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TCC - Alunos, Tharles e Evanilson (2020) - OS ASPECTOS JURÍDICOS DA ENTRADA POLICIAL EM DOMICÍLIO À LUZ DOS TRIBUNAIS SUPERIORES

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA AMAZÔNIA – UNAMA 
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO 
 
 
THARLES ALMEIDA DA SILVA 
EVANILSON DA SILVA VASCONCELOS 
 
 
 
 
 
 
 
OS ASPECTOS JURÍDICOS DA ENTRADA POLICIAL EM DOMICÍLIO À LUZ 
DOS TRIBUNAIS SUPERIORES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTARÉM-PA 
2020
 
 
THARLES ALMEIDA DA SILVA 
EVANILSON DA SILVA VASCONCELOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OS ASPECTOS JURÍDICOS DA ENTRADA POLICIAL EM DOMICÍLIO À LUZ 
DOS TRIBUNAIS SUPERIORES 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso – Artigo Científico –, 
apresentado à Coordenação do Curso de Direito da Unama – 
Centro Universitário da Amazônia, como requisito para 
obtenção do título de Bacharel em Direito. 
Orientadora: Professora Especialista: Fabiana Perez Carvalho 
Barbosa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTARÉM-PA 
2020
 
 
THARLES ALMEIDA DA SILVA 
EVANILSON DA SILVA VASCONCELOS 
 
 
 
 
 
 
OS ASPECTOS JURÍDICOS DA ENTRADA POLICIAL EM DOMICÍLIO À LUZ 
DOS TRIBUNAIS SUPERIORES 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso – Artigo Científico –, 
apresentado à Coordenação do Curso de Direito da Unama – 
Centro Universitário da Amazônia, como requisito para 
obtenção do título de Bacharel em Direito. 
 
 
Aprovada em ____/____/____. 
 
_________________________________________________________________ 
Professor Orientador 
 
 
_________________________________________________________________ 
Professor(a) Examinador(a) 
 
 
_________________________________________________________________ 
Professor(a) Examinador(a) 
 
 
 
SANTARÉM-PA 
2020
 
 
AGRADECIMENTOS 
Tharles Almeida da Silva 
 
Agradeço a Deus por ter me dado forças para chegar até aqui e ter a oportunidade de 
realizar esse trabalho para a conclusão de um sonho. Não foi fácil, muitas vezes pensei em 
desisti, mas ele segurou em minha mão e caminhou comigo. 
À minha esposa Dayane Iara Weirich da Silva, pela compreensão e palavras de apoio 
nas horas mais difíceis, pois ela acompanhou minha luta diária na realização dos trabalhos, 
uma parte desse curso também é dela. 
Quero agradecer também ao meu pai Agimiro Barbosa da Silva, que sempre foi a 
minha maior força motriz nos estudos, uma vez que ele não teve a oportunidade de estudar e 
sempre sonhou em ver os filhos se formarem e conseguirem seu lugar ao sol. 
À minha querida e amada mãe Jucenira Almeida Da Silva, que sempre me dizia que 
estava ali para me apoiar e jamais iria deixa eu parar. Ela me colocou para estudar desde cedo 
e mesmo sem condições dava um jeito para conseguir vagas em cursos nos melhores lugares. 
À minha orientadora, Fabiana Perez Carvalho Barbosa, por toda paciência, motivação 
e compreensão na elaboração desse trabalho. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Evanilson da Silva Vasconcelos 
 
Agradeço, primeiramente a Deus, que me deu energia e benefícios para concluir todo 
esse trabalho. 
Agradeço a minha família, em especial a minha esposa Maria de Jesus Mendonça de 
Vasconcelos e meu Filho Evanilson Matheus Mendonça de Vasconcelos. 
Aos meus colegas de classe, em especial Tharles Almeida, meu parceiro neste 
trabalho. 
Enfim, agradeço a todos as pessoas que fizeram parte dessa etapa decisiva em minha 
vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O homem mais pobre desafia em sua casa todas as 
foças da Coroa. Sua cabana pode ser muito frágil, 
seu teto pode tremer, o vento pode soprar entre as 
portas mal ajustada, a tormenta pode nela penetrar, 
mas o Rei da Inglaterra não pode nela entrar” 
(LORD CHATAN). 
 
 
OS ASPECTOS JURÍDICOS DA ENTRADA POLICIAL EM DOMICÍLIO À LUZ 
DOS TRIBUNAIS SUPERIORES 
Evanilson Da Silva Vasconcelos1 
Tharles Almeida Da Silva2 
 
RESUMO: O domicílio é algo inviolável, ninguém tem o poder de adentrar a casa de qualquer pessoa sem o seu 
consentimento. A constituição federal traz em seu artigo 5° inciso XI direitos e garantias fundamentais a 
inviolabilidade domiciliar, no entanto isto não pode ser utilizado como um escudo para o cometimento de 
crimes. O drama começou quando o plenário do supremo tribunal federal (STF) decidiu o Recurso 
Extraordinário (RE) 603613, de repercussão geral, com maioria dos votos de que “ a entrada forçada em 
domicilio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, 
devidamente justificada a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob 
pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados”. 
O presente estudo tem a finalidade de descrever a entrada policial em domicilio na busca domiciliar enfatizando 
sua aplicabilidade e legalidade. A metodologia utilizada para a concretização do mesmo efetivou-se através de 
uma pesquisa bibliográfica e descritiva, tendo como base trabalhos voltados ao tema em análise. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Entrada policial em domicílio. Fundadas razões. Mandado judicial. Flagrante delito. 
 
 
ABSTRACT: The home is something inviolable, no one has the power to enter anyone's home without their 
consent. The federal constitution has in its article 5 item XI fundamental rights and guarantees, this 
commandment , however this cannot be used as a shield for the commission of crimes. The drama began when 
the plenary of the supreme federal court (STF) decided on Extraordinary Appeal (RE) 603613, of general 
repercussion, with the majority of votes that “forced entry into the home without a warrant is only lawful, even at 
night, when supported by well-founded reasons, duly justified a posteriori, which indicate that inside the house 
there is a situation of flagrant delicto, under penalty of disciplinary, civil and criminal liability of the agent or 
authority and nullity of the acts performed ”. This study aims to describe police entry into the home in the home 
search, emphasizing its applicability and legality. The methodology used to implement it was carried out through 
a bibliographic and descriptive research, based on works focused on the subject under analysis. 
 
