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Prestação de Contas de Convênio em Jundiaí

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GABINETE DO CONSELHEIRO 
DIMAS RAMALHO 
(11) 3292-3235 - gcder@tce.sp.gov.br 
 
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SEGUNDA CÂMARA - SESSÃO: 19/03/2019 
 
 
GCDR-11 
 
80 TC-000569/003/18 
Órgão Público Concessor: Prefeitura Municipal de Jundiaí. 
Entidade(s) Beneficiária(s): Hospital de Caridade São Vicente de Paulo – 
HCSVP. 
Responsável(is): Luiz Fernando Arantes Machado (Prefeito), Vagner Vilela 
(Gestor da Unidade de Saúde), Antônio Pedro Vendramin (Presidente) e 
Denilson Cardoso de Sá (Procurador). 
Assunto: Prestação de contas – repasses públicos ao terceiro setor. 
Justificativas apresentadas em decorrência de assinatura(s) de prazo, pelo 
Substituto de Conselheiro Auditor Valdenir Antonio Polizeli, publicada(s) no 
D.O.E. de 12-10-18. 
 Exercício: 2017. 
Valor: R$154.557.330,90 (R$29.789.982,91 Federal e R$124.767.347,99 
Municipal). 
Advogado(s): Érica Belliard Sedano (OAB/SP nº 130.689), Alberto Shinji Higa 
(OAB/SP nº 154.818), Roberta Kandas de Meiroz Grilo (OAB/SP nº 97.509) e 
outros. 
Procurador(es) de Contas: Rafael Antonio Baldo. 
Fiscalizada por: UR-3 - DSF-I. 
Fiscalização atual: UR-3 - DSF-II. 
 
 
 
 
EMENTA: PRESTAÇÃO DE CONTAS. CONVÊNIO. 2017. 
PREFEITURA DE JUNDIAÍ E HOSPITAL DE CARIDADE SÃO 
VICENTE DE PAULO. EXECUÇÃO DE SERVIÇOS MÉDICO-
HOSPITALARES. AUSÊNCIA DE TRANSPARÊNCIA. DEPESAS 
ALHEIAS AO PLANO DE TRABALHO. IRREGULARIDADE. 
- A prestação de contas que não apresenta balanço contábil e demais 
demonstrações contábeis típicas do terceiro setor, na forma exigida 
pelas Instruções do TCESP, impede que se ateste a regularidade das 
contas. 
- As despesas que não estejam previstas no Plano de Trabalho do 
Convênio, mas que excepcionalmente demonstrem-se compatíveis 
com a atividade desempenhada pelo conveniado, afastam a 
condenação à devolução, não a irregularidade. 
 
 
1. RELATÓRIO 
 
 
 
 
 
 
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1.1. Em exame, prestação de contas de recursos financeiros originários de 
Convênio firmado entre a PREFEITURA MUNICIPAL DE JUNDIAÍ ao 
HOSPITAL DE CARIDADE SÃO VICENTE DE PAULO, referente ao exercício 
de 2016, no valor de R$124.767.347,99 (cento e vinte e quatro milhões 
setecentos e sessenta e sete mil trezentos e quarenta e sete reais e 
noventa e nove centavos), com o objetivo de ofertar serviços médico-
hospitalares à população local. 
 
1.2. A Unidade Regional de Campinas – UR-03 – analisou a documentação 
encaminhada pela Origem e anotou as seguintes impropriedades (fls. 24/32v): 
 
EXECUÇÃO DO CONVÊNIO 
- Despesas efetuadas em categorias não contempladas no Plano de 
Trabalho; 
- Grande número de contingências cíveis e acordos trabalhistas 
pagos em 2017, alcançando um montante de R$635.347,85. 
 
MOVIMENTAÇÕES FINANCEIRAS 
- Diferença de R$1.391,10 não conciliada em relação às contas 
bancárias nas quais são movimentados recursos do presente 
convênio. 
 
