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/ PRINCÍPIOS GERAIS DA HISTÓRIA DO DIREITO ● Direito Consuetudinário O Direito Consuetudinário é aquele que de forma a partir dos costumes da sociedade, que se consolidam em normas jurídicas. Essas normas não precisam passar por um processo legislativo e nem estar expressas na forma escrita. Afinal, a positivação é uma solução para dar conhecimento a todos sobre o comportamento exigido pela norma; mas, quando a própria norma parte de um comportamento que já é adotado pelos indivíduos, a positivação torna-se menos necessária. Nem sempre houve lei escrita. Há muito tempo atrás as normas que organizam as sociedades antigas eram baseadas nos costumes dos povos e na tradição transmitida de pai para filho. Essa lei verbal e não escrita, com base nos costumes é a chamada Lei Consuetudinária. Por exemplo: É costume não se pisar na grama de um jardim. Todos respeitam o costume. No dia em que alguém começar a pisar na grama, é necessário que a lei consuetudinária se transforme em lei escrita: então se coloca uma plaquinha “É PROIBIDO PISAR NA GRAMA”. “Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.” Portanto até o Juiz poderá utilizar a lei consuetudinária nos casos em que a lei escrita for omissa. O Direito Consuetudinário surgiu dos costumes de uma certa sociedade. Não é um processo de criação de leis, o costume reiterado de um certo povo transforma aquilo em norma de agir, portanto, em Lei. ● Direito, Moral e Religião Moral é uma palavra de origem latina, que provém do termo moris (“costume”). Trata-se de um conjunto de crenças, costumes, valores e normas de uma pessoa ou de um grupo social, que funciona como um guia para agir. Isto é, a moral orienta relativamente às acções que são correctas (boas ou positivas) e aquelas que são incorrectas (más ou negativas). De acordo com outra definição, a moral é a soma total do conhecimento que se adquire sobre o mais alto e nobre, e que uma pessoa respeita na sua conduta. As crenças sobre a moralidade são generalizadas e codificadas numa certa cultura ou / num dado grupo social, pelo que a moral regula o comportamento dos seus membros. Por outro lado, a moral costuma ser identificada com os princípios religiosos e éticos que uma comunidade acorda respeitar. A ética relaciona-se com o estudo da moral e da ação humana. O conceito provém do termo grego ethikos, que significa “caráter”. Uma sentença ética é uma declaração moral que elabora afirmações e define o que é bom, mau, obrigatório, permitido, etc. relativamente a uma ação ou a uma decisão. Portanto, quando alguém aplica uma sentença ética sobre uma pessoa, está a realizar um juízo moral. Como tal, a ética estuda a moral e determina como devem actuar os membros de uma sociedade. Por esse motivo, é definida como sendo a ciência do comportamento moral. O Direito é a norma das ações humanas na vida social, estabelecida por uma organização soberana e imposta coativamente à observância de todos. Miguel Reale, em sua obra: Lições Preliminares de Direito, afirma que "Aos olhos do homem comum o Direito é a lei e ordem, isto é, um conjunto de regras obrigatórias que garante a convivência social graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um de seus membros". A religião, que pode ser definida como conjunto de crenças em uma determinada divindade ou força sobrenatural, é uma criação humana que busca explicações para o mundo e para os vários questionamentos sociais. Na formação de sua doutrina, estipula valores e princípios a serem seguidos pelo homem para serem obedecidos durante a vida. Valores esses que induzem seus fiéis a determinadas condutas sociais e proibições para que o objetivo final, que é o bem, seja atingido. Nesse aspecto, o Direito e a religião se parecem por expressarem mecanismos de controle social, que impõem condutas e valores e que têm como finalidade o bem comum. Como aspecto de divergência, pode-se apontar o caráter de insegurança trazido pela religião, pois a Igreja oferece respostas que teriam credibilidade pela fé, sendo seus principais pressupostos inatingíveis. Já