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Volume 1 Capítulo 5 Teoremas do Anulamento, do Valor Intermediário e de Weierstrass 1. Consideremos dois corpos A e B se locomovendo sobre dois trilhos horizontais. Sejam 2 3 2( ) = 3 4, 0 e ( ) = 2 , 0tf t e t t g t t t t+ − ≥ − ≥ as funções que a cada instante t indicam a distância percorrida pelos corpos A e B, respecti- vamente. Nessas condições, mostre que existe um instante de tempo t em que os dois corpos A e B terão percorrido exatamente a mesma distância. Solução Observe que, se 0t é um instante em que os corpos A e B percorreram exatamente a mes- ma distância, então neste instante de tempo devemos ter 0 0 0( ) = ( ) ( )( ) = 0.f t g t f g t⇒ − Desse modo, nosso problema se reduz a provar que a nova função (f – g)(t) = et – 2t3 + 4t2 – 2t3 – 4, definida a partir das funções f e g, possui uma raiz. Evidentemente, a ideia para garantir a existência dessa raiz, é utilizar o teorema do anulamento. Para isso, devemos encontrar um intervalo real em que a função ( )f g− muda de sinal. Note que ( )(0) = 3 < 0 e ( )(1) = 2 > 0.f g f g e− − − − Assim, ( )f g− é uma função contínua em [ 1,0]− , derivável em ( 1,0)− (pois f e g o são), ( )(0) < 0f g− e ( )(1) > 0f g− . Dessa forma, o teorema do anulamento nos permi- te concluir que existe 0 (0,1)t ∈ tal que 0( )( ) = 0f g t− , ou seja, 0 0( ) = ( )f t g t , e assim no instante 0=t t os corpos A e B terão percorrido exatamente a mesma distância. 2. Forneça um exemplo de uma função que muda de sinal num intervalo [ , ]a b mas que não se anula em nenhum ponto desse intervalo. Em seguida, justifique por que o exemplo que você forneceu não contraria o teorema do anulamento. Problemas e Desafios PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_5.indd 1 17/07/2018 15:32:17 2 Problemas e Desafios Solução Consideremos : [ 1,1]f − → , dada por 1/ , 0, ( ) = 1/ 2, = 0. x x f x x ≠ Observando o gráfico de f, vemos que f assume valores negativos para < 0x e valores positivos para 0x ≥ , mas não se anula em nenhum ponto do intervalo [ 1,1]− . Como po- demos observar na figura abaixo, no entanto, tal exemplo não contraria o teorema do anulamento, uma vez que a função f não é contínua em = 0x . y x– 1 10 5_2 3. Exiba graficamente exemplos de funções contínuas num intervalo fechado [a, b], exceto em algum ponto ( , )c a b∈ , e que satisfaçam as seguintes condições: a) Assume valor máximo em [a, b], mas não assume valor mínimo. b) Assume valor mínimo em [a, b], mas não assume valor máximo. c) Não assume nem valor mínimo nem valor máximo em [a, b]. d) Assume valores mínimo e máximo em [a, b]. Isso mostra que, quando descartamos a continuidade de uma função f, esta pode ou não satisfazer o teorema de Weierstrass. Solução a) y x0a b 5_3a b) y x0a b 5_3b PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_5.indd 2 17/07/2018 15:32:18 3 Teoremas do Anulamento, do Valor Intermediário e de Weierstrass c) y xa b 5_3c d) y x0a b 5_3d 4. Use o teorema do valor intermediário para provar que toda função contínua e injetiva :f I → deve necessariamente ser estritamente crescente ou estritamente decrescente. Solução Vamos demonstrar esse resultado por redução ao absurdo. Para tanto, suponhamos que :f I → seja uma função contínua e injetiva mas que não seja nem estritamente cres- cente e nem estritamente decrescente. Então, deverão existir 0 1 2, ,x x x I∈ , 0 1 2< <x x x , satisfazendo 0 1 1 2( ) < ( ) e ( ) > ( )f