Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
0 Princípios e métodos da Supervisão Escolar 1 Ludimilia Maria Calado Alexandrino Princípios e métodos da Supervisão Escolar ÁGUA BRANCA-PI 2019 2 Diretor Geral Eloan Coimbra Lima Diretora Acadêmica Eloane Coimbra Lima Secretária Acadêmica Ginoã das Graças Coimbra Lima Coordenação do Curso Cleidinalva Maria Barbosa Oliveira Coordenação do Nead Tiago Soares da Silva ALEXNDRINO, Ludimilia Maria Calado Princípios Métodos da Supervisão Escolar. 1ª ed. Água Branca; Isepro – Cursos de Graduação. 89p. Bibliografia 1. Pedagogia 2. Educação 3. Título. Ficha Catalográfica Todos os direitos em relação ao design deste material são reservados à ISEPRO. Todos os direitos quanto ao conteúdo deste material são reservados ao autor. Todos os direitos de Copyright deste material didático são à ISEPRO. 3 09 10 12 13 13 16 18 19 19 26 28 29 35 37 38 39 42 44 46 48 50 52 54 61 UNIDADE 03 CAP. IV – A SUPERVISÃO EDUCACIONAL EM PERSPECTIVA HISTÓRICA: DA FUNÇÃO À PROFISSÃO PELA MEDIAÇÃO DA IDEIA Cap. IV – A Supervisão Educacional Em Perspectiva Histórica: Da Função À Profissão Pela Mediação Da Ideia......................................... Capítulo V - As Transformações Técnico-Científicas, Econômicas E Políticas....................................................................................................... ATIVIDADE................................................................................................. 08 24 34 Apresentação do curso....................................... Apresentação da disciplina............................... UNIDADE 01 PRENUNCIA DA EDUCAÇÃO COMO QUESTÃO NACIONAL Prenuncia Da Educação Como Questão Nacional .................................. Cap. II – Trabalho Pedagógico Do Espaço E Organização Do Tempo Escolar........................................................................................... ATIVIDADE................................................................................................... UNIDADE 02 CAP. III - OS CONSELHOS DE EDUCAÇÃO E A GESTÃO DOS SISTEMAS Cap. III - Os Conselhos De Educação E A Gestão Dos Sistemas........................................................................................... ATIVIDADE................................................................................................. 09 15 21 35 41 47 05 06 25 33 4 56 UNIDADE 05 CAPÍTULO VII – REDISCUTINDO O PAPEL DOS DIFERENTES PROFISSIONAIS DA ESCOLA NA CONTEMPORANEIDADE Capítulo VII – Rediscutindo O Papel Dos Diferentes Profissionais Da Escola Na Contemporaneidade................................................................... Capítulo VIII – A Supervisão E O Desenvolvimento Profissional Do Professor................................................................................................... ATIVIDADES.................................................................................. 57 62 67 UNIDADE 04 CAPÍTULO VI – OS PROGRAMAS DO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO Capítulo Vi – Os Programas Do Fundo Nacional De Desenvolvimento Da Educação............................................................................................ ATIVIDADE................................................................................................. 49 54 48 UNIDADE 06 CAPÍTULO IX – SUPERVISÃO, CURRÍCULO E AVALIAÇÃO. Capítulo IX – Supervisão, Currículo E Avaliação........................................ Capítulo X – Supervisão Educacional No Brasil: Trajetória De Compromissos No Domínio Das Políticas Públicas E Da Asministração Da Educação....................................................................... Conclusão................................................................................................... ATIVIDADES.................................................................................. Sugestões Livros:...................................................................................... Vídeos:........................................................................................................ Filmes: ....................................................................................................... Artigos: ....................................................................................................... Referências Bibliográficas........................................................................... Complementar............................................................................................... 67 69 74 81 84 85 85 85 86 87 88 5 A concretização de um curso superior em Pedagogia na modalidade à distância tem como meta o atendimento às necessidades de toda comunidade quanto ao acesso e atendimento ao um ensino superior de qualidade. Desse modo, propõe-se a importância para o curso de Pedagogia numa perspectiva histórico- cultural, tendo como eixo articulador a interdisciplinaridade e a busca da construção de um currículo integrador. As disciplinas pedagógicas que formulam o currículo foram moldadas para uma sociedade cujo princípio da qualidade torna-se prioridade a partir da relação teoria-prática de um trabalho docente de qualidade que procure satisfazer as necessidades de aprendizagem, enriquecendo as experiências do educando no processo educativo. É dentro desta ideia que o curso de Pedagogia do ISEPRO na modalidade à distância constitui-se de uma base comum formada pelos conhecimentos de ciências humanas aliadas a tecnologia, de uma parte diversificada com uma ampliação dos fundamentos na leitura do fazer pedagógico dentro da escola e da sociedade e uma parte complementar com o objetivo de trabalhar os problemas educativos da realidade educacional em vista a qualificação do professor com novas formas de intervenções como aplicações de ferramentas metodológicas. O ISEPRO tem como recurso didático-educacional o uso de materiais como apostilas/livros, plataformas virtuais, internet, vídeos e principalmente um excelente sistema de acompanhamento à distância através de tutores e monitores. É válido salutar que este curso otimiza sempre seus resultados pelas experiências existentes e atendem a ampla procura de profissionais da área educacional. Os profissionais da área da educação serão orientados a sempre desenvolver a capacidade de intervenção científica e técnica assegurando a reflexão critica permanente sobre sua prática e realidade educacional historicamente contextualizada. O que espera deste docente é sua capacidade de (re) construir seu projeto pessoal e profissional a partir da compreensão da realidade histórica e profissional diante das políticas que direcionam as práticas educativas na sociedade. 6 Tendências da gestão escolar no sistema educacional brasileiro. Gestão democrática da escola. O papel dos gestores (supervisor ou coordenador pedagógico e diretor) da escola e do conselho escolar. À organização do trabalho pedagógico do espaço e tempo escolar. Liderança e motivação da equipe de profissionais da escola. Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE). Projeto político- pedagógico da escola. Redação oficial e comunidade escolar. A informatização dos processos escolares. BONS ESTUDOS! 7 UNIDADE 01 PRENUNCIA DA EDUCAÇÃO COMO QUESTÃO NACIONAL FONTE: www.istoe.com.br/uma-bussola-para-educacao http://www.istoe.com.br/uma-bussola-para-educacao 9 Tecnologias educacionais CAP. I – PRENUNCIA DA EDUCAÇÃO COMO QUESTÃO NACIONALJanete Maria Lins de Azevedo Por meio de uma abordagem histórica em que se destacam marcos da política educacional, procura-se demonstrar como o tratamento da questão educacional tem sido sempre condicionado pelos valores autoritários e que se incrustaram em nossa cultura desde os tempos coloniais. Dessa perspectiva, busca-se estabelecer os nexos entre o universo cultural e simbólico próprios do país, as definições e rumos das políticas públicas de educação e a persistência de um padrão educacional excludente e seletivo, que acaba por negar, ainda hoje, o direito à escolarização básica de qualidade à grande parte da população. O Brasil, tal como outras realidades, a questão educacional emerge como um tema socialmente problematizado ao bojo da própria estruturação do Estado-Nação. Articulando-se à singularidade do processo que forjou a emancipação política brasileira, esta questão será, desde logo, condicionada pelas marcas conservadoras inerentes a esse processo. As forças hegemônicas que impulsionaram o movimento da independência nacional não eram opostas à ordem patrimonial estruturada durante o período colonial. Tratava-se de grandes proprietários de terras e outros estratos privilegiados na estrutura da colônia, unidos pelo interesse comum de conquistar a emancipação, para que pudessem realizar politicamente sua condição econômica e social de estamentos dominantes. O objetivo era libertar as atividades produtivas do domínio metropolitano sem alterar a estrutura socioeconômica, apoiada no grande latifúndio e no regime de trabalho escravo. Inexistiu em tal processo a luta entre forças econômicas e sociais opostas, que caracterizou a implantação da ordem burguesa em outras sociedades libertadas do domínio português, as estruturas coloniais foram preservadas pela monarquia brasileira, implicando o fortalecimento dos mecanismos de 10 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR dominação próprios do poder privado (Prado Júnior, 1959; Faoro, 1975; Martins, 1976). Prado Júnior ressalta as forças hegemônicas que impulsionaram o movimento da