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1.1. 1.2. DIREITOS REAIS Modernamente, entende-se que a fonte do direito positivo é o fato dotado de relevância que, ocorrido, é qualificado pela norma regularmente posta no sistema jurídico. Os fatos são os acontecimentos sociais e o costume. Diz-se, portanto, que a fonte do direito positivo é o fato socialmente relevante. Assim, a lei não é fonte do direito positivo, é o próprio direito positivo, que não pode ser fonte dele mesmo. Ora, o homem, buscando satisfazer suas necessidades, procura apropriar-se de coisas que encontra na natureza. Não o faz com as coisas abundantes e, tampouco, com as insuscetíveis de apropriação. Com efeito, o ar que respiramos, não obstante imprescindível à sobrevivência, não provoca a cupidez do homem que, destarte, não o incorpora ao seu patrimônio. Assim, o direito real, ou direito das coisas, é definido como o conjunto de normas destinadas a regular as relações jurídicas concernentes a bens corpóreos (materiais) ou incorpóreos (imateriais) suscetíveis de apropriação pelo homem e, bem assim, dotados de conteúdo econômico relevante e significativo. SISTEMATIZAÇÃO NO CÓDIGO CIVIL E CLASSIFICAÇÃO O Direito das Coisas está regulado pelo Livro III da Parte Especial do Código Civil, cujo título básico é o da propriedade. De fato, a partir daí classificam-se os direitos reais, classificação essa que leva em consideração a finalidade e o objeto. Está assim redigido o art. 1.225 do Código Civil: Art. 1.225. São direitos reais: I – a propriedade; II – a superfície; III – as servidões; IV – o usufruto; Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar a) b) a) b) 1.3. 1.3.1. V – o uso; VI – a habitação; VII – o direito do promitente comprador do imóvel; VIII – o penhor; IX – a hipoteca; X – a anticrese; XI – a concessão de uso especial para fins de moradia; XII – a concessão de direito real de uso. A propriedade, direito real por excelência, é o direito de usar, gozar, dispor e reivindicar (reaver) a coisa sobre a qual recai (Código Civil, art. 1.228). O uso nada mais é que a faculdade do titular de servir-se da coisa, ou seja, a aplicação de sua destinação natural. A fruição (ou gozo) representa a possibilidade de o titular extrair os frutos naturais e civis do objeto, como, por exemplo, os aluguéis dos imóveis. A disposição significa o direito de o titular transferir ou alienar o bem, inclusive o direito de consumir, dividir ou gravar o bem. A reivindicação, último atributo da propriedade, é a faculdade de retomar o bem de quem quer que injustamente o possua ou detenha. Como se verá adiante, a propriedade pode não ser plena, em face da ausência de alguns dos seus atributos. Ocorrendo isso, surgem certos direitos para terceiros, quer de gozo, ou então de garantia, que incidirão sobre a propriedade alheia. O usufruto, por exemplo, é o direito real sobre coisa alheia que está circunscrito ao direito de uso e fruição (gozo), de tal sorte que o usufrutuário pode usar a coisa, alugá-la e emprestá-la, mas, por outro lado, não poderá vendê-la. Tomando-se o objeto como fundamento da classificação, temos que os direitos reais podem ser: sobre coisa própria (propriedade); sobre coisa alheia (todos os outros direitos reais). Se, por outro lado, levarmos em conta a finalidade, teremos: direitos reais de garantia (penhor, hipoteca e anticrese); direitos reais de gozo (todos os demais direitos reais). CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS REAIS Publicidade Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar 1.3.2. Ordinariamente, os direitos reais sobre imóveis são adquiridos após o registro do respectivo título aquisitivo junto ao Oficial de Registro de Imóveis competente; já sobre os móveis, depois da tradição (transferência física da coisa), o que se afirma com supedâneo no Código Civil, arts. 108, 1.245, 1.267, 1.226 e 1.227. Portanto, o registro (bens imóveis) e a tradição (bens móveis) atuam como meio de publicidade da titularidade de direitos reais. Oponibilidade erga omnes Em razão da publicidade atribuída pelo registro, o titular de um direito real passa a ter a prerrogativa de opor, a quem quer que seja, o seu direito, que recai, assim, sobre toda a coletividade. Portanto, a ninguém é lícito impedir que o titular utilize, por exemplo, a sua propriedade. Tampouco é lícito perturbar o usufruto (direito real de usar e fruir) e, bem assim, impedir a utilização de uma servidão. Vamos exemplificar, diferenciando o direito real do direito pessoal. Suponhamos alguém que tenha adquirido um imóvel por promessa de compra e venda sem registro. De fato, há apenas uma obrigação de o promitente vendedor outorgar a escritura depois de receber o preço. E essa obrigação nada mais é que um vínculo jurídico transitório (extingue-se pelo pagamento), mediante o qual o devedor (sujeito passivo), se obriga a dar, fazer ou não fazer sob pena de, ao não cumprir culposamente sua obrigação, responder pelo equivalente (o que recebeu) e perdas e danos. Essa pessoa dispõe, apenas, de um direito pessoal, ou seja, pode opor seu direito em face do outro contratante e de mais ninguém. Caso a obrigação não seja cumprida, tratando-se de ação pessoal, o titular do direito violado poderá tão só pleitear perdas e danos ou cláusula penal, juros, correção monetária e eventuais honorários de advogado (Código Civil, art. 389). Nada impede que o promitente vendedor outorgue uma escritura pública de compra e venda para um terceiro ou, até, outra promessa que poderá ser registrada. Havendo o registro desses títulos, esse terceiro passará, em razão da publicidade, a dispor de um direito real oponível a quem quer que seja, inclusive contra o anterior promitente comprador que não registrou sua promessa. Sendo assim, em razão do inadimplemento da obrigação, o promitente vendedor – e somente ele – a par de consequências penais, deverá devolver o que recebeu, acrescido de juros, correção monetária e honorários de advogado, sem contar a multa (cláusula penal) eventualmente existente no contrato ou os prejuízos efetivos (Código Civil, art. 404, parágrafo único). Quem adquiriu por promessa de compra e venda ou até escritura, ambas sem registro, não poderá reivindicar o imóvel do terceiro na medida em que, embora o direito do promitente vendedor esteja Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar 1.3.3. 1.3.4. enumerado como um direito real, depende do registro para que valha contra terceiros e, portanto, tenha a característica de um direito real. Logo, enquanto não for registrada, a promessa de compra e venda é mero direito pessoal, valendo exclusivamente entre as partes. Sequela Decorrência da oponibilidade erga omnes, a sequela é a faculdade concedida ao titular do direito real de perseguir a coisa nas mãos de quem quer que a detenha, de apreendê-la para sobre a mesma exercer o seu direito real. O proprietário, por exemplo, possui o direito de retomar a coisa das mãos de quem a detenha injustamente, invocando, para tanto, o seu direito de propriedade. Isso será levado a efeito através da ação reivindicatória, que veremos adiante. O direito de ação de que dispõe o titular é real, assim como real é o seu direito. Portanto, a ação poderá ser endereçada a quem quer que seja. Direito de preferência A preferência se aplica aos direitos reais de garantia, ou seja, ao penhor, à hipoteca e à anticrese. A hipoteca é a garantia real consubstanciada em bens imóveis e o penhor em bens móveis. Penhor é garantia real e não se confunde com a penhora, instituto de Direito Processual que consiste na apreensão de bens. A anticrese é agarantia real que se dá pela entrega de bem imóvel para que o credor satisfaça seu crédito com os frutos civis, os aluguéis, por exemplo. A preferência, portanto, consiste no privilégio de se obter o pagamento de uma dívida com os frutos ou valor de um bem especialmente destinado à sua satisfação na constituição da obrigação. Por exemplo: o proprietário dá seu imóvel em hipoteca como garantia de um mútuo (empréstimo) e, ao depois, aliena esse imóvel. Inadimplida (não paga) a obrigação, o credor poderá penhorar e levar à praça o bem com o fim de satisfazer seu crédito, independentemente das subsequentes alienações. Importante apenas ressaltar que a venda levada a efeito pelo devedor é válida, apenas não é eficaz em face do credor, até porque ninguém adquire mais ou menos direitos do que possuía o antigo titular. O vínculo se prende de maneira indelével à coisa e dela não se livra pelo fato da alienação. Em verdade, com a hipoteca há uma afetação da coisa àquilo que, por seu intermédio, colima-se garantir. O direito real prefere ao pessoal de tal sorte que, em regra, os demais credores (credores quirografários, que são aqueles que não dispõem de crédito com garantia real de penhor, hipoteca ou anticrese) só receberão depois de satisfeito o crédito com garantia real. Assim, seguindo o mesmo exemplo, se alguém tiver um crédito com garantia hipotecária, os outros Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar 1.3.5. 