x f x f x f x ou 0 1 1 2( ) > ( ) e ( ) < ( )f x f x f x f x Vamos supor, sem perda de generalidade, que 0 1( ) < ( )f x f x e 1 2( ) > ( )f x f x (a aná- lise do outro caso é inteiramente análoga). Neste caso, teremos 0 1 2( ) < ( ) > ( ).f x f x f x Temos agora dois casos a considerar: CASO I ( 0 2( ) > ( )f x f x ): Neste caso teríamos 2 0 1( ) < ( ) < ( )f x f x f x e desta forma, pelo teorema do valor in- termediário, existiria 1 2( , )c x x∈ e portanto 0c x≠ satisfazendo 0( ) = ( )f c f x , o que con- traria a injetividade de f. CASO II ( 0 2( ) < ( )f x f x ): Neste caso teríamos 0 2 1( ) < ( ) < ( )f x f x f x e desta forma, pelo teorema do valor in- termediário, existiria 0 1( , )c x x∈ e portanto 2c x≠ satisfazendo 2( ) = ( )f c f x , o que tam- bém contraria a injetividade de f. Portanto, em ambos os casos chegamos a uma contradição, o que nos permite concluir que f deve necessariamente ser estritamente crescente ou estritamente decrescente. PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_5.indd 3 17/07/2018 15:32:19 4 Problemas e Desafios 5. Um termômetro de alta precisão, ao medir continuamente a temperatura na cidade do Rio de Janeiro em uma manhã de verão, associando uma curva contínua aos dados obtidos, iniciou os trabalhos às 6h aferindo que nesse momento a temperatura era de 20 graus Celsius, e encerrou a aferição às 12h, quando a temperatura era de 32 graus Celsius. Um termômetro como o utilizado no Rio de Janeiro foi usado na cidade de Porto Alegre na mesma manhã, e lá foi aferida uma temperatura de 22 graus no início dos trabalhos de medição às 6h e de 27 graus no final dos trabalhos às 12h. Nessas condições, mostre que em algum momento nessa manhã as cidades do Rio de Janeiro e de Porto Alegre apresentavam a mesma temperatura. Solução Inicialmente sejam 1 : [6,12] [20,32]T → a função temperatura na cidade do Rio de Janeiro na manhã relatada e 2 : [6,12] [22,27]T → a função temperatura na cidade de Porto Alegre na mesma manhã. Queremos mostrar que existe algum momento 0 [6,12]t ∈ , em que 1 0 2 0( ) = ( )T t T t , o que é equivalente a mostrar que 1 0 2 0( ) ( ) = 0T t T t− , ou seja, 1 2 0( )( ) = 0.T T t− Nosso problema se restringe então a garantir a existência de uma raiz para a função contí- nua 1 2( )T T− . Os únicos dados que conhecemos acerca das temperaturas se referem ao mo- mento inicial e ao momento final das aferições. Analisando esses dados, constatamos que 1 2 1 2( )(6) = (6) (6) = 20 22 = 2 < 0T T T T− − − − e 1 2 1 2( )(12) = (12) (12) = 32 27 = 5 > 0.T T T T− − − Desse modo, a função contínua 1 2( )T T− muda de sinal ao londo do seu domínio [6, 12], e portanto o teorema do anulamento nos garante a existência de 0 [6,12]t ∈ satisfazendo 1 2 0 1 0 2 0( )( ) = 0 ( ) = ( ),T T t T t T t− ⇒ e portanto a temperatura aferida nas cidades do Rio de Janeiro e de Porto Alegre nesse instante t0 foi examente a mesma. 6. Considere o quadrado de lado l e diagonal d, representado na figura a seguir. Para cada 0 y l≤ ≤ fatiamos o quadrado com o segmento y yA B , em que = (0, )yA y e = ( , )yB l y , e de- notamos por yC a interseção desse segmento com a diagonal do quadrado. Nessas condições, prove que existe 0 (0, )y l∈ , satisfazendo 0 0 0 0 | | = | |,y y y yA C C B em que 0 0 | |y yA C e 0 0| |y yC B representam os comprimentos dos segmentos 0 0y yA C e 0 0y yC B , respectivamente. PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_5.indd 4 17/07/2018 