independência nacional afirmando que não eram opostas à ordem patrimonial estruturada no período colonial. Assegura-o, que tratava de grandes proprietários de terras na estrutura da colônia unidos pelo interesse comum de conquistar a emancipação, para que pudessem realizar politicamente sua condição econômica e social de estamentos dominantes. O objetivo de tudo isso, segundo Prado Júnior era libertar as atividades do domínio metropolitano sem alterar a estrutura socioeconômica, apoiada ao grande latifúndio e ao registro e trabalho escravo. Ele afirma que inexistiu, tal processo a luta entre forças econômicas e sociais, opostas, que caracterizou a implantação da ordem burguesa, em outras sociedades. Liberados do domínio português às estruturas coloniais foram preservadas pela monarquia brasileira implicando o fortalecimento dos mecanismos de domínio português do poder privado. A primeira Constituição, de 1824, pode ser tomada como indicadora do referencial normativo que então se implantava. Num país onde os escravos correspondiam a mais de um terço da população (Costa, 1968:123), a norma legal prescreveu: “A inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual e a prosperidade, é garantida pela Constituição do Império [...]” (Constituição de 1824, art. 179, apud Barcelos, 1933:268). Os valores de uma cultura escravagista, forjada há mais de três séculos, continuavam a estruturar as representações sociais, legitimando a apreensão do “escravo” como “coisa” e propriedade particular. Esse sequer era considerado brasileiro, e muito menos cidadão. Cidadãos plenos, ou ativos, em termos do gozo dos direitos políticos, ou ativos, em termos do gozo dos direitos políticos, foram considerados apenas uns poucos. Esse referencia vai balizar, também, o tratamento concedido à educação. Em seu artigo 179, a Constituição do Império garantiria a todos os cidadãos “a instrução primária e gratuita, os colégios e universidades onde 11 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR serão ensinados os elementos da s ciências, belas-letras e artes” (apud Barcelos, 1933:269). Nas condições históricas em que se forjou o reconhecimento legal desse direito, o que estas em discussão não era a escolaridade das massas. A reprodução da força de trabalho prescindia desse tipo de qualificação, bem como da atuação da escola como veículo ideológico para um determinado padrão de sociabilidade. É desnecessário dizer que também não estavam em questão respostas a demandas pela extensão da cidadania. A predominância da cultura escravocrata nas representações sociais das elites senhoriais e na orientação conservadora das suas práticas vai configurar uma valorização própria da escola. Um dos sistemas destinava a atender às demandas educacionais das elites. O poder central assumiu a responsabilidade sobre os cursos preparatórios, o ensino secundário acadêmico e o superior, a serem ministrado tanto pelo poder público como pela iniciativa privada em estabelecimentos religiosos ou leigos. Esse sistema é que permitia a mobilização através da escola. Nesse padrão educativo foram formadas as elites que conduziram os destinos do país até a primeira República. O outro sistema deveria encarregar-se da educação do povo. No contexto social em que foi criado, destinava-se, portanto, à população livre e pobre Aos homens reservava-se o aprendizado de ofícios manuais e às mulheres, o treinamento nas prendas do lar, ensino que seria, paulatinamente, transformado em preparação para o exercício do magistério primário. O sistema de ensino que se pretendeu reservar aos pobres, fechado e impermeável, não encontrava correspondência nem equiparação com o outro sistema, próprio das elites. Seus usuários teriam aí suas únicas possibilidades de instrução. Nesse contexto, e sobre as escolas que ensinam os ofícios masculinos que incidiria o estigma da educação dos pobres. São estas que realmente desenvolveram algum tipo de educação popular. A sociedade brasileira entra no século XX guardando as características que lhe imprimira a economia agroexportadora, embora com algumas nuanças. 12 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR O Estado oligárquico consolidou-se sob a égide republicana, mantendo-se prisioneiro dos interesses agraristas dominantes. O exercício do poder pessoal e o mandonismo ganham vigor por meio de novas faces. As práticas clientelistas e o apadrinhamento político impõem-se como substrato do coronelismo. A legitimidade do poder oligárquico estrutura-se em articulação com os interesses dos potentados locais, tendo por veículo o controle dos empregos públicos. (Leal, 1975; Queiro, 1976). Nos centros urbanos mais desenvolvidos, o operariado se constituía, como classe. Nascido da imigração europeia diferenciava-se das massas dominadas pelas velhas oligarquias por orientar suas práticas pelo anarcosindicalismo e pelo ideário socialista. Reivindicações e lutas pelos direitos do trabalho vão mobilizar e organizar o nascente operariado. No campo educacional, essas forças vão pugnar pela escolarização das massas, mediante campanhas de alfabetização, e pela universalização do ensino primário. Cobravam-se ações do poder central tanto no sentido de prover fundos quanto no de estabelecer uma política nacional de educação (Nagle, 1974). Os primeiros núcleos de tratamento mais sistemático da questão educacional foram constituídos nas ligas que se formaram à época, por inicitiva de militares e de políticos. Naquele momento, as consequências da guerra impulsionaram o movimento nacionalista e favoreciam a visibilidade do grupo urbano industrial que procurava o poder das oligarquias tradicionais como meiode viabilizar os seus interesses. Nessa perspectiva, o movimento nacionalista assume a defesa desses interesses, que também compreendiam a questão educacional. Sanear a nação e moralizar os processos políticos implicava escolarizar as massas. Os baixos índices de escolaridade e as taxas de analfabetismo nesse contexto, são interpretados com a causa de todos os males. “Hoje não há quem reconheça e não proclame a urgência salvadora do ensino elementar às camadas populares. O maior mal do Brasil contemporâneo é a sua porcentagem assombrosa de analfabetos. [...] O momento canceroso que 13 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR hoje desviriliza o Brasil é a ignorância crassa do povo, o analfabetismo que reina no norte ao sul do país, esterilizando a vitalidade nativa e poderosa de sua raça. [...] o analfabetismo não é só um fator considerável na etiologia geral das doenças, senão uma verdadeira doença e das mais grave. Vencido na luta pela vida, nem necessidades, nem ambições, o analfabeto contrapõe o peso morto de sua indolência ou o peso vivo de sua rebelião a toda a ideia de progresso, intervendo sempre, na prosperidade dos que vencem pela inteligência cultivada, um roubo, uma extorsão, uma injustiça [...] O analfabeto é um microcéfalo: a sua visão física é estreitada, porque embora seja claro a enorme massa de noções escritas lhe escapa; pelos ouvidos passam palavras e ideias como se não passassem; o seu campo de percepção é uma linha, a inteligência, o vácuo, não raciocina, não atende, não prevê não imagina, não cria”. (Miguel Couto, apud Paiva, 1979:99) Chama-se atenção para o sistema de significados subjacentes a essas proposições. De um lado, encontram-se representações sobre o povo. Considerando-se que o analfabetismo atingia cerca de 80% da população, e que os analfabetos são representados como incapazes, virulentos, inertes e improdutivos pode-se concluir que esta era a imagem que se fazia da maior parte da população brasileira. A ideia da incapacidade do povo e da sua condição de pária contrapunha-se a necessidade do seu tutelamento pelas elites. A princípio, a Associação Brasileira de Educação (ABE) constitui-se como um espaço de estudos da causa educacional e pela sua propagação. Integraram os seus quadros professores, jornalistas, advogados, políticos, escritores, engenheiros, funcionários do governo, enfim, todos os interessados na luta pela educação. Com sede no Rio de Janeiro, a Associação enraizou-se pelo Brasil através de seções regionais. Sua atuação desenvolveu-se no sentido da construção de proposições visando a implantação de uma política nacional da educação regulando a partir do poder central. Sua arma 14 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR mobilizadora mais forte foram as conferências e os congressos nacionais (Cunha, I. A., 1981:12). No campo pedagógico, a ABE teve entre seus interlocutores um ator especial: a Igreja Católica, instituição que vinha sendo responsável por fatia significativa da educação brasileira desde os tempos coloniais. A separação entre a Igreja e o Estado com a República não alterava essa posição. A rede privada de ensino era praticamente de sua responsabilidade. Nos calorosos debates que se estabelecem no período, chega-se a responsabilizá-la pelos altos índices de analfabetismo, “por ter deixado de lado a educação das camadas mais baixas e se dedicado apenas a educação das elites”. A ela se atribuía o maior quinhão de responsabilidade em possuirmos 80% de “analfabetos” (Serva, 1924, apud Paiva, 1973:318). O caráter de laicidade que se imprimiu a República, aliado à intensa veiculação do liberalismo nacionalista a partir da guerra, suscitaram reações da Igreja. As pressões ameaçavam o seu monopólio na área, levando o clero a se colocar com visibilidade nas trincheiras de lutas. O