o Direito parte de pressupostos concretos e fornece segurança e proteção ao indivíduo nas suas relações entre os semelhantes e o Estado. / O DIREITO NA ANTIGUIDADE ● Mesopotâmia Até então basicamente restrito a oralidade, é nessa região que surgem as primeiras formas escritas do direito, o que se dá periodicamente em algumas cidades a margem dos rios, se dando pela forma cuneiforme. Eram sociedades politeístas, extremamente ligadas a religião e se utilizavam desta para justificar acontecimentos e explicar fenômenos. Até por isso, sintetiza-se que separar o jurídico do pessoal/familiar era completamente inviável a essa realidade e, sendo assim, os ordálios cabiam como forma de legitimação. As leis eram repassadas as pessoas por meio de anúncios do rei/chefe/ancião em locais públicos ou por meio de provérbios. Ainda assim, o “direito penal primitivo” continuava a se basear na “Lei do Talião” e eram decididas pelo chefe de Estado, figura que delimita regras que automaticamente assumiram caráter generalizado. ● Código de Hamurabi Baseado nas Leis de Talião (“Olho por olho, dente por dente”), o Código de Hamurabi é um conjunto de leis para organizar e controlar a sociedade, criadas na Mesopotâmia, por volta do século XVIII a. C., pelo rei Hamurabi, o responsável por fundar o primeiro império babilônico. Até o governo de Hamurabi, as leis que regulamentavam os direitos e os deveres dos babilônicos eram transmitidas através da oralidade, sendo repassada de boca em boca. A Lei Mosaica refere-se à lei de Moisés, que é concedida por Deus, escrita em pedra pelo próprio dedo de Deus no monte Sinai, a tábua dos dez mandamentos. Determina assim um conjunto de obrigações e atitudes para ser obedecidas que resultam no propósito de atingir um único objetivo,o resultado final, tornando assim fatores múltiplos agrupados em uma só unidade. ● Direito Romano O direito romano compreende não só a ordem jurídica que teve lugar ao longo da história de Roma, mas também as ideias e experiências surgidas desde o momento da fundação da cidade até a desagregação do Império após a morte de Justiniano. / Deste modo, o direito romano inspirou toda nossa convicção de legitimidade, de forma que a organização de normas, leis e os recursos de oratória e retórica. Logo, observa-se que até recentemente o Direito Romano é muito usado juridicamente com intuito de informar-se. O DIREITO NA IDADE MÉDIA A partir do século V, com o enfraquecimento do Império Romano, a Europa passou a sofrer diversas migrações e invasões dos povos "bárbaros"- como os vândalos, pioneiros, que atravessaram a península Ibérica de norte a sul e chegaram à África; os anglo-saxões, que desembarcaram na Inglaterra; e os lombardos, que se instalaram na Itália. Eles destruíram as instituições romanas mas, com exceção dos francos- cujo reino se desmoronou no século IX -, não conseguiram substituí-las por outro Estado forte. Assim, com a queda do Império Romano do Ocidente em 476, a Europa passou a conviver com uma lacuna no poder temporal, pois o poder político fora fragmentado pelos reinos bárbaros invasores ali instalados. Já a Igreja manteve intacto seu poder espiritual e ideológico. Conforme afirma Perry Anderson (2004, p. 89), a igreja cristã passou a ser a única ponte entre o mundo antigo e o mundo medieval, a Igreja tornou-se a única instituição da Antiguidade a manter-se intacta após a queda de Roma. Foi a Igreja que manteve a cultura e a lei romana preservada mesmo com a queda do Império. É importante que esta Igreja, como instituição, já caminha em direção à criação da Igreja Católica Apostólica Romana, pois nesta época como em nossos dias, esta Igreja tornara-se muito mais uma instituição política do que a verdadeira igreja surgida com os primeiros apóstolos em Jerusalém. O crescente número de invasões bárbaras e o avanço dos árabes muçulmanos, fez com que a igreja medieval, agora temerosa com esses invasores, buscasse um novo sistema de governo capaz de reunificar a Europa ou de um novo chefe de Estado capaz de reavivar o Império Romano do Ocidente. Esta tentativa de unificação ainda esbarrava na