1.4. credores, que não dispõem dessa mesma garantia (credores quirografários), somente receberão depois de satisfeito o crédito hipotecário, e isso se alguma coisa sobrar. É possível a constituição de outras hipotecas, que serão pagas na ordem de constituição e não poderão ser executadas antes de vencida a primeira. Todavia, com a costumeira percuciência, coloca o professor Arruda Alvim no seu magistério que, se houver lei em sentido contrário, o direito pessoal pode preferir ao real. Por exemplo: o art. 186 do Código Tributário Nacional, dispõe que o crédito de natureza trabalhista prefere ao tributário e, os dois, a um direito real de garantia, tal qual um mútuo com garantia hipotecária. Numerus clausus Os direitos reais são enumerados taxativamente na lei, seja no próprio art. 1.225 do Código Civil ou em qualquer lei extravagante. Nesse sentido, diz-se que só a lei tem o condão de criar direitos reais. O número dos direitos reais é sempre limitado nas legislações. Não há direito real senão quando a lei o declara. Os direitos pessoais são inumeráveis. Contrapondo-se à concepção clássica, Washington de Barros Monteiro admite a possibilidade de atribuir realidade a direitos decorrentes de convenção. Defende que, não afrontando os bons costumes e a ordem pública, nada há na lei que impeça a criação de outros direitos reais além daqueles estabelecidos e tipificados no art. 1.225 do Código Civil. Todavia, pelas regalias que munem os direitos reais, tais como a sequela e a oponibilidade erga omnes, a constituição de direitos reais não pode ficar à mercê da liberdade criadora das partes. Há uma obrigação negativa de toda a sociedade respeitar o direito do titular. Sendo assim, essa obrigação não pode ficar ao talante do credor. Ademais, tratando-se de imóveis, a constituição de um direito real torna imprescindível o registro junto ao oficial de Registro de Imóveis da circunscrição imobiliária competente (Código Civil, art. 1.227). Ocorre que os oficiais estão adstritos aos títulos que são passíveis de registro, especialmente pelas disposições da Lei 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos). Assim, se as partes submeterem a registro um direito outro, o oficial não encontrará permissão na Lei para fazê-lo e, tampouco, livro para assentá-lo. Suscitada dúvida, a magistratura, no âmbito administrativo, deve obediência à lei, e só deve atuar pretorianiamente quando o interesse social assim exigir. PROPRIEDADE O Código Civil não define a propriedade, mas o proprietário, o que faz a partir dos atributos da Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar a) b) propriedade. Certo é que a noção de propriedade está insculpida no estudo dos direitos reais do Direito Civil e, não obstante, é também uma garantia constitucional preceituada no art. 5º, inc. XXII, da Constituição Federal. Sendo assim, a propriedade nada mais é que o direito real de usar, fruir, dispor e reivindicar a coisa sobre a qual recai, respeitando sua função social. Determina o art. 1.228 do Código Civil: Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. De fato, a definição passa pelos poderes inerentes à propriedade. Diz-se que a propriedade é direito real por excelência porquanto dela emanam todos os outros, cujo elenco é numerus clausus no Código Civil brasileiro e na legislação extravagante. Só a lei possui o condão de criar direitos reais, entre os quais se inclui a propriedade. Com a costumeira clareza, o professor Silvio Rodrigues, baseado em Lafayete Rodrigues Pereira, ensina que a propriedade é o único direito real que não recai sobre o direito de outrem.1 De fato, os direitos reais podem ser classificados, em relação ao titular do domínio, em: Direito real sobre coisa própria: somente a propriedade; e, Direitos reais sobre coisa alheia: todos os demais direitos reais. Por exemplo, o usufruto é um direito real mediante o qual o usufrutuário pode, apenas, usar e fruir. Todavia, o bem continua com o proprietário, embora despido desses dois atributos. Silvio Rodrigues ensina, ainda, que das inúmeras teorias que tentam explicar a propriedade, a que mais se aproxima da realidade é a teoria da natureza humana. Explica que a propriedade, desde os primórdios da história, é inerente ao ser humano como condição de sua existência e pressuposto de sua liberdade. Argumenta que muito embora diversos regimes tentassem atenuá-la ou até extirpá-la, nenhum teve êxito, o que, na sua opinião, merecedora do nosso aplauso, vem reforçar a tese da natureza humana do domínio.2 Em suma, não há na lei uma definição legal de propriedade, o que só é possível através do art. 1.228, do Código Civil, que define o proprietário como aquele que pode usar, fruir, dispor e reivindicar a coisa. De qualquer forma, todo direito subjetivo representa um vínculo que, no caso do direito real de propriedade, configura um liame, que se forma entre o proprietário e a coletividade, cuja fonte se encontra na lei. Com efeito, há uma obrigação de toda a coletividade em respeitar o direito de propriedade, o que poderia ser representado da seguinte maneira: Janielle Destacar Não se pode negar que o proprietário pode usar a coisa de acordo com a finalidade para qual ela foi criada. Inegável, também, que possa fruir ou gozar, ou seja, extrair os frutos (rendimentos), como, por exemplo, locar o imóvel. Poderá dispor da coisa, ou seja, vender ou doar, por exemplo. Pode, igualmente, reivindicar, buscando a sua propriedade nas mãos de quem quer que injustamente a possua ou detenha. A propriedade é a base do nosso sistema, o que se afirma na medida em que sua exploração assegura a sobrevivência da própria sociedade. Todavia, a propriedade não mais possui o sentido que lhe emprestaram os povos antigos, notadamente os romanos. De acordo com o art. 5º, inc. XXIII, da Constituição Federal, hoje a propriedade submete-se ao princípio de sua função social. Na verdade, a partir de Justiniano, no século VI, Roma começou a assistir à transformação do antigo conceito de propriedade. Antes desta época, era rigorosamentehomenageado o cunho individualista, que atribuía ao seu titular o pleno direito de usar, gozar e dispor do que lhe pertencesse, da maneira que melhor lhe aprouvesse. Essa ideia de absolutismo da propriedade, mesmo em Roma, ainda que lentamente, foi modificada, contemplando algum conteúdo social. Apareceram as primeiras restrições, disciplinadas, entretanto, pelos direitos recíprocos de cada proprietário, ou seja, cada um também devia o mesmo respeito ao direito do outro, na mesma equivalência, dentro da órbita do direito privado. Na realidade, esse direito, como hoje o entendemos, estereotipado no nosso diploma civil, difere em muito daquele que emanava do direito romano. Muito tempo se passou desde que o conceito de propriedade encontrasse seu estágio atual. É que, paradoxalmente, os romanos, que praticamente criaram o direito, sequer o definiram com objetividade. Não havia no Direito Romano uma definição de proprietas, e, em razão disso, como o nosso direito tem base romanística, fundamentado na legislação europeia do século retrasado, e como o Direito Romano não transmitiu à Idade Media a definição de propriedade, não houve repercussão da definição no direito moderno, o que persiste no Código Civil de 2002. 1.4.1. a) b) c) d) Somente pouco antes do Renascimento é que a propriedade passou a ser conceituada como o direito de dispor de modo completo das coisas, salvo naquilo que fosse proibido por lei, incorporando, pelo menos claramente, pela primeira vez, à definição de propriedade, a ideia de sua limitação, ou seja, a possibilidade de restrição ao absoluto direito de propriedade preconizado pelos romanos. Esse acréscimo à conceituação se refletiu em todos os sistemas de direito de base romanística. Nessa esteira o nosso Código Civil, que guarda alguma semelhança com o Código anterior, de 1916, que, por sua vez, se baseou no direito português e no germânico, além do direito francês, especialmente no Código de Napoleão de 1804. Atributos da propriedade Os atributos da propriedade são derivados do jus utendi, fruendi e abutendi dos romanos, ou seja, usar, fruir ou gozar e abusar. Contudo, com a evolução da humanidade, “abusar” foi substituído por dispor com limites, principalmente em razão da função social incorporada ao instituto. Assim temos que são atributos do direito real de propriedade: uso; gozo; disposição; e, reivindicação. Usar significa extrair as vantagens naturais ofertadas pela coisa, extração esta que não importa em alteração de sua substância. Assim, ao utilizar uma casa para moradia, o proprietário está utilizando a coisa para o fim que se destina sem alterar-lhe a substância, o que possui o condão de determinar esse atributo da propriedade. Gozar ou fruir, por seu turno, é a possibilidade de o proprietário extrair os frutos ou produtos decorrentes da coisa sobre a qual recai o direito de propriedade; assim, ao locar uma casa, recebendo, por via de consequência, os alugueres, o proprietário estará fruindo por intermédio da percepção de frutos civis (rendimentos) decorrentes da coisa. Dispor significa dar à coisa o destino que o proprietário achar conveniente. Destarte, poderá consumi-la, destruí-la, aliená-la onerosa ou gratuitamente (venda ou doação), gravá- la com um ônus real (hipotecá-la, em caso de bens imóveis), ou seja, dar a coisa em garantia constituindo ônus real. Se pudéssemos conferir graus de importância aos atributos da propriedade, sem dúvida a disposição seria o mais importante, o que se afirma na exata medida em que permite ao proprietário a liberdade de fazer com o que é seu quase tudo o que pretende. Por último, pode o proprietário reivindicar a coisa de quem injustamente a detenha ou possua. Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar 1.4.2. a) b) c) d) Isso ocorre exatamente no juízo petitório, ou seja, através de uma ação reivindicatória, que será adiante examinada, cuja causa de pedir remota é a prova do domínio ou propriedade e representa o direito de sequela, definido como o direito de seguir a coisa e de reavê-la de quem quer que injustamente a tenha. Características da propriedade – a função social e a propriedade plena e limitada A propriedade apresenta algumas características que são enumeradas de forma uniforme pela doutrina, ou seja, trata-se de um direito: absoluto; exclusivo; perpétuo; e, ilimitado. a) Caráter absoluto A propriedade é um direito absoluto na medida em que o proprietário tem o mais amplo poder jurídico sobre aquilo que é seu. Nela estão insertos todos os atributos dos direitos reais. Se assim o é, a partir dela surgem todos os demais direitos reais, conforme dito alhures. Como a propriedade é o direito real de usar, gozar, dispor e reivindicar a coisa, todos os outros direitos podem ser extraídos do direito de propriedade, onde se concentram os atributos. De fato, destacados, passam a configurar outro direito real, como, por exemplo, o usufruto, que é o direito de uso e gozo extraído do direito de propriedade, despido, entretanto, dos atributos da disposição e da reivindicação. b) Caráter exclusivo A propriedade possui, também, a característica de ser um direito real exclusivo já que a propriedade de um afasta a propriedade do outro, sendo que uma coisa não comporta dois proprietários por inteiro. O condomínio não elide a exclusividade. Essa característica significa que não são admitidas duas pessoas proprietárias, autonomamente e ao mesmo tempo, da inteireza da coisa. Todavia, o direito de propriedade pode ser exercido em relação a partes ideais – em condomínio – e o direito que recai sobre a coisa é apenas um, não maculando a característica sub exame. Por exemplo: duas pessoas podem ser proprietárias de um imóvel na proporção de 50% cada. Possível, também, que uma seja proprietária de fração ideal maior que a outra. c) Caráter perpétuo A propriedade é considerada, também, um direito perpétuo, o que se afirma em razão de só se Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar extinguir pela vontade do dono ou de disposição legal. De fato, a propriedade existirá independentemente do seu exercício por quem de direito. Tornando-se proprietário, o direito do titular só deixará de existir no caso de constituição de uma situação geradora de um benefício a outrem, benefício esse que deve ser entendido como um ato de aquisição. Por exemplo: se houver uma invasão, e o invasor possuir o imóvel pelo prazo suficiente para usucapi-lo (que varia de acordo com a modalidade), haverá uma situação nova, geradora de um direito que concorre em benefício de outrem, sendo este um ato de aquisição (prescrição aquisitiva). Não é a inércia do titular, por si só, que leva à perda da propriedade, mas, sim, a inércia associada à ação de um terceiro. Nem sempre a propriedade é perpétua, o que se afirma na medida da existência da propriedade perpétua e da propriedade resolúvel. A propriedade perpétua é aquela que não possui termo final e só se extingue caso ocorra uma situação geradora de um benefício a outrem, benefício este que deve ser entendido como um ato aquisitivo, ou então em face da lei. A propriedade resolúvel, por outro lado, é aquela que se resolve, ou seja, tem um dia certo de término. Por exemplo, essa data pode ser estabelecida pelas partes no caso da retrovenda, cláusula inserta nos contratos mediante a qual defere-se ao vendedor, em prazo não superior a três anos, direito de readquirir a coisa; entretanto, após o termo a quo sem o exercício da opção, a propriedade passa a ser perpétua. É o caso também da alienação fiduciária de bem imóvel, regulada pela Lei9.514/1997, que torna a propriedade do credor resolúvel, ou seja, o credor é proprietário até que o devedor pague a dívida. Com o pagamento, a propriedade do credor se resolve. A alienação fiduciária vem tratada em capítulo específico ao qual remetemos o leitor. d) Caráter ilimitado Mas também se diz que a propriedade é um direito real ilimitado porquanto permitiria ao proprietário fazer com a coisa que lhe pertence o que bem entender e o que melhor lhe aprouver. Veremos que modernamente não é bem assim. É que a propriedade pode ser plena ou limitada e, demais disso, está pautada pela função social. Diz-se que é plena quando estiverem concentrados todos os atributos da propriedade (uso, gozo, disposição e reivindicação), ou seja, quando o proprietário enfeixa em suas mãos todas as prerrogativas que constituem o conteúdo do direito. Será limitada aquela despida de algum ou alguns dos seus atributos ou que sofra limitações a esses atributos. Supondo, para ilustrar, que o proprietário retire o uso e o gozo (fruição) e transfira-os ao seu filho. Embora continue sendo proprietário, o será de forma limitada (nu-proprietário). Manterá o direito de Janielle Destacar alienar a coisa e de reivindicá-la de terceiros, e o seu filho terá o usufruto (uso e fruição), que não se extinguirá com a eventual alienação. O nu-proprietário tem a posse indireta e o usufrutuário, a posse direta. Sendo assim, ao nu- proprietário tanto se admite o interdito possessório em face da posse indireta, quanto a ação reivindicatória em razão de sua propriedade, embora limitada. Por outro lado, o usufrutuário somente poderá invocar os interditos possessórios além da legítima defesa da posse (com os requisitos do desforço imediato e meios necessários). Todavia, se decorrer ano e dia, o eventual esbulhador adquire a posse, que passa a ser justa e, nesse caso, só o proprietário poderá ingressar com o interdito (no exemplo, reintegração de posse), sem possibilidade de reintegração liminar, ou então optar pela ação reivindicatória fundamentada na propriedade que mantém, embora limitada. O caráter ilimitado ou pleno da propriedade decorre, portanto, de suas características, posto que, se o direito é ilimitado, o é porquanto exclusivo, perpétuo e principalmente absoluto. Antigamente essa característica era bem mais acentuada, de tal sorte que a propriedade era considerada, no direito romano, usque ad inferos e usque ad sidera, ou seja, dos céus às profundezas da terra. Ocorre que hoje a lei restringe este direito, em tese ilimitado, seja em razão de limitações específicas, seja através da função social da propriedade. Consideramos que a função social, a par de limitações específicas, tais como as limitações administrativas (servidões, requisições, ocupações e desapropriações) e civis (por exemplo, os direitos reais sobre coisa alheia) hoje, faz parte da construção jurídica do direito de propriedade. De fato, ao mesmo tempo em que o direito de propriedade é garantido pelo inc. XXII do art. 5º da Constituição Federal, logo em seguida, o inc. XXIII exige que a propriedade atenda a sua função social. Essa função social, no nosso sistema, não significa socialização da propriedade, o que se afirma na exata medida em que a propriedade está garantida. O que a Constituição exige, respeitada a ordem econômica, é que o direito de propriedade seja exercido nos limites do interesse econômico e social. Em outras palavras, aquele que reside em imóvel residencial está atribuindo ao bem o seu destino e, nessa medida, está cumprindo a função social da propriedade. Da mesma forma, aquele que tem uma fazenda produtiva respeita a função social de sua propriedade. Não respeita, de outro lado, aquele que mantém seu imóvel fechado ou que conserva a terra improdutiva. Nessa medida, a lei traz alguns mecanismos que impõem sanção àquele que não atribui à propriedade a sua função social. É o que ocorre com o Estatuto da Cidade, Lei 10.257/2001, que prevê a possibilidade de parcelamento, edificação ou utilização compulsória do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado e, ainda, imposto predial com progressão de alíquota por ano, durante cinco anos, enquanto o solo não for utilizado de acordo com a sua função social, mantendo-se a alíquota máxima fixada enquanto não houver essa destinação (Lei 10.257/2001, arts. 5º a 7º). No âmbito rural, surge outro mecanismo tributário, o Imposto Territorial Rural. Assim, a propriedade não produtiva gera mais imposto que uma propriedade produtiva. Nesse sentido, depois de estabelecer que o Imposto Territorial Rural pertence à União, a Constituição Federal determina a progressividade através de alíquotas destinadas a desestimular a manutenção de terras improdutivas (Constituição Federal, art. 153, § 4º). Outra vertente da função social da propriedade é a proibição do abuso do direito de forma geral pelo Código Civil: Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. O Código Civil proíbe, também, especificamente, o abuso do direito de propriedade. Nesse sentido, o art. 1.228, § 2º, do Código Civil: Art. 1.228, § 2º. São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. Para Josserrand:3 Os direitos se realizam, não em uma direção qualquer, mas em uma ambiência social, em função de sua missão e na conformidade destes princípios que são, como se disse, subjacentes à legalidade, e constituem, em seu conjunto, um direito natural de conteúdo