KEYWORDS: Police entry at home. Well-founded reasons. Court order. Flagrant offens. 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente artigo visa analisar os aspectos jurídicos da entrada policial em domicílio à 
luz dos tribunais superiores. Referente ao liame entre os direitos fundamentais, a 
inviolabilidade domiciliar e a utilização do domicílio como escudo para o cometimento de 
crimes, o direito de todos os cidadãos está resguardado, principalmente, na Constituição 
Federal em especial o que será analisado por este trabalho. Referimo-nos ao Art. 5º XI, que 
versa sobre a inviolabilidade domiciliar, cabendo ao Estado o dever de assegura-lo. 
O interesse por essa temática surgiu com o fato de observarmos que a polícia militar 
adentra residências, a fim de cessar crimes em andamento prendendo criminosos e 
 
1Acadêmico do Curso de Direito do Centro Universitário da Amazônia – UNAMA. Turma 9ºDIN. E-mail: 
evanilsonstm@hotmail.com. 
2Acadêmico do Curso de Direito do Centro Universitário da Amazônia – UNAMA. Turma 9ºDIN. E-mail: 
tharlesilva@gmail.com. 
 
 
apreendendo objetos do crime, sem o mandado judicial e com isso surgiu o interesse de 
realizar um estudo mais aprofundado sobre esse tema. 
O item dois traz uma análise sobre a vinda cumulativa da dimensão ou geração dos 
direitos, cumpre salientar que os direitos de primeira dimensão são as liberdades negativas do 
Estado, uma abstenção por parte do Estado. No entanto, isso não garante de fato a liberdade 
de ninguém, apenas uma falsa liberdade, porque somente quem for “mais forte” irá alcançá-
la-á. Para ter a efetiva liberdade, o poder estatal tem que garantir este direito, o qual começa a 
partir da segunda dimensão de direitos. 
O item três abordaráo tema domicílio, como um lugar de gravitação do ser humano, 
local onde é escolhido para sua moradia permanente, construção de laços familiares, criação 
de filhos, lazer, descanso, privacidade e intimidade. Também traremos a visão no aspecto 
civil, mais restrito, conforme o Art. 70 do código civil e uma visão mais ampla trazida pelo 
Art. 72 do código de processo penal. 
No item quatro são analisados os aspectos históricos da busca e apreensão que teve 
início na Roma antiga com a edição da Lei Das XII Tábuas, uma exigência dos plebeus, a fim 
de terem mais liberdade e conhecerem a lei a qual estavam submetidos. E, por conseguinte, 
será feita a análise dos dias contemporâneos sobre a legislação em vigor que se materializa 
nos artigos 240 a 250 do CPP. 
O item cinco versa sobre os fundamentos para a busca domiciliar realizada pela polícia 
segundo os tribunais superiores, trazendo diversos doutrinadores e julgados do Supremo 
Tribunal de Justiça referentes a temática, demonstrando qual seu posicionamento e um 
julgado em especial do Supremo Tribunal Federal que põe fim a quaisquer dúvidas sobre o 
tema. Segundo o julgamento do Recurso Extraordinário – RE nº 603.616, “a entrada forçada 
em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada 
em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa 
ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do 
agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados”. 
O item seis, consta as considerações finais, expondo o substrato essencial no 
entendimento da licitude da entrada policial em domicilio à luz dos tribunais superiores, 
entende-se que é plenamente possível a entrada forçada em domicílio, no entanto deve ser 
amparada por fundadas razões e devidamente justificada após o termino da ação. 
 
 
 
 
2 DOS DIREITOS CONSTITUCIONAIS DE PROTEÇÃO À INDIVIDUALIDADE 
 
As garantias e os direitos fundamentais foram conquistados gradativamente em 
diversos períodos como conta a história, estes ficaram conhecidos como gerações ou 
dimensões de direitos. O início dos direitos fundamentais ficou tradicionalmente conhecido 
como de primeira geração, fala das liberdades negativas do Estado, buscando restringir as 
ações estatais sobre o indivíduo, impedido que este se intrometa de forma abusiva na vida 
particular das pessoas, são os direitos que valorizam o homem em primeiro lugar, garante ao 
cidadão direito à liberdade e impõe ao Estado o dever de abstenção, como afirma Flavia Bahia 
(2012): 
A primeira dimensão é conhecida por inaugurar o movimento constitucionalista, 
fruto dos ideários iluministas do século XVIII. Os direitos defendidos nessa 
dimensão cuidam da proteção das liberdades públicas e dos direitos políticos. 
Atualmente, quase todas as Constituições existentes os consagram, mesmo aquelas 
de Estados onde impera a sua escancarada violação como, por exemplo, os 
ditatoriais. Os titulares são os indivíduos, que os exercem contra os poderes 
constituídos dos Estados. Nessa fase, o Estado teria um dever de prestação negativa, 
isto é, um dever de nada fazer, a não ser respeitar as liberdades do homem. Seriam 
exemplos desses direitos: o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à 
manifestação, à expressão, ao voto, ao devido processo legal (BAHIA, 2017, p. 
108). 
 
Os direitos de primeira geração garantem ao cidadão o direito de viver a vida em 
liberdade sem ter sua liberdade individual violada pelo Estado, podendo ser livre em seus 
direitos civis e políticos ofuscando as restrições do Estado. E tal direito de liberdade estava 
positivado em constituições escritas, garantindo assim ainda mais a seguridade desses direitos, 
sendo um avanço notável nos direitos naturais com um texto normativo descriminando a 
abstenção Estatal, como comenta o professor Pedro Lenza: 
Essa perspectiva de codificação do direito civil como regulador das relações 
privadas é fortalecida pela principiologia do liberalismo clássico, que enalteceu a 
ideia de liberdade meramente formal perante a lei e de não intervenção do Estado 
(direitos de primeira “geração, ou, mais tecnicamente, de primeira “dimensão”) 
(absenteísmo estatal), tema que será retomado no estudo dos direitos fundamentais 
(LENZA, 2018, p. 88). 
 
Em ordem cumulativa aos direitos da primeira geração, veio a segunda 
geração/dimensão de direitos fundamentais, este requer um Estado mais atuante, pois com os 
governantes distantes de intervenções sociais, não havia a garantia de liberdade material, 
assim só poderia se concretizar com as afirmações positivas do Estado, devendo agir, a fim 
de garantir direitos sociais, econômicos e culturais defesa da lei e da ordem social devendo 
garantir ao cidadão a tão sonhada igualdade. Dessa maneira assevera Gilmar Mendes (2018): 
 
 
 
O princípio da igualdade de fato ganha realce nessa segunda geração dos direitos 
fundamentais, a ser atendido por direitos a prestação e pelo reconhecimento de 
liberdades sociais – como a de sindicalização e o direito de greve. Os direitos de 
segunda geração são chamados de direitos sociais, não porque sejam direitos de 
coletividades, mas por se ligarem a reivindicações de justiça social – na maior parte 
dos casos, esses direitos têm por titulares indivíduos singularizados (MENDES & 
BRANCO, 2018, p. 201). 
 
Para melhor entender o nascimento dos direitos de segunda dimensão, foi para 
assegurar a liberdade de fato já garantida nos direitos de primeira dimensão, pois não faria 
sentindo possuir um direito formalmente garantido, se o que se quer realmente é a sua 
materialização. Com a constante evolução social fez-se necessária a adaptação do que está 
positivado, devendo o legislador constantemente atualizar a norma. Com isso, os direitos de 
primeira dimensão se materializaram com a segunda dimensão de direitos, trazendo um 
Estado mais presente e intervindo nas liberdades individuais, a fim de garantir a liberdade 
social e a igualdade. Segundo atesta Ingo Sarlet (2018): 
O impacto da industrialização e os graves problemas sociais e econômicos que a 
acompanharam, as doutrinas socialistas e a constatação de que a consagração formal 
de liberdade e igualdade não gerava garantia do seu efeito gozo acabaram, já no 
decorrer do século XIX, gerando amplos movimentos reivindicatório e o 
reconhecimento progressivo de direitos, atribuindo ao Estado comportamento ativo 
na realização da justiça social. A nota distintiva destes direitos e a sua dimensão 
positiva, uma vez que se cuida não mais de evitar a intervenção do Estado na esfera 
da liberdade individual, mas, sim, na lapidar formulação de Celso Lafer, de propicia 
um direito de participar do bem-estar social (SARLET & MITIDIERO, 2018, p. 
332). 
 