falta de reis cristãos, pois as tribos que se instalavam na Europa eram em sua maioria pagãs ou convertidas à heresia cristã do arianismo. As tribos germânicas que invadiram o Império Romano eram basicamente tribos rurais e patriarcais divididas em clãs de famílias. Não tinham noções de Estado. A base agrária era formada por camponeses livres e a terra era coletiva, com raríssimas exceções tinham escravos. Ao ver a possibilidade de reavivar o Império Romano, o papa Leão III, líder da Igreja Romana na época, ungiu a Carlos Magno como imperador do Sacro Império Romano, esta celebração aconteceu na data / simbólica de 25 de dezembro de 800, ou seja, em pleno natal, a data mais sagrada do cristianismo. Igreja e Estado estavam de mãos dadas. A monarquia carolíngia representava a mais efetiva realização do sonho de renascimento do Império Romano por parte da igreja medieval. Carlos Magno deu sequência às distribuições de terras aos seus oficiais e soldados de destaque. Para garantir o apoio militar desses arrendatários, Carlos Magno, os dava títulos de nobreza, os nomeando Condes, cada qual responsável por seu Condado, com isso Carlos Magno fortaleceu uma nobreza proprietária e militarizada, que pouco a pouco foi tornando-se autônoma. ● Direito Islâmico A charia, também grafada sharia, é o nome que se dá ao código de leis do islamismo. O termo significa "caminho" ou "rota para a fonte de água", e é a estrutura legal dentro do qual os aspectos públicos e privados da vida do adepto do islamismo são regulados, para aqueles que vivem sob um sistema legal baseado na fiqh (os princípios islâmicos da jurisprudência) e para os muçulmanos que vivem fora do seu domínio. A charia lida com diversos aspectos da vida cotidiana, bem como a política, economia, bancos, negócios, contratos, família, sexualidade, higiene e questões sociais. Em várias sociedades islâmicas, ao contrário da maioria das sociedades ocidentais dos nossos tempos, não há separação entre a religião e o direito, todas as leis sendo religiosas e baseadas ou nas escrituras sagradas ou nas opiniões de líderes religiosos. O Corão é a mais importante fonte da jurisprudência islâmica, sendo a segunda a Suna (obra que narra a vida e os caminhos do profeta). Não é possível praticar o Islão sem consultar ambos os textos. A partir da Suna, vêm os ahadith, as narrações do profeta. Um hadith é uma narração acerca da vida do profeta ou o que ele aprovava - ao passo que a Suna é a sua própria vida em si. Como se disse, as suas principais fontes são o próprio Corão ou Alcorão e os ahadith, mas o ijma, o consenso da comunidade, também foi aceite como uma fonte menor. Qiyas, o raciocínio por analogia, foi usado pelos estudiosos da lei e religião islâmica (Mujtahidun) para lidar com situações onde as fontes sagradas não providenciam regras concretas. Algumas práticas incluídas na charia têm também algumas raízes nos costumes locais (Al-Urf). / ● Feudalismo Com a regionalização do poder e a criação de uma poderosa nobreza foram dados os passos decisivos para o surgimento do feudalismo, como de fato ocorreu após a morte de Carlos Magno em 814. "A época da morte de Carlos Magno, as instituições centrais do feudalismo já estavam presentes, sob o dossel de um Império centralizado pseudo-romano. Na verdade, logo tornou-se claro que a rápida disseminação dos benefícios e a crescente possibilidade de hereditariedade tendiam a minar por baixo todo o canhestro aparato do Estado carolíngio. A unidade interna logo desmoronou, entre guerras civis de sucessão e a crescente regionalização da aristocracia que o mantiveracoeso". (ANDERSON, 2004,p. 136). Já o problema da mão de obra foi resolvido com o progressivo processo de transformação dos trabalhadores livres e servos. A nobreza carolíngia adotou o sistema de servidão forçando os trabalhadores a submeterem-se a um sistema onde ficavam presos a terra que cultivavam. Foram lançados os alicerces do sistema feudal que dominaria o cenário europeu dos próximos séculos. Como forma de defesa, os nobres construíram grandes castelos, que funcionavam como fortalezas, em torno dos