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FÍS M AT QU Í BIO LP O LP O LP O LP O LP O LP O LP O LP O LP O GE O FIL HI S SO C RE S Lín gu a P or tu gu es a 252 251 253 Capítulo 25 ................28 Módulo 55 .............. 33 Módulo 56 ..............36 Capítulo 26 ................40 Módulo 57 ..............44 Capítulo 27 ................48 Módulo 58 ..............54 Módulo 59 ..............58 Módulo 60 ..............62 TH E BR ID GE M AN A RT L IB RA RY / KE YS TO NE B RA SI L 1. Antecedentes do Realismo português 30 2. Contexto 31 3. Traços de estilo 31 4. Organizador gráfico 32 Módulo 55 – Realismo: contexto 33 Módulo 56 – Realismo: traços de estilo 36 • Localizar, em textos literários do Rea- lismo/Naturalismo, marcas discursivas e ideológicas desse estilo de época e seus efeitos de sentido. • Compreender valores, ideologias e propostas estéticas representadas em obras literárias realistas/naturalistas. 29 “O Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do ho- mem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houver de mau na nossa sociedade.” Eça de Queirós Realismo 25 Gustave Courbet, Os quebradores de pedra, 1849. 25 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 30 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 1. Antecedentes do Realismo português A publicação do romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert, em 1857, foi um marco da nova tendência artística que se iniciava, enquanto o Romantismo perdia força em ra- zão das ideias filosóficas e científicas que surgiam à época. O livro foi considerado um escândalo por apresentar uma perso- nagem adúltera do meio burguês. Um evento específico marcou o fim do Romantismo e o início do Realismo em Portugal: a Questão Coimbrã. Mesmo se ela não tivesse acontecido, o Romantismo daria lugar, natu- ralmente, à nova escola. No entanto, os episódios ocorridos em Coimbra explicitaram o choque entre as duas formas de pensar e de escrever – a romântica e a realista. A Questão Coimbrã é o nome que se deu à desavença estabelecida entre António Feliciano de Castilho, defensor do Romantismo, e os estudantes da Universidade de Coimbra que haviam se juntado na Sociedade do Raio, uma associação fundada por Antero de Quental, em 1861, com o intuito de le- var ao sisudo meio acadêmico a aventura e a insubordinação. O conflito começou quando, ao escrever uma carta sobre obra de Pinheiro Chagas, em 1865, Castilho teceu grandes críticas aos jovens de Coimbra, acusando-os de exibicionismo e fal- ta de bom senso, citando, entre outros, os nomes de Teófilo Braga, autor da obra poética Visão dos tempos, e Antero de Quental, autor de Odes modernas. Leia um trecho da carta. [...] muito há que eu me pergunto a mim donde proviria esta enfermidade que hoje grassa por tantos espíritos, de que até alguns dos mais robustos adoe- cem, que faz com que a literatura e em particular a poesia ande marasmada, com fastio de morte à verdade e à simplicidade, com o olhar desvairado e visionário, com os passos incertos, com as cores da saúde trocadas em carmins postiços. [...] Deixando de parte, por agora, Braga e Quen- tal, de que, pelas alturas em que voam, confesso, humilde e envergonhado, que muito pouco en- xergo nem atino para onde vão, nem avento o que será deles afinal [...]. António Feliciano de Castilho SA UL O M IC HE LI N / P EA RS ON B RA SI L Antero, líder do grupo difamado por Castilho, respondeu à altura, em um texto intitulado “Bom senso e bom gosto”. Leia um fragmento. [...] combatem-se os hereges da escola de Coim- bra por causa do negro crime de sua dignidade, do atrevimento de sua retidão moral, do atentado de sua probidade literária, da impudência e miséria de serem independentes e pensarem por suas cabeças. E combatem-se por faltarem às virtudes de respeito humilde às vaidades omnipotentes, de submissão estúpida, de baixeza e pequenez moral e intelectual. Ao se referir a Castilho nesse mesmo texto, Antero de Quental, com 25 anos na época, afirmou: Levanto-me quando os cabelos brancos de V. Ex.ª passam diante de mim. Mas o travesso cére- bro que está debaixo e as garridas e pequeninas coisas que saem dele confesso não merecerem nem admiração, nem respeito, nem ainda esti- ma. A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança. V. Ex.ª precisa menos cinquenta anos de idade, ou então mais cinquenta de reflexão. Antero de Quental Antero de Quental foi um dos maiores sonetistas da língua portuguesa e um marco do Realismo na poesia. Seu contempo- râneo, o poeta Cesário Verde, também escreveu sob influência das ideias de seu tempo, afastando-se do Romantismo. REPRODUÇÃO A geração de 1870, vitoriosa na Questão Coimbrã, teve como representantes destacados (a partir da esquerda) Eça de Queirós, Oliveira Martins, Antero de Quental, Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro. SA UL O M IC HE LI N / P EA RS ON B RA SI L 25 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 31 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 2. Contexto Durante a segunda metade do século XIX, o continente euro- peu viu a burguesia se consolidando, assim como presenciou o fortalecimento do capitalismo e o avanço industrial e científico. Marcaram esse período o positivismo de Auguste Comte (o verdadeiro conhecimento é aquele que advém de compro- vação científica), o determinismo de Hippolyte Taine (o com- portamento do homem é determinado pelo meio em que se insere, pela raça e pelos fatos históricos) e o evolucionismo de Charles Darwin (a seleção natural relaciona-se diretamen- te com a sobrevivência das espécies). TR AV EL ER 11 16 / IS TO CK PH OT O. CO M Charles Darwin A ciência está atrelada ao pensamento da época. Por isso ela também tem papel fundamental na produção literária. 3. Traços de estilo TH E BR ID GE M AN A RT L IB RA RY / KE YS TO NE B RA SI L Hubert von Kerkomer, Em greve, 1891. O Romantismo e o Realismo são escolas literárias do sé- culo XIX. Enquanto o Romantismo teve lugar no início do sécu- lo, o Realismo apareceu em sua segunda metade. Apesar dis- so, são momentos com características radicalmente opostas: o Romantismo é marcado pela valorização da subjetividade, dos sentimentos, da fantasia e da imaginação, afastando-se do condicionamento das regras clássicas; já o Realismo é baseado no racional, na objetividade, procurando retratar a sociedade de maneira impassível, com o intuito de criticá-la. Mas a busca de uma visão racional do mundo, no encalço da “verdade”, impessoal e universal, implicava um conceito específico de realidade: à pergunta – que é real – respondiam: o que está fora de nós como objeto, e pode ser captado pe- los sentidos [...]. Para realizar [o que queriam], abandonaram as preocupações teológicas e me- tafísicas por considerá-las subjetivas, egocêntri- cas, e aderiram à ciência, forma de conhecimen- to objetivo da realidade efetuado com o apoio das faculdades racionais. O dado positivo, como ensinava Comte, substitui afora o idealismo ro- mântico: só interessa o que pode ser observado, documentado, analisado, experimentado [...]. A obra literária passou a ser considerada utensílio, arma de combate, de reforma e ação social. MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2008. 01. Observe a imagem. REPRODUÇÃO George Clausen, Busto de uma camponesa, 1882. Como a mulher é retratada? Resolução A mulher é retratada sem idealizações: com rugas, ros- to sofrido, mãos fortes e roupas rústicas. O pintor registra uma trabalhadora rural de maneira bem próxima da realida- de, como em uma fotografia; faz, nas artes plásticas, o que os escritores realistas fazem na literatura. APRENDER SEMPRE 2 25 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 32 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Conheça a obra de Gustave Courbet, um dos pioneiros do Realismo na pintura.Sobre esta tela, Enterro em Ornans, que retratava o funeral de seu tio-avô, o artista declarou que significava também a morte do Romantismo. M USÉE D'ORSAY, PARIS 4. Organizador gráfico Características Apenas texto Retrato �el à realidade Tema Tópico Subtópico destaqueSubtópico Pensamentos cientí�cos: positivismo, evolucionismo e determinismo Olhar cientí�co e objetivo Questões sociais TH E BR ID GE M AN A RT L IB RA RY / KE YS TO NE B RA SI L, TR AV EL ER 11 16 / IS TO CK PH OT O. CO M , T HE B RI DG EM AN A RT L IB RA RY / KE YS TO NE B RA SI L, R EP RO DU Çà O 25 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 33 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 01. UCS-RS Sobre o Realismo, considere as afirmações e assinale a alternativa correta. I. Em oposição ao Romantismo, cujo idealismo favorecia o romance histórico, as obras realistas pretenderam relatar com objetividade seu próprio momento histó- rico. II. Entre os novos ideais defendidos pelos autores realis- tas, encontravam-se ideais antirromânticos, antirreli- giosos e antiburgueses. III. A poesia realista teve representantes tão notáveis quanto a prosa, que acabou sendo suplantada apenas pela força do Romantismo. a. Somente I está correta. b. Somente I e II estão corretas. c. Somente I e III estão corretas. d. Somente II e III estão corretas. e. I, II e III estão corretas. Módulo 55 Realismo: contexto Exercícios de Aplicação 03. Associe as colunas. 1. Castilho 2. Comte 3. Darwin 4. Quental 5. Taine ( ) Defensor do Realismo. ( ) Defensor do Romantismo. ( ) Teoria do ambientalismo determinante: o ser huma- no como produto do meio. ( ) Teoria positivista: todos os fenômenos sujeitos às leis naturais. ( ) Teoria da origem das espécies e sua evolução bio- lógica. 02. UFV-MG (adaptado) Sobre o movimento realista, assinale a alternativa correta. a. O Realismo teve sua origem na França e foi uma reno- vação apenas no campo literário. b. O homem como indivíduo é o centro das preocupa- ções do autor realista. c. O ponto mais alto da prosa de ficção, no Realismo bra- sileiro, encontra-se na obra de Álvares de Azevedo. d. O escritor realista deve estudar os indivíduos, inter- rogá-los, analisar o meio e transcrever suas observa- ções. e. A prosa de ficção, no Realismo, não é uma obra de ata- que à mentalidade burguesa, à ordem social clerical e monárquica. Resolução A poesia realista não tem o mesmo destaque que conse- gue a prosa do período. Alternativa correta: B Resolução O Realismo é marcado pelo olhar “científico” do autor so- bre os homens e a realidade que os cerca. Alternativa correta: D Resolução 4 – 1 – 5 – 2 – 3 Habilidade Compreender valores, ideologias e propostas estéticas representadas em obras literárias realistas/naturalistas. 25 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 34 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Exercícios Extras 04. UFS-SE (adaptado) Assinale a alternativa que confirma a tese defendida pelo autor realista: “O homem é produto do meio”. a. O romance de análise procura estudar as causas do comportamento humano. b. Limita-se ao máximo, no romance realista, a interven- ção do autor na narrativa. c. Raça, clima e temperamento são fatores naturais que influenciam na conduta do homem. d. Desnudam-se, na obra realista, as mazelas da vida pú- blica e os contrastes da vida íntima. e. No Realismo, os processos expressivos tornam-se mais simples, concisos, ajustando-se à análise e à reflexão. Exercícios Propostos 05. Uergs-RS (adaptado) Considere as afirmações e assinale a alternativa correta. I. Para o filósofo Comte, o verdadeiro conhecimento só pode ser obtido a partir de fenômenos observáveis. II. Para o historiador Taine, o ser humano é, em última instância, um animal que tem seu destino determina- do pelo meio social e pela hereditariedade. III. Para o naturalista Darwin, o homem também é um pro- duto da evolução das espécies. a. Somente I está correta. b. Somente I e II estão corretas. c. Somente I e III estão corretas. d. Somente II e III estão corretas. e. I, II e III estão corretas. Seu espaço Da teoria, leia os tópicos 1 e 2. Exercícios de tarefa reforço aprofundamento 06. PUC-SP Estabeleça pelo menos três distinções entre o romance realista e o romance romântico. 07. UFES (adaptado) Assinale a alternativa incorreta. a. O Realismo português alcançou destaque na prosa, não havendo qualquer representante da poesia realista. b. A Questão Coimbrã foi o marco inicial do movimento realista português. c. Antero de Quental foi o grande defensor do movimento realista em Portugal. d. António Feliciano de Castilho opunha-se aos realistas e defendia o Romantismo. e. A Universidade de Coimbra foi o berço das ideias rea- listas portuguesas. 08. Cefet-PR Assinale a alternativa que melhor caracteriza o Realismo. a. Preocupação em justificar, à luz da razão, as reações das personagens, seus procedimentos e os proble- mas sentimentais e metafísicos apresentados. b. Apresentação do homem como um ser dominado pe- los instintos, pelas taras, pela carga hereditária, em detrimento da razão. c. Preocupação em retratar a realidade como ela é, sem transformá-la. O autor, ao relatar, baseia-se na docu- mentação e na observação da realidade. d. Visão do amor unicamente sob o aspecto da sexuali- dade, como mera satisfação de instintos animais. e. Aspectos descritivos e minuciosos, sempre que possí- vel, baseados na observação da realidade e do subje- tivismo e sentimentalismo do autor. 09. FEI-SP (adaptado) Leia o fragmento de texto de Alfredo Bosi e responda à questão. Desnudam-se as mazelas da vida pública e os contrastes da vida íntima; e buscam-se para am- bas causas naturais (raça, clima, temperamento) ou culturais (meio e educação), que lhes reduzem de muito a área de liberdade. O escritor tomará a sério suas personagens e se sentirá no dever de descobrir-lhes a verdade, no sentido positivista de dissecar os móveis do seu comportamento. O texto refere-se ao Realismo e às ideias que lhe deram sustentação. O trecho que não evidencia essa argumentação é: a. “Desnudam-se as mazelas da vida pública...” b. “... buscam-se... causas naturais...” c. “O escritor tomará a sério suas personagens...” d. “... se sentirá no dever de descobrir-lhes a verdade...” e. “... no sentido positivista...” No Brasil, o marco do início do Realismo é considerado a publi- cação do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Leia um fragmento da obra e responda às questões 10 e 11. Algum tempo hesitei se devia abrir estas memó- rias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em Sobre o módulo Leia com os alunos os trechos de António Feliciano de Castilho e de Antero de Quental, transcritos no início da parte teórica do capítulo 25. Mostre a eles que, além de a discussão reproduzir o embate entre o Romantismo, que estava acabando, e o Rea- lismo, que nascia, evidencia o conflito entre representantes de gerações diferentes. 