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Delegado de Polícia CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional-NB Disciplina: Direito Penal Especial Professor: Mauro Argachoff Aula: 08 | Data: 05/02/2018 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO CRIMES CONTRA VIDA 1. Infanticídio 2. Aborto CRIMES CONTRA VIDA Infanticídio (art. 123-CP) Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos. (Grifo nosso) Critério psicológico: desonra própria – mãe que queira ocultar desonra própria (filho de relação de adultério ou de incesto). Isto foi abandonado pelo Direito Penal. Critério fisiopsicológico: estado puerperal (critério adotado). Critério misto: conjugação da desonra própria com o estado puerperal (Não há no nosso ordenamento). Objeto jurídico: a vida humana extrauterina. Estado puerperal: um conjunto de alterações psíquicas e físicas da mulher. É uma perturbação psíquica que acomete as mulheres durante o fenômeno do parto e, ainda, algum tempo depois do nascimento da criança. Comprovação pericial/laudo inconclusivo: Em regra, precisa-se de laudo pericial feito por perito médico psiquiatra. Mas há julgados dispensando-se os laudos, fazendo provas por meios de testemunhas (corrente minoritária). Contudo, é possível que os peritos fiquem em dúvida e apresentem laudo inconclusivo, que não declare o estado puerperal. Neste caso, há que se presumir a existência da perturbação psíquica, pois, caso contrário, a mulher seria responsabilizada por homicídio, ou seja, na dúvida, deve-se optar pela solução mais benéfica para a acusada (in dubio pro reo), respondendo por crime mais brando, logo, INFANTICÍDIO. Página 2 de 9 Qualificação doutrinária: crime próprio, de dano, material, comissivo ou omissivo, de ação livre e instantâneo. Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio, já que o tipo penal exige que o sujeito ativo seja a mãe da vítima. Sujeito passivo: É o filho que está nascendo ou recém-nascido. Se a mãe, mesmo estando sob influência do estado puerperal e logo após o parto, mata algum outro filho que não o nascente ou recém-nascido, incide no crime de homicídio. Se a mãe quer matar o próprio filho, mas, por erro, acaba matando outro recém-nascido, responde por infanticídio, porque o art. 20, § 3°-CP, que trata do chamado “erro quanto à pessoa”, determina que o agente seja responsabilizado como se tivesse matado a pessoa que pretendia. Art. 20, § 3º-CP: - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. Agravantes genéricas (art. 61, II, “e” e “h”-CP): por serem elementos integrantes do tipo, não são aplicáveis as agravantes genéricas referentes a crime praticado “contra descendente” e “contra criança”. Haveria bis in idem. Elemento temporal: O infanticídio é um crime que somente se caracteriza quando a morte ocorre durante o fenômeno do parto ou logo após. “Logo após o parto”: deve haver brevidade. Contudo, como o estado puerperal pode ter duração diferente de acordo com o organismo de cada mulher, deve-se considerar que o fato ocorreu “logo após” enquanto perdurar o estado puerperal de cada mulher em cada caso concreto. Elemento subjetivo: Dolo direto ou eventual. Forma culposa: Como tipificar a conduta da mulher que, agindo sob influência do estado puerperal, logo após o parto, causa a morte de seu próprio filho, de forma “culposa”? Homicídio culposo ou fato atípico? 1° Corrente: Deveria responde por homicídio culposo, já que não existe previsão de infanticídio culposo. Página 3 de 9 2° Corrente: Como a mulher em estado puerperal não consegue agir com a devida cautela do homem médio, e ainda, por ter havido a morte culposa de um filho, seria sempre caso de aplicação de perdão judicial. A lei não prevê a modalidade culposa, assim, não poderá agravar a situação dela sendo a melhor solução considerar a conduta atípica. Consumação: momento da morte do nascente ou recém-nascido. Tentativa: possível. Concurso de agentes – elementar do tipo (art. 30): Duas posições: Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. 1) Nãos se admite o concurso de pessoas no infanticídio: em face das elementares personalíssimas do tipo legal, como o estado puerperal. 2) Admite-se o concurso de pessoas no infanticídio: a lei não fala, em qualquer momento, em condições personalíssimas. (Posição Majoritária). ABORTO 1. Conceito: é a interrupção da gravidez com a consequente morte do produto da concepção. Espécies: Natural: Interrupção espontânea da gravidez. Acidental: Consequência de traumatismo, queda, acidentes em geral. Não constitui crime. Criminoso: Previsto nos arts. 124 a 127 do Código Penal. Legal ou Permitido: Previsto no art. 128-CP. Página 4 de 9 2. Aborto criminoso (art. 124-CP) 1° PARTE 2° PARTE Art. 124-CP: “Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos.” Consumação: com a morte do feto, ainda que ele permaneça no ventre materno, exigindo-se, a efetiva morte do feto para que o crime esteja consumado. Tentativa: possível em todas as modalidades de aborto criminoso. Se é realizada a manobra abortiva e o feto é expulso com vida e sobrevive, existe tentativa de aborto. Se a manobra abortiva realizada causa expulsão do feto com vida e, em seguida, uma nova agressão é praticada contra o recém-nascido para matá-lo, neste caso, haverá tentativa de aborto em concurso material com homicídio. Se estiver em estado puerperal haverá infanticídio. Modalidade Culposa: não existe aborto culposo como crime autônomo. Se alguém causa aborto por imprudência responde por lesão corporal culposa, pois, nesses casos, a existência de lesão na gestante é consequência natural do fato. A vítima, nessa hipótese, é a gestante. Por outro