quais a população se instalou, buscando proteção. Essas propriedades ficaram cada vez mais isoladas umas das outras, o que criou a necessidade de produzir ali mesmo o que era preciso para sobreviver. A agricultura se tornou a atividade econômica mais importante e os donos das terras, os grandes chefes políticos e militares. Era o início do feudalismo. O feudalismo foi, portanto, o resultado da síntese cultural, econômica e política da associação do poder administrativo Carolíngio, e sua fragmentação, e do poder ideológico da Igreja Romana. O DIREITO NA IDADE MODERNA ● Iluminismo O Iluminismo foi um movimento intelectual que surgiu durante o século XVIII na Europa, que defendia o uso da razão (luz) contra o antigo regime (trevas) e pregava maior liberdade econômica e política. / Este movimento promoveu mudanças políticas, econômicas e sociais, baseadas nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. As críticas do movimento ao Antigo Regime eram em vários aspectos como: - Mercantilismo. - Absolutismo monárquico. - Poder da igreja e as verdades reveladas pela fé. Com base nos três pontos acima, podemos afirmar que o Iluminismo defendia: - A liberdade econômica, ou seja, sem a intervenção do estado na economia. - O Antropocentrismo, ou seja, o avanço da ciência e da razão. - O predomínio da burguesia e seus ideais. - John Locke John Locke é Considerado o “pai do Iluminismo”. Sua principal obra foi “ Ensaio sobre o entendimento humano”, onde Locke defende a razão afirmando que a nossa mente é como uma tábula rasa sem nenhuma ideia. Defendeu a liberdade dos cidadãos e Condenou o absolutismo. - Voltaire François Marie Arouet Voltaire destacou-se pelas críticas feitas ao clero católico, à inflexibilidade religiosa e à prepotência dos poderosos. - Montesquieu Charles de Secondat Montesquieu em sua obra “ O espírito das leis” defendeu a tripartição de poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. No entanto, Montesquieu não era a favor de um governo burguês. Sua simpatia política inclinava-se para uma monarquia moderada. - Rousseau Jean-Jacques Rousseau é autor da obra “ O contrato social ”, na qual afirma que o soberano deveria dirigir o Estado conforme a vontade do povo. Apenas um Estado com bases democráticas teria condições de oferecer igualdade jurídica a todos os cidadãos. Rousseau destacou-se também como defensor da pequena burguesia. - Adam Smith Adam Smith foi o principal representante de um conjunto de idéias denominado liberalismo econômico, o qual é composto pelo seguinte: / - o Estado é legitimamente poderoso se for rico. - para enriquecer, o Estado necessita expandir as atividades econômicas capitalistas. - para expandir as atividades capitalistas, o Estado deve dar liberdade econômica e política para os grupos particulares. A principal obra de Smith foi “ A riqueza das nações” , na qual ele defende que a economia deveria ser conduzida pelo livre jogo da oferta e da procura. É no decorrer do Iluminismo que se inicia o denominado período humanitário do direito penal, movimento que pregou a reforma das leis e da administração da justiça penal no fim do século XVIII. O Iluminismo significa a auto-emancipação do homem da simples autoridade, preconceito convenção e tradição, com insistência no livre pensamento sobre problemas que tais instâncias consideravam incriticável. - Cesare Beccaria Iluminista, aos 23 anos escreve a obra-prima Dos Delitos e Das Penas – apresentou problemas e deu soluções. Era um iluminista afinado com seu tempo. Defendeu: - Princípio da individuação das penas. Deuteronômio: “Não morrerão os pais pelos filhos nem os filhos pelos pais”. - Só o legislador pode legislar e previamente. - Finalidade das penas é prevenir e reeducar e não penalizar. Contra a pena de morte – é ilógico. Como alguém pode dizer ao outro não matar, e matar. - Quanto mais juízes na comunidade, melhor. - É contra a tortura – verdade não nasce pelo tormento. - É dele o “in dubio pro reu” X “in dubio pro societate” - Segue o rastro dos ideiais da Rev. Francesa. - Defende a igualdade de tratamento legal e é avesso à vingança. César