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Prévia do material em texto

PASSO-A-PASSO HUMANÍSTICAS 
VOLUME 3 - NOÇÕES DE SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
CONTEÚDO E ROTEIRO DE 
ESTUDOS DE ACORDO COM O 
EDITAL DO VI CONCURSO PARA 
O CARGO DE DEFENSOR 
PÚBLICO FEDERAL 
www.cursocliquejuris.com.br 
De acordo com o Edital nº 2, de 29.6.2017 
Material elaborado pelo Curso Clique Juris 
Vedada a comercialização e compartilhamento 
 
 
 
 
1 
 
CPF 
 
 
Sumário 
Orientações Gerais .................................................................................... 2 
PASSO-A-PASSO SOCIOLOGIA JURÍDICA ............................................. 11 
1. Perspectivas sociológicas do Direito ................................................ 14 
1.1 O Direito como Ciência. ................................................................... 30 
1.2 O Direito como Ideologia. ................................................................ 35 
2. A ciência jurídica como ciência social. .......................................... 39 
3. Positivismo, Marxismo e Historicismo. ............................................... 43 
4. Fundamentos sociais da ordem jurídica. ........................................ 47 
5. Os grupos sociais e o Direito. ............................................................. 51 
6. Direito estatal e direito extra-estatal. ............................................... 57 
6.1 Controle social. ................................................................................... 62 
6.2 Estratificação social. .......................................................................... 72 
7. Conflito social e conflito jurídico. ...................................................... 78 
8. A função simbólica do Direito. .......................................................... 86 
9. Eficácia do Direito e legitimidade da ordem jurídica. .................. 90 
10. Opinião pública. ................................................................................ 99 
11. Direito e Revolução. ........................................................................ 107 
 
 
 
 
 
 
2 
 
CPF 
 
 
Orientações Gerais 
 
Queridos alunos. 
É com grande satisfação que apresentamos a vocês o Passo-
a-Passo – Humanísticas (PAP HUMANÍSTICAS). 
O material foi elaborado pelo professor Igor Peçanha Frota 
Vasconcellos, bacharel em Direito pela UFF, advogado e 
mestrando em Ciências Jurídicas e Sociais (PPGSD/UFF). 
No material apresentado selecionamos o que é fundamental 
para fazer a prova da DPU/CESPE no que tange às 
humanísticas que englobam três disciplinas do grupo IV do 
edital, a saber: (1) noções de ciência política; (2) noções de 
sociologia jurídica; e (3) filosofia do direito. São basicamente 
as disciplinas consideradas da área de Humanas, à exceção 
daquelas estritamente jurídicas. 
O que são as humanísticas (aonde vivem, o que comem)? 
É bem verdade que durante a faculdade costumamos não 
dar muita atenção para as matérias chamadas propedêuticas 
ou zetéticas (dois nomes que podem aparecer nas provas 
como sinônimos desse conjunto de disciplinas). Por aqui já fica 
uma primeira dica, no sentido de que a denominação 
propedêutica não é uma unanimidade porque refere-se à 
ideia de “conhecimentos mínimos” (ou “conhecimentos 
introdutórios”), e para muitos estudiosos dessas disciplinas, 
 
 
 
3 
 
CPF 
 
 
considerar que elas são apenas introdutórias e não centrais 
para o entendimento do direito já revela uma visão 
distanciada dos saberes críticos ou não dogmáticos. 
Assim, antes de entrar nos conteúdos propriamente ditos temos 
que dar dois passos: a) entender como abordar os temas que 
são essenciais para a prova; e b) aprender a diferença entre 
as disciplinas. 
O conteúdo do edital 
A maneira como o edital é construído, incluindo essas 
disciplinas na mesma lógica que as disciplinas jurídicas, amplia 
a dificuldade de estudo delas, uma vez que os temas são 
muito amplos e, ao contrário das disciplinas dogmáticas 
(opõe-se a zetéticas), não é habitual a produção de manuais 
sobre elas. Costumo dizer em sala de aula que poderia 
abordar cada tema do edital com pelo menos 10 autores 
diferentes e por um semestre inteiro num curso universitário. 
No que diz respeito à extensão do conteúdo podemos 
comparar com a Faculdade de Direito: já pensou de uma vez 
só (e pela primeira vez na vida) aprender todo o Direito Privado 
(que em muitas faculdades estudamos por dez períodos), com 
o agravante de que tanto na filosofia quanto nas ciências 
sociais (aqui incluídas a ciência política, a sociologia e alguns 
temas de antropologia que adentram o edital de sociologia) 
 
 
 
4 
 
CPF 
 
 
cada autor costuma cunhar seu próprio conceito sobre um 
assunto ou criar novos conceitos a partir de conceitos de 
autores pré-existentes, os quais não estão sistematizados em 
manuais e não há uma bibliografia-base para a prova o que 
seria o mais adequado para esse tipo de prova para essas 
disciplinas (como acontece na Defensoria de São Paulo, v.g.) 
Nesse sentido, fica uma segunda dica de que ao invés de se 
propor a decorar todos os conceitos específicos para as 
“categorias”1, autores e obras, busque organizar os seus 
estudos relacionando uns aos outros, porque o que a banca 
tentará fazer é confundir a ideia principal sobre aquele tema, 
tornando possível deduzir as questões que estão erradas ou 
certas quando se compreende como é o pensamento do 
autor ou em que contexto se mobiliza determinado conceito 
ou categoria. 
Um outro ponto importante a ser destacado novamente é ficar 
atento aos temas que atravessam as diferentes disciplinas, 
especialmente aqueles que estão no mesmo grupo das 
humanísticas (Constitucional, Direitos Humanos e 
Internacional). É bastante possível que nas questões discursivas 
 
1Conceito muito importante para as ciências sociais, pois são os recursos explicativos 
utilizados para construir determinada teoria ou explicar uma determinada situação fática 
observada pelo cientista social – por exemplo, “trabalho” é uma categoria utilizada por Marx 
para explicar a sociedade capitalista. Ou ainda, “dominação” é uma categoria utilizada por 
Weber para explicar o estado e a sociedade burocrático-legal em que vivemos. 
 
 
 
5 
 
CPF 
 
 
os temas das humanísticas estejam articulados com temas 
dessa disciplina. 
Sobre as disciplinas que abordaremos a seguir, dentro das 
humanísticas temos “noções de sociologia jurídica” e “noções 
de ciência política”, ao passo que “filosofia do direito” não 
vem com essa ideia de conceitos introdutórios (a disciplina não 
é noções de Filosofia do Direito), o que pode implicar numa 
cobrança mais aprofundada dessa disciplina. 
Por fim, chamo a atenção para o momento político que 
vivemos, com “golpes”, “crises”, “impeachment”, reparem 
que todos os tópicos incluídos nos programas de humanísticas 
tem alguma relação com essa temática (direito e revolução 
em sociologia jurídica, as origens do poder político do estado 
em ciência política e desobediência civil em filosofia do 
direito, entre outros em que essa associação não é tão 
evidente, mas nos parece bastante claro que os examinadores 
estão com essa questão da legitimidade e da ruptura 
democrática em mente. Fiquemos atentos!) 
 
O que é o que é: Noções de Ciência Política (NCP), Noções de 
Sociologia Jurídica (NSJ) e Filosofia do Direito (FD)? 
Como diferenciar o objeto de estudos das nossas disciplinas? 
Distinguir as disciplinas é essencial e nos serve primordialmente 
para duas coisas, são elas: 1) organizar os conteúdos na nossa 
 
 
 
6 
 
CPF 
 
 
cabeça (como se fosse guardar o arquivo na pastinha certa), 
o que nos ajuda a aglutinar os assuntos em um mesmo grupo 
de conceitos e saber quais são mais facilmente associáveis a 
outros, ou não são possíveis de serem associados. 
Conhecer a organização temática da disciplina é maisum 
recurso que facilita o processo de associação de conteúdos e 
rememoração destes. Isto é, melhor que saber o conteúdo de 
uma disciplina é “saber de uma forma organizada”. 
2) orientar a utilização dos conceitos e interpretação das 
questões, pois quando aprendemos a diferença entre as 
disciplinas fazemos associações que nos permitem recorrer aos 
conceitos, categorias e institutos mais adequados para 
compreender aquele contexto (no caso do concurso, a 
questão). 
As três disciplinas que estamos aprendendo juntos tem objetos 
distintos e, portanto, abordam os problemas colocados para 
elas de formas diferentes, muito embora esses objetos e 
reflexões se atravessem. 
A (I) Ciência Política (CP), dessa forma, preocupa-se com o 
estudo do poder e com o Estado (sua organização, divisão em 
poderes, etc.), uma vez que é neste que o poder é exercido 
“oficialmente” e com todas questões que daí decorrem: 
“soberania”, “território” e “povo”, “sistemas de governo”, 
“regimes de governo”, etc. Essa ciência, portanto, comumente 
 
 
 
7 
 
CPF 
 
 
estuda os partidos políticos, os sistemas eleitorais, as eleições, 
bem como os processos de governo. 
Há um sentido mais amplo do termo “política” - além do que 
estamos acostumados a utilizar ligado a política institucional-
partidária – que pode ser simplificada na ideia de gestão da 
coletividade e das diferentes opiniões na sociedade (como 
saber qual prevalece, de que forma é legítimo que uma 
prevaleça sobre a outra, como chegar a consensos, consensos 
são necessários, não são necessários). 
Reitero: são sempre questões orientadas para como o poder é 
colocado e exercido na sociedade. 
Pois bem, se a CP está preocupada com o “poder” e o Estado, 
com que está majoritariamente preocupada a Filosofia do 
Direito? Existe uma ideia básica que aprendemos desde a 
escola de que a Filosofia é “amor à sabedoria” e como tal seu 
propósito seria o próprio exercício do pensamento. Desse 
modo, a (II) Filosofia do Direito tem por objetivo constituir um 
saber crítico (contrário à dogmática, portanto) sobre as 
construções jurídicas (sejam elas ideias ou práticas de atores 
do direito), buscando seus fundamentos, sua natureza, 
procurando entender suas estruturas. 
Outra importante dica é que para a Filosofia, ao contrário da 
Ciência Política e da Sociologia, o aspecto do “axiológico” 
(relativo ao valor) é deveras importante, de forma que para o 
conhecimento filosófico será importante questionar-se acerca 
 
