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Dietoterapia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Amanda José Pereira do Nascimento Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Terapia Nutricional nas Doenças Endócrinas e Metabólicas • Introdução; • Obesidade; • Magreza e Transtornos Alimentares: Anorexia e Bulimia; • Diabetes Mellitus, Índice Glicêmico E Carga Glicêmica; • Síndrome Metabólica. • Identifi car as alterações fi siopatológicas, tratamento e conduta dietoterápica nas princi- pais patologias abordadas, para prescrição e elaboração de dietas adequadas. OBJETIVO DE APRENDIZADO Terapia Nutricional nas Doenças Endócrinas e Metabólicas Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Terapia Nutricional nas Doenças Endócrinas e Metabólicas Introdução Nesta Unidade, visitaremos a dietoterapia de algumas patologias como a obesi- dade, doença considerada um problema de Saúde Pública, pois afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Figura 1 – Distúrbio de imagem que pode ocorrer nos transtornos alimentares Fonte: Getty Images O excesso de peso é fator de risco para a doença endócrina Diabetes Mellitus, que é caracterizada pelo aumento da glicemia sanguínea. Como consequência, também veremos a terapia nutricional da Síndrome Metabólica. Os distúrbios alimentares, como a anorexia e bulimia, estão descritos nesta Unidade. Obesidade A obesidade pode ser definida como uma condição de acúmulo anormal ou excessivo de gordura no tecido adiposo, na medida em que a saúde possa ser preju- dicada, sendo considerada um dos maiores problemas de saúde pública no mundo (WHO, 2000; ABESO, 2016). A projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com so- brepeso, e mais de 700 milhões, obesos. O número de crianças com sobrepeso e obesidade no mundo pode chegar a 75 milhões, caso nada seja feito. 8 9 No Brasil, a obesidade tornou-se objeto de Políticas Públicas nos últimos 15 anos, e o Ministério da Saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), é o principal propositor de ações, seguindo a tendência internacional. A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), em 2008-2009, identificou aumen- to contínuo da prevalência do excesso de peso e obesidade nos últimos 34 anos, sendo que no sexo masculino aumentou quase três vezes (de 18,5% para 50,1%) e no sexo feminino quase duas vezes (de 28,7% para 48,0%). A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL, 2018) identificou que o Brasil atingiu a maior prevalência de obesidade (19,8%) entre adultos nos últimos treze anos. Figura 2 – Prevalência de obesidade em adultos nos últimos 12 anos no Brasil Fonte: endocrino.org.br Os achados enfatizam a importância de Políticas Públicas para a prevenção da obesidade e para a promoção de hábitos saudáveis na Sociedade brasileira. A seguir, estudaremos mais informações sobre a obesidade (ABESO, [s.d.]; WHO, 2000; IBGE, 2010; CARVALHO; DUTRA, 2014; PINTO, 2014; ABESO, 2016; POLSKY, 2016; DIAS et al., 2017; VIGITEL, 2018; LIMA et al 2018; FERREIRA; SZWARCWALD; DAMACENA, 2019). Fisiopatologia da obesidade A obesidade pode se desenvolver como resultado do desequilíbrio entre a in- gestão energética e o gasto energético, ou seja, aumento da ingestão energética associada, principalmente, a um gasto energético insuficiente. A gordura é armazenada no tecido adiposo (subcutâneo), principalmente, na cavidade intraperitoneal, no fígado e em outros órgãos. Em 1994, reconheceu-se o tecido adiposo como um órgão endócrino, vez que os adipócitos sintetizam diversas substâncias, sendo a leptina um de seus primeiros pro- dutos de secreção identificados. Além da leptina, outras substâncias biologicamente 9 UNIDADE Terapia Nutricional nas Doenças Endócrinas e Metabólicas ativas foram sendo isoladas, tais como adiponectina, resistina, TNF-a e interleuci- na-6, entre outros. As alterações fisiológicas observadas no organismo na presença da obesidade são atribuídas às adipocinas, as “vilãs” da obesidade, pois são capazes de desenvol- ver diversos mecanismos e estimular outras tantas vias metabólicas, tais como con- trole da ingestão alimentar, balanço energético e sensibilidade periférica à insulina. As adipocinas são peptídeos que atuam de forma direta na gênese do acúmulo de tecido adiposo. Ex pl or Tabela 1 – Descrição de algumas das principais adipocinas, locais de síntese e principal função Adipocina Local de síntese Função Adiponectina Adipócitos Efeitos contrários às demais adipocinas, relaciona-se à me- lhora da sensibilidade à ação da insulina (efeito antagônico em relação ao hormônio resistina), aumento da atividade da proteína cinase (AMPK) e aumento da oxidação de áci- dos graxos. Grelina Estômago Regulador, de curto prazo, da saciedade: aumenta a ingesta e reduz o catabolismo de gorduras e o gasto energético. Leptina Adipócitos Regulador, de longo prazo, da saciedade: diminui a síntese