Nesse contexto, surgiu o dever do Estado de preservar e manutenção da ordem 
pública e a segurança dos que vivem em sociedade. Não existe qualquer contradição entre os 
direitos de primeira dimensão ou geração em contraste com os de segunda dimensão ou 
geração, mas sim um complemento, porque com a garantia dos direitos individuais surgem 
automaticamente os limites, por isso é importante destacar que o direito de um cidadão é o 
limite do outro, nessa direção Maria Sylvia Zanella Di Pietro discorre (2018): 
O tema relativo ao poder de polícia e um daqueles em que se coloca em confronto 
esses dois aspectos: de um lado, o cidadão quer exercer plenamente os seus direitos; 
de outro, a Administração tem por incumbência condicionar o exercício daqueles 
direitos as bem-estar coletivo, e ela faz usando o poder de polícia. Não existe 
qualquer incompatibilidade entre os direitos individuais e os limites a eles opostos 
pelo poder de polícia do Estado (DI PIETRO, 2018, p. 192). 
 
Dando sequência a esse entendimento, Maria Helena Di Pietro observa que as 
liberdades negativas do Estado foram um avançomuito importante, no entanto, com a 
evolução desse direito fundamental surgiram as liberdades positivas do estado, as quais 
fizeram a materialização concreta desses direitos. Dessa forma, o poder de polícia vem 
 
 
ganhando mais força a cada dia, pois com essa evolução surgiu os interesses coletivos se 
sobrepondo aos interesses individuais. 
A sociedade já não pensa mais apenas no individual, mais em toda uma coletividade 
que pode ser atingida com a atitude de um único indivíduo, por isso e importante destacar que 
o direito de um cidadão e o limite do outro. Nessa toada ensina Maria Sylvia Zanella Di Pietro 
(2018): 
Em nome do primado do interesse público, inúmeras transformações ocorreram: 
houve uma ampliação do próprio conceito de serviço público. O mesmo ocorreu 
com o poder de polícia do Estado, que deixou de impor obrigações apenas negativas 
(não fazer) visando resguardar a ordem pública, e passou a impor obrigações 
positivas, além de ampliar o seu campo de atuação, que passou a abranger, além da 
ordem pública, e passou a impor obrigações positivas, além de ampliar o seu campo 
de atuação, que passou a abranger, além da ordem pública, também a ordem 
econômica e social (DI PIETRO, 2018, p. 134). 
 
Com advento do dever de prestações positivas do Estado nasce o poder de polícia, 
para disciplinar o interesse público sobre o privado, garantindo ao interesse social o direito de 
sobrepor ao individual, por isso, temos hoje em dia as limitações de particulares em virtude do 
bem-estar coletivo. O interesse público diz respeito aos mais variados setores da sociedade 
como segurança, propriedade, saúde, educação, sossego, paz social entre outros. Encontra-se 
o conceito legal do poder de polícia no Art. 78 do código tributário nacional: 
Art. 78 - Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, 
limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou 
abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, 
à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de 
atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à 
tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou 
coletivos (...). 
 
O Estado fazendo seu papel administrativo lança mão do poder de polícia em 
benefício da coletividade, limitando os direitos individuais. Como já visto anteriormente, não 
faz sentido ter uma norma positivada, caso ela não seja materialmente garantida, de nada 
adiantaria leis apenas declaratórias. O que de fato a sociedade reivindica são atitudes Estatais, 
capazes de garantir seus direitos individuais e coletivos, aceitando a limitação deste primeiro 
em beneficio deste segundo, por isso o Estado adotou o poder de polícia “[...] representa uma 
atividade estatal restritiva dos interesses privados, limitando a liberdade e a propriedade e a 
propriedade individua em favor do interesse público”(MAZZA, 2012, p. 266). Dessa maneira, 
assevera Derlisson de Araújo Gonçalves: 
Sabe-se que é dever do Estado prever e manter a ordem e a segurança dos cidadãos 
em sociedade. É, por meio de seus agentes, que o mesmo procura consolidar 
métodos coercitivos e sancionadoras, capazes de reduzir condutas particulares que 
de alguma forma afetam negativamente ao próprio Estado ou a coletividade 
(GONÇALVES, 2019, p. 9). 
 
 
 
Observa-se que os Estados veem criando normas positiva para a sociedade, 
garantindo as pessoas liberdades materiais concretas, a fim de que as normas reproduzidas 
pelo legislativo sejam de fato o desejo da sociedade. A doutrina vê essas conquistas de forma 
gradativa, que são positivadas com a evolução da sociedade, podemos observar na 
Constituição Federal Brasileira no capítulo – I “dos direitos e deveres individuais e coletivos”, 
já assegurados pelo constituinte originário. Como afirma o professor Ingo Sarlet: 
Tais direitos fundamentais, que embrionária e isoladamente já haviam sido 
contemplados nas Constituições francesas de 1793 e 1848, na Constituição brasileira 
de 1824 e na Constituição alemã de 1849 (que não chegou a entrar efetivamente em 
vigor), caracterizam-se, ainda hoje, por assegurarem ao indivíduo direitos a 
prestações sociais por parte do Estado, tais como prestações de assistência social, 
saúde, educação, trabalho etc., revelando uma transição das liberdades formais 
abstratas para as liberdades materiais concretas, utilizando-se a formulação preferida 
na doutrina francesa (SARLET & MITIDIERO, 2018, p. 332). 
 
O Estado tem dever de garantir a população a tão sonhada paz social, e para ver esse 
mandamento constitucional sendo concretizado em sua plenitude e satisfatoriamente é 
obrigado a lançar mão de mecanismos de prevenção e repressão aos indivíduos que 
desobedecem a legislação pátria, mitigando alguns de seus direitos e garantias fundamentais 
em prol da sociedade. Como no caso em análise deste artigo, o direito a inviolabilidade do 
domicílio, pois não é razoável fazer uma comunidade inteira sofrer com danos irreparáveis, 
em detrimento de alguns que escolhem viver a margem da lei, essa tem sido a foça motriz dos 
órgãos de segurança pública, a fim de reprimir ações criminosas, como se posiciona Odete 
Mendauar: 
Em essência, a polícia administrativa, ou poder de polícia, restringe o exercício de 
atividade lícitas, reconhecidas pelo ordenamento como direitos dos particulares, 
isolados ou em grupo. Diversamente, a polícia judiciária visa a impedir o exercício 
de atividade ilícitas, vedadas pelo ordenamento; a polícia judiciária auxilia o 
judiciário no cumprimento de suas sentenças (V. CF, Art. 144, incisos e parágrafos; 
MENDAUAR, 2018, p. 336). 
 
O drama começou quando plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, o 
Recurso Extraordinário (RE) 603613, de repercussão geral, com maioria dos votos, editando 
uma súmula vinculante dizendo que os agentes do Estado só podem penetrar as casas dos 
indivíduos, nos casos de cometimento de crimes estando em flagrante delito cobertos pelo 
manto das fundadas razões, devendo ser justificadas posteriormente. 
Com isso surgiu uma dúvida, causando uma zona de penumbra sobre o que se 
entende por funda razão capaz de autorizar o ingresso forçado em domicílio, afim de realizar 
busca e apreensão, não lesando os direitos e garantias fundamentais consagrados pela 
Constituição Federal de 1988. 
 