15:32:20 5 Teoremas do Anulamento, do Valor Intermediário e de Weierstrass y x Ay l l By Cy d 0 5_6 Solução Sejam , : [0, ] [0, ]f g l l→ , dadas por ( ) = | | e | | .y y y yf y A C C B Agora, definimos ( ) = ( ) ( )h x f x g x− . Claramente, h é contínua em [0, ]l (pois f e g o são) e, além disso, (0) = (0) (0) = 0 = < 0h f g l l− − − e ( ) = ( ) ( ) = 0 = > 0h l f l g l l l− − Dessa forma, o teorema do anulamento nos permite garantir a existência de 0 (0, )y l∈ satisfazendo 0( ) = 0h y , ou seja, 0 0( ) = ( )f y g y , e portanto 0 0 0 0 | | = | |y y y yA C C B como queríamos demonstrar. 7. Seja : [1/ 2,3]f → a função definida por 3 2 ( 1) 2 , 1/2 < 2,( ) = 2 , 2 3. x ax a x xf x x x b x − + + − ≤ − + ≤ ≤ a) Determine os valores das constantes a e b que garantam a existência de valores máximo e mínimo para a função f no intervalo [1/2, 3]. b) Esboce o gráfico da função f para os valores de a e b obtidos no item anterior. c) Com base no gráfico, determine os valores máximo e mínimo da função f no intervalo [1/2, 3]. PROBLEMASE DESAFIOS_capitulo_5.indd 5 17/07/2018 15:32:20 6 Problemas e Desafios Solução a) Pelo teorema de Weierstrass, para que possamos garantir a existência de valores de máximo e de mínimo para a função f no intervalo fechado [1/2, 3] basta impormos que a função f seja contínua nesse intervalo. Note que o único ponto em que devemos nos preocupar com a continuidade é em = 2x . Para que f seja contínua nesse ponto é necessário que existam os limites 2 2 ( ) e ( ),lim lim x x f x f x − +→ → que eles coincidam e sejam iguais a (2)f . Vamos iniciar a análise, garantindo a existência desses limites. Note que 2 lim ( ) = x f x +→ 2 lim x x b +→ + sempre existe independentemente do valor de b. Já o limite 3 2 2 2 ( 1) 2( ) =lim lim 2x x x ax a xf x x− −→ → − + + − − pode não existir, já que o denominador tende a 0 quando x se aproxima de 2 pela esquerda. Deste modo, para garantirmos a existência de tal limite, é necessário que o polinômio 3 2 ( 1) 2x ax a x− + + − apresente o fator ( 2)x − em sua decomposição, permitindo que possamos eliminar a indeterminação do denominador. Isso equivale a impor que = 2x seja raiz desse polinômio, ou seja, 8 4 2 2 2 = 0 = 4.a a a− + + − ⇒ Note que, tomando = 4a , teremos 3 2 2 2 ( 1) 2( ) =lim lim 2x x x ax a xf x x− −→ → − + + − − 3 2 2 4 5 2= lim 2x x x x x−→ − + − − 2 2 ( 2)( 1)= lim 2x x x x−→ − − − 2 2 = ( 1)lim x x −→ − = 1. Agora, precisamos garantir que os limites laterais em = 2x coincidam. Para isso, devemos ter 2 2 2 1 = ( ) = ( ) = = 2 ,lim lim lim x x x f x f x x b b − + +→ → → + + ou seja, 2 = 1b+ , e portanto = 1b − . Assim, tomando = 4a e = 1b − , teremos 2( 1) , 1/2 < 2, ( ) = 1, 2 3, x x f x x x − ≤ − ≤ ≤ PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_5.indd 6 17/07/2018 15:32:21 7 Teoremas do Anulamento, do Valor Intermediário e de Weierstrass donde 2 lim ( ) = 1 = (2) x f x f → e desta forma podemos garantir a continuidade de f em [1/2, 3] e consequentemente a existência de valores de máximo e de mínimo nesse intervalo. b) Para = 4a e = 1b , temos 2( 1) , 1/2 < 2, ( ) = 1, 2 3, x x f x x x − ≤ − ≤ ≤ cujo gráfico está representado na figura abaixo. 1 1 2 2 3 x y 5_7c) Analisando o gráfico no item anterior, concluímos que o valor máximo de f em [1/2, 3] é 2 obtido para = 3x , ao passo que o valor mínimo é 0 obtido em = 1x . 