DESPESAS 
- A entidade beneficiária não abriu conta específica para o recurso 
municipal repassado, impossibilitando identificar quais despesas 
foram provenientes de verba municipal ou de recurso próprio; 
 
- As categorias de despesas estão em desacordo com as acordadas 
no Plano de Trabalho. 
 
PEÇAS CONTÁBEIS DA CONVENIADA 
- Depende quase que exclusivamente dos repasses públicos que 
correspondem a 97,47% da sua receita; 
 
- Alto grau de endividamento. 
 
ATENDIMENTO ÀS INSTRUÇÕES E/OU RECOMENDAÇÕES DO 
TRIBUNAL DE CONTAS 
- Atendimento parcial das determinações desta E. Corte em relação à 
prestação de contas referente ao exercício de 2015. 
 
1.3. As partes foram notificadas para apresentar justificativas e 
esclarecimentos adicionais (fls. 162/164). 
 
 
 
 
 
 
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1.4. O HOSPITAL DE CARIDADE SÃO VICENTE DE PAULO apresentou 
justificativas às fls. 188/194 (docs. fls. 195/208). Informou que o convênio foi 
julgado regular e que a fiscalização apontou que os recursos foram 
empregados no objeto proposto. 
 
 Afirmou que os acordos trabalhistas representaram economia de 
recursos. A diferença não conciliada foi justificada como incorreção nos 
documentos contábeis, reparada no exercício seguinte. As demonstrações de 
aplicação dos recursos próprios do convênio poderiam ser visualizadas nos 
balancetes mensais, e o endividamento estaria sendo reparado com medidas 
de eficiência de gestão e transparência. Apresentou esclarecimentos 
adicionais. 
 
1.5. Os autos foram remetidos ao MPC, que apresentou parecer pela 
irregularidade, atento às falhas apontadas no relatório de fiscalização (fls. 
210/219). 
 
1.6. A PREFEITURA MUNICIPAL DE JUNDIAÍ apresentou justificativas às 
fls. 221/234 (docs. fls. 235/238). Inicialmente, argumentou que os Convênios 
firmados com a Entidade, além das prestações de contas dos exercícios de 
2008 a 2010. Informou que o Hospital de Caridade São Vicente de Paulo é o 
único hospital filantrópico da municipalidade com atendimento ao SUS superior 
a 95%. Além disso, é habilitado para serviços de alta complexidade e 
credenciado como hospital de ensino, trazendo, assim, melhorias diversas para 
a região, conforme matérias jornalísticas que traz. 
 
 Afirma que as despesas reputadas indevidas pela fiscalização de fato 
ocorreram, “mas ainda assim possibilitaram que o grande número de pessoas 
que buscam os serviços prestados por este Hospital Filantrópico não fossem 
desamparados”. As demandas trabalhistas são lançadas e atualizadas 
conforme norma contábil CPC 25. 
 
 
 
 
 
 
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1.7. O MPC reiterou posição pela irregularidade, acrescentando opinião pela 
devolução dos créditos trabalhistas e remessa de cópia ao MPE. 
 
 É o relatório. 
 
 
 
 
 
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2. VOTO 
 
2.1. Tal qual expus na fundamentação do TC-001036/007/17, as falhas 
apontadas pela fiscalização não foram afastadas. 
 
 O expressivo montante repassado ao Hospital Conveniado requer 
máxima transparência na demonstração da aplicação dos recursos, que não 
podem ser aplicados fora do Plano de Trabalho, especialmente diante do 
expressivo percentual de resultados abaixo das metas pactuadas. 
 
 Com efeito, a utilização de recursos públicos para melhoria da situação 
financeira deficitária do Hospital desatende ao propósito de atendimento da 
população, ao ponto de afetar a produção mensal de procedimentos 
ambulatoriais (67%), internação hospitalar (47%) e dias de permanência dos 
pacientes (6,65%), fragilizando a alegação de que o objetivo proposto fora 
devidamente cumprido (dados extraídos de fls. 87/88). 
 