variável e como uma superlegalidade... é a teoria do abuso de direito que o mantém em seu caminho, e o impede de se afastar dele, conduzindo-o assim num impulso seguro até a finalidade a atingir. Assim, a lei não permite que uma parte, ao exercer um direito, prejudique a outra, mormente se esse exercício não traz qualquer comodidade ou utilidade, mas, pelo contrário, é animado apenas pela intenção de prejudicar. Imaginemos duas pessoas vizinhas que são inimigas viscerais. Imaginemos, também, que uma delas, percebendo que nos finais de semana a outra desenvolve a atividade de balonismo, resolve mandar projetar, aprovar e construir uma torre nos limites de sua propriedade, pagando todas as taxas. Se essa torre não tem qualquer finalidade, a não ser prejudicar a subida do balão navegável do sítio vizinho, evidentemente que a construção da torre, embora legal, é abusiva. Nesse caso, o ato é ilícito, o que possibilita ao prejudicado reclamar a demolição da construção, embora regular. Percebe-se, portanto, que a propriedade é um direito ilimitado em tese. Todavia, sua concepção, seu âmago, sua alma, hoje, é dotada de configuração diversa daquela de outrora, vez que pautada pela função social da propriedade, que bitola o exercício desse direito, fazendo 1.4.3. a) b) c) parte da própria construção jurídica da propriedade. Sendo assim, não se trata de uma limitação propriamente dita, mas de característica intrínseca da propriedade. Mas a propriedade experimenta algumas limitações. De fato, se algum dos atributos da propriedade foi transferido para terceiro, pode surgir um direito real sobre coisa alheia, limitando a propriedade. É o que acontece com o usufruto. O usufrutuário tem o direito real sobre coisa alheia de usar e fruir, restando ao proprietário, nessa altura denominado nu-proprietário, apenas o direito de dispor e reivindicar. As cláusulas de incomunicabilidade, impenhorabilidade e inalienabilidade (Código Civil, arts. 1.848 e 1.911), pactuadas livremente nasdoações e somente se houver justa causa sobre os bens da legítima (metade dos bens deixados na sucessão), limitam o exercício pleno da propriedade no que tange ao atributo da disposição. Mas não são apenas as limitações aos atributos que tornam a propriedade limitada. Se um imóvel estiver locado e se o locatário tem direito à ação renovatória, que estudaremos no título referente à locação, a propriedade será limitada na medida em que a locação poderá se prorrogar compulsoriamente por tempo indeterminado, independentemente da vontade do locador. Existem, também, limitações administrativas, como as servidões, o tombamento (patrimônio histórico e cultural), sem contar as normas ambientais de preservação da fauna e flora (bens difusos), além das restrições urbanísticas (zoneamento) e do direito de construir. Esses casos representam apenas exemplos, destinados a situar algumas limitações ao direito de propriedade. Com efeito, outras limitações podem ser acrescentadas, tanto insertas na função social quanto nas limitações de caráter especial. Logo, a característica de direito ilimitado conferida à propriedade não é tão absoluta, uma vez que sempre estarão presentes limitações legais. Segundo a doutrina, trata-se de evolução do direito, que passa a observar o interesse comum, sobrepondo o direito da coletividade ao mesquinho interesse de um só. Aquisição da propriedade imobiliária A aquisição da propriedade se dá: pelo registro: negócio jurídico; pela acessão: construções, plantações, formação de ilhas, avulsão, aluvião e abandono do álveo; pela usucapião; Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar d) e) f) 1.4.3.1. pela posse-trabalho; pelo direito hereditário; e, pelo casamento. A aquisição da propriedade se manifesta através de diversas formas. Neste capítulo, nos ocuparemos do registro e das acessões. A usucapião será tratada em capítulo específico. O direito hereditário e o casamento são objetos de estudo do Direito de Família. A posse-trabalho, por sua vez, será tratada juntamente com o estudo da posse e das ações possessórias. O registro – negócios jurídicos A aquisição de imóveis é, em regra, um negócio jurídico solene. Sendo assim, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos sobre direitos reais imobiliários, salvo as exceções de leis especiais, como, por exemplo, negócios no âmbito do Sistema Financeiro Imobiliário e do Sistema Financeiro da Habitação. Todavia, agora há um limite claro. Os imóveis com valor de até trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país não dependem de escritura pública, lavrada por tabelião (qualquer tabelião) de acordo com o art. 108 do Código Civil: Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. Para outorga da escritura, em regra, é necessária a anuência do marido ou da mulher. Outrossim, nos termos do art. 1.647 do Código Civil, a outorga uxória ou marital, ou seja, a anuência do marido ou da mulher na escritura pública, não é mais exigida no regime da separação total de bens e no regime de participação final nos aquestos, neste, desde que haja pacto antenupcial (Código Civil, art. 1.656). No regime do Código Civil de 1916 (art. 235), que vigorou até o dia 11 de janeiro de 2003 (inclusive),4 qualquer que fosse o regime de bens entre os cônjuges, a outorga era exigida. Com o início da vigência do atual Código, para os casamentos celebrados pelo regime da separação de bens a partir de 12 de janeiro de 2003, nos termos do seu art. 2.039, a anuência não é mais necessária. A contrario sensu, embora até seja possível pensar diferente aplicando-se o art. 2.035 do Código Civil, qualquer que seja o regime de bens do casamento celebrado até o dia 11 de janeiro de 2003, a outorga conjugal é necessária, por cautela, na venda de bens imóveis. A ausência da outorga, quando exigível, torna a venda anulável, devendo a anulação ser requerida pelo cônjuge que não concedeu a anuência no prazo decadencial de dois anos do art. 1.649 do Código Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Civil. Também releva observar que, de acordo com o art. 496 do Código Civil, a venda de ascendente a descendente demanda a anuência dos demais descendentes e, também, do cônjuge (salvo regime de separação total). A aquisição dos bens imóveis, contudo, não se completa com a escritura. De acordo com os arts. 108, 1.227 e 1.245 e 1.267 do Código Civil, mister se faz o registro desse título aquisitivo – que pode ser uma escritura pública de compra e venda ou doação, por exemplo – junto ao Oficial de Registro de Imóveis da circunscrição imobiliária competente. Antes do registro não há direito real sobre o imóvel adquirido nos termos do art. 1.245 do Código Civil, ou seja, por negócio jurídico. Vamos exemplificar. Suponhamos A, que outorga uma escritura pública a B, cujo objeto é um apartamento. Se B não leva essa escritura a registro e A outorga nova escritura a C, que ultima a providência necessária nos termos do art. 1.227 do Código Civil, B não terá adquirido a propriedade do bem imóvel, já que não registrou sua escritura. Portanto, como já dissemos, a escritura, enquanto não registrada, não atribui direito real de propriedade, apenas direito pessoal, obrigacional, mediante o qual B, nesse exemplo, civilmente, poderá apenas responsabilizar A patrimonialmente (Código Civil, art. 389), e não reivindicar a propriedade de C, que a adquiriu legalmente, já que não dispõe de direito real, oponível erga omnes. Sendo assim, no caso de bens imóveis e aquisição por negócio jurídico, a transferência do domínio se opera com o registro do título aquisitivo junto ao oficial de Registro de Imóveis da circunscrição imobiliária competente. Trata-se, no caso, de tradição solene. Nesse sentido (Código Civil): Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis. § 1º Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel. § 2º Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel. Assim, diz-se que quem não registra não é dono. Outorgada a escritura, ou admitido o instrumento particular, portanto, mister se faz o registro junto à matrícula para aquisição de direito real oponível a quem quer que seja. A matrícula nada mais é que uma ficha numerada onde se descreve o imóvel e se indica o titular. Cada imóvel tem apenas uma matrícula junto ao oficial de Registro de Imóveis da circunscrição imobiliária competente e em nenhum outro. Nessa matrícula são registrados e averbados todos os fatos jurídicos que alteram de alguma forma o Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar a) b) c) a) b) c) d) direito nele inscrito. Os registros e as averbações seguem o seguinte caminho: Protocolização (Lei 6.015/73, art. 182): com anotação da data e hora para efeito de aquisição de direitos reais (Lei 6.015/73, art. 186). Prenotação (Lei 6.015/73, art. 205): conferindo preferência no registro por trinta dias. Registro (Lei 6.015/73, arts. 167 e 232): na ordem, v.g. R1; AV2; R3... Os registros servem para anotar na ficha de matrícula os atos translativos ou declaratórios da propriedade e dos demais direitos reais (Lei 6.015/73,art. 167, I), como, por exemplo, hipotecas, servidões, promessa de compra e venda, incorporações, loteamentos etc. As averbações (Lei 6.015/73, art. 167, II) se referem às alterações do registro, como, por exemplo, a alteração de nome pelo casamento, cláusulas de inalienabilidade de imóveis etc. Entre