 
 
3 DO DOMICÍLIO 
 
É natural do ser humano ter um lugar onde a possa se estabilizar, fixar suas raízes, 
construir uma família, um local em que a pessoa viva e possa ser encontrada, ali é seu 
domicílio. É de muita valia, a fixação deste espaço para o direito, pois é a partir daí que os 
indivíduos serão encontrados para responderem por seus atos jurídicos, com a ausência deste 
conhecimento não podemos falar em estabilidade jurídica, como podemos ver nas lições do 
professor Carlos Roberto: 
 A noção de domicílio é de grande importância no direito. Como as relações jurídicas 
se formam entre pessoas, é necessário que estas tenham um local, livremente 
escolhido ou determinado pela lei, onde possam ser encontradas para responder por 
suas obrigações. Todos os sujeitos de direito devem ter, pois, um lugar certo, no 
espaço, de onde irradiem sua atividade jurídica. Esse ponto de referência é o seu 
domicílio (do latim domus, casa ou morada) (GONÇALVES, 2017, p. 184). 
 
 Para ver satisfeita uma obrigação legal é necessária que, o indivíduo alvo do ato da 
constrição jurídica, seja encontrado em algum lugar, por isso é tão importante delimitar um 
local onde possivelmente possa ser localizado. Preferencialmente seu domicilio ou residência, 
local no qual o indivíduo elege como seu lugar de descanso, repouso, lazer e vida familiar, 
tornando assim mais fácil encontrá-lo, a fim de responder por seus atos, deveres e obrigações,como ensina Venosa: 
Desde os primórdios da História, quando o homem passou a ligar se a um ponto 
geográfico, a noção de domicílio passou a ter relevância jurídica, mormente no 
campo do Direito Processual. A pessoa precisa ter um local onde possa ser 
costumeiramente encontrada para a própria garantia da estabilidade das relações 
jurídicas. Quem, por exceção, não tem domicílio certo terá sua vida jurídica e 
familiar incerta, pois são as raízes do local onde o homem planta sua personalidade 
que fazem florescer sua vida no campo sociológico, profissional, moral, familiar e 
jurídico (VENOSA, 2017, p. 2018). 
 
Na Roma antiga, domicílio tinha a ideia de residência familiar das pessoas, por 
exemplo, poderia ser um lugar muito simples como a casa de um plebeu ou até mesmo uma 
mansão grande e luxuosa de propriedade de um patrício. Conforme explica Roberto de 
Ruggiero “lugar livremente escolhido por um indivíduo para sua residência estável e, 
portanto, também para centro das suas relações jurídicas e dos seus negócios”, torna-se então 
um conceito simples e positivo. Entretanto, Caio Mário apresenta um entendimento mais 
contemporâneo sobre isso: 
A simplicidade do conceito é absoluta. Não imagina nenhuma relação ou vinculação 
entre o local e o indivíduo. Formula, tão-somente, uma noção elementar, aliando a 
ideia de lar ou residência à de interesse ou fortuna. Como definição, é incompleta, 
por abranger tão-somente o domicílio voluntário, deixando de lado o domicílio 
decorrente de determinação legal (PEREIRA, 2007, p. 376). 
 
 
 
Todo ser humano tem o direito natural ter seu lugar para viver livre e salvo de 
intromissões externas, onde mantém privacidade, aconchego familiar que comumente chama-
se de casa ou domicílio. O cidadão estabelece seu domicílio com objetivo de ali permanecer 
definitivamente com ânimo de ao final de suas atividades diárias procurar seu domicílio, a fim 
de ter ali o conforto que ele mesmo promoveu para seu descanso, refeições, segurança, lazer 
entre outras atividades, como Carlos Roberto explica o conceito civil: 
O domicílio, em última análise, é a sede jurídica da pessoa, onde ela se presume 
presente para efeitos de direito e onde pratica habitualmente seus atos e negócios 
jurídicos. Nas definições apontadas sobressaem-se duas ideias: a de morada e a de 
centro de atividade; a primeira, pertinente à família, ao lar, ao ponto onde o homem 
se recolhe para a vida íntima e o repouso; a segunda, relativa à vida externa, às 
elações sociais, ao desenvolvimento das faculdades de trabalho, que todo homem 
possui (GONÇALVES, 2017, p. 186). 
 
O domicílio com animo definitivo classificado pela lei Civil, traz uma roupagem 
mais restrita que no âmbito penal, nesse último a análise observada é o ânimo estabelecido de 
forma efetiva, ou seja, o indivíduo deve estar usufruindo do domicílio, mesmo que 
momentaneamente. Podemos concluir que, domicílio é o lugar onde o indivíduo é encontrado, 
a fim de lhe garantir a inviolabilidade do local ou para eleger seu distrito da culpa, que é a 
localidade onde o indivíduo é encontrado cometendo delito. Nesse sentido, esclarece 
professor Guilherme de Souza Nucci: 
O termo deve ser interpretado com a maior amplitude possível e não como se faz, 
restritivamente, no Código Civil (art. 70, referindo-se à residência com ânimo 
definitivo). Equipara-se, pois, domicílio a casa ou habitação, isto é, o local onde a 
pessoa vive, ocupando-se de assuntos particulares ou profissionais. Serve para os 
cômodos de um prédio, abrangendo o quintal, bem como envolve o quarto de hotel, 
regularmente ocupado, o escritório do advogado ou de outro profissional, o 
consultório do médico, o quarto de pensão, entre outros lugares fechados destinados 
à morada de alguém (NUCCI, 2016, p. 371). 
 
A Constituição federal traz no seu Art. 5, XI o termo “casa”, apenas, fazendo menção 
ao domicílio, porém devemos compreender de maneira extensiva uma vez que se visa 
resguardar a intimidade da pessoa, devendo ser violado apenas em casos extremos. O 
domicílio deve ser entendido como um local restrito a determinada pessoa, ou seja, não aberto 
ao público em geral, podendo ser até mesmo de maneira transitória como uma noite no quarto 
de um hotel. Vejamos as lições do professor Norberto Avena: 
Aspecto importante refere-se à extensão do conceito normativo de “casa”. Para 
efeitos da busca e apreensão, compreendemos que o alcance dessa expressão deve 
ser o mais amplo possível, superando-se o conceito de domicílio previsto no Código 
Civil segundo o qual se considera como tal o local em que a pessoa se estabelece 
com ânimo definitivo de moradia (art. 70) ou onde exerce a sua profissão (art. 72). 
Correto, enfim, utilizar a definição incorporada ao Art. 150, § 4º do CP e o Art. 246 
do CPP, inserindo-se no conceito de casa qualquer compartimento habitado, 
aposento ocupado de habitação coletiva ou qualquer compartimento não aberto ao 
 
 
público no qual exercida profissão ou atividade. Assim, a gerência de um 
supermercado, não sendo um local aberto ao público em geral, deve ser inserida, 
para efeitos da medida, na abrangência das regras que disciplinam a busca 
domiciliar, diferentemente do que ocorre com os corredores do mesmo 
estabelecimento, passíveis de busca independentemente das formalidades que regem 
esse meio de prova (AVENA, 2018, p. 714). 
 