 
 
8 
 
CPF 
 
 
do que seria justo, injusto, sobre as dimensões da moral no 
direito e vice-versa. 
Neste passo, quase todas (senão todas) as ciências modernas 
têm alguma âncora em alguma reflexão da filosofia grega - 
boa parte das grandes teorias explicativas do mundo 
(atomística na química, a física newtoniana, entre outras) 
constituíram-se a partir das concepções aristotélicas ou de 
outros filósofos gregos, ainda que para desconstituí-las. 
Por fim, vamos caracterizar a (III) Sociologia Jurídica como 
aquela ciência que está preocupada com a ordem social, isto 
é, preocupada com explicar a sociedade moderna. Como 
existimos enquanto sociedade, porque continuamos a viver 
juntos, reproduzindo comportamentos, hábitos, o quê de 
exterior (fora do campo da psicologia, por exemplo) é possível 
verificar que faz as sociedades, os grupos sociais existirem 
enquanto tais, o que o fundador da Sociologia enquanto 
disciplina, Émile Durkheim (“as regras do método sociológico”), 
chamou de “fato social”, por exemplo. A Sociologia Jurídica, 
portanto, vai preocupar-se com essas questões com relação 
ao mundo jurídico ou a respeito de qual é o papel que o Direito 
exerce nessa conformação social mais ampla. 
É essencial distinguir essa “ordem social” da “ordem jurídica”, 
definitivamente não se trata da mesma coisa. A referência ao 
conceito de “ordem pública” está relacionada ao Direito e ao 
campo normativo, preocupando-se com o que o Direito diz 
 
 
 
9 
 
CPF 
 
 
que é a ordem, com o cumprimento das leis ou não (ou com 
o que determinados agentes autorizados dizem que é o [des] 
respeito a elas). Por outro lado, a Sociologia preocupa-se com 
como se dá a reprodução das práticas sociais, como os 
atores/sujeitos sociais as interpretam e se adequam ou opõe-
se a elas, como as compreendem, e ainda como são 
constituídas as ações desses sujeitos, como eles escolhem e 
orientam suas ações e reproduzem e/ou adaptam seu modo 
de vida. 
É claro que há muitas nuances em cada uma dessas disciplinas 
as quais vão, inclusive, depender de que linha de 
pensamento/pesquisa orienta as percepções que temos sobre 
cada um desses campo, mas por ora e para o nosso objetivo 
essas diferenciações permitem que possamos interpretar 
melhor as questões que nos sejam apresentadas na prova! 
 
Vamos ao edital 
Finalizando o começo, eu gostaria de lembrá-los que a maioria 
dos concorrentes não tem aptidão com essas matérias, não 
tem disposição para estudá-las e comumente deixam elas ao 
sabor da sorte ou as ignora, colocando na conta do que não 
vai ser marcado ou será chutado. Estudando adequadamente 
para elas você terá um diferencial e é isso que nós estamos 
propondo no CURSO CLIQUE JURIS: uma preparação 
 
 
 
10 
 
CPF 
 
 
adequada nessas disciplinas como vocês fariam em qualquer 
uma das outras. 
Como eu já disse no blog em outra oportunidade, o que 
esperamos, honestamente, é fazer diferença na preparação 
de vocês para que vocês façam diferença na vida de todas 
as pessoas que vão lhes encontrar nas defensorias da vida! 
 
Igor Peçanha Frota Vasconcellos 
 
 
 
 
 
11 
 
CPF 
 
 
PASSO-A-PASSO SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
Especificamente em relação ao tempo que se deve destinar 
ao estudo da disciplina Noções de Sociologia Jurídica, cujos 
principais aspectos de cada um dos pontos do Edital 02, de 
29.6.2017, foram tratados adiante, orientamos que sejam 
destinadas, no mínimo, 7 horas de estudos, divididos da 
seguinte forma: 
 
Dia 1 - 2 horas de estudos. Páginas 11 a 42. Pontos 1 e 2. 
 
Dia 2 – 2 horas de estudos. Páginas 42 a 77. Pontos 3 a 6. Apesar 
de serem muitas páginas, temos muitas questões comentadas. 
A leitura é mais rápida. 
 
Dia 3 – 3 horas de estudos. Páginas 77 a 114. Pontos 7 a 11. 
Muitas páginas também, mas de temas instigantes e de leitura 
bastante dinâmica. 
 
 
 
 
12 
 
CPF 
 
 
NOÇÕES DE SOCIOLOGIA JURÍDICA 
Breve panorama do surgimento da Sociologia 
Inicialmente, precisamos associar que a ideia de 
Sociologia como uma ciência, compreendida, então como 
um campo delimitado do saber científico, surge na Europa na 
metade do século XIX. 
O termo Sociologia (o estudo da sociedade) foi 
anteriormente usado em outros sentidos (mais amplos 
sobretudo) e mais, o termo “ciências sociais” era utilizado para 
falar de qualquer coisa relacionado ao ser-humano, sua 
dimensão social aglutinando discussões relacionadas a 
Filosofia, história, em suma reflexões acerca das origens e da 
natureza do “viver em sociedade”. 
Auguste Comte (1798-1857) foi quem cunhou o 
termo Sociologia ou “física social” - o estudo dos “movimentos” 
da sociedade (física é o estudo do movimento dos corpos, em 
linguagem genérica) -, que logo veio a se generalizar, 
contribuindo para que alguns o percebessem como o 
fundador da própria ciência. Tratava-se de conhecer as leis 
sociais para poder prever racionalmente os fenômenos e agir 
com eficácia. Essa noção estava associada a ideia de explicar 
e antever o comportamento das sociedades (tal qual a 
ciência vinha fazendo com a física, campo do saber científico 
já consolidados a essa altura), combinando a estabilidade e a 
 
 
 
13 
 
CPF 
 
 
atividade, necessidades simultâneas de ordem e progresso – 
lema do Positivismo de Comte e condições fundamentais da 
civilização moderna, segundo ele. Assim, defendia que 
“ciência,daí previdência, previdência, daí ação”. 
 Sua questão era: “qual a ordem contida na história 
humana”. Por isso dizemos que a Sociologia se preocupa com 
o fenômeno da ordem (não no sentido jurídico), mas no 
sentido de como a sociedade reproduz seu modo de vida e os 
indivíduos continuam vivendo juntos, o que proporciona isso 
(para Comte: quais seriam as leis que regem esse fenômeno). 
Neste passo, cabe caracterizar brevemente que o 
método positivo de conhecimento das sociedades para o 
autor em comento atingiria o estado positivo, o grau máximo 
de complexidade da ciência, pois para ele o progresso era 
algo inevitável, sendo, contudo, o princípio dinâmico do 
progresso subordinado ao princípio estático da ordem. Nesse 
sentido, essas ideias são muitas vezes apropriadas por 
pensadores do Direito, especialmente quando esse é 
entendido como tendo por função “criar” a ordem na 
sociedade (um argumento hoje pouco – senão inexistente – 
aderido pela Sociologia) 
Para finalizar este tópico inicial vamos lembrar que a 
nossa disciplina é de Sociologia Jurídica, então devemos nos 
preocupar fundamentalmente com as questões relacionadas 
 
 
 
14 
 
CPF 
 
 
ao Direito, seus atores, suas práticas e instituições, contudo é 
impossível falar desses conceitos sem abordar os conceitos de 
teoria social/sociológica de maneira que vamos encerrar 
trazendo a vocês um conceito de Sociologia possível utilizado 
pela própria CESPE, qual seja: 
[Concurso CESPE-DPU-2016_Sociólogo] 
“A perspectiva sociológica pode ser 
entendida como o ponto de vista teórico 
segundo o qual se deve, no estudo empírico 
das crenças e das práticas dos seres 
humanos, considerar sempre as influências do 
ambiente social, as limitações e 
possibilidades colocadas por esse ambiente. 
Sem negar dogmaticamente as 
determinações que resultam de fatores físicos 
e biológicos, a abordagem sociológica 
sublinha os condicionamentos sociais do 
comportamento humano”. [grifei]. 
 
1. Perspectivas sociológicas do Direito 
Dentre as perspectivas sociológicas sobre o Direito 
há um aparente consenso, segundo o qual “O Direito é um 
fenômeno social”, mesmo porque não faria sentido estudá-lo 
numa abordagem sociológica se fosse o contrário, contudo é 
 
 
 
15 
 
CPF 
 
 
importante entender a trajetória dessas explicações sobre o 
que é o Direito. 
Sobre o Jusnaturalismo. 
A dicotomia jusnaturalismo e juspositivismo dividiu os 
juristas durante muito tempo. O “jusnaturalismo” pode ser 
“monista” ou “dualista”. Monista, quando se afirma que existe 
um único direito: o direito natural. Dualista, quando admite a 
possibilidade de um direito positivo que esteja ao lado ou 
abaixo do direito natural, devendo estar adequado a ele. Já 
no que diz respeito ao conteúdo discute se as normas são 
justas ou injustas. 
Sobre a Escola Histórica 
Surgida na Alemanha entre os séculos XVIII e XIX 
como oposição a teoria do direito natural, defendendo o 
direito está ligado a “realidade histórica” de cada povo, de 
maneira que não é fruto da vontade divina ou da razão 
(jusnaturalismo) nem da vontade arbitrária dos homens. 
As bases dessa corrente foram lançadas pelo jurista 
alemão Gustavo Hugo – que escreveu “Tratado de Direito 
Natural como filosofia do Direito Positivo” - quem em seus 
estudos mostrou que o direito de Roma e o common law da 
Inglaterra se formaram com larga independência dos 
legisladores. A partir disso, concluiu que o direito, tal como a 
 
 
 
