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Apelação (MODELO)


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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ... Vara Criminal da Comarca de Rio Preto da Eva/ Amazonas
Odilon Coutinho, já qualificado nos autos da ação penal em epígrafe, que lhe move a Justiça Pública, por seu advogado que esta subscreve, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, intepor RECURSO DE APELAÇÃO, com fulcro no art. 593 do Código de Processo Penal.
Requer seja recebido o presente recurso e remetido as inclusas razões ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas.
Termos em que, pede deferimento, 
Local ..., 20 de setembro de 2016.
Advogado, OAB n°...
Razões de Apelação
Apelante: Odilon Coutinho
Apelado: Justiça Pública
Processo número ...
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas
Colenda Câmara
Douta Procuradoria de Justiça
Em que pese o notável saber jurídico do Douto Magistrado, merece reforma a respeitável sentença pelas razões de fato e direito a seguir expostas.
I) Dos Fatos
Odilon Coutinho, senhor de 71 anos de idade, foi acusado pelo delito de furto qualificado, no dia 17 de setembro de 2015, ao quebrar janela do prédio onde funciona a agência de Correios e subtrair computadores e caixas de encomenda.
Oferecida a denúncia pelo Ministério Público, Coutinho confessou a prática dos delitos imputados, seguindo a instrução normalmente, apesar da negação do magistrado em ouvir uma das testemunhas arroladas pelo réu.
Finda a instrução, o MP pugnou pela condenação do réu nos termos da inicial acusatória, fato que fora acolhido pelo juiz ao proferir sentença, razão pela qual impõe-se a presente medida.
II) Do Direito
Primeiramente, aponta-se nulidade processual pelo prosseguimento do feito sem a intimação do advogado constituído para o ato.
Nos termos do art. 370, § 1° do Código de Processo Penal, a intimação do defensor constituído, do advogado do querelante e o assistente far-se-á por publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais da comarca, incluindo, sob pena de nulidade, o nome do acusado.
No caso, Odilon Coutinho já havia advogado constituído, porém, este não foi intimado para o interrogatório e condução do cliente no ato. Ressalta-se que a constituição de advogado ad hoc deve ser realizada apenas nos casos em que a parte não houver constituído patrono previamente, de modo a obter defesa técnica.
Destarte, deve ser anulado o presente processo a partir da intimação afim de que seja intimado advogado já constituído da parte, vide art. 364, III, O, do Código de Processo Penal.
Caso Vossa Excelência não entenda pela nulidade devido ausência de intimação do advogado, importante ressaltar a negação da oitiva de testemunha arrolada, pelo magistrado.
Conforme preconiza o art. 5° LV, da Constituição Federal, aos litigantes será assegurado o Contraditório e a Ampla Defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
Ocorre que, no caso em tela, a negativa do juiz de ouvir uma das testemunhas arroladas pela parte ré impede e obstrui sua possibilidade de se defender, uma vez que tal ato se mostra imprescindível na manutenção do convencimento do juízo. 
Sendo assim, resta configurado cerceamento de defesa devido omissão de formalidade essencial, acarretando nulidade processual, nos termos do art. 564, IV do Código de Processo Penal.
De outro lado, verifica-se a flagrante utilização de prova ilícita no curso do processo.
Segundo a doutrina, configura prova ilícita aquela que viola a intimidade e vida privada da parte, direitos estes fundamentais, conforme art. 5°, X da Constituição Federal. Ademais, segundo o art. 157 do Código de Processo Penal, são inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
No processo em análise, verificamos a realização de escuta telefônica sem que houvesse autorização do juízo ao mandado judicial, fato que também viola o art. 5°, LVI, combinado com o inciso XII, ambos da Carta Magna.
Por esse motivo, deve ser reconhecida a improcedência do pedido, conforme dispositivos supracitados, e também, a absolvição do réu, com base no artigo 386, VII do Código de Processo Penal.
Subsidiariamente, percebe-se Odilon Coutinho foi condenado pelo crime previsto no art. 155 § 4°, I e IV, combinado com os arts. 29 e 69, todos do Código Penal.
No entanto, observamos que, na denúncia, não é mencionado o nome de qualquer outro coautor ou partícipe, de modo que o réu agiu sozinho na prática do crime imputado. Logo, não deve haver a incidência do concurso de pessoas, prevista nos arts. 155 § 4° IV e do art. 29 do Código Penal.
Outrossim, também não deve incidir o art. 69 do Código Penal, uma vez que houve a prática de um único delito de furto, não configurando concurso material, mas crime único.
Consequentemente, deve ser desclassificado o crime dos artigos mencionados na denúncia para apenas o crime de furto qualificado, no art. 155 §4° do Código Penal.
Em caso de condenação, requer a aplicação da pena base fixada no patamar mínimo, por ausência de circunstâncias judiciais desfavoráveis, nos termos do art. 59, do Código Penal.
Na segunda fase da dosimetria da pena, é necessário observar a incidência da atenuante de confissão, prevista no art. 65, D, do Código Penal.
Ainda, de rigor, a fixação do regime inicial aberto para o cumprimento da pena, nos termos do art. 33 § 2°, C, do Código Penal, em razão da primariedade e diante da pena ser aplicada no patamar mínimo, bem como a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, conforme o art. 44 do CP, ou a suspenção condicional da pena, tendo em vista a idade do réu, nos termos do art. 77 §4° do Código Penal.
Por fim, deve ser arbitrado no patamar mínimo o valor a ser pago a título de reparação de danos (art. 387, IV, CPP) e concedido o direito de recorrer em liberdade (art. 387, §1°, CPP)
III) Dos Pedidos
Ante o exposto, requer-se a anulação do processo desde a intimação, com fulcro no art. 364, III, letra “o” do Código de Processo Penal, considerando-se a ausência de intimação do advogado constituído para interrogatório. Caso esse não seja o entendimento de Vossência, requer anulação com base no art. 364, IV do mesmo diploma e art. 5°, LV da Constituição Federal, tendo em vista cerceamento de defesa. Ademais, solicita que seja reconhecida a ilicitude da interceptação telefônica feita sem mandado (art. 5°, LVI cc XII da CF e art. 157 do CPP). Após o reconhecimento da ilicitude, requer a improcedência do pedido da acusação e a absolvição do acusado nos termos do art. 386, VII do CPP. Subsidiariamente, requer-se a desclassificação para o crime previsto no art. 155 § 4° do Código Penal. Em caso de condenação, requer-se a fixação da pena-base no mínimo legal, reconhecendo-se as atenuantes do art. 65, inciso III, “d”, do CP, com fixação do regime inicial aberto (art. 33, parágrafo 2°, “c” do CP) e substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos (art. 44 do CP) ou o sursis etário (art. 77, § 2° do CP). Ainda, requer seja arbitrado no patamar mínimo o valor a ser pago a título de reparação de danos, nos termos do art. 387, inciso IV do CPP. Por fim, pleiteia-se a concessão do direito de recorrer em liberdade, sobre o fundamento do art. 387, parágrafo 1° do CPP.
Termos em que, 
Pede deferimento, 
Local, 20 de setembro de 2016, 
Advogado, OAB n°...