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Universidade Anhembi Morumbi Graduação em Relações Internacionais Disciplina: Introdução aos Estudos das Relações Internacionais Professora Dra. Tatiana Garcia 1°semestre - período noturno Campus Vila Olímpia Integrantes e seus respectivos RAs: Beatriz Paulino de Lima – 21369799 Julia Silva Cavalcanti - 21428599 Rafaela da Silva Adão - 20762694 Victoria Evangelista Aguiar da Silva - 21470397 ARON, Raymond. Paz e Guerra entre as Nações. Brasília: Editora UNB. (Capítulo IV: Os Sistemas Internacionais, p. 153-172). “Sistema Internacional é o conjunto constituído pelas unidades políticas que mantêm relações regulares entre si e que são suscetíveis de entrar numa guerra geral. São membros integrais de um sistema internacional as unidades políticas que os governantes dos principais Estados levam em conta nos seus cálculos de forças”. (p.153) A citação está diretamente ligada ao modo como Raymond Aron define o sistema internacional, diante disso tal conceito acaba sendo relacionado aos Estados soberanos que possuem como principal função a configuração da relação de forças, dessa forma essa política de força faz com que os Estados tenham total independência para impor seus interesses próprios e dependendo da sua força, se põe como principal entre os demais. 1. “[...] Um sistema político caracteriza-se por uma organização dada, a relação recíproca dos partidos, a cooperação dos elementos que o compõem, as regras impostas pelo governo”. (p.153) 2. “Dos dois critérios - participação política e militar e comunicação - qual é a mais importante para definir a participação em um sistema? Na minha opinião, o primeiro. Só pertencem a uma companhia teatral os atores que tomam parte na encenação das suas peças”. (p.154) Os trechos estão interligados, de modo que o sistema político é a forma pela qual o Estado é estruturado e organizado, através disso o Estado tem total autonomia para exercer seu poder na sociedade. Neste contexto, quando o autor coloca em pauta os critérios, a participação política e militar é mais importante para ele, por conta do uso da força, pois são elas as responsáveis por garantir a legitimidade do poder de tais Estados. 1. “Para definir o que compreendemos como configuração da relação de forças, o mais simples será comparar duas configurações típicas: a multipolar e a bipolar. No primeiro caso, a rivalidade diplomática se desenvolve entre um certo número de unidades políticas, que pertencem à mesma classe. Diversas combinações de equilíbrio são possíveis: as reversões de alianças são normais no processo diplomático. No segundo caso, duas unidades políticas principais ultrapassam todas as outras em importância, de tal forma que o equilíbrio geral do sistema só é possível com duas coalizões: todos os demais Estados, pequenos ou grandes, ficam obrigados a aderir um dos dois campos”. (p.157) 2. “Qualquer que seja a configuração existente, as unidades políticas formam uma hierarquia, mais ou menos oficial, determinada essencialmente pelas forças que cada uma é capaz de mobilizar”. (p.157) O primeiro termo citado pelo ator se trata do mundo multipolar, que é um conceito ligado diretamente a ordem mundial e ao equilíbrio internacional do poder, além disso envolve as nações, seus territórios e áreas de influência e também suas disputas e conflitos diplomáticos, sejam eles do âmbito político ou econômico. Neste contexto, pós Segunda Guerra Mundial (1939-1945) se estabelece o segundo termo mundo bipolar, nesse período houve um abalo econômico de muitos países que estavam na guerra, com Alemanha, Itália e França. O mundo ficou bipolar com a chegada da Guerra Fria (1947-1991), assim duas potências tiveram ênfase, Estados Unidos (capitalismo) e União Soviética (socialismo), criando assim um conflito político e ideológico. Em conclusão disso, houve o declínio da União Soviética e assim do regime socialista, isto abriu portas para que o capitalismo se instaurasse, assim também aconteceu uma estruturação no mundo e uma nova organização geopolítica foi inaugurada, ou seja, o mundo se tornou multipolar, pois hoje existe vários centros de poderes, como o Estados Unidos (primeira potência), em seguida China, Japão, Alemanha, Índia, França, entre outros. “[...] Da pax britannica à pax americana não se mudava de universo; a mudança feria o amor-próprio dos ingleses, mas não sua alma coletiva. A pax germanica, por outro lado, não poderia imperar sem que a Inglaterra resistisse até a morte; só uma catástrofe militar poderia abrir caminhos à hegemonia alemã”. (p.159) O