marco dessa reação é a Pastoral publicada pela Igreja em 1916, em que se propunha uma ação decisiva para alterar as bases agnósticas e laicistas do regime. O documento apelou para o reconhecimento do catolicismo como elemento inerente ao caráter nacional e reivindicou o retorno do ensino religioso e do reconhecimento o Estado como nação católica. Abordou ainda as questões da formação de uma elite e da mobilização de leigos em torno da difusão das teses católicas. Isto na perspectiva de se ter quadros capazes de influenciar na recristianização das elites, vistas como “tomadas” pelos males da civilização burguesa e liberal (Cury, 1978). É importante lembrar o processo pelo qual as sociedades vão se setorizando e como se origina a regulação nesse processo. Os setores são “conjuntos de papéis sociais estruturados em torno de uma lógica vertical e autônoma de reprodução” (Muller 1985: 166). “É precisamente este processo 15 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR de setorização da sociedade que vai gerar novos modelos de intervenção estatal, através do nascimento das políticas setoriais, elas próprias constitutivas do Estado Moderno” (Idem: 167). É possível dizer que entre os anos 30 e a promulgação da LDB, estabeleceram-se os dispositivos legais e as normas básicas que permitiriam a regulação do Estado, em nível nacional, sobre o setor educação. Isto em consonância com os processos de centralização e complexificação do aparelho estatal segundo os parâmetros que assumiriam a modernização brasileira. CAP. II – TRABALHO PEDAGÓGICO DO ESPAÇO E ORGANIZAÇÃO DO TEMPO ESCOLAR José Carlos Libâneo FONTE: www.google.com.br/tempo-espao&psig Na Constituição de 1988 o sistema educacional brasileiro abarcava os sistemas de ensino federal, estaduais e do Distrito Federal e as responsabilidades do Municípios restringiam-se a manutenção de redes de escolas que integravam o respectivo sistema estadual. A Constituição introduziu como novidade na estrutura da educação brasileira a oportunidade da rede municipal se organizar em sistemas municipais de educação e de trabalhar em regime de colaboração com sistemas estaduais. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), em 1996, retomou essas inovações, definindo o sistema de ensino, como sendo o conjunto de instituições de educação escolar (públicas e privadas de diferentes níveis e modalidades de http://www.google.com.br/tempo-espao&psig 16 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR ensino) e de órgãos educacionais (administrativos normativos e de apoio técnico-pedagógico). Esses órgãos e instituições para funcionarem como um sistema de ensino deve interagir como unidade e seguir normas comuns elaboradas pelo órgão competente. A LDB dispõe também sobre a abrangência e jurisdição de cada sistema. Assim, o sistema de ensino federal compreende as instituições federais de ensino médio e superior, as instituições privadas de educação superior e os órgãos federais de educação (Ministério da Educação e Conselho Nacional de Educação). O sistema dos Estados e do Distrito Federal compreende as instituições estaduais de ensino, as instituições municipais de ensino superior, as instituições privadas de ensino fundamental e médio e os órgãos estaduais de educação (Secretaria de Educação e os Conselhos Estaduais de Educação). O sistema municipal compreende as instituições municipais de educação básica, as instituições privadas de educação infantil e os órgão municipais de educação ( Secretaria de Educação e os Conselhos Municipais de Educação). A Lei define também as responsabilidades de cada uma dessas instâncias administrativas. Sendo assim, compete à União: elaborar o Plano Nacional de Educação; manter o sistema federal de ensino; prestar assistência técnica e financeira a Estados, Distrito Federal e Municípios; definir diretrizes curricularesnacionais; estruturar um sistema de informações e de avaliação educacional; autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar cursos superiores e instituições de seu sistema. A organização da educação escolar na LDB compreende a educação infantil, o ensino fundamental e médio inserido os conceitos de educação básica e o ensino superior. O ensino fundamental, de acordo com a Lei, é considerado a escolaridade mínima obrigatória a todos os brasileiros, com duração mínima de oito anos, a partir dos 7 anos de idade, sendo aceito o ingresso aos 06 anos, 17 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR dependendo da capacidade dos sistemas estaduais e municipais.. Tem como objetivo promover: O desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; A compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; O desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; fortalecimentos dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. Todos esses objetivos abrangem aspectos que dizem respeito à aquisição de conhecimentos, habilidades e valores, considerados essenciais para a formação básica do cidadão brasileiro. O ensino fundamental está sob a responsabilidade dos Estados e Municípios que concorrem entre si na oferta desse nível de ensino. Libâneo relata, que os elementos de um sistema articulam-se entre si e, ao mesmo tempo, com outros sistemas, setores ou campos sociais, tais como o político, o cultural, o religioso, o jurídico etc. Quando instituições escolares recebem recursos do Estado para serem gastos nas escolas, ocorrem ações entre o sistema de ensino, o sistema político e o sistema econômico. Se há críticas positivas ou não de cada um desses sistemas sobre o envio de recursos, diz-se que há reações entre os vários sistemas ou, até mesmo, reações internas em cada um deles. Os ajustes e alterações desses elementos podem dar-se de forma dinâmica ou de forma adaptativa, o que remete a formas fundamentais de apreensão, organização e desenvolvimento dos sistemas. As formas de ação e o enfrentamento das reações alteram-se em razão de outro componente presente no sistema, a saber, a maneira de lidar com as diferenças entre os elementos de um sistema e entre vários sistemas em geral. Os vários sistemas existentes na sociedade articulam-se e relacionam-se com o sistema educacional. Sofrem influência dele e 18 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR influenciam-no. Os vários tipos de contatos, de inter-relações, de conflitos entre os vários sistemas são fruto das condições históricas, ideológicas, econômicas e políticas existentes na sociedade – o que significa que, em certos momentos, um ou outro sistema passa a ter influência maior sobre os demais. Por exemplo, no período da ditadura, o sistema militar exercia maior poder sobre os outros. Atualmente, o sistema econômico interfere mais nos vários sistemas e em seus respectivos elementos, sobretudo porque se reforça cada vez mais a vinculação entre educação e desenvolvimento econômico e entre educação e desenvolvimento de competências para o mundo do trabalho. No tocante aos elementos internos de um sistema, os quais estabelecem a relação com outros sistemas e com seus elementos constituintes, há, em algumas circunstâncias e momentos, a necessidade e a possibilidade de ajustes e alterações de sua situação. Os ajustes em alterações desses elementos podem dar-se de forma dinâmica ou de forma adaptativa, o que remete a formas fundamentais de apreensão, organização e desenvolvimento dos sistemas. O quadro a seguir auxilia na distinção das principais características de cada concepção de organização e gestão escolar. CONCEPÇÕES DE ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR TÉCNICA CIENTÍFICA AUTOGESTIONÁRI A INTERPRETATIV A DEMOCRÁTICO- PARTICIPATIVA -Prescrição detalhada de funções e tarefas, acentuando a divisão técnica do trabalho escolar. - vínculo das formas de gestão interna com as formas de autogestão social (poder coletivo na escola para preparar formas de autogestão no plano político). - A escola é uma realidade social subjetivamente construída, não dada nem objetiva. - Privilegia menos o ato de organizar e mais a “ação organizadora”, - Definição explícita, por parte da equipe escolar, de objetivos sociopolíticos e pedagógicos da escola. ´Articulação da 19 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR -Poder centralizado no diretor, destacando- se as relações de subordinação, em que uns têm mais autoridade do que outros. -Ênfase na administração regulada (rígido sistema de normas, regras procedimento s burocráticos de controle das atividades), descuidando- se, às vezes, dos objetivos específicos da instituição escolar. -Comunicação - Decisões coletivas (assembleias, reuniões), eliminação de todas as formas de exercício de autoridade e poder. - Ênfase na auto- organização do grupo de pessoas da instituição, por meio de eleições e de alternância no exercício de funções. - Recusa a normas e a sistemas de controle, acentuando a responsabilidade coletiva. - Crença no poder instituinte da instituição e recusa de todo o poder instituído. O caráter instituinte dá-se pela prática da participação e da autogestão, modos pelos quais se contesta o poder com valores e práticas compartilhados. - A ação organizadora valoriza muito as interpretações, os valores, as percepções e os significados subjetivos, destacando o caráter humano e preterindo o caráter formal, estrutural, normativo. atividade de direção com a iniciativa e a participação das pessoas da escola e das que se relacionam com ela. - Qualificação e competência profissional. - Busca de objetividade no trato das questões da organização e da gestão, mediante coleta de informações reais. - Acompanhament o e avaliação sistemáticos com finalidade pedagógica: diagnóstico, acompanhamento dos trabalhos, 20 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR linear (de cima para baixo), baseada em normas e regras. -Mais ênfase nas tarefas do que nas pessoas. instituinte. - Ênfase nas inter- relações, mais do que nas tarefas. reorientações de rumos e ações, tomada de decisões. - Todos dirigem e são dirigidos, todos avaliam e são avaliados. -Ênfase tanto nas tarefas quanto nas relações. Essas concepções possibilitam a análise da estrutura e da dinâmica organizativas de uma escola, mas raramente se apresentam de forma pura em situações concretas. Características de determinada concepção podem ser encontradas em outra, embora seja possível identificar um estilo mais dominante. Pode ocorrer, também, que a direção ou a equipe escolar optem por uma concepção progressista, mas na prática acabem sendo reproduzidas formas de organização e de gestão mais convencionais, geralmente de tipo técnico-científico (burocrático). 