 O código penal buscou no seu art. 150 resguardar a proteção a violação do domicílio, 
trazendo a seguinte redação “entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra 
a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: 
pena - detenção, de um a três meses, ou multa”. Ao criminalizar tal conduta, o legislador 
demonstra cuidado e importância do domicílio calmo e tranquilo, sem intromissões externas 
como ensina o professor Rogério Sanches: 
 Procura o código penal, com a presente incriminação, não proteger a posse ou 
propriedade, mas sim a liberdade privada e doméstica do indivíduo, punindo a sua 
ilegal perturbação. A casa é (ou deveria ser) para o homem o local certo para o 
encontro do sossego. A violação do lar configura, assim, um ataque ilegítimo a essa 
tranquilidade (CUNHA, 2016, p. 219). 
 
 As condutas criminalizadas pelo art. 150 do código penal, devem ser praticadas sem 
o consentimento do morador, visando garantir aos cidadãos a liberdade de uma vida digna 
com seu lar protegido juridicamente, podendo o morador opinar sob a entrada autorizada de 
um indivíduo na sua residência de forma pacífica não configura violação do domicílio. No 
entanto, quando o morador passa a rejeitar a permanência daquela pessoa em sua residência, 
violando a sua intimidade, liberdade e sossego, caracteriza-se o tipo penal, pois a casa e asilo 
inviolável. Conforme as lições do professor Fernando Capez: 
Sob a epígrafe “Violação de domicílio” contempla o Código Penal mais uma espécie 
do gênero “crimes contra a liberdade individual”. Tutela agora a lei penal a 
inviolabilidade da casa da pessoa. Segundo preceito constitucional: “a casa é o asilo 
inviolável do indivíduo...” (art. 5º, XI). A Constituição Federal tem em vista a 
proteção da tranquilidade e segurança da pessoa em sua vida privada, no reduto de 
seu lar, impedindo, com a repressão penal, que terceiros se arvorem no direito de 
perturbar, invadir a vida íntima alheia delimitada no âmbito de sua morada. O que se 
tutela é a tranquilidade do indivíduo em determinado espaço privado, e não a sua 
posse ou propriedade, ao contrário dos crimes patrimoniais (CAPEZ, 2018, p. 295). 
 
 Verifica-se que, a Constituição Federal buscou resguardar o domicílio utilizando o termo 
casa, no entanto, este termo deve ser interpretado de forma extensiva. Qualquer 
compartimento habitado pode ser considerado como uma casa (pátio, jardim, área de serviço, 
piscina, quintal), pois independentementeda estrutura habitada deve ser resguardado o bem 
jurídico dos indevidos que ali estão, o que se quer preservar e o mandamento constitucional 
da inviolabilidade do domicilio. 
 
 
 
 
4 DA BUSCA DOMICILIAR 
 
 O termo busca em domicílio começou a fazer sentido na Roma antiga com a edição 
da Lei das XII Tábuas, onde os plebeus queriam ter mais liberdade é acesso a legislação que 
estavam submetidos. Com isso, foi escrito em doze tábuas a legislação Romona, trazendo em 
seu bojo, mesmo em sentido precário comparado com aos dias atuais. O intuito da busca e 
apreensão em domicílio, a qual deveria ser feita pela vítima de furto, antes de entrar na casa 
para fazer a busca a vítima, tinha que informar as peculiaridades do objeto que estava 
procurando (nome, altura, tamanho, peso, cor), a fim de evitar equívocos e acusações a 
inocentes, como apresenta a Lei das Tábuas. 
“Tábua VIII “Dos Delitos”, Número XV: O furto lance licioque conceptum 
(descoberto pelo prato e cintura: isto é, o delito daquele em casa de quem é 
encontrado o objeto furtado recorrendo a perquisição solene que se devia fazer nu, 
para não haver suspeita de que trazia consigo o objeto, protegido apenas por um 
cinto(licium), como respeito à decência e tendo nas mãos um prato(lanx), seja para 
colocar o objeto, se encontrado, seja para que as mãos demonstrem que não trazem 
nada escondido) este delito é assimilado ao furto manifesto” (...). 
 
A busca apreensão nacional teve de fato início no Brasil colônia com a Lei de 14 de 
outubro de 1822, sob influência do direito lusitano, outrora vindo de Portugal com os 
Monarcas da coroa portuguesa. No entanto, já eram adotados alguns procedimentos alinhados 
a busca domiciliar, porém nada positivado, com a entrada da lei em vigor passou-se a adotar 
verdadeiramente critérios objetivos para realizar uma busca e apreensão, nesse sentido ensina 
Santos: 
Antes de cuidar, em parte, sobre a busca e apreensão, a Lei de 14 de outubro de 
1822, incorporada à legislação pátria e, expedida para combinar o respeito devido a 
casa com a administração da justiça, passou a fixar regras claras para a entrada em 
casa alheia, estando entre as principais: a proibição da entrada em casa a noite; a 
exigência da assistência de escrivão, testemunhas e ordem escrita do juiz; 
excepcionalidade da entrada em caso de flagrante delito e; previsão de punição ao 
executor que transgredisse a lei (SANTOS, 2014, p. 13). 
 
Logo em 1832, veio o Código de processo criminal de primeira instancia com 
disposição provisória acerca da administração da Justiça Civil, disciplinando em seu capítulo 
VII, exatamente sobre as buscas e apreensões, quais os procedimentos a serem adotados. E em 
1934, foi promulgada a terceira constituição brasileira que devolveu a união a competência 
sobre matérias processuais, que possibilitou a criação do primeiro código penal, agora sim 
disciplinando efetivamente a respeito da busca e apreensão em matéria penal, como corrobora 
Martins: 
 
 
 
Com a Constituição Federal de 1934, devolveu-se à União a competência para 
legislar sobre matéria processual, passando-se, assim, a criação de comissão para 
elaboração do Código de Processo Penal de onde adveio a promulgação do primeiro 
Código de Processo Penal brasileiro da era republicana, em vigor até o momento. 
Muito embora vários projetos de reforma e alterações tenham sido criados não se fez 
nenhuma indicação para alterar os institutos em estudo, exceção feita a PEC 84/2003 
que será oportunamente cuidada (MARTINS, 2011, p. 03). 
 
A busca e apreensão prevista no código de processo penal, nos artigos 240 a 250 
regem os procedimentos contemporâneos a serem adotados pelos agentes públicos, no 
cumprimento de mandado judicial, visando a busca de conteúdo probatório ou prisão de 
pessoas que cometeram crimes e devem ter sua liberdade restringida, a fim de assegura a 
aplicação da lei penal. Todo procedimento deve ser estritamente levado em observância, no 
intuito de não causar nulidade dos atos praticados. O professor Norberto Avena comenta 
sobre o assunto: 
Por busca compreendem-se as diligências realizadas com o objetivo de investigação 
e descoberta de materiais que possam ser utilizados no inquérito policial ou no 
processo criminal, assim como de pessoas em relação às quais exista ordem judicial 
de prisão ou que sejam vítimas de crimes. Trata-se de uma atitude de procura, a ser 
realizada em lugares ou em pessoas. Já por apreensão depreende-se o ato de retirar 
alguma coisa que se encontre em poder de uma pessoa ou em determinado lugar, a 
fim de que possa ser utilizada com caráter probatório ou assecuratório de direitos. 
(AVENA, 2018, p. 712). 
 