16 
 
CPF 
 
 
linguagem, “tende a se constituir naturalmente –impulsionado 
pelas necessidades de comunicação e pelos usos dos povos. 
Sobre o título do livro de Hugo, Bobbio assevera que o direito 
positivo para ele é aquele posto pelo estado, mas “(...)direito 
posto pelo Estado não significa necessária e exclusivamente 
direito posto pelo legislador (como sustentará o positivismo 
jurídico no sentido estrito e estreito do termo) ”. 
Sobre o Positivismo jurídico. 
O Positivismo Jurídico, segundo Bobbio, tem diversas 
acepções: a) um método acerca do Direito – inspirado nas 
ciências naturais; b) uma teoria do direito segundo a qual o 
Direito é um conjunto de normas coativas advindas e 
garantidas pelo Estado através de sanções; e c) uma ideologia 
segundo a qual o direito posto é justo, baseado na ideia de 
que como não existe critério objetivo de justiça, ela estaria no 
conhecimento prévio da “regra do jogo”, ele é justo 
exatamente porque é posto. 
O positivismo jurídico é anterior ao positivismo em 
sentido científico/sociológico (aquele do qual falamos na 
introdução). Os chamados “positivistas jurídicos” são 
usualmente apresentados como defensores da noção de 
direito como um conjunto de normas coerentemente 
ordenadas, de forma que inexistam divergências e 
contradições internas (antinomias), sendo essas regras 
 
 
 
17 
 
CPF 
 
 
afastadas de considerações morais, pois, em princípio, de 
caráter estritamente lógico-formal ou de “direito puro” (sem 
considerações externas ao direito instituído). Contrapõem-se 
aos defensores de um direito natural (sob qualquer forma). 
Então, positivo (no sentido de posto) opõe-se a natural. 
Hans Kelsen (1881-1973) é o mais célebre positivista 
jurídico, ele considerava que a tarefa do jurista deveria 
construir uma teoria do jurídico, entendida tão somente como 
uma descrição vinculada às prescrições do direito positivo. Na 
“Teoria pura do direito” ele assevera que o jurista deveria livrar 
o estudo do Direito das impurezas filosóficas, sociológicas, tais 
“impurezas” precisam ser estudadas pelo filósofo, pelo 
sociólogo e pelo historiador, e não deixam de ser importantes: 
só não cabem, porém, no campo de estudo do “cientista 
jurídico”. 
Sobre a Escola da Exegese 
A Escola da Exegese – que defendia que o direito 
era a expressão da vontade do legislador, portanto esforçava-
se (a partir de um método historicamente construído pelos 
estudiosos bíblicos) a interpretar para estudar a lei e extrair do 
texto a vontade do legislador, guarda relações com os 
glosadores, surge na modernidade com a interpretação do 
Código Civil Napoleônico no pós-revolução francesa e, 
 
 
 
18 
 
CPF 
 
 
contemporaneamente, com a maneira como construímos 
nosso conhecimento doutrinário. 
Veja como esse conteúdo foi exigido no concurso 
para Defensoria Pública de São Paulo: 
No panorama histórico da Ciência do Direito, 
realizado por Tércio Sampaio Ferraz Júnior, na 
obra A Ciência do Direito, o autor caracteriza 
a prática dos glosadores da seguinte forma: 
“Tomando como base assentada os textos de 
Justiniano, os juristas da época passaram a 
dar-lhes um tratamento metódico, cujas raízes 
estavam nas técnicas explicativas usadas em 
aulas, sobretudo no chamado Trivium, 
composto de gramática, retórica e dialética, 
que compunham as artes liberales de então. 
Com isto, eles desenvolveram uma técnica 
especial de abordagem de textos pré-
fabricados e aceitos por sua autoridade, 
caracterizada pela glosa gramatical e 
filológica, pela exegese ou explicação do 
sentido, pela concordância, pela distinção". 
 
Neste sentido, o autor considera que neste 
confronto do texto estabelecido e do seu 
 
 
 
19 
 
CPF 
 
 
tratamento explicativo, presente na prática 
dos glosadores, é que nasce a: 
a. Jurisprudência medieval com seu caráter 
eminentemente dialético. 
b. Ciência do Direito com seu caráter 
eminentemente dogmático. 
c. Ciência do Direito com seu caráter 
eminentemente zetético. 
d. Ciência do Direito com seu caráter 
exclusivamente interpretativo. 
e. Jurisprudência romana com seu caráter 
prioritariamente comparativo. 
 
Os clássicos da Sociologia e o Direito. 
Esse tópico neste tópico vamos abordar aqueles 
que são considerados os três grandes clássicos da Sociologia: 
Durkheim, Weber e Marx. Os três clássicos têm produções 
interessantes sobreo Direito, justamente porque se estão 
preocupados em explicar o que/como se caracteriza a 
sociedade moderna e o Direito é reconhecido para muitos 
como um fenômeno tipicamente moderno, inevitavelmente 
as explicações deles passaram pelo papel do Direito. 
 
 
 
 
 
20 
 
CPF 
 
 
Sobre Durkheim. 
O autor francês, Emile Durkheim “1858-1917) foi o 
fundador da Sociologia, enquanto disciplina e como ciência 
empírica, ao criar a primeira cátedra, em 1910. Antes, 
contudo, já havia publicado três dos seus grandes trabalhos 
(nos quais podemos encontrar muitos conceitos que poderão 
ser articulados na prova), são eles: a) Da Divisão do Trabalho 
Social; b) Das Regras do Método Sociológico; c) O suicídio. 
No próprio título dessas obras temos “dicas” de 
conceitos importantes para a Sociologia do autor, primeiro 
porque para Durkheim a divisão do trabalho social (cada vez 
mais específica e complexa) era uma das principais 
características diferenciadoras das “sociedades simples” para 
as “complexas” (as modernas). Segundo porque, como 
fundador da disciplina, sua preocupação fundamental era 
diferenciar o objeto de estudo da Sociologia de outras 
disciplinas (um esforço muito similar ao que Kelsen se propôs 
para o Direito alguns anos mais tarde – embora do ponto de 
vista substancial seja muito diferente). Segundo Durkheim, a 
Sociologia é a ciência “das instituições, da sua gênese e do 
seu funcionamento”, ou seja, de “toda crença, todo 
comportamento instituído pela coletividade” (instituição aqui 
deve ser entendida num sentido amplo e não só formal, por 
 
 
 
21 
 
CPF 
 
 
exemplo, a família é uma instituição da sociedade, o 
casamento também, etc.). 
Neste sentido, formulou a ideia de que a Sociologia 
deveria se preocupar com o “fato social”, pois nas sociedades 
existia um fenômeno externo aos indivíduos que conformavam 
suas ações, independentemente de sua vontade. O fato social 
seria, portanto: 1) exterior; 2) coercitivo; 3) geral. Repito: ele 
existe independentemente do indivíduo, contudo sente-se 
obrigado a conformar suas ações a ele. Além disso, esse fato 
social deveria ser estudado por um método sociológico 
constituindo-se desse modo a disciplina científica (com objeto 
próprio e método próprio). 
Na medida em que Durkheim estava preocupado 
com a “ordem social” (em palavras simples e objetiva: como 
a sociedade existe enquanto sociedade e continua existindo 
sem se desagregar – como já dissemos na introdução), 
explicando-a pelo “fato social”, o qual garantia a reprodução 
social, formulou a ideia de que a “solidariedade social” é um 
fenômeno de ordem moral, utilizando o Direito como um 
retrato da moral de uma determinada sociedade, isto é, as 
regras que ganham a qualidade de Direito representam 
aquelas que são consideradas mais essenciais e, 
consequentemente, são mais estáveis e definidas, um 
 
 
 
22 
 
CPF 
 
 
fenômeno (diferenciar um grupo de regras como jurídicas) 
reiterado nas sociedades modernas. 
Então, se o Direito é símbolo porque representa um 
conjunto de regras consideradas essenciais ele não pode 
corresponder a todas as regras de costume, assim que o direito 
não é idêntico ao costume. 
As características fundamentais do fato social são: 
a) Coercitividade; b) Generalidade; c) exterioridade, são 
comportamentos instituídos pela coletividade. 
Vamos explorar um pouco mais cada uma dessas 
características: 
1) Coercitividade  É a coerção social, ou 
seja, os fatos sociais exercem uma força tal sobre os 
indivíduos que eles tendem a se adequar às regras da 
sociedade em que vivem, independentemente de suas 
vontades e escolhas. Veja que esse é um fenômeno que, 
embora descritível (como tem de ser na Sociologia, isso 
tem a ver com exterioridade), é sutil manifestando-se 
quando ele fala determinado idioma, quando se 
submete a um determinado tipo de formação familiar ou 
quando está subordinado a determinado código de leis. 
O grau de coerção fica evidente pelas sanções, as quais 
para nosso estudo podem ser legais ou 
morais/espontâneas. 
 
 
 
23 
 
CPF 
 
 
2) Exterioridade  A segunda característica 
dos fatos sociais é que eles existem e atuam sobre os 
indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua 
adesão consciente, ou seja, eles são exteriores aos 
indivíduos. As regras sociais, os costumes, as leis, já 
existem antes do nascimento das pessoas, são a elas 
impostos por mecanismos de coerção social, como a 
educação. 
3) Generalidade  A terceira característica 
apontada por Durkheim é a generalidade. É social todo 
fato que é geral, que se repete em todos os indivíduos ou, 
pelo menos, na maioria deles. Desse modo, os fatos 
sociais manifestam sua natureza coletiva ou um estado 
comum ao grupo, como as formas de habitação, de 
comunicação, os sentimentos e a moral. 
Mais especificamente sobre o Direito ele formulou 
que as normas jurídicas, diferentemente de quaisquer outras 
[como as morais, por exemplo], implicam sanções 
organizadas, uma vez que não tenham sido observadas. Tais 
sanções podem, no entanto, ser a) repressivas ou b) restitutivas. 
E é dessa classificação que derivam os dois tipos de direito 
para Durkheim (repressivo e restitutivo) ”, para ele as 
sociedades mais simples (com menor divisão do 
trabalho/especialização) tenderão a ter um direito mais 
 
 
 
24 
 
CPF 
 
 
repressivo ao passo que aquelas mais complexas tenderão a 
um direito mais restitutivo. 
Sobre Marx. 
Sobre Karl Marx (1818-1883) é importante salientar, 
de plano, duas coisas, primeiro que ele nunca se reivindicou 
como cientista de nenhuma das áreas do saber, não tendo 
produzido sua obra intelectual na universidade (talvez por isso 
tenha produzido obras tão profundas e estudadas em diversos 
campos do saber atualmente). Assim, apesar de ter estudado 
Direito, desde o início de seus trabalhos demonstrou grande 
interesse pela Filosofia (escreveu “Crítica a Filosofia do Direito 
de Hegel) e História (desenvolveu o “materialismo histórico”), 
posteriormente passando a Economia (O capital), entre outros. 
O que importa é que suas formulações teóricas acerca da vida 
social (quando por exemplo propõe que a infraestrutura 
“prevalece” sobre a superestrutura), especialmente a análise 
que faz da sociedade capitalista e de sua superação, 
orientaram (e ainda orientam) muitas das discussões a respeito 
da vida social (econômica, política etc.). 
Em Marx o Direito é ideologia a serviço da 
exploração capitalista uma vez que tem uma razão estrutural, 
ou seja, a infraestrutura (relações de produção, com a 
propriedade, relacionadas a reprodução da vida material, 
portanto capitalistas com a burguesia sendo detentora dos 
 
