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Artigo Memória de Trabalho Fonológica Hage.pdf cAdernos de comunicAÇão e linguAgem / 61 DESEMPENHO DE CRIANÇAS NORMAIS fALANTES DO PORTUGUêS EM PROVA DE MEMóRIA DE TRABALHO fONOLóGICA simone rocHa de vasconcellos Hage Fonoaudióloga; mestre em lingüística e doutora em neurociências pela universidade estadual de campinas – unicAmp – campinas (são paulo – Brasil); professora doutora do departamento de Fonoaudiologia – FoB/usp – universidade de são paulo – Bauru (são paulo – Brasil); pesquisadora FApesp – Fundação de Apoio à pesquisa do estado de são paulo / simonehage@usp.br mÁrcia aparecida grivol Fonoaudióloga; pesquisadora FApesp - Fundação de Apoio à pesquisa do estado de são paulo / marcia.grivol@usp.br resumo objetivo: verificar o desempenho de crianças normais falantes do português em provas de memória de trabalho Fonológica (mtF). metodologia: foram avaliadas 200 crianças en- tre sete e oito anos por meio de repetição de não palavras e dígitos. resultados: não houve diferença estatisticamente significante entre o desempenho das crianças entre sete e oito anos. houve diferença estatisticamente significante na repetição de não palavras acima de três sílabas. conclusão: para as faixas etárias estudas não houve mudanças significativas no armazenamento do material verbal na mtF, entretanto, há maior dificuldade na arma- zenagem conforme se aumenta o número de sílabas das não palavras. pAlAvrAs-chAve: memória; português; fonologia. ABstrAct objective: to review the performance of normal children of portuguese speakers in tests of working memory phonological (wmp). methodology: we evaluated 200 children be- tween seven and eight years through repetition of non-words and digits. results: no sta- tistically significant difference between the performance of children between seven and eight years. there was a statistically significant difference in recurrence of non-words over three syllables. conclusion: for the age groups studied there were no significant changes in the storage of verbal material in the wmp, however, there is greater difficulty in storage as it increases the number of syllables non-words. Keywords: memory; portuguese; phonological. 62 / investigAÇão clínicA 1. INTRODUÇÃO a memória é a capacidade de elaborar, estocar, recuperar e utilizar a informação (nar- bona e chevrie-miller, 2005). o desenvolvimento desta habilidade na infância é parale- lo ao desenvolvimento cognitivo geral, sendo que ela intervém, assim como a atenção, em todas as atividades cognitivas. quando avaliamos, por exemplo, a linguagem de uma criança a memória de curto prazo age obrigatoriamente. a memória é conceituada conforme a sua função, seu tempo de duração e seu con- teúdo, assim, podem ser distinguidos três níveis: memória sensorial, com duração inferior a um segundo; memória de curto prazo, que corresponde a um tempo de al- guns segundos a alguns minutos, conceituada como capacidade de arquivar tempo- rariamente a informação para o desempenho de diversas habilidades cognitivas - e a memória de longo prazo, que cobre um tempo que vai de algumas horas a anos e é dividida em memória implícita e memória explícita, resumidamente, memória implí- cita é a memória para habilidades e procedimentos e memória explícita é a memória para fatos e eventos (izquierdo, 2002). a memória de trabalho é um sistema de processamento e armazenamento de infor- mações de curto prazo que mantém o pensamento, a aprendizagem e a comunicação. a memória de trabalho envolve o armazenamento temporal e a manipulação da infor- mação que será necessária para a realização de complexas atividades cognitivas, como a compreensão, o acesso ao léxico, a aprendizagem, a escrita, dentre outras (montgo- mery, 2003). no que tange à linguagem, a memória de trabalho verbal (fonológica) tem um pa- pel fundamental. de acordo com marton e schartz (2003), no período de aquisição permite a análise por quem está aprendendo a estrutura de uma língua, e uma vez já adquirida, esta memória é crítica