O Código de processo penal trouxe no seu § 1º do art. 240 disposições sobre os 
procedimento e critérios a serem observados no momento da execução da busca e apreensão 
domiciliar. Normas que devem ser seguidas criteriosamente por quem executa, a fim de não 
causar nulidade das provas ou do ato praticado bem como a responsabilidade dos agentes, 
civil, penal e administrativamente, conforme está previsto no artigo 240 do Código de 
Processo Penal: 
“§ 1º 
a) prender criminosos; 
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos; 
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou 
contrafeitos; 
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou 
destinados a fim delituoso; 
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu; 
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando 
haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do 
fato; 
g) apreender pessoas vítimas de crimes; 
h) colher qualquer elemento de convicção (...)”. 
 
Com o advento da “lei de abuso de autoridade”, profissionais de segurança pública 
tiveram que observar mais esse dispositivo legal, vale ressaltar que a norma traz em seu art. 1º 
o requisito de dolo específico para o cometimento do crime, fato este quer torna tal 
 
 
mandamento legislativo quase inaplicável. Os servidores públicos ao adentrarem em uma 
residência acreditando ocorrer ali uma situação de flagrante, jamais poderiam se amoldar a 
conduta típica de crime, pois acreditavam veementemente na ocorrência de crime em 
flagrância, como ensina Gabriela Marquês: 
Cumprindo determinação legal, não há que se falar em abuso de autoridade pela 
leitura circunstancial do agente, que, por exemplo, ao invadir um domicílio em 
situação de aparente flagrância, não pode ser rotulado como um criminoso por 
acreditar, por razões fáticas, estar sendo praticado no interior da residência um 
crime. Se, após o ingresso, fica constatada uma má avaliação do agente, a própria lei 
de abuso de autoridade afasta a tipicidade formal diante dessa situação in casu 
(MARQUES & CAMPOS, 2019. p. 19). 
 
Como a entrada em vigor da nova lei de abuso de autoridade, Lei n°13.869/2019, 
verificou-se a majoração da pena que estava contida no art. 150 CP. Também colocou um fim 
na discussão sobre o que era compreendido entre dia e noite, para realizar o cumprimento de 
mandado judicial, tipificando expressamente no Art. 22. §1, III da nova lei. Apesar da punição 
mais severa, esse dispositivo foi de grande valia, pois coloca fim a esse desentendimento que 
causava embaraço aos profissionais de segurança pública. Como pontua Emerson Castelo 
Branco: 
O parágrafo primeiro tipifica as condutas de coagir alguém a permitir o acesso a 
imóvel e de cumprir mandado de busca e apreensão no período compreendido entre 
21hs e 5hs da manhã seguinte. Inicialmente, verifica-se que o ingresso em 
cumprimento a ordem judicial afasta a tipificação da conduta. Não há ressalva quanto 
ao tipo de ordem judicial, a competência material ou territorial do juízo que proferiu, 
ou a constitucionalidade da decisão (BRANCO, 2020,p. 2041). 
 
Em última análise, o novo parâmetro disciplinado pela lei de abuso de autoridade, 
preocupa pelo tratamento que veem sendo dado aos agentes do Estado, no exercício regular de 
sua profissão, no que se refere ao aumento da pena, pois tem uma majoração em dobro 
comparado com Art. 150 do CP. Já estamos falando de um crime de médio potencial 
ofensivo, que não admite transação penal, o servidor público de pautar suas ações no princípio 
do estrito cumprimento do dever legal, no entanto, não precisa se coagido para trabalha nos 
limites da legislação, normas como essa acabam engessando ações de autoridades. 
 
5 FUNDAMENTOS PARA A BUSCA DOMICILIAR REALIZADA PELA POLÍCIA 
SEGUNDO OS TRIBUNAIS SUPERIORES 
 
No artigo quinto da Constituição Federal, são reservados os direitos e as garantias 
fundamentais, bem como a casa e propriedade privada, exige-se esse respeito a 
inviolabilidade do domicílio, pois quando o legislador originário fez menção constitucional à 
 
 
casa, não quis dizer apenas como asilo inviolável, mas sim está garantindo a privacidade e a 
intimidade de uma vida digna. E a garantia de salvaguardar o ambiente familiar intransponível 
a entradas ilícitas externa, como ensina Gilmar Mendes: 
No sentido constitucional, termo domicilio tem amplitude maior do que no direito 
privado ou senso comum, não sendo somete a residência, ou, ainda, a habitação com 
intenção definitiva de estabelecimento, mas inclusive, quarto de hotel habitado. 
Considera-se, pois, domicílio todo local, delimitado e separado, que alguém ocupa 
com exclusivamente, a qualquer título, inclusive profissionalmente, pois nessa 
relação entre pessoa e espaço preserva-se mediante, a vida privada do sujeito 
(MENDES, 2018, p. 292). 
 
A Constituição Federal buscou resguardar o domicílio utilizando o termo casa, no 
entanto, este termo deve ser interpretado de forma extensiva. Qualquer compartimento 
habitado pode ser considerado como uma casa (pátio, jardim, área de serviço, piscina, 
quintal), pois independentemente da estrutura habitada, deve ser resguardado o bem jurídico 
dos indevidos que ali estão, o que se quer preservar e o mandamento constitucional da 
inviolabilidade do domicilio, como se posiciona Alexandre de Moraes: 
O conteúdo de bens, pertences e documentos pessoais existentes dentro de “casa”, 
cuja proteção constitucional é histórica, se relaciona às relações subjetivas e de trato 
íntimo da pessoa humana, suas relações familiares e de amizade (intimidade), e 
também envolve todos os relacionamentos externos da pessoa, inclusive os 
objetivos, tais como relações sociais e culturais (vida privada) (MORAES, 2017, p. 
58). 
 
A busca domiciliar exige autorização judicial previa, quando a autoridade judiciaria 
não efetuar pessoalmente e ainda deve ser cumprida durante o dia. O mandado judicial 
somente será expedido caso haja convicção do juízo de fundadas razões que autorizem a 
violação do domicilio. Nucci (2014) esclarece nesse sentido, que a busca domiciliar com 
expedição de mandado judicial acontecerá, principalmente, no período diurno, em locais não 
abertos ou expostos ao público. 
A busca domiciliar sem consentimento do morador não é autorizada no ordenamento 
jurídico brasileiro, mas existe exceção a essa regra, pois o juiz poderá expedir mandado 
judicial que autorize a busca sem autorização do morador, essa regra também poderá ser 
quebrada em casos urgentes a fim de salvar vidas ou prender criminosos. Nesses últimos 
casos, faz-se necessária uma ação imediata em resposta ao que estar ocorrendo dentro do 
domicílio, caso não seja feito algo na ardência dos fatos poderá resultar em morte ou fuga de 
criminosos e perda do lastro probatório. Encontra-se o conceito legal da inviolabilidade 
domiciliar no Art. 5º, XI da Constituição Federal: 
“Art. 5º, XI - A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar 
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou 
para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial (...)”. 
 