21 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR 1, Em uma escola pública de Ensino Fundamental, 12 docentes participam de um grupo de estudo que tem como foco central investigar como o trabalho docente, em sala de aula, pode conseguir a participação efetiva dos alunos, como autores de sua aprendizagem e de seu desempenho escolar. O docente que leciona no 6ºano do Ensino Fundamental, afirma que em sua sala de aula já consegue a participação ativa de cerca de 80% dos alunos, porém, a turma está agitada com dificuldades de atender às normas disciplinares e respeitar os colegas. Há ainda um número significativo de alunos que apresentam dificuldades na aprendizagem. O docente X, que ministra aulas para o 7º ano do Ensino Fundamental, revela que já está conseguindo a participação efetiva de 70% de seus alunos e que, para sua satisfação, os estudantes têm demonstrado maior compromisso com o estudo e com o coletivo da sala, o que tem contribuído para melhorar o desempenho acadêmico. Eis o desafio dos educadores, buscar uma prática educativa participativa e dialógica em turmas heterogêneas, assegurando também bons resultados acadêmicas. Apresente suas considerações acerca de como aperfeiçoar os resultados obtidos nas duas situações, do ponto de vista da produção acadêmica e das práticas sociais. 2, Em uma escola de Ensino Fundamental, dois grupos de professores apresentam posicionamentos diferentes na execução de seus projetos de trabalho. O grupo A, ao iniciar o trabalho com um conceito/ideia importante, no processo ensino aprendizagem de sua área de conhecimento, aplica um exercício diagnóstico para levantar o conhecimento prévio dos alunos em relação ao conceito/ideia que será trabalhado; interpreta os resultados do exercício; planeja intervenções de acordo com as necessidades dos alunos, como o grau de construção conceitual dos diferentes grupos, os diferentes raciocínios, os tipos de erros e outras, bem como intervenções gerais, como exposições, projetos de trabalhos, exercício para aprofundar a construção conceitual, exercícios avaliativos e outros procedimentos necessários. O grupo B, ao iniciar o trabalho com um conceito/ideia importante no processo ensino aprendizagem de sua área do conhecimento, declara para a classe que vai trabalhar considerando o ano escolar em que os alunos se encontram, 22 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR independente do que já deveriam ter estudado sobre o assunto; expõe o assunto; solicita que abram o livro didático e leiam o capítulo “X” e respondam aos exercícios do livro; informa que dará uma prova sobre o tema; após a correção da prova, não volta a trabalhar os conceitos/ideias porque já está ensinando outros conteúdos e não pode voltar para novas intervenções. Com base na leitura dessas situações, posicione-se em relação à conduta pedagógica desses professores, comparando a postura dos grupos A e B, em relação aos seguintes aspectos: concepção pedagógica, procedimentos didáticos, compromisso com a educação participativa e com a aprendizagem significativa dos alunos, em uma escola que tenha qualidade no ensino e na educação de seus estudantes. 3, Em face do contexto de mundialização da economia, da reestruturação do mercado de trabalho, da forma centralizada do poder central e da influência das ideias neoliberais, decorrem mudanças nas estruturas sociais, surgindo, portanto, nova forma de politização da sociedade (reformas políticas e do Estado). Emerge, também, nova forma do ser social, para quem a Educação tem importância considerável. Ocorrem, assim, reformas educacionais, a partir da metade da década de 90, com características de descentralização. Enumere os princípios das reformas educacionais que respaldaram, do ponto de vista político, a reforma do Estado, a legislação e os principais programas voltados para o Ensino Fundamental com características de descentralização. 4,Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (PCNs), de 1998, do MEC, são propostas de conteúdos que incluem conhecimentos, áreas e matérias articuladas em temas que se vinculam à formação básica comum, por meio de procedimentos, atitudes e valores, dentro de um todo organizado. Esse documento veio atender aos dispositivos legais e apoiar as Secretarias Estadual e Municipal e o próprio estabelecimento de ensino na tarefa que lhe compete, em termos de uma proposta curricular. Desenvolva uma reflexão em que você se posicione relativamente às cinco principais contribuições dos PCNs na elaboração do Projeto Educativo ou Projeto Pedagógico curricular e Cultural da Escola, bem como sobre os planos de ensino das disciplinas. 23 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR UNIDADE 02 AVALIAÇÃO COM BASE EM ALGUNS AUTORES 5, Devido às exigências de um mundo em constantes transformações, muitas profissões tendem a desaparecer ou modificar-se. Mas também haverá aquelas que permanecerão na linha do tempo. Em seu ponto de vista, qual das profissões atuais, mais provavelmente, terá sua permanência assegurada neste século? Por quê? Para expressar seu ponto de vista sobre as questões apresentadas, produza um texto acerca do tema a profissão do futuro. 24 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR OS CONSELHOS DE EDUCAÇÃO E A GESTÃO DOS SISTEMAS UNIDADE 02 FONTE: www.ceepi..pro.br http://www.ceepi..pro.br/ 25 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR CAP. III - OS CONSELHOS DE EDUCAÇÃO E A GESTÃO DOS SISTEMAS Carlos Alberto Jamil Cury A gestão da educação escolar no Brasil, conta com um grande número de leis e outras normatizações provindas da área federal, da área estadual e municipal. Esse sistema legal se afirma desde diretrizes curriculares até financiamentos e fontes de recursos. Qualquer profissional da educação que seja compromissado com seu fazer pedagógico e político não pode deixar que o conhecimento de tais constrangimentos normativos fosse apenas competência de quem exerce funções administrativas. A sociedade brasileira vem se tornando cada mais complexa. Inúmeros fenômenos sociais novos passam a disputar cena, tais como surgimento de novos postos de trabalho, perda de outros, novos grupos organizados e arrefecimento de outros, novas tendências políticas e grande diversificação institucional. Com isto, o próprio sistema educacional se complexifica e se diversifica, postulando a presença mais consciente de seus sujeitos e de pessoas neles interessados. Um elemento constante dessa complexificação é a gestão desde a dos sistemas até a das unidades escolares. O autor assegura que a legislação é uma forma de se organizarem e atenderem regularmente a objetivos e finalidades. Nesse circuito normativo o autor ressalva que a figura de conselhos aparece sobre várias formas e várias denominações. São órgãos colegiados com atribuições variadas em aspectos normativos, consultivos e deliberativos. Assim os Conselhos de Classe visam acompanhar o rendimento escolar dos estudantes, os Conselhos Escolares pretendem discutir e avaliar a evolução de um estabelecimento como um todo e expressar a participação da comunidade; os Conselhos de Controle Fiscal e Social devem controlar o dinheiro público investindo na manutenção e desenvolvimento da educação; Os Conselhos Municipais e Estaduais e o Conselho Nacional de Educação são órgãos colegiados, de caráter normativo, deliberativo e consultivo que interpretam e 26 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR resolvem, segundo suas competências e atribuições, a aplicação da legislação educacional. O Estatuto da Criança do Adolescente (ECA), prever a existência de conselhos tutelares de menores. Esses Conselhos Tutelares visam proteger e assistir crianças e adolescentes, seja quanto a sua vida social em geral, seja quanto ao seu direito de estar na escola. Também no nível administrativo, há uma serie defóruns e coordenações que congregam especificamente secretários estaduais e municipais de Educação, respectivamente concede CONSED e UNDIME. Também os Conselhos de Educação se congregam em fóruns. Em múltiplos aspectos, esses fóruns em seus encontros periódicos, funcionam como se fossem “metaconselhos”. A existência desses conselhos de acordo com o espírito das leis existentes não é a de serem órgãos burocráticos cartoriais engessadores da dinamicidade dos profissionais e administradores