hipotalâmica de orexígenos, aumenta a atividade simpáti- ca, o metabolismo, o gasto energético e a produção de hor- mônio liberador da ACTH. Diminui a produção de insulina. Resistina Adipócitos Associada à resistência insulínica (Hiperinsulinemia), pro- porciona maior síntese de marcadores inflamatórios, como TNF-α, IL-1 e IL-6. Fonte: adaptada de LIMA et al., 2018 Etiologia da obesidade • Genético: A obesidade é uma das manifestações descritas em 24 doenças mendelianas, como, por exemplo, a síndrome de Prader-Willi, e em nove tipos de doenças monogênicas não mendelianas, todas causando obesidade precoce na infância; O risco de obesidade quando nenhum dos pais é obeso é de 9%, enquanto quando um dos genitores é obeso, eleva-se a 50%, atingindo 80% quando ambos são obesos; • Medicamentoso: Vários medicamentos podem ter efeito adverso no peso cor- poral por influenciarem tanto a ingesta alimentar quanto o gasto calórico/ energético, como, por exemplo: benzodiazepínicos (diazepam, alprazolam e flurazepam), corticosteroides; antipsicóticos (clorpromazina), antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, imipramina), anti-epiléticos (valproato de sódio), sulfo- nilureias (glipizida, tolbutamida, clorpropamida) e insulina; • Estresse: Sintomas comoansiedade, depressão, nervosismo e o hábito de se alimentar quando problemas emocionais estão presentes são comuns em pacientes com sobrepeso ou obesidade, sugerindo relação entre estresse e 10 11 obesidade. A hiperatividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e seu pro- gressivo desequilíbrio, levam à busca de comida palatável calórica que tem pro- priedades de recompensa poderosas no sistema hedônico não homeostático e maior acúmulo de gordura visceral; • Inatividade física: Diminuição do gasto energético frente à falta de atividade física moderada e de lazer; • Outros fatores: Ganho de peso excessivo durante a gestação e falta de perda de peso após o parto são importantes preditores de obesidade em longo prazo. Indivíduos que abandonam o tabagismo ganham em média de cinco a seis quilos. O casamento pode influenciar no ganho de peso, principalmente, em mulheres. Classificação da obesidade Na população brasileira, tem-se utilizado a classificação de sobrepeso e obesida- de (Tabela 2) em relação ao Índice de Massa Corporal (IMC). Tabela 2 – Classifi cação internacional da obesidade segundo o IMC e risco de doença que divide a adiposidade em graus ou classes IMC (kg/m2) Classifi cação Obesidade grau/classe Risco de doença 25-29,9 Sobrepeso ou pré-obeso 0 Pouco elevado 30-34,9 Obesidade I Elevado 35-39,9 Obesidade II Muito elevado ≥40,0 Obesidade grave III Muitíssimo elevado Fonte: adaptado de WHO, 2000 Dietoterapia • Dietas balanceadas, prescritas de forma individualizada, levando em considera- ção o estado de saúde, caracterizadas por serem compostas de 20% a 30% de gorduras, 55% a 60% de carboidratos e 15% a 20% de proteínas; • Fibras: 20 a 30g por dia; • Promover um déficit de 500 a 1.000kcal/dia ou reduzir a ingestão calórica em relação ao valor de consumo obtido na anamnese alimentar; • Para o cálculo do valor calórico da dieta, deve ser usada a taxa metabólica de repouso corrigida para o nível de atividade física. A correção da taxa meta- bólica de repouso deve ser feita multiplicando por fatores conforme o grau de atividade física: se sedentário: 1-1,4; se pouco ativo: 1,4-1,6; se ativo: 1,6-1,9, e se muito ativo: 1,9-2,5; • Também se sugere um cálculo direto de 15 a 20kcal por Kg de peso atual por dia; • Substitutos de refeição são úteis e eficazes como parte de um plano estrutu- rado de modificação da dieta em pacientes com sobrepeso e obesidade para redução do peso corporal; 11 UNIDADE Terapia Nutricional nas Doenças Endócrinas e Metabólicas • Dietas de muito baixas calorias (<800 kcal por dia) devem ser usadas em cir- cunstâncias muito limitadas por especialistas num cenário médico adequado, com internação, supervisão e monitorização do paciente, pois a perda rápida de peso pode levar a complicações de saúde; • As dietas da moda mais populares são as dietas ricas em gordura e pobres em carboidrato, dieta do índice glicêmico, jejum intermitente, dieta sem glúten e dieta sem lactose, não havendo evidência para recomendação ou mesmo não havendo evidência de segurança no tratamento do sobrepeso e da obesidade; • Não há qualquer evidência nem mecanismo fisiológico de que o óleo de coco leve à perda de peso. Devido à sua elevada concentração de ácidos graxos saturados, como ácido láurico e mirístico, seu uso pode ser deletério, não de- vendo ser usado com a finalidade de emagrecimento. Importante! O uso de óleo de coco, seja sob a forma de cápsulas, seja a granel, como prescrição, seja como óleo exclusivo em preparações culinárias, não deve ser recomendado no tratamento do sobre- peso e da obesidade, havendo evidência potencial de aumento de morbidade (ABESO, 2016). Importante! Magreza e Transtornos Alimentares: Anorexia e Bulimia Magreza Um indivíduo magro pode ser definido como aquele que tem pouca gordura corporal. Durante a restrição alimentar, o gasto energético decresce, atenuando a perda de peso corporal, que resulta do equilíbrio energético negativo (WHO, 2000; FERREIRA, 2010; SOPHIA, 2013; POLSKY, 2016). Classificação da magreza A Tabela 3 mostra a classificação do baixo peso, considerando o IMC de adulto. Tabela 3 – Classificação internacional de baixo peso segundo o IMC IMC (kg/m2) Classificação <18,5 Magro ou baixo peso 18,5-24,9 Normal ou eutrófico Fonte: adaptado de WHO, 2000 Há supervalorização da extrema magreza difundida pela Internet com o intuito de compartilhar suas vivências e, a partir disso, estabelecer uma rede de apoio que possa espalhar um conceito de vida denominado “estilo Ana (Anorexia) e Mia (Bulimia) de ser”. 12 13 Transtornos alimentares: anorexia e bulimia Os Transtornos Alimentares (TA) são doenças psiquiátricas que se caracterizam por perturbações no comportamento alimentar, podendo levar ao emagrecimento extremo (caquexia – devido à inadequada redução da alimentação), à obesidade (devido à ingestão de grandes quantidades de comida) ou a outros problemas físicos (CORDÁS; BORGES; WAITZBERG, 2006; SCHEBENDACH, 2012; CARMO; PEREIRA; CÂNDIDO, 2014; SCAGLIUSI; 2014; COUGHLIN; SEIDE; GUARDA, 2016; HCPA, 2016; AMBULIM, [s.d.]). Sua etiologia é multifatorial, ou seja, são originados da interação de vários fato- res. Não há uma causa única: • Biológicos; • Genéticos; • Psicológicos; • Socioculturais e familiares. O comportamento do comer desordenado está associado a uma alimen- tação desequilibrada associada às práticas inadequadas para manter o peso baixo ou controlar o peso, com excesso de algum tipo de atividade física na maioria dos casos, é considerado comportamento de risco para os transtornos alimentares. (FREIRE, 2019) Anorexia nervosa A Anorexia Nervosa é definida como um transtorno caracterizado por limitações dietéticas autoimpostas, com um padrão alimentar bizarro e acentuada perda de peso induzida e mantida pelo paciente (podendo levar à desnutrição energético proteica grave), associada a um temor imenso de engordar. an: deficiência e orexis: apetite Ex pl or A Anorexia Nervosa ocorre, tipicamente, em meninas, pouco depois da puberdade ou na adolescência. Casos precoces podem ocorrer na faixa etária entre 8 a 14 anos (CORDÁS; BORGES; WAITZBERG, 2006). Ex pl or As características psicológicas são: distúrbio de imagem corporal, perfeccio- nismo, compulsividade, sentimento de ineficiência, pensamento inflexível, medo mórbido de engordar e isolamento social, entre outras. Os achados clínicos mais comuns são lanugo (uma fina camada de pelos), cabelo seco e quebradiço, hipercarotenemia, intolerância ao frio e cianose das extremidades. 13 UNIDADE Terapia Nutricional nas Doenças Endócrinas e Metabólicas Diagnóstico São utilizados os seguintes critérios: • Recusa em manter o peso acima do mínimo normal; • Medo interior de ganho de peso ou de se tornar gordo, mesmo com peso inferior; • Perturbação no modo de vivenciar o corpo (peso, tamanho ou forma); • Nas mulheres, ausência de pelo menos 3 ciclos menstruais consecutivos (amenorreia). Dietoterapia Os pacientes com NA, geralmente, consomem menos que 1.000 kcal por dia, levando a grande perda de peso. A seguir, as recomendações nutricionais para AN: • Necessidade energética: » Ganho de peso: iniciar com 30 a 40Kcal/Kg/dia. Avaliar o risco de Sín- drome de Realimentação. O acréscimo progressivo na ingestão calórica deve ser feito a cada 1 a 2 dias, aumentando-se de 200 a 300kcal, conforme a tolerância do paciente; » Ganho de peso controlado: tratamento final entre 70 a 100Kcal/Kg/dia; » Manutenção de peso em adulto: 40 a 60Kcal/Kg/dia e crianças/adoles- centes: 40 a 60Kcal/Kg/dia. • Macronutrientes: » Proteínas: consumo mínimo da RDA em g/Kg/ Peso ideal (PI), 15-20% das calorias totais. Fontes: proteínas completas; » Carboidratos: 50-55% das calorias totais. Estimular o consumo de fibras insolúveis para o tratamento da obstipação; » Gorduras: 25-30% das calorias totais. Estimular pequenos aumentos até atingir a meta. Fornecer fonte de ácidos graxos essenciais ômega 3 e6. • Micronutrientes: » 100% da RDA de suplemento multivitamínico com minerais. Notar que o teor de ferro das fórmulas pode agravar a constipação. • Orientações gerais: » Oral: hipercalórica e hiperproteica; » Fracionada, pequenas porções e horários estabelecidos; » Utilizar nutrição enteral para suplementação da nutrição oral; » A nutrição parenteral total pode ser usada como meio de suplementação para pacientes que recusam a alimentação oral ou enteral; » O paciente vai preferir se alimentar isoladamente ou em horários em que está sozinho. Durante o tratamento nutricional, a família deverá realizar a 14 15 supervisão da