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FICHAMENTO DO LIVRO A SOCIEDADE DOS INDIVIDUOS

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FICHAMENTO DO LIVRO
– A SOCIEDADE DOS INDIVÍDUOS– NORBERT ELIAS
Parte I: A Sociedade dos Indivíduos
O sociólogo alemão inicia questionando se o conceito de sociedade é compreendido de maneira adequada. Em várias de suas reflexões, ele deixa claro que o desafio de conceituar ‘sociedade’ se tornou complexo: 
“A sociedade, como sabemos, somos todos nós; é uma porção de pessoas juntas. Mas uma porção de pessoas juntas na Índia e na China formam um tipo de sociedade diferente da encontrada na América ou na Grã-Bretanha; a sociedade composta por muitas pessoas individuais na Europa do século XII era diferente da encontrada nos séculos XVI ou XX [...]” (Norbert Elias - A Sociedade dos indivíduos, 1994, pág. 13)
De forma introdutória, a parte 1 aborda alguns conceitos como os de contexto social e estrutura com o intuito de demonstrar que as idéias de indivíduo e de sociedade são estreitamente articuladas por um processo interativo e relata acerca da falta de modelos conceituais para consistir na elaboração de um desenho na composição desta sociedade. 
“O que nos falta - vamos admiti-lo com franqueza - são modelos conceituais e uma visão global mediante os quais possamos tornar compreensível, no pensamento, aquilo que vivenciamos diariamente na realidade, mediante os quais possamos compreender de que modo um grande número de indivíduos compõem entre si algo maior e diferente de uma coleção de indivíduos isolados [...]” (Norbert Elias - A Sociedade dos indivíduos, 1994 : 16)
Com esta premissa, Norbert Elias conduz para o convencimento da indivisibilidade entre sociedade e indivíduo mesmo considerando que os indivíduos possuem uma característica própria de individualidade, porém levando também a entender que o desenvolvimento desta inter-relação deve conduzir-se dentro de uma consciência do todo.
“Na vida social de hoje, somos incessantemente confrontados pela questão de se e como é possível criar uma ordem social que permita uma melhor harmonização entre as necessidades e inclinações pessoais dos indivíduos, de um lado, e, de outro, as exigências feitas a cada indivíduo pelo trabalho cooperativo de muitos, pela manutenção e eficiência do todo social. [...]” (Norbert Elias - A Sociedade dos indivíduos, 1994, pág 17)
Neste sentido, para explicar a estrutura social, é preciso considerar as relações/funções entre os indivíduos na sociedade; por considerar essas relações/funções dinâmicas, o sociólogo nega-se a observar a estrutura de maneira fixa e estática. Para tanto, ele exemplifica o caso do processo de individualização no seio da Renascença:
“Em consonância com a estrutura mutável da sociedade ocidental, uma criança do século XII desenvolvia uma estrutura dos instintos e da consciência diferente da de uma criança do século XX. A partir do estudo do processo civilizador, evidenciou-se com bastante clareza a que ponto a modelagem geral, e portanto a formação individual de cada pessoa, depende da evolução histórica do padrão social, da estrutura dasrelações humanas. Os avanços da individualização, como na Renascença, por exemplo, não foram conseqüência de uma súbita mutação em pessoas isoladas, ou da concepção fortuita de um número especialmente elevado de pessoas talentosas; foram eventos sociais, conseqüência de uma desarticulação de velhos grupos ou de uma mudança na posição social do artista - artesão, por exemplo. Em suma, foram conseqüência de uma reestruturação específica das relações humanas. [...]” (Norbert Elias - A Sociedade dos indivíduos, 1994, pág 17 e 18)
A concepção de individualidade desenvolvida por Elias possui um componente sócio-histórico. Segundo Elias, nas sociedades tradicionais, o sentimento de pertencer a um grupo, seja a uma família, a uma tribo ou ao Estado tinha muito mais peso na vida dos indivíduos do que aquilo que eles concebiam como traços individuais de sua personalidade. Com a modernidade, essa identidade-nós foi deslocada pela identidade-eu que possibilitou a emergência da própria concepção de indivíduo. Esta última passa a “expressar a ideia de que todo ser humano do mundo é ou deve ser uma entidade autônoma e, ao mesmo tempo, de que cada ser humano é, em certos aspectos, diferente de todos os demais, e talvez deva sê-lo”. 