Beccaria publica, em Milão, em 1764, a obra Dos Delitos e Das Penas - parte da ideia do contrato social - o fim da pena é apenas o de evitar que o criminoso cause novos males e que os demais cidadãos o imitem sendo tirânica toda punição que não se funde na absoluta necessidade. Defendia leis claras e precisas, não permitindo sequer o juiz o poder de interpretá-las, opondo-se; dessa forma, ao arbítrio existente na justiça penal. Combateu a pena de morte, a tortura, o processo inquisitório, defendendo a aplicação de penas certas, moderadas e proporcionais ao dano causado à sociedade. Opunha-se à justiça medieval que ainda vigorava em seu tempo. / As ideias básicas do Iluminismo em matéria de justiça penal são a da proteção da liberdade individual contra o arbítrio judiciário. ● Independência das 13 colônias e a Declaração de Virgínia A Independência das treze colônias inglesas da América do Norte foi um movimento de grande importância, pois foi o primeiro movimento de emancipação que alcançou resultado efetivo, sendo considerada como uma das Revoluções Burguesas do século XVIII. Neste século, vários movimentos caracterizaram a ascensão da burguesia, apoiada nos ideais liberais do Iluminismo. A Declaração tem grande significado político não só porque formalizou a independência das primeiras colônias na América, dando origem a primeira nação livre do continente, mas porque traz emseu bojo o ideal de liberdade e de direito individual, e a ideia de soberania popular, representando uma síntese da mentalidade democrática e liberal da época. No entanto, a pressão dos grandes proprietários rurais, importantes aliados na Guerra de Independência, determinou a manutenção da escravidão no país. ● Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão Este documento que se tornou um clássico para as democracias do mundo contemporâneo, foi aprovado no dia 26 de agosto de 1789, pela Assembleia Constituinte, no contexto inicial da Revolução Francesa. Seus princípios iluministas tinham como base a liberdade e igualdade perante a lei, a defesa inalienável à propriedade privada e o direito de resistência à opressão. ● Código Civil dos Franceses de 1804 "Minha verdadeira glória não foi ter vencido quarenta batalhas; Waterloo apagará a lembrança de tantas vitórias. O que ninguém conseguirá apagar, aquilo que viverá eternamente, é o meu Código Civil." Napoleão Bonaparte. O Código Civil Francês, de 21 de março de 1804, ficou conhecido, a partir de 1807, como "Código Napoleão", devido ao fato de ter sido editado durante o consulado de Bonaparte. Após o Congresso de Viena, em 1815, voltou a ser conhecido apenas como "Código Civil", mas a adesão dos juristas ao título personalista, principalmente no chamado "Novo Mundo", fez que um Decreto de 1852 estabelecesse a denominação oficial de Código Napoleão, em homenagem ao seu idealizador e artífice. Foi a partir do momento histórico conhecido como golpe do 18 Brumário (9 / de novembro de 1799) que foi instalado o Consulado na França, com três membros, sendo Napoleão declarado o primeiro Cônsul. No ano seguinte instalou-se uma comissão para elaborar o Projeto do Código Civil, que devia ter linguagem clara e acessível aos cidadãos franceses. Concebido como um conjunto de leis que regulamentavam as relações entre os cidadãos, o Código estribou-se em três pilares que caracterizavam a burguesia surgida da Revolução Francesa: a propriedade, o contrato e a responsabilidade civil. A propriedade foi transformada em direito inviolável e sagrado, sendo à época apresentada por Portalis como "a alma universal da legislação". Portador da visão de mundo do final do século XVIII e início do XIX, ou seja, trazendo em seu bojo as ideias presentes no Iluminismo e na Revolução Francesa, com total ligação à queda do Ancien Regime e à construção da sociedade liberal, até hoje o Código Napoleão revela surpreendente modernidade e adaptabilidade, permitindo acompanhar a transformação da sociedade francesa que, em dois séculos, passou de uma organização patriarcal à afirmação da igualdade entre homens e mulheres. Em vigência até hoje, serviu