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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO – MPA EVÁDIO PEREIRA FILHO QUALIDADE DO SERVIÇO OFERECIDO POR ACADEMIAS DE GINÁSTICA: UM ESTUDO MULTICASO NA CIDADE DE NATAL/RN NATAL/RN 2013 EVÁDIO PEREIRA FILHO QUALIDADE DO SERVIÇO OFERECIDO POR ACADEMIAS DE GINÁSTICA: UM ESTUDO MULTICASO NA CIDADE DE NATAL/RN Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação do Mestrado Profissional em Administração da Universidade Potiguar, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração. ORIENTADOR: Prof. Dr. Domingos Fernandes Campos. Natal/RN 2013 EVÁDIO PEREIRA FILHO QUALIDADE DO SERVIÇO OFERECIDO POR ACADEMIAS DE GINÁSTICA: UM ESTUDO MULTICASO NA CIDADE DE NATAL/RN Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação do Mestrado Profissional em Administração da Universidade Potiguar, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração. Aprovado em: __/__/2013/ BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Domingos Fernandes Campos Orientador Universidade Potiguar - UnP Profª. Dra. Tereza de Souza Examinador Interno Universidade Potiguar - UnP Profª. Dra. Larissa Elaine Dantas de Araujo Examinador Externo Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Decido este trabalho a todos que me ensinaram que o ser humano deve ser movido por sonhos, os quais não devem gravitar somente no campo do imaginário. Com eles, aprendi a lutar para transformá-los em realidade, no entanto, sem fazer uso de ferramentas que pudessem ferir o legado da honestidade e do respeito ao próximo. Em especial, dedico Aos meus pais, Evádio e Ulisséa, fonte maior de inspiração e exemplos a serem seguidos; À minha segunda mãe, Ia (in memoriam), pelos preciosos ensinamentos; Aos meus avós, ancoras da unidade familiar; À minha noiva, Clara, por partilhar alegrias e tristezas, pelo companheirismo e compreensão; À Isabelle, Eduardo e Sinésio, irmãos e companheiros; À minha família, o cerne da vida. AGRADECIMENTOS Agradeço, A Deus, pelo seu olhar paciente e misericordioso, ofertando-me, nesta trajetória, saúde, serenidade e sabedoria; Aos meus pais, motivos maiores da minha dedicação e esforço. Como lhes agradecer sem derramar lágrimas de profunda gratidão? Reconheço o empenho incomensurável e as renúncias que fizeram e fazem para educar os filhos. Sem vocês não teria conseguido. À toda minha família, pelo amor, amizade, companheirismo, apoio incondicional, solidariedade e compreensão das ausências. À minha noiva, Clara, por compreender as abdicações e horas de estudo que esta trajetória exigia, bem como por suas palavras de conforto e incentivo nos momentos de aflição. Esta conquista é nossa! Ao meu orientador, professor Dr. Domingos Fernandes Campos, pelas horas de ensinamentos, pelas palavras de cobraça e incentivo, pela sabedoria com que conduziu todo o processo, e em nome do qual agradeço a todos os docentes do Mestrado em Administração da Universidade Potiguar (UnP); Aos amigos que contribuíram, direta ou indiretamente, nesta caminhada; Aos gestores e demais funcionários das academias pesquisadas, que me recepcionaram com cortesia, e depositaram apoio e credibilidade ao trabalho; À Universidade Potiguar e ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RN, pela oportunidade de realizar este trabalho; Aos entrevistados que se dispuseram a participar da pesquisa. A glória é tanto mais tardia quanto mais duradoura há de ser, porque todo fruto delicioso amadurece lentamente. Arthur Schopenhauer RESUMO O presente estudo tem como objetivo analisar as diferenças de expectativas ocasionadas por fatores sociodemográficos, motivacionais e padrões de uso entre clientes de academias de ginástica na cidade de Natal/RN. A pesquisa caracterizou- se como exploratória-descritiva, de natureza aplicada, além de um estudo multicaso com uma abordagem quantitativa. O universo da pesquisa foi constituído por 2.180 clientes matriculados em seis academias de ginástica, com atuação nas zonas norte e sul do município sobredito. As amostras foram calculadas por academia, de forma independente, considerando o número de matriculados em cada uma delas, o que resultou em 986 entrevistados. Como instrumento de coleta foi utilizado um questionário estruturado, com base em 31 atributos do serviço oferecido por academias coletados a partir de estudos empíricos nacionais e internacionais, e os quais foram validados por especialistas e clientes. Dentre os principais achados, detectou-se que clientes pertencentes a diferentes categorias de gênero, faixa etária, escolaridade, renda familiar, quantidade de modalidades praticadas e frequência de uso compartilham, em essência, as mesmas expectativas. Isto é justificado, ao observar nos grupos de importância, elementos comuns, embora não sejam colocados na mesma ordem de prioridade, bem como os expressivos coeficientes de Spearman que indicaram relações positivas (fortes ou moderadas) entre os rankings investigados. Ressalta-se que a disparidade entre os rankings de diferentes motivações ocorreu, unicamente, em razão do insignificante índice de respondentes que assinalaram a socialização (0,3% da amostra). Os baixos coeficientes de Spearman, apresentados nesta categoria, confirmam este posicionamento. Da análise de clusters surgiram quatro conglomerados em que a heterogeneidade entre eles foi marcada por distintos níveis de expectativas, e não por fatores sociodemográficos, motivacionais e padrões de uso, reforçando a não influência destes sobre as expectativas dos clientes. Mediante a utilização da matriz importância x desempenho foi possível extrair um conjunto de ações que podem ser usadas para dar suporte às decisões gerenciais de aperfeiçoamento das estratégias de qualidade. Dentre elas, enfatiza-se a necessidade de todas as academias em melhorar, sem dúvida, o desempenho no atributo emergência. Por fim, notou-se que, para os clientes das academias investigadas, os serviços estão aquém de suas expectativas, pois houve uma predominância de lacunas negativas. Palavras-chave: Qualidade do serviço. Academias de ginástica. Matriz importância- desempenho. ABSTRACT This study aims to analyze the differences in expectations caused by sociodemographic factors, motivation and patterns of use among clients of health club in the city of Natal/RN. The research was characterized as exploratory- descriptive, of an applied nature, and a multi case study with a quantitative approach. The research universe consisted of 2.180 customers enrolled in six health club, acting in the areas north and south of the city aforesaid. The samples were calculated by academia, independently, considering the number of clients enrolled in each of them, which resulted in 986 respondents. As collection instrument was used a structured questionnaire, based on 31 attributes of service offered by health club collected from national and international empirical studies, and which were validated by experts and customers. Among the main findings, it was found that customers belonging to different classes of gender, age, education, family income, number of modalities practiced and frequency of participation share, in essence, the same expectations. This is justified, observing groups of importance, common elements, although they arenot placed in the same order of priority, as well as the significant Spearman coefficients indicated that positive relationships (strong or moderate) between investigated the rankings. It is noteworthy that the disparity between the rankings of different motivations occurred, solely, due to the negligible rate of respondents who reported the socialization (0.3% of the sample). The low coefficients of Spearman, submitted in this category, confirm this position. From the clusters analysis emerged four conglomerates in which the heterogeneity between them was marked by different levels of expectations, and not by sociodemographic factors, motivation and patterns of use, reinforcing not influence these on customer expectations. Through the use of importance-performance matrix was possible to extract a set of actions that can be used to support management decisions of improvement of quality strategies. Among them, emphasizes the need for all health club to improve, no doubt, the performance in emergency attribute. Finally, it was noted that, for customers of the health club investigated, the services are below their expectations, because there was a predominance of negative gaps. Keywords: Quality of Service. Health club. Importance-performance matrix. LISTA DE FIGURAS Figura 1 Tríade do encontro de serviço ................................................................. 25 Figura 2 Modelo de qualidade de serviço de Grönroos ........................................ 28 Figura 3 Modelo de qualidade de serviço de Parasuraman, Zeithaml e Berry ...... 30 Figura 4 Natureza e determinantes das expectativas dos consumidores de serviço ................................................................................................................ 33 Figura 5 Matriz importância-desempenho proposta por Slack, Chambers e Johnston ................................................................................................. 40 Figura 6 Matriz dos atributos do serviço ................................................................ 41 Figura 7 Matriz de posicionamento competitivo .................................................... 43 Figura 8 Matriz de avaliação de desempenho ....................................................... 44 Figura 9 Esquema metodológico ........................................................................... 