 
 
25 
 
CPF 
 
 
modos de produção) criando (e sendo recriada) 
superestruturas (estado, direito, cultura etc.) de modo que 
essas superestruturas (o Direito, inclusive, sustentam essas 
relações). Outro ponto importante é que ideologia deve ser 
entendida aqui como falsa representação da realidade, 
contudo iremos abordar melhor isso no ponto sobre “Direito 
como ideologia”. Por ora, cabe ficar com a ideia de que o 
Direito dificulta a compreensão da real estrutura social, porque 
trata das coisas em termos idealistas. 
Sobre Weber 
Max weber desenvolveu o uma sociologia baseada 
no procedimento analítico que parte de uma definição 
rigorosa de seu objeto. Cunhou também o que se chama de 
individualismo metodológico, ou seja, baseia-se, pois, na ação 
dos indivíduos (do indivíduo para os grupos sociais, e destes 
para a sociedade). 
Chama-se sociologia compreensiva aquela 
produzida inspirada nos trabalhos weberianos, ele atribuiu esse 
nome porque sugeriu que os dados empíricos precisam ser 
trabalhados/elaborados pela compreensão do sociólogo (o 
sociólogo caracteriza, por exemplo, as ações dos sujeitos 
como racionais ou não. 
Weber,tal qual Marx, formou-se em Direito, 
preocupando-se então com estruturas tipicamente jurídicas e 
 
 
 
26 
 
CPF 
 
 
com a burocracia do Estado, cunhou uma definição 
sociológica formal de direito dizendo que uma ordem é 
denominada: 
(...) direito, quando está garantida 
externamente pela probabilidade da 
coação (física ou psíquica) exercida por 
determinado quadro de pessoas cuja função 
específica consiste em forçar a observação 
dessa ordem ou castigar sua violação” 
O interesse teórico fundamental de Weber era 
compreender a modernidade ocidental, fez com que ele 
lançasse mão da “racionalidade” como “ferramenta” 
analítica, a qual pode ser compreendida como “escolha dos 
meios apropriados para atingir determinados fins ou 
contemplar determinados valores eleitos”. Em suma, uma 
relação entre meios e fins (ou valores cuja preservação não 
deixa de ser um fim). Disso decorre a ideia acerca do Direito 
de que um sistema jurídico racional é aquele no qual os meios 
mais efetivos são os selecionados para realizar os valores, ou 
fins. Outro ponto importante sobre a concepção weberiana é 
que ele sustenta a objetividade na produção do 
conhecimento, o quem, em apertada síntese quer dizer que os 
juízos de valor, ou os juízes morais do observador, devem ser 
afastados quando da elaboração de um trabalho científico. 
 
 
 
27 
 
CPF 
 
 
Dessa forma dois detalhes merecem destaque: 1) essa posição 
acerca da ciência não implica em deduzir que a atividade é 
neutra ou imparcial (como muitas vezes atribuímos, por 
exemplo, ao papel do juiz), ao contrário disso é dizer que 
quanto mais explícito essas preferências puderem ficar maior 
objetividade será possível no conhecimento produzido. 2) A 
Sociologia não julga se esses valores/fins são bons, justos, 
melhores ou piores, ela descreve-os e os relaciona. 
Weber, como já dito, foi um jurista e historiador do 
Direito, de forma que quando se propôs a estudar 
especificamente o Direito ele contrastou sua forma de abordar 
o Direito como outras duas formas, de maneira a caracterizá-
la. Essa diferenciação é importante para nós. 
As regras e instituições jurídicas podem ser 
estudadas numa: 
1) Abordagem moralista (ou política) - 
consiste na avaliação da qualidade moral (ou 
adequação política) de regras jurídicas, para Weber há 
uma clara distinção entre os padrões jurídicos e os 
padrões morais (por isso ele afirma que essa abordagem 
se faz de um ponto de vista externo a ordem jurídica), 
produzindo uma visão avaliativa extrajurídica do próprio 
direito; 
 
 
 
 
28 
 
CPF 
 
 
2) Abordagem dogmática - utiliza as regras 
como um parâmetro de avaliação da adequação ou não 
de determinada conduta diante das regras em questão, 
essa é tipicamente a abordagem dos especialistas [os 
nossos doutrinadores] que não adota uma postura 
avaliativa em relação às regras jurídicas em termos 
morais, mas ainda assim de um juízo de valor acerca do 
significado correto dessas normas. 
Weber em contraposição a essas formas de estudar 
o Direito não pretendia avaliar nem do ponto de vista moral, 
nem do ponto de vista das próprias regras, ele optou por 
realizar uma abordagem sociológica, tal qual fazia com todos 
os outros aspectos da sociedade moderna, isto é, ele estava 
preocupado em entender quais as características peculiares 
aos sistemas de direito ocidentais que foram especialmente 
favoráveis a consolidação do Capitalismo. 
Outro ponto muito importante da abordagem 
weberiana, o qual inclusive, caiu no Concurso DPU 2010 são as 
formas de Dominação, que são as seguintes: a) tradicional; b) 
carismática; c) Racional-legal. Vamos abordá-las a seguir: 
1) Dominação tradicional  É um tipo de 
dominação tradicional que se dá em virtude de algo que 
existe há muito tempo na qual o conteúdo das ordens é 
regido pela tradição (associado também a inexistência 
 
 
 
29 
 
CPF 
 
 
de mobilidade social), considera-se impossível criar um 
novo direito, ocorrendo principalmente nas sociedades 
ditas primitivas (economias pré-capitalistas). Weber diria 
que sua característica marcante é fidelidade ao modelo, 
podemos associá-la ao patriarcado ou as Monarquias. 
2) Dominação carismática  Essa forma de 
dominação depende do carisma do líder, da sua grande 
personalidade (ou pelo menos a atribuição desse caráter 
aos “dominados”. Tem um caráter fortemente 
comunitário associado a uma devoção afetiva por dotes 
sobrenaturais, na forma de arrebatamento emotivo. Em 
geral associada a ditadores e líderes religiosos (tipos 
puros: profetas, heróis, grandes demagogos). Segundo 
Weber, nessa forma de dominação falta o preceito 
racional da competência, baseando-se na crença. 
3) Dominação racional-legal  Guarda 
relação com a institucionalização do Estado e com a 
dominação econômica capitalista (surge, portanto, na 
Modernidade), pois quem garante o capital é o Estado 
de forma que o aparelho burocrático respalda a lógica 
econômica mercantil e impessoal em virtude de estatuto, 
de lei. O burocrata é um homem da forma. ATENÇÃO 
nesse ponto Weber e Marx se aproximam muito, pois o 
que ele formula é que a organização política da 
sociedade se molda a de uma empresa (a empresa é 
 
 
 
30 
 
CPF 
 
 
uma organização burocrática). O Direito, como nós o 
conhecemos, é um tipo de dominação burocrático-
legal. O jurista se legitima pelas normas e leis. 
Veja como esses conceitos foram abordados pela 
CESPE no concurso DPU: 
196 A forma legítima de dominação 
carismática, de acordo com Max Weber, está 
baseada na designação do líder pela virtude 
da fé na validade do estatuto legal. 
[Gabarito: ERRADO – Vejam, meus caros, que 
o examinador “confundiu” dois conceitos de 
dominação. É a clássica pegadinha de 
prova. Ele associa dominação carismática 
com designação do líder (o que está correto) 
com fé na validade do estatuto legal (o que 
está errado porque essa parte do conceito 
refere-se à dominação burocrático-racional-
legal). 
1.1 O Direito como Ciência. 
Fizemos um ponto bem amplo no início para situar as 
correntes de entendimento do Direito a partir da Sociologia ou 
de investigações sociais (naquelas que são pretéritas a própria 
Sociologia), agora vamos especificar cada ponto procurando 
entender como o examinador pode cobrá-los. 
 
 
 
31 
 
CPF 
 
 
Então vamos ao trabalho. 
Diz-se que foi Montesquieu (muito conhecido por ter 
formulado a teoria da separação de poderes em “O espírito 
das Leis”) – falamos bastante dele na disciplina de Noções de 
Ciência Política - quem primeiro sugeriu, de forma muito 
intuitiva, a ideia de que o Direito poderia ser uma ciência. Ele 
abriu sua célebre obra asseverando “As leis são […] relações 
necessárias que derivam da natureza das coisas.”. 
Quando ele diz que decorrem da natureza das coisas 
ele afirma que há um caráter social nas leis o qual, portanto, 
pode ser investigado. O debate colocado neste ponto é o 
seguinte: o Direito é um conjunto de preceitos de caráter 
normativo, sendo assim é possível toma-lo como objeto de 
investigação científica? 
Alguns defendem a ideia de que não se pode falar em 
Direito como ciência porque sua manifestação não é passível 
de uma determinação/objetividade que dê a essa 
investigação caráter de ciência. 
Outros defendem o Direito como uma ciência 
autônoma (aos moldes de Kelsen) sustentam uma “teoria pura 
do direito”, isto é, a possibilidade do Direito ser investigado a 
partir do próprio Direito, apartado de suas causas sociais, 
políticas ou de reflexões filosóficas. 
Nas palavras do próprio Kelsen: 
 
 
 
32 
 
CPF 
 
 
A necessidade de distinguir o Direito da Moral 
e a ciência jurídica da Ética significa que, do 
ponto de vista de um conhecimento científico 
do Direito positivo, a legitimação deste por 
uma ordem moral distinta da ordem jurídica é 
irrelevante, pois a ciênciajurídica não tem de 
aprovar ou desaprovar o seu objeto, mas 
apenas tem de o conhecer e descrever (...) a 
tarefa da ciência jurídica não é de forma 
alguma uma valoração ou apreciação do seu 
objeto, mas uma descrição do mesmo alheia 
a valores 
 