outros, o registro segue os seguintes princípios: Prioridade, ou seja, aquele que primeiro protocolizar o título prefere aos demais títulos que porventura ingressem no protocolo, independentemente da data da escritura. Especialidade, segundo o qual cada imóvel deve ter uma descrição única, que não se confunde com a descrição de outros imóveis, recebendo, na ficha de matrícula, um número diferente dos demais. Publicidade, na medida em que qualquer pessoa pode consultar o teor da matrícula, verificando o nome de quem consta como titular e os ônus reais que sobre o imóvel recaem. Continuidade, que representa a necessidade de o registro seguir a cadeia dominial, o que impossibilita a transferência do direito por quem não seja o titular. Assim, quem não é proprietário, não pode vender validamente. O Registro de Imóveis funciona com cinco livros: Livro 1 – Protocolo – onde são apontados todos os títulos para registro ou averbação, com exceção daqueles apresentados apenas para cálculo dos emolumentos (Lei 6.015/1973, art. 174); Livro 2 – Registro Geral – destinado à matrícula e aos registros e averbações enumerados no art. 167 da Lei 6.015/1973; Livro 3 – Registro Auxiliar – destinado ao registro de atos de atribuição do oficial, mas que não se encontram enumerados no art. 167 da Lei de Registros Públicos, como, por exemplo, o regulamento de loteamento fechado ou a minuta do contrato padrão, também de loteamentos além das convenções de condomínio, entre outros documentos (Lei 6.015/1973, art. 178); Livro 4 – Indicador Real – é o livro onde os imóveis matriculados ou transcritos são indicados em razão do seu endereço, possibilitando a localização da matrícula ainda que o interessado não disponha do número da matrícula do imóvel que quer consultar; Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar 1.4.3.2. Livro 5 – Indicador Pessoal – é o livro onde as pessoas que figuram como titulares de imóveis são indicadas, o que possibilita a consulta da titularidade de imóveis pelo nome do titular, ainda que não se disponha do endereço ou do número da matrícula do imóvel. Em suma, voltando à aquisição pelo registro, é possível afirmar que quem não registra, não é dono, não é titular de direito real de propriedade oponível a quem quer que seja (erga omnes), por ausência de publicidade. Todavia, a presunção de propriedade gerada pelo registro é relativa, ou seja, admite prova em sentido contrário. Nesse sentido o art. 1.247 do Código Civil: Art. 1.247. Se o teor do Registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique (LRP, arts. 121 e ss.) ou anule. Parágrafo único. Cancelado o Registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do adquirente. Imaginemos uma hipótese: o proprietário se vê privado de sua propriedade em razão de escritura outorgada com falsa procuração, por alguém com documentos falsos ou em razão de uma nulidade absoluta qualquer. Caso essa escritura seja registrada, o adquirente se tornará proprietário, vez que figurará como tal na matrícula. Inicialmente, nos termos do art. 1.247 do Código Civil, como o registro efetuado não exprimirá a verdade, o prejudicado poderá promover ação de anulação, independentemente da boa-fé do adquirente. Anulado o registro, na qualidade de proprietário, o prejudicado buscará sua propriedade, exercendo o direito de reivindicação, o que poderá fazer cumulando esse pedido na própria ação de anulação. A única hipótese em que é possível o adquirente evitar a anulação é a exceção de usucapião, ou seja, a defesa com alegação de aquisição por usucapião, provando-se o cumprimento dos requisitos. Deveras, o proprietário que perdeu injustamente sua propriedade deixando decorrer o prazo de usucapião sem tomar qualquer atitude, a perderá definitivamente, não podendo mais invocar o art. 1.247 do Código Civil, em razão da aquisição do outro. Nesse sentido, para maiores esclarecimentos, remetemos o leitor ao capítulo referente à usucapião. Acessões As acessões representam outra forma de aquisição de propriedade. De fato, difere da aquisição por negócio jurídico na medida em que um fato natural ou a atividade humana têm o condão de atribuir o direito de propriedade. É claro que, para valer contra terceiros, a acessão deverá ingressar no registro de imóveis. Todavia, Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar a) b) a aquisição já se operou, assim como ocorre com a usucapião. As acessões são definidas como a união e a incorporação com aumento de volume ou valor em razão de elemento externo que, de acordo com a regra segundo a qual o acessório segue o principal, presume- se pertencer ao dono do imóvel acrescido. As acessões podem ser: Naturais: avulsão, aluvião, abandono do álveo e formação de ilhas; e, Industriais: construções e plantações. São acessões naturais aquelas que encontram sua origem em fatos jurídicos, ou seja, acontecimentos naturais que criam, modificam ou extinguem direitos. A avulsão, prevista no art. 1.251 do Código Civil e no art. 19 do Código de Águas (Decreto nº 24.643/1934) é a aquisição da propriedade em razão de força natural e violenta que faz com que uma porção de terra se destaque de um prédio e se junte a outro. Prevê o Código Civil, em respeito ao princípio que veda o enriquecimento ilícito, que o adquirente deverá indenizar o dono do prédio desfalcado e, se não o fizer, o direito de indenização decairá no prazo de um ano pela inércia do dono do prédio desfalcado. Trata-se de meio de aquisição de duvidosa aplicação prática na medida em que não encontramos, ao menos em nossa pesquisa, qualquer decisão que tenha reconhecido essa forma de aquisição. A aluvião, por sua vez, é a forma de aquisição por acessão natural mediante a qual ocorrem acréscimos às margens de rios de forma imperceptível (Código Civil, art. 1.250). Nesse caso, não há qualquer indenização, sendo o terreno aluvial (aquele que se depositou na margem), acrescido à propriedade ribeirinha na proporção de sua testada para a antiga margem. O abandono do álveo, também forma de aquisição de propriedade por acessão, nada mais é que o leito seco de rio que não mais existe ou que sofreu desvio em seu curso. O leito seco do rio (álveo abandonado) será dividido entre as propriedades ribeirinhas na proporção de suas testadas para a antiga margem até a metade do álveo abandonado se a propriedade da outra margem tiver titular diverso. Questão que surge do abandono do álveo é saber como fica a situação no caso de mudança do curso do rio. Evidentemente, outra propriedade pode ser prejudicada. Todavia, se o fato for natural, acorde com o mandamento do art. 1.252 do Código Civil e art. 26 do Código de Águas, estaremos diante de motivo de força maior que impede qualquer indenização. Nesse caso somente restará ao proprietário do imóvel atingido suportar o prejuízo. Todavia, se a mudança de curso se der em razão de obra promovida pelo Poder Público, o fato se equiparará à expropriação, deferindo o direito de indenização ao proprietário do imóvel prejudicado. Janielle Destacar Janielle Destacar Para compensar a indenização, a lei defere ao Poder Público a propriedade do álveo abandonado de tal sorte que não haverá aquisição pelos proprietários ribeirinhos. Por fim, como acessão natural, temos a formação de ilhas. A formação de ilha só confere a propriedade se o rio onde se formar for particular, ou seja, um rio nãonavegável (Código de Águas, art. 23). Nesse caso, o Código Civil define as consequências: Art. 1.249. As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares pertencem aos proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguintes: I – as que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais; II – as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado; III – as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram. Resta, então, verificarmos as acessões industriais, aquelas que dependem da atividade humana, sem a qual não ocorrem, ou seja, as construções e plantações. Mister se faz observar que as normas que regulam essas acessões não se misturam com aquelas decorrentes de benfeitorias, cujo estudo nesta obra é feito juntamente com a posse e as ações possessórias. No caso de benfeitorias, em regra, o possuidor de boa-fé tem direito às benfeitorias úteis e necessárias, bem como levantar as voluptuárias, sem direito de retenção. Já o possuidor de má-fé só pode cobrar as benfeitorias necessárias que realizou, isso sem direito de retenção. As benfeitorias visam conservar ou melhorar a coisa já existente, tratando-se de bem acessório. As construções e plantações, por sua vez, são acréscimos, ou seja, meio de aquisição de propriedade. Presume-se, até prova em contrário (presunção relativa), que as construções e plantações pertencem ao dono do imóvel onde foram realizadas (Código Civil, art. 1.253). De fato, o proprietário que planta e constrói em seu terreno com sementes e materiais próprios, adquire a propriedade da construção ou plantação. O problema surge no caso de o proprietário, ou alguém por ele, utilizar sementes ou materiais alheios no seu terreno. Nesse caso, se agir de boa-fé, paga o valor dos materiais e sementes de forma singela. Obrando de má-fé, por outro lado, ou seja, sabendo ou devendo saber que os materiais são alheios, embora adquira igualmente a propriedade da construção ou plantação, responde por perdas e danos, consubstanciados