82 Figura 10 Exemplo de questão para verificar o grau de clareza da sentença que define o atributo ....................................................................................... 85 Figura 11 Exemplo de questão para verificar o nível de representatividade do atributo .................................................................................................... 85 Figura 12 Exemplo de questão para verificar o nível de representatividade dos fatores ..................................................................................................... 88 Figura 13 Exemplo de questão para verificar a percepção de importância em relação ao atributo ................................................................................... 90 Figura 14 Exemplo de questão para verificar a percepção do desempenho do serviço prestado ...................................................................................... 90 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Dimensões da qualidade de serviço ...................................................... 34 Quadro 2 Dimensões e atributos utilizados em estudos empíricos na área de academias de ginástica ........................................................................ 64 Quadro 3 Fatores sociodemográficos, motivacionais e padrões de uso utilizados em estudos empíricos na área de academias de ginástica ................... 76 Quadro 4 Atributos utilizados na pesquisa ............................................................ 86 Quadro 5 Fatores utilizados na pesquisa .............................................................. 89 Quadro 6 Matriz de oportunidades das academias da zona sul .......................... 134 Quadro 7 Matriz de oportunidades da academia 1 (A1) ...................................... 136 Quadro 8 Matriz de oportunidades da academia 2 (A2) ...................................... 138 Quadro 9 Matriz de oportunidades da academia 3 (A3) ...................................... 140 Quadro 10 Matriz de oportunidades das academias da zona norte ...................... 142 Quadro 11 Matriz de oportunidades da academia 4 (A4) ...................................... 144 Quadro 12 Matriz de oportunidades da academia 5 (A5) ...................................... 146 Quadro 13 Matriz de oportunidades da academia 6 (A6) ...................................... 148 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Média de desempenho geral e por zona administrativa ....................... 128 Gráfico 2 Média de desempenho por academia .................................................. 129 Gráfico 3 Comportamento das médias de importância por clusters .................... 153 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Bairros de Natal/RN com maior número de academias de ginástica instaladas .............................................................................................. 84 Tabela 2 Universo e amostra ................................................................................ 84 Tabela 3 Legendas utilizadas ................................................................................ 92 Tabela 4 Aspectos sociodemográficos, motivacionais e padrões de uso dos respondentes ........................................................................................ 93 Tabela 5 Gênero por zona administrativa e academia .......................................... 94 Tabela 6 Faixa etária por zona administrativa e academia ................................... 95 Tabela 7 Nível de escolaridade por zona administrativa e academia .................... 95 Tabela 8 Renda familiar por zona administrativa e academia ............................... 96 Tabela 9 Frequência semanal dos respondentes por zona administrativa e academia ............................................................................................. 96 Tabela 10 Motivação dos respondentes por zona administrativa e academia ........ 97 Tabela 11 Quantidade de modalidades praticadas pelos respondentes por zona administrativa e academia ...................................................................... 97 Tabela 12 Médias e rankings de importância geral e por zona administrativa ........ 99 Tabela 13 Médias de importância dos atributos por academia de ginástica ......... 100 Tabela 14 Rankings de importância dos atributos por academia de ginástica ...... 102 Tabela 15 Médias e rankings de importância geral e por gênero .......................... 103 Tabela 16 Médias de importância dos atributos por faixa etária ........................... 105 Tabela 17 Rankings de importância dos atributos por faixa etária ........................ 106 Tabela 18 Médias de importância dos atributos por nível de escolaridade ........... 108 Tabela 19 Rankings de importância dos atributos por nível de escolaridade ........ 109 Tabela 20 Médias de importância dos atributos por renda familiar ....................... 111 Tabela 21 Rankings de importância dos atributos por renda familiar .................... 112 Tabela 22 Médias de importância dos atributos por frequência de uso ................114 Tabela 23 Rankings de importância dos atributos por frequência de uso ............. 115 Tabela 24 Médias e rankings de importância dos atributos por quantidade de modalidades ......................................................................................... 117 Tabela 25 Médias de importância dos atributos por motivação............................. 118 Tabela 26 Rankings de importância dos atributos por motivação ......................... 120 Tabela 27 Teste de Spearman para os rankings geral, por zona administrativa e por academia ........................................................................................ 121 Tabela 28 Teste de Spearman para os rankings geral e por gênero .................... 122 Tabela 29 Teste de Spearman para os rankings geral e por faixa etária .............. 122 Tabela 30 Teste de Spearman para os rankings geral e por nível de escolaridade ......................................................................................... 123 Tabela 31 Teste de Spearman para os rankings geral e por renda familiar .......... 123 Tabela 32 Teste de Spearman para os rankings geral e por frequência de uso ... 123 Tabela 33 Teste de Spearman para os rankings geral e por quantidade de modalidades ......................................................................................... 124 Tabela 34 Teste de Spearman para os rankings geral e por motivação ............... 124 Tabela 35 Médias de desempenho e rankings de importância por academias (zona sul) ............................................................................................. 126 Tabela 36 Médias de desempenho e rankings de importância por academias (zona norte) ......................................................................................... 127 Tabela 37 Lacunas de qualidade geral, por zona administrativa e por academia . 130 Tabela 38 Dez maiores lacunas negativas ............................................................ 131 Tabela 39 Dez maiores lacunas positivas ............................................................. 132 Tabela 40 Aspectos sociodemográficos, motivacionais e padrões de uso dos clusters ................................................................................................. 151 Tabela 41 Médias e rankings de importância dos atributos por cluster ................ 152 Tabela 42 Teste de spearman para os rankings dos clusters .............................. 154 SÚMARIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... .15 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA ............................................................ 15 1.2 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA ...................................................................... 18 1.3 OBJETIVOS ..................................................................................................... 19 1.3.1 Objetivo geral ................................................................................................. 19 1.3.2 Objetivos específicos ..................................................................................... 19 2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS .......................................................................... 21 2.1 O SIGNIFICADO E A RELEVÂNCIA DOS SERVIÇOS .................................... 21 2.2 QUALIDADE DE SERVIÇOS ........................................................................... 26 2.2.1 Escalas de mensuração da qualidade em serviços .................................... 33 2.2.2 Matriz importância-desempenho .................................................................. 39 2.3 GESTÃO EM SERVIÇOS DE ACADEMIAS DE GINÁSTICA .......................... 44 2.3.1 Atributos encontrados nos estudos empíricos ........................................... 63 2.3.2 Fatores sociodemográficos, motivacionais e padrões de uso encontrados nos estudos empíricos ................................................................................... 76 3 METODOLOGIA .............................................................................................. 80 3.1 ESQUEMA METODOLÓGICO DA PESQUISA ................................................ 80 3.2 TIPO DE PESQUISA ........................................................................................ 83 3.3 UNIVERSO E AMOSTRA ................................................................................. 