e serve de referência para incontáveis legisladores desde o século XIX. Permanecendo praticamente inalterado por mais de um século, com exceção da fortíssima restrição ao divórcio em 1816, o Código de 1804 foi inovador: suprimiu o direito de primogenitura em relação às sucessões, admitiu a possibilidade de divórcio em casos de adultério e eliminou o que ainda restava do feudalismo em relação ao direito das coisas, com o intuito de eliminar totalmente os usos e costumes feudais ainda presentes na sociedade francesa. Adotou o sistema do registro civil laico, em consonância com o Estado laico que surgiu após a Revolução de 1789. Enfatizou-se que o legislador não deve perder de vista que as leis são elaboradas para os homens, e não os homens para as leis e que estas devem ser adaptadas ao caráter, aos hábitos, à situação do povo, para o qual elas se destinam. ● Constituição de 1824 - Brasil Império Apoiado pelo Partido Português, constituído por ricos comerciantes portugueses e altos funcionários públicos, D. Pedro I dissolveu a Assembleia Constituinte em 1823 e impôs seu próprio projeto, que se tornou a primeira Constituição do Brasil. Apesar de aprovada por algumas Câmaras Municipais da confiança de D. Pedro I, essa Carta, datada de 25 de março de 1824 e contendo 179 artigos, é considerada pelos historiadores como uma imposição do imperador. / Entre as principais medidas dessa Constituição, destaca-se o fortalecimento do poder pessoal do imperador, com a criação do Poder Moderador, que estava acima dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. As províncias passam a ser governadas por presidentes nomeados pelo imperador e as eleições são indiretas e censitárias. O direito ao voto era concedido somente aos homens livres e proprietários, de acordo com seu nível de renda, fixado na quantia líquida anual de cem mil réis por bens de raiz, indústria, comércio ou empregos. Para ser eleito, o cidadão também tinha que comprovar renda mínima proporcional ao cargo pretendido. Essa foi a Constituição com duração mais longa na história do país, num total de 65 anos. ● Constituição de 1891 - Brasil República Após a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, houve mudanças significativas no sistema político e econômico do país, com a abolição do trabalho escravo, a ampliação da indústria, o deslocamento de pessoas do meio rural para centros urbanos e também o surgimento da inflação. Outra mudança foi o abandono do modelo do parlamentarismo franco-britânico, em proveito do presidencialismo norte-americano. O marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da República e chefe do governo provisório, e Rui Barbosa, seu vice, nomearam uma comissão de cinco pessoas para apresentar um projeto a ser examinado pela futura Assembleia Constituinte. O projeto escolhido vigorou como Constituição Provisória da República até as conclusões da Constituinte. As principais inovações dessa nova Constituição, datada de 24 de fevereiro de 1891, são: instituição da forma federativa de Estado e da forma republicana de governo; estabelecimento da independência dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; criação do sufrágio com menos restrições, impedindo ainda o voto aos mendigos e analfabetos; separação entre a Igreja e o Estado, não sendo mais assegurado à religião católica o status de religiãooficial; e instituição do habeas corpus (garantia concedida sempre que alguém estiver sofrendo ou ameaçado de sofrer violência ou coação em seu direito de locomoção – ir, vir, permanecer –, por ilegalidade ou abuso de poder). / ● Constituição de 1934 (Segunda República) Presidido por Getúlio Vargas, o país realiza nova Assembleia Constituinte, instalada em novembro de 1933. A Constituição, de 16 de julho de 1934, traz a marca getulista das diretrizes sociais e adota as seguintes medidas: maior poder ao governo federal; voto obrigatório e secreto a partir dos 18 anos, com direito de voto às mulheres, mas mantendo proibição do voto aos mendigos e analfabetos; criação da Justiça Eleitoral e da Justiça do Trabalho; criação de leis trabalhistas, instituindo