nos danos emergentes, exemplificados pelo valor dos materiais e sementes, além de lucros cessantes, como, por exemplo, as perdas em razão de o dono das sementes não ter plantado no momento mais adequado. a) b) c) d) e) 1.4.4. a) b) É possível, também, que alguém plante ou construa em terreno alheio. A regra geral, nesse caso, é de fazer com que aquele que plantou ou construiu em terreno alheio, perca aquilo que plantou ou construiu para o dono do terreno, seguindo a regra segundo a qual o acessório segue o principal. Assim, em regra, se agiu de boa-fé, desconhecendo que o terreno era alheio, como, por exemplo, no caso de arrendar terra para plantação de quem, ao depois, descobre-se que não era dono, terá direito de ser ressarcido em razão do benefício do proprietário. Se agiu de má-fé, perde o que investiu sem qualquer direito à indenização. A má-fé pode ser, também, do proprietário, que permaneceu inerte em razão da acessão que não desconhecia e acompanhou sem impugnação. Nesse caso, ainda que aquele que plantou ou construiu tenha agido de má-fé, terá direito de receber indenização pelos prejuízos. Outrossim, rompendo com os pendores individualistas do século retrasado, o novo Código Civil, Lei 10.406/2002, estabelece inversão da regra segundo a qual o acessório segue o principal nos casos em que o valor da construção supera o valor do solo. Organizamos, assim, as hipóteses e as consequências: Boa-fé e construção/plantação na totalidade do solo no caso de a construção/plantação exceder o valor do solo: aquele que plantou/edificou adquire a propriedade do solo, mediante indenização fixada pelo juiz (Código Civil, art. 1.255). Invasão parcial (até 5%) e boa-fé: aquele que construiu/plantou adquire mediante indenização da parte do solo invadido e da desvalorização do restante (Código Civil, art. 1.258). Invasão parcial (até 5%) e má-fé: sendo impossível a demolição, mesma solução anterior com o décuplo da indenização (Código Civil, art. 1.258). Invasão parcial (mais de 5%) e boa-fé: o construtor adquire mediante indenização da parte do solo, do acréscimo de valor à construção e da desvalorização do restante (Código Civil, art. 1.259). Invasão parcial (mais de 5%) e má-fé: demolição e pagamento de perdas e danos em dobro (Código Civil, art. 1.259). Perda da propriedade A perda da propriedade vem tratada no art. 1.275 do Código Civil, dispositivo que enumera, exemplificativamente, as causas que determinam a perda do direito de propriedade. São causas voluntárias de perda da propriedade: alienação; renúncia; e, Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar c) a) b) abandono. A alienação nada mais é que a transferência a qualquer título, como, por exemplo, por compra e venda, doação, transação (acordo para terminar ou prevenir litígios), dação em pagamento etc. A renúncia, ou seja, o fato de o proprietário abrir mão do seu direito, assim como a alienação, nos termos do art. 1.275, parágrafo único, depende de registro. Assim, sendo conveniente ao proprietário renunciar ao seu direito de propriedade, deverá outorgar escritura pública caso o valor seja superior a trinta vezes o salário mínimo vigente no país (Código Civil, art. 108) e levá-la a registro. Nesse caso, o bem imóvel será vago e o Poder Público poderá arrecadá-lo e incorporá-lo ao seu patrimônio nos termos do art. 1.276 do Código Civil, que será adiante analisado. Nesse instante, poder-se-ia redarguir: em qual hipótese o proprietário teria interesse em renunciar ao seu direito? De fato, numa primeira e superficial análise, poderíamos descartar o interesse prático do instituto. Todavia, existem casos em que o interesse estará presente. É o caso de o imóvel responder por vultosa dívida de imposto predial e territorial, cujo valor do próprio imóvel não justifica o pagamento. Como se trata de obrigação propter rem, ou seja, aquela que se vincula à coisa e não ao titular, renunciando ao direito, o proprietário estará, também, se livrando da obrigação, surgindo, portanto, interesse jurídico na renúncia. A propriedade pode ser perdida, também voluntariamente, por abandono, causa prevista no art. 1.276 do Código Civil, que exige: Abandono e ausência de posse do imóvel por terceiros, ou seja, ninguém pode estar na posse do imóvel, ocupando-o, por exemplo, a título de locação ou mesmo em razão de esbulho (invasão). A posse pode, portanto, ser indireta, afastando, nesse caso, a intenção de abandonar, mormente que o abandono se trata de meio voluntário de perda da propriedade. Presume-se de forma absoluta o abandono por ausência do pagamento dos impostos, desde que tenham cessado os atos de posse, ou seja, desde que não haja ninguém ocupando ou que não haja qualquer exteriorização de um dos poderes inerentes à propriedade (Código Civil, art. 1.196); e, Arrecadação como bem vago, constatado o abandono. Após três anos da arrecadação, passará ao domínio do Município ou da União (se for rural). Durante esse prazo de três anos, o proprietário terá, ainda, o direito de retomar a coisa, evitando que passe ao domínio público. Como o art. 1.276 do Código Civil determina a necessidade de ausência de posse por terceiros, resta evidente que na hipótese de terceiros tomarem a posse, não haverá como oPoder Público arrecadá-lo. Com o abandono a coisa passa a ser res derelicta, ou seja, coisa de ninguém, admitindo, assim, a a) b) c) posse de terceiros, inclusive para usucapir o bem abandonado. A mesma conclusão pode ser extraída no caso de o imóvel ser objeto de escritura de renúncia. Nesse caso, passa a ser coisa de ninguém, o que permite a posse ad usucapionem de terceiros que exclui a possibilidade de o Poder Público arrecadá-lo como bem vago. Por outro lado, existem causas involuntárias de perda de propriedade, ou seja, meios que independem da vontade do proprietário. São elas: perecimento; desapropriação; e, posse-trabalho. O imóvel pode perecer quando, por exemplo, uma ilha particular (em rio não navegável) deixa de existir ou quando uma construção se deteriora, ameaça ruína e reclama demolição. A desapropriação é possível por necessidade ou utilidade pública, mediante prévia e justa indenização em dinheiro (Constituição Federal, art. 5º, XXIV; Código Civil, art. 1.228, § 3º). A ela se aplica o Decreto-Lei 3.365/1941 e o estudo será feito em capítulo destacado. O mesmo em razão da posse-trabalho, que admite a aquisição da propriedade por número considerável de pessoas na posse de boa-fé, por mais de cinco anos, de uma extensa área de terra e nela aplique a sua função social, aquisição esta que dependerá de pagamento do valor que for arbitrado judicialmente (Código Civil, art. 1.228, § 4º). Trata-se de perda, pelo proprietário, independentemente de sua vontade e, assim, causa involuntária de perda de propriedade. Estudaremos a posse-trabalho juntamente com o capítulo referente à posse por se tratar, também, de uma de suas consequências. 1 2 3 4 __________ Silvio Rodrigues, Direito Civil, São Paulo: Saraiva, 1991, vol. 5, p. 75. Silvio Rodrigues, Direito Civil, São Paulo: Saraiva, 1991, vol. 5, p. 81. Josserrand, De l’esprit des droits et de leur rélativité, 1939, p. 415. Segundo Nelson Nery Junior (Código Civil anotado, São Paulo: RT, 2003, p. 853), o Código Civil de 2002 foi publicado no Diário Oficial da União no dia 11.01.2002. A contagem, segundo Nelson Nery Junior, é feita de acordo com a Lei Complementar 95/1998, que, no art. 8º, § 1º, estabelece: Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula “entra em vigor na data de sua publicação” para as leis de pequena repercussão. § 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral (Parágrafo incluído pela Lei Complementar 107, de 26.04.2001). Nesse caso, aplica-se, inclusive, a Lei 810/1949, que, no art. 1º, estabelece que o prazo em ano se conta “do dia do início ao dia e mês correspondentes do ano seguinte”. Posta assim a questão, tendo em vista que a Lei Complementar 95/1998 determina a entrada em vigor no dia seguinte ao da consumação integral, resta a conclusão segundo a qual o Código Civil de 2002 entrou em vigor no dia 12 de janeiro de 2003. 