25 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 35 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. [...] Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns ses- senta e quatro anos, rijos e prósperos, era soltei- ro, possuía cerca de trezentos contos e fui acom- panhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! [...] foi assim que me encaminhei para o undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe,mas pausado e trôpego como quem se retira tarde do espe- táculo. Tarde e aborrecido. Viram-me ir umas nove ou dez pessoas, entre elas três senhoras [...] Tenham paciência! daqui a pouco lhes direi quem era a terceira senhora. Contentem-se de saber que essa anônima, ainda que não parenta, padeceu mais do que as parentas. É verdade, pa- deceu mais. Não digo que se carpisse, não digo que se deixasse rolar pelo chão, convulsa. Nem o meu óbito era coisa altamente dramática... Um solteirão que expira aos sessenta e quatro anos, não parece que reúna em si todos os elementos de uma tragédia. 10. Ufal/Copeve (adaptado) Faça um comentário sobre aspectos do texto que o dife- renciam das obras românticas e o inserem entre as realistas. 11. Ufal/Copeve “[...] eu não sou propriamente um autor de- funto, mas um defunto autor”. Explique a diferença de sentido provocada pela mudança de posição dos termos nos segmentos destacados. 12. PUC-PR (adaptado) Sobre o Realismo, assinale a alternativa incorreta. a. O Realismo surgiu na Europa, como reação ao Arcadismo. b. O Realismo tem suas bases no pensamento de Taine e Comte, entre outros. c. O Realismo surgiu como consequência do cientificis- mo do século XIX. d. Gustave Flaubert foi um dos precursores do Realismo, com o romance Madame Bovary. e. Antero de Quental foi um dos mais importantes defen- sores do movimento realista em Portugal. 13. FEI-SP Considere as afirmações e assinale a alternativa correta. I. O Realismo teve sua origem na França e foi uma reno- vação apenas no campo literário. II. O escritor realista deve estudar o exterior dos indiví- duos, interrogá-los, analisar o meio e depois trans- crever suas observações, procurando ser, rigorosa- mente, impessoal. III. Para o escritor realista, o que importa é o que está fora de nós, o objeto captado pelos sentidos. IV. O Realismo é uma obra de ataque à mentalidade bur- guesa, à ordem social, clerical e monárquica. a. Somente I e IV estão corretas. b. Somente IV está correta. c. Somente II, III e IV estão corretas. d. I, II, III e IV estão corretas. 14. UFPE (adaptado) Sobre o Realismo, considere as afirmações e assinale V para verdadeiro e F para falso. ( ) O regionalismo, iniciado com O sertanejo, de José de Alencar, é a obra típica do Realismo no Brasil. ( ) Por razões de dependência cultural, o Realismo, no Brasil, apresenta muitas das características do Rea- lismo francês. ( ) Uma das correntes de pensamento que servem como base ao Realismo é o positivismo de Comte. ( ) O positivismo exerce enorme influência sobre a es- tética realista, refletida, entre outras coisas, no racio- nalismo científico de algumas obras. ( ) No Realismo, reduz-se a natureza a simples cenário, sem função na narrativa. Assim, a natureza não con- diciona nem influencia o comportamento dos perso- nagens. 15. UPE/SSA (adaptado) Sobre o Realismo, considere as afirmações e assinale V para verdadeiro e F para falso. ( ) Um dos princípios da estética realista é a busca pela interação entre realidade e fantasia. Isso implica uma tentativa de produzir textos literários identifica- dos com o sentimentalismo romântico. ( ) Não há expressiva diferença entre a estética românti- ca e a realista, já que, em ambas, a linguagem, por ser de natureza literária, encontra-se sempre figurada. 16. Vunesp Leia o fragmento do texto que fez parte da conferência, ocorrida no Cassino Lisbonense, que marcou o início do Rea- lismo em Portugal e faça o que se pede. [...] é uma base filosófica para todas as concep- ções do espírito – uma lei, uma carta de guia, um roteiro do pensamento humano, na eterna região artística do belo, do bom e do justo. É a negação da arte pela arte, é a proscrição do conven- cional, do enfático e do piegas. É a abolição da retórica considerada como arte de promover a comoção usando da inchação do período, da epilepsia da palavra, da congestão dos tropos. É a análise com o fito na verdade absoluta. É a anato- mia do caráter. É a crítica do homem. a. Qual é o nome do fato literário no qual está inserida a conferência? b. Forneça o nome dos dois principais oponentes nesse episódio artístico literário. c. Por conhecer esse fato, você é capaz de interpretar o trecho destacado no texto? Faça-o. 25 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 36 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Módulo 56 Realismo: traços de estilo Exercícios de Aplicação 03. UFTM-MG Assinale a alternativa em que se encontram característi- cas da prosa do Realismo. a. Objetivismo; subordinação dos sentimentos a inte- resses sociais; críticas às instituições decadentes da sociedade burguesa. b. Idealização do herói; amor visto como redenção; opo- sição a valores sociais. c. Casamento visto como arranjo de conveniência; des- crição objetiva; idealização da mulher. d. Linguagem metafórica; protagonista tratado como an- ti-herói; sentimentalismo. e. Espírito de aventura; narrativa lenta; impasse amoro- so solucionado pelo final feliz. Leia os textos e responda às questões 01 e 02. Texto I Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poento caminheiro Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro Álvares de Azevedo Texto II Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui mi- nistro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno sal- do, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: Não tive filhos, não transmiti a nenhu- ma criatura o legado da nossa miséria. Machado de Assis 01. Sistema COC Considerando a comparação entre os estilos romântico e realista, indique a diferença entre a atitude do eu lírico do pri- meiro texto e a do narrador do segundo texto diante da morte. 02. Sistema COC A linguagem de ambos os textos permite a identifica- ção de dois traços, um do Romantismo e um do Realismo, bastante distintivos entre si. Sucintamente, descreva essa diferença. Resolução O eu lírico do primeiro texto considera a vida como abso- lutamente ruim, um pesadelo, um tédio, enquanto o narrador do segundo texto conclui que a vida merece ao menos uma análise, um balanço, por meio do qual identificou algum “lucro”. Resolução No primeiro texto, a linguagem torna-o emocional e sub- jetivo, com uso de metáfora e comparação. A linguagem do segundo texto é objetiva, racional, com uso mínimo de figuras de linguagem. Resolução A alternativa A é a única que apresenta aspectos do Rea- lismo. Alternativa correta: A Habilidade Compreender valores, ideologias e propostas estéticas representadas em obras literárias realistas/naturalistas. 25 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 37 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Exercícios Extras do à selva intensa dos romances cavalheirescos, despertado um momento da legenda morta para uma entrevista de espectros e recordações. Um jato de luz elétrica, derivado de foco invisível, fe- ria a inscrição dourada ATHENÆUM em arco sobre as janelas centrais, no alto do prédio. A uma delas, à sacada, Aristarco mostrava-se. Na expressão olímpica do semblante transpirava a beatitude de um gozo superior. Gozava a sensa- ção prévia, no banho luminoso da imortalidade a que se julgava consagrado. Devia ser assim: – luz benigna e fria, sobre bustos eternos, o ambiente glorioso do Panteão. A contemplação da posteri- dade embaixo [...] 05. Sistema COC É possível perceber a riqueza de detalhes na descrição impressionista-expressionista do cenário,bem como a ati- tude ironicamente crítica que o narrador faz sobre o perso- nagem Aristarco. Com base nisso, informe o nome do estilo de época em que melhor se enquadra o romance de que se extraiu o fragmento. 04. Sistema COC Assinale a alternativa correta sobre o Realismo. a. É uma fase de transição, em que várias tendências opostas coexistem. b. Inicia-se durante a Idade Média, em meio ao feudalis- mo. c. Apresenta exaltação da fantasia e da imaginação. d. Tem como traço a observação do mundo objetivo e exato. e. Valoriza a musicalidade, ou seja, o ritmo e a sonoridade. Leia o trecho do romance O Ateneu, de Raul Pompéia, e responda às questões 05 e 06. Na ocasião em que me ia embora, estavam acendendo luzes variadas de Bengala diante da casa. O Ateneu, quarenta janelas, resplendentes do gás interior, dava-se ares de encantamento com a iluminação de fora. Erigia-se na escu- ridão da noite, como imensa muralha de coral flamante, como um cenário animado de safira com horripilações errantes de sombra, como um castelo fantasma batido de luar verde empresta- Seu espaço Sobre o módulo Mostre aos alunos como o intuito de retratar fielmente a realidade não aparece apenas na literatura, podendo ser veri- ficado também em obras como a apresentada no final da teo- ria do capítulo 25. Incentive os alunos a falarem sobre a forma como a mulher foi pintada nessa obra. Na web Para mais informações sobre o Realismo na pintura, acesse: <http://www.itaucultural.org.br/aplicEx- ternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseac- tion=termos_texto&cd_verbete=3639>. 25 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 38 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Exercícios Propostos d. Operam uma crítica das leituras romanescas, que con- sideram fantasiosas em relação à vida real. e. Têm como objetivos principais criticar as mazelas da sociedade e propor soluções para erradicá-las. 10. Vunesp Leia o fragmento de texto de Eça de Queirós e responda à questão. Amaro abriu a vidraça. Ao fim da rua um can- deeiro esmorecia. A noite estava muito negra. E havia sobre a cidade um silêncio côncavo, de abóbada. Depois das cornetas, um rufar lento de tam- bores afastou-se para o lado do quartel; por bai- xo da janela um soldado, que se demorara nal- guma viela do castelo, passou correndo; e das paredes da Misericórdia saía constantemente o agudo piar das corujas. — É triste isto – disse Amaro. Mas o São Joaneira gritou de cima: — Pode subir, senhor cônego! Está o caldo na mesa! — Ora vá, vá, que você deve estar a cair de fome, Amaro! – disse o cônego, erguendo-se muito pesado. E detendo um momento o pároco pela manga do casaco: — Vai você ver o que é um caldo de galinha feito cá pela senhora! Da gente se babar!... No meio da sala de jantar, forrada de papel escuro, a claridade da mesa alegrava, com a sua toalha muito branca, a louça, os copos reluzin- do à luz forte dum candeeiro de abajur verde. Da terrina subia o vapor cheiroso do caldo, e na larga travessa a galinha gorda, afogada num ar- roz úmido e branco, rodeada de nacos de bom paio, tinha uma aparência suculenta, de prato morgado. No armário envidraçado, um pouco na sombra, viam-se cores claras de porcelana, a um canto, ao pé da janela, estava um piano, co- berto com uma colcha de cetim desbotado. Na cozinha frigia-se; e sentindo o cheiro fresco que vinha dum tabuleiro de roupa lavada, o pároco esfregou as mãos, regalado. Sabendo que Eça de Queirós foi o introdutor do Realis- mo em Portugal, explique por que se pode considerar o texto transcrito como pertencente a um romance realista. 11. O Realismo foi um movimento de: a. volta ao passado. b. exacerbação ultrarromântica. c. maior preocupação com a objetividade. d. irracionalismo. e. moralismo. Da teoria, leia o tópico 3. Exercícios de tarefa reforço aprofundamento 06. Sistema COC Qual é o tema predominante na narrativa em questão? 07. UPE/SSA (adaptado) Sobre o Realismo, considere as afirmações e assinale a alternativa correta. I. Na prosa realista, diferentemente da estética lite- rária que a antecedeu, algumas das características mais evidentes são o desejo e a necessidade do autor de buscar e encontrar, na linguagem verbal, representação fiel à realidade em sua concretude mais exata. II. Memórias de um sargento de milícias é um romance considerado de transição entre a estética romântica e a estética realista, todavia as características da esté- tica realista, no desenvolvimento da história, em sua totalidade, são predominantes. III. O Realismo emerge no Brasil sob o seguinte lema: “A linguagem romântica consegue retratar a realidade da vida tal qual a vida é”. Isso implica dizer que o Realis- mo precisa se aproximar da estética romântica, visan- do alcançar seus objetivos literários. a. Somente I está correta. b. Somente II está correta. c. Somente III está correta. d. Somente I e II estão corretas. e. Somente II e III estão corretas. 08. UMC-SP (adaptado) Sobre o Realismo, considere as afirmações e assinale a alternativa correta. I. As linhas diretrizes da escola literária realista fazem notar que o subjetivismo, o nacionalismo ufanista e o sentimentalismo são questões pouco relevantes. II. No Realismo, há predomínio da vida concreta e exte- rior sobre a vida interior e abstrata. III. O melhor da produção realista está na poesia. a. Somente I está correta. b. Somente II está correta. c. Somente I e II estão corretas. d. Somente II e III estão corretas. e. I, II e III estão corretas. 09. Sobre os romances realistas, assinale a alternativa incorreta. a. Apoiam-se nos ideais românticos, adaptando-os aos conceitos positivistas e às descobertas científicas. b. Procuram demonstrar a hipocrisia da sociedade burguesa. c. Opõem-se às idealizações românticas e observam de modo crítico a sociedade. 25 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 39 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 12. UFTM-MG (adaptado) Leia o fragmento de “O sentimento dum ocidental”, de Ce- sário Verde, e responda à questão. Vazam-se os arsenais e as oficinas; Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras; E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras, Correndo com firmeza, assomam as varinas. Vêm sacudindo as ancas opulentas! Seus troncos varonis recordam-me pilastras; E algumas, à cabeça, embalam nas canastras Os filhos que depois naufragam nas tormentas. Descalças! Nas descargas de carvão, Desde a manhã à noite, a bordo das fragatas; E apinham-se num bairro onde miam gatos, E o peixe podre gera os focos de infecção! Vocabulário Vazam-se – esvaziam-se. Varinas – vendedoras de peixe. Os traços estilísticos dos versos permitem afirmar que se trata de texto do: a. Realismo, marcado por linguagem descritiva e temáti- ca do cotidiano. b. Romantismo, marcado por linguagem narrativa vaga e temática exótica. c. Arcadismo, marcado por reflexões sobre a arte e temá- tica erudita. d. Classicismo, marcado pelo uso recorrente de figuras da mitologia grega ou romana. e. Barroco, marcado por linguagem figurada e temática mística e religiosa. 