Para nós, contudo, a compreensão do direito como 
ciência social é mais importante, uma vez que está alinhada 
com o conhecimento construído na Sociologia. “Os 
fenômenos sociais, e entre eles, em primeiro lugar, os 
fenômenos jurídicos, têm causas sociais, que as normas do 
direito (...), neles se reconhece, por isso mesmo, uma 
objetividade que os subordina a uma pesquisa científica (Lévy-
Bruhl).”. Mas, veja, há um pressuposto nessa ideia a de que o 
Direito é produzido (em todos os seus aspectos) por grupos e 
não por indivíduos, por isso ele é social. Em linguagem mais 
simples, faz sentido existir direito em um lugar onde exista/viva 
apenas uma pessoa? Então, a formulação de uma 
 
 
 
33 
 
CPF 
 
 
normatividade que passamos a denominar jurídica pressupõe 
o grupo ou grupos. 
Outro aspecto importante já bastante mencionado 
na disciplina de Filosofia do Direito e na primeira parte desta é 
o formalismo jurídico, associado a ideia de que o Direito 
compreendido como uma ciência totalmente apartada das 
outras ciências sociais privilegia esse formalismo porque olha 
para o aspecto próprio do direito que é a forma na qual ele é 
produzido pelo Estado. 
Vamos ver uma questão sobre esse ponto que caiu no 
concurso da DPU 2015: 
Quanto à sociologia jurídica, julgue o item 
subsequente. 
No que se refere à ideia de direito como 
ciência, o formalismo jurídico, que surgiu no 
século XIX e serviu para constituir a ciência 
jurídica, teve seus fundamentos a partir da 
ciência empírica da realidade social, ou seja, 
da sociologia. 
[Gabarito: CERTO, o gabarito desse 
enunciado, a meu ver é bem controverso, 
mas vamos entender o raciocínio do 
examinador. A pegadinha que está colocada 
 
 
 
34 
 
CPF 
 
 
é que: a) o formalismo jurídico é uma 
concepção do Direito afastada da Sociologia 
que entende que o Direito é uma ciência 
autônoma; b) MAS ao mesmo tempo o 
movimento de “defender” o Direito enquanto 
uma ciência/campo científico autônomo 
(encarnado na figura de Kelsen) assemelha-
se e inspirou-se no movimento feito pela 
Sociologia (encarnado em Emile Durkheim). 
Sacaram? Formalismo não tem nada a ver 
com Sociologia, mas a lógica de dizer que 
não tem nada a ver é similar à que a 
Sociologia fez para se autonomizar enquanto 
disciplina. Esse postulado constante na 
questão é em alguma medida questionável, 
mas o raciocínio é esse! 
Assim, seria o formalismo jurídico um retrato do Direito 
como um mero sistema de normas (regras e decisões judiciais) 
encadeadas logicamente umas às outras, sendo a norma 
aplicável unicamente resultado de uma dedução a partir do 
silogismo 
As Escolas americanas oriundas do pensamento de 
Oliver Wendel Holmes são a jurisprudência sociológica e a 
escola realista, não as mencionamos no primeiro item, refutam 
 
 
 
35 
 
CPF 
 
 
de forma interessante esse postulado, uma afirmando que os 
motivos da decisão judicial que são explicitados não são 
todos, mas apenas aqueles que são socialmente aceitáveis e 
outra afirmando que a realidade do direito é aquilo que o juiz 
decide, não é a lei, não é o precedente e sim o que o juiz 
decide, nesse sentido o único critério de previsibilidade (ainda 
assim relativo) seria o próprio histórico do juiz. 
Nesse sentido, para os formalistas, o direito é uma 
disciplina autônoma, isolada. Há uma distância em relação à 
sociologia e não uma aproximação, refutando as abordagens 
sociológicas do Direito. 
1.2 O Direito como Ideologia. 
Consoante já alertei, explorei o máximo de questões 
fundamentais possíveis no tópico a respeito das “perspectivas 
sociológicas do Direito”, de modo que falamos dessa 
abordagem no tópico sobre Marx. 
Ideologia, portanto, é uma falsa representação da 
realidade por isso quando as relações são construídas a partir 
de conceitos e ideias que não são verificáveis no mundo 
material (lembrem-se que o método marxiano é o materialismo 
dialético) ou no mundo histórico (construídas, pois, no mundo 
das ideias/idealisticamente) há um processo de alienação. 
 
 
 
36 
 
CPF 
 
 
Nesse sentido, o Direito dificulta a compreensão da 
realidade, servindo como um instrumento de dominação da 
classe burguesa sobre o proletariado. O Direito (e o Estado) 
exerce esse papel. 
Vamos pensar em termos marxistas, confiram as 
duas assertivas abaixo: 
O Art. 3º da Lei de Introdução às normas de 
Direito Brasileiro exemplifica o conceito 
marxiano de que o Direito dificulta a 
compreensão da realidade, uma vez que 
trata as situações concretas em termos 
idealistas e não em termos do que é 
verificável no mundo empírico. 
Qual o papel de justiça que o Direito exerce quando 
ele presume que todos conhecem as milhares de leis que 
possuímos? Ele reforça o poder de quem está no aparelho 
estatal que é majoritariamente oriundo de classes mais 
abastadas (ou ainda de um setor da sociedade corporativo 
que domina a burocracia estatal). 
Contudo, tome cuidado com uma pegadinha que 
a CESPE já pregou nos candidatos, esse reforço de poder não 
significa que a dominação exercida, em termos marxistas é 
feita pelos agentes de estado, porque ele constrói a ideia da 
 
 
 
37 
 
CPF 
 
 
dominação através dos conceitos das classes sociais. Isto é, 
quem exerce a dominação é o detentor do capital/classe 
burguesa. 
Vamos conferir isso na questão: 
[Questão CESPE-DPU 2015 Defensor] 
“Sob o ponto de vista da teoria marxista, a 
ideologia pode ser compreendida como uma 
falsa representação. De acordo com esse 
entendimento, a ideologia jurídica pode ser 
um instrumento de dominação exercido pelo 
Poder Judiciário em relação aos seus 
jurisdicionados” 
[Gabarito: ERRADO, veja que a dominação se 
dá em termos de classe social para Marx]. 
Para ficar mais claro a relação vamos utilizar um 
exemplo da relação capital-trabalho: a quem interessa a 
presunção de que o trabalhador e o “capitalista” são sujeitos 
de direito com exatamente as mesmas condições de negociar 
os termos do contrato? A quem está na posse dos meios de 
produção ou quem precisa vender a força de trabalho para 
sobreviver? Nesses termos, o direito ao trata-los com uma 
igualdade que existe apenas em tese é ideológico e 
 
 
 
38 
 
CPF 
 
 
superestrutural em termos de manutenção da dominação 
explicitada. 
Outro caso bastante interessante é um artigo 
jornalístico que Marx escreveu sobre uma lei editada na 
Alemanha que proibia as pessoas de catarem madeiras nas 
florestas. Para contextualizar é preciso saber que essa era uma 
prática reconhecida como costumeira pelos camponeses, 
utilizando-a como lenha. Além disso o mercado para esse tipo 
de madeira está em processo de valorização de modo que a 
sanção prevista pela lei era o camponês trabalhar para o 
“dono da floresta”. 
A primeira crítica de Marx é considerar a lei apenas 
pelo fato de apenas ter ela compatibilidade com a ordem 
jurídica por emanar de um poder competente produzir tal 
norma. Com essa postura está se distanciado da postura 
formalista-dogmática do Direito, pela qual está lei teria 
validade jurídica, não aceitando como roubo de lenha a 
simples colheita de galhos caídos no chão para fazer fogo. 
MARX afirma que tal prática é um atentado ao “princípio da 
adequação e verdade” ao qual se deve submeter também o 
Direito, por mais que se utilize de ficções ou analogias para 
cumprir sua função. 
 
 
 
39 
 
CPF 
 
 
Articule, na medida do possível, esses conceitos 
com os outros trabalhados sobre Marx na seção de Noções de 
Ciência Política. 
2. A ciência jurídica como ciência social. 
A cientificidade do Direito está ligada a aplicaçãodas normas no cotidiano - no mundo real. Sendo assim, a 
concepção que pensará o Direito a partir do diálogo com as 
ciências sociais refutará a tese do formalismo jurídico de que o 
é uma ciência autônoma. 
Em verdade, pode se dizer que a análise do 
chamado “mundo jurídico” não pode alienar-se às 
considerações das outras ciências, de modo que assim se 
torna um instrumento capaz de averiguar a importância e o 
papel do direito numa sociedade. Nesse caso, a ciência 
jurídica seria não uma suposta “ciência autônoma”, mas, sim, 
uma ciência social que, apesar de possuir especificidades, 
forçosamente dialoga com as demais. 
Veja que essa temática foi abordada pela CESPE 
em 2015 no concurso para Defensor Federal: 
[QUESTÃO CESPE -DPU 2015] 
Quanto à sociologia jurídica, julgue o item 
subsequente. 
 