83 3.4 ATRIBUTOS UTILIZADOS NA PESQUISA ...................................................... 85 3.5 FATORES UTILIZADOS NA PESQUISA ......................................................... 88 3.6 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ...................................................... 89 3.7 PLANO DE COLETA DE DADOS .................................................................... 90 3.8 TRATAMENTO DE DADOS ............................................................................. 91 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS ...................................................................... 92 4.1 PERFIL DOS RESPONDENTES ..................................................................... 92 4.1.1 Perfil dos respondentes por zona administrativa e academia ................... 94 4.2 IMPORTÂNCIA CONFERIDA AOS ATRIBUTOS DO SERVIÇO DAS ACADEMIAS DE GINÁSTICA .......................................................................... 98 4.2.1 Importância conferida, por gênero, aos atributos do serviço das academias de ginástica ............................................................................... 102 4.2.2 Importância conferida, por faixa etária, aos atributos do serviço das academias de ginástica ................................................................................ 104 4.2.3 Importância conferida, por nível de escolaridade, aos atributos do serviço das academias de ginástica ......................................................................... 107 4.2.4 Importância conferida, por renda familiar, aos atributos do serviço das academias de ginástica ................................................................................ 110 4.2.5 Importância conferida, por frequência de uso, aos atributos do serviço das academias de ginástica ......................................................................... 113 4.2.6 Importância conferida, por quantidade de modalidades praticadas, aos atributos do serviço das academias de ginástica..................................... 116 4.2.7 Importância conferida, por motivação, aos atributos do serviço das academias de ginástica ................................................................................ 117 4.2.8 Teste de correlação de spearman ............................................................... 120 4.3 DESEMPENHO CONFERIDO AOS ATRIBUTOS DO SERVIÇO DAS ACADEMIAS DE GINÁSTICA ........................................................................ 124 4.4 LACUNAS DE QUALIDADE DO SERVIÇO DAS ACADEMIAS DE GINÁSTICA..................................................................................................... 129 4.5 MATRIZES DE OPORTUNIDADES ............................................................... 132 4.5.1 Matriz de oportunidades das academias da zona sul ............................... 133 4.5.1.1 Matriz de oportunidades da academia 1 ...................................................... 135 4.5.1.2 Matriz de oportunidades da academia 2 ...................................................... 137 4.5.1.3 Matriz de oportunidades da academia 3 ...................................................... 139 4.5.2 Matriz de oportunidades das academias da zona norte ........................... 141 4.5.2.1 Matriz de oportunidades da academia 4 ......................................................143 4.5.2.2 Matriz de oportunidades da academia 5 ...................................................... 145 4.5.2.3 Matriz de oportunidades da academia 6 ...................................................... 147 4.6 ANÁLISE DE CLUSTERS .............................................................................. 149 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 155 5.1 LIMITAÇÕES E PESQUISAS FUTURAS ...................................................... 157 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 158 APÊNDICE ..................................................................................................... 168 15 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA O atual estilo de vida caracterizado pelo sedentarismo, altos níveis de estresse, nutrição desbalanceada e vícios, como o álcool e o tabagismo, vem despertando nas pessoas uma preocupação com as condições do seu corpo, principalmente, no tocante à saúde e à estética. Impulsionadas pela facilidade de acesso à informação, as pessoas cada vez mais se conscientizam dos malefícios advindos destes comportamentos contemporâneos, e buscam tornar a sua rotina mais salutar, por intermédio da adoção de medidas que melhorem a sua qualidade de vida, tais como a aderência à prática de atividades físicas (SABA, 2001; AGUIAR, 2007; PEDRAGOSA, CORREIA, 2009; LINHARES, FREITAS, 2010; YILDIZ, 2011; YILDIZ, KARA, 2012). Em face deste panorama, grande parcela da população urbana recorre às academias de ginástica com objetivo de praticar exercícios físicos, tornando-as uma das principais opções, principalmente com a redução, nas cidades, de áreas livres e verdes apropriadas a este fim (SABA, 2001; UHLMANN et al., 2009; OSTI, 2009). E a tendência de crescimento da indústria do fitness é nítida, conforme pregoam diversos pesquisadores (PAPADIMITRIOUS, KARTEROLIOTIS, 2000; AFTHINOS, THEODORAKIS, NASSIS, 2005; LAGROSEN, LAGROSEN, 2007; MICHELLI, 2008; YILDIZ, 2011; SOITA, 2012). No interstício 2003-2011, o quantitativo de pessoas que frequentava academias de ginástica, no contexto norte americano, saltou de 33, 2 para 51,4 milhões, ao passo que no Brasil o crescimento foi menos expressivo, passando de 3,4 para 5 milhões de usuários (COSTA, 2005; ACAD, 2011; IHRSA, 2012). Dados estes que reforçam o posicionamento de Yildiz (2011) ao mencionar que atualmente há um interesse significativo do consumidor em ofertas deste segmento. Ao deparar-se com o ranking mundial em número de academias, o Brasil ocupa o segundo lugar, atrás somente dos Estados Unidos, com, aproximadamente, 18.000 estabelecimentos que movimentam um montante de R$ 2 bilhões por ano (ACAD, 2011). Em Natal/RN, especificamente, dados do Conselho Regional de 16 Educação Física mostraram 196 empresas registradas (CREF, 2012). Vale ressaltar ainda que, em 2011, no âmbito mundial, o segmento gerou aproximadamente 72,7 bilhões de dólares em receita a partir de mais de 133.000 empreendimentos que prestaram serviços a 129 milhões de membros (IHRSA, 2012). As estatísticas apontam o quão promissor e rentável é esta indústria, especialmente no Brasil por atingir, ano a ano, um crescimento expressivo (IHRSA, 2012). Consoante Saba (2012), os dados deste setor tendem a sinalizar para a saturação, entretanto, o número de brasileiros que praticam exercícios físicos ainda é muito limitado. A região nordeste, por exemplo, representa um mercado potencial, em que grandes redes de academias, como a Bodytech e a Cia Athletica, vêm despertando interesse em ingressar neste território (INSTITUTO FITNESS BRASIL, 2012). No entanto, à medida que cresce a oferta, os usuários das academias de ginástica tornam-se cada vez mais exigentes em relação aos serviços recebidos. Portanto, as organizações, para sobreviverem em um mercado competitivo, necessitam investir cada vez mais em qualidade de serviço (FITZSIMMONS, FITZSIMMONS, 2005; ZEITHAML, BITNER, 2003). Faz-se necessário que toda a equipe envolvida no processo de prestação de serviços concentre esforços em satisfazer as necessidades e desejos dos clientes de uma maneira superior aos concorrentes (OSTI, 2009; PEDRAGOSA, CORREIA, 2009), pois, segundo Barreto et al. (2010), não basta apenas captar os clientes e oferecer-lhes o básico, mas sim estudar o seu comportamento e encantá-los. Para Yildiz (2011) e Moreno, García e Pomar (2012), o sucesso da organização envolve, além da capacidade do prestador de serviços em satisfazer as necessidades do público-alvo, a identificação de como os clientes avaliam os serviços. Os gestores precisam conhecer os atributos mais valorizados por cada segmento de cliente e suas percepções sobre o desempenho da academia no tocante a esses fatores, pois cada consumidor pode avaliar de forma diferenciada o serviço recebido. De posse destas informações, os administradores poderão desenvolver ações que influenciem tais avaliações numa direção desejável (PARASURAMAN, ZEITHAML, BERRY, 1985). Osti (2009) acrescenta que há necessidade de elaborar estratégias focadas nos pontos críticos do serviço, direcionando os recursos para áreas que realmente importam. 