conceito de pax britannica foi um momento onde a Europa (1815-1914) teve de certa forma um período de paz e o Império Britânico se tornou a potência hegemônica global. O período do Belle Époque, também se encaixa, de modo que foi um período de paz, esperança, otimismo e avanços científicos e tecnológicos adquirido as grandes potências ocidentais, principalmente as europeias, porém como tudo não são flores em 1914 acontece a Primeira Guerra Mundial e tal período chega ao fim. O autor traz então a explicação de dois novos conceitos: ⮚ “O comportamento externo dos Estados não é ordenado exclusivamente pela relação de forças: as ideias e os sentimentos influenciam as decisões dos atores internacionais. [...] Sistemas homogêneos são aqueles que reúnem Estados do mesmo tipo, dentro de uma mesma concepção da política. Sistemas heterogêneos são os que congregam Estados organizados segundo princípios diferentes, postulando valores contraditórios”. (p.159-160) 1. “Um sistema homogêneo parece estável também porque é previsível. Se todos os Estados têm regimes análogos, estes só podem ser tradicionais – formados pelo tempo, não improvisados. [...] Os rivais e os aliados desse Estado sabem, de modo geral, o que podem esperar dele”. (p.160) 2. “Por definição, os Estados e aqueles que falam em seu nome são levados a traçar a distinção entre inimigo do Estado e adversário político. A hostilidade estatal não implica o ódio e não exclui a possibilidade de acordo e de reconciliação após a luta”. (p.160) 3. “A heterogeneidade do sistema traz consequências contrárias. O inimigo aparece também como adversário, no sentido que o termo tem quando nos referimos às lutas internas: a derrota prejudica os interesses da classe dominante, além dos da Nação. Os homens que detêm o poder se batem pelo Estado e por si próprios”. (p.161) 4. [...] Quando as hostilidades se iniciam, uma paz negociada é difícil, pois a subversão do governo inimigo passa a ser quase fatalmente um dos objetivos da guerra. Os períodos de grandes guerras – guerras religiosas, revolucionárias, imperiais, guerras do século XX – sempre coincidiram com o questionamento do princípio de legitimidade e de organização dos Estados”. (p.161) Os quatro trechos se interligam, de modo que um completa o outro, pois dessa maneira será possível um melhor entendimento sobre os conceitos expressos pelo autor. Diante disso, o termo sistema homogêneo está ligado aos Estados que possuem interesses iguais e uma mesma concepção política, já no sistema heterogêneo os Estados possuem princípios divergentes e assim possuem interesses e valores diferentes. Se pesquisarmos o significado de guerra iremos encontrar que está relacionada a termos como combate, batalha, luta, briga ou confronto, assim traz o significado de “luta armada entre nações ou entre partidos; conflito armado entre povos ou etnias diferentes, buscando impor algo pela força ou para proteger seus próprios interesses”. Neste sentido a guerra traz o rompimento da paz e causa uma imensurável perda de vidas. No entanto, fica evidente que o homem não se importa com perdas humanas, mas sim no modo em que conseguirá obter seus interesses e centralizaráseu poder perante os outros, por este motivo na História é visto diversos acontecimentos que foram marcados por guerras, como exemplos temos Guerra dos Trinta Anos, Guerra do Peloponeso, Guerras Napoleônicas, Guerra Civil Espanhola, Guerra dos Farrapos, Guerra dos Canudos, Guerra Civil Americana, I e II Guerra Mundial, Guerra Fria, Segunda Guerra do Congo, Guerra Civil Russa, entre tantas outras. O fato é que as guerras acontecem por interesses econômicos, religiosos, ideológicos, imposições culturais, étnicas ou sociais e para principalmente a obtenção e legitimação do poder. “Os sistemas internacionais que abrangem Estados aparentados e vizinhos são ao mesmo tempo o palco de grandes guerras e o virtual espaço de processos de unificação imperial. O campo diplomático amplia-se à medida que as unidades políticas integram um número crescente de antigas unidades elementares”. (p.165) O modo como os Estados se comportam pode variar, pois não a um alinhamento externo, ou seja, é uma questão de homogeneidade, porém dependendo da conjuntura e da relação de força, pode-se haver uma quebra, exemplo disso é a Organização das Nações Unidas que é uma representante dessa homogeneidade jurídica. Dessa forma, o campo diplomático pode mudar dependendo da conjuntura e de quem se tornou rival. “Dissemos que os sistemas internacionais englobam unidades que mantêm um relacionamento diplomático