se movimentar na região próxima à sua base, iniciando a propagação em direçãoao ápice. (na imagem o que vem discriminado é a perilinfa porque a movimentação dela automaticamente move a endolinfa também) Quanto maior a frequência do som, maior será a vibração que a base vai realizar. Com esse aumento na vibração, a maior parte da energia é dissipada. Sons de baixa frequência geram ondas que se propagarão por toda a membrana até o ápice, com uma perda menor de energia por dissipação. Laís Kemelly UNIME – 2020.1 Contém as células receptoras auditivas que realizam a conversão de energia mecânica em uma alteração na polarização da membrana. Sua constituição é de: • Células ciliadas: são células epiteliais especializadas que contém 10 – 300 estereocílios que se projetam de sua porção apical. A inclinação desses estereocílios é o evento que leva permite a transdução do som em um sinal neural. • Lâmina reticular: lâmina de tecido que permite a fixação das células ciliadas • Pilares de Corti: estendem-se entre a membrana basal e a lâmina reticular, permitindo a sustentação estrutural. • Células de sustentação As células ciliadas fazem sinapses com neurônios cujos corpos celulares estão localizados no gânglio espiral, dentro do modíolo. Os axônios do gânglio espiral entram no nervo coclear, que é um ramo do VIII par craniano. O nervo coclear se projeta para os núcleos cocleares no bulbo. células ciliadas → gânglio espiral → nervo coclear → núcleos cocleares “A inclinação dos estereocílios produzida pelo movimento para cima da membrana basilar. Em repouso, as células ciliadas estão estáticas entre a lâmina reticular e a membrana basilar, e as extremidades dos estereocílios das células ciliadas externas estão conectadas à membrana tectorial. Quando o som provoca a deflexão para cima da membrana basilar, a lâmina reticular move-se para cima e para o centro da cóclea, na direção do modíolo, provocando o deslocamento dos estereocílios no sentido oposto.” (BEAR) Quando a membrana basilar se move em resposta a um estímulo do estribo, toda a estrutura que sustenta as células ciliadas se movimenta. Isso ocorre pela conexão entre a membrana basilar, os pilares de Corti, a lâmina reticular e as células ciliadas. Todas essas estruturas se movimentam como uma unidade, em direção à membrana tectorial ou se afastando dela. O movimento da membrana basilar causa uma movimentação na lâmina reticular. Observe na imagem que os pilares de Corti fazem uma conexão entre a membrana basilar e a lâmina reticular, permitindo a distribuição desse movimento. O movimento da lâmina reticular pode afastá-la ou aproximá-la do modíolo. Qualquer movimento que ela fizer, a membrana tectorial vai acompanhar. Os estereocílios contêm filamentos de actina alinhados que os confere rigidez. No caso das células ciliadas externas, a inclinação desses cílios depende da movimentação da sua articulação de base. Já os estereocílios das células ciliadas internas se movimentam por serem “empurrados” pela endolinfa em movimento (todo aquele mecanismo da cóclea) Articulação de base Laís Kemelly UNIME – 2020.1 Dependendo da direção para qual os estereocílios se inclinam, a célula ciliada pode despolarizar ou hiperpolarizar. Quando o estímulo sonoro causa a inclinação dos estereocílios, a célula ciliada gera um potencial receptor que pode despolarizar ou hiperpolarizar a partir de seu potencial de repouso (-70mV). Na extremidade de cada estereocílio, existem canais de transdução mecanossensíveis. A abertura e fechamento desses canais é dependente da inclinação ciliar. Existem ligamentos apicais que conectam os estereocílios. A inclinação desses cílios faz com que esses ligamentos apicais se estirem e abram os canais de transdução mecanossensíveis. A abertura dos canais permite um influxo de K+, que vai despolarizar a célula e resultar na abertura de canais de Ca2+ dependentes de voltagem. O influxo de cálcio leva à liberação de um neurotransmissor excitatório (glutamato) das vesículas sinápticas, que se difunde até as terminações pós-sinápticas dos neuritos do gânglio espiral. Note que na primeira imagem abaixo os estereocílios estão em sua posição de repouso, e ainda assim há um pequeno influxo de K+. Como dito, a depender da direção de inclinação, temos respostas diferentes. Nesse esquema, podemos notar que os canais iônicos foram fechados, ou seja, o influxo de K+ foi reduzido. Isso resulta da hiperpolarização da membrana. células ciliadas → gânglio espiral → nervo coclear → núcleos cocleares (sim, ainda estamos na primeira parte) Laís Kemelly UNIME – 2020.1 Apesar de serem as células ciliadas externas que estão em contato direto com a lâmina reticular e a membrana basilar, a maior parte das sinapses feitas com os gânglios espirais partem de células ciliadas internas. A proporção de células ciliadas externas e internas é de 3:1. No entanto, 95% dos neurônios do gânglio espiral comunicam-se com as células ciliadas internas. As células ciliadas atuam amplificando o movimento da membrana basilar durante os estímulos sonoros de baixa intensidade. A ação das células ciliadas externas sobre a membrana basilar é chamada de amplificador coclear. Isso é possível por dois mecanismos: • Proteínas motoras especiais presentes nas membranas das células ciliadas externas. Essas proteínas têm capacidade de alterar