17 Não obstante à crescente concorrência, o mercado das academias de ginástica enfrenta outros entraves, tais como demandas sazonais, rotatividade dos usuários entre as academias e o abandono da prática de exercícios físicos (TRIADO, APARÍCIO, RIMBAU, 1999; AGUIAR, 2007; OSTI, 2009; LINHARES, FREITAS, 2010; PEREIRA, CONTADOR, BAZANINI, 2012; SABA, 2012). Soita (2012), por sua vez, menciona que a retenção de clientes é um dos maiores desafios do setor. Logo, prosperar neste cenário altamente competitivo e instável requer que as organizações utilizem como estratégia a entrega de serviço de alta qualidade (KIM, KIM, 1995; YILDIZ, 2011). Cabe às academias, então, ofertar serviços cujo desempenho esteja alinhado às expectativas de seus clientes. Lovelock e Wright (2006) apesar de reconhecerem que as expectativas desempenham um papel importante na avaliação dos serviços, enfatizam que as mesmas podem variar entre diferentes grupos demográficos, como entre homens e mulheres, consumidores mais velhos e mais jovens ou trabalhadores de escritório e de fábrica. Esta hipótese também é comungada por teóricos da literatura de gestão de serviços em academias de ginástica, ao abordarem a influência de variáveis sociodemográficas e padrões de uso na expectativa dos clientes, tais como: gênero (CHELLADURAI, SCOTT, HAYWOOD-FARMER, 1987; KIM, KIM, 1995; TRIADO, APARÍCIO, RIMBAU, 1999; THEODORAKIS et al., 2004; AFTHINOS, THEODORAKIS, NASSIS, 2005; AGUIAR, 2007; WOOLF, 2008); faixa etária (KIM, KIM, 1995; TRIADO, APARÍCIO, RIMBAU, 1999; THEODORAKIS et al., 2004; AFTHINOS, THEODORAKIS, NASSIS, 2005; AGUIAR, 2007; WOOLF, 2008); motivos de participação (KIM, KIM, 1995; AFTHINOS, THEODORAKIS, NASSIS, 2005); nível de escolaridade (TRIADO, APARÍCIO, RIMBAU, 1999; THEODORAKIS et al., 2004; AFTHINOS, THEODORAKIS, NASSIS, 2005; AGUIAR, 2007; WOOLF, 2008); estado civil (CHELLADURAI, SCOTT, HAYWOOD-FARMER, 1987; THEODORAKIS et al., 2004; AGUIAR, 2007; WOOLF, 2008); frequência semanal de prática (AFTHINOS, THEODORAKIS, NASSIS, 2005; AGUIAR, 2007); duração do treino (AFTHINOS, THEODORAKIS, NASSIS, 2005); tempo de associação (AFTHINOS, THEODORAKIS, NASSIS, 2005; AGUIAR, 2007) e renda (AGUIAR, 2007; WOOLF, 2008). Diante dos fatos ventilados, o estudo pretende responder a seguinte questão: quais fatores sociodemográficos, motivacionais e padrões de uso influenciam as 18 expectativas dos clientes a respeito dos serviços ofertados pelas academias de ginástica situadas em Natal/RN? 1.2 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA No tocante àsimplicações gerenciais, esta pesquisa possibilitará informações aos gestores de academias de ginástica para que possam subsidiar suas tomadas de decisões em prol de uma prestação de serviço de alta qualidade. Ao conhecerem as expectativas e percepções dos clientes a cerca dos serviços ofertados, as academias disporão de dados úteis que permitem identificar em quais aspectos do serviço há lacunas de qualidade, bem como os atributos mais valorizados pelos consumidores. Assim, haverá indicadores para estabelecerem prioridades na distribuição dos recursos, visando à implementação de melhorias no serviço prestado e, consequentemente, à minimização do fenômeno da rotatividade de alunos tão peculiar ao segmento. Outro fator de grande relevância da pesquisa é a identificação de possíveis diferenças de expectativas dos clientes ocasionadas por fatores sociodemográficos, motivacionais e padrões de uso, que auxiliarão os gestores destas organizações quanto ao desenvolvimento de estratégias de marketing personalizadas que contemplem os diversos agrupamentos de clientes. Em termos de contribuições teóricas, um instrumento para avaliar a qualidade de serviços de academias de ginástica será desenvolvido com base na seleção e adaptação de atributos sugeridos por diversos pesquisadores (KIM, KIM, 1995; THEODORAKIS et al., 2004; LAM, ZHANG, JENSEN, 2005; AFTHINOS, THEODORAKIS, NASSIS, 2005; AGUIAR, 2007; YILDIZ, 2011; SOITA, 2012). Embora a atenção proferida por teóricos no tocante à percepção de qualidade de serviços esteja numa crescente, esta abordagem, na indústria do fitness, ainda tem recebido pouca atenção de pesquisas (LAGROSEN, LAGROSEN, 2007; APPIO, SILVA, TONTINI, 2009; SOITA, 2012). E este cenário não é distinto no mercado brasileiro de academias de ginástica, em especial no município de Natal/RN. No entanto, maior ênfase vem sendo colocada nos últimos anos sobre a qualidade dos serviços neste setor (LAGROSEN, LAGROSEN, 2007). Afthinos, Theodorakis e 19 Nassis (2005) relatam que as expectativas dos clientes também têm recebido relativamente pouca atenção na literatura. Estes autores acrescentam ainda que ênfase ainda menor vem sendo dada a análise de como as expectativas dos clientes diferem em termos de fatores demográficos, socioeconômicos, motivacionais e de uso. Destarte, o presente estudo tende a reduzir este défict, ao melhor compreender quais fatores impactam nos desejos dos clientes de academias de ginástica situadas em Natal/RN. Acrescenta-se que esta investigação norteia-se também nas sugestões de pesquisas futuras indicadas por Afthinos, Theodorakis e Nassis (2005) ao relatar que se faz necessário examinar as expectativas dos clientes em diferentes contextos culturais e verificar outras variáveis demográficas e padrões de uso como, por exemplo, os níveis de escolaridade e a frequência de participação. 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo geral Analisar as diferenças de expectativas ocasionadas por fatores sociodemográficos, motivacionais e padrões de uso entre os clientes de academias de ginástica situadas em Natal/RN. 1.3.2 Objetivos específicos Identificar os atributos mais importantes para a avaliação da qualidade do serviço em academias de ginástica situadas em Natal/RN; Identificar um conjunto de fatores motivacionais que determinam a aquisição de serviços em academias de ginástica situadas em Natal/RN; Identificar grupos de clientes que frequentam as academias de ginástica situadas em Natal/RN; 20 Avaliar as expectativas e as percepções de desempenho dos clientes para um conjunto de atributos dos serviços ofertados em academias de ginástica situadas em Natal/RN; Analisar as relações entre expectativas, padrões de uso, fatores sociodemográficos e motivacionais dos usários de academias de ginástica situadas em Natal/RN; Avaliar as implicações gerenciais determinadas pela matriz de oportunidades de cada academia de ginástica. 21 2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS Neste capítulo, o embasamento teórico que norteia a presente dissertação é apresentado. Inicialmente, buscou-se conhecer o conceito, as características e o encontro do serviço, ancorados em autores clássicos (PARASURAMAN, ZEITHAML, BERRY, 1985; CRONIN, TAYLOR, 1992; FITZSIMMONS, FITZSIMMONS, 2005; LOVELOCK, WRIGHT, 2006; GRÖNROOS, 2009), assim como a qualidade dos serviços, os modelos e dimensões que circundam o construto qualidade, a matriz importância-desempenho e as mais difundidas escalas de mensuração de qualidade. Posteriormente, foi abordada a gestão do serviço em academias de ginástica, fundamentado em diversos estudos empíricos (KIM, KIM, 1995; AFTHINOS, THEODORAKIS, NASSIS, 2005; AGUIAR, 2007; YILDIZ, 2011; SOITA, 2012), perpassando pelos atributos/dimensões de qualidade, peculiares ao segmento sobredito, além dos padrões de uso e fatores sociodemográficos e motivacionais encontrados na literatura acadêmica. 2.1 O SIGNIFICADO E A RELEVÂNCIA DOS SERVIÇOS O setor de serviços desempenha um papel cada vez mais importante na economia mundial (CRONIN, TAYLOR, 1992; BRADY, CRONIN, BRAND, 2002; CORRÊA; CAON, 2008). Nos Estados Unidos, consoante The World Bank Group (2006), o valor adicionado pela indústria de serviços ao Produto Interno Bruto (PIB) passou de 70%, em 1990, para 77%, em 2003. No tocante ao impacto do referido setor sobre o total de empregos na economia americana, a sua representatividade, em 2003, era de 76% (GRÖNROOS, 2009). No Brasil, em 1990, o setor de serviços agregava ao PIB um valor na ordem de R$ 3,3 milhões. Em 2011, este valor alcançou R$ 638,227 bilhões, o que representa, aproximadamente, 15,40% do PIB em valores correntes (IPEA, 2012). Em uma análise comparativa entre os anos de 2010 e 2011, houve um aumento de 2,7% no PIB brasileiro, sendo os serviços, em termos de percentuais agregados, o segundo maior contribuinte, atrás apenas da agropecuária (IBGE, 2012). 22 Acrescenta-se ainda que este segmento emprega, na economia brasileira, um quantitativo superior a 34 milhões de trabalhadores, segundo expressa Lovelock e Wright (2006). Em virtude deste panorama, o interesse de pesquisadores (PARASURAMAN, ZEITHAML, BERRY, 1985; ZEITHAML, BITNER, 2003; FITZSIMMONS, FITZSIMMONS, 2005; LOVELOCK, WRIGHT, 2006; GRÖNROOS, 2009) pela temática tem crescido proporcionalmente, especialmente por abordarem questões que envolvem a avaliação da qualidade do serviço (BRADY, CRONIN, BRAND, 2002). Cronin e Taylor (1992) veem a qualidade do serviço como um dos principais problemas enfrentados pelos gestores, o que provavelmente aguçou tais inquietações. Nesta economia pós-industrial baseada em serviços, as empresas diferenciam-se pelos serviços ofertados ao cliente, e não mais pelos seus produtos que se transformaram em commodities. Logo, torna-se imprescindível compreender o que representa o serviço. No entanto, conceituar serviços é uma tarefa árdua e complexa, em virtude da sua diversidade. Alguns acadêmicos (FITZSIMMONS, FITZSIMMONS, 2005; LOVELOCK, WRIGTH, 2006; GRÖNROOS, 2009) vem realizando esforços no sentido de clarificar o seu significado. Observa-se, entretanto, que não há um consenso entre os teóricos a respeito de uma expressão ideal que represente o vocábulo serviços. Consoante Grönroos (2009), o serviço caracteriza-se como um [...] processo, consistindo em uma série de atividades mais ou menos intangíveis que, normalmente, mas não necessariamente sempre, ocorrem nas interações entre o cliente e os funcionários de serviço e/ou recursos ou bens físicos e/ou sistemas do fornecedor de serviços e que são fornecidas como soluções para problemas do cliente (GRÖNROOS, 2009, p. 46). Nota-se que Grönroos (2009) enfatiza trêscaracterísticas essenciais dos serviços: a) a natureza de processo, forçando a produção e o consumo a procederem de forma simultânea; b) a intangibilidade e c) a participação efetiva do cliente como coprodutor, e não mero receptor do serviço. Lovelock e Wrigth (2006), por sua vez, veem o serviço como um ato ou desempenho, essencialmente intangível, ofertado por uma parte a outra e que cria benefícios em decorrência da realização de uma mudança desejada no ou em nome 23 do destinatário do serviço. Acrescentam ainda que os serviços não resultam na propriedade de nada. Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005) percebem o serviço como uma experiência, com traços de perecibilidade e intangibilidade, desenvolvida para o cliente o qual desempenha um papel de coprodutor. Face às conceituações supracitadas, constata-se que os autores caracterizam os serviços com vários adjetivos. No entanto, a intangibilidade é unânime e, conforme Frantz (2004) representa a característica que melhor define os serviços, remetendo à dificuldade em tocá-los e visualizá-los antes do processo de compra, o que desperta no consumidor os sentimentos de tensão, insegurança e incerteza. Torna-se, portanto, difícil estabelecer especificações precisas para sua elaboração que permitam uniformizar a sua qualidade (PARASURAMAN, ZEITHAML, BERRY, 1985). Para Grönroos (2009, p. 48) “a essência do serviço é a intangibilidade do fenômeno em si”. Na literatura, outras propriedades do serviço são apontadas, tais como heterogeneidade, perecibilidade e simultaneidade/inseparabilidade (FITZSIMMONS, FITZSIMMONS, 2005; LOVELOCK, WRIGTH, 2006; GRÖNROOS, 2009). Consoante Froemming (2001), devido as suas características distintas, a incerteza é um elemento predominante no âmbito dos serviços. A heterogeneidade dos serviços é reflexo do fator humano sobre o processo de produção e entrega, o que faz com que um serviço prestado a um cliente não seja exatamente similar ao mesmo serviço prestado ao cliente subsequente (FROEMMING, 2001; GRÖNROOS, 2009). Portanto, há uma dificuldade em monitorar e unificar esta variabilidade na prestação dos serviços, principalmente por não dispor de um comportamento consistente do pessoal de serviços nos momentos de interações (PARASURAMAN, ZEITHAML, BERRY, 1985). Todavia, em certas situações (por exemplo, consulta médica) as empresas de serviço reconhecem o valor de se customizar alguns aspectos da oferta de serviço segundo as necessidades e expectativas de cada cliente (LOVELOCK, WRIGTH, 2006). No tocante à perecibilidade e à simultaneidade (inseparabilidade), nota-se que há uma correlação entre as duas características, em decorrência do serviço ser uma ação ou realização, e não um bem tangível. Os serviços, em seu âmago, são produzidos e consumidos concomitantemente, o que os condicionam como perecíveis, uma vez que não podem ser estocados ou armazenados caso não sejam 24 usados (FITZSIMMONS, FITZSIMMONS, 2005; PARASURAMAN, ZEITHAML, BERRY, 1985). Segundo Lovelock e Wrigth (2006), os gestores podem manter as instalações, equipamentos e recursos humanos de prontidão para criar o serviço, entretanto, isto representa sua capacidade produtiva e não o próprio serviço. A perecibilidade dos serviços, destarte, tornam-nos mais vulneráveis ao desequilíbrio entre oferta e demanda. Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005) mencionam que esta peculiaridade e as variações sazonais na demanda requerem atenção gerencial, apontando como alternativas para amenizar os efeitos destes fenômenos: a) a suavização da demanda por meio de técnicas de agendamentos e desestímulos em períodos de pico; b) o ajuste da capacidade produtiva, e c) a espera por parte dos clientes. Face ao exposto, administrar a utilização total da capacidade de atendimento é um dos desafios gerenciais deste segmento (MICHELLI, 2008). Froemming (2001, p. 28) afirma que “estas características são intrínsecas ao serviço e são a razão pela qual se torna difícil controlar a qualidade nos serviços”. Frente a esta complexidade em administrá-los, os gestores necessitam compreender as etapas que integram o processo de compra dos serviços: pré-compra, encontro de serviço (momentos da verdade) e pós-compra (LOVELOCK, WRIGTH, 2006). Na fase pré-compra, os clientes têm consciência da necessidade, buscam informações sobre os serviços, identificam prestadores de serviço alternativos, avaliam cada opção com base nos benefícios e riscos, e selecionam àquela que atendam as suas necessidades e expectativas com a menor probabilidade de ocorrerem resultados negativos. Já nos encontros de serviço ocorrem a solicitação e a entrega do serviço por intermédio de interações entre o cliente-empresa. Por fim, a etapa pós-compra consiste na avaliação do cliente a respeito da qualidade do serviço ao confrontar aquilo que esperavam com o que realmente receberam, bem como nas intenções futuras de compra (LOVELOCK, WRIGTH, 2006). A despeito da relevância em conhecer todo o processo de compra dos serviços, Froemming (2001) enaltece o encontro de serviços ao relatar que, na percepção do consumidor, a avaliação de uma empresa de serviços, frequentemente, está atrelada à avaliação destes momentos em que o cliente interage diretamente com a ofertante do serviço. Niño (2009) ressalta que essas interações exercem um impacto crítico sobre a prestação do serviço. 25 Já para Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005), o encontro do serviço é descrito pelas relações de interesses da tríade: cliente, fornecedor do serviço e o pessoal do front office. Interesses que, muitas vezes, são fontes de conflitos, e cuja compreensão é necessária para possibilitar um encontro benéfico. Observa-se, na Figura 1, que os gestores de organizações com fins lucrativos, ao pleitear a oferta de um serviço eficiente, necessitam controlar a prestação do serviço através da imposição de regras/procedimentos. Por outro lado, esta conduta gerencial limita a autonomia do pessoal da linha de frente, o que pode ocasionar uma insatisfação do cliente já que não haverá comportamentos flexíveis da equipe para solucionar uma situação problema. Outro conflito advém da relação dos funcionários da linha de frente com os clientes, em que cada parte busca estabelecer mecanismos de controle para tornar o encontro mais benéfico para si. Figura 1 Tríade do encontro de serviço Fonte: Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005, p. 117) Diante do exposto, já que os serviços, em consonância com Zeithaml e Bitner (2003, p. 28), representam “ações, processos e atuações”, o seu consumo implica em interações entre o cliente e o prestador de serviços, as quais contribuem com as percepções que o cliente forma sobre o serviço. As autoras acrescentam que estes momentos da verdade são as ocasiões e o lugar em que a organização de serviço tem a oportunidade de mostrar ao consumidor a qualidade de seus serviços. Froemming (2001) comunga com o pensamento de Zeithaml e Bitner (2003) ao mencionar que a qualidade é percebida pelo consumidor durante os encontros de 26 serviço. Nestes momentos, os processos, resultados e a qualidade são avaliados pelos clientes, entretanto, as necessidades e expectativas diferem de acordo com o cliente e a situação. Por conseguinte, a qualidade de um serviço é balizada por aspectos subjetivos, e provavelmente percebida como sendo de extrema complexidade (NIÑO, 2009; DIAS, 2006). Em decorrência da competitividade que assola o setor de serviço, Niño (2009) elucida o quão é importante as empresas monitorarem a qualidade dos serviços sob a ótica do cliente. A partir da compreensão de quais aspectos integram a sua avaliação, os gestores poderão decidir como influenciá-las numa direção desejável (PARASURAMAN, ZEITHAML, BERRY, 1985). 2.2 QUALIDADE DE SERVIÇOS Em meados da década de 80, a obtenção da qualidade em produtose serviços passou a ser uma tendência. Contudo, os esforços para definir e modelar a qualidade, em grande parte, eram oriundos do setor de bens tangíveis. Na época, a qualidade dos serviços ainda carecia de maior ênfase e clarificação do seu significado (PARASURAMAN, ZEITHAML, BERRY, 1985; FROEMMING, 2001). Embora a qualidade seja um construto vago e indistinto, é uma das chaves para se obter sucesso em qualquer indústria, uma vez que contribui para market share, retorno do investimento, redução dos custos de fabricação e melhora da produtividade. No contexto de serviços, a qualidade é o alicerce do diferencial competitivo, porém, falar sobre qualidade sem delimitá-la tem valor limitado (PARASURAMAN, ZEITHAML, BERRY, 1985; GRÖNROOS, 2009). Para Niño (2009), a qualidade dos bens está correlacionada com suas especificações técnicas, enquanto que, em serviços, a qualidade reportar-se as percepções dos usuários. Band (1997, apud MICHELLI, 2008) menciona que a excelência dos serviços constitui-se uma ferramenta poderosa de vantagem competitiva, todavia, Grönroos (2009) alerta os gestores sobre a necessidade em compreender a qualidade do mesmo modo que os consumidores o fazem, sob pena de tomar decisões equivocadas e desperdiçar tempo e dinheiro. 27 Constatam-se, na literatura, duas grandes correntes de pensamento que tratam sobre qualidade de serviço. A primeira centra-se no paradigma da desconfirmação, apresentada inicialmente por Oliver (1980), em que a qualidade representa a medida de quão bem o nível do serviço prestado atende às expectativas do consumidor (ORTOLANI, 2005). Nesta linha, Grönroos, um dos precursores da escola Nórdica, desenvolveu um modelo bidimensional, onde o cliente avalia a qualidade do serviço por meio de um processo comparativo entre as suas expectativas (serviço esperado ou qualidade esperada) e percepções do serviço que lhes foi prestado (serviço percebido ou qualidade experimentada). O resultado deste processo é intitulado pelo autor como qualidade de serviço percebida. Nota-se ainda que diversos elementos, tais como a comunicação boca a boca e as necessidades dos clientes, influenciam as expectativas (GRÖNROOS, 1984). Este teórico acrescenta que, em decorrência do serviço ser produzido em interações entre o cliente e o prestador de serviços, há três elementos que impactam diretamente a qualidade de serviço percebida: a qualidade técnica, a qualidade funcional e a imagem. A primeira dimensão relaciona-se a “o que” o cliente recebe como resultado do processo de produção, podendo ser avaliada, muitas vezes, de maneira objetiva. A dimensão qualidade funcional corresponde à forma como o consumidor recebe o resultado técnico do serviço, ou seja, ao desempenho expressivo de um serviço. Consequentemente, a avaliação desta dimensão tem um caráter mais subjetivo. A imagem corporativa também é um fator significativo na percepção do cliente sobre a qualidade do serviço. É algo similar a um filtro. À medida que a imagem corporativa for favorável na percepção do consumidor, o mesmo estará mais propenso a desconsiderar pequenas falhas. Em contraposto, se a imagem for negativa pode facilmente maximizar os efeitos proporcionados por pequenos deslizes (GRÖNROOS, 1984). A figura 2 retrata este modelo de qualidade de serviço. 