2.1. INTRODUÇÃO Segundo Walter Ceneviva,1 a dúvida é pedido de natureza administrativa, formulado pelo oficial, a requerimento do apresentante de título, para que o juiz competente decida sobre a legitimidade de exigência feita, como condição de registro pretendido. Importante ressaltar que o procedimento de dúvida, que adiante será explicitado, somente é possível em razão de atos qualificados pela Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/1973) como passíveis de registro (art. 167, I), não sendo possível nos casos enumerados como hipóteses de averbação (art. 167, II), cuja negativa desafia pedido de providências, e não dúvida registral. A Lei defere ao interessado o direito de apresentar o título, independentemente de seu protocolo, para exame e cálculo dos respectivos emolumentos (art. 12, parágrafo único, da Lei 6.015/1973). Contudo, se o título é apresentado para registro, cabe ao oficial de Registro de Imóveis a verificação formal e legal do documento apresentado. De acordo com Ulisses da Silva:2 É muito alta a média de títulos devolvidos com exigências nas grandes comarcas face às mais variadas falhas que ostentam, principalmente as judiciais e particulares. Embora algumas delas possam ser detectadas no momento da apresentação, é, realmente, no exame realizado por escreventes especializados, quando não pelo próprio registrador, que elas aparecem. Existe a presunção de que as partes interessadas têm conhecimento da lei, não podendo, assim, alegar ignorância quanto aos requisitos e formalidades exigidas para a lavratura de um instrumento público, particular ou judicial. Não podem ignorar, também, os documentos que devem acompanhá-los ao registro. A despeito, entretanto, de tal presunção, a verdade é que as devoluções ocorrem com bastante frequência. Isso acontecendo, cabe ao registrador ou escrevente formular nota devolutiva escrita discriminando as exigências legais necessárias, fundamentando-as e fornecendo, quando possível, orientação quanto à forma de satisfazê-las. Com elas o interessado pode não concordar e requerer a suscitação de dúvida, caso em que o título será encaminhado ao juízo competente, nos termos do art. 198, da Lei 6.015/1973, após haver, o oficial, lhe dado ciência dos termos da impugnação (uma cópia da qual lhe será entregue), intimando-o a contestá-la no prazo de quinze dias. Sempre que o oficial entender que o título não é passível de registro ou duvidar, por motivo justo, da validade formal do título que lhe é apresentado, a Lei 6.015/1973 determina que manifeste, por escrito, sua dúvida, dirigida ao Juiz competente. Consoante Walter Ceneviva,3 é do exclusivo juízo do oficial, fazer ou não exigência ao apresentante do título. Janielle Destacar 2.2. 2.3. Essa dúvida, de qualquer forma, deve ser por escrito e: a) Legítima (art. 205, da Lei 6.015/1973), vale dizer, com apoio em determinada lei e formal, no sentido de resultar do exame de característicos extrínsecos ao título, posto que ao oficial é indiferente a substância do negócio jurídico convencionado pelas partes; b) Razoável, no sentido de que é função do serventuário buscar encontrar soluções que tendam a viabilizar – e não a impedir – o registro. As garantias inerentes ao registro imobiliário devem estar abertas a todos; c) Clara, evitando linguagem hermética ou confusa, propiciando à parte o conhecimento incontroverso do defeito dos instrumentos, para corrigir, se for o caso; d) Exaustiva, isto, apresentando exigência (que a lei usa no singular) quanto a todas as exigências que o título mereça, de uma só vez; e, e) Finalmente, ter natureza passiva, no sentido de que cabe ao interessado comparecer a cartório, para dela tomar conhecimento. Não cabe ao oficial encaminhar a notificação ou a entrega da indicação da exigência a ser satisfeita, fora da serventia. Sobre o item “d”, ensina o autor:4 De preferência, o oficial deve fazer tudo isso de uma vez só. Uma das coisas que mais irritam os advogados – e a queixa deles é frequentemente justa – é o oficial fazer suas exigências a prestações, em conta-gotas. Pede para exibir a escritura definitiva anterior. Você leva. Pede a certidão do cartório imobiliário precedente. Você leva. Aí ele exige também o do INCRA e assim vai. Este é um erro grave que não deve ser tolerado. O oficial deve fazer suas exigências de uma vez só, por escrito, de modo claro, direto, por itens. Quando não age por esta forma, erra, e nós podemos reclamar ao juiz corregedor. Todavia, não cabe dúvida em questões de alta indagação. Nesse sentido decidiu o Tribunal de Justiça de SantaCatarina, citado por Walter Ceneviva:5 Não se tratando de simples procedimento administrativo, mas envolvendo o pedido duplicidade de registro de imóvel, problema de alta indagação, com reflexos no patrimônio dos interessados, deve ser solucionado pelas vias ordinárias. QUALIFICAÇÃO DO TÍTULO De acordo com Eduardo Sócrates Castanheira Sarmento:6 A Lei de Registros Públicos defere aos oficiais, em geral, a tarefa de exame de validade e legalidade, com o dever de suscitar dúvidas em relação aos atos registrados, procedendo ao que se denomina a qualificação dos títulos que lhes são submetidos. Qualificação é, portanto, a tarefa do oficial consistente no exame formal e prévio do título, realizando um juízo crítico- jurídico, que culmina com a prática do ato ou a denegação do assento solicitado, fundado na validade e legalidade de fundo e de forma do título apresentado. Só podem ter acesso ao sistema os títulos que preencham os requisitos estabelecidos em lei, o que o oficial fará após análise crítica, do ponto de vista interno e externo. Portanto, cabe ao registrador levantar a dúvida a requerimento do interessado, que se insurge contra exigências que não pode ou não quer cumprir e entende incabíveis. O PROCEDIMENTO DE DÚVIDA Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar De acordo com o art. 204 da Lei dos Registros Públicos – Lei 6.015/1973 – a decisão da dúvida tem natureza administrativa. Portanto, trata-se de atividade atípica do Poder Judiciário, ou seja, de jurisdição voluntária consistente na administração pública de interesses privados. Sendo assim, o procedimento de dúvida, como não foi disciplinado pelo Código de Processo Civil, se enquadra perfeitamente nesse procedimento. Em suma, embora a decisão nela proferida seja do Poder Judiciário, não corresponde a exercício típico de função jurisdicional. De qualquer forma, a decisão proferida em sede de dúvida registral não faz coisa julgada material. O título pode ser reapresentado pelo interessado. Nesse caso, o oficial, se assim entender, poderá recusar o registro, formulando as mesmas exigências, ainda que a dúvida tenha sido julgada procedente anteriormente. Em outras palavras, o oficial de Registro de Imóveis não pode recusar a prenotação do título sob o fundamento de que teria de repetir os termos da dúvida já julgada, por serem perfeitamente iguais aos anteriores. O art. 198 da Lei 6.015/1973 enuncia os primeiros passos do procedimento: Art. 198. Havendo exigência a ser satisfeita, o oficial indicá-la-á por escrito. Não se conformando o apresentante com a exigência do oficial, ou não a podendo satisfazer, será o título, a seu requerimento e com a declaração de dúvida, remetido ao juízo competente para dirimi-la, obedecendo-se ao seguinte: I – no Protocolo, adotará o oficial, à margem da prenotação, a ocorrência da dúvida; II – após certificar, no título, a prenotação e a suscitação da dúvida, rubricará o oficial todas as suas folhas; III – em seguida, o oficial dará ciência dos termos da dúvida ao apresentante, fornecendo-lhe cópia da suscitação e notificando-o para impugná-la, perante juízo competente, no prazo de 15 (quinze) dias; IV – certificado o cumprimento do disposto no item anterior, remeter-se-ão ao juízo competente, mediante carga, as razões da dúvida, acompanhadas do título. Na impugnação à dúvida suscitada pelo oficial, o interessado poderá alegar que os elementos a ele submetidos são suficientes para o registro ou que é jurídica ou faticamente impossível atender à exigência formulada. Segundo Ceneviva,7 se o terceiro prejudicado pode apelar, a teor do art. 202 da Lei 6.015/1973, também poderá impugnar a pretensão do apresentante ou a dúvida do Oficial. Sendo assim, participará da dúvida como impugnante direto (v.g., vendedor com o registro ainda em seu nome) ou então como assistente simples, se demonstrar interesse no registro. Entretanto, para que disponha dessa prerrogativa, deverá demonstrar o interesse jurídico. Não é, assim, qualquer terceiro que poderá intervir, mas apenas aquele que comprovar prejuízo em face do deferimento ou do indeferimento da dúvida e, conseguintemente, do registro. Não cabe, todavia, a esse terceiro, extrapolar os limites da dúvida e das questões registrais. Qualquer pretensão nesse sentido deve ser resolvida em ação própria, de jurisdição contenciosa. Janielle Destacar Janielle Destacar Janielle Destacar A dúvida do oficial deverá ser suscitada perante a Corregedoria Permanente que, na Capital de São Paulo é função da 1ª Vara dos Registros Públicos. Nas comarcas do interior, se houver mais de uma vara cível, a dúvida é analisada pelo Juiz Corregedor Permanente. Esse juiz, de acordo com as normas da Organização Judiciária do Estado de São Paulo, é o juiz titular da Primeira Vara Cível. O conjunto probatório consiste somente em prova documental. Na impugnação, o interessado pode trazer novos documentos. Todavia, sendo processo de natureza administrativa, não comporta dilação probatória, não cabendo prova pericial ou testemunhal. Pela clareza, transcrevemos, abaixo, o prático roteiro do Dr. Roberto Max Ferreira, Oficial do Registro de Imóveis de Guaratinguetá, SP:8 1) Apresentação de um título ao Registro de Imóveis, para registro. 1.1) É importante que o ato a ser praticado seja registro. Para dissenso entre Registrador e Apresentante sobre a prática de averbações não se aceita o procedimento de “dúvida”. Trata-se, nesse caso, de “providências judiciais” que a parte deverá solicitar ao Juiz, assunto não tratado aqui. 1.2) Deverá ser apresentado o título em sua forma original, não se aceitando cópias, mesmo que autenticadas. Insistindo na apresentação da cópia, as chances de perder a dúvida em todas as instâncias são bastante significativas. 2) Prenotação do título. 2.1) O título deverá ser imediatamente prenotado pelo Oficial (protocolado) no livro 1 e esse protocolo terá validade por 30 dias. 3) Exame do título e sua desqualificação para registro. 3.1) O Oficial, após o exame completo do título, com a sua desqualificação para registro, emitirá, por escrito, sua nota de devolução com as exigências. 