“Essa rede de funções no interior das associações humanas, essa ordem invisível em que são constantemente introduzidos os objetivos individuais, não deve sua origem a uma simples soma de vontades, a uma decisão comum de muitas pessoas individuais. Não foi com base na livre decisão de muitos, num contrato social, e menos ainda com base em referendos ou eleições, que a atual rede funcional complexa e altamente diferenciada emergiu, muito gradativamente, das cadeias de funções relativamente simples do início da Idade Média, que no Ocidente, por exemplo, ligaram as pessoas como padres, cavaleiros e escravos. [...]” (Norbert Elias - A Sociedade dos indivíduos, 1994, pág. 22)
Compreendendo que “a vida dos seres humanos em comunidade certamente não é harmoniosa” (ELIAS, 1994, p. 21), conclui, neste sentido, que certamente não somos bons uns com os outros. A vida em sociedade possui “contradições”, “tensões” e “explosões”. Neste “turbilhão”, mesmo a maioria das pessoas não se conhecendo, existe uma “ordem invisível” que faz com que cada pessoa ocupe um determinado lugar (ELIAS, 1994). Há, portanto, uma ordem invisível que, por meio dessas “teias humanas”, onde as pessoas estão ligadas entre si, são oferecidas ao indivíduo possibilidades limitadas de opções para se comportar. Para definir o que é sociedade, ele explica que: 
“[…] cada pessoa singular está realmente presa; está por viver em permanente dependência funcional de outras; ela é um elo nas cadeias que ligam outras pessoas, assim como todas as demais, direta ou indiretamente, são elos nas cadeias que as prendem. Essas cadeias não são visíveis e tangíveis, como grilhões de ferro. São mais elásticas, mais variáveis, mais mutáveis, porém não menos reais, e decerto não menos fortes. E é a essa rede de funções que as pessoas desempenham umas em relação a outras, a ela e a nada mais, que chamamos “sociedade” [...]” (Norbert Elias - A Sociedade dos indivíduos, 1994, pág. 24)
Norbert Elias aponta que o indivíduo se apresenta como uma síntese complexa de um contexto sócio-histórico singular e explica que o indivíduo necessita essencialmente da sociedade para se desenvolver.
“Ao nascer, cada indivíduo pode ser muito diferente, conforme sua constituição natural. Mas é apenas na sociedade que a criança pequena, com suas funções mentais maleáveis e relativamente indiferenciadas, se transforma num ser mais complexo. Somente na relação com outros seres humanos é que a criatura impulsiva e desamparada que vem ao mundo se transforma na pessoa psicologicamente desenvolvida que tem o caráter de um indivíduo e merece o nome de ser humano adulto. Isolada dessas relações, ela evolui, na melhor das hipóteses, para a condição de um animal humano semi-selvagem [...]” (Norbert Elias - A Sociedade dos indivíduos, 1994, pág. 27)
Segundo Elias, não é somente o comportamento consciente que é constantemente formado e transformado na criança por meio de suas relações com os outros, mas também seu comportamento controlado pelos instintos; embora esse comportamento nunca seja uma simples cópia do que é feito pelos outros, mas sua resposta à maneira como seus instintos e afetos, que se orientam para outras pessoas, são correspondidos por esses outros. Para o autor, a peculiaridade da própria natureza humana corresponde ao grau bastante elevado em que a autorregulação humana está livre do controle de mecanismos reflexos hereditários. É essa liberdade das predeterminações hereditárias no manejo das relações pelo indivíduo que permite e, ao mesmo tempo, exige uma moldagem sociogênica das funções psíquicas. E é graças a essa moldagem social que a forma de autorregulação em relação aos outros é mais diversificada do que nos outros animais, ou seja, é mais individual.