alimentação, para que as orientações propostas sejam segui- das, bem como ficar atenta a comportamentos estranhos (esconder a comida em banheiro, embaixo da cama etc.). Bulimia nervosa Pode ser definida como um distúrbio caracterizado por episódios recorrentes de ingestão excessiva de alimentos seguidos de um ou mais comportamentos compen- satórios impróprios para prevenir o ganho de peso. bous: boi e limos: fome Ex pl or As características da BN são: variação de peso normal, considerável importân- cia da forma e do tamanho corporal, frustração devido à incapacidade de atingir o peso desejado e sentimento de culpa com relação a um ciclo de alimentação excessiva e purgação. Diagnóstico • Repetidos episódios de ingestão excessiva de alimentos (Binge); • Consumo em períodos isolados: » Por exemplo, 2 horas; » Perda do senso de controle ao se alimentar durante a crise (por exemplo: sensação que não pode parar de comer); • Comportamentos compensatórios: » Autoindução de vômitos, abuso de laxativos, diuréticos, jejuns ou exercícios em excesso; » A autoavaliação é indevidamente influenciada pela forma do corpo e pelo peso corporal. Dietoterapia • Necessidade energética: » Manutenção de peso com prescrição inicial: 1200 a 1500Kcal.; » 20 a 30kcal por kg de peso atual; » Nunca buscar dietas para redução do peso, e sim manutenção. • Macronutrientes e micronutrientes: são as mesmas recomendações da AN. • Orientações gerais: » Fracionar a dieta em 5 a 6 refeições por dia; » Monitorar o estado antropométrico e ajustar as calorias prescritas para a manutenção do peso; 15 UNIDADE Terapia Nutricional nas Doenças Endócrinas e Metabólicas » Evitar dietas para redução de peso até que os padrões alimentares e o peso corporal estabilize; » A família deverá acompanhar o paciente após as refeições, não permitindo que vá ao banheiro sozinho – Existe risco de provocar vômitos. Importante! O vegetarianismo desenvolvido após o início do comportamento de dieta é comum na AN e na BN e deve ser desestimulado, porque é utilizado para ocultar a dieta. Importante! Diabetes Mellitus, Índice Glicêmico e Carga Glicêmica Diabetes Mellitus Distúrbio metabólico caracterizado por hiperglicemia (aumento da concentração de glicose no sangue) crônica, devido a defeito na secreção de insulina, na sua ação, ou em ambas. A insulina é produzida no pâncreas, pelas chamadas células beta, e tem como função promover a entrada de glicose nas células. É influenciada por fatores ge- néticos, ambientais e de estilo de vida (SBEM, 2017; OLIVEIRA; MONTENEGRO JUNIOR; VENCIO, 2017; BRASIL, [s.d.]). Classificação A DM não se classifica por seu tipo de tratamento, portanto, os termos “DM insulinodependente” e “DM insulinoindependente” não se referem à categoria clas- sificatória do diabetes. A Tabela 4 mostra a classificação do DM segundo a sua etiologia. Tabela 4 – Classificação etiológica do DM DM tipo 1 Tipo 1A: deficiência de insulina por destruição autoimune das células β comprovada por exames laboratoriais; Tipo 1B: deficiência de insulina de natureza idiopática. DM tipo 2 Perda progressiva de secreção insulínica combinada à resistência à insulina. DM gestacional Hiperglicemia de graus variados diagnosticada durante a gestação, na au-sência de critérios de DM prévio. Outros tipos de DM: · Monogênicos; · Diabetes neonatal; · Secundário a endocrinopatias; · Secundário a doenças do pâncreas exócrino; · Secundário a infecções; · Secundário a medicamentos. Fonte: Adaptado de ADA, 2017 16 17 Diagnóstico Os valores de normalidade para os respectivos exames, bem como os critérios diagnósticos para pré-diabetes e DM mais aceitos e adotados pela Sociedade Brasi- leira de Diabetes (SBD) encontram-se descritos na Tabela 5. Tabela 5 – Critérios laboratoriais para diagnóstico de normoglicemia, pré-diabetes e DM, adotados pela SBD Diagnóstico Glicose em jejum (mg/dL) Glicose 2 horas após sobrecarga com 75g de glicose (mg/dL) Glicose ao acaso HbA1c (%) Normoglicemia < 100 < 140 – < 5,7 Pré-diabetes ou risco aumentado para DM ≥ 100 e < 126* ≥ 140 e < 200# – ≥ 5,7 e < 6,5 Diabetes estabelecido ≥ 126 ≥ 200 ≥ 200 com sintomas inequívocos de hiperglicemia ≥ 6,5 * Categoria também conhecida como glicemia de jejum alterada. # Categoria também conhecida como intolerância oral à glicose. Fonte: adaptado de SBD, 2017 Sintomatologia Os principais sintomas do DM são: polifagia (fome excessiva), podipsia (sede excessiva) e poliúria (vontade de urinar várias vezes ao dia). Dietoterapia A composição do plano alimentar para o tratamento nutricional do DM é base- ada nas seguintes recomendações, citadas na Tabela 6. Tabela 6 – Composição nutricional do plano alimentar indicado para indivíduos com DM Valor Energético Total (VET) Considerar as necessidades individuais, utilizando pa- râmetros semelhantes aos da população não diabética (RDA), em todas as faixas etárias Macronutrientes Ingestão diária recomendada