13. Sobre o Realismo, considere as afirmações e assinale a alternativa correta. I. Busca o perene humano no drama da existência. II. Defende a documentação de fatos e a impessoalidade do autor perante a obra. III. Consiste na estética literária restritamente brasileira; seu criador é Machado de Assis. a. Somente II e III estão corretas. b. Somente III está correta. c. I, II e III estão corretas. d. Somente I e II estão corretas. e. Somente I e III estão corretas. 14. O Realismo, como escola literária, é caracterizado: a. pelo exagero da imaginação. b. pelo culto às formas clássicas. c. pela preocupação com o exótico. d. pelo subjetivismo. e. pelo objetivismo. 15. Qual dessas características não pertence ao Realismo? a. Preocupação crítica. b. Visão materialista da realidade. c. Ênfase nos problemas moraise sociais. d. Valorização da Igreja. e. Determinismo na atuação das personagens. 16. Assinale a única alternativa incorreta. a. O Realismo não tem nenhuma ligação com o Roman- tismo. b. A atenção ao detalhe é característica do Realismo. c. Pode-se dizer que alguns autores românticos já pos- suem certas características realistas. d. O cientificismo do século XIX forneceu a base da visão do mundo adotada, de um modo geral, pelo Realismo. e. O Realismo apresenta análise social. ENSINO MÉDIO – TEORIA Autora: Cristiane Rodrigues de Souza OP AC HE VS KY IR IN A / S HU TT ER ST OC K 1. Poesia do Realismo português 42 2. Antero de Quental 42 3. Guerra Junqueiro 43 4. Organizador gráfico 43 Módulo 57 – Antero de Quental e Guerra Junqueiro 44 • Perceber a presença dos diferentes elementos que estruturam o texto nar- rativo literário de Quental e de Guerra Junqueiro: personagens, marcadores de tempo e de localização, sequência lógica dos fatos narrados, modos de narrar (1ª e 3ª pessoa); adjetivação na caracterização de personagens, cenários e objetos. • Relacionar características discursivas e ideológicas de obras realistas em versos ao contexto histórico de sua produção, circulação e recepção. • A partir da leitura de textos literários consagrados do Realismo e de infor- mações sobre concepções artísticas, compreender relações entre eles e seu contexto histórico, social, político ou cultural, inferindo as escolhas dos temas, gêneros discursivos e recursos expressivos. OP AC HE VS KY IR IN A / S HU TT ER ST OC K 41 Antero de Quental e Guerra Junqueiro 26 “Razão, irmã do Amor e da Justiça, Mais uma vez escuta a minha prece, É a voz dum coração que te apetece, Duma alma livre, só a ti submissa.” Antero de Quental Universidade de Coimbra 26 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 42 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 1. Poesia do Realismo português Em Portugal, durante o Realismo, há produção poética de grande qualidade. Nessa época, destacam-se Antero de Quental, protago- nista da Questão Coimbrã, e Guerra Junqueiro. A poesia da época, além da produção abertamente realis- ta, apresenta diferentes facetas, como a poesia metafísica de Antero de Quental. 2. Antero de Quental A obra de Antero de Quental reflete o drama íntimo do es- critor, dividido entre duas formas de se posicionar no mundo. Por um lado, filia-se, racionalmente, ao espírito combativo da época, preocupado em revolucionar a sociedade. Por outro, traz consigo a educação tradicionalista, com forte religiosi- dade, que o leva à reflexão metafísica. Sua obra, portanto, divide-se em três vertentes: aquela que se relaciona às expe- riências da juventude, em que coexistem várias tendências; a poesia engajada, em tom revolucionário; a poesia metafísica, ou seja, poemas formulados como resposta às perguntas que a consciência humana costuma fazer, como “O que sou?” e “Para onde vou?”. RE PR OD UÇ ÃO Antero de Quental Privilegiado, com a mente voltada para a reali- zação de grandes obras, Antero viveu sempre tor- turado pelo afã de conciliar opostas ideias, não raro nascidas em clima febril, e a ação que lhes desse razão de existência. Apesar dos gigantescos esfor- ços, o resultado foi nulo, porquanto era essencial- mente vocacionado para a contemplação ou para a especulação filosófica, e não para o combate ativo: ao mesmo tempo que revelava alto pendor para o jogo sedentário das ideias, era inepto na tentativa de as pôr em prática. Além disso, alimentava ideias demasiado utópicas e visionárias, e muito acima das possibilidades duma só vida. MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2008. Leia o poema “No turbilhão”, em que o eu lírico reflete so- bre quem ele é e sobre seus próprios pensamentos. No meu sonho desfilam as visões, Espectros dos meus próprios pensamentos, Como um bando levado pelos ventos, Arrebatado em vastos turbilhões... Numa espiral, de estranhas contorções, E donde saem gritos e lamentos, Vejo-os passar, em grupos nevoentos, Distingo-lhes, a espaços, as feições... Fantasmas de mim mesmo e da minha alma, Que me fitais com formidável calma, Levados na onda turva do escarcéu, Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes? Quem sois, visões misérrimas e atrozes? Ai de mim! ai de mim! e quem sou eu?!... Antero de Quental também escreveu prosa, considerada polêmica e filosófica por seus estudiosos. Leia o poema “Mais luz!”, de Antero de Quental, e res- ponda à questão. Amem a noite os magros crapulosos, E os que sonham com virgens impossíveis, E os que se inclinam, mudos e impassíveis, À borda dos abismos silenciosos... Tu, lua, com teus raios vaporosos, Cobre-os, tapa-os e torna-os insensíveis, Tanto aos vícios cruéis e inextinguíveis, Como aos longos cuidados dolorosos! Eu amarei a santa madrugada, E o meio-dia, em vida refervendo, E a tarde rumorosa e repousada. Viva e trabalhe em plena luz: depois, Seja-me dado ainda ver, morrendo, O claro sol, amigo dos heróis! 01. No poema, há oposição entre os que amam a noite (duas primeiras estrofes) e o eu lírico, que ama o dia (duas últimas estrofes). Tendo em vista o contexto em que o poe- ma foi produzido, a que movimentos literários esses posi- cionamentos podem ser relacionados? Resolução Aqueles que amam a noite, porque sonham com mu- lheres idealizadas e inatingíveis, remetem ao Romantismo. O eu lírico, o qual prefere a luz, o sol, ou seja, a racionalida- de, que é clara e objetiva, está de acordo com o Realismo. APRENDER SEMPRE 3 26 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 43 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 3. Guerra Junqueiro Abílio Manuel Guerra Junqueiro (1850-1923) teve pro- dução significativa em poesia, com a publicação de vários li- vros de poemas, como A morte de D. João (1874), Os simples (1892) e Pátria (1896). Ao lado de Antero de Quental e de no- mes como Gomes Leal e Cesário Verde, foi adepto da poesia realista. Em prosa, pouco publicou. RE PR OD UÇ ÃO Guerra Junqueiro Massaud Moisés lembra que Guerra Junqueiro, quando começa a escrever, ainda rapaz, não tem contato com os postu- lados do Realismo. Por isso, em sua primeira fase, liga-se ao Ro- mantismo, com versos de tom declamatório e melodramático. Depois, começa a defender o cientificismo, com o qual não consegue ser totalmente coerente, por causa de sua for- mação religiosa, além de seu temperamento emotivo. Na terceira fase de sua carreira, o poeta atinge qualidade poética, ao deixar de lado as preocupações realistas. A partir de 1890, o poeta alcança repelir os asfixiantes compromissos estético-científicos, desfazer as contradições íntimas, e criar obra dirigida noutro sentido, se não antagônico, com- plementar ao da fase anterior. Elabora então o melhor da sua poesia [...], das obras mais rele- vantes dos fins do século XIX: Os simples (1892). Como o título sugere, o poeta faz o elogio das criaturas que vivem num mundo contrário ao das personagens da poesia realista: os simples, os humildes, os camponeses, os contemplativos, os sonhadores e os puros. MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2008. Conheça o filme Anthero – o palácio da ventura, produ- ção portuguesa de 2009, dirigida por José Medeiros. Am- bientado em diversas localidades de Portugal, o filme se baseia na vida e na obra do poeta Antero de Quental, mos- trando seus ideais e seus tormentos, com a participação de personagens representativos de outros grandes nomes da literatura da época, como Eça de Queirós e Teófilo Braga. 4. Organizador gráfico Características Apenas textoTema Tópico Subtópico destaqueSubtópico Guerra Junqueiro Poesia do Realismo português Antero de Quental OP AC HE VS KY IR IN A / S HU TT ER ST OC K, R EP RO DU Çà O, R EP RO DU Çà O 26 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 44 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Tecn ol og ia s EM I-1 5- 10 Módulo 57 Antero de Quental e Guerra Junqueiro Exercícios de Aplicação Leia os textos e responda às questões 01 e 02. Tem gente que continua achando que a vida é uma piada. Ainda bem que tem gente que pensa que a vida é uma piada. Pior é a gente que pensa que o homem é o rei da criação. Rei da criação, eu, hein? Um assassino nato, usufruidor da misé- ria geral – se você come, alguém está deixando de comer, a comida não dá para todos, não –, de que é que ele se ri? De que se ri a hiena? Se não for atropelado ficará no desemprego, se não ficar desempregado vai pegar um enfisema, será abandonado pela mulher que ama – mas ama, hein? –, arrebentado pelos filhos – pelos pais, se for filho –, mordido de cobra ou ficará impotente. E, se escapar de tudo ficará velho, senil, babando num asilo. Piada, é? Pode ser que haja vida inte- ligente em outro planeta, neste, positivamente, não. O homem é o câncer da Terra. Estou me repetindo? Pois é: corrompe a natureza, fura tú- neis, empesta o ar, emporcalha as águas, apodre- ce tudo onde pisa. Fique tranquilo, amigo: o de- saparecimento do ser humano não fará a mínima diferença à economia do cosmos. Millôr Fernandes, Atriz. Disse ao meu coração: Olha por quantos Caminhos vãos andamos! Considera Agora, desta altura fria e austera, Os ermos que regaram nossos prantos... Pó e cinzas, onde houve flor e encantos! E noite, onde foi luz de primavera! Olha a teus pés o mundo e desespera Semeador de sombras e quebrantos! Porém o coração, feito valente Na escola da tortura repetida, E no uso do penar tornado crente, Respondeu: Desta altura vejo o Amor! Viver não foi em vão, se é isto a vida, Nem foi demais o desengano e a dor. Antero de Quental, Solemnia verba. 01. Vunesp Os dois textos identificam-se por expressar, sob pontos de vista distintos, a decepção e o pessimismo do homem com relação à vida e ao mundo. Diferenciam-se, todavia, na atitude final ante essa decepção. Explique essa diferença de atitude. 02. Vunesp O soneto Solemnia verba desenvolve-se como um diálo- go entre duas personagens: o eu poemático e seu coração. O que simboliza, no poema, o coração? Resolução Conforme o primeiro texto, a vida humana é vã e, sobretu- do, prejudicial ao planeta. Já de acordo com o segundo texto, a vida, por mais conturbada que seja, é o caminho para co- nhecer o amor, por isso é válida. Resolução O coração representa resistência – “[...] feito valente” – diante das desilusões. O penar possibilita ao coração tornar-se crente de que vale a pena viver, sobretudo pelo amor. Para o eu lírico desiludido (duas primeiras estrofes), o coração deixa uma mensagem de esperança: “Viver não foi em vão [...]”. 26 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 45 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 03. Fuvest-SP Guerra Junqueiro pode ser enquadrado no movimento estético realista porque: a. se voltou para a análise das camadas profundas do inconsciente. b. escreveu poemas de combate social. c. desenvolveu, em seus romances, a crítica social. d. buscou revitalizar a musicalidade do verso. e. procurou as raízes históricas da nação. 04. Vunesp Lá! Mas onde é lá? – Espera, Coração indomado! O Céu, que anseia A alma fiel, o Céu, o Céu da Ideia, Em vão o buscas nessa imensa esfera! O espaço é mudo: a imensidade austera Debalde noite e dia se incendeia… Em nenhum astro, em nenhum sol, se alteia A rosa ideal da eterna Primavera! O Paraíso e o templo da Verdade, Ó mundos, astros, sóis, constelações! Nenhum de vós o tem na imensidade… A Ideia, o sumo Bem, o Verbo, e a Essência, Só se revela aos homens e às nações No céu incorruptível da Consciência! O soneto é de autoria de um dos mais importantes inter- venientes na Questão Coimbrã, que é: a. António Feliciano de Castilho. b. Camilo Castelo Branco. c. Guerra Junqueiro. d. Antero de Quental. e. Eça de Queirós. Leia o texto e responda às questões 05 e 06. No ano de 1865, em Portugal, inicia-se uma grande polêmica. De um lado, António Feliciano de Castilho (1800-1875); de outro, Antero Tar- quínio de Quental (1842-1891). Em posfácio ao livro Poema da mocidade, de Pinheiro Chagas, Castilho refere-se com pouco caso e algum de- boche aos jovens poetas que, em Coimbra, de- fendiam ideias novas. Antero, um dos mencio- nados por Castilho, faz logo publicar uma carta em resposta ao velho mestre, na qual retribui as ironias, ao mesmo tempo que faz ataque cerra- do e contundente a Castilho. Em pouco tempo, cada um ganha adeptos e com isso se produz uma das mais ricas polêmicas da história da lite- ratura portuguesa. Tal episódio ficou conhecido como a Questão Coimbrã e também pelo título recebido pela publicação de Antero: “Bom senso e bom gosto”. 05. Vunesp O que representam António Feliciano de Castilho e Antero de Quental nessa polêmica? Exercícios Extras Resolução Guerra Junqueiro escreveu poemas de eloquência engajada. Alternativa correta: B Habilidade A partir da leitura de textos literários consagrados do Rea- lismo e de informações sobre concepções artísticas, com- preender relações entre eles e seu contexto histórico, social, político ou cultural, inferindo as escolhas dos temas, gêneros discursivos e recursos expressivos. 26 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 46 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Seu espaço Exercícios Propostos Da teoria, leia os tópicos 1, 2 e 3. Exercícios de tarefa reforço aprofundamento 06. Vunesp O que marca a Questão Coimbrã na história da literatura portuguesa? 