 
 
40 
 
CPF 
 
 
Apesar de suas singularidades, o direito é uma 
ciência social aplicada, e sua aplicação 
depende de outras ciências sociais; 
entretanto, essa dependência recai, em sua 
quase totalidade, sobre a sociologia. 
[Gabarito: ERRADA, sempre essa ideia de 
totalidade (ainda que mitigada pelo quase) é 
complicada, mas seria contraditório a 
abordagem da Sociologia Jurídica dizer que 
o Direito é um fenômeno social complexo 
criticando seu insulamento e, por outro lado, 
afirmar que apenas ela é necessária para 
superar essa problemática. A Sociologia 
Jurídica reconhece o imprescindível papel de 
diversas áreas do conhecimento na 
compreensão do Direito (a exemplo da 
Antropologia, Ciência Política, Economia, 
História etc.). 
As maneiras pelas quais o direito é formulado, 
percebido, representado e aplicado produzem 
consequências sociais, econômicas e políticas mais ou menos 
variadas. Os chamados “operadores do direito” pertencem, de 
forma e em posições distintas, à sociedade e possuem, 
portanto, diferentes visões acerca da realidade. Ou seja, a 
 
 
 
41 
 
CPF 
 
 
aplicação dessa ciência é condição para sua própria 
existência. 
Sendo assim, o Direito é uma ciência social aplicada 
porque, embora tenha como objeto de estudo a norma 
jurídica, ela só pode ser observada no contexto de sua 
aplicação ainda que hipotética. Por isso, é constitutivo da 
sociedade (influencia nas dinâmicas sociais) e é construído por 
ela (constituído pela sociedade). 
Sobre isso vamos conferir essa afirmação bastante 
interessante sobre a compreensão do direito como ciência 
social: 
“é [a concepção (...)] tema sobre o qual 
muito se escreveu, mas que ainda envolve 
certas dificuldades. Por um lado, sublinha-se 
veementemente que o “direito” não equivale 
à lei estatal, que ele é produto da sociedade 
ao mesmo tempo que a regula (informando 
como ela deve se estruturar). Por outro lado, 
e para além desse “aparente consenso ”, é 
possível encontrar um significativo número de 
estudantes e profissionais do direito que não 
consegue articular essas afirmações com 
suas práticas, esvaziando as potencialidades 
daquele discurso, que se transforma em mera 
 
 
 
42 
 
CPF 
 
 
“retórica”. Ou seja, essa afirmação (“ o direito 
é criado pela sociedade ao mesmo tempo 
que a regula e estrutura”) espelha algo que 
parece ser óbvio e que, por isso, acaba 
encontrando uma “fácil” aceitação. 
Entretanto, quais são as efetivas implicações 
dessa atitude? Quais portas podem ser 
abertas? Quais são os instrumentais que 
podem ser acionados em função dessa 
concepção? 
E complementa o raciocínio dizendo que é por isso 
que a análise do chamado “mundo jurídico” deve considerar 
outros campos do saber. Essa interação, representa, por 
exemplo, uma possível utilização de seus dados e teorias. 
Outro ponto importante é recordar a questão a 
respeito que está na seção sobre Filosofia do Direito (ITEM 2 – A 
História da Filosofia do Direito no Brasil). Voltem lá rapidinho 
para contextualizar essa discussão (páginas 14 e seguintes, do 
PAP Humanísticas, Volume 1, Filosofia do Direito). Confiram! 
Por fim, vamos conhecer quais os possíveis objetos 
da Sociologia Jurídica para a CESPE: 
[CESPE – DPU - Sociólogo (2010)] 
 
 
 
43 
 
CPF 
 
 
Os objetos de estudo da sociologia jurídica 
incluem 
a) os mesmos objetos de estudo do direito. 
b) as circunstâncias jurídicas. 
c) a consolidação da legislação, da 
jurisprudência e da dogmática jurídica. 
d) as formas com que o direito opera 
socialmente e a explicação sociológica do 
direito. 
e) a designação dos valores e ideologias não 
explicitados e que estão contidos na 
legislação, na jurisprudência e na dogmática 
jurídica. 
3. Positivismo, Marxismo e Historicismo. 
Bem, já abordamos bastante o positivismo (também 
na disciplina de Filosofia do Direito (dá uma “confere” lá 
naquele mesmo do CRTL+F, vão ter 29 resultados para 
“positivismo”)! 
O mesmo podemos dizer sobre o marxismo (é como 
temos falado em todas as disciplinas dos cursos CCJ, o edital é 
infinito e não tem bibliografia, então, há muitos outros 
conceitos que poderiam ser mencionados, mas os principais já 
foram abordados ao longo do material). 
 
 
 
44 
 
CPF 
 
 
Vejam como os concursos para defensorias gostam 
de cobrar esse tema, vamos conferir outras questões: 
[QUESTÃO DPE-SC 2012] 
Nas formações sociais capitalistas, segundo a 
perspectiva marxista histórico-crítica, a 
superestrutura jurídica e política exerce o 
papel complexo de: 
A) Expressão do grau de desenvolvimento da 
solidariedade social orgânica, própria das 
sociedades em que se observa o incremento 
da divisão do trabalho social, como fato 
característico da evolução social. 
B) Processamento das expectativas 
normativas de conduta, através dos 
mecanismos internos de seletividade 
funcional do sistema do direito, gerando 
generalizações congruentes. 
C) Definição objetiva das garantias em 
relação à probabilidade de orientação da 
ação social de tipo racional, mediante os 
mecanismos coativos sistematicamente 
organizados e dispostos para tal finalidade. 
 
 
 
 
45 
 
CPF 
 
 
D) Intermediação dialética entre os interesses 
econômicos antagonicamente confrontados, 
no seio das relações materiais de produção, e 
as formas de consciência social ou ideologia. 
[Observem que o gabarito está dizendo que 
as superestruturas exercem o papel de 
“sublimar” os interesses confrontados na “luta 
de classes”, é como se fosse dizer que o Direito 
mascara a realidade (por exemplo, da 
desigualdade existente nessa relação)] 
E) Identificação dos valores positivos 
atrelados a ideais morais de justiça, conforme 
a função exercida pelos juristas, através da 
identificação dos mesmos pela intuição dos 
fatos normativos. 
 
Sobre o Historicismo, inicialmente, duas associações 
podem ser importantes para a prova: 1) Com a escola histórica 
(veja o item do material nesta seção de sociologia); 2) Com o 
historicismo-axiológico de Miguel Reale que concebeu a 
Teoria Tridimensional do Direito (vejam nas páginas 16 e 
seguintes, do PAP Humanísticas, Volume 1, Filosofia do Direito, 
para contextualizar – especialmente no item sobre a História 
da Filosofia do Direito no Brasil e da Teoria Tridimensional do 
Direito). 
 
 
 
46 
 
CPF 
 
 
Após a pesquisa vamos fazer algumas conexões. 
Como vimos o historicismo e/ou a escola histórica 
está muito ligado a ideia de que o Direito é fenômeno que 
decorre dos grupos sociais (tal qual a linguagem), quase como 
se fosse algo inevitável, fruto da evolução da organização 
humana (inspirado pelo Iluminismo). 
Neste sentido, esse tema tem uma forte conexão 
com a Filosofia do Direito (além da teoria realiana 
mencionada) com temas atuais como a Dignidade Humana 
que significa, para Kant, a impossibilidade de se atribuir 
valores, preços, aos seres humanos. Assim, não podemos 
mensurar um ser humano, relativizando-o e, portanto, 
podendo-o utilizar como meio. Por que isso é importante? 
PorqueKant é um autor que influenciou o pensamento de 
Reale. 
Assim, com Kant e Arendt, podemos dizer que (i) 
axiologicamente, os direitos humanos residem na ideia de 
dignidade humana, a qual reflete a singularidade de cada 
indivíduo; e (ii) que, historicamente, os direitos humanos 
precisam ser não apenas reconhecidos, mas, acima de tudo, 
garantidos, pois dar vigência a eles e, consequentemente, 
para a dignidade humana, significa, justamente, tornar a 
proteção de tais direitos viável. 
 
 
 
47 
 
CPF 
 
 
A contribuição do Historicismo permite 
compreender que os valores não são imutáveis, como no 
esquema kantiano, mas que eles são construídos no tempo, 
sendo afirmados historicamente, como no esquema da 
Filosofia do Direito de Miguel Reale (historicismo axiológico). 
 
4. Fundamentos sociais da ordem jurídica. 
Nós tratamos da maior parte dos conceitos 
necessários nesse tópico quando falamos dos autores e 
escolas de pensamento no primeiro tópico. Vamos recordá-los 
brevemente. 
O que caracteriza a ordem jurídica para Max Weber 
(1864-1920) é a possibilidade de utilização da coação como 
instrumento de garantia da ordem. Isto é, não é necessário que 
de fato a coação seja colocada em prática para que a ordem 
seja reconhecida como jurídica, mas a possibilidade de 
utilização da violência por parte do Estado para que as normas 
sejam cumpridas. A violência é o garante da ordem jurídica. 
 Em geral essa característica é chamada coerção, 
ou seja, a obrigatoriedade da norma, a qual em última 
instância pode ser exigida violentamente, desde que pelos 
meios legítimos, cuja definição encontra-se no próprio estatuto 
legal. 
 
 
 
48 
 
CPF 
 
 
Vale lembrar também que os meios legítimos devem 
ser exercidos por um corpo de funcionários autorizados cuja 
função específica é forçar o cumprimento dessa ordem ou 
castigar sua violação. 
Fiquem atentos! Pois para esse autor (e para a 
sociologia de modo geral) a ordem social não se confunde 
com a ordem jurídica. De modo que a ordem para a 
Sociologia, em um sentido weberiano, representa a 
reprodução dos padrões e interações sociais, em outras 
palavras, há uma ordem social porque as pessoas vivem em 
sociedade e compartilham significados. 
Então, o que fundamenta a ordem jurídica para 
Weber é a dominação e a consequente possibilidade legítima 
de uso da coação (voltar ao tópico que exploramos bem essa 
questão da dominação). 
No mesmo passo, o fundamento da ordem jurídica 
para Marx é dominação da classe burguesa sobre o 
proletariado pela detenção dos meios de produção, bem 
como a ideologia que é produzida de forma superestrutural 
para mascarar essas relações de classe. 
Durkheim, por sua vez, formulou a ideia de função, 
de modo que as funções da sociedade tinham o intuito de 
mantê-la, com a finalidade de salvaguardar a ordem social. 
Anteriormente a estes clássicos várias foram as 
fundamentações para a ordem jurídica a maior parte delas já 
 
 
 
49 
 
CPF 
 
 
mencionamos em outros tópicos (dessa ou de outras 
disciplinas), vamos inventaria-los como forma de revisão: 
 
1) Jusnaturalistas “teológicos”: o Direito existe na 
natureza (teoria dos direitos naturais), decorrentes 
da vontade divina. Em Hobbes a finalidade do 
Direito é evitar a guerra, ou seja, manter a guerra. 
Para Locke é administrar a justiça, protegendo os 
direitos naturais. Isto é, para ambos o papel do 
Direito é garantir estabilidade e regularidades 
sociais. 
 
2) Para Rousseau a finalidade é restaurar a 
liberdade natural agora em termos de liberdade 
civil, sendo o fundamento a soberania do povo. 
 
3) Para Immanuel Kant o fundamento era a razão 
humana que haveria de libertar o homem, sendo 
a finalidade do Direito garantir as liberdades 
privadas (não falamos dele até o momento, mas 
é um filósofo pré-revolução francesa). 
 