Carboidratos Carboidratos totais: 45 a 60%Não inferior a 130g/dia Sacarose 5% Frutose Não se recomenda sua adição aos alimentos Fibra alimentar Mínimo de 14g/1.000kcal DM2: 30 a 50g/dia Solúveis (pectinas e gomas) Insolúveis (celulose, hemicelulose e lignina) Gordura total 20 a 35% do VET Ácidos graxos saturados < 6% do VET Ácidos graxos poli-insaturados Completar de forma individualizada Ácidos graxos monoinsaturados 5 a 15% do VET Colesterol < 300mg/dia Proteína 15 a 20% do VET Micronutrientes Ingestão diária recomendada Vitaminas e minerais As mesmas recomendações da população sem diabetes Sódio Até 2.000mg DM2: diabetes mellitus tipo 2. Fonte: adaptado de OLIVEIRA; MONTENEGRO JUNIOR; VENCIO (org.), 2017; SANTOS (org.), 2015 17 UNIDADE Terapia Nutricional nas Doenças Endócrinas e Metabólicas Índice glicêmico O Índice Glicêmico (IG) representa a resposta glicêmica produzida após o con- sumo de 50g de um alimento teste, comparado à resposta pós-prandial de 50g de um alimento padrão, padronizado como pão branco (LYRA, 2014; SBD, 2019). O conteúdo de gorduras, fibras, proteínas, cocção e fatores inerentes ao indivíduo afetam o IG. Nem todos os alimentos que apresentam resposta glicêmica baixa são menos calóri- cos, como, por exemplo, as oleaginosas. Outro fator que deve ser observado é que o teor de doçura de um alimento não expressa necessariamente uma resposta glicêmica; a pinha é um exemplo. Diante desse aspecto, é importante que os profissionais de Saúde não estabeleçam ideias empíricas em relação aos alimentos com teor de doçura elevada. Carga glicêmica A Carga Glicêmica (CG) é correspondente ao IG por porção comestível do ali- mento. Às vezes, observa-se em um alimento IG alto, mas ele pode apresentar CG baixa, como é o caso da melancia. É importante inferir que alguns alimentos dietéticos são acrescidos de maltodex- trina, o que pode alterar o IG do produto, fazendo com que ele possa apresentar resposta glicêmica mais elevada. O paciente necessita saber que nem todo alimento dietético é ideal para o dia- bético. O IG e a CG dos alimentos são categorizados em alto, médio e baixo, de acordo com a classificação da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) (LYRA, 2014; SBD, 2019). No Tabela 7, podem ser visualizados o IG e a CG de alguns alimentos. Tabela 7 – IG e a CG de alguns alimentos AlimentoIG Porção (g) CG Bolo de fubá 102 50 30 Pão de trigo integral 71 ± 2 30 9 Farelo de aveia 55 ± 5 10 3 Arroz branco cozido 64 ± 7 150 23 Arroz parboilizado cozido 47 ± 3 150 17 Biscoito tipo cream cracker 65 ± 11 25 11 Biscoito água e sal 71 ± 8 25 13 Macarrão 47 ± 2 180 23 Maçã 36 ± 2 120 6 Banana 52 ± 4 120 12 18 19 Alimento IG Porção (g) CG Uva 46 ± 3 120 12 Manga 51 ± 5 120 5 Laranja 42 ± 3 120 8 Suco de laranja 50 ± 4 250 13 Sushi 52 ± 4 100 19 Pipoca 72 ± 17 20 8 Beterraba 64 ± 16 80 5 Batata doce 61 ± 7 150 15 Inhame 37 ± 8 150 13 Fonte: adaptado de LYRA, 2016 Considera-se a seguinte classificação de IG e CG: Tabela 8 alto médio baixo IG > 70 56 - 69 < 55 CG > 20 11 - 19 < 10 Fonte: adaptado de LYRA, 2016 Contagem de carboidratos O objetivo da contagem de carboidratos é alcançar maior controle glicêmico, pois eles são os macronutrientes que mais afetam os níveis de glicose no sangue, independentemente de serem monossacarídeos, dissacarídeos ou polissacarídeos. Entretanto, os demais macronutrientes também podem afetar a glicemia (LYRA, 2014; SBD, 2019). A gordura, por exemplo, afeta a glicemia em torno de 10%, a proteína em torno de 60% e o carboidrato em 100%.Ex pl or A ingestão de uma quantidade aceitável e frequente de carboidrato ao longo do dia deve ser estimulada com intuito de adequar uma programação alimentar sau- dável para todos os pacientes que controlam o diabetes exclusivamente com dieta, com medicamentos orais ou com insulinoterapia, pois é um método que ajuda a diversificar o plano alimentar, possibilitando substituições. Na terapia insulínica de múltiplas doses, a liberdade para o consumo variado de carboidratos é maior, porém ambas as terapias necessitam de um conhecimento sobre a contagem de carboidratos. Para a realização da contagem de carboidratos, deve-se, inicialmente, contar os gramas de carboidratos por cada refeição, utilizando as informações nutricionais do produto ou consultando os manuais específicos. 