da educação ou da autonomia dos sistemas. Sua linha de frente, é dentro da relação Estado Sociedade, está a serviço das finalidades maiores da educação e cooperar com o zelo da aprendizagem das escolas brasileiras. A gestão da educação do Brasil de longa data tem como um de seus componentes os Conselhos de Educação, ao lado de ministros, secretários, diretores gerais e outros nomes dados a ocupantes de cargos executivos. Tais Conselhos existem no Brasil desde o Império e adquiriram um grau variável de complexidade ao longo de muitos anos. No Império pode-se logo apontar a estruturação e a importância dos mesmos quando vinculados ao Colégio Pedro II e a normatização de ensino superior então existente na capital e em algumas províncias. O Colégio Pedro II, modelo para a educação secundária no país e referência curricular obrigatória para efeito de equiparação de estudos e de estabelecimentos, teve mantido, na República seu Conselho Diretor (uma espécie de Congregação do estabelecimento federais), nos estados dispunha de u Conselho de Instrução Superior que deveria dirigir, sobretudo os 27 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR programas de ensino dos diferente cursos, de acordo com a reforma Benjamin Constant escorada no Decreto nº 1.159/1.892. Posteriormente, a reforma Rivadávia em 1.911, pelo Decreto nº 8.659/1.911 cria o Conselho Superior de Ensino que deveria fazer transitar os cursos superiores do regime oficial para o de corporações autônomas. A reforma Rocha Van de 1.925, mediante o Decreto nº 16.782/1.925 transmuda o Conselho Superior de Ensino em Consellho Nacional de Ensino. Em 1.931, o Governo provisório de Vargas cria o Conselho Nacional de Educação, o qual se voltaria predominantemente para o Ensino Superior. Este criado pelo Decreto nº 19.850/1.931, tornou vigente por decreto ate 1.936, quando por força de mandamento constitucional e recriado pela Lei nº 174/6. Em 1.961, a Lei nº 4.024/1.961 transforma o CNE em Conselho Federal de Educação (cf. art. 9). Essa mesma Lei cria os Conselhos Estaduais de Educação (cf. art. 10). A Lei nº 5.692/71 facultava aos municípios organizarem Conselho de Educação, cujas atribuições poderiam advir de delegações das competências dos Conselhos Estaduais (cf. art. 71). O Conselho Federal de Educação foi extinto pela Medida Provisória 661/94 no Governo Itamar Franco. O atual Conselho Nacional de Educação criado pela Lei 9.131/95, teve sua confirmação na Lei 9.394/96 (art. 9 § 1º). De um ponto de vista realista, pode-se dizer que os Conselhos de Educação estão presentes em todos os Estados e Distrito Federal. Já sua criação entre os mais de 5.500 municípios do país está se ocorrendo progressivamente. Conselho vem do latim Consilium, essa palavra provém do verbo consulo/ consudere, significando tanto ouvir alguém quanto submeter algo e uma deliberação de alguém, após uma ponderação refletida, prudente e de bom senso. Certamente é de interesse comum ter conhecimento do que se 28 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR passa no interior de um órgão que tem algum poder decisório sobre a vida social. Esse caráter de algo que é publico cruza o interesse comum com a visibilidade e, portanto, um conhecimento aberto a todos, se relacionando com a modernidade. Esta em seu sentido amplo afirma o papel do indivíduo como fonte do poder. Assim, na relação entre governantes e governados, deve haver respeito de uns pelos outros e deste direito e respeito decorre a necessária publicação dos atos de Governo. Não será por isso que nossa Constituição de 1.988 diz no artigo 1º parágrafo único que todo poder emana do povo, que a exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituição? Conselho é também lugar onde se delibera. Deliberar implica a tomada de uma decisão precedida de uma análise e de um debate que por sua vez implica a publicidade dos atos, da audiência e na viabilidade dos mesmos. Não há dúvida que no Brasil, nos anos 20 e 30, os Conselhos ganharam uma dimensão técnica que nem sempre se pautou pela democracia. O problema é que nessas duas décadas, a busca de uma sociedade planejada seja pela via do planejamento central, seja pela via Keynesiana significou muitas vezes uma visão tecnicista aliada a uma secundarização da democracia. Dizia que os cidadãos, contaminada por visões parciais, jamais acenderiam ao universal e ao bem feito. Dessa visão não escapou a Constituição de 1.934, que ao lado da introdução de direitos sociais (entre os quais o direito de todo cidadão a escolaridade, como a obrigação dos poderes públicos), propunha Conselhos Técnicos a fim de solucionar os problemas nacionais (cf. art. 91, I, V) , já o art. 103 dizia: “Cada Ministério terá assistido por um ou mais Conselhos Técnicos, coordenados, segundo a natureza dos seus 29 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR trabalhos em Conselhos Gerais como órgãos consultivos da Câmara dos Deputados e Senado Federal”. Assim, se descolados do princípio democrático e republicano, os Conselhos podem se perder na tecnocracia; quando ocupados por pessoas alheias e despreparados para os assuntos específicos, eles poderão se desviar do essencial, seja no conteúdo, seja na forma. E não será por acaso que a mesma Constituição exigirá de toda e qualquer administração pública a obediência aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (cf. art. 37). O Conselho Nacional de Educação foi criado pela Lei nº 9.131/95 e confirmado no art. 9º § 1º da LDB, que diz: § 1 Na estrutura educacional haverá um Conselho Nacional de Educação, com funções normativas e de supervisão e atividades permanentes criadas por lei... A aprovação desse último Conselho foi a resposta do Governo eleito em 1.994 a uma série de empenhos e lutas da sociedade civil em prol de uma lei de educação que fosse democrática e em cujo bojo se desse uma redefinição do então existente Conselho Federal de Educação. O projeto de LDB, nascido da Câmara dos deputados, apontava para a Constituição de um novo órgão colegiado à luz da Constituição de 1.988. O projeto vencedor era extremamente lacônico em relação ao Conselho. Por mais que uma cultura de Conselhos de Educação impregne seus atos, a expectativa hoje é de que devem conter em alto grau a dinâmica da participação da abertura e do diálogo. Parece haver aqui algo homólogo com a análise da consciência do trabalhador feita por Antônio Gramsci. Esse pensador se indagava se havia uma duplicidade de consciência ou se não era uma só, a qual era inerente à contradição. Duas consciências ou consciência contraditória?, tal era sua pergunta. 30 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR Sem ter uma resposta definida, cumpre trazer a memória que a presença dessa expectativa não era casual. Ela se nutre através de três vertentes contaminadas por esse espírito mais aberto, dialógico e democrático. É nela que a cidadania se sente responsável pelos destinos de uma comunidade. Um Conselho é então, o lugar onde a razão se aproxima do bom senso e ambos do diálogo público, reconhecimento de que todos são intelectuais, ainda que nem todos façam do intelecto uma função permanente traduzindo livremente Antônio Gramsci. Este é um motivoa mais para que os Conselhos antes de órgãos de deliberação sejam órgãos de consulta. Algo dessa intencionalidade está expressa na Lei nº 9.131/95, quando explicita as atribuições do Conselho Nacional de Educação. Ele exerce funções normativas e deliberativas. Nesse sentido, é um órgão diretamente subordinado a Lei e se torna órgão de Estado. Participar é dar parte e ter parte. O primeiro movimento visa informar, dar publicidade, e o segundo é estar presente, ser considerado um parceiro nas grandes definições de uma deliberação ou de um ordenamento. Conselhos com essa características são uma forma de democratização do Estado. Neles, torna-se possível a (re)entrada da sociedade civil no âmbito dos Governos, a fim de fiscalizá-los e mesmo controlá-los. Esta é uma tarefa necessária e indispensável em um país que nasceu de um encontro pouco dialógico entre o colonizador e o conquistador, entre o escravocrata e os “bárbaros” selvagens ou negros tidos como “atrasados” e “incapazes”. Não será por outra razão que a soberania popular no Brasil, se exerce pelo voto direto igual e secreto no âmbito da democracia representativa, bem como pelos instrumentos de plebiscito, referendo e iniciativa popular (cf. art. 14), e que tem as grandes movimentações sociais em torno da Constituinte que conduzia ao texto constitucional de 1.988. 31 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR O primeiro é o disposto no art. 37 e que, em última instância define uma linha demarcatória entre o público e o privado, próprios dos Estados Nacionais Modernos, com ênfase na moralidade e publicidade dos anos. O segundo é o inciso 6º do art, 206, que põe a gestão democrática como princípio da educação pública. A gestão democrática é mais do que exigência de transparência de impessoalidade e moralidade. O terceiro é a forma nova dada a concepção de Federação. Esta, respeitadas as esferas de competências de cada entre federado supõe relações entre pares de igual dignidade, dialogando entre si. A colaboração recíproca foi também um meio que a Constituinte e a LDB encontraram para questionar a hegemonia de formas de subordinação presente no âmbito do Executivo Federal e, pode-se dizer a descontinuidade administrativa marcante da grande rotatividade de responsáveis pela educação escolar, até mesmo o interior de um mesmo Governo. A nova lei de diretrizes e bases no seu art. 14 trata da gestão democrática do ensino público. Ela delega maiores detalhamentos ao sistema. Contudo, o inciso 2º diz que um dos componentes desta gestão é a participação das comunidades escolares e local em conselhos escolares ou equivalentes. Já os art. 51, 60 e 90 reconhecem a existência de órgãos normativos dos sistemas para efeito de articulação das universidades com avaliação do Ensino Médio para efeito de processo seletivo ou para caracterizar o perfil das instituições sem fins lucrativos voltados para educação e de portadores de necessidades especiais ou para efeito de delegação da parte do Conselho Nacional de Educação, para os órgãos normativos dos sistemas de questões em aberto na interpretação da nova lei naquilo que for da sua competência. 