jornada de trabalho de oito horas diárias, repouso semanal e férias remuneradas; mandado de segurança e ação popular. Essa Constituição sofreu três emendas em dezembro de 1935, destinadas a reforçar a segurança do Estado e as atribuições do Poder Executivo, para coibir, segundo o texto, "movimento subversivo das instituições políticas e sociais". ● Constituição de 1937 - Estado Novo Em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas revogou a Constituição de 1934, dissolveu o Congresso e outorgou ao país, sem qualquer consulta prévia, a Carta Constitucional do Estado Novo, de inspiração fascista, com a supressão dos partidos políticos e concentração de poder nas mãos do chefe supremo do Executivo. Essa Carta é datada de 10 de novembro de 1937. Entre as principais medidas adotadas, destacam-se: instituição da pena de morte; supressão da liberdade partidária e da liberdade de imprensa; anulação da independência dos Poderes Legislativo e Judiciário; restrição das prerrogativas do Congresso Nacional; permissão para suspensão da imunidade parlamentar; prisão e exílio de opositores do governo; e eleição indireta para presidente da República, com mandato de seis anos. Com a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, as ditaduras direitistas internacionais entraram em crise e o Brasil sofreu as consequências da derrocada do nazifascismo. Getúlio Vargas tentou, em vão, sobreviver e resistir, mas a grande reação popular, com apoio das Forças Armadas, resultou na entrega do poder ao então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), José Linhares, após a deposição de Vargas, ocorrida em 29 de outubro de 1945. O novo presidente constituiu outro ministério e revogou o artigo 167 da Constituição, que adotava o estado de emergência, acabando também com o Tribunal de Segurança Constitucional. Ao fim de 1945, as eleições realizadas para a Presidência da República deram vitória ao general Eurico Gaspar Dutra, empossado em 31 de outubro de 1946, que governou o país por decretos-lei, enquanto preparava-se uma nova Constituição. / ● Constituição de 1946 Essa Constituição, datada de 18 de setembro de 1946, retomou a linha democrática de 1934 e foi promulgada de forma legal, após as deliberações do Congresso recém-eleito, que assumiu as tarefas de Assembleia Nacional Constituinte. Entre as medidas adotadas, estão o restabelecimento dos direitos individuais, o fim da censura e da pena de morte. A Carta também devolveu a independência ao Executivo, Legislativo e Judiciário e restabeleceu o equilíbrio entre esses poderes, além de dar autonomia a estados e municípios. Outra medida foi a instituição de eleição direta para presidente da República, com mandato de cinco anos. As demais normas estabelecidas por essa Constituição foram: incorporação da Justiça do Trabalho e do Tribunal Federal de Recursos ao Poder Judiciário; pluralidade partidária; direito de greve e livre associação sindical; e condicionamento do uso da propriedade ao bem-estar social, possibilitando a desapropriação por interesse social. Destaca-se, entre as emendas promulgadas à Carta de 1946, o chamado ato adicional, de 2 de setembro de 1961, que instituiu o regime parlamentarista. Essa emenda foi motivada pela crise político-militar após a renúncia de Jânio Quadros, então presidente do país. Como essa emenda previa consulta popular posterior, por meio de plebiscito, realizado em janeiro de 1963, o país retomou o regime presidencialista, escolhido pela população, restaurando, portanto, os poderes tradicionais conferidos ao presidente da República. ● Constituição de 1967 - Regime Militar O contexto predominante nessa época era o autoritarismo e a política da chamada segurança nacional, que visava combater inimigos internos ao regime, rotulados de subversivos. Instalado em 1964, o regime militar conservou o Congresso Nacional, mas dominava e controlava o Legislativo. Dessa forma, o Executivo encaminhou ao Congresso uma proposta de Constituição que foi aprovada pelos parlamentares e promulgada no dia 24 de janeiro de 1967. Mais sintética do que sua antecessora, essa