28 Figura 2 Modelo de qualidade de serviço de Grönroos Fonte: Grönroos (2009, p. 69) No tocante às suas limitações, Pinto (2009) afirma que o modelo em tela pressupõe que o cliente saberá avaliar o serviço, inclusive em sua dimensão técnica. Colmenares e Saavedra (2007) criticam também a sua posição em focar apenas o conceito de qualidade de serviços, não buscando evidências empíricas que o apoiem. Prosseguindo na mesma corrente de pensamento de Grönroos, Parasuraman, Zeithaml e Berry (1985), expoentes da escola norte-americana, na busca por modelar um arcabouço conceitual sólido para a qualidade de serviços, realizaram um estudo qualitativo exploratório, abordando quatro categorias de negócios: varejo bancário, cartões de crédito, corretagem de seguros e manutenção e reparo de produtos. Propuseram, com base no paradigma da desconfirmação, o modelo dos “gaps” de qualidade, constituído por um conjunto de cinco lacunas as quais podem representar empecilhos para a oferta de um serviço que os consumidores percebam como de qualidade elevada. Logo, incumbe aos prestadores de serviços gerenciá-las. De forma sucinta, as lacunas (Figura 3) mensuram as seguintes discrepâncias entre (PARASURAMAN, ZEITHAML, BERRY, 1985): 29 a) as expectativas dos consumidores e as percepções da administração a respeito destas expectativas (lacuna 1). Demonstra o nível de conhecimento que a gerência de uma organização detém sobre o perfil de seus clientes, intitulada também como lacuna do conhecimento (BOWERSOX, CLOSS, COOPER, 2006); b) as percepções da administração a respeito das expectativas dos consumidores e especificação da qualidade do serviço (lacuna 2). A lacuna dos padrões, conforme Bowersox, Closs e Cooper (2006), surge no momento em que os padrões internos de desempenho fixados pela organização não refletem minuciosamente as expectativas dos clientes. Para Parasuraman, Zeithaml, Berry (1985) alguns fatores contribuem para esta lacuna como, por exemplo, restrições de recursos e condições de mercado. c) as especificações da qualidade do serviço e a qualidade do serviço prestado (lacuna 3). Denominada de lacuna do desempenho, por Bowersox, Closs e Cooper (2006), esta representa a dissonância entre desempenho real e o desempenho padrão preestabelecido pela empresa. d) o serviço realmente prestado e o que é comunicado ao cliente sobre o mesmo (lacuna 4). A lacuna da comunicação ocorre, principalmente, quando a organização declara um comprometimento demasiado ou expõe um rol de promessas em relação ao serviço que não consegue cumprir (BOWERSOX, CLOSS, COOPER, 2006). Parasuraman, Zeithaml, Berry (1985) acrescentam que a comunicação externa pode influenciar tanto as expectativas quanto a percepção do cliente em relação ao serviço. e) expectativas dos clientes em relação ao serviço e a percepção destes em relação ao desempenho do serviço prestado (lacuna 5). A lacuna da satisfação ou da qualidade é resultante das demais, uma vez que discrepâncias ocorridas em outros gaps refletirão numa desconformidade entre o serviço esperado e o desempenho percebido pelo consumidor, acarretando insatisfação (BOWERSOX, CLOSS, COOPER, 2006; PARASURAMAN, ZEITHAML, BERRY, 1985). 30 Figura 3 Modelo de qualidade de serviço de Parasuraman, Zeithaml, Berry Fonte: Parasuraman, Zeithaml, Berry (1985) Outrossim, as lacunas não esgotam as maneiras pelas quais os clientes proferem seus julgamentos sobre a qualidade do serviço (LOVELOCK, WRIGHT, 2006). Observa-se esta premissa no estudo de Parasuraman, Zeithaml, Berry (1985), no momento em que os autores mencionam que, independente do tipo de serviço, os clientes ao avaliarem a qualidade do serviço utilizam-se de critérios similares. Critérios, estes, agrupados em 10 categorias denominadas determinantes de qualidade de serviço, e os quais assentam o instrumento SERVQUAL criado, subsequentemente, pelos referidos teóricos. Por fim, alvitram que a qualidade de serviço percebida está representada ao longo de um espectro que varia entre a qualidade ideal e a qualidade totalmente inaceitável, e nele há um ponto que representa a qualidade satisfatória. Nos casos em que o serviço esperado (SE) é superior ao serviço percebido (SP), a qualidade 31 percebida posiciona-se abaixo da qualidade satisfatória, bem como tenderá a se deslocar em direção à qualidade totalmente inaceitável à medida que o hiato entre SE e SP aumenta. Quando o serviço esperado equivale-se ao serviço percebido, a qualidade percebida posiciona-secomo satisfatória. E, no momento em que o serviço esperado é inferior ao serviço percebido, a qualidade percebida desloca-se para um ponto superior ao que demarca a qualidade satisfatória, e tenderá para a qualidade ideal à proporção que aumenta a amplitude da discrepância entre SE e SP (PARASURAMAN, ZEITHAML, BERRY, 1985). Grönroos (2009, p. 104) sintetiza a relevância deste construto ao afirmar que o mesmo deve ser “um guia para a gerência descobrir onde está a razão (ou razões) do problema de qualidade e encontrar meios apropriados de fechar essa lacuna”. Referente às limitações, observa-se que o modelo não se preocupou em buscar evidências empíricas que apoiassem suas proposições, provavelmente, por, na época, existir uma carência de escalas confiáveis e válidas que avaliassem precisamente as lacunas (PARASURAMAN, ZEITHAML, BERRY, 1985). Percebe-se, até então que os paradigmas conceituais de qualidade apresentados procuram avaliar as expectativas como um único valor numérico. Contudo, Zeithaml, Berry e Parasuraman (1993), em virtude da heterogeneidade dos serviços, relatam que os clientes estão dispostos a aceitar uma zona de tolerância, a qual está delimitada pelo serviço desejado (nível de serviço que o cliente almeja receber) e o mínimo aceitável ou adequado (nível de serviço mais baixo que o consumidor estaria disposto a tolerar). Portanto, as expectativas dos clientes passaram a ser caracterizadas por uma gama de níveis, em vez de um único nível. Os autores relatam também que a zona de tolerância pode variar para diferentes clientes e atributos do serviço, bem como aumenta ou diminui em função de uma série de fatores, incluindo elementos controlados pela empresa – o preço, por exemplo. Por sua vez, Zeithaml e Bitner (2003) afirmam que a zona de tolerância tende a estreitar-se para aqueles atributos do serviço que, na percepção do cliente, são mais importantes. Acrescentam ainda que quão mais importante for o atributo, os níveis de serviço desejado e adequado deslocam-se em direção ao limite superior da escala utilizada. Zeithaml, Berry e Parasuraman (1993), ao propor um modelo conceitual das expectativas do consumidor de serviços (Figura 4), discorrem a respeito dos 32 antecedentes de serviço desejado, adequado e previsto. Os níveis de serviço desejado sofrem influência das necessidades pessoais de cada cliente e dos intensificadores duradouros de serviço, os quais representam fatores estáveis que levam os clientes a se tornarem mais sensíveis a um determinado serviço do que o normal, como, por exemplo, a filosofia de serviço pessoal. Por outro lado, os níveis de serviço adequado são impactados pelos seguintes fatores (ZEITHAML, BERRY, PARASURAMAN, 1993): a) Intensificadores transitórios de serviço que correspondem a fatores de curto prazo que elevam, temporariamente, o nível mínimo tolerável de serviço (emergências, problemas anteriores com concorrentes ou com a organização no passado); b) Alternativas percebidas de serviço que compreendem as percepções dos clientes sobre a possibilidade de adquirir um melhor serviço em outros fornecedores; c) Autopercepção do papel do consumidor no serviço que define até que ponto os clientes estão cientes da sua relevância como coprodutor do serviço. Quando a prestação do serviço depende da participação dos clientes, suas expectativas são, em parte, moldadas por quão bem eles acreditam que estão realizando os seus próprios papéis; d) Fatores situacionais que significam eventualidades as quais, na ótica dos utentes, estão além da capacidade de controle do ofertante de serviços (mau tempo e catástrofes, por exemplo); e) Serviço previsto o qual representa o nível de serviço que os consumidores acreditam que provavelmente receberão. Os consumidores buscam adequar suas expectativas às percepções previamente obtidas do serviço, ou seja, caso o cliente preveja um bom serviço, o nível de serviço adequado elevar-se-á (LOVELOCK, WRIGHT, 2006) Sequencialmente, instar observar que as promessas implícitas e explicitas, a comunicação boca a boca e as experiências anteriores vivenciadas pelos clientes integram o conjunto de forças que afetam tanto o serviço desejado quanto o previsto (ZEITHAML, BERRY, PARASURAMAN, 1993). 