07. ENC-SP (adaptado) Leia o soneto "Tormento do ideal", de Antero de Quental, e responda à questão. Conheci a Beleza que não morre E fiquei triste. Como quem da serra Mais alta que haja, olhando aos pés a terra E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre, Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre: Assim eu vi o Mundo e o que ele encerra Perder a cor, bem como a nuvem que erra Ao pôr do sol e sobre o mar discorre. Pedindo a forma, em vão, a ideia pura, Tropeço em sombras na matéria dura, E encontro a imperfeição de quanto existe. Recebi o batismo dos poetas, E, assentado entre as formas incompletas, Para sempre fiquei pálido e triste. Sobre o módulo Leia, em sala de aula, os dois poemas apresentados na teoria deste capítulo. “No turbilhão” apresenta traços que permitem relacioná-lo à produção metafísica de Quental, já que se aproxima de questionamentos sobre a existência do homem. “Mais luz!” faz parte da produção literária de Antero segundo a estética realista. Ressalte aos alunos que o Sol é comumente associado à razão e à clareza, enquanto a noite lembra intuição e subjetividade. Na web O site <http://www.uc.pt/ruas/> traz informa- ções sobre a Universidade de Coimbra, em que estudou Antero de Quental. 26 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 47 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Sobre o verso “Recebi o batismo dos poetas,”, considere as afirmações e assinale a alternativa correta. I. Evidente postura religiosa assumida pelo eu lírico, que lhe permite ver a beleza como autêntica alegria de Deus. II. Convicção de que o eu lírico é fadado a contemplar a beleza, o que tem como consequência a sensação de imperfeição do mundo e o sentimento de melancolia. III. Ideia de que a contemplação da beleza depende ex- clusivamente da vontade e da razão do eu lírico, con- forme ditavam os princípios do realismo oitocentista. a. Somente III está correta. b. Somente II está correta. c. I, II e III estão corretas. d. Somente I e II estão corretas. e. Somente II e III estão corretas. 08. Vunesp (adaptado) A carta a Castilho, intitulada “Bom senso e bom gosto”, que defendia os jovens escritores realistas e a poesia nova em Portugal, na segunda metade do século XIX, foi escrita por: a. Alexandre Herculano. b. Camilo Castelo Branco. c. Antero de Quental. d. Almeida Garrett. e. Guerra Junqueiro. 09.UNIFESP Eça de Queirós fez parte da geração que lutou ferrenha- mente contra a ordem social lisboeta, passional e romântica, liderada, politicamente, pela monarquia, pela burguesia e pelo clero. Além dele, foram figuras importantes dessa geração: a. Camilo Castelo Branco, António Feliciano de Castilho e Oliveira Martins. b. Antero de Quental, Oliveira Martins e Teófilo Braga. c. Júlio Dinis, Alexandre Herculano e Antero de Quental. d. António Feliciano de Castilho, Camilo Castelo Branco e Teófilo Braga. e. Alexandre Herculano, Oliveira Martins e Júlio Dinis. 10. O poeta Guerra Junqueiro: a. na primeira fase de sua poesia, ligou-se ao Romantismo. b. foi romântico até o final da vida, opondo-se às novas ideias dos realistas. c. na terceira fase de sua poesia, assumiu a proposta realista com convicção. d. caracterizou-se por uma longa carreira poética, marca- da por seus poemas declamatórios e melodramáticos. e. assumiu o Realismo desde seus primeiros trabalhos poéticos, durante a Questão Coimbrã. 11. O poeta Guerra Junqueiro não assumiu completamente o cientificismo em razão de: a. seu ideal romântico. b. sua formação religiosa. c. seu apego às pessoas mais simples. d. sua obstinação quanto ao ideal poético. e. sua resistência às propostas de sua geração. 12. A obra Os simples, de Guerra Junqueiro, trata: a. dos ideais realistas levados ao extremo. b. dos estudantes envolvidos na Questão Coimbrã. c. dos poemas orientados por temas primitivistas. d. das pessoas humildes, dos camponeses e sonhadores. e. dos realistas, que se opunham à complexidade dos ideias românticos. 13. UFPE (adaptado) Leia o texto e assinale a alternativa que completa a lacuna. É nos Sonetos que encontramos o melhor conjunto da obra poética amadurecida de ___________________. O poeta via na sé- rie completa dos sonetos, muitos deles desentranhados de outras coleções já publicadas, uma série de marcos de sua autobiografia espiritual. a. Ramalho Ortigão b. Oliveira Martins c. Antero de Quental d. António Feliciano de Castilho e. Almeida Garrett 14. Sistema COC Guerra Junqueiro teve forte influência romântica antes de aderir ao Realismo. O que isso causou em sua obra? 15. Sistema COC Que aspecto da periodização em estéticas literárias é re- velado pelo exemplo de Guerra Junqueiro? 16. Sistema COC Como se divide a produção poética de Antero de Quental? ZY AN KA RL O / S HU TT ER ST OC K 1. Prosa do Realismo português 50 2. Organizador gráfico 53 Módulo 58 – Eça de Queirós I 54 Módulo 59 – Eça de Queirós II 58 Módulo 60 – Eça de Queirós III 62 • Perceber a presença dos diferentes elementos que estruturam o texto narrativo literário de Eça de Queirós: personagens, marcadores de tempo e de localização, sequência lógica dos fatos narrados, modos de narrar (1ª e 3ª pessoa); adjetivação na caracterização de personagens, cenários e objetos. • Relacionar características discursivas e ideológicas de obras realistas em prosa ao contexto histórico de sua produção, circulação e recepção. • A partir da leitura de textos literários consagrados de Eça de Queirós e de informações sobre concepções artísti- cas, compreender relações entre eles e seu contexto histórico, social, político ou cultural, inferindo as escolhas dos temas, gêneros discursivos e recursos expressivos. ZY AN KA RL O / S HU TT ER ST OC K 49Eça de Queirós 27 “Foi à sala, sentou-se ao piano, tocou ao acaso bocados da Lúcia, da Sonâmbula, o Fado; e parando, os dedos pousados de leve sobre o teclado, pôs-se a pensar que Basílio devia vir no dia seguinte; vestiria o roupão novo de foulard cor de castanho! Recomeçou o Fado, mas os olhos cerravam-se-lhe.” Eça de Queirós, O primo Basílio. Eça de Queirós, um dos mais importantes escritores portugueses. 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 50 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 1. Prosa do Realismo português Os autores de contos e de romances da década de 1870, em Portugal, refletiam as condições sociais, analisando-as e criticando-as. Eram também alvo de suas críticas o clero e a aristocracia, que eles responsabilizavam pela manutenção de uma sociedade hipócrita e cheia de vícios. Eram colocados sobre análise, por exemplo, o casamento e o adultério. Assim como a obra realista francesa Madame Bovary, de Gustave Flaubert, Primo Basílio, do português Eça de Queirós, mostra a mulher levada ao adultério, sujeita aos desejos carnais e instintos. Eça de Queirós, ao lado de Teófilo Braga e de Ramalho Or- tigão, foi importante representante da época. RE PR OD UÇ ÃO Eça de Queirós No Cassino Lisbonense, local em que se reuniam os jo- vens realistas para fazer conferências, o escritor proferiu, ainda moço, “A literatura nova” ou “O Realismo como nova ex- pressão da arte”, em que critica o Romantismo e defende os postulados realistas. Leia um trecho desse texto. O Realismo é [...] a negação da arte pela arte; é a proscrição do convencional, do enfático e do piegas. É a abolição da retórica considerada como arte de promover a comoção usando a in- chação do período, da epilepsia da palavra, da congestão dos tropos. É a análise com o fito na verdade absoluta. Por outro lado, o Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantis- mo era a apoteose do sentimento; o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que hou- ver de mau na nossa sociedade. QUEIRÓS, Eça de. In: SARAIVA, Antonio José; LOPES, Oscar. História da literatura portuguesa. Porto: Porto Editora, 1982. A obra de Eça de Queirós pode ser dividida em três fases. Na primeira fase, o autor ainda estava influenciado pelo Romantismo, principalmente pela obra do francês Victor Hugo. Escreveu O mistério da estrada de Sintra (semelhante a um romance policial), As farpas e Prosas bárbaras. A primeira fase da carreira queirosiana come- ça com artigos e crônicas publicados entre 1866 e 1867, na Gazeta de Portugal, postumamente coligidos no volume Prosas bárbaras, e termina em 1875, com a publicação de O crime do padre Amaro. Fase de indecisão, preparação e procura, dum escritor ainda jovem e romântico, à mercê duma heterogênea influência, especialmente de origem francesa [...] MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2008. A segunda fase teve início em 1875 e foi até 1888. Na produção dessa época, os traços do Realismo já são bem marcantes. Aderindo às teorias do Realismo [...] a partir de 1871, Eça [...] passa a escrever [...] obras de combate às instituições vigentes (monarquia, Igreja, burguesia) [...]. Tais romances compro- missam-se com o ideário da geração de 1870, e valem como flagrante, embora deformado, re- trato da sociedade portuguesa, sua contemporâ- nea, erguido em linguagem original, plástica, já impregnadas daquelas qualidades características do seu estilo: naturalidade, fluência, vigor narra- tivo, precisão, oralidade, repúdio às soluções re- tóricas exageradas. Junte-se-lhes o pendor inato para certo lirismo melancólico e para a sátira e a ironia, utilizadas estas com sutileza e graça, facil- mente transformadas em riso, que brota do ridí- culo daquelas criaturas escolhidas pelo escritor como exemplos típicos duma sociedade hipócri- ta, destituída de princípios morais [...] MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2008. Dessa fase, fazem parte, entre outros, os romances O cri- me do padre Amaro, Os Maias e O primo Basílio. Em O crime do padre Amaro, um jovem padre, Amaro Viei- ra, protegido pelo cônego Dias, é transferido para uma comu- nidade de pessoas simples, onde conhece Amélia, uma bela jovem, que já é noiva. Ao se encontrarem em uma fazenda, Amaro se aproxima de Amélia, que se assusta com essa pri- meira investida. Depois, o pároco a aconselha a romper seu noivado, alegando que JoãoEduardo, seu noivo, não é um rapaz digno. Com isso, João Eduardo fica mal visto, perde o emprego e agride o padre com um soco. Em outra ocasião, na casa do padre Amaro, Amélia é seduzida e tem seu primeiro encontro íntimo com ele. A criada do padre aconselha que eles se encontrem na casa de um sineiro, porque seria mais seguro. Para o sineiro, Amaro conta que Amélia está estudan- do para se tornar freira e que ele a está orientando para essa missão sagrada. Amélia engravida, e o cônego Dias, mestre e protetor de Amaro, o aconselha a casá-la com João Eduardo, para evitar escândalos. Mas João não está mais em Portugal. Como último recurso, Amélia é encaminhada à casa de dona 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 51 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Josefa, uma senhora doente que vive no interior. O médico que cuida de dona Josefa descobre a gravidez de Amélia. Após o nascimento do filho, a jovem morre, apesar da assis- tência do médico. Amaro deixa o filho com uma ama que tem fama de matar as crianças que lhe são entregues, mas exige que ela cuide do recém-nascido até que seja encontrada ou- tra pessoa a quem o encaminhar. Mesmo assim, quando volta a procurá-la, o bebê já está morto. O padre Amaro então es- creve ao cônego contando o que ocorreu, e é transferido para Lisboa, onde continua sua carreira religiosa, assumindo uma nova paróquia. Em Os Maias, a alta sociedade de Lisboa é analisada. O romance gira em torno do caso de incesto que só é revelado no final da história. Da mesma fase, o romance O primo Basílio trata de um casal burguês, Jorge, funcionário publico, engenheiro de mi- nas, e Luísa, que vive em boas condições financeiras, sem nenhum problema aparente. Durante a ausência de Jorge, que viaja a trabalho, Luísa recebe a visita de um antigo na- morado, seu primo Basílio, que conta a ela fatos de sua vida fascinante em Paris. Aos poucos, Basílio a seduz, aproveitan- do-se da tendência sonhadora de Luísa, que espera viver com ele um grande amor. Eles se tornam amantes e passam a se encontrar em locais clandestinos. Juliana, a empregada de Luísa, de posse de algumas cartas trocadas entre Basílio e sua patroa, passa a chantageá-la, exigindo grande soma em dinheiro para manter o segredo. Sebastião, um amigo de Luí- sa, mesmo indignado ao saber do adultério que ela lhe con- fessa, aceita ajudá-la e ameaça Juliana com a prisão se as cartas não forem devolvidas. Juliana, percebendo que perdeu sua oportunidade de enriquecer, tem uma síncope e morre. Com o tempo, Basílio vai se desinteressando de Luísa, e ela cai doente. Nesse período, Jorge encontra uma das cartas comprometedoras e pede explicações à esposa. Luísa sofre um choque com o fato de ter sido descoberta e, alguns dias depois, morre. Na terceira fase, que vai de 1888 até a morte de Eça de Quei- rós, o escritor renunciou ao pessimismo das análises da socieda- de que tinha feito na fase anterior, optando pelo otimismo e pela esperança. São dessa época A ilustre casa de Ramires, A corres- pondência de Fradique Mendes e A cidade e as serras. A cidade e as serras foi o último romance escrito por Eça de Queirós, publicado em 1901, um ano depois de sua morte. A história mostra a exaltação inicial da vida na cidade por Jacinto. No entanto, o lugar em que vive, Paris, aos poucos, revela-lhe sua futilidade. Saindo de lá, em retorno a Portugal, Jacinto per- cebe o valor da vida no campo. Leia um trecho em que Eça de Queirós revela o espaço idílico da parte rural de Portugal. Em fila começamos a subir para a serra. A tarde adoçava o seu esplendor de estio. Uma aragem trazia, como ofertados, perfumes das flores silvestres. As ramagens moviam, com um aceno de doce acolhimento, as suas folhas vivas e reluzentes. Toda a passarinhada cantava, num alvoroço de alegria e de louvor. As águas cor- rentes, saltantes, luzidias, despediam um brilho mais vivo, numa pressa mais animada. Vidraças distantes de casas amáveis flamejavam com um fulgor de ouro. A serra toda se ofertava, na sua beleza eterna e verdadeira [...]