Para transformar a compreensão da sociedade, ele considera que é precisosubstituir a concepção tradicional desse modelo pelo entendimento de que as pessoas constituem relações de interdependência ou configurações de muitos e variados tipos, tais como famílias, escolas, cidades, camadas sociais ou Estados. O social é um conjunto de relações. O grupo é um todo relacional. O que o constitui é o conjunto das relações que se estabelecem, em todo o momento, entre o conjunto de elementos que o compõe. Essas relações estão sempre em processo, isto é: elas se fazem e desfazem, se constroem, se destroem, podendo ou não ser reconstruídas ou rearticuladas. A cada instante as relações se atualizam ou se esgarçam ou se fortificam. A primeira decorrência disso vai ao encontro dos conceitos de indivíduo e sociedade presentes nos três autores analisados. Indivíduos em si e sociedade em si são mitos. Somente existe indivíduo na sociedade e sociedade no indivíduo. Em suas reflexões, Elias aponta continuamente a grande problemática do próprio indivíduo que não procura viver em sociedade de uma maneira consciente:
“O abismo e o intenso conflito que as pessoas altamente individualizadas de nosso estágio de civilização sentem dentro de si são projetados no mundo por sua consciência. Em seu reflexo teórico, eles aparecem como um abismo existencial e um eterno conflito entre indivíduo e sociedade. [...]” (Norbert Elias - A Sociedade dos indivíduos, 1994, pág.32 )
Na visão de Norbert Elias, uma compreensão clara da relação indivíduo sociedade só se concretizaria a partir do momento em que tanto o processo de individualização quanto a historicidade forem incluídos na “teoria da sociedade”. Essas duas instâncias, somadas ao conceito de habitus social, entendido como a composição social do indivíduo, que constitui o solo no qual se assentam as suas características pessoais, que o diferencia dos outros membros de sua sociedade. Assim, o autor lança uma crítica à ideia da existência de um “eu” único e exclusivo que habita em cada indivíduo. Pois, por mais autêntica ou verdadeira que seja essa ideia, enquanto expressão da estrutura especial da consciência e dos indivíduos num certo estágio do movimento da civilização, ela é inadequada. Nesse sentido, segundo ELIAS (1994, p. 35), os instrumentos do pensamento humano não são suficientemente móveis para tratar adequadamente de fenômenos como a relação indivíduo-sociedade.
O conceito de coletivo surge aqui ressignificado, entendido como fundamental e indicando um caminho peculiar para a transformação social. A vida somente se mantém possível através dessa existência social, afinal, a história sempre será a história de uma sociedade, mas de sociedades de indivíduos. Ao compreender a sociedade como uma rede de interdependências, confere ao individuo maior potencial de atuação frente às estruturas, de maneira que a constituição de sua individualidade somente é possível quando as funções que desempenha estão inseridas em um universo plural, onde escolhas são tornadas possíveis. Logo, a individualidade somente é possível porque, dada a diversidade de valores, papeis e funções assumidas, permitirá aos indivíduos traçarem trajetórias singulares. O esforço de Elias consiste em demonstrar que aquilo que singulariza os indivíduos em relação aos outros não pode ser tido como um elemento extrassocial, conceituado em termos naturais ou metafísicos. Para ele, o que é singular e diferente no indivíduo em relação aos outros, em suma, a sua individualidade, só pode ser compreendido adequadamente se voltarmos nossa atenção para as relações sociais. Há um longo processo de moldagem social que o indivíduo atravessa a fim de deixar a sua constituição primeira e adquirir sua individualidade
“...As idéias, convicções, afetos, necessidades e traços de caráter produzem-se no indivíduo mediante a interação com os outros, como coisas que compõem seu “eu” mais pessoal e nas quais se expressa, justamente por essa razão, a rede de relações de que ele emergiu e na qual penetra. E dessa maneira esse eu, essa “essência” pessoal, forma-se num entrelaçamento contínuo de necessidades, num desejo e realização constantes, numa alternância de dar e receber. É a ordem desse entrelaçamento incessante e sem começo que determina a natureza e a forma do ser humano individual. Até mesmo a natureza e a forma de sua solidão, até o que ele sente como sua “vida íntima”, traz a marca da história de seus relacionamentos — da estrutura da rede humana em que, como um de seus pontos nodais, ele se desenvolve e vive como indivíduo. [...]” (Norbert Elias - A Sociedade dos indivíduos, 1994, pág.36 )
A relação entre indivíduo e sociedade, portanto, é dinâmica, no sentido de que a formação do indivíduo depende deste entrelaçamento de funções, naturais e sociais. O indivíduo, portanto, trás em sua constituição aquilo que foi construído pelo “social”, ou seja, as características peculiares de uma dada sociedade, mas também trás o que o singulariza e o diferencia dos demais indivíduos pertencentes à mesma sociedade. Elias explica a interdependência entre indivíduo e sociedade bem como a noção de que os indivíduos não são passivos ao processo de socialização. 