32 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR Um pouco a ser exigido dos Conselhos de Educação e dos conselheiros é a presença ética no domínio da educação como serviço público. A eles se aplicam os princípios postos no art. 37 da Constituição Federal: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, responsáveis por autorizações, reconhecimento e credenciamentos tornando-se co- responsáveis, na medida do rigor e do zelo com que se submetem a esses princípios e os aplicam em seus atos. Aos Conselhos de Educação e aos Conselhos de Controle Social cabe, dentro de suas atribuições, a busca incessante do diálogo entre Estado e todos os setores pertencentes, interessados e compromissados com a qualidade da educação escolar no nosso país. Cabe a eles trilhar a via de mão dupla que vai do Estado a sociedade e desta para aquele. Aos Conselhos Escolares cabe aprofundar a busca da qualidade dos estabelecimentos e palmear o caminho que vai da comunidade a escola e vice-versa. 33 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR Construa um estudo de caso a partir das proposições abaixo: 1. Estágio numa escola do ensino fundamental a) Observação b) Registro c) Participação Pimenta e Lima (2010) listam diferentes aprendizagens ocorridas durante esse processo. Cite duas dessas aprendizagens e explique. 2. Quais questões devem estar presentes no plano de trabalho do Supervisor de ensino, coordenador pedagógico e do orientador educacional e justifique sua resposta. 3. Fátima é supervisora escolar de ensino, decerto em suas práticas, são consideradas suas ações supervisora, de um sistema. Assim, conforme previsão legal o sistema de ensino compõe-se de três partes. Discorra sobre uma destas partes nos níveis Federal, Estadual e Municipal, assim, como sobre seus limites e atribuições. 4. Nos dias atuais qual é o trabalho da Supervisão escolar. Descreva. 5. Com relação ao debate atual sobre a universidade pública brasileira e as funções universitárias de ensino, pesquisa e extensão julguem os próximos itens. A LDB dispõe sobre a possibilidade de ampliação das atribuições de autonomia universitária para as instituições cujos resultados de processos avaliativos desenvolvidos pelo poder público comprovem alta qualificação para o ensino e para a pesquisa. C) Certo E) Errado Comente: 34 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR UNIDADE 03 A SUPERVISÃO EDUCACIONAL EM PERSPECTIVA HISTÓRICA: DA FUNÇÃO À PROFISSÃO PELA MEDIAÇÃO DA IDEIA FONTE: www.gestaoescolar.polopetropolis.blogspot.com http://www.gestaoescolar.polopetropolis.blogspot.com/ 35 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR CAP. IV – A SUPERVISÃO EDUCACIONAL EM PERSPECTIVA HISTÓRICA: DA FUNÇÃO À PROFISSÃO PELA MEDIAÇÃO DA IDEIA Demerval Saviani Se se entende a supervisão como a “ação de velar sobre alguma coisa ou sobre alguém a fim de assegurar a regularidade de seu funcionamento ou de seu comportamento” (Foulquié, 1971:452) vê-se que mesmo nas comunidades primitivas, onde a educação se dava de forma difusa e indiferenciada, estava presente a função supervisora. De fato, esse tipo de sociedade se caracterizava pelo modo coletivo de produção da existência, isto é, os homens se apropriavam coletivamente dos meios de vida fornecidos diretamente pela natureza para satisfazer suas necessidades existenciais. Com a fixação do homem à terra surge a propriedade privada e, com ela, a divisão dos homens em classes. Assim é que, na Antiguidade, com o advento da propriedade privada da terra constitui-se a classe dos proprietários contrapondo-se à dos não proprietários. Embora a essência humana se defina pelo trabalho, o que implica que o homem, enquanto espécie, não possa viver sem trabalhar, a condição de proprietários dá, a essa classe, a possibilidade de viver sem trabalhar. Em todo esse período correspondente às épocas antiga e medieval embora tenha surgido uma educação diferenciada caracterizada pela escola, ainda não se põe o problema da ação supervisora, em sentido estrito. “Isto porque a escola, via de regra, constituía uma estrutura simples, limitada à relação de um mestre com seus discípulos. À semelhança do artesanato, em que o artesão, individualmente, realizava o trabalho por completo, desde a concepção até o produto final, também na escola determinado mestrerealizava por inteiro o trabalho de formação de seus discípulos” (Saviani, 1994:98). A forma de manifestação da função supervisora pode ser encontrada na figura o pedagogo tal como se configurou na Grécia. Etimologicamente significando aquele que conduz a criança ao local de aprendizagem, o pedagogo era inicialmente, na Grécia antiga, o escravo que tomava conta da criança e a conduzia até o mestre do qual recebia lição. Depois, passou a significar o próprio educador, não apenas porque, em muitos casos, ele passou 36 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR a se encarregar do próprio ensino das crianças, mas também porque, de fato, sua função, desde a origem, era a de estar constantemente presente junto às crianças, tomando conta delas, ist é, vigiando, controlando, supervisionando, portanto, todos os seus atos. A função supervisora também se fazia presente na educação dos trabalhadores (escravos) por intermédio do intendente. Na Grécia, de acordo com o testemunho de Xenofante, o “lavrador” digno desse nome não era quem trabalhava a terra, mas quem administrava e alentava os seus trabalhadores como um general alenta os seus soldados, concluindo que o bom agricultor “deve procurar capatazes dóceis e ativos” (Ponce, 1981:45). Na sociedade feudal dominava a economia de subsistência; produzia-se para atender as necessidades de consumo e só residualmente, à medida que a produção excedesse em certo grau as necessidades de consumo, podia ocorrer algum tipo de troca. Com o desenvolvimento da economia medieval, a geração sistemática de excedente foi intensificando o comércio, o que acabou por determinar a organização do próprio processo de produção especificamente voltado para a troca, surgindo, assim, a sociedade capitalista ou burguesa. Nesta, inversamente ao que ocorria na sociedade feudal, é a troca que determina o consumo. Com isso, o eixo do processo produtivo foi se deslocando do campo para a cidade, passando da agricultura para a indústria. As transformações mencionadas tiveram como consequência a exigência da generalização da escola, colocando-a na posição de forma principal e dominante de educação. Com efeito, até a Idade Média o domínio da escrita era requerido apenas pelas restritas elites dominantes, a elas ficando também limitada a educação escolar. Na Época Moderna, com a exigência da disseminação dos códigos formais, se põe também a necessidade de generalização da escola. Isto porque o que está em causa agora é o domínio de uma cultura intelectual cujo componente mais elementar é o alfabeto. Em suma, “ao deslocamento do eixo do processo produtivo do campo para a cidade e da agricultura para indústria; ao deslocamento do eixo do processo cultural do saber espontâneo, assistemático para o saber metódico, 37 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR sistemático, científico, correspondeu o deslocamento do eixo do processo educativo de formas difusas, identificadas com o próprio processo de produção da existência, para formas específicas e institucionalizadas, identificadas com a escola” (Saviani, 1991:87). As origens do Ratio Studiorum remontam às Constituições da Companhia de Jesus elaboradas por seu fundador, Inácio de Loyola que entraram em vigor em 1552. A IV parte dessas Constituições trouxera, já, “as linhas mestras da organização toda a atividade pedagógica da Ordem” (França, 1952:16). O Plano é constituído por um conjunto de regras cobrindo todas as atividades dos agentes diretamente ligados ao ensino, indo desde as regras do provincial, às do reitor, do prefeito de estudos, dos professores de modo geral e de cada matéria de ensino, passando pelas regras da prova escrita, da distribuição de prêmios, do bedel, chegando às regras dos alunos e concluindo com as regras das diversas academias. Portanto, além do reitor, a quem cabe a direção geral dos estudos, prevê-se a figura do prefeito dos estudos, cujas funções são reguladas por trinta regras. A regra nº 1 estabelece que é dever do prefeito “organizar os estudos, orientar e dirigir as aulas, de tal arte que os que as frequentam, façam o maior progresso na virtude, nas boas letras e na ciência, para a maior glória de Deus” (Ibidem: 138). A regra nº 5 determina que ao prefeito incumbe lembrar aos professores que devem explicar toda a matéria de modo a esgotar, a cada ano, toda a programação que lhe foi atribuída. A regra nº 17, referente à função de “ouvir e observar os professores”, estipula: “de quando em quando, ao menos uma vez por mês, assista às aulas dos professores; leia também, por vezes, os apontamentos dos alunos. Se observar ou ouvir de outrem alguma coisa que mereça advertência, uma vez averiguada, chame a atenção do professor com delicadeza e afabilidade, e, se for mister, leve ao conhecimento do P. Reitor” (Ibidem: 140-1).Depois de 13 anos da divulgação dos PCN, podemos afirmar que os professores seguiram o conselho do nosso curriculista. Todos os temas propostos como transversais foram trabalhados, sim, não transversalmente, mas sob o impulso de programas, projetos e ações que chegaram à escola, muitas vezes sem que ela os reivindicasse. 