. QUEIRÓS, Eça de. A cidade e as serras. Belo Horizonte: Vila Rica, 1994. Para responder às questões 01 e 02, leia um trecho de O primo Basílio, de Eça de Queirós, em que Luísa conversa com seu primo, na primeira visita que ele lhe faz, após a viagem do marido dela. Luísa voltava entre os dedos o seu medalhão de ouro, preso ao pescoço por uma fita de veludo preto. — E estiveste então um ano em Paris? — Um ano divino. Tinha um apartamento lindíssimo, que pertencera a Lord Flamouth, rue Saint Florentin; tinha três cavalos... E recostando-se muito, com as mãos nos bolsos: — Enfim, fazer este vale de lágrimas o mais confortável possível!... Dize cá, tens algum retrato nesse medalhão? — O retrato de meu marido. — Ah! Deixa ver! Luísa abriu o medalhão. Ele debruçou-se; tinha o rosto quase sobre o peito dela. Luísa sentia o aroma fino que vinha de seus cabelos. — Muito bem, muito bem! – fez Basílio. Ficaram calados. — Que calor que está! – disse Luísa. — Abafa-se, hein! Levantou-se, foi abrir um pouco uma vidraça. O sol deixara a varanda. Uma aragem suave encheu as pregas grossas das bambinelas. — É o calor do Brasil – disse ele. — Sabes que estás mais crescida? Luísa estava de pé. O olhar de Basílio corria-lhe as linhas do corpo; e com a voz muito íntima, os cotovelos sobre os joelhos, o rosto erguido para ela: — Mas, francamente, dize cá, pensaste que eu te viria ver? — Ora essa! Realmente, se não viesses zangava-me. És o meu único parente... O que tenho pena é que meu marido não esteja... APRENDER SEMPRE 4 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 52 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 — Eu – acudiu Basílio – foi justamente por ele não estar... Luísa fez-se escarlate. Basílio emendou logo, um pouco corado também: — Quero dizer... talvez ele saiba que houve entre nós... Ela interrompeu: — Tolices! Éramos duas crianças. Onde isso vai! — Eu tinha vinte e sete anos – observou ele, curvando-se. Ficaram calados, um pouco embaraçados. Basílio cofiava o bigode, olhando vagamente em redor. — Estás muito bem instalada aqui – disse. Não estava mal... A casa era pequena, mas muito cômoda. Pertencia-lhes. — Ah! Estás perfeitamente! Quem é esta senhora, com uma luneta de ouro? E indicava o retrato por cima do sofá. — A mãe de meu marido. — Ah! Vive ainda? — Morreu. — É o que uma sogra pode fazer de mais amável... Bocejou ligeiramente, fitou um momento os seus sapatos muito aguçados e, com um movimento brusco, ergueu-se, tomou o chapéu. — Já? Onde estás? — No Hotel Central. — E até quando? — Até quando quiseres. — Não disseste que vinhas amanhã com o rosário? Ele tomou-lhe a mão, curvou-se: — Já se não pode dar um beijo na mão de uma velha prima? — Por que não? Pousou-lhe um beijo na mão, muito longo, com uma pressão doce. — Adeus! – disse. E à porta com o reposteiro meio erguido, voltando-se: — Sabes que eu, ao subir as escadas, vinha a perguntar a mim mesmo como se vai isto passar? — Isto quê? Vermo-nos outra vez? Mas, perfeitamente. Que imaginaste tu? Ele hesitou, sorriu: — Imaginei que não eras tão boa rapariga. Adeus. Amanhã, hein? No fundo da escada acendeu o charuto, devagar. — Que bonita que ela está! – pensou. E arremessando o fósforo, com força: — E eu, pedaço de asno, que estava quase decidido a não a vir ver! Está de apetite! Está muito me- lhor! E sozinha em casa; aborrecidinha talvez!... [...] Luísa, quando o sentiu embaixo fechar a porta da rua, entrou no quarto, atirou o chapéu para a causeuse, e foi-se logo ver ao espelho. Que felicidade estar vestida! Se ele a tivesse apanhado em roupão, ou malpenteada!... Achou-se muito afogueada, cobriu-se de pó de arroz. Foi à janela, olhou um momento a rua, o sol que batia ainda nas casas fronteiras. Sentia-se cansada. Aquelas horas Leopoldina estava a jantar já, decerto... Pensou em escrever a Jorge “para matar o tempo”,mas veio-lhe uma preguiça; estava tanto calor! Depois não tinha que lhe dizer! Começou então a despir-se devagar diante do espelho, olhando-se muito, gostando de se ver branca, acariciando a finura da pele, com bocejos lânguidos de um cansaço feliz. Havia sete anos que não via o primo Basílio! Estava mais trigueiro, mais queimado; mas ia-lhe bem! Vocabulário Causeuse – pequeno sofá de dois lugares. Reposteiro – cortinado que se sobrepõe à porta. 01. Ao receber o primo, Luísa tem entre os dedos o medalhão que contém a foto do marido. Qual o intuito de Basílio ao pedir para ver a foto? Resolução Apesar de o medalhão conter a foto do marido de Luísa, o que poderia reforçar a Basílio o fato de ela ser casada e fazê-lo se afastar dela, ele usa a desculpa de querer ver a fotografia e aproxima-se da prima. 02. Após a proximidade do primo, Luísa resolve abrir as janelas, alegando calor. O que o calor significa nesse contexto? Resolução O calor de Luísa representa seus sentimentos com relação ao primo. 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 53 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Conheça o filme Madame Bovary, produção francesa de 1991, dirigida por Claude Chabrol. O filme baseia-se no romance homônimo, de Gustave Flaubert, considerado o marco inicial do Realismo na Europa. DIVULGAÇÃO 2. Organizador gráfico Prosas bárbaras Primeira fase O primo Basílio Segunda fase A cidade e as serras Terceira fase Características Apenas textoTema Tópico Subtópico destaqueSubtópico Eça de Queirós Prosa do Realismo português ZY AN KA RL O / S HU TT ER ST OC K 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 54 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 01. Unicentro-SP A única passagem que não encontra apoio em A cidade e as serras, de Eça de Queirós, é: a. Em A cidade e as serras, José Fernandes, de rica famí- lia proveniente de Guiães, região serrana de Portugal, narra a história de Jacinto de Tormes, seu amigo tam- bém fidalgo, nascido e criado em Paris. b. A cidade e as serras explora uma grave tese socioló- gica: o fato de preferirmos viver e proliferar pacifica- mente nas aldeias a naufragar no estéril tumulto das cidades. c. Para Jacinto, Portugal está associado à infelicidade, enquanto Paris se associa à felicidade; ao longo do romance, contudo, essa opinião se modifica. d. No romance, dois ambientes distintos são enfocados ao longo das duas partes em que o livro pode ser divi- dido: a civilização e a natureza. e. Já avançado em idade, Jacinto se aborrece com as serras e tenciona reviver as orgias parisienses, mas faltam-lhe, agora, saúde e riqueza. Módulo 58 Eça de Queirós I Exercícios de Aplicação [...] o Realismo é uma reação contra o Ro- mantismo: o Romantismo era a apoteose do sen- timento; o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nos- sos próprios olhos – para condenar o que houver de mau na nossa sociedade. Eça de Queirós Em qual parte do primeiro fragmento se pode perceber que o narrador critica os traços românticos de Luísa? a. “... Luísa vestia-se para ir à casa de Leopoldina.” b. “Se Jorge soubesse não havia de gostar, não!” c. “Mas estava tão farta de estar só!” d. “Aborrecia-se tanto!” e. “O que pensava em tolices então!” 02. Sistema COC Leia os fragmentos de textos e responda à questão. Havia doze dias que Jorge tinha partido e, apesar do calor e da poeira, Luísa vestia-se para ir à casa de Leopoldina. Se Jorge soubesse não havia de gostar, não! Mas estava tão farta de es- tar só! Aborrecia-se tanto! De manhã ainda tinha os arranjos, a costura, a toilette, algum romance... Mas de tarde! À hora em que Jorge costumava voltar do ministério, a solidão parecia alargar-se em torno dela. Fazia-lhe tanta falta o seu toque de campa- inha, os seus passos no corredor!... Ao crepúsculo, ao ver cair o dia, entristecia-se sem razão, caía numa vaga sentimentalidade: [...] O que pensava em tolices então! Eça de Queirós, O primo Basílio. 03. Sobre o romance O primo Basílio, de Eça de Queirós, assi- nale a alternativa correta. a. É uma obra realista que retoma os ideais românticos para contar da vida conjugal de Jorge e Luísa. b. Apresenta como tema central o adultério cometido pe- los personagens Juliana e Basílio. c. Critica a pequena burguesia do fim do século XIX em Lisboa. d. Critica a Igreja e sua influência sobre a personagem Luísa, que se aliena da vida real. e. Critica a maneira como o verdadeiro amor é reprimido pela falsa moral da sociedade. Resolução A obra A cidade e as serras relata as transformações na maneira de o protagonista Jacinto encarar o mundo. Inicial- mente, ele se encontra inserido na modernidade, vivendo em Paris, entusiasta das novidades tecnológicas. Depois de uma crise de “fartura”, muito deprimido, reencontra o prazer de viver nas serras de Tormes, segundo a vida simples que anteriormente criticava. Essa nova fase conscientiza o prota- gonista dos problemas sociais, levando-o a procurar conciliar os avanços tecnológicos e o modo de vida local. Alternativa correta: E Resolução Nessa frase, o narrador critica a propensão ao sentimen- talismo e ao tédio de Luísa. Essa característica a faz pensar em “tolices”. Alternativa correta: E Resolução A obra ironiza os ideais românticos; o adultério se dá entre Luísa e Basílio; Luísa não se mostra como religiosa, e a Igreja não aparece como entidade relevante no desenvolvi- mento das ações dos personagens; o caso entre Luísa e Ba- sílio não é um caso de amor, mas de sedução e realização de desejos reprimidos. Alternativa correta: C Habilidade Perceber a presença dos diferentes elementos que es- truturam o texto narrativo literário de Eça de Queirós: perso- nagens, marcadores de tempo e de localização, sequência lógica dos fatos narrados, modos de narrar (1ª e 3ª pessoa); adjetivação na caracterização de personagens, cenários e ob- jetos. 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 55 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Exercícios Extras a. apresenta um narrador que se recorda de uma viagem feita há algum tempo ao Oriente Médio, à Terra Santa, de onde deveria trazer uma relíquia para uma tia ve- lha, beata e rica. b. caracteriza uma narrativa em que se analisam os me- canismos do casamento e o comportamento da pe- quena burguesia da cidade de Lisboa. c. apresenta uma personagem que detesta inicialmente a vida do campo, aderindo ao desenvolvimento tec- nológico da cidade, mas que ao final regressa à vida campesina e a transforma com a aplicação de seus conhecimentos técnicos e científicos. d. revela uma narrativa cujo enredo envolve a vida de- vota da província e o celibato clerical e caracteriza a situação de decadência e alienação de Leiria, toman- do-a como espelho da marginalização de todo o país em relação ao contexto europeu. e. se desenvolve em duas linhas de ação: uma marcada por amores incestuosos; outra voltada para a análise da vida da alta burguesia lisboeta. 04. Sobre o romance O primo Basílio, de Eça de Queirós, assi- nale a alternativa correta. a. Jorge é um personagem romântico; Luísa é realista e dominadora. b. Jorge, ao perceber que está sendo traído, vinga-se de Basílio. c. Luísa, mulher romântica, deixa-se seduzir por Basílio, acreditando que viverá com ele um grande amor. d. Basílio conhece Luísa por meio de Jorge, que o apre- senta à esposa sem imaginar que essa convivência se tornaria uma paixão incontida. e. Luísa começa a trair o marido por se sentir entediada e, numa dessas aventuras, conhece Basílio, seu gran- de amor. 05. PUC-SP O romance A cidade e as serras, de Eça de Queirós, publi- cado em 1901, é o desenvolvimento de um conto chamado “Civilização”. Do romance, pode-se afirmar que: Seu espaço Sobre o módulo Incentive os alunos a lerem textos de Eça de Queirós. Ini- cialmente, uma maneira interessantede eles estabelecerem contato com a obra do autor é ler adaptações para história em quadrinhos. Estante MARCATTI. A relíquia. São Paulo: Conrad, 2007. Trata-se de uma adaptação para história em quadrinhos da obra A relíquia, de Eça de Queirós. 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 56 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Exercícios Propostos Da teoria, leia o tópico 1. Exercícios de tarefa reforço aprofundamento 06. Sobre o romance O primo Basílio, de Eça de Queirós, assi- nale a alternativa incorreta. a. A obra não romantiza a paixão entre Jorge e Luísa; ao contrário, ironiza a hipocrisia que é típica dos meios burgueses da época. b. O Romantismo é criticado na personagem Luísa, cheia de futilidades e devaneios. c. Luísa se sente seduzida por Basílio, que a encanta contando histórias e vivências de Paris. d. Luísa é influenciada por ideias românticas, e sua inge- nuidade facilita o objetivo de Basílio, que é seduzi-la. e. Juliana, a empregada, sente ciúmes de Luísa e tenta impedir seu relacionamento com Basílio. 07. A personagem da criada Juliana, do romance O primo Basílio: a. representa a classe trabalhadora submissa, que se contenta com sua condição. b. é uma pessoa ressentida, que vê na chantagem uma oportunidade de enriquecer. c. é uma mulher vingativa, que tenta prejudicar seu pa- trão, Jorge. d. é uma heroína romântica, batalhadora e incansável. e. é uma jovem ignorante, usada por Luísa para escon- der seu adultério. Leia o fragmento de texto de Eça de Queirós e responda às questões 08 e 09. A Marquesa de Alegros ficara viúva aos quarenta e três anos e passava a maior parte do ano retirada na sua quinta de Carcavelos. Era uma pessoa passiva, de bondade indolente, com capela em casa, um respeito devoto pelos padres de S. Luís, sempre preocupada dos interesses da igreja. As suas duas filhas, educadas no receio do céu e nas preocupações da moda, eram beatas e faziam o chic falando com igual fervor da hu- mildade cristã e do último figurino de Bruxelas. Um jornalista de então dissera delas: — Pensam todos os dias na toilette com que hão de entrar no paraíso. 08. Sistema COC Sobre o texto, é correto afirmar que: a. o narrador enaltece o comportamento recatado e a re- ligiosidade das filhas da Marquesa. b. o jornalista apoia, com admiração, o esmero e a ele- gância com que se vestem as moças da burguesia. c. o narrador assume ponto de vista imparcial com re- lação ao comportamento das moças, mas condena, implicitamente, o jornalista. d. o narrador e o jornalista assumem pontos de vista se- melhantes com relação ao modo de ser das moças. e. a fala do jornalista pressupõe um total desinteresse da mídia pela vida de pessoas da classe rica da sociedade. 09. Sistema COC Assinale a alternativa que se relaciona ao texto. a. O romance realista adota ponto de vista crítico com re- lação ao comportamento das classes sociais. b. No fim do século XIX, a ficção opõe-se aos princípios cientificistas, revalorizando os valores espiritualistas. c. O escritor realista caracteriza-se pela linguagem vul- gar com que critica a hipocrisia romântica. d. Para o autor realista, a decadência dos valores da so- ciedade burguesa deveria ser combatida com exem- plos de conduta moral e religiosa. e. O Realismo denuncia a degradação da aristocracia, tra- tando da sociedade estabelecida, sem a necessidade de descrever traços psicológicos das personagens. 