Constituição manteve a Federação, com expansão da União, e adotou a eleição indireta para presidente da República, por meio de Colégio Eleitoral formado pelos integrantes do Congresso e / delegados indicados pelas Assembleias Legislativas. O Judiciário também sofreu mudanças, e foram suspensas as garantias dos magistrados. Essa Constituição foi emendada por sucessiva expedição de Atos Institucionais (AIs), que serviram de mecanismos de legitimação e legalização das ações políticas dos militares, dando a eles poderes extra-constitucionais. De 1964 a 1969, foram decretados 17 atos institucionais, regulamentados por 104 atos complementares. Um deles, o AI-5, de 13 de dezembro de 1968, foi um instrumento que deu ao regime poderes absolutos e cuja primeira consequência foi o fechamento do Congresso Nacional por quase um ano e o recesso dos mandatos de senadores, deputados e vereadores, que passaram a receber somente a parte fixa de seus subsídios. Entre outras medidas do AI-5, destacam-se: suspensão de qualquer reunião de cunho político; censura aos meios de comunicação, estendendo-se à música, ao teatro e ao cinema; suspensão do habeas corpus para os chamados crimes políticos; decretação do estado de sítio pelo presidente da República em qualquer dos casos previstos na Constituição;e autorização para intervenção em estados e municípios. ● Constituição de 1988 - Constituição Cidadã Em 27 de novembro de 1985, por meio da emenda constitucional 26, foi convocada a Assembleia Nacional Constituinte com a finalidade de elaborar novo texto constitucional para expressar a realidade social pela qual passava o país, que vivia um processo de redemocratização após o término do regime militar. Datada de 5 de outubro de 1988, a Constituição inaugurou um novo arcabouço jurídico-institucional no país, com ampliação das liberdades civis e os direitos e garantias individuais. A nova Carta consagrou cláusulas transformadoras com o objetivo de alterar relações econômicas, políticas e sociais, concedendo direito de voto aos analfabetos e aos jovens de 16 a 17 anos. Estabeleceu também novos direitos trabalhistas, como redução da jornada semanal de 48 para 44 horas, seguro-desemprego e férias remuneradas acrescidas de um terço do salário. Outras medidas adotadas Constituição de 88 foram: instituição de eleições majoritárias em dois turnos; direito à greve e liberdade sindical; aumento da licença-maternidade de três para quatro meses; licença-paternidade de cinco dias; criação do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em substituição ao Tribunal Federal de Recursos; criação dos mandados de injunção, de segurança coletivo e restabelecimento do habeas corpus . Foi também criado o habeas data (instrumento que garante o direito de informações relativas à pessoa do interessado, mantidas / em registros de entidades governamentais ou banco de dados particulares que tenham caráter público). Destacam-se ainda as seguintes mudanças; reforma no sistema tributário e na repartição das receitas tributárias federais, com propósito de fortalecer estados e municípios; reformas na ordem econômica e social, com instituição de política agrícola e fundiária e regras para o sistema financeiro nacional; leis de proteção ao meio ambiente; fim da censura em rádios, TVs, teatros, jornais e demais meios de comunicação; e alterações na legislação sobre seguridade e assistência social. A LEI DE ANISTIA Anistia é o ato jurídico em que crimes políticos cometidos dentro de um determinado período de tempo são esquecidos. No Brasil, a Lei de Anistia de 1979, permitiu o retorno de todos os acusados de crimes políticos no período do regime militar. AS DIRETAS JÁ Foi um movimento político de cunho popular que teve como objetivo a retomada das eleições diretas ao cargo de presidente da República no Brasil. O movimento Diretas Já começou em maio de 1983 e foi até 1984, tendo mobilizado milhões de pessoas em comícios e passeatas. Contou com a participação de partidos políticos, representantes da sociedade civil, artistas e intelectuais. /
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