4) Hegel (já falamos em filosofia) entendia que o 
fundamento a realização do espírito do povo 
(porque o todo deveria prevalecer sobre a 
 
 
 
50 
 
CPF 
 
 
parte), dando azo a ideia que mais tarde tornar-
se-á a realização do interesse público. 
 
5) Savigny (nosso conhecido dos direitos reais) é um 
dos importantes representantes da Escola 
Histórica e defendia que o fundamento como os 
costumes (a realidade histórica). 
 
6) Ihering defendia um código com normas que não 
se limitassem a realidade histórica, mas que 
positivassem normas superiores (o direito tem uma 
finalidade). 
 
7) No decorrer do século XX temos a ideia de um 
Estado liberal – cujo fundamento é a segurança 
jurídica -, um Estado Social cujo fundamento é a 
promoção do bem-estar coletivo, e atualmente 
em formação um novo modelo de Estado que se 
de um lado incorpora novos direitos coletivos 
subjetivos, de outro exacerba seu aparato penal 
e repressivo. 
 
Veja, elencamos várias concepções sobre o 
fundamento e a finalidade do direito, mas perceba que afora 
os três autores iniciais (que são os clássicos da sociologia) os 
 
 
 
51 
 
CPF 
 
 
outros e suas concepções são mais próximas a ciência política 
ou mesmo a filosofia do direito. 
Para fechar o raciocínio, retomando do início, é 
preciso entender que, sociologicamente, entende-se que 
nenhum poder é forte o suficiente para se manter durante o 
suficiente apenas por meio da força/coerção por si, há sempre 
um processo de legitimidade/reconhecimento. Nesse sentido, 
Weber é um dos autores centrais porque veja que ele foca suas 
compreensões nos “motivos de submissão dos dominados”, a 
qual está no reconhecimento/fé na ordem estabelecida 
através do estatuto legal (o que decorre também de sua 
racionalidade, isto é, não tem a ver com conteúdo da norma 
ser bom ou ruim, mas como ela foi “feita”) 
 
5. Os grupos sociais e o Direito. 
Como já dissemos em outro momento a 
preocupação inicial da Sociologia é com a sociedade 
moderna, sua ordem, suas leis (no sentido positivista que a deu 
origem), como ela se mantem no tempo. Neste sentido, várias 
são as abordagens possíveis para explicar esse fenômeno. Há 
autores que olham para questão da estrutura [ver ITEM 6.1 
sobre socialização e controle social] refletindo sobre como as 
estruturas sociais conformam as ações individuais; outros 
focam nas ações individuais procurando compreender como 
 
 
 
52 
 
CPF 
 
 
essas ações refletem e ao mesmo tempo produzem aquela 
ordem. 
De uma forma ou de outra o sociólogo sempre 
estará preocupado em maior medida com uma situação 
configurada com mais de um indivíduo, há sempre que se falar 
de um grupo ou referenciar a observação a um grupo, 
consequentemente preocupa-se com os grupos sociais. 
Esses grupos sociais podem ser: 
a) Primários: caracterizados por laços orientados 
precipuamente pela intimidade, como a família, 
por exemplo. Com relação especificamente a 
família, alguns autores pensam que, embora seja 
ainda uma instituição muito forte, especialmente 
no processo de socialização primária, ela tenha 
sido bastante esvaziada pela Modernidade uma 
vez que muitas funções/poderes que a ela 
cabiam foram destinadas a outras instituições. 
b) Secundários: marcados por relações orientadas 
de maneira mais formal (podemos mencionar os 
grupos religiosos). Sobre a religião podemos 
comentar que há formulações relevantes no 
sentido do papel que o grupo religioso exerce no 
reforço quanto ao compartilhamento de valores 
daquela comunidade/sociedade no “espaço 
público”; 
 
 
 
53 
 
CPF 
 
 
c) Intermediários: nos quais esses laços são 
alternados ou mistos (a intimidade ou 
formalidade vai depender de quem e que 
contexto, por exemplo, a escola). Sobre a escola 
vale apontar que a Sociologia reconhece vários 
papeis importantes, apesar de em larga medida 
reforçar a estratificação social, além de uma 
etapa de socialização (no intuito de gerar uma 
cultura cívica, v.g.) também de inserir osindivíduos em ritos de passagem (saída da 
infância, entrada no mundo profissional – aquela 
segunda etapa do processo de socialização 
comentado no item 6.1), 
O que precisa ficar claro é que os grupos sociais 
expressam relações sociais em que os indivíduos estão 
mutuamente em interação. 
Algumas características desses grupos são: 
1) Existe uma consciência grupal, ou seja, os 
indivíduos têm um sentimento de pertencimento 
e de conexão/ligação. 
2) Eles possuem alguma forma de organização, não 
necessariamente uma liderança [isso caiu no 
último concurso!], mas alguma forma de 
organização onde as pessoas têm papéis a serem 
desempenhados. 
 
 
 
54 
 
CPF 
 
 
3) Tem um caráter de objetividade e exterioridade, 
isto é, tal qual o fato social durkheminiano (voltar 
ao item 1) eles são passíveis de serem descritos e 
possuem manifestações exteriores que os 
permitem identificar enquanto grupo (não é algo 
que se limita a dimensão psicológica, esse é o 
ponto). 
4) Existe algum tipo de objetivo comum entre os 
membros 
5) Existe uma pretensão de continuidade 
 
Outra abordagem que podemos fazer desse tema 
no edital é a previsão normativa da Defensoria Pública da 
União prestar auxílio a diversos grupos sociais (o termo 
tecnicamente adequado é “categorias” – que são pessoas 
com características comuns mas que não necessariamente 
interagem), equivalentes aos titulares de direitos 
coletivos/difusos) como “em situação de vulnerabilidade”, isto 
incluiria a previsão constante no ECA que garante o acesso de 
toda criança e adolescente aos serviços da Defensoria 
Pública, por qualquer de seus órgãos com isenção de custas. 
E a esse exemplo do ECA poderíamos acrescer: 
a) Estatuto do Idoso 
b) Decreto nº 6.949, /2009 com natureza de EC (Direitos das 
Pessoas com Deficiência) 
 
 
 
55 
 
CPF 
 
 
c) Lei Maria da Penha articulado com Art. 226, § 8º 
CF/88(Convenção sobre a Eliminação de Todas as 
Formas de Discriminação contra as Mulheres e da 
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e 
Erradicar a Violência contra a Mulher) 
 
Além é claro de estarem previstos na LC Federal 
132/2009 (“Art. 4.º São funções institucionais da Defensoria 
Pública...), mas é muito mais provável que esse tema seja 
cobrado na disciplina de princípios institucionais. 
Destaco que esse rol do Art. 4º não é exaustivo 
podendo incluir “alcoólatras”, comunidades carentes 
desassistidas de infraestrutura sanitária, viciados em drogas 
ilícitas, vítimas de enchentes/atingidos por barragens, sem-
terras, trabalhadores assalariados, grevistas. E aqui podemos 
fazer outra associação que pode ser cobrada que é desses 
grupos organizados em prol de uma causa como grupos 
sociais definidos no início deste tópico. São os chamados 
movimentos sociais. 
Para fechar este tópico vamos a questão que caiu 
no último concurso da DPU: 
[CESPE – DPU - Defensor Público Federal de 
Segunda Categoria 2015] 
 
 
 
56 
 
CPF 
 
 
Por ocasião de um grande evento nacional, 
muitos jovens criticaram a organização desse 
evento nas redes sociais e, por fim, também 
nessas redes, combinaram manifestações de 
rua em grandes cidades do Brasil. Durante 
essas manifestações, houve depredação de 
prédios públicos sem que se identificasse 
quem teria causado os prejuízos, mas ainda 
assim as forças de segurança pública 
detiveram alguns jovens e feriram outros 
tantos. A mídia realizou ampla cobertura, 
inclusive da ação das forças de repressão. 
Com referência a essa situação hipotética e 
tendo por base o conceito de grupos sociais, 
julgue o item abaixo. 
Grupos que não tenham liderança 
organizada não podem ser considerados 
grupos sociais. Dessa forma, os problemas 
ocorridos nas citadas manifestações 
enquadram-se no conceito de turba e os que 
nelas cometeram infrações deverão ser 
responsabilizados individualmente 
 
 
 
57 
 
CPF 
 
 
[Gabarito: ERRADO, são duas coisas 
fundamentalmente. Primeiro, os grupos sociais 
não pressupõem liderança organizada. Em 
segundo lugar, o grupo também não se 
enquadraria no conceito de turba). 
 
O conceito de turba está ligado ao conceito de 
multidão, esta sendo um agregado social de existência 
efêmera (espontâneo, desorganizado) com um sentimento 
comum), isto é, podem até existir laços sociais na multidão, 
mas eles são muito frágeis e a tendência é que se dissolvam 
rapidamente. A turba é uma espécie de multidão ainda mais 
volátil que se juntou por um motivo inesperado (surgiu alguém 
famoso, um corpo no chão fugindo de um arrastão, etc.). 
6. Direito estatal e direito extra-estatal. 
Essa caracterização é tipicamente weberiana, de 
modo que o primeiro passo para abordá-la é lembrar o que 
dissemos no primeiro tópico sobre a abordagem sociológica 
(que ele propõe) do Direito – em oposição ao enfoque 
moralista/político e do enfoque dogmático. 
A abordagem sociológica, portanto, não possui um 
enfoque político-moralista, e sim um enfoque que poderíamos 
denominar como analítico e compreensivo [lembrem-se que a 
Sociologia weberiana é conhecida como sociologia 
 
 
 
58 
 
CPF 
 
 
compreensiva], pois não compartilha da qualidade avaliativa 
das outras abordagens. Ela se interessa pela maneira como os 
integrantes de uma sociedade veem as normas jurídicas e 
moldam, ou não, sua conduta de acordo com elas. É uma 
ciência empírica por definição, preocupada com fatos e não 
valores. 
Como as categorias são estatal e extra-estatal, 
vamos recordar a percepção de Weber sobre o estado, 
vamos conferir essa questão para DPE-SP. 
(FCC DPE-SP Defensor Público 2012) 
“O Estado moderno é um agrupamento de 
dominação que apresenta caráter 
institucional e procurou (com êxito) 
monopolizar, nos limites de um território, a 
violência física legítima como instrumento de 
domínio e que, tendo esse objetivo, reuniu nas 
mãos dos dirigentes os meios materiais de 
gestão. Equivale isso a dizer que o Estado 
moderno expropriou todos os funcionários 
que, segundo o princípio dos “Estados” 
dispunham outrora, por direito próprio, de 
meios de gestão, substituindo-se a tais 
funcionários, inclusive no topo da hierarquia”. 
 