33 Figura 4 Natureza e determinantes das expectativas dos consumidores de serviço Fonte: Adaptado de Zeithaml, Berry e Parasuraman (1993, p. 5) Contrária às predições do tradicional paradigma da desconfirmação, surgiu uma segunda corrente de pensamento centrada em postular que a qualidade em serviços devia ser mensurada, somente, a partir da percepção de desempenho do serviço. Para Cronin e Taylor (1992) pouca ou nenhuma evidência teórica ou empírica suporta a relevância do hiato entre expectativas e desempenho como alicerce para medir a qualidade do serviço. Por fim, o arcabouço conceitual ora exposto permitiu o desenvolvimento de algumas ferramentas para mensurar a qualidade do serviço, como, por exemplo, o SERVQUAL e o SERVPERF. 2.2.1 Escalas de mensuração da qualidade em serviços Medir o construto “qualidade de serviço percebida”, proposto por Grönroos, pode ser atribuído às pesquisas de Berry, Parasuraman e Zeithaml. Em 1985, estes autores, percebendo que a qualidade era um fenômeno multidimensional, identificaram dez determinantes, utilizados pelos consumidores, para avaliar a qualidade do serviço. Este quantitativo foi reduzido para cinco, em meados de 1988, 34 momento em que sugeriram a escala SERVQUAL. Este instrumento corresponde a uma tentativa de construir uma abordagem padronizada voltada para medir as percepções dos usuários em relação à qualidade de serviço, tendo como base a discrepância entre expectativas e desempenho (PARASURAMAN, ZEITHAML, BERRY, 1985; CRONIN, TAYLOR, 1992; GRÖNROOS, 2009). Construída com objetivo de melhor entender o paradigma da desconfirmação, a ferramenta SERVQUAL é composta pelas dimensões evidenciadas no Quadro 1 (CRONIN, TAYLOR, 1992; AKBABA, 2006; GRÖNROOS, 2009): Quadro 1 Dimensões da qualidade de serviço Dimensão Significado Tangibilidade Relacionado às evidências físicas, à atratividade das instalações, equipamentos e materiais em geral, bem como à aparência dos funcionários de serviço. Confiabilidade Significa a capacidade de ofertar o serviço prometido de maneira segura e com acurácia. Presteza Representa a predisposição dos funcionários em servir e ajudar prontamente o cliente. Segurança Corresponde ao conhecimento e a cortesia dos funcionários, bem como a sua capacidade em transmitir confiança e segurança. Empatia Abrange o atendimento personalizado, carinhoso e atencioso com o cliente. Fonte: Adaptado pelo autor a partir de Grönroos (2009) A operacionalidade da escala é subdividida em duas etapas. Em um primeiro momento, 22 afirmações são postas a fim de mensurar as expectativas do cliente em relação ao serviço, e, posteriormente, outras 22 declarações medem as suas percepções a cerca do desempenho dos serviços oferecidos. No tocante ao aprisionamento das expectativas e desempenhos, o modelo utiliza-se de escala Likert, normalmente, de sete pontos, variando entre “discordo totalmente” e “concordo totalmente”. Destarte, a partir da discrepância de escores atribuídos às expectativas e ao desempenho, pode-se mensurar a qualidade do serviço, sendo esta considerada suficiente caso a percepção dos consumidores sobre o desempenho do serviço seja igual ou superior ao nível de serviço esperado 35 (BABAKUS, BOLLER, 1992; BRADY; CRONIN; BRAND, 2002; AKBABA, 2006; GRÖNROOS, 2009). Por conseguinte, esta ferramenta genérica com dimensões e itens que vão além de empresas ou indústrias específicas (AKBABA, 2006), permite apontar tanto os atributos dos serviços que são falhos e necessitam serem corrigidos, quanto os aspectos quedetêm potencial para desenvolver uma vantagem competitiva. Para Andronikidis e Bellou (2010) a grande vantagem do SERVQUAL sobre as medidas alternativas (SERVPERF, por exemplo), é a sua capacidade de diagnóstico, e, portanto, a sua aplicação prática. Não obstante a sua relevância para o desenvolvimento de pesquisas na área de qualidade de serviços, o instrumento SERVQUAL tem sido objeto de críticas, conceituais e operacionais, proferidas por inúmeros teóricos, tais como Carman (1990), Cronin e Taylor (1992), Babakus e Boller (1992), e Teas (1993,1994), conforme relatado por Akbaba (2006). Algumas destas objeções referem-se à utilização de escores para medir o gap entre expectativas e desempenho, o tamanho do questionário, o poder preditivo do instrumento em virtude da dificuldade de conceituar e medir a expectativa, e a validade da estrutura das cinco dimensões (JAIN, GUPTA, 2004). Para Babakus e Boller (1992) e Jain e Gupta (2004), utilizar-se de pontuações para medir a discrepância entre as expectativas e o desempenho mostra-se intuitivamente atraente. Porém, a capacidade deste procedimento em fornecer uma informação adicional àquela já contida no componente “percepção” da escala é posto em dúvida (BRADY, CRONIN, BRAND, 2002). Segundo Cronin e Taylor (1992), o paradigma da desconfirmação é falho, e em virtude disso a qualidade do serviço deveria ser medida como uma atitude. Logo, nota-se que as pontuações que formam o gap são a base do problema (HEMMASI, STRONG, TAYLOR, 1994). Observam-se ainda percalços de medição associados ao paradigma da desconfirmação. Os estudos desenvolvidos por Teas (1993, 1994) constataram, por exemplo, que uma lacuna de magnitude “-1”, para uma escala Likert de sete pontos, pode ser produzida de seis maneiras distintas, portanto, não devem ser interpretadas como de igual deficiência em termos de qualidade (JAIN; GUPTA, 2004). Akbaba (2006) acrescenta que o termo expectativas é polissêmico e que há pouca evidência de que os consumidores avaliam a qualidade do serviço em termos do gap em questão. 36 Outras críticas feitas relacionam-se aos seguintes fatos: a SERVQUAL centra- se no processo de prestação de serviços, ao invés dos resultados; a polaridade invertida dos itens na escala pode induzir os respondentes ao erro e demandar mais tempo para lê-los; a escala de Likert de sete pontos é frágil e administrar as duas fases do instrumento pode provocar tédio e confusão (BABAKUS, BOLLER, 1992; AKBABA, 2006). Há também controvérsias quanto à estrutura generalizada de determinantes da qualidade percebida de serviço (BABAKUS, BOLLER, 1992; MIGUEL, SALOMI, 2004). Grönroos (2009) afirma que alguns estudos revelaram que as cinco dimensões do SERVQUAL são universais para as diversas tipologias de serviço, em contrapartida, outros indicam não ter encontrado um conjunto padrão. Yildiz e Kara (2012) corroboram este pensamento ao expor que o referido instrumento é contestado pelas inconsistências na dimensionalidade. Akbaba (2006), Colmenares e Saavedra (2007) relataram que as dimensões e atributos, que o integram, necessitam ser contextualizados. Faz-se necessário, portanto, customizá-los para o setor em que a investigação será procedida. No entanto, Babakus e Boller (1992), como sugestão para pesquisas futuras, mencionam que não é frutífero prosseguir no desenvolvimento de uma escala padrão de medição de qualidade, e que seja aplicável a uma ampla variedade de serviços. Cronin e Taylor (1992) expõem que ao compararmos as escalas SERVPERF e SERVQUAL, nota-se que a primeira é mais eficiente, uma vez que reduz em 50% o quantitativo de itens que devem ser medidos, passando de 44 para 22 afirmações. Isto ameniza os efeitos de enfado que o tamanho do questionário pode proporcionar ao ser aplicado. Eivado das limitações expostas, Hemmasi, Strong e Taylor (1994) questionam-se sobre o que fazer com os dados de qualidade capturados por meio da escala SERVQUAL. Sugerem que os gestores usufruam das informações derivadas das subescalas de expectativa e desempenho, especificamente, ao posicionarem os escores na matriz importância-desempenho, desenvolvida por Martilha e James (1977). Assim, conseguirão identificar as áreas em que a redistribuição estratégica de recursos pode garantir uma melhora na qualidade de serviço. Vale frisar que os mapas importância-desempenho também são abordados por Cronin e Taylor (1994) retratando-os como uma ferramenta que pode ser utilizada para obter informações adicionais a partir da escala SERVPERF. 37 Em virtude da imprecisão do conceito de expectativas, alguns teóricos, como Cronin e Taylor (1992) e Babakus e Boller (1992), salientam a necessidade de desenvolver uma escala, metodologicamente, mais precisa. A escala SERVPERF surgiu para preencher esta fenda. Desenvolvida e testada inicialmente por Cronin e Taylor (1992), é uma ferramenta alternativa para mensurar a qualidade de serviços numa escala atitudinal, a partir unicamente da medida do desempenho do serviço. Logo, o SERVPERF, por ser uma variante da escala SERVQUAL, contempla os 22 itens que formam a subescala “desempenho” (CRONIN, TAYLOR, 1992; JAIN, GUPTA, 2004; MIGUEL, SALOMI, 2004). Apoiados em uma pesquisa quantitativa, realizada em quatro ramos de atividades do setor de serviço (bancos, detetizadoras, lavanderias e fast food), Cronin e Taylor se propuseram a responder, dentre outros questionamentos, o seguinte: qual medida melhor representa a qualidade em serviço – SERVQUAL, SERVQUAL ponderado, SERVPERF ou SERVPERF ponderado? Os resultados indicaram que a escala SERVPERF não ponderada foi superior aos modelos alternativos citados, pois explicou a maior variação na medida global de qualidade de serviço (CRONIN, TAYLOR, 1992). Além de preceitos teóricos, os autores forneceram evidências empíricas que recomendam que a escala SERVQUAL é falha, ao relatarem que o seu modelo estrutural de itens confirmou-se em apenas duas das quatro indústrias analisadas. Acrescentam ainda que, em relação à dimensionalidade