 Como expus no TC-001036/007/17: 
 
Não é demais advertir à Origem de que o repasse de recursos 
públicos sem contrapartida, a “fundo perdido”, para auxílio a 
Entidades sem finalidades lucrativas, se dá por meio de auxílio ou 
subvenção, que necessitam de lei específica para que se legitimem, 
além de instrumento de ajuste que especifique a aplicação dos 
recursos. 
 
Convênios, Contratos de Gestão, Termos de Colaboração e/ou 
Fomento, e instrumentos análogos, por sua vez, não dependem de 
autorização legislativa por pressuporem que as atividades a serem 
custeada sejam aquelas de natureza obrigacional do Órgão/Ente 
Público, já previstas nas leis orçamentárias, mas não exclusivas, e 
por isso mesmo executadas pela Entidade Privada, mediante 
fomento. 
 
 
 
 
 
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Dessa forma, impossível encampar a tese de que os recursos foram 
indiscriminadamente repassados para as despesas gerais da 
Entidade se se destoam desse prisma acima traçado. 
 
A irregularidade é especialmente acentuada em se considerando que 
a Entidade recebe recursos de três fontes públicas diferentes e,apesar disso, não se presta a elaborar seu balanço por projeto, não 
elabora relatório de atividades consistentes e segregado por 
convênio, tampouco apresenta conciliação bancária, não se podendo 
sequer afirmar da adequação e idoneidade das despesas comuns 
apresentadas frente às três fontes financeiras diversas. 
 
2.3. Ante ao exposto, nos termos dos artigos 33, III, “a” e “b” da Lei 
Complementar nº 709/93, JULGO IRREGULAR o processo das comprovações 
da aplicação dos recursos em tela, acionando, de conseguinte, o art. 2º, XV e 
XXVII da Lei Orgânica desta Corte. 
 
2.4. Apesar das irregularidades de aplicação dos recursos aqui explicitadas, 
deixo de condenar o HOSPITAL DE CARIDADE SÃO VICENTE DE PAULO à 
devolução dos recursos ante os indícios de que aplicado na manutenção da 
Entidade, mas advertindo as partes de que ocorrências futuras tais quais 
anotadas nestes autos serão reprovadas, com condenação à restituição aos 
cofres públicos. 
 
2.5. À margem do voto, verifico, na data do julgamento, que a Entidade não 
cumpre o que determina a Lei de Acesso à Informação (LF nº 12.527/2011). 
 
 Bem por isso, recomendo que a Entidade promova as adequações 
necessárias ao fiel cumprimento da citada Lei, informando, em seu site, com 
link direto e ostensivo, sobre a aplicação dos recursos públicos recebidos e a 
suas respectivas destinações, no mínimo por categorias de despesas, sem 
prejuízo das prestações de contas a que esteja legalmente obrigada, nos 
 
 
 
 
 
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moldes da Lei Federal nº 12.527/2011, Lei de Acesso a Informações, e 
notadamente: 
 
1. relação de nomes, cargos e salários pagos a toda a diretoria e ao 
quadro administrativo de colaboradores da Entidade, bem como aos 
colaboradores contratados por cada ajuste firmado; 
2. registro das competências e estrutura organizacional, endereços e 
telefones das respectivas unidades e horários de atendimento ao 
público; 
3. registros de quaisquer repasses ou transferências de recursos 
financeiros; 
4. registros de receitas e despesas; 
5. informações concernentes a procedimentos licitatórios, inclusive os 
respectivos editais e resultados, bem como a todos os contratos 
celebrados; 
6. relatórios, estudos e pesquisas; 
7. dados gerais para o acompanhamento da execução orçamentária, de 
programas, ações, projetos e obras de órgãos e entidades; 
8. respostas a perguntas mais frequentes da sociedade. 
 
 É como voto. 
 
 
 
 
DIMAS RAMALHO 
CONSELHEIRO 
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