10. Poli-SP Leia o trecho do romance O primo Basílio, de Eça de Quei- rós, que descreve a personagem Juliana, e responda à questão. A necessidade de se constranger trouxe-lhe o hábito de odiar: odiou sobretudo as patroas, com um ódio irracional e pueril. Tivera-as ricas, com palacetes, e pobres, mulheres de empregados, ve- lhas e raparigas, coléricas e pacientes; – odiava-as a todas, sem diferença. É patroa e basta! pela mais simples palavra, pelo ato mais trivial! Se as via sentadas: — Anda, refestela-te, que a moura tra- balha! Se as via sair: — Vai-te, a negra cá fica no buraco! Cada riso delas era uma ofensa à sua tris- teza doentia; cada vestido novo uma afronta ao seu velho vestido de merino tingido. Detestava-as na alegria dos filhos e nas propriedades da casa. Rogava-lhes pragas. Se os amos tinham um dia de contrariedade, ou via as caras tristes, cantarolava todo o dia em voz de falsete a “Carta Adorada!” Com relação ao texto, assinale a alternativa incorreta. a. Juliana trabalha na casa de Luísa e Jorge, e esse trecho retrata como se sente injustiçada por sua condição social. b. No trecho “A necessidade de se constranger trouxe-lhe o hábito de odiar ...”, podemos observar o pensamento determinista, uma vez que a condição social de Julia- na a obriga a servir aos outros e, em consequência, passa a odiar os patrões. c. Em “... cada vestido novo uma afronta ao seu velho vestido de merino tingido.”, notamos o olhar do narra- dor, que, por meio desse jogo de oposições, chama a atenção para a injustiça social. d. No trecho “É patroa e basta!”, poderíamos imaginar que a voz de Juliana se mistura ao discurso do narrador. e. Em “... cantarolava todo o dia em voz de falsete a ‘Carta Adorada!”’, o nome da música foi escolhido aleatoria- mente e não apresenta relação com o destino da per- sonagem. 11. O romance O crime do padre Amaro, de Eça de Queirós, trata de: a. um amor proibido entre um padre e uma mulher casada. b. uma relação erótica entre um padre e uma jovem in- teriorana. 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 57 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 c. um crime de pedofilia que escandaliza a alta hierar- quia da Igreja. d. um assassinato encoberto pela Igreja do século XIX, envolvendo a classe burguesa. e. um caso de corrupção envolvendo a Igreja e a burgue- sia portuguesa do século XIX. 12. A personagem Amélia, do romance O crime do padre Ama- ro, de Eça de Queirós: a. vive um amor proibido, pelo fato de ser uma mulher casada. b. deixa o convento para se unir ao jovem padre por quem se apaixona. c. é uma mulher atraente, que seduz o jovem padre em início de carreira. d. é seduzida pelo padre de sua paróquia, que se encon- tra com ela clandestinamente. e. encontra-se secretamente com o padre de sua paró- quia, com o apoio da mãe, que a protege. 13. UEL-PR Leia o fragmento de texto de Eça de Queirós e responda à questão. Então, passeando excitado pelo quarto, levava as suas acusações mais longe, contra o Celibato e a Igreja: por que proibia ela aos seus sacerdotes, ho- mens vivendo entre homens, a satisfação mais na- tural, que até têm os animais? Quem imagina que, desde que um velho bispo diz “serás casto” a um homem novo e forte, o seu sangue vai subitamente esfriar-se? E que uma palavra latina – accedo – dita a tremer pelo seminarista assustado será o bastan- te para conter para sempre a rebelião formidável do corpo? E quem inventou isso? Um concílio de bispos decrépitos, vindos do fundo dos seus claustros, da paz das suas escolas, mirrados como pergaminhos, inúteis como eunucos! Que sabiam eles da Natureza e das suas tentações? Que vies- sem ali duas, três horas para o pé da Ameliazinha, e veriam, sob a sua capa de santidade, começar a revoltar-se-lhes o desejo! Tudo se ilude e se evita, menos o amor! E se ele é fatal, por que impediram então que o padre o sinta, o realize com pureza e com dignidade? É melhor talvez que o vá procurar pelas vielas obscenas! Porque a carne é fraca! Este trecho é o pensamento do padre Amaro Vieira, prota- gonista do romance O crime do padre Amaro. É correto afirmar que, no texto, o escritor registra: a. a burguesia degenerada a conduzir a formação dos padres católicos. b. a noção comum de que o pecado da carne é o único aceitável entre os religiosos. c. a percepção científica de que homens e animais são dife- rentes porque aqueles são educados pela moral religiosa. d. o traço deterministado positivismo de Auguste Comte, admitindo a motivação sexual como algo comum a todos. e. a promiscuidade das vielas obscenas como o pecado a afligir os padres jovens. Leia o fragmento do romance O primo Basílio, de Eça de Queirós, referente à personagem Luísa, e responda às ques- tões de 14 a 16. Lia muitos romances; tinha uma assinatura, na Baixa, ao mês. Em solteira, aos dezoito anos, entu- siasmara-se por Walter Scott e pela Escócia; deseja- ra então viver num daqueles castelos escoceses, que têm sobre as ogivas os brasões do clã, mobilados com arcas góticas e troféus de armas, forrados de largas tapeçarias, onde estão bordadas legendas he- roicas, que o vento do lago agita e faz viver; e amara Ervandalo, Morton e Ivanhoé, ternos e graves, ten- do sobre o gorro a pena de águia, presa ao lado pelo cardo de Escócia de esmeraldas e diamantes. [...] Ia encontrar Basílio no Paraíso pela primeira vez. E estava muito nervosa: não pudera domi- nar, desde pela manhã, um medo indefinido que lhe fizera pôr um véu muito espesso, e bater o coração ao encontrar Sebastião. Mas ao mesmo tempo uma curiosidade intensa, múltipla, impe- lia-a, com um estremecimentozinho de prazer. Ia, enfim, ter ela própria aquela aventura que lera tantas vezes nos romances amorosos! Era uma for- ma nova do amor que ia experimentar, sensações excepcionais! Havia tudo – a casinha misteriosa, o segredo ilegítimo, todas as palpitações do perigo! 14. FGV Estão conjugados no mesmo tempo, mas se referem a di- ferentes períodos da vida de Luísa, os verbos destacados em: a. “Lia muitos romances...” e “... tinha uma assinatura...”. b. “... entusiasmara-se por Walter Scott...” e “... desejara então viver...”. c. “... que têm sobre as ogivas...” e “...onde estão bordadas...”. d. “... Ia encontrar Basílio...” e “...que ia experimentar...”. e. “... que lhe fizera pôr...” e “...que lera tantas vezes...”. 15. FGV Das características da escola literária a que pertence esse romance, a mais perceptível no fragmento é a apresen- tada na alternativa: a. O homem está submetido às mesmas leis universais que os demais seres vivos. b. Assim como o cientista, o ficcionista pretende provar com sua obra uma teoria. c. As massas emergiram ao plano histórico, buscando a posse dos progressos materiais e políticos. d. O sentimentalismo e a imaginação podem ser fatores condicionantes das atitudes humanas. e. A arte pode ser um instrumento para a reforma das condições sociais. 16. De acordo com o fragmento, Luísa pode ser vista como uma personagem: a. vulnerável a fantasias românticas. b. bem adaptada à rotina da vida conjugal. c. influenciável pelo modismo da sociedade burguesa. d. inquieta e nostálgica, leitora de romances antigos. e. promíscua e dominadora, com forte influência sobre o marido. 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 58 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Módulo 59 Eça de Queirós II Exercícios de Aplicação 03. PUC-SP (adaptado) Indique a alternativa que não condiz com o romance O primo Basílio, de Eça de Queirós. a. É uma obra realista que retoma os ideais românticos para contar da vida conjugal de Jorge e Luísa. b. Apresenta como tema central o adultério, nas perso- nagens de Luísa e Basílio. c. Mostra-se como uma lente de aumento sobre a inti- midade das famílias e revela criticamente a pequena burguesia do fim do século XIX em Lisboa. d. Ataca instituições sociais como a família, a Igreja, a es- cola e o Estado, sempre com a preocupação de fazer um vasto inquérito da sociedade portuguesa e morali- zar os costumes da época. e. Caracteriza-se por ironia fina e humor na composição das personagens. 02. Explique se a carta de Antero de Quental critica o romance de Eça de Queirós ou se compactua com ele. Leia o fragmento da carta do poeta Antero de Quental ao escritor Eça de Queirós, sobre seu romance O crime do padre Amaro, e responda às questões 01 e 02. A longanimidade, a indiferença inteligente com que V. descreve aquela pobre gente e os seus casos encantou-me. Com efeito, aquela gente não merece ódio nem desprezo. Aquilo, no fundo, é uma pobre gente, uma boa gente, vítimas da confusão moral do meio de que nas- ceram, fazendo o mal inocentemente, em parte porque não entendem mais nem melhor, em par- te porque os arrasta a paixão, o instinto, como pobres seres espontâneos, sem a menor trans- cendência. Vocabulário Longanimidade – generosidade, paciência. 01. Unicamp-SP Em qual ato reside o “crime” do padre Amaro? Resolução O “crime” do padre Amaro reside na entrega do filho bas- tardo, que teve com Amélia, para uma ama de leite. A quebra dos votos, o cinismo e o assassinato são uma série de trans- gressões feitas pelo padre. Resolução A carta elogia a maneira como Eça de Queirós apresenta as personagens do povo mais simples, que, segundo Quental, não podem ser responsabilizadas por suas ações, visto que são produto da confusão moral de seu meio. Resolução Eça de Queirós não realiza crítica à escola em sua obra O primo Basílio. Alternativa correta: D Habilidade Relacionar características discursivas e ideológicas de obras realistas em prosa ao contexto histórico de sua produ- ção, circulação e recepção. 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 59 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Exercícios Extras 04. UEL-PR Sobre a forma encontrada por Eça de Queirós, no roman- ce O primo Basílio, para criticar a sociedade burguesa de Lis- boa, é correto afirmar: a. A crítica encontra-se espalhada por todo o romance, presente nos comentários do narrador e na forma de pensar e agir das personagens. b. A crítica está presente nas reflexões realistas da per- sonagem Luísa sobre seu casamento e sua posição na sociedade. c. Juliana é a personagem responsável pela crítica do escritor à sociedade, ao revelar para Jorge que sua mulher o trai. d. A crítica aparece nos debates dos grupos políticos de Lisboa que frequentam as igrejas protestantes. e. Basílio é a personagem que representa a crítica aos valores burgueses, visto que se posiciona a favor da liberdade amorosa dos casais. Leia o fragmento da obra O primo Basílio, de Eça de Quei- rós, e responda às questões de 05 a 08. Ia encontrar Basílio no Paraíso pela primeira vez. E estava muito nervosa: não pudera dominar, desde pela manhã, um medo indefinido que lhe fizera pôr um véu muito espesso, e bater o cora- ção ao encontrar Sebastião. Mas ao mesmo tempo uma curiosidade intensa, múltipla, impelia-a, com um estremecimentozinho de prazer. Ia, enfim, ter ela própria aquela aventura que lera tantas vezes nos romances amorosos! Era uma forma nova do amor que ia experimentar, sensações excepcionais! Havia tudo – a casinha misteriosa, o segredo ilegíti- mo, todas as palpitações do perigo! Porque o apa- rato impressionava-a mais que o sentimento; e a casa em si interessava-a, atraía-a mais que Basílio! Como seria? Era para os lados de Arroios, adiante do Largo de Santa Bárbara; lembrava-se vagamen- te que havia ali uma correnteza de casas velhas... Desejaria antes que fosse numa quinta, com arvo- redos murmurosos e relvas fofas; passeariam as mãos enlaçadas, num silêncio poético; e depois o som da água que cai nas bacias de pedra daria um ritmo lânguido aos sonhos amorosos... Mas era num terceiro andar – quem sabe como seria dentro? Lembrava-lhe um romance de Paulo Féval em que o herói, poeta e duque, forra de cetins e tapeçarias o interior de uma choça; encontra ali a sua amante; os que passam, vendo aquele casebre arruinado, dão um pensamento compassivo à mi- séria que decerto o habita – enquanto dentro, mui- to secretamente, as flores se esfolham nos vasos de Sèvres e os pés nus pisam gobelins veneráveis! Conhecia o gosto de Basílio – e o Paraíso decerto era como no romance de Paulo Féval. Mas no Largo de Camões reparou que o sujei- to de pêra comprida, o do Passeio, a vinhaseguin- do, com uma obstinação de galo; tomou logo um cupê. E ao descer o Chiado, sentia uma sensação deliciosa em ser assim levada rapidamente para o seu amante, e mesmo olhava com certo desdém os que passavam, no movimento da vida trivial – enquanto ela ia para uma hora tão romanesca da vida amorosa! Todavia à maneira que se apro- ximava vinha-lhe uma timidez, uma contração de acanhamento, como um plebeu que tem de su- bir, entre alabardeiros solenes, a escadaria de um palácio. Imaginava Basílio esperando-a estendido num divã de seda; e quase receava que a sua sim- plicidade burguesa, pouco experiente, não achas- se palavras bastante finas ou carícias bastante exaltadas. Ele devia ter conhecido mulheres tão belas, tão ricas, tão educadas no amor! Desejava chegar num cupê seu, com rendas de centos de mil réis, e ditos tão espirituosos como um livro... A carruagem parou ao pé de uma casa amare- lada, com uma portinha pequena. Logo à entrada um cheiro mole e salobre enojou-a. A escada, de degraus gastos, subia ingrememente, apertada entre paredes onde a cal caía, e a umidade fize- ra nódoas. No patamar da sobreloja, uma janela com um gradeadozinho de arame, parda do pó acumulado, coberta de teias de aranha, coava a luz suja do saguão. E, por trás de uma portinha, ao lado, sentia-se o ranger de um berço, o chorar doloroso de uma criança. Mas Basílio desceu logo, com o charuto na boca, dizendo baixo: — Tão tarde! Sobe! Pensei que não vinhas. O que foi? A escada era tão esguia que não podiam subir juntos. E Basílio, caminhando adiante, de esguelha: — Estou aqui desde a uma hora, filha! Imagi- nei que te tinhas esquecido da rua... Empurrou uma cancela, fê-la entrar num quarto pequeno, forrado de papel às listras azuis e brancas. Luísa viu logo, ao fundo, uma cama de ferro com uma colcha amarelada, feita de remendos juntos de chitas diferentes; e os lençóis grossos, de um branco encardido e mal lavado, estavam impudicamente entreabertos... Fez-se escarlate, sentou-se, calada, embaraça- da. E os seus olhos, muito abertos, iam-se fixan- do – nos riscos ignóbeis da cabeça dos fósforos, ao pé da cama; na esteira esfiada, comida, com uma nódoa de tinta entornada; nas bambinelas da janela, de uma fazenda vermelha, onde se viam passagens; numa litografia, onde uma figura, co- berta de uma túnica azul flutuante, espalhava flo- res voando... Sobretudo uma larga fotografia, por cima do velho canapé de palhinha, fascinava-a: era um indivíduo atarracado, de aspecto hílare e alvar, com a barba em colar, o feitio de um piloto ao domingo; sentado, de calças brancas, com as pernas muito afastadas, pousava uma das mãos sobre um joelho, e a outra, muito estendida, as- sentava sobre uma coluna truncada; e, por baixo do caixilho, como sobre a pedra de um túmulo, 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 60 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 pendia de um prego de cabeça amarela uma co- roa de perpétuas! — Foi o que se pôde arranjar – disse-lhe Ba- sílio. — E foi um acaso; é muito retirado, é muito discreto... Não é muito luxuoso... — Não – fez ela, baixo. Levantou-se, foi à janela, ergueu uma ponta da cortininha de cas- sa fixada à vidraça; defronte eram casas pobres; um sapateiro grisalho batia a sola a uma porta; à entrada de uma lojita balouçava-se um ramo de carqueja ao pé de um maço de cigarros penden- tes de um barbante; e, a uma janela, uma rapariga esguedelhada embalava tristemente no colo uma criança doente que tinha crostas grossas de cha- gas na sua cabecinha cor de melão. Luísa mordia os beiços; sentia-se entristecer. Então nós de dedos bateram discretamente à porta. Ela assustou-se, desceu rapidamente o véu. Basílio foi abrir. Uma voz adocicada, cheia de ss melífluos, ciciou baixo. Luísa ouviu vagamente: — Sossegadinhos, suas chavezinhas... 