regular, relações estas que se fazem acompanhar normalmente de laços entre os indivíduos que partilham das diferentes unidades. Os sistemas internacionais são o aspecto interestatal da sociedade à qual pertencem as populações submetidas a soberanias distintas”. (p.165) Aron cita muitas vezes o conceito de sistema internacional, pois é muito discutido nas Relações Internacionais e também pelo fato de estar ligado à percepção realista. Diante disso, trata-se então das relações interestatais que são realizadas pelos Estados, definida através de uma sociedade anárquica e constituída pela hierarquia de tais Estados soberanos, que disputam o poder, de modo que um deles sempre quer ser aquele com maior influência. 1. “A sociedade transnacional manifesta-se pelo intercâmbio comercial, pelos movimentos de pessoas, pelas crenças comuns, pelas organizações que ultrapassam as fronteiras nacionais, pelas cerimônias e competições abertas aos membros de todas as unidades políticas. Ela é tanto mais viva quanto maior é a liberdade de comércio, de movimentação e de comunicação; e quanto mais fortes forem as crenças comuns, mais numerosas serão as organizações não- nacionais, mais solenes as cerimônias coletivas”. (p.166) 2. “[...] Não basta que os indivíduos se conheçam e se freqüentem, que troquem mercadorias e idéias, para que reine a paz nas unidades políticas soberanas, embora essa intercomunicação seja provavelmente indispensável à formação ulterior de uma comunidade internacional ou supranacional”. (p.166) O autor faz uma perspectiva sociológica pensando em pessoas, ou seja, ele olha fora da caixa percebendo que não apenas as relações de poder são importantes, mas também que existem normas que são construídas com base no que se é visto nas sociedades e tais levam para o ambiente internacional normas de convivência. Nesse sentido, o trecho I, refere-se exatamente a esta perspectiva sociológica, pois quando o autor se refere a intercâmbio comercial, movimentos de pessoas, crenças comuns, fronteiras nacionais, cerimônias e competições abertas tudo isso está diretamente relacionado e formado por pessoas. Dessa forma, a sociedade é um organismo vivo que possui um conjunto de interesses comuns e vínculos sociais, econômicos e políticos, com isso para que se mantenha, as pessoas são seus peões e se é feito algum lance errado pode acontecer um conflito de interesses, ou seja, xeque-mate. 1. “Em todas as épocas a sociedade transnacional foi regida por costumes, convenções, ou por um direito específico. As relações que os cidadãos de um país beligerante estavam autorizados a manter com os cidadãos do Estado inimigo eram regidas mais pelo costume do que pela lei. Convenções intergovernamentais precisavam o estatuto dos cidadãos de cada país que estivessem estabelecidos no território do outro. A legislação torna lícita ou ilícita a criação de movimentos transnacionais ou a participação em organizações profissionais ou ideológicas que pretendem agir num nível supranacional”. (p.167) 2. “Do ponto de vista sociológico, estaria inclinado a denominar “direito internacional privado” o direito que regulamenta essa sociedade transnacional que acabamos de descrever – isto é, a sociedade imperfeita, formada por indivíduos que pertencem a unidades políticas distintas e que mantêm relações recíprocas enquanto pessoas privadas”. (p.167) Com o mesmo ponto de vista dos trechos da página 166, o autor continua a tratar sobre esse conjunto de interação entre pessoas, assim quando fala de um nível supranacional ele se refere a um poder acima dos países, um poder supranacional, a ONU é um desses poderes. O autor traz a explicação do Direito privado, que são as relações privadas com conexão internacional, ou seja, pessoas do mundo. A globalização permite essa conexão de pessoas deixando o mundo pequeno para o alcance possível das mãos. Cosmopolita é o termo usados hoje para as milhares de pessoas que atravessam as fronteiras do mundo. 1. “[...] Todas essas civilizações tiveram um código não-escrito que determinava o modo de tratar os embaixadores, os prisioneiros e até mesmo os guerreiros inimigos, durante o combate. Não é isto o que nos dá o direito internacional público?”