o comprimento das células ciliadas externas, permitindo que as células tenham duas respostas ao som: a geração de um potencial receptor e a alteração no comprimento. A fonte de energia que essas células utilizam para a alteração do comprimento é justamente o potencial receptor, permitindo a associação sincrônica desses mecanismos. (potencial e comprimento) As proteínas motoras são ativadas pela despolarização das células ciliadas (influxo de K+). A principal proteína envolvida nesse processo é a prestina, que se agrupa no corpo celular da célula ciliada externa e permite que esta se movimente em resposta ao som. • Ação de proteínas dos ligamentos apicais A miosina (proteína contrátil) está presente na extremidade superior dos ligamentos apicais dos feixes de esterocílios. Essa proteína pode aumentar rapidamente o movimento dos esterocílios em resposta à sons de baixa intensidade. Como as células ciliadas externas estão ligadas à membrana basal e à membrana reticular, as alterações em seu comprimento também têm impacto sob essas estruturas, amplificando suas respostas. Quando as células ciliadas externas amplificam a resposta da membrana basilar, isso permite que os estereocílios das células ciliadas internas se inclinem mais, produzindo uma maior resposta no nervo coclear. Laís Kemelly UNIME – 2020.1 As aferências do gânglio espiral entram no tronco encefálico pelo nervo vestibulococlear. No bulbo, cada axônio ramifica-se e é capaz de fazer sinapses simultâneas com neurônios do núcleo coclear posterior e do núcleo coclear anterior. A partir desse ponto, o sistema torna-se mais complicado, já que existem muitas vias paralelas. Ou seja, vou descrever a que é considerada como a mais importante. As células no núcleo coclear ventral projetam axônios em direção à oliva superior. Os axônios dessa oliva ascendem e inervam o colículo inferior, no mesencéfalo. Os axônios projetados do núcleo coclear posterior inervam diretamente o colículo inferior, sem passagem pela oliva. (os núcleos cocleares recebem aferência do ouvido ipsilateral, ou seja, do lado oposto) Existem outras vias que fazem rotas com outras conexões intermediárias, mas todas as vias auditivas ascendentes terão como destino final o colículo inferior. Os neurônios do colículo inferior enviam seus axônios ao núcleo geniculado medial (NGM) do tálamo, que segue em direçãoao ao córtex auditivo. gânglio espiral → nervo vestibulococlear → núcleo coclear → colículo inferior → núcleo geniculado medial → córtex auditivo Cada característica do som (intensidade, frequência, localização) está representada e uma maneira diferente na via auditiva. A intensidade do som é codificada de duas maneiras interrelacionadas: • Frequência de disparos dos neurônios • Número de neurônios ativos Quanto maior a intensidade do estímulo, maior será a vibração da membrana basilar e consequentemente, todos os mecanismos de despolarização ou hiperpolarização do potencial de membrana. Os estímulos mais intensos também produzem movimentos que conseguem se propagar em distâncias maiores na membrana basilar, resultando na ativação de mais células ciliadas. Ou seja, uma vibração de maior amplitude está diretamente relacionada ao disparo de potenciais de ação com frequências maiores para os axônios no núcleo espiral. A percepção do volume sonoro está relacionada ao número de neurônios ativos na via auditiva e com suas frequências de disparos de potenciais de ação. Existem mecanismos que permitem a interpretação e direcionamento do estímulo a partir de sua frequência: a tonotopia e a sincronia de fases. De acordo com a frequência sonora, a vibração da membrana basilar é diferente. Esse mecanismo de adaptação da membrana às diferentes frequências é a tonotopia. A tonotopia ocorre em todo o sistema auditivo, ou seja, temos respostas diferentes de acordo com a frequência recebida. O nervo auditivo também apresenta características tonotópicas: • Células ciliadas próximas à membrana basilar apical têm frequências mais baixas • Células ciliadas próximas à membrana basilar basal têm frequências mais altas Os axônios do nervo vestibulococlear fazem sinapse nos núcleos cocleares conforme um padrão organizado baseado nas frequências características. (ou seja, existe um mapa tonotópico, um caminho Laís Kemelly UNIME – 2020.1 específico a ser percorrido dependente da frequência). Porém, o mapa tonotópico deve ser associado com outro mecanismo para que a informação sobre a frequência sonora seja mais precisa. Esse segundo mecanismo é a sincronia de fase, que é o disparo consistente de uma célula na mesma fase de uma onda sonora. Quando ocorre a transdução mecânica e o som gera um potencial de ação no ouvido médio, esse disparo neural faz com que um neurônio sincronize seus disparos de potenciais de ação de acordo com a posição da onda sonora. Ou seja, a fase da onda está sincronizada com a fase de disparo neuronal. Resumindo: a frequência vai determinar um mapa topográfico, um caminho exato que ela precisa seguir. Além disso, como ela precisa estar sincronizada com os potenciais de ação de um neurônio, também existirão neurônios específicos que realizarão a condução do estímulo por esse mapa. • Frequências muito baixas: sincronia de fase • Frequências intermediárias: sincronia de fase + tonotopia • Frequências altas: sonotopia
Compartilhar