lado, se a própria gestante for imprudente e der causa ao aborto, o fato será atípico, pois não se pune a autolesão. Autoaborto (art. 124, § 1° parte): Aqui é a própria gestante quem pratica as manobras abortivas, quer por meios mecânicos, quer ingerindo medicamentos com essa finalidade. Crime de mão própria, não admitindo coautoria, mas sim participação. Página 5 de 9 Consentimento para aborto (art. 124, § 2° parte): Consentimento espontâneo: a gestante não pratica em si mesmo o aborto, mas permite que uma terceira pessoa o faça. É o caso comum da gestante que procura um médico ou uma parteira e pede para que pratiquem o aborto. Nesse caso, a gestante é autora do crime do art. 124, 2° parte, enquanto quem realiza a manobra abortiva comete crime mais grave (art. 126-CP). Sujeito ativo: crime de mão própria – já que o sujeito ativo é a gestante e apenas ela pode prestar consentimento. Sujeito passivo: o produto da concepção. Grávida de gêmeos (concurso formal): Impossibilidade de responsabilidade objetiva. Lesões leves absolvidas. Em regra, não há como fazer um aborto sem, ao menos, uma lesão leve. Lesões graves e morte (art. 127-CP): as regras referentes ao aumento da pena descritas no art. 127-CP (preterdolosas) somente se aplicam quando o agente queria apenas causar o aborto e não a lesão grave ou morte da gestante, mas as provoca culposamente. Existe dolo em relação ao aborto e culpa em relação ao resultado agravador. É possível que o aumento seja aplicado quando o aborto não se consuma, mas a gestante sofre lesão grave ou morre. O art. 127-CP determina o acréscimoquando as lesões graves ou a morte constituem consequências do aborto ou dos meios empregados. Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. Página 6 de 9 Concurso de agentes: o “provocar em si mesma”: participação. Não pode haver coautoria porque terceiro responde pelo art. 126-CP (aborto provocado com consentimento da gestante). o “consentir que terceiro lho provoque”: participação. Conduta de consentir é personalíssima da mulher, não cabendo coautoria. Provocado sem consentimento da gestante (art. 125-CP): Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. Dissentimento presumido: gestante menor de 14 anos, alienada ou débil mental (art. 126, § único). Diante de uma destas situações, mesma que ela permita, responderá por artigo 125, pois de nada vale o consentimento por razão de estar presente uma das hipóteses do art. 126, § único-CP. Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: o feto e a gestante. Provocado com consentimento da gestante (art. 126-CP): Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Duas figuras típicas (art. 124 e 126 – exceção a Teoria Unitária ou Monista): Página 7 de 9 o Teoria Monista: de acordo com esta teoria tanto a gestante quanto o provocador direto da morte deveriam responder pelo mesmo crime, segundo o qual todos os que, de alguma forma, colaboram para um delito, devem responder pelo mesmo crime. o Teoria Pluralista*: Contudo, o Código Penal abriu uma exceção a teoria monista e criou um delito autônomo com pena diferenciada e mais grave para o terceiro que, com o consentimento da gestante, pratica a manobra abortiva. Assim, a gestante que consente, incide no art. 124-CP, enquanto o terceiro que executa o aborto, com concordância dela, responde pelo art. 126-CP. Aborto na forma qualificada (art. 127-CP) Art. 127 – “As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.” (Grifo nosso) Trata-se de causa de aumento: essas causas de aumento somente se aplicam ao terceiro que provoca o aborto com ou sem o consentimento da gestante. Não se aplica ao art. 124-CP Preterdolo: somente se aplicam quando o agente queria causar o aborto e não a lesão grave ou morte da gestante, mas provoca culposamente. Em outras palavras, existe dolo em relação ao aborto e culpa em relação ao resultado agravador. 3. Aborto Legal (art. 128-CP) Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto necessário I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Página 8 de 9 Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. Aborto Necessário ou Terapêutico: se não há outro meio de salvar a vida da gestante. Se não for praticado por médico poderá ser reconhecido o estado de necessidade. Aborto sentimental ou humanitária: aborto no caso de gravidez resultante de estupro. Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. (Portaria MS 1145/2005). Portaria MS 1145/2005: “Considerando que a Norma Técnica sobre Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes desobriga as vítimas de estupro da apresentação do Boletim de Ocorrência para sua submissão ao procedimento de interrupção da gravidez no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS; Considerando que o Código Penal Brasileiro estabelece como requisitos para o aborto humanitário ou sentimental, previsto no inciso II do artigo 128, que ele seja praticado por médico e com o consentimento da mulher.” (Grifo nosso) Estupro provocado pela mulher quem vem a ficar gravida: ela é o sujeito ativo do estupro e quer praticar o aborto legal. Não será possível. Anencefalia: STF – decisão de abril de 2012 – desnecessidade de autorização judicial. Regulamentação pelo Conselho Federal de Medicina pela Resolução 1989/12. Resolução CFM n° 1989/2012 Art. 1º “Na ocorrência do diagnóstico inequívoco de anencefalia o médico pode, a pedido da gestante, independente de autorização do Estado, interromper a gravidez.” (Grifo nosso) Página 9 de 9 Aborto eugenésico: exames demonstram que a criança nascerá com alguma anomalia (ex.: Down, falta de membro, etc.) – é crime.
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