. (p.168) 2. “Os Estados concluíram numerosos acordos, convenções ou tratados, alguns dos quais interessam sobretudo à sociedade transnacional; outros dizem respeito também ao sistema internacional. À primeira categoria pertencem, por exemplo, as convenções postais, as convenções relativas à higiene, aos pesos e medidas; à segunda, o direito do mar, por exemplo”. (p.168) 3. “As convenções internacionais regulamentam a utilização dos oceanos e dos rios, dos meios de transporte e comunicação, no interesse coletivo dos Estados e não só dos indivíduos. A expansão do direito internacional demonstra a ampliação dos interesses coletivos, [...] organizadas politicamente sobre um base territorial, sob o mesmo céu, à margem dos mesmos oceanos”. (p.168) 4. “[...] Porém o “direito de autodeterminação dos povos”, o “princípio das nacionalidades” e a “segurança coletiva” são fórmulas vagas, idéias que exercem influência sobre os estadistas e sobre a interpretação dada pelos juristas e sobre a interpretação dada pelos juristas ao direito positivo”. (p.169) O termo Direito internacional público aparece nos quatro respectivos trechos, no que se diz a respeito disso e através de algumas pesquisas, determina-se direito internacional público uma disciplina que ministra as relações entre os Estados, Organizações Internacionais e indivíduos situados dentro da ordem mundial. Tais benefícios como meios de transportes e comunicação surge com os interesses de se evoluir e de se dominar, pois a sociedade é governada por Estados, assim se dá o sistema internacional, sistema de interesses. “Este tem como fonte importante - senão preponderante – os tratados; essa a opinião unânime dos juristas. Mas os tratados raramente são assinados com plena liberdade por todas as partes contratantes: eles traduzem uma relação de forças, consagram a vitória de uma parte e a derrota de outra. O princípio pacta sunt servanda (“os acordos devem ser cumpridos”) é uma condição da existência do direito internacional – se não é seu fundamento moral, ou sua norma primeira. Ao mesmo tempo, o direito internacional tende a ser conservador: é o país vitoriosona última guerra que em geral o invoca contra as reinvindicações do país vencido que recompôs suas forças”. (p.169) Os tratados são acordos realizados em um âmbito internacional que visam proteger, fortalecer e sustentar interesses decretados em determinada área. Essas ferramentas são eficazes para obrigar os Estados a cumprirem o seu comprometimento de alcançar definitivamente os objetivos propostos. Por se tratar de um instrumento formal os Estados são obrigados a seguir o que se foi vigorado, ou seja, pacta sunt servanda. Questões: 1. Utilizando-se da perspectiva de Raymond Aron, qual a diferença entre Sistema Homogêneo e Sistema Heterogêneo no que tange às relações internacionais? Resposta: De acordo com o texto, esses dois conceitos estão diretamente ligados a uma perspectiva política onde, no sistema homogêneo os atores possuem os mesmos interesses políticos; já no heterogêneo possuem interesses diferentes. Contudo, isso não significa que os Estados integrantes dos sistemas heterogêneos sejam inimigos, assim como os membros dos homogêneos podem não ter relações estreitas. A homogeneidade entre Estados proporciona menos motivos para entrarem em conflito, entretanto, a mesma concepção política não garante alianças, o que não ocorre entre Estados heterogêneos, já que são organizados segundo princípios diferentes, postulando valores contraditórios e inclinando-os à inimizade. 2. Baseando-se nos conceitos e definições apresentados no texto, explique a diferença entre Sistema e Sociedade Internacional. Resposta: O Sistema Internacional é um conceito fortemente ligado à visão tradicionalmente realista das relações internacionais. Segundo o próprio Aron, "é o conjunto constituído pelas unidades políticas que mantém relações regulares entre si e que são suscetíveis de entrar numa guerra geral". Os componentes do Sistema Internacional são as unidades políticas que "os governantes dos principais Estados levam em conta nos seus cálculos de forças". Em suma, o Sistema Internacional está atrelado a como se dão as relações de poder entre os Estados baseadas na anarquia e estruturadas pela hierarquia e disputas de poder entre os atores mais fortes e mais fracos. Em contrapartida, a Sociedade Internacional está atrelada à Escola Inglesa e tem um viés mais sociológico, mais ligado às pessoas, onde a sociedade é permeada por regras e princípios encarnados no Direito Internacional, relativizando a anarquia do sistema pois, como há um código que coordena as relações, a anarquia é algo subjetivo. Nesse conceito, somente as relações de poder não são suficientes, mas sim como as normas são construídas com base nos costumes respectivos de cada sociedade que, como vimos em aula, refletem em âmbito internacional suas normas de convivência.
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