 
 
Dessa forma, o conceito de inviolabilidade do domicílio vem ganhando força e cada 
vez mais protegido pelo ordenamento jurídico brasileiro, não podendo ser violado sem ter 
algo que justifique a sua entrada forçada, principalmente, nos casos de flagrante delito e 
também nos crimes permanentes, não se fazendo necessário a autorização do morador e 
também de autorização judicial. Sobre isso comenta a respeito desse assunto a Professora 
Flávia Bahia: 
Este dispositivo consagra mais um desdobramento da vida privada, a inviolabilidade 
da "casa" é consagrada pela Constituição. Em regra geral, as pessoas só podem 
entrar nas casas alheias mediante permissão. Com consentimento válido, não há 
limite de hora para que haja penetração na casa das pessoas. Entretanto, como não 
há inviolabilidade absoluta, esta fórmula cede espaço em algumas hipóteses. Nas 
situações de urgência, como flagrante delito, socorro ou desastre, é possível entrar 
na casa de alguém sem consentimento do morador, a qualquer hora do dia ou da 
noite, tendo em vista que a vida das pessoas está em risco (BAHIA, 2017, p. 128). 
 
Em se tratando de crime permanente e plenamente possível, a violação do domicilio, 
a fim de cessar a ação criminosa, deve se observar os requisitos, para não deixar macular nos 
procedimentos e posteriormente ter aproveitamento, em que seja utilizado como parte do 
conjunto probatório. Agentes de segurança pública não podem se estribarem em denúncia 
anônima ou fuga do indivíduo, ainda cumulativa as duas situações, pois não enseja em 
autorização para adentra em residência que esteja em situação de flagrância, como observa-se 
em jugados do Supremo tribunal de justiça: 
No caso, as razões para o ingresso no imóvel teriam sido a natureza permanente do 
tráfico, a denúncia anônima e a fuga do investigado ao avistar a polícia. Em relação 
à tentativa de fuga do agente ao avistar policiais, deve-se salientar que, nos termos 
do entendimento da Sexta Turma deste Superior Tribunal de Justiça, tal 
circunstância, por si só, não configura justa causa exigida para autorizar a mitigação 
do direito à inviolabilidade de domicílio. Deve-se frisar, ainda, que “a mera 
denúncia anônima, desacompanhada de outros elementos preliminares indicativos de 
crime, não legitima o ingresso de policiais no domicílio indicado, estando, ausente, 
assim, nessas situações, justa causa para a medida.” (HC 512.418/RJ, Rel. Ministro 
Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 26/11/2019, DJe 03/12/2019). Neste 
ensejo, vale destacar que, em situação semelhante, a Sexta Turma desta Corte 
entendeu que, mesmo diante da conjugação desses dois fatores, não se estaria diante 
de justa causa e ressaltou a imprescindibilidade de prévia investigação policial para 
verificar a veracidade das informações recebidas (RHC 83.501/SP, Rel. Ministro 
Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 06/03/2018, DJe 05/04/2018). Desta feita, 
entende-se que, a partir da leitura do Tema 280/STF, resta mais adequado a este 
Colegiado seguir esse entendimento, no sentido da exigência de prévia investigação 
policial da veracidade das informações recebidas. Destaque-se que não se está a 
exigir diligências profundas, mas breve averiguação, como “campana” próxima à 
residência para verificar a movimentação na casa e outros elementos de informação 
que possam ratificar a notícia anônima (RHC 89.853-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 
Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 18/02/2020, DJe 02/03/2020). 
 
Diante desse contexto, já foi decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que a 
ação policial, no que diz respeito a adentrar o domicílio sem o consentimento do morador e 
autorização judicial, mesmo durante a noite, somente será lícita se amparada em fundadas 
http://www.stj.jus.br/repetitivos/temas_repetitivos/pesquisa.jsp?novaConsulta=true&tipo_pesquisa=T&cod_tema_inicial=280&cod_tema_final=280https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=%27201702479304%27.REG.
 
 
razões que justifiquem a sua entrada. Afinal, o que está sendo analisado não é a materialidade 
do crime, mas sim o respeito ao mandamento constitucional da inviolabilidade domiciliar. 
Conforme afirma o STF na decisão do julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 603.616, 
pelo plenário com recursão geral: 
‘’RE 603616 – A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, 
mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente 
justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de 
flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou 
da autoridade, e de nulidade dos atos praticado (...)”. 
 
 Com advento do novo entendimento da suprema corte, trouxe aos agentes de 
segurança, principalmente, aos policiais o dever de observar as razões que autorizem a 
entrada dos mesmos em domicílio sem a autorização judicial, pois só será lícita se coberto 
pelo manto das fundadas razões, devidamente justificadas posteriormente, capaz de 
comprovar que no interior do domicílio ocorre situação de flagrante delito, desastre ou para 
prestar socorro. Se isso não for feito, o agente pode responder civil, penal e 
administrativamente caso não prove a ocorrência de flagrante delito, como explica o professor 
Norberto Avena: 
Ainda em relação à hipótese de flagrante delito, como permissiva da busca e 
apreensão domiciliar à revelia de ordem judicial, é necessário atentar que o STF, em 
regime de repercussão geral, no julgamento do Recurso Extraordinário n.º 
603.616/TO (DJ 10.05.2016), firmou o entendimento de que, mesmo se operada 
situação de flagrância em decorrência, muito especialmente, da prática de crime 
permanente no interior da casa (aqueles cuja consumação se protrai no tempo, a 
exemplo dos crimes de posse de drogas para fins de tráfico, de associação para o 
tráfico, de associação criminosa etc.), o ingresso desautorizado de policiais tem sua 
validade condicionada à preexistência de fundadas razões que tenham justificado a 
invasão domiciliar no momento em que realizada, não sendo suficiente, por 
exemplo, a mera suspeita decorrente de informação anônima. Na oportunidade, 
ressaltou o Excelso Pretório que a inobservância de tal postulado submete a 
autoridade executora ou seus agentes à responsabilidade disciplinar, civil e penal. 
Tal entendimento decorre de interpretação ampla do art. 240, do CPP, dispondo este 
que “proceder-se-á à busca domiciliar quando fundadas razões a autorizarem”, 
justificando-se, ainda, no intuito de evitar ingerências arbitrárias no domicílio. De 
acordo com o STF, não se pode perder de vista que, apesar de o flagrante legitimar o 
ingresso forçado em residência à revelia de determinação judicial, essa providência 
será objeto de controle judicial a posteriori, condicionando-se a validade da prisão 
assim efetuada a que o Poder Judiciário, recebendo o auto de prisão em flagrante, 
constate a efetiva ocorrência de atos, fatos ou circunstâncias que, devidamente 
justificados, amparem a conduta dos policiais. (AVENA, 2018, p. 718). 
 
Diante desse contexto, é importante saber que se compreende por fundadas razões algo 
palpável, inequívoco sobre o cometimento do crime, não se trata de uma mera suspeita ou 
especulação, estamos falando de algo concreto de fato, capaz de ser indicado com precisão o 
que existe de ilícito dentro do domicilio, com esses elementos, torna-se licita a entrada 
forçada em domicílio nos casos de flagrante delito, a fim de realizar busca e apreensão de 
pessoas, objetos envolvidos na prática criminosa. A comprovação de fundadas razões, 
 
 
somente será efetivada após a realização das diligências, vejamos a análise sob qual são 
fundadas razões na visão do professor Norberto Avena: 
Por fundadas razões compreende-se o conjunto de elementos objetivos que permitem 
ao juiz formar sua convicção quanto a possuir, efetivamente, o indivíduo, em seu 
domicílio, o material objeto da diligência. Já por fundadas suspeitas entende-se a 
desconfiança ou suposição, algo intuitivo e frágil, diferindo, pois, do conceito de 
fundadas razões, que requer uma maior concretude quanto à presença dos motivos que 
ensejam a busca domiciliar. A motivação, na busca pessoal, encontra-se no 
subjetivismo da autoridade que a determinar ou executar (AVENA, 2018, p. 726). 
 