“Os seres humanos são parte de uma ordem natural e de uma ordem social. As considerações precedentes mostraram como é possível esse duplo caráter. A ordem social, apesar de muito diferente de uma ordem natural, como a dos órgãos no interior de determinado corpo, deve sua própria existência à peculiaridade da natureza humana. [...]” (Norbert Elias - A Sociedade dos indivíduos, 1994, pág.41 )
A individualidade pessoal é abordada como algo inerente a sociedade, porém nessa perspectiva, a individualidade também figura como um processo aberto, na medida em que se nega a noção do indivíduo autossustentado e fixo. A ideia do indivíduo como “personalidade fechada” é substituída pela de “personalidade aberta”, que possui maior ou menor grau de autonomia em face de outras pessoas e que é sempre orientada para outras pessoas e dependente delas. 
“Toda sociedade grande e complexa tem, na verdade, as duas qualidades: é muito firme e muito elástica. Em seu interior, constantemente se abre um espaço para as decisões individuais. Apresentam-se oportunidades que podem ser aproveitadas ou perdidas. Aparecem encruzilhadas em que as pessoas têm de fazer escolhas, e de suas escolhas, conforme sua posição social, pode depender seu destino pessoal imediato, ou o de uma família inteira, ou ainda, em certas situações, de nações inteiras ou de grupos dentro delas. [...]”(Norbert Elias - A Sociedade dos indivíduos, 1994, pág.48 )
Parte II: Problemas da Autoconsciência e da Imagem do Homem
Para Elias, a noção de individualidade como expressão de um núcleo natural extrassocial dentro do indivíduo, no qual os traços sociais são depositados, está ligada a uma singular conformação histórica do indivíduo pela rede de relações, ou seja, por uma forma de convívio de uma estrutura muito específica. Por meio dessa estrutura, desenvolve-se a autoconsciência de pessoas que foram obrigadas a adotar um grau elevado de refreamento, de controle afetivo, de renúncia e transformação dos instintos, e que relegam muitas das suas funções, desejos e expressões instintivas a enclaves privativos de sigilo, afastados do olhar do mundo externo, ou até a um nível semiconsciente ou inconsciente. Assim, Elias (1994, p. 53) afirma que se a tensão e contradições entre os desejos do indivíduo parcialmente controlados pelo inconsciente, de um lado, e as exigências sociais representadas por seu superego, de outro, nunca estão completamente ausentes em nenhuma sociedade, elas se mostram especialmente intensas e difusas quando o processo civilizador atinge um estágio avançado.