19 UNIDADE Terapia Nutricional nas Doenças Endócrinas e Metabólicas Manual de Contagem de Carboidratos para Pessoas com Diabetes, disponível em: http://bit.ly/31pD9TWEx pl or A contabilização dos carboidratos poderá ser baseada no sistema americano, em que uma porção de amido equivale a 15g de carboidratos: • Uma porção de fruta = em média 15g de carboidratos; • Uma porção de vegetal = em média 5g de carboidratos; • Uma porção de leite = em média 12g de carboidratos. Na prática clínica, a identificação da quantidade de carboidrato por refeição (e por dia), utili- zando a anamnese alimentar detalhada, é tarefa dos nutricionistas!Ex pl or Para verificar a quantidade de carboidrato, é necessário pesar ou utilizar as ré- plicas de alimentos para que o paciente treine a visão ou, então, consultar manuais alimentares de medida caseira. Importante! Vale ressaltar a importância da ingestão rotineira das mesmas quantidades de carboi- dratos por refeição, pelo menos no início da terapia para avaliar a quantidade prescrita de forma ideal. Importante! Embora fatores como peso, atividade física e quantidade de fibras do alimento influenciem a resposta hormonal, sabe-se que uma unidade de insulina metaboliza em média 15g de carboidrato. Desse modo, o controle glicêmico, a partir da contagem de carboidratos, permi- te condutas em situações de desequilíbrio. Hipoglicemia Corrigir utilizando-se a regra de 15 a 20g de glicose, equivalente a: • 150ml de suco de laranja OU • três balas de caramelo OU • 150ml de refrigerante com sacarose. Geralmente, a ingestão deficiente em energia, excesso de atividade física, utiliza- ção de hipoglicemiantes orais ou insulinoterapia em dissonância com a ingestão de carboidratos e calorias são as causas mais comuns de hipoglicemias; 20 21 Hiperglicemia As hiperglicemias, em geral, são resultados da progressão da doença, no DM2, bem como da falta de controle das glicemias em razão da ineficiência da medicação em uso, ou pela ação de determinadas medicações, como hormonioterapias. Síndrome Metabólica O termo Síndrome Metabólica descreve um conjunto de fatores de risco meta- bólico que se manifesta num indivíduo e aumenta as chances de desenvolver doen- ças cardíacas, derrames e diabetes. A Síndrome Metabólica tem como base a resistência à ação da insulina, daí tam- bém ser conhecida como síndrome de resistência à insulina, isto é, a insulina age menos nos tecidos, obrigando o pâncreas a produzir mais insulina e elevando seu nível no sangue A Síndrome Metabólica (SM) é definida por um conjunto de fatores clínicos, fi- siopatológicos, bioquímicos e metabólicos que, interligados, aumentam diretamente o risco de doenças ateroscleróticas cardiovasculares e DM2 (SBH, 2005; LYRA, 2014; ABESO, 2016; SBD, 2019). Existem, atualmente, três critérios diagnósticos possíveis para a SM, propostos por: 1. Organização Mundial da Saúde (OMS); 2. Third Report of the National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults (Adult Treatment Panel III – ATP III); 3. International Diabetes Federation (IDF). Embora as classificações adotem aspectos comuns da Síndrome, todas possuem particularidades que devem ser consideradas e que diferem em termos de aplicabi- lidade, uniformidade e valor preditivo positivo. Diagnóstico de SM Diagnóstico segundo OMS Segundo critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS), é diagnóstico de SM a presença de diabetes melito, intolerância glicídica ou resistência insulínica associada a 2 ou mais das seguintes comorbidades: • Pressão arterial elevada: ≥ 160/90 mmHg; • Hiperlipidemia: TG ≥ 150 mg/dL e/ou Colesterol HDL < 35 mg/dL em ho- mens e < 39 mg/dL em mulheres; 21 UNIDADE Terapia Nutricional nas Doenças Endócrinas e Metabólicas • Obesidade central: RCQ > 0,9 cm em homens e > 0,85 em mulheres e/ou IMC > 30 kg/m2; • Microalbuminúria: excreção urinária de albumina ≥ 20 mg/min ou relação albumina/creatinina ≥ 20 mg/g. (RCQ: Relação Cintura-Quadril; TG: Triglicerídeos; IMC: Índice de Massa Corporal.) Diagnóstico segundo NCEP – ATPIII Segundo critérios da NCEP – ATPIII, é diagnóstico de SM a presença de 3 ou mais dos seguintes critérios: • Obesidade abdominal: cintura > 102 cm em homens e > 88 cm em mulheres; • Hipertrigliceridemia: ~ 150 mg/dL; • Colesterol HDL baixo: < 40 mg/dL em homens e < 50 mg/dL em mulheres; • Pressão arterial elevada: ≥ 130/85 mmHg; • Glicemia de jejum elevada: ≥ 110 mg/dL. Diagnóstico segundo IDF (2005) Segundo critérios do IDF, é diagnóstico de SM quando a circunferência de cin- tura for superior aos valores indicados na Tabela 8, de acordo com sexo e etnia, e associada a 2 ou mais comorbidades. Tabela 9 – Critérios para o diagnóstico da Síndrome Metabólica de acordo com a International Diabetes Federation Circunferência de cintura Etnia Homens Mulheres Europeus 94 cm 80 cm Sul-asiáticos/chineses 90 cm 80 cm Sul-americanos/africanos 90 cm 80 cm Japoneses 85 cm 90 cm Comorbidades associadas TG > 150 mg/dL HDL-colesterol ≤ 40 mg/dL em homens ou ≤ 50 mg/dL em mulheres PAS ≥ 130 ou PAD ≥ 85 mmHg Glicemia de jejum ≥ 100 mg/dL (TG: triglicerídeos; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; PA: pressão arterial). Fonte: Adaptado de LYRA, 2014 Mesmo com as três referências apresentadas acima para diagnóstico de SM, ainda não há, na Literatura Científica, consenso sobre qual seria a mais adequada para cada caso. 22 23 Desse modo, o aspecto mais relevante a ser considerado é a identificação de pacientes sob maior risco de eventos