38 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR O Brasil independente inaugura a questão da organização autônoma da instrução publica com a lei de 15 de outubro de 1827, que institui as escolas de primeiras letras “em todas as cidades, vilas e lugares populosos de Império”. O artigo 5º dessa lei determinava que os estudos se realizassem de acordo com o “método de Ensino Mútuo”. É interessante notar que no ensino mútuo o professor absorve as funções de docência e também de supervisão. Com efeito, ele instrui os monitores e supervisiona as suas atividades de ensino, assim como a aprendizagem do conjunto dos alunos: “Durante as horas de aula para crianças, o papel do professor limitou-se à supervisão ativa de círculo em círculo, de mesa em mesa, cada círculo e cada mesa tendo à sua frente um monitor, aluno mais avançado, que ficava dirigindo. Fora destas horas, os monitores recebiam, diretamente dos professores, uma instrução mais completa, e não era raro ver os mais inteligentes adquiram a instrução primária superior.” (Almeida, 1989:60, grifo meu) Cedo, porém, tornar-se-á recorrente, no Império, a ideia de supervisão, postulando-se que essa função seja exercida por agentes específicos. Assim é que em seu relatório de 1834, o ministro do Império, Chichorro da Gama, afirmativa: “Neste mesmo Relatório, vos fiz notar que as escolas de ensino mútuo, por uma razão qualquer, não corresponderam às nossas esperanças; eu me vejo obrigado a confirmar esta observação. O bem do serviço, Senhores, reclama imperiosamente a criação de um Inspetor de estudos, ao menos na capital do Império. É uma coisa impraticável, em um pais nascente, onde tudo está para ser criado, e com o péssimo sistema de administração que herdamos, que um ministro presida ele próprio aos exames, supervisione as 39 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR escolas e entre em todos os detalhes. É bom dizer que as Câmaras Municipais tomam parte na vigilância das escolas, mas estas corporações sobretudo fora das grandes cidades, não são as mais aptas para este serviço” (Ibidem:58) O mesmo autor, José Ricardo Pires de Almeida, nos informa, ainda, que no relatório de 1836 o ministro do Império constata que o legislador quis remediar a situação deplorável das escolas, mas não teria aplicado os remédios necessários reconhecendo que “um destes remédios teria sido o estabelecimento de uma supervisão permanente” (Ibidem:6), O regulamento de 17 de fevereiro de 1854, no âmbito das reformas Couto Ferraz estabeleceu como missão do inspetor geral “supervisionar, seja pessoalmente, seja por seus delegados ou pelos membrosdo Conselho Diretor, todas as escolas, colégios, casas de educação, estabelecimentos de instrução primária e secundária, públicos e particulares” (Ibdem:90). Além disso, cabia também ao inspetor geral presidir os exames dos professores e lhes conferir o diploma, autorizar a abertura de escolas particulares e até mesmo rever os livros, corrigi- los ou substituí-los por outros. Em pronunciamento na sessão da Assembleia Legislativa Nacional de 11 de abril de 1864, Liberato Barroso propunha a oferta de “uma instrução [...] derramada por todas as classes da sociedade, dirigida de modo mais conveniente debaixo de uma inspeção solícita e zelosa” (apud Paiva, 1973:74). O que dá relevância à década de 20 do ponto de vista do tema que estamos abordando é o surgimento dos “profissionais da educação”, isto é, o aparecimento dos “técnicos” em escolarização, constituindo-se como uma nova categoria profissional (Cf. Nagle, 1974:102). Expressão desse fenômeno e, concomitante, elemento propulsor do mesmo, foi a criação da Associação Brasileira de Educação em 1924, por iniciativa de Heitor Lira. “É interessante lembrar que o aparecimento da A. B. E. coincidiu com o dos técnicos em educação que, por meio dela, receberam vigoroso estímulo” (Ibdem:123). No plano federal, a Reforma João Alves, de 1925, cria, pelo Decreto n° 16.782-A, o 40 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR Departamento Nacional do Ensino e Conselho Nacional de Ensino, em substituição ao Conselho Superior do Ensino que, entre 1911 e 1925, era o único órgão encarregado da administração escolar. A importância do referido decreto d=se deve, pois, ao fato de que, com essas medidas, se começa a reservar a órgãos específicos, de caráter técnico, o tratamento dos assuntos educacionais. Com efeito, até então tais assuntos estavam afetos a uma repartição do Ministério do Império e, depois, do Ministério da Justiça e Negócios Interiores. E esse foi um passo importante para a criação, cinco anos mais tarde, do Ministério da Educação e Saúde Pública. O “Manifesto dos Pioneiros da educação nova”, divulgado em 1932, irá formular um plano de conjunto para reconstrução educacional do país segundo a visão dos novos profissionais da educação que, embora oriundos de outras profissões, como o jornalismo, o direito e a medicina, postularão que os trabalhos científicos no ramo da educação já nos faziam sentir, em toda a sua força reconstrutora, o axioma de que se pode ser tão científico no estudo e na resolução dos problemas educativos, como nos da engenharia e das finanças” (manifesto, 1984:409). Para os Pioneiros – e isso vale para o ideário escalonovista de modo geral -, a contribuição das ciências é decisiva para dotar de racionalidade os serviços educacionais. Isto significa que a importância das ciências incide principalmente sobre os meios que elas podem proporcionar tendo em vista a eficácia e eficiência do processo educativo: “o desenvolvimento das ciências lançou as bases das doutrinas da nova educação, ajustando á finalidade fundamental e aos ideais que ela deve perseguir os processos apropriados para realiza-los” (Ibdem:415). Entretanto, a realização dessa meta enfrenta obstáculos postos pelas relações sociais vigentes que, dificultando a generalização da produção baseado na incorporação maciça das tecnologias avançadas, dificultam também a universalização da referida escola unitária. Esta, com efeito, só se viabilizará plenamente com a generalização do não trabalho ou, para usar um eufemismo, com a generalização do trabalho intelectual geral. Isto porque, se 41 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR as funções intelectuais específicas também são transferidas para as máquinas, conclui-se que todo o trabalho passa a ser feito por elas. Assim, a luta pela superação do capitalismo coincide com a luta em defesa da humanidade em seu conjunto. Para tanto, a consciência da situação, embora não suficiente, é uma condição prévia, necessária e indispensável. E o desenvolvimento dessa consciência implica um trabalho educativo sem o qual resultará impossível a mobilização da população para a realização das transformações necessárias. Eis aí, em suma, o grande desafio que se coloca para a supervisão no campo da educação (Cf. Saviani, 1994:103-5). CAPÍTULO V - AS TRANSFORMAÇÕES TÉCNICO-CIENTÍFICAS, ECONÔMICAS E POLÍTICAS. José Carlos Libâneo FONTE: www.geoconceicao.blogspot.com Os estudiosos das transformações técnicos científicos as mencionam com diferentes denominações, tais como a Terceira Revolução Industrial, revolução científica e técnica, revolução informacional, revolução informática, era digital, sociedade técnico informacional, sociedade do conhecimento ou, simplesmente, revolução tecnológica. Em outras palavras, os acontecimentos do campo da economia e da política – como a globalização dos mercados, a produção flexível, o desemprego estrutural, a necessidade de elevação da qualificação dos trabalhadores, a centralidade do conhecimento e da educação – teriam como elemento desencadeador as transformações técnico científicas. http://www.geoconceicao.blogspot.com/ 42 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR A ciência e a técnica estariam, portanto, assumindo o papel de força produtiva em lugar dos trabalhadores, já que seu uso, cada vez mais intenso, faria crescer a produção e diminuiria significativamente o trabalho humano. Verifica- se, um determinismo tecnológico que não corresponde inteiramente à realidade. É preciso considerar que as transformações técnico-científicas resultam da ação humana concreta, ou seja, de interesses econômicos conflitantes que se manifestam no Estado e no mercado, polos complementares do jogo capitalista. O autor ressalta preocupação quanto à diversidade refletida pelas transformações e os contrastes da sociedade e, em decorrência, o empreendimento do capital em controlar e explorar as capacidades materiais e humanas de produção da riqueza, para sua autovalorização. Para compreendermos mais concretamente as