da qualidade de serviço, a análise fatorial realizada não confirmou, em nenhum dos segmentos estudados, a estrutura de cinco dimensões proposta por Parasuraman, Zeithaml, e Berry em 1988. Assim, o peso das evidências, claramente, fundamenta o uso de medidas de qualidade de serviço baseadas no desempenho, ratificando, assim, a não necessidade de quantificar as expectativas do consumidor (CRONIN, TAYLOR, 1992). Niño (2009) relata que o instrumento SERVPERF é de fácil operacionalização e apresenta melhores indíces de confiabilidade quando comparada à escala SERVQUAL. Parasuraman, Zeithaml e Berry (1994) apresentam críticas à escala SERVPERF. Merece ênfase as palavras dos téoricos ao citarem que Cronin e Taylor, no desenvolvimento do referido intrumento, justificaram suas hipóteses de pesquisa em uma literatura não convincente e questionável. Por conseguinte, 38 reafirmaram que a qualidade de serviço está centrada na discrepância entre expectativas e percepções. Alvitram-se ainda que as medidas baseadas no paradigma da desconfirmação fornecem informações mais ricas e tem maior valor de diagnóstico para os gestores. Cronin e Taylor (1994), em resposta aos acadêmicos supracitados, argumentaram que tais contestações pareciam estar mais relacionadas com uma questão de interpretação do que com a substância dos preceitos teóricos que embasam o SERVPERF. Adicionaram que a literatura emergente claramente suportava as conclusões originais de Cronin e Taylor (1992). Aguçando o debate, Andronikidis e Bellou (2010) realizaram um estudo, no segmento de autorreparo de automóveis na Grécia, com objetivo de avaliar a dimensionalidade e o poder de diagnóstico das seguintes escalas: SERVQUAL, SERVQUAL ponderado, SERVPERF e SERVPERF ponderado. Com base em dados de 1043 clientes, osresultados evidenciaram a multidimensionalidade do construto qualidade de serviço, entretanto, a análise fatorial exploratória confirmou as cinco dimensões propostas por Berry, Parasuraman e Zeithaml apenas no caso do instrumento SERVPERF ponderado. Para a escala SERVQUAL, por exemplo, somente três fatores emergiram. Estes achados contradizem a proposição de Cronin e Taylor (1992) em relação à unidimensionalidade das escalas. Destarte, os autores sugerem que as escalas SERVQUAL, SERVPERF e SERVQUAL ponderado sejam utilizadas com cautela, uma vez que podem produzir resultados enganosos. Por outro lado, em consonância com os ensinamentos de Cronin e Taylor (1992), concluem que a escala SERVPERF ponderado é superior em relação às demais, no tocante ao poder de diagnóstico (ANDRONIKIDIS, BELLOU, 2010). Face ao exposto, percebe-se que não há um consenso, na literatura, sobre qual dos construtos, SERVPERF ou SERVQUAL, é o mais eficaz e apropriado (BRADY, CRONIN, BRAND, 2002; JAIN, GUPTA, 2004; MIGUEL, SALOMI, 2004). Nota-se, apenas, que é crescente a preocupação das organizações com a variável qualidade, conforme apontam Andronikidis e Bellou (2010) ao afirmarem que o papel da qualidade do serviço para a sobrevivência e êxito da empresa é de extrema importância. Logo, as escalas apresentadas neste tópico são um dos meios que permitem aos gestores diagnosticar quais são as principais deficiências de qualidade e, consequentemente, traçar ações mitigadoras. 39 2.2.2 Matriz importância-desempenho A matriz importância-desempenho caracteriza-se como uma técnica gerencial eficaz, de fácil aplicação, que permite avaliar a posição competitiva de uma organização no mercado. Introduzida por Martilha e James, em 1977, a matriz sustenta que o construto qualidade é descrito em função das dimensões importância e desempenho do atributo do produto ou serviços. Tem como objetivo identificar quais os atributos fortes do serviço e aqueles que devem ser, prioritariamente, objetos de melhoria (GARVER, 2003; DENG, 2008; YILDIZ, 2011; PRAJOGO, MCDERMOTT, 2011). Consoante Hemmasi, Strong e Taylor (1994), o modelo sobredito foi desenvolvido para ser uma técnica poderosa e conceitualmente válida com intuito de determinar as áreas da qualidade de serviço que requerem ações corretivas estratégicas. O método consiste em situar os pares ordenados, formado pelos escores médios das respostas para importância e desempenho de cada atributo, numa matriz 2 por 2, cujo eixo das abscissas reflete a dimensão importância, enquanto que o das ordenadas o fator desempenho (DENG, 2008). Yildiz (2011), por sua vez, esclarece que o desempenho refere-se às percepções dos clientes a respeito de como um serviço é prestado por uma organização, enquanto que a importância retrata uma manifestação do valor relativo atribuído pelos clientes a um serviço. Apesar de sua simplicidade, observam-se, nas entrâncias literárias, que alguns estudos tem modificado e ampliado a análise importância-desempenho, todavia, a estrutura básica permaneceu a mesma (DENG, 2008). Três abordagens merecem ênfase: uma retratada por Slack, Chambers e Johnston (2008), outra mencionada por Albrecht e Bradford (1992) e, por último, aquela evidenciada por Stock e Lambert (2001). No tocante a abordagem proferida por Slack, Chambers e Johnston (2008), a matriz é retratada como um framework que posiciona cada fator competitivo de acordo com sua importância e desempenho, permitindo, assim, traçar prioridades para melhoramentos (SLACK, CHAMBERS, JOHNSTON, 2008; YILDIZ, 2011). Os referidos autores estabeleceram quatro zonas ou quadrantes, as quais servem como eixos norteadores de estratégias. Nomeou-as da seguinte forma: excesso, 40 adequado, melhoria e ação urgente, conforme representado na Figura 5 (SLACK, CHAMBERS, JOHNSTON, 2008). Figura 5 Matriz importância-desempenho proposta por Slack, Chambers e Johnston Fonte: Adaptado de Slack, Chambers e Johnston (2008, p. 599) Partindo da análise destas zonas, percebem-se dois pontos críticos. No caso do fator competitivo ser de alta importância para os consumidores e o desempenho da empresa for inferior ao da concorrência, os gestores devem tomar ações prioritárias e imediatas, uma vez que negócios provavelmente estão sendo perdidos em consequência deste fenômeno. Logo, os atributos avaliados estão situados na zona de ação urgente. Nesta situação, a empresa deve fixar como objetivo de curto prazo aprimorar o desempenho dos fatores situados neste quadrante, pelo menos, até a zona de melhoria (DENG, 2008; SLACK, CHAMBERS, JOHNSTON, 2008, DAGOSTIM PICOLO, TONTINI, 2008; PRAJOGO, MCDERMOTT, 2011). Outro posicionamento crítico ocorre quando o desempenho da empresa é superior ao da concorrência, todavia, o atributo configura-se de baixa relevância para os clientes (zona de excesso). Nesta hipótese, podem-se realizar ações de marketing que induzia os clientes a valorizarem os atributos situados neste quadrante, ou optar em desinvestir rapidamente e remanejar os recursos, por 41 exemplo, para os atributos que estejam na zona de ação urgente (SLACK, CHAMBERS, JOHNSTON, 2008; PRAJOGO, MCDERMOTT, 2011). Prosseguindo o raciocínio, nota-se que os atributos ao situarem na zona adequada, eles estão em níveis satisfatórios para as necessidades da empresa. É o que ocorre com os atributos de alta importância e alto desempenho, os quais devem ser mantidos, alavancados e fortemente promovidos. Portanto, as empresas devem manter o bom trabalho, já que este quadrante representa uma área que contribui para a construção de vantagem competitiva. Por fim, os atributos que se posicionam na zona de melhoria, certamente, eles precisam ser aprimorados, mas, provavelmente, não como primeira prioridade (DENG, 2008; SLACK, CHAMBERS, JOHNSTON, 2008; DAGOSTIM PICOLO, TONTINI, 2008; PRAJOGO, MCDERMOTT, 2011). Já Albrecht e Bradford (1992), conforme ilustrado na Figura 6, estabeleceram uma nova roupagem para a análise importância-desempenho, a qual foi nomeada como matriz dos atributos do serviço. Figura 6 Matriz dos atributos do serviço Fonte: Albrecht e Bradford (1992, p. 157) 42 Em vez de quatro zonas como apontam os ensinamentos de Slack, Chambers e Johnston (2008), Albrecht e Bradford (1992) subdividiram-na em cinco quadrantes intitulados da seguinte maneira: vulnerabilidade competitiva (similar à zona de ação urgente); superioridade irrelevante (equivalente à zona de excesso); força competitiva (corresponde a zona adequada); relativa indiferença (equivalente à zona de melhoria) e zona cinzenta. Esta última refere-se à região em que desempenho e importância são neutros, ou seja, a empresa está no mesmo patamar dos concorrentes, consequentemente, perde em diferenciação de mercado. Seguindo a discussão, Stock e Lambert (2001) propõem duas matrizes que devem ser utilizadas em conjunto, sob pena de indicar conclusões imprecisas a respeito de quais atributos devem ser melhorados. Primeiramente, os autores apresentam a matriz de posicionamento competitivo. Consiste em um método que permite confrontar o desempenho relativo com o grau de importância conferido ao atributo, analisando-os concomitantemente. Vale salientar que o desempenho relativo corresponde às lacunas entre as avaliações de desempenho de uma firma e do seu principal concorrente (benchmark). Neste sentido, para os atributos em que o desempenho relativo possui valores positivos, conclui-se que a empresa analisada apresenta um desempenho superior aos demais concorrentes. Caso o desempenho relativo apresente escores negativos, pode-se afirmar que, para os atributos em que isto é evidenciado, existem outras empresas que os executam de forma mais eficiente e eficaz do que a organização analisada (STOCK, LAMBERT, 2001; GARVER, 2003; THEODORAS, LAIOS, MOSCHURIS,
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