4) O apresentante cumprirá apenas parcialmente as exigências, não se conformando com uma ou mais, solicitará o levantamento da dúvida. 4.1) O apresentante deverá analisar, atentamente, quais exigências poderão ser cumpridas. O procedimento de dúvida não aceita instrução, ou seja, não se poderá cumprir parte das exigências enquanto a dúvida é julgada. Se assim o fizer, a dúvida será julgada procedente e a recusa de registro do Oficial será dada como correta. 4.2) O Oficial ou seu preposto deverá sempre manifestar, mesmo de forma verbal, toda a justificação legal sobre a exigência que o apresentante não aceita, alertando-o sobre os precedentes já julgados, bem como sobre a grande possibilidade de seu inconformismo ser rejeitado. A Corregedoria não se comporta como órgão de consulta e tende a manter rígidos os parâmetros estabelecidos para registro de títulos. 5) O apresentante formaliza o inconformismo com a exigência e solicita, por escrito, o levantamento da dúvida. 5.1) É imprescindível o requerimento por escrito, para se levantar dúvida. Não há necessidade, nesta fase, de nenhuma argumentação jurídica. 5.1.1) A apresentação do requerimento diretamente ao Juiz Corregedor é errada, pois contraria a lei, indesculpável se o interessado estiver representado por Advogado. Todavia, por questão de economia processual, os nossos Juízes, em alguns casos, aceitam tal pedido como “Dúvida Inversa”. Confira os procedimentos no subitem 5.4. 5.2) Não há necessidadede o requerimento ser assinado por Advogado. Todavia, dada a complexidade dos assuntos registrais, a presença do mesmo é mais do que recomendável. Para eventual apelação ao Tribunal, a presença de Advogado é indispensável. 5.3) O interessado deverá apresentar o requerimento para a dúvida, exigindo do Oficial recibo do mesmo. O título para registro deverá estar, além de protocolado, em poder do Registrador. 5.4) A recusa do Oficial em proceder ao levantamento da dívida é descumprimento de dever do registrador, nos termos do art. 30, inc. XIII, da Lei 8.935/94, sujeitando-o às penalidades cabíveis. Somente neste caso é justificável o interessado dirigir-se diretamente ao Juiz Corregedor, solicitando providências. A doutrina, por questão de economia processual, aceita essa representação como “Dúvida Inversa”. Todavia, os requisitos de apresentação do título, prenotação com as anotações e formulação dos termos da dúvida, são imprescindíveis, devendo o Juiz Corregedor determinar ao Oficial esses procedimentos obrigatórios. A ausência dos mesmos sujeitará à anulação todo o processo pelo Conselho Superior da Magistratura do Estado de São Paulo. 6) No protocolo, o Oficial anotará a ocorrência da dúvida. 6.1) O normal prazo de 30 dias ficará prorrogado até decisão final da dúvida. 7) O Oficial certifica, no título, a prenotação e a suscitação da dúvida, rubricando todas as suas folhas. 8) O Oficial formulará ao seu Juiz Corregedor Permanente os termos da dúvida, apresentando sua argumentação em razão da exigência contestada. (...) 8.2) A formulação dos termos da dúvida é atividade indelegável do Oficial em exercício, não podendo ser deixada para algum de seus prepostos. Se o Oficial se utilizar de Advogado, este poderá assinar de forma secundária, somente como assistente. 9) O Oficial remeterá cópia dos termos da dúvida ao apresentante, notificando-o para impugná-la junto ao Juiz Corregedor, no prazo de 15 dias. 9.1) A remessa com a notificação deverá ser por carta registrada com aviso de recebimento. 9.2) Observa-se que a eventual impugnação já deverá ser dirigida ao Juiz Corregedor Permanente. 10) O Oficial certificará o cumprimento da entrega da notificação e remeterá, mediante carga, as razões da dúvida, acompanhadas do título. 10.1) Com essa remessa, o título deixará de estar no Registro de Imóveis e ficará na Corregedoria Permanente, aguardando a eventual impugnação do apresentante e a decisão do Juiz. 11) O interessado apresenta sua impugnação dentro do prazo de 15 dias, com os documentos que julgar convenientes. 11.1) Necessariamente o interessado não precisa apresentar sua impugnação, não ocasionando essa omissão revelia e perdimento da pretensão. Mesmo não apresentando impugnação, o Juiz julgará a dúvida, por sentença. 12) O Ministério Público será ouvido no prazo de 10 dias. 13) O Juiz proferirá decisão no prazo de 15 dias, com base nos elementos constantes dos autos, se não forem requeridas diligências. 14) Da sentença caberá apelação com efeitos devolutivo e suspensivo. 14.1) A apelação será junto ao Conselho Superior da Magistratura do Estado de São Paulo. A Lei de Organização Judiciária do Estado de São Paulo sempre se preocupou em uniformização de decisões sobre Registro de Imóveis, razão por que o recurso fica a cargo do CSM, em que o Relator é sempre o Corregedor-Geral da Justiça, e não para uma das eficientes Câmaras Cíveis do Tribunal de Justiça. 14.2) Somente poderão interpor apelação o interessado, o Ministério Público e o terceiro prejudicado. O Oficial de Registro não tem capacidade para interpor esse recurso. 15) Transitou em julgado a decisão da dúvida. 15.1) Lembrar sempre que a decisão da dúvida tem natureza administrativa e não impede o uso do processo contencioso competente (art. 204, Lei 6.015/73). 16) Se for julgada procedente: 16.1) Esta decisão significa que o Oficial de Registro de Imóveis tinha razão ao fazer a exigência que, necessariamente, deverá ser cumprida pelo apresentante. Em linguagem simples, pode-se afirmar que o apresentante “perdeu” a dúvida. 17) Restituição do documento à parte independentemente de traslado. 17.1) O título é singelamente desentranhado do processo e devolvido à parte. 18) Ciência da decisão ao Oficial. 18.1) O próprio Juiz Corregedor Permanente, através do Cartório da Corregedoria, incumbir-se-á desse procedimento. 19) O Oficial deverá anotar no Protocolo a decisão e cancelar a prenotação. 19.1) A prenotação inicialmente feita, cujo prazo normal de 30 dias foi prorrogado, ficará cancelada. 20) Se for julgada improcedente.9 20.1) Esta decisão significa que as exigências do oficial não estavam corretas, não havendo razão para o apresentante cumpri- las. Em linguagem simples, pode-se afirmar que o apresentante “ganhou” a dúvida. 21) O interessado apresentará ao Registro de Imóveis, novamente, os seus documentos. 21.1) Os documentos serão, também, singelamente desentranhados do processo, independentemente de traslado. 22) O interessado apresentará, junto com os documentos, mandado ou certidão da sentença. 23) O oficial do Registro arquivará o mandado ou certidão da sentença. 24) O oficial procederá ao registro solicitado, obviamente sem a necessidade do cumprimento da exigência que fora feita. 25) O oficial declarará o fato na coluna de anotações do protocolo. 26) O oficial entregará ao interessado o título registrado. 2.4. 2.5. 2.6. O RECURSO CABÍVEL Dispõe o art. 202 da Lei 6.015/1973 que da sentença do processo de dúvida, o interessado, o Ministério Público e o terceiro prejudicado poderão apelar, com os efeitos devolutivo e suspensivo. Em razão da especialidade e da omissão do referido artigo, incabível qualquer outro tipo de recurso, como, por exemplo, o agravo. Em São Paulo, o recurso deverá ser encaminhado ao Conselho Superior da Magistratura. A ATUAÇÃO DO ADVOGADO Na primeira fase do procedimento, descrito no art. 198 da Lei 6.015/1973, existe apenas o pedido do interessado ao oficial, para que registre o título, sendo desnecessário o advogado. Acorde com Antonio Albergaria Pereira:10 O entendimento do oficial levado ao Juiz, por requerimento do interessado, é ato exclusivamente administrativo sem qualquer característico de contenda judicial. Efetivamente, nessa esfera, não há necessidade de participação do advogado. Contudo, quando o juiz decide, sua decisão, se contrária ao interessado no registro do título, nada mais é que uma sentença. Dessa sentença cabe o recurso de apelação. Dela só o interessado, o Ministério Público ou terceiro prejudicado podem apelar (art. 202 da Lei 6.015). Aqui surge então a segunda fase da dúvida. É a fase recursal. E o recurso, sendo de apelação, reclama o arrazoado, que é ato privativo de advogado. De nossa parte, entendemos que o advogado já é necessário na ocasião da impugnação à dúvida apresentada, conforme se verifica na descrição do procedimento que faremos a seguir. A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO Dispõe o art. 200 da Lei dos Registros Públicos: Art. 200. Impugnada a dúvida com os documentos que o interessado apresentar, será ouvido o Ministério Público, no prazo de 10 (dez) dias. No procedimento de dúvida, o órgão do Ministério Público intervém como fiscal da lei. De acordo com Ceneviva,11 o Ministério Público tem vista dos autos depois das partes. O prazo de 10 dias conferido pelo art. 200, da Lei 6.015/1973, conta-se da data em que lhe sejam apresentados os autos pelo cartório. Além disso, é intimado de todos os atos. Pode, também, juntar documentos e certidões, requerer medidas e diligências necessárias ao descobrimento da verdade e manifestar-se a favor da procedência ou da improcedência da dúvida. Ao Ministério Público, na qualidade de fiscal da lei, cabe apelar da sentença contrária à sua
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