transformações técnico-científicas, é preciso considerar os aspectos ou pilares fundamentais da revolução tecnológica. Tal revolução está assentada em uma tríade revolucionária: a microeletrônica, a microbiologia e a energia termonuclear (Shaff, 1990). Essa tríade aponta, em grande parte, os caminhos do conhecimento e as perspectivas do desenvolvimento da humanidade. No mundo inteiro, vem decrescendo o trabalho humano na agricultura, em razão do processo de “tecnologização” e da modernização da produção. Por isso, os trabalhadores do campo tornam-se, em grande parte, desnecessários ao processo de produção capitalista, sendo substituídos pela ciência e pela técnica. O crescimento do setor de serviços associa-se: a) à transferência da riqueza gerada com ganhos de produtividade na agricultura e na indústria; b) ao aumento do consumo, especialmente em períodos de estabilização da inflação e de ampliação do poder de compra; c) à generalização da competição; d) à terceirização patrocinada pelas empresas, ou melhor, a contratação de serviços de terceiros para áreas como faxina, vigilância, advocacia, contabilidade, etc; e) à diminuição do emprego na agricultura e na 43 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR indústria, o que leva muitas pessoas a tentar um negócio próprio na economia formal ou informal; f) ao aumento da demanda por serviços em áreas como lazer e educação. A tendência mundial de crescimento do setor, no entanto, não significa uma absorção total dos desempregados da agricultura e da indústria. os postos de trabalho reorganizados ou criados nesse setor não conseguem atender ao contingente de desempregados gerado pelos outrossetores. É preciso considerar, ainda, que no setor de serviços também vem se alternado o perfil de qualificação dos trabalhadores, em razão das reformulações das atividades e da incorporação das novas tecnologias, formas e técnicas de organização do trabalho. Além da tríade revolucionária apontada, é preciso destacar as mudanças e as implicações da revolução informacional emergente. Tais avanços tornam o mundo pequeno e interconectado por vários meios, sugerindo-nos a ideia de que vivemos em uma aldeia global. A internet (a super-rede mundial de computadores) é uma das estrelas principais dessa fase da revolução informacional, pois interliga milhares de computadores, ou melhor, de usuários a um imenso e crescente banco de informações, permitindo-lhes navegar pelo mundo por meio de microcomputador. As informações disponíveis dizem respeito a praticamente todos os temas de interesse, o que fascina cada vez mais as pessoas. O uso da internet no Brasil, apesar da permanente expansão, ainda é bastante restrito, o que tem gerado ampla exclusão digital. Com maior ou menor acesso, no entanto, as novas tecnologias da informação e os diferentes meios de comunicação – por exemplo, o rádio, o jornal, a revista, a televisão, o computador, o telefone, o fax e outros – estão presentes nos espaços sociais ou incorporados ao cotidiano da vida das pessoas, de maneira que modificam hábitos, costumes e necessidades os meios de comunicação, as mídias exercem cada vez mais um papel de mediação e de tradução da realidade social. A seu modo – um modo editado e, manejado -, elas contam o que acontece no mundo, fazendo com que grande parte da realidade seja percebida de forma virtual. As mídias também vêm sentindo o impacto da revolução da microeletrônica e do processo de informatização. 44 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR As alternativas eletrônicas de comunicação e as versões dos antigos meios promoveram, no final do século XX, uma revolução no interior da revolução dos meios de comunicação; dito de outro modo houve verdadeira revolução informacional nas mídias. A televisão é, nesse sentido, um dos veículos mais ágeis. Além de tratar as notícias e as informações no momento em que se dão, ela conseguiu alargar suas opções na área de transmissão a cabo ou por assinatura. Ensaia experimentos de interatividade, em que é possível obter um feedback dos telespectadores mediante enquetes, respostas, debates, conversas, registro, recebimento de informações via computador doméstico, telefone, etc. De maneira geral, os veículos jornalísticos informatizam-se e distribuem as informações por diferentes meios (telefone, fibras óticas, satélites, etc), criando redes de informação on-line (comunicação instantânea) que conseguem juntar texto, som e imagem. Dando sequencia àquilo que foi iniciado pela televisão a cabo, a informatização das mídias tende a diversificar e diferenciar os leitoras/usuários como um universo segmentado e complexo, em razão das demandas específicas e da tendência à individualização, indicativas de um período de afirmação das singularidades e de florescimento das diferenças ou, ainda, de intensificação do processo de individualização. Desse modo, a evidente utilização elitista e tecnocrática da informação e das novas tecnologias a ela relacionadas impõe o desafio de perceber as potencialidades contraditórias e libertadoras da revolução informacional, bem como as condições e estratégias de luta pela democratização no contexto de uma sociedade cada vez mais globalizada, o que supõe também democratizar a política de comunicação, como a concessão de canais de rádio e de TV. A palavra globalização está na moda. No entanto, diferentemente da moda passageira, ela parece ter vindo para ficar. Embora seu significado ainda não conste da maioria dos dicionários, tem sido usada para expressar uma gama de fatores econômicos, sociais políticos e culturais que expressam o espírito e 45 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR a etapa de desenvolvimento do capitalismo em que o mundo se encontra atualmente. O capitalismo lançou-se, no final do século XX, em um acelerado processo de reestruturação e integração econômica, que compreende o progresso técnico-científico em áreas como telecomunicações e informática, a privatizações de amplos setores de bens e serviços produzidos pelo Estado, a busca de eficiência e de competitividade e a desregulamentação do comércio entre países, com a destruição das fronteiras nacionais e a procura pela completa liberdade de trânsito para as pessoas, mercadorias e capitais, em uma espécie de mercado universal. Essas manifestações do processo de globalização, bem como as transformações econômicas associadas à revolução tecnológica, levam a crer que o homem parece estar condenado a acabar, com o trabalho manual e assalariado. A globalização do sistema financeiro é outra das marcas típicas do processo de globalização da economia. Segundo o autor, a mobilidade do capital deixa os governos fragilizados e gera grande instabilidade nas economias dos países emergentes. A instabilidade econômica está, portanto, associada, entre outros aspectos, à luta por alocação de recursos internacionais, luta essa que tem atraído mais o dinheiro volátil (capital especulativo) do que o capital para investimento (capital produtivo). A abertura econômica e a crescente limitação dos poderes dos Estados nacionais têm como extensão a ampliação da autonomia do mercado mundial, a interdependência econômica e o aumento do poder transnacional. Ele ressalta que o capitalismo/liberalismo vem assumindo duas posições clássicas que se revezam: uma concorrencial e estatizante, muito embora seja comum encontrar classificações que apresentam quatro etapas de desenvolvimento, como vimos na síntese de estudo sobre o capitalismo. A primeira delas, a concorrencial, cuja preocupação central é a liberdade econômica (economia de mercado auto regulável), define-se nas seguintes características: a livre concorrência e o fortalecimento da iniciativa privada com a competitividade, a eficiência e a qualidade de serviços e produtos; a 46 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DA SULPERVISÃO ESCOLAR sociedade aberta e a educação para o desenvolvimento econômico; a formação das elites intelectuais; a seleção dos melhores. A segunda tendência, a estatizante, apresenta características cuja preocupação central é de conteúdo igualitarista-social, com o objetivo de : efetivar uma economia de mercado planejada e administrada pelo Estado; promover políticas públicas de bem estar social; permitir o desenvolvimento mais igualitário das aptidões e das capacidades. No tocante à educação, a orientação política do neoliberalismo de mercado evidencia, ideologicamente, um discurso de crise e de fracasso da escola pública, como decorrência da incapacidade administrativa e financeira de o Estado gerir o bem comum. O modelo de exploração anterior, que exigia um trabalhador fragmentado, rotativo e treinado rapidamente pela empresa, cede lugar a um modelo de exploração que requer um novo trabalhador, com habilidades de comunicação, de abstração, de visão de conjunto, de integração e de flexibilidade, para acompanhar o próprio avanço científico-tecnológico da empresa, o qual se dá por força dos padrões de competitividades seletivos exigidos no mercado global. Por isso, a educação básica, ou melhor, a educação fundamental ganha centralidade nas políticas educacionais, sobretudo nos países subdesenvolvidos. As orientações do Banco Mundial para o ensino básico e superior são extremamente representativas deste novo momento. A solução consiste em desenvolver um ensino mais eficiente, de qualidade e capaz de oferecer uma formação geral mais sofisticada, em lugar de treinamento para o trabalho. 47
Compartilhar