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Justiça também adota uma postura exigente quanto 
aos critérios adotados a respeito das ações policiais que justifique a entrada policial em 
domicílio sem autorização judicial. Observa-se, principalmente, a relativização da 
inviolabilidade domiciliar, pois é necessário algo concreto capaz de justificar a violação desse 
direito individual e fundamental do descanso, repouso e intimidade de uma pessoa em sua 
residência. O tribunal vem mantendo suas decisões com fundamento nas fundadas razões, 
vejamos o que diz o Exmo. Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz: 
Não se há de admitir, portanto, que a mera constatação de situação de flagrância, 
posterior ao ingresso, justifique a medida. Ora, se o próprio juiz (um "terceiro neutro 
e desinteressado") só pode determinar a busca e apreensão durante o dia, e mesmo 
assim mediante decisão devidamente fundamentada, após prévia análise dos 
requisitos autorizadores da medida, não seria razoável conferir a um servidor da 
segurança pública total discricionariedade para, a partir de mera capacidade 
intuitiva, entrar de maneira forçada na residência de alguém e, então, verificar se 
nela há ou não alguma substância entorpecente (RECURSO ESPECIAL Nº 
1.574.681 - RS 2015/0307602-3, JULGADO: 20/04/2017). 
 
Importante destacar que os tribunais superiores adotam um entendimento uniforme no 
tocante a entrada policial em domicílio, a ocorrência de crime em fragrante delito deve ser 
sessada imediatamente, mas para colocar um ponto final nesse crime em andamento, deve ser 
observado o requisito das fundadas razões que não podem ser uma simples denúncia anônima 
ou uma suspeita intuitiva, deve ser algo concreto. Vale ressaltar que, não exige certeza do 
policial, pois ali no calor da ocorrência torna-se impossível tal exigência. A inexistência deste 
requisito material das fundadas razões resultará na nulidade dos altos praticados, bem como a 
responsabilidade dos agentes. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Os tribunais superiores do ordenamento jurídico brasileiro são de grande importância no 
âmbito nacional, pois suas decisões refletem diretamente nas sentenças monocráticas dos 
juízes de primeira instância e desembargadores, por mandamento legal. Tribunais superiores 
 
 
têm a função de dar a palavra final sobre a interpretação das normas, por isso é importante 
que os juízes sigam o mesmo entendimento das cortes superiores, afim de ter garantia jurídica 
sob os julgados. 
 Em se tratando de garantias e os direitos fundamentais, nota-se que foram conquistados 
pouco a pouco ao longo da história, direitos de primeira, segunda e terceira dimensão ou 
geração, foi o nascimento cumulativo da liberdade, igualdade e fraternidade ou solidariedade. 
Nesse contexto, o Estado visa ao mesmo tempo dar a liberdade e garanti-la, por meio de 
normas capazes de força os indivíduos viverem bem em sociedade. 
 O direito do domicílio inviolado é uma das conquistas historicamente alcançadas, 
previsto no Art. 5ºXI da CF, este direito de primeira dimensão, consiste em uma limitação 
imposta ao Estado, disciplinado que o ser humano tem o direito à liberdade em seu domicílio 
para repouso, intimidade, lazer e construção da vida familiar, livre de intromissões estatais ou 
de outros indivíduos que possam tentar interferir em sua privacidade. 
 A Constituição Federal buscou assegurar o direito a inviolabilidade domiciliar, no 
entanto, este direitofundamental não é absoluto, não pode ser utilizado como escudo de 
criminosos no cometimento de crime. É plenamente possível a mitigação deste direito, a fim 
de proteger a sociedade e evitar riscos a população como um todo, urge nesse ponto uma 
intervenção estatal, com isso já entramos na seara dos direitos de segunda dimensão. 
 O Estado deve dar para a população a tão sonhada paz social e para ver esse mandamento 
constitucional satisfeito, lançar mão de alguns meios de prevenção e repressão de criminoso, 
com isso é notório que alguns direitos e garantias fundamentais serão mitigadas em prol da 
sociedade, pois não e razoável fazer uma comunidade inteira sofrer com danos irreparáveis 
em detrimento de criminosos que querem se valer de garantias individuais como escuto, essa 
tem sido a foça motriz dos órgãos de segurança pública para reprimir ações criminosas. 
 Quando se trata de ações do Estado contra delinquentes é importantíssimo não perder 
de vista o princípio do estrito cumprimento do dever legal, destarte, no caso em análise do 
nosso estudo. O procedimento da busca e apreensão na casa de criminosos deve ser pautada 
estritamente nos artigos 240 a 250 do código de processo peal, a fim de evitar nulidade das 
provas obtidas, por erro na forma de conduzir o procedimento de maneira adequada. 
 Com o advento da nova lei de abuso de autoridade, Lei n°13.869/2019, verificasse o 
fim de uma grande discussão doutrina e jurisprudencial, no tocante ao horário do 
cumprimento do mandado de prisão. Como a Constituição Federal diz apenas durante o dia, 
paira dúvida no entendimento de até que horas ainda estamos no dia. Diante dessa nova 
legislação, não resta duvidas sob qual o horário de cumprimento de determinação judicial. Já 
 
 
quanto à majoração do tipo penal, acreditamos que o legislador utilizou critérios políticos para 
chegar ao montante da pena. 
 A busca e apreensão domiciliar necessita de ordem judicial e deve ser cumprida no 
horário estipulado pela Lei nº 13.869/2019, ausente este requisito a casa de alguém somente 
poderá ser violada em casos de: ocorrência de crime em flagrante delito, para prestar socorro 
ou em desastre, independente do horário. Nos casos de crimes permanentes, como é o caso do 
tráfico de drogas, o STF decidiu em 2016 que só será licita ação policial se amparada em 
fundadas razões. 
Visando resguardar o direito fundamental da inviolabilidade domiciliar a suprema 
corte brasileira decidiu sedimentar seu entendimento acerca do tema, foi em decisão de 
repercussão geral que o STF decidiu o RE nº 603.616, trazendo a seguinte redação 
consolidada: 
A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período 
noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a 
posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob 
pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de 
nulidade dos atos praticados. 
 
 Portanto, não resta dúvida do procedimento a ser adotado na realização da entrada 
forçada em domicílio, faz-se necessário ser esclarecido o que são fundadas razões. Entende-se 
por uma fundada razão, algo que vai além de uma simples suspeita ou achismo, deve ser algo 
de certa forma concreto, justificável. Não exige do agente de segurança a certeza, pois de fato 
seria impossível e acabaria por via consequente impossibilitando a medida, porém ao final das 
buscas o motivo da entrada forçada sem mandado judicial deve ser revelado e justificado por 
escrito. 
 Existido flagrante delito, faz-se necessário a justificativa a fim de evitar punição dos 
agentes nas esferas penal, civil e administrativa e bem como o devido aproveitamento das 
provas obtidas. Essa ação é sempre possível desde que observado os procedimentos 
disciplinados pelo STF. 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
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