Parte III: Mudanças na Balança Nós-Eu
Cabe ressaltar que, de acordo com Elias, é preciso direcionar as ciências sociais para o estudo dos processos, das mudanças e das relações para continuarmos evoluindo como sociedade. No decorrer da análise sobre o relacionamento do indivíduo com a sociedade, Elias demonstra o quão imprescindível éa ligação dos dois. Nem a sociedade nem o indivíduo existem sem o outro. Um não pode existir sem o outro, nem um se pertence, ambos coexistem. Sem indivíduo não tem sociedade, sem sociedade não tem indivíduo. Embora a sociologia do indivíduo seja constituída por uma diversidade de perspectivas, todas elas partem de uma crítica segundo a qual a sociologia sempre tentou compreender a vida social a partir da identificação das lógicas grupais dos grandes processos estruturais, ou seja, a partir de noções como a de grupo, de classe social, de civilização.
O estudo desse desenvolvimento da relação indivíduo-sociedade, no entanto, não pode ser feito aplicando-se as mesmas leis de estudo dos seres inanimados ou da natureza não-humana. Aqueles possuem características físicas de funcionamento constante; estes tem uma alteração comportamental apenas quando uma mudança genética correspondente ocorre. Com os seres humanos, todavia, as mudanças de comportamento e das relações entre os indivíduos acontece sem que se possa observar uma submissão restrita às mesmas leis que regem os demais seres.
O processo de individualização é em grande parte motivado pela relação que o indivíduo possui com os demais membros de sua comunidade. Em civilizações menos desenvolvidas, observa-se uma interdependência maior entre membros de uma família. É nela que se busca proteção e estabilidade social. Em civilizações mais desenvolvidas, o papel de protetor e provedor é exercido pelo Estado, no entanto, sem as características da relação parental. O indivíduo possui maior autonomia sobre suas decisões e não mais necessita de um arcabouço familiar para encontrar provisão. Antes, é dotado de instrumentos sociais que lhe permitem uma relação impessoal com o outro, ainda que dele necessite para viver.
[…] em estágios anteriores, o grupo familiar era a unidade de sobrevivência primordial e indispensável dos indivíduos. Ela não perdeu inteiramente essa função, em especial para as crianças. Entretanto, em épocas mais recentes, o Estado — e, ainda mais recentemente, o Estado parlamentar com certas instituições previdenciárias mínimas — tem absorvido essa função da família, como muitas outras. Inicialmente sob a forma do Estado absolutista e depois sob a do Estado unipartidário ou pluripartidário, o nível nacional de integração assumiu, para um número cada vez maior de pessoas, o papel de unidade primária de sobrevivência, papel que parece indispensável e permanente. (ELIAS, 1994, p.168)
Por fim, com base em sua perspectiva sócio histórica, Elias buscou conciliar os polos da relação indivíduo e sociedade de maneira relacional e não substancialista, para superar as dicotomias sociológicas, como indivíduo-sociedade e subjetividade-objetividade. Em síntese, os aspectos sociais e naturais são partes integrantes da totalidade dos seres humanos. A ordem social, na perspectiva elisiana, muito diferente da ordem natural, “deve sua própria existência à peculiaridade da natureza humana” (p.41). O desprendimento dos automatismos genético que são próprios dos outros animais confere aos humanos a necessidade de que o universo de possibilidade de seus comportamentos seja produzido apenas na presença e anterioridade de outros. 
Analisando a evolução das sociedades ao longo da história, é fácil observar que a individualização não tem a ver com a biologia do ser humano. O mesmo homem que há 10 mil anos possuía uma noção de individualização muito remota, dado o nível simples de sua comunidade, é fisiologicamente o mesmo homem que hoje, em uma sociedade extremamente complexa, tem muitas vezes dificuldade para entender-se para além de seu papel profissional na relação com o todo. 
“[…] o padrão básico da imagem do eu e do homem em geral continua a se fundamentar, mesmo nos tipos mais avançados de especialização e individualização sociais que emergiram até hoje, na idéia de um "interior" separado do mundo "externo" como que por um muro invisível” (ELIAS, 1994, p. 105).
O autor explorou a problemática da noção que está por trás dos termos “indivíduo” e “sociedade” que, apesar de compreendidos facilmente no linguajar cotidiano, transportam um significado antagônico.

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