05. Sistema COC Que sensações Luísa experimentava antes de chegar ao Paraíso? Exercícios Propostos Seu espaço Da teoria, leia o tópico 1. Exercícios de tarefa reforço aprofundamento 06. Sistema COC O que levou Luísa a “pôr um véu muito espesso”? 07. Sistema COC A obra de que foi extraído o fragmento trata da aparência versus a essência, temática comum nas obras realistas. So- bre o local do encontro de Luísa e Basílio, ocorre uma oposi- ção entre o devaneio da personagem e a realidade. Explique essa oposição. 08. Sistema COC Comente o trecho “[...] e a casa em si interessava-a, atraía- -a mais que Basílio!”. 09. Uniban-SP (adaptado) Por meio dos personagens de O primo Basílio, Eça de Queirós, sendo fiel às teses realistas, critica a sociedade de seu tempo. Assinale a alternativa em que a caracterização do personagem não ganha dimensão de crítica social. a. Luísa é o protótipo da mulher burguesa que, por alimen- tar sonhos, frustra-se com a vida conjugal entediante. b. Jorge, funcionário público, orienta-se por princípios conservadores e preocupa-se com a preservação das aparências. c. Juliana é uma pessoa ressentida por sua condição so- cial e vê nas circunstâncias que se formam uma chan- ce de ganhar dinheiro. d. Basílio é um homem sedutor, que se aproveita da vulne- rabilidade de Luísa para conduzi-la a encontros eróticos. e. Tanto Jorge quanto Basílio sabem lidar com as opor- tunidades de conquistar mulheres, que eles cativam pelo poder do discurso bem articulado. 10. Em O crime do padre Amaro, de Eça de Queirós, como é solucionado o problema do filho recém-nascido do padre, já que Amélia morre em consequência do parto? 11. Vunesp Leia o fragmento do romance O primo Basílio, de Eça de Queirós, e responda à questão. Bom Deus, Luísa começava a estar menos co- movida ao pé do seu amante, do que ao pé do seu marido! Um beijo de Jorge perturbava-a mais, e viviam juntos havia três anos! Nunca se secara ao pé de Jorge, nunca! E secava-se positivamente ao pé de Basílio! Basílio, no fim, o que se tornara para ela? Era como um marido pouco amado, que ia amar fora de casa! Mas então valia a pena? Onde estava o defeito? No amor mesmo tal- vez! Porque, enfim, ela e Basílio estavam nas condições melhores para obterem uma felicidade excepcional: eram novos, cercava-os o mistério, excitava-os a dificuldade... Por que era então que quase bocejavam? É que o amor é essencialmen- te perecível, e na hora em que nasce começa a morrer. Só os começos são bons. Há então um delírio, um entusiasmo, um bocadinho do céu. Mas depois!... Seria pois necessário estar sempre a começar, para poder sempre sentir? E, pela lógi- ca tortuosa dos amores ilegítimos, o seu primeiro amante fazia-a vagamente pensar no segundo! O amor é visto, predominantemente, como um sentimento: a. eterno, pois Luísa não deixa de amar seu marido, Jor- ge, apesar da distância que os separa. b. passageiro e frágil, pois, para Luísa, só os começos são bons. Sobre o módulo Leia com os alunos um trecho de O primo Basílio. Conte-lhes que, quando Juliana, que trabalha na casa de Luí- sa, descobre sua traição, começa a chantageá-la e exige que a patroa cumpra os afazeres domésticos em seu lugar. Cinemateca Indique aos alunos o filme O primo Basílio, produção na- cional de 2007, dirigida por Daniel Filho. 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 61 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 c. intenso, pois Luísa se mostra profundamente dividida entre o amor de Basílio e Jorge. d. terno e carinhoso, como se pode notar na boa lem- brança que Luísa tem do beijo de Jorge. e. sofrido, pois Luísa e Jorge sofrem por se amarem de- mais e por não poderem ficar juntos. 12. PUC-SP (adaptado) A obra O primo Basílio, escrita por Eça de Queirós em 1878, é considerada uma das mais representativas do ro- mance realista português. Assinale a alternativa que não con- firma o conteúdo desse romance. a. Esse romance de tese apresenta os mecanismos do casamento e analisa o comportamento da pequena burguesiade Lisboa. b. Luísa, personagem central do romance, é caracteriza- da como uma mulher romântica, sonhadora e frágil, comportamento que a predispõe ao adultério. c. O narrador do romance aproxima-se bastante do mo- delo proposto pela literatura realista, que se caracteri- za pela objetividade e pelo senso da minúcia. d. Juliana, a empregada, é solidária a Luísa e a ajuda a escon- der o caso extraconjugal que a patroa tem com o primo. e. Basílio, personagem que dá título ao romance, não se compromete nem se envolve emocionalmente; ape- nas busca na aventura amorosa uma maneira agradá- vel de ocupar o tempo. 13. UFPI Um traço estético presente em O primo Basílio, de Eça de Queirós, é: a. linguagem fortemente descritiva. b. linguagem contida, sem detalhes. c. emprego de recursos gráficos. d. linguagem introspectiva. e. linguagem cinematográfica. 14. UFPR Eça de Queirós afirmava: O Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos pró- prios olhos – para nos conhecermos, para que sai- bamos se somos verdadeiros ou falsos, para con- denar o que houver de mau na nossa sociedade. Para realizar essa proposta literária, quais os recursos utilizados no discurso realista? Considere esta relação e assinale a alternativa correta. I. Preocupação revolucionária, atitude crítica e de combate II. Imaginação criadora III. Personagens frutos de observação; tipos concretos e vivos IV. Linguagem natural, sem rebuscamentos V. Preocupação com mensagem que revela concepção materialista do homem VI. Senso de mistério VII. Retorno ao passado VIII. Determinismo biológico ou social 15. Fuvest-SP Leia o fragmento de A ilustre casa de Ramires, de Eça de Queirós, e responda à questão. As duas manas Lousadas! Secas, escuras e gár- rulas como cigarras, desde longos anos, em Oli- veira, eram elas as esquadrinhadoras de todas as vidas, as espalhadoras de todas as maledicências, as tecedeiras de todas as intrigas. E, na desditosa cidade, não existia nódoa, pecha, bule rachado, coração dorido, algibeira arrasada, janela entrea- berta, poeira a um canto, vulto a uma esquina, bolo encomendado nas Matildes, que seus olhi- nhos furantes de azeviche sujo não descortinas- sem e que sua solta língua, entre os dentes ralos, não comentasse com malícia estridente. No texto, o emprego de artigos definidos e a omissão de artigos indefinidos têm como efeito, respectivamente: a. atribuir às personagens traços negativos de caráter; apontar Oliveira como cidade onde tudo acontece. b. acentuar a exclusividade do comportamento típico das personagens; marcar a generalidade das situa- ções que são objeto de seus comentários. c. definir a conduta das duas irmãs como criticável; colo- cá-las como responsáveis pela maioria dos aconteci- mentos na cidade. d. particularizar a maneira de ser das manas Lousadas; si- tuá-las numa cidade onde são famosas pela maledicência. e. associar as ações das duas irmãs; enfatizar seu livre acesso a qualquer ambiente na cidade. 16. UFMA Eça de Queirós, em O primo Basílio, sustenta como uma de suas teses a crítica ao movimento romântico, como na descri- ção de um dos personagens, o literato Ernesto Ledesma: Pequenino, linfático, os seus membros franzi- nos, ainda quase tenros, davam-lhe um aspecto débil de colegial; o buço, delgado, empastado em cera-moustache arrebitava-se aos cantos em pontas afiadas como agulhas; e na cara chupada, os olhos re- polhudos amorteciam-se com um quebrado langoroso. Nessa descrição, a crítica ao Romantismo evidencia-se com o emprego de: a. atributos que elevam a condição moral de Ernesto Le- desma, como “membros quase tenros”, “buço delga- do” e “aspecto de colegial”. b. adjetivos depreciativos como “linfático”, “pequenino” e “débil”, além da imagem conotativa representada pelo “buço que se arrebitava aos cantos em pontas afiadas como agulhas”. c. verbos no pretérito imperfeito, como “davam-lhe”, “ar- rebitava-se” e “amorteciam-se”, sugerindo a continui- dade da ação que começou no passado. d. elipses verbais, com o intuito de tornar o texto mais enxuto e preciso, satisfazendo, assim, uma das carac- terísticas do Realismo: a objetividade. e. metáforas e comparações inusitadas, como “olhos repolhudos” e “pontas afiadas como agulhas”, na ten- tativa de enaltecer o caráter do personagem escritor. a. I, II, III, V, VII e VIII b. I, III, IV, V e VIII c. II, III, IV, V e VIII d. III, IV, V, VI e VIII e. II, III, IV, V e VII 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 62 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Módulo 60 Eça de Queirós III Exercícios de Aplicação 03. Mackenzie-SP Em texto sobre O primo Basílio, de Eça de Queirós, Macha- do de Assis afirma: “[...] o tom carregado das tintas, que nos assusta, para ele é simplesmente o tom próprio.”. Assinala que o escritor português já provocara a admiração dos leito- res com O crime do padre Amaro e acrescenta: “Pois que havia de fazer a maioria, senão admirar a fidelidade de um autor que não esquece nada e não oculta nada? Porque a nova poética é isto, e só chegará à perfeição no dia em que nos disser o número exato dos fios de que se compõe um lenço de cam- braia ou um esfregão de cozinha.”. Deve-se compreender as palavras destacadas como: a. elogio, sem ironia, a uma prática inovadora que mere- ceria ser adotada pelos autores realistas brasileiros. b. recusa do Realismo entendido como reprodução foto- gráfica, que não distingue a relevância dos detalhes que mereceriam ser enfocados. c. crítica à velha poética, que, mais sutil, mais sugeria do que explicitava, negando-se a descrições detalhadas. d. negação dos procedimentos típicos dos escritores românticos, que, evitando a observação da realidade, em nada podiam contribuir para a formação da cons- ciência da nacionalidade. e. elogio ao público pelo reconhecimento do valor do es- critor português, fiel à descrição e à avaliação da so- ciedade burguesa que retrata em suas obras. 01. Mackenzie-SP Assinale a alternativa correta. a. A prosa realista, com intuito moralizador, desmascara o casamento por interesse, tão comum no século XIX, para defender uma relação amorosa autêntica, segun- do princípios filosóficos do platonismo. b. A prosa romântica analisa mais profundamente a na- tureza humana, evitando a apresentação de caracte- res padronizados em termos de paixões, virtudes e defeitos. c. A prosa realista põe em cena personagens tipificados que, metamorfoseados em heróis valorosos, corres- pondem à expressão da consciência e de valores co- letivos. d. A prosa realista, apoiando-se em teorias cientificistas do século XIX, empreende a análise de instituições burguesas, como o casamento, por exemplo, denun- ciando as bases frágeis dessa união. e. A prosa romântica recria o passado histórico com o in- tuito de ironizar os mitos nacionais. 02. UFRGS-RS Considere o enunciado e as três possibilidades para com- pletá-lo e assinale a alternativa correta. Em A cidade e as serras, de Eça de Queirós, percebe-se uma: I. visão irônica da modernidade e do progresso median- te descrições de inventos reais e fictícios; II. consciência dos conflitos que a vida moderna traz aos indivíduos que vivem nas grandes cidades; III. mudança progressiva quanto ao modo de valorizar a vida junto à natureza, percebendo seus benefícios. a. Somente I está correta. b. Somente II está correta. c. Somente III está correta. d. Somente I e II estão corretas. e. I, II e III estão corretas. Resolução As obras realistas apresentam crítica social, que busca desnudar as mazelas da burguesia e do clero. O adultério e a união por interesse são denunciados. Alternativa correta: D Resolução Todas as afirmações correspondem ao que apresenta o romance A cidade e as serras. Alternativa correta: E Resolução O comentário de Machado demonstra que ele não aceita- va a maneira como Eça de Queirós usava as descrições, em qualquer situação. Alternativa correta:B Habilidade Relacionar características discursivas e ideológicas de obras realistas em prosa ao contexto histórico de sua produ- ção, circulação e recepção. 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 63 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Exercícios Extras d. O Realismo foi marcado por forte espírito crítico e as- sumiu atitude mais combativa diante dos problemas sociais contemporâneos. e. O sentido de observação e análise vigente no Realis- mo exigiu do escritor postura racional e crítica diante das contradições do homem como ser social. 05. UFRS Sobre a obra de Eça de Queirós, considere as afirmações e assinale a alternativa correta. I. O crime do padre Amaro é um romance com que o au- tor pretende defender uma tese. II. A ironia é um recurso literário frequentemente usado pelo autor para exercer a crítica social. III. O romance A cidade e as serras valoriza Portugal. a. Somente I está correta. b. Somente I e II estão corretas. c. Somente I e III estão corretas. d. Somente II e III estão corretas. e. I, II e III estão corretas. 