cardiovasculares, para que as medidas ade- quadas de prevenção e tratamento possam ser instituídas. Embora as classificações adotem aspectos comuns da síndrome, todas possuem particularidades que devem ser consideradas e que diferem em termos de aplicabi- lidade, uniformidade e valor preditivo positivo. Fisiopatologia da SM A SM é uma condiçãoinflamatória crônica em que estão presentes fatores gené- ticos e ambientais, influenciadas por comorbidades como obesidade visceral, hiper- tensão arterial sistêmica, dislipidemia aterogênica, disfunção endotelial, hipercoa- gulabilidade e resistência à ação da insulina (RI). Essa última é bastante característica da SM, pois a insulina age menos nos tecidos, obrigando o pâncreas a produzir mais insulina e elevando o seu nível no sangue. A RI é explicada, principalmente, por alterações relacionadas ao tecido adiposo e os Ácidos Graxos Livres (AGL) podem ser considerados um dos maiores deter- minantes da SM. Eles são armazenados nos adipócitos sob a forma de Triacilglicerol (TAG) pela ação de uma enzima, a lipase lipoproteica. Em estado de resistência à ação da in- sulina, parece existir uma diminuição na capacidade de lipogênese e se aumenta a atividade lipolítica. A gordura visceral é composta de adipócitos grandes, pouco proliferativos, mais resistentes à insulina e mais suscetíveis à lipólise. Com isso, há um aumento do fluxo de AGL em direção ao fígado pela circulação esplênica, o que tem importan- te impacto sobre as principais características da SM. De fato, a gordura hepática relaciona-se diretamente ao teor de gordura visceral. Assim, o fluxo de AGL para o fígado aumenta a susceptibilidade à esteatose e, em consequência, maior resistên- cia hepática à insulina. Já a gordura periférica tem características inversas, sendo composta de adipó- citos pequenos, mais proliferativos, com maior capacidade de armazenamento de AGL, mais sensíveis à insulina e menos lipolíticos. Por fim, em pacientes com au- mento de gordura periférica, a liberação de AGL ocorre, predominantemente, na circulação periférica, sendo o fígado poupado dos seus efeitos diretos. O desenvolvimento da RI, que pode ser decorrente do excesso de AGL, causa efeitos também nos músculos, nos quais os AGL interferem na cascata de ativação do receptor da insulina, por meio da inativação de algumas proteinoquinases. 23 UNIDADE Terapia Nutricional nas Doenças Endócrinas e Metabólicas Os AGL são um dos principais responsáveis pela dislipidemia e também pelo desen- volvimento da SM! Importante! O fluxo elevado de AGL para o fígado leva a um aumento da produção de lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL), seguido pelas alterações morfológicas nas partículas de colesterol HDL, que fazem reduzir seus níveis na corrente sanguínea. Em Síntese Por fim, no fígado, quanto maior o teor de gordura, maior a RI e menor a inibi- ção da produção de glicose pela insulina, o que resulta em maior produção hepá- tica de glicose. Dietoterapia Existem pacientes que, embora não sejam obesos, apresentam diagnóstico de SM. Assim, sabendo-se que o risco de desenvolvimento de DM associado à SM é relacionado à gordura visceral, é necessário tratar o excesso de gordura, especifica- mente, a gordura abdominal. A ação fundamental para o tratamento do excesso de gordura é a mudança do estilo de vida. A realização de um plano alimentar saudável, associado à prática regular de ati- vidade, tem, por si só, impacto direto em todos os marcadores da SM. As recomendações gerais incluem baixa ingestão de gorduras saturadas, gorduras trans, colesterol e alimentos com baixo valor glicêmico. A realização de um plano alimentar para a redução de peso, associado a exercí- cio físico, é considerada terapia de primeira escolha para o tratamento de pacientes com síndrome metabólica. Está comprovado que essa associação provoca a redução expressiva da circun- ferência abdominal e a gordura visceral, melhora significativamente a sensibilidade à insulina, diminui os níveis plasmáticos de glicose, podendo prevenir e retardar o aparecimento de diabetes tipo 2. Há, ainda, com essas duas intervenções, redução expressiva da pressão arte- rial e nos níveis de triglicérides, com aumento do HDL-colesterol. 