8. Seja : [0, 2]f → a função definida por 3 2 , 0 < 1,( ) = 2 3, 1 2. x xf x x x x ≤ − + ≤ ≤ Mostre que não existe nenhum [0,2]x∈ , satisfazendo ( ) = 3/2f x . Isso contradiz o teorema do valor intermediário? Justifique sua resposta. Solução Vamos supor inicialmente que existe [0, 2]x∈ , satisfazendo ( ) = 3/2f x . Temos dois casos a considerar: CASO I ( )[0,1)x∈ : Neste caso teríamos 3 = 3/2 = 27/4 > 2,x x⇒ o que não é possível, já que estamos considerando o caso em que 0 < 1x≤ . PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_5.indd 7 17/07/2018 15:32:22 8 Problemas e Desafios CASO II ( )[1, 2]x∈ : Neste caso teríamos 2 22 3 = 3/2 2 4 3 = 0,x x x x− + ⇒ − + o que também não é possível, pois a equação quadrática em questão não possui raiz real (note que 2= ( 4) 4(2)(3) = 8 < 0∆ − − − ). Desse modo, não existe de fato nenhum [0,2]x∈ satisfazendo ( ) = 3/2f x . No entanto, (0) = 0 < 3/2 < 3 = (2)f f e podemos a princípio nos indagar se o teorema do valor intermediário não garantiria a existência desse elemento [0,2]x∈ , satisfazendo ( ) = 3/2f x . No entanto, se fizermos uma análise mais cuidadosa observaremos que a função f não cumpre as hipóteses do teorema do valor intermediário. Basta observarmos que 3 1 1 ( ) = = 1lim lim x x f x x − −→ → e 2 1 1 ( ) = 2 3 = 2lim lim x x f x x x + +→ → − + para concluir que 1 lim ( ) x f x → e portanto a função f não é contínua em = 1x . 9. Dizemos que 0x é um ponto fixo de uma função f se 0 0( ) =f x x . Prove que toda função contínua : [0,1] [0,1]f → admite um ponto fixo. Solução Naturalmente se (0) = 0f ou (1) = 1f nada temos a fazer. Vamos supor então (0) 0f ≠ e (1) 1f ≠ . Como Im( ) = [0,1]f , teremos obrigatoriamente (0) > 0f e (1) < 1f . Observe que o problema consiste então em garantir a existência de um número 0 (0,1)x ∈ satisfazendo 0 0( ) =f x x , ou seja, 0 0( ) = 0f x x− , o que é equivalente a de- monstrar a existência de uma raiz no intervalo (0,1) para a função g definida por ( ) = ( )g x f x x− Temos que (0) = (0) > 0g f (1) = (1) 1 < 0 (pois (1) < 1).g f f− Além disso, a função g assim definida é contínua em [0,1], pois a função f e a fun- ção identidade ( ) =h x x o são. Deste modo, segue do teorema do anulamento que existe 0 (0,1)x ∈ tal que 0 0 0 0 0( ) = 0 ( ) = 0 ( ) =g x f x x f x x⇒ − ⇒ e portanto 0 (0,1)x ∈ é um ponto fixo da função f. PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_5.indd 8 17/07/2018 15:32:23 9 Teoremas do Anulamento, do Valor Intermediário e de Weierstrass 10. O teorema do anulamento é baseado, dentre outras coisas, num resultado bastante evidente que nos diz que se f é uma função contínua em a e ( ) > 0f a então existe um número > 0δ tal que ( ) > 0f x para todo x no intervalo ( , )a aδ δ− + . Em outras palavras, f tem o mesmo sinal que ( )f a em um pequeno intervalo centrado em a (o mesmo vale se ( ) < 0f a ). De- monstre esse resultado. Solução Como f é contínua em =x a, temos que ( ) = ( ).lim x a f x f a → Deste modo, se tomarmos = ( ) > 0f aε , necessariamente deverá existir > 0δ , satis- fazendo | | < | ( ) ( ) | < = ( )x a f x f a f aδ ε− ⇒ − (1) Mas | | < < < < < ( , )x a x a a x a x a aδ δ δ δ δ δ δ− ⇔ − − ⇔ − + ⇔ ∈ − + e | ( ) ( ) | < ( ) ( ) < ( ) ( ) < ( ) 0 < ( ) < 2 ( )f x f a f a f a f x f a f a f x f a− ⇔ − − ⇔ Segue então de (1) que ( , ) 0 < ( ) < 2 ( ),x a a f x f aδ δ∈ − + ⇒ ou seja, ( ) > 0f x para todo x no intervalo ( , )a aδ δ− + , como queríamos demonstrar. PROBLEMAS E DESAFIOS_capitulo_5.indd 9 17/07/2018 15:32:23
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