No trecho acima, extraído do ensaio "A 
 
 
 
59 
 
CPF 
 
 
Política como Vocação", Max Weber refere-se 
ao Estado moderno, resultante de seu 
desenvolvimento racional. Para o autor, este 
Estado é caracterizado como um estado 
 
a) burocrático; b) autoritário; c) autocrático; 
d) democrático; e) nação. 
Weber, por conseguinte, distingue: 
a) “direito estatal”  O direito 
garantido/exigido pelo Estado, quando e na medida em 
que a garantia (a coação jurídica) se estabelece por 
meios específicos e institucionalizados; 
b) “Direito extra-estatal”  quando entram 
outros meios coativos distintos dos da autoridade política 
e constituem a garantia de um direito. 
Neste ponto podemos pensar o seguinte, imagine 
que um determinado balcão de uma serventia judicial exista a 
prática de se pagar R$50,00 para agilizar o processo, uma 
análise sociológica poderá considerar essa uma regra jurídica 
extra-estatal, ou ainda que não seja pagar dinheiro, mas seja 
levar um presente no final do ano para os servidores. Ou, 
mudando de exemplo, imaginemos que para entrar numa 
determinada favela seja necessário pedir autorização ao 
gerente da boca. Todas são regras que podem ser 
 
 
 
60 
 
CPF 
 
 
compreendidas como direito extra-estatal a depender de qual 
análise que estamos fazendo delas do que queremos 
compreender com sua análise. 
Outro assunto de importante relação com esse 
tópico é a questão do Pluralismo Jurídico (vamos revisitar esse 
assunto lá em Filosofia do Direito – está no tópico sobre a 
História da Filosofia do Direito no Brasil). 
Vamos conferir uma questão sobre esse assunto: 
[QUESTÃO CESPE Analista Judiciário - CNJ 
2013] 
No que se refere a monismo e a pluralismojurídico, julgue os itens subsecutivos. 
O pluralismo jurídico propõe um novo 
paradigma na cultura jurídica embasado no 
pressuposto de que são insuficientes os 
modelos jurídicos oficiais em termos de 
participação. 
[Gabarito: CERTO, o pluralismo pressupõe (ou 
descreve) uma multiplicidade de fontes 
normativas e mesmo diferentes juridicidades 
“dentro de um mesmo Estado”, por isso 
propõe uma modificação na cultura jurídica 
 
 
 
61 
 
CPF 
 
 
para que ultrapassemos a referência do 
Estado monopolizador, centralizador, 
autoritário, reconhecendo nas práticas sociais 
fontes de juridicidade, de modo que a 
participação “nos termos” do Estado não é 
suficiente]. 
 Daí decorre a classificação das interações dentre 
atores jurídicos: 
1) Como dogmática (estatal)  quando 
observamos a presença de meios e formas garantidos 
pelo Estado 
2) Como informal  quando se verificam 
relacionamentos independentes entre os operadores 
jurídicos. 
Além da divisão acima explicitada, Weber 
classificou as leis em racionais e irracionais, com relação ao 
aspecto formal e ao aspecto material. Embora aparente 
simplicidade, essa distinção é complexa e pode ser aplicada 
de forma ambígua. 
De acordo com Weber, a criação e a aplicação do 
direito são “formalmente irracionais quando, para a 
regulamentação da criação do direito e dos problemas de 
aplicação do direito, são empregados meios que não podem 
 
 
 
62 
 
CPF 
 
 
ser racionalmente controlados – por exemplo, a consulta a 
oráculos ou sucedâneos deste. Elas são materialmente 
irracionais, na medida em que a decisão é determinada por 
avaliações totalmente concretas de cada caso, sejam estas 
de natureza ‘ética emocional ou política, em vez de depender 
de normas gerais. 
6.1 Controle social. 
Preliminarmente, cabe um esclarecimento sobre 
esse ponto, qual seja, há duas dimensões que podem ser 
entendidas como controle social, uma está ligada aos 
instrumentos/formas/práticas de controle do Estado por parte 
da sociedade [tratamos muitas delas (audiências, 
conferência, ouvidorias) na seção de Ciência Política – Tópico 
8.2]; a outra dimensão, ao revés, trata-se das formas como a 
sociedade se autorregula (por ela mesma), relativa a 
adequação as normas impostas, a normalização de práticas e 
condutas. Neste último sentido, a educação, por exemplo, é 
uma das formas de controle social, por excelência. Vamos 
avançar. 
Podemos definir controle social, então, como a: 
“capacidade da sociedade de se 
autorregular bem como os meios que ela 
utiliza para induzir a submissão a seus próprios 
 
 
 
63 
 
CPF 
 
 
padrões. Repousa na crença de que a ordem 
não é mantida apenas, nem sequer 
principalmente, por sistemas jurídicos ou 
sanções formais, mas é, sim o produto de 
instituições, relações e processos sociais mais 
amplos (Lúcia Zedner). 
Vamos compreender um pouco melhor esse debate 
e a utilização desse termo começando pela noção do que é 
“estrutura social” que, segundo Rodrigo de Azevedo, pode ser 
definido como “o sistema de restrições que balizam a ação 
individual, delimitando os espaços de atuação e escolha do 
indivíduo no interior da sociedade”, o autor ainda assevera 
que a Sociologia sempre esteve preocupada com essa 
questão em termos de qual a relação que se estabelece entre 
a ação individual e a estrutura social. Sendo que para os 
autores clássicos a questão residia em explicar a passagem 
das sociedades tradicionais para as sociedades modernas, ao 
passo que contemporaneamente o mote é compreender a 
dinâmica e transformação social da sociedade global que 
despertam analises no sentido de esgotamento das estruturas 
modernas (fala-se em pós-modernidade, modernidade 
liquida, modernidade radicalizada). 
Para Giddens, vivemos a Modernidade Reflexiva, 
pois o mundo social deve ser compreendido como realização 
 
 
 
64 
 
CPF 
 
 
de sujeitos humanos ativos, de modo que os significados 
dependem da Linguagem (não como um mero sistema de 
signos), mas como um meio de atuação prática. 
Então, estruturação das relações sociais decorre da 
dualidade existente da relação estrutura social/ação 
individual no sentido de que a estrutura organiza (limita, 
condiciona) a ação individual, mas ao mesmo tempo é 
produzida, por estar em constante produção e reprodução – 
ATENÇÃO é a esse processo que se refere o termo reflexivo que 
Giddens emprega. 
Outro autor importante para entender a questão é 
Pierre Bourdieu que compreendeu isto em termos de “campo” 
e “habitus”. Para ele o social é constituído por campos - 
espaços de relações objetivas que possuem sua lógica 
interna, então, que existe o campo do direito. 
Esse campo é um campo de forças (portanto, uma 
estrutura que constrange os agentes nele envolvidos) mas é 
também um campo de lutas (no qual os agentes, conforme 
sua posição de poder, atuam em prol de conservar ou 
modificar essa estrutura). 
O "habitus", segundo Rodrigo de Azevedo, é um 
"sistema de disposições, modos de perceber, se sentir, de 
fazer, de pensar, que nos leva a agir de determinada forma em 
 
 
 
65 
 
CPF 
 
 
uma circunstância dada”. Neste sentido, a consciência dos 
atores do campo será fundamental na mudança e/ou 
reprodução da rotina. Assim, uma nova configuração 
(estrutura) só se consolida quando se conforma nas mentes e 
nos hábitos de quem faz funcionar o campo. 
Outro termo/categoria que pode aparecer na 
prova é “socialização”, que é entendido como o processo 
através do qual os indivíduos passam a adotar os valores e 
padrões de comportamento do seu entorno social. Começa 
na infância, possuindo mecanismos formais e informais de 
aprendizagem. 
Isto está ligado, em verdade, ao grande debate da 
Sociologia que é a natureza da ordem social (voltar ao 
primeiro tópico) e os mecanismos de poder que são utilizados 
para mantê-la e adequar (controlar/por isso controle social) os 
comportamentos as regras e normas institucionalizadas (não 
apenas formalmente ou pela via do direito - lembrem-se que 
instituição para a Sociologia não é igual a instituição formal). 
Durkheim, por exemplo, fez uma abordagem desse 
problema que se denomina funcionalista, pois a socialização 
teria uma função de integrar a sociedade, de modo a 
garantir/manter a ordem social. Outro importante autor desta 
abordagem é Talcot Parsons segundo quem "a socialização é 
 
 
 
66 
 
CPF 
 
 
o processo pelo qual as pessoas aprendem a cumprir os 
papéis que lhes são prescritos pelo sistema social”. Essa 
abordagem é especialmente importante para a sociologia 
jurídica porque ela foi aderida por muitos juristas que a partir 
dela construíram pensamentos sobre a "função do direito na 
sociedade". 
Aprofundando brevemente a questão da 
socialização podemos falar de anomia (termo da teoria 
durkheimiana que significa não se sentir vinculado aquelas 
regras sociais), mas no sentido que Merton emprestou 
asseverando que a socialização para os objetivos de sucesso 
dominantes em uma sociedade (objetivos culturais) é 
disfuncional para os indivíduos aos quais são negados os meios 
institucionais adequados para a obtenção desses objetivos 
(Merton). Essa reflexão pode ser associada ao próximo tópico 
(estratificação social), pois é um fenômeno muito comum que 
se exijam condutas sociais de pessoas que não foram 
socializadas com elas ou que tem uma outra socialização com 
o Estado (como por exemplo os moradores de favelas). 
Rodrigo de Azevedo lembra que a socialização 
nunca está pronta e acabada, nunca é total é um processo 
contínuo, está acontecendo o tempo todo, sendo ela primária 
(criança com a família) que é a própria percepção da 
realidade de que existe um mundo social e a secundária se dá 
 
 
 
67 
 
CPF 
 
 
na incorporação de saberes profissionais. Podem ser 
considerados importantes mecanismos de socialização: 
família, escola,

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