24 25 Esses recentes resultados em pacientes com síndrome metabólica fundamentam as condutas referentes ao plano alimentar e ao exercício físico como tratamento não medicamentoso da SM, que serão apresentadas a seguir. Carboidratos A adoção do modelo dietético DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) associado a uma intervenção no estilo de vida pode aumentar a sensibilidade à insulina. Para os carboidratos, é recomendado o uso de hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas. Embora dietas com baixo índice glicêmico possam reduzir a glicemia pós-prandial e o perfil lipídico, a capacidade dos indivíduos para manter essas dietas em longo prazo não está bem estabelecida. É recomendado o consumo de 50% a 60% das calorias totais; Fibras É recomendado o consumo de fibras em 20g a 30g/dia sob a forma de horta- liças, leguminosas, grãos integrais e frutas, pois fornecem minerais, vitaminas e outros nutrientes essenciais para uma dieta saudável; Gorduras A ingestão de gordura é inversamente associada à sensibilidade insulínica, não somente pela relação positiva com o peso corporal, mas também pela qualidade da oferta de ácidos graxos; Em algumas situações, como na hipertrigliceridemia ou quando o HDL-coles- terol for inferior ao desejável, pode ser aconselhável aumentar a quantidade de gordura monoinsaturada, reduzindo, nesse caso, a oferta de carboidratos. Essa substituição deve acontecer, pois o aumento dos ácidos graxos monoinsaturados de forma aditiva ao plano alimentar pode promover o aumento de peso. A recomendação do consumo de gorduras é de 25% a 35% das calorias totais. O uso de gordura em cotas inferiores a 15% do VCT pode diminuir o HDL- colesterol e aumentar os níveis plasmáticos de glicose, insulina e triglicerídeos. Os ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 podem ser benéficos na síndrome metabólica, em especial no tratamento da hipertrigliceridemia grave, em pessoas com diabetes tipo 2. Duas ou três porções de peixe/semana (arenque, sardinha, salmão etc.) devem ser recomendadas. Em relação às calorias totais, a recomendação é até 10%. Quanto aos ácidos graxos monoinsaturados, a recomendação é de 20% das calorias totais. Os ácidos graxos trans aumentam o LDL-colesterol e os triglicerídeos e redu- zem a fração do HDL-colesterol. A maior contribuição desses ácidos graxos na dieta origina-se do consumo de óleos e gorduras hidrogenadas, margarinas duras 25 UNIDADE Terapia Nutricional nas Doenças Endócrinas e Metabólicas e shortenings (gorduras industriais presentes em sorvetes, chocolates, produtos de padaria, salgadinhos tipo chips, molhos para saladas, maionese, cremes para so- bremesas e óleos para fritura industrial) e, em menor quantidade, produtos lácteos e carnes bovinas e caprinas. Seu consumo deve ser reduzido. A recomendação de colesterol é de < 300mg/dia. Proteína Recomenda-se uma ingestão diária de proteínas de 0,8g a 1g/kg de peso atual ou 15% do VCT. Embora dietas hiperproteicas e baixa em carboidratos possam promover a redução de peso e melhorar a glicemia em curto prazo, não está bem estabelecida a sua efetividade em longo prazo. Vitaminas e minerais O plano alimentar deve prover a recomendação para o consumo diário de duas a quatro porções de frutas, sendo pelo menos uma rica em vitamina C (frutas cítri- cas), e de três a cinco porções de hortaliças cruas e cozidas. Recomenda-se, sempre que possível, dar preferência aos alimentos integrais. De maneira geral, todas as abordagens terapêuticas visam à diminuição dos eventos cardiovasculares e à redução da mortalidade, pois a SM é um estado in- flamatório com diversas repercussões sistêmicas. Por isso, mudanças no estilo de vida, tais como cessar o tabagismo, dieta saudável, atividade física e perda ponderal são tão importantes quanto a terapia farmacológica específica para cada um dos componentes da síndrome. 26 27 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia http://bit.ly/2OvoEZw AssociaçãoBrasileira para o estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica. http://bit.ly/2Uu4Fy2 AMBULIN Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo http://bit.ly/2Skf8JF Leitura A Influência dos Hormônios Leptina e Insulina na Gordura localizada http://bit.ly/373aRj8 O papel dos hormônios leptina e grelina na gênese da obesidade http://bit.ly/36Tr3DG Pesquisa de Orçamentos Familiares POF 2017-2018 http://bit.ly/2RXD1YB Atlas IDF 2017 – Diabetes no Brasil http://bit.ly/2tvVLFb A Síndrome Metabólica http://bit.ly/2tzZCRK 27 UNIDADE Terapia Nutricional nas Doenças Endócrinas e Metabólicas Referências ABESO. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabó- lica. Mapa da obesidade, [s.d.]. Disponível em: <http://www.abeso.org.br/atitude- -saudavel/mapa-obesidade>. Acesso em: 15 nov. 2019. _______. Diretrizes brasileiras de obesidade, 2016. – 4.ed. - São Paulo, SP. Dis- ponível em: <http://www.abeso.org.br/uploads/downloads/92/57fccc403e5da. pdf>. Acesso em: 21 nov. 2019. ADA. AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Standards of medical care in dia- betes. Diabetes Care, [S.L.], v. 40, Supl. 1, p. 131, 2017. AMBULIM. Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Transtornos Alimentares. O que são? [s.d.]. Disponível em: http://www. ambulim.org.br/TranstornosAlimentares/OqueSao>. Acesso em: 1 dez. 2019. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Diabetes (diabetes mellitus): Sintomas, Causas e Tratamentos. [s.d.]. Disponível em: <http://www.saude.gov.br/saude- -de-a-z/diabetes#sintomas>. 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