04. UFV-MG Leia o fragmento de texto de Eça de Queirós e responda à questão. O Romantismo era a apoteose do sentimento; o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para nos conhecermos, para que saiba- mos se somos verdadeiros ou falsos, para conde- nar o que houve de mau na nossa sociedade. Assinale a alternativa que não está em conformidade com as definições do romancista português. a. As preocupações psicológicas da prosa de ficção realista levaram o romancista a uma conscientização do próprio eu e à manifestação de sua mais profunda interioridade. b. Em oposição à idealização romântica, o escritor realis- ta procurou descobrir a verdade de seus personagens, dissecando-lhes o comportamento. c. O autor realista retratou com fidelidade a psicologia dos personagens, demonstrando interesse maior pe- las fraquezas humanas e pelos dramas existenciais. Seu espaço Sobre o módulo Reforce para os alunos a importância da obra de Eça de Queirós e o posicionamento do autor como uma voz crítica da socie- dade portuguesa de sua época. Indique a leitura dos romances da segunda fase de sua obra, como O primo Basílio e O crime do padre Amaro, que são retratos contundentes da hipocrisia presente nas instituições consagradas pela burguesia. 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 64 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 Exercícios Propostos Da teoria, leia o tópico 1. Exercícios de tarefa reforço aprofundamento 06. São obras representativas do Romantismo e do Realismo português, respectivamente: a. Amor de perdição e Frei Luís de Sousa. b. Os Maias e Viagens na minha terra. c. Eurico, o presbítero e O crime do padre Amaro. d. O primo Basílio e Amor de salvação. e. A cidade e as serras e A ilustre casa de Ramires. 07. UFBA (adaptado) Leia o fragmento do romance A ilustre casa de Ramires, de Eça de Queirós, e responda à questão. Barrolo beliscava a pele do pescoço, cons- trangido ante aqueles rancores ruidosos que desmanchavam o seu sossego. Já, por imposição de Gonçalo, rompera desconsoladamente com o Cavaleiro. E agora antevia sempre uma bulha, um escândalo que o indisporia com os amigos do Cavaleiro, lhe vedaria o Clube e as doçuras da Arcada, lhe tornaria Oliveira mais enfadonha que a sua quinta da Ribeirinha ou da Murtosa, solidões detestadas. Não se conteve, arriscou o costumado reparo: — Ó Gonçalinho, olha que também todo esse espalhafato só por causa da política... Gonçalo quase quebrou o jarro, na fúria com que o pousou sobre o mármore do lavatório: — Política! Aí vens tu com a política! Por política não se atira água suja aos governadores civis. Que ele não é político, é só malandro! Além disso... Mas terminou por encolher os ombros, emu- decer, diante do pobre bacoco de bochechas pasmadas, que, naquelas rondas do Cavaleiro pelos Cunhais, só notava o “lindo cavalo” ou “o caminho mais curto para as Lousadas!”... — Bem! – resumiu. — Agora larga, que me quero vestir... Do bigodeira me encarrego eu. — Então, até logo... Mas, se ele passar, nada de asneiras, hein? — Só justiça, aos baldes! E bateu com a porta nas costas resignadas do bom Barrolo que, pelo corredor, suspirando, lamen- tava o assomado gênio do Gonçalinho, às cóleras desproporcionadas em que o lançava “a política”. Enquanto se ensaboava com veemência, de- pois se vestia numa pressa irada, Gonçalo ruminou aquele intolerável escândalo. Fatalmente, apenas se apeava em Oliveira, encontrava o homem da grande guedelha, caracolando por sob as janelas do palacete [...] E o que o desolava era perceber no coração de Gracinha, pobre coração meigo e sem fortaleza, uma teimosa raiz de ternura pelo Cava- leiro, bem enterrada, ainda vivaz, fácil de reflorir... E nenhum outro sentimento forte que a defendes- se, naquela ociosidade de Oliveira — nem superio- ridade do marido, nem encanto dum filho no seu berço. Só a amparavam o orgulho, certo respeito religioso pelo nome de Ramires, o medo da peque- na terra espreitada e mexeriqueira. Vocabulário Assomado – destacado. Bacoco – ingênuo. Bigodeira – pessoa com bigode farto. Bulha – ruído, gritaria. Quinta – propriedade rural. Guedelha – cabeleira. Considere a afirmação: Gracinha Ramires tinha uma determinação que a protegia de qualquer investida do ex-amado. Com base no fragmento do romance, analise se a afirma- ção é correta e justifique sua resposta com algum trecho do texto. Leia o fragmento do romance O crime do padre Amaro, de Eça de Queirós, e responda às questões 08 e 09. O cônego Dias era muito conhecido em Lei- ria. Ultimamente engordara, o ventre saliente enchia-lhe a batina; e a sua cabecinha grisalha, as olheiras papudas, o beiço espesso faziam lem- brar velhas anedotas de frades lascivos e glutões. 08. UFTM-MG Considere as afirmações e assinale a alternativa correta. Ao apresentar cônego Dias, o narrador o faz de forma irô- nica e sarcástica: I. pelo uso sistemático de adjetivos que, pelo contexto, assumem conotação pejorativa; II. pela caracterização psicológica do personagem; III. pelo uso da palavra beiço (para designar lábio). a. Somente II está correta. b. Somente III está correta. c. Somente I e II estão corretas. d. Somente I e III estão corretas. e. Somente II e III estão corretas. 09. UFTM-MG No fragmento, há importantes características da literatu- ra de Eça de Queirós: a. idealismo, linguagem coloquial e tom sarcástico. b. psicologismo, linguagem prolixa e tom retórico. c. criticismo, linguagem concisa e tom reflexivo. d. elitismo, linguagem rebuscada e tom aristocrático. e. anticlericalismo, linguagem mordaz e tom descritivo. Leia o fragmento do romance O primo Basílio, de Eça de Queirós, e responda às questões 10 e 11. Luísa, ao voltar para casa, veio a refletir na- quela cena. Não – pensava –, já não era a pri- 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 65 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 meira vez que ele mostrava um desprendimento muito seco por ela, pela sua reputação, pela sua saúde! Queria-a ali todos os dias, egoistamente. Que as más-línguas falassem; que as soalheiras a matassem, que lhe importava? E para quê?... Porque enfim, saltava aos olhos, ele amava-a me- nos... As suas palavras, os seus beijos arrefeciam cada dia, mais e mais!... Já não tinha aqueles ar- rebatamentos do desejo em que a envolvia toda numa carícia palpitante, nem aquela abundância de sensação que o fazia cair de joelhos com as mãos trêmulas como as de um velho!... Já se não arremessava para ela, mal ela aparecia à porta, como sobre uma presa estremecida!... Já não havia aquelas conversas pueris, cheias de risos, divagadas e tontas, em que se abandonavam, se esqueciam, depois da hora ardente e física, quando ela ficava numa lassitude doce, como sangue fresco, a cabeça deitada sobre os braços nus! Agora, trocado o último beijo, acendia o charuto, como num restaurante ao fim do jantar! E ia logo a um espelho pequeno que havia sobre o lavatório dar uma penteadela no cabelo com um pentezinho de algibeira. (O que ela odiava era o pentezinho!) Às vezes até olhava o reló- gio!... E, enquanto ela se arranjava não vinha, como nos primeiros tempos, ajudá-la, pôr-lhe o colarinho, picar-se nos seus alfinetes, rir em vol- ta dela, despedir-se com beijos apressados da nudez dos seus ombros antes que o vestido se apertasse. Ia rufar nos vidros – ou sentado, com um ar macambúzio, bamboleava a perna! E depois positivamente não a respeitava, não a considerava... Tratava-a por cima do ombro, como uma burguesinha, pouco educada e estrei- ta, que apenas conhece o seu bairro. E um modo de passear, fumando, com a cabeça alta, falando no “espírito de madame de tal”, nas “toaletes da condessa de tal”! Como se ela fosse estúpida, e os seus vestidos fossem trapos! Ah, era secante! E parecia, Deus me perdoe, parecia que lhe fa- zia uma honra, uma grande honra em a possuir... Imediatamente lembrava-lhe Jorge, Jorge que a amava com tanto respeito! Jorge, para quem ela era decerto a mais linda, a mais elegante, a mais inteligente, a mais cativante!... E já pensava um pouco que sacrificara a sua tranquilidade tão fe- liz a um amor bem incerto! Enfim, um dia que o viu mais distraído, mais frio, explicou-se abertamente com ele. Direita, sentada no canapé de palhinha, falou com bom senso, devagar, com um ar digno e preparado: Que percebia bem que ele se aborrecia; que o seu grande amor tinha passado; que era portan- to humilhante para ela verem-se nessas condi- ções, e que julgava mais digno acabarem... Basílio olhava-a, surpreendido da sua soleni- dade; sentia um estudo, uma afetação naquelas frases; disse muito tranquilamente, sorrindo: — Trazias isso decorado! Luísa ergueu-se bruscamente; encarou-o, teve um movimento desdenhoso dos lábios. — Tu estás doida, Luísa? — Estou farta. Faço todos os sacrifícios por ti; venho aqui todos os dias; comprometo-me, e para quê? Para te ver muito indiferente, muito secado... — Mas meu amor... Ela teve um sorriso de escárnio. — Meu amor! Oh! São ridículos esses fingi- mentos! Basílio impacientou-se. — Já isso cá me faltava, essa cena! – excla- mou impetuosamente. E cruzando os braços diante dela: — Mas que queres tu? Queres que te ame como no teatro, em São Carlos? Todas sois assim! Quando um pobre diabo ama natu- ralmente, como todo o mundo, com o seu co- ração, mas não tem gestos de tenor, aqui del rei que é frio, que se aborrece, é ingrato... Mas que queres tu? Queres que me atire de joelhos, que declame, que revire os olhos, que faça juras, ou- tras tolices? — São tolices que tu fazias... — Ao princípio! – respondeu ele brutalmente. — Já nos conhecemos muito para isso, minha rica. E havia apenas cinco semanas! — Adeus! – disse Luísa. Vocabulário Algibeira – bolso. Macambúzio – triste. Secante – entediante. Soalheiras – maledicentes, fofoqueiras. 10. Ibmec-SP (adaptado) Assinale V para verdadeiro e F para falso. ( ) Luísa demonstra estar decepcionada com as atitu- des frias e grosseiras de Basílio, por isso revela sua intenção de pôr fim à relação extraconjugal. ( ) Em “...venho aqui todos os dias; comprometo-me, e para quê?”, Luísa emprega uma pergunta retórica para deixar claro que esperava do amante um com- portamento mais romântico. ( ) Habilidoso, Basílio conhece as fraquezas da amante e, teatralmente, joga-se ao chão de joelhos, fazendo- -lhe juras de amor, embora julgue que tal atitude seja uma tolice. ( ) Em “Meu amor! Oh! São ridículos esses fingimen- tos!”, Luísa explicita que está consciente da indife- rença do amante, apesar de ele negar isso. ( ) Na passagem “Trazias isso decorado!”, Basílio de- monstra perceber que a fala de Luísa é artificial e ironiza a solenidade do desabafo. 11. Assinale a alternativa que comprova, com a citação do fragmento, a desilusão de Luísa quanto a seu relacionamento com Basílio. 27 25 2 Lí n gu a Po rt u gu es a 66 Li ng ua ge ns , C ód ig os e s ua s Te cn ol og ia s EM I-1 5- 10 a. “As suas palavras, os seus beijos arrefeciam cada dia...” b. “Já não tinha aqueles arrebatamentos do desejo...” c. “... como num restaurante ao fim do jantar!” d. “Às vezes até olhava o relógio!” e. “... percebia bem que ele se aborrecia...” 12. FGV Leia o fragmento do romance O primo Basílio, de Eça de Queirós, e responda à questão. Jorge envolvia-a em delicadezas de amante, ajoelhava-se aos seus pés, era muito dengueiro. E sempre de bom humor, com muita graça; mas, nas coisas da sua profissão ou do seu brio, tinha severidades exageradas, e punha então nas pa- lavras, nos modos uma solenidade carrancuda. Uma amiga dela romanesca, que via em tudo dra- mas, tinha-lhe dito: é homem para te dar uma pu- nhalada. Ela, que não conhecia ainda o tempera- mento plácido de Jorge, acreditou, e isso mesmo criou uma exaltação no seu amor por ele. Vocabulário Brio – honra. Dengueiro – delicado, carinhoso. Romanesca – influenciada por romances. No fragmento, Luísa reconhece certas características de Jorge que se confirmam no curso do romance, exceto uma: a. a extrema violência. b. a delicadeza no trato. c. o bom humor. d. o rigor profissional. e. o temperamento tranquilo. Leia o fragmento do romance Os Maias, de Eça de Quei- rós, e responda às questões de 13 a 15. Pobre Alencar! O naturalismo; [...] essas ru- des análises, apoderando-se da Igreja, da reale- za, da burocracia, da finança, de todas as coisas santas, dissecando-as brutalmente e mostran- do-lhes a lesão, [...] apanhando em flagrante [...] a palpitação mesma da vida; tudo isso [...], caindo assim de chofre e escangalhando a cate- dral romântica, sob a qual tantos anos ele tive- ra altar e celebrara missa, tinha desnorteado o pobre Alencar [...]. O naturalismo, com as suas aluviões de obscenidade, ameaçava corromper o pudor social? Pois bem. Ele, Alencar, seria o paladino da moral [...]; então o romancista de Elvira, que, em novela e drama, fizera a propaganda do amor ilegítimo, representando os deveres conjugais como mon- tanhas de tédio, dando a todos os maridos for- mas gordurosas e bestiais, e a todos os amantes a beleza, o esplendor e o gênio dos antigos Apo- los; então Tomás Alencar, que [...] passava ele próprio uma existência medonha de adultérios, lubricidade, orgias [...] – de ora em diante auste- ro, incorruptível, [...] passou a vigiar atentamen- te o jornal, o livro, o teatro. Vocabulário De chofre – de repente. Escangalhar – destruir. Lubricidade – sensualidade exagerada. 13. Enade (adaptado) Quem relata é o narrador em terceira pessoa que se apro- veita, dentre outros recursos, do discurso indireto livre. É cor- reto afirmar que, nesse relato, o uso da ironia: a. permite que o narrador, aderindo aos sentimentos de Tomás Alencar, critique a estética realista, traduzindo a visão de Eça de Queirós. b. produz uma inversão: o narrador, caracterizando o Realismo sob a perspectiva de Tomás Alencar, deixa transparecer as convicções do realista Eça de Queirós sobre o Romantismo. c. cria um discurso de natureza metalinguística: o tema é a arte de Tomás Alencar, que, embora romântico, pro- cura compor segundo o estilo das obras de Zola. d. propicia que sejam citadas, pela voz da personagem, as razões do juízo desfavorável de Eça de Queirós acerca das propostas da geração de 1870. e. cria referências (tédio no casamento, maridos como figuras bestiais, amantes apolíneos) que aproximam Tomás Alencar do autor de Madame Bovary, o que jus- tifica sua aversão ao Realismo. 14. Sistema COC Como o narrador imagina que Tomás Alencar entende o naturalismo? 15. Enade O crítico José Guilherme Merquior, ao analisar a questão da literatura na modernidade, afirma: “[...] a partir de Flauberte Baudelaire, instala-se nas letras o senso da ‘vacuidade do ideal’; emerge a tradição moderna como literatura crítica.”. O ideal esvaziado de conteúdo, assinalado pelo crítico, no texto de Eça de Queirós: a. constitui a busca do “paladino da moral”. b. é considerado causa da ação de celebrar missa duran- te tantos anos. c. pode ser associado à escangalhada catedral românti- ca. d. está tomado como sinônimo de “palpitação mesma da vida”. e. é tido como consequência da “propaganda do amor ilegítimo”. 16. Sistema COC Considerando o texto da questão anterior, como pode ser entendida a expressão “vacuidade do ideal”?