para processá-la. Hulme et al. (1984) encontraram correlações entre as habilidades de memória de trabalho fonológica (mtf) e as ha- bilidades de fala e linguagem e afirmaram que a memória se expande com a idade, devido ao aumento na velocidade da “re-chamada” subvocal, ou seja, o aumento nas habilidades de memória parece estar ligado a um aumento nas habilidades de fala e linguagem. quando se avalia a linguagem de uma criança, e solicita-lhe a recontagem de histó- rias, ou a repetição de uma frase, a mtf intervém inevitavelmente. de acordo com ba- ddeley (1986), aguado (1999) e gonçalves (2002) as habilidades da mtf normalmente são avaliadas por meio de 2 índices: o memory span (word span/ digit span) e a repe- tição de não palavras. os testes de repetição de palavras inventadas solicitam mais confiavelmente à memória de trabalho, devido ao fato do input (entrada) ou recepção, ser desconhecido e, conseqüentemente, não sujeito às influências lexicais, impedindo, assim, a possibilidade de mascaramento das reais condições do sistema. nesta dire- ção, provas de repetição de não palavras em diferentes línguas têm sido elaboradas. para falantes do português, santos e bueno (2003) elaboraram uma versão brasileira cAdernos de comunicAÇão e linguAgem / 63 do children’s test of nonword repetition (cnrep) e digit span, denominada brazilian children’s test of pseudoword repetition (bcpr), cujos resultados comprovaram a in- fluência da idade e da escolaridade na repetição de não palavras. no contexto clínico, diversos trabalhos vêm apontando a relação entre dificuldades de linguagem e defasagem na memória fonológica (gilmam et al., 1998; martinez et al., 2005; archilbald e gathercole, 2006; Hage e ferreira, 2008). estes estudos aponta- ram que crianças com alterações nas habilidades lingüísticas apresentam dificuldades severas na repetição de palavras sem significado, salientando que estas crianças po- dem sofrer déficits na codificação fonológica ou memória fonológica que justificam as alterações de linguagem encontradas. considerando os estudos citados sobre as relações entre linguagem e memória fono- lógica, seja no âmbito da aquisição ou da alteração de linguagem, e ainda a carência de instrumentos na língua portuguesa para a investigação desta relação, este trabalho teve o objetivo de verificar o desempenho de crianças com desenvolvimento típico de linguagem falantes do português em provas de memória de trabalho fonológica. 2. MATERIAL E MéTODO 2.1. CASUÍSTICA foram avaliadas 227 crianças, entre sete anos e oito anos e onze meses, de ambos os gêneros, sendo 118 meninas e 109 meninos, pertencentes à 1ª série e 2ª série do ensino fundamental de cidades do interior do estado de são paulo. destas, 27 crianças foram excluídas da amostra pelo fato de ter sido detectado problemas de comuni- cação oral ou escrita por meio da entrevista com os professores, aplicação de prova de fonologia – nomeação (Wertzner, 2004) e subteste de leitura do tde (stein, 1994). dessa forma, só participaram do estudo crianças que não apresentaram histórico de alterações de linguagem oral e audição, e ainda, desempenho escolar compatível com 1ª ou 2ª série. assim, fez parte da amostra 200 crianças, sendo 106 meninas e 94 meninos. 2.2. METODOLOGIA os pais das crianças avaliadas foram informados do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. esta pesquisa já teve a aprovação do comitê de ética em pesquisa da faculdade de odontologia de bauru – universidade de são paulo (processo nº. 48/2006). as crianças que trouxeram o termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelos seus responsáveis foram chamadas uma a uma e levadas a uma sala dentro da própria escola, estando esta livre de ruídos. encerrada as provas, 64 / investigAÇão clínicA a criança retornava imediatamente à sala de aula e outra já era chamada, e assim sub- sequentemente. a prova de não palavras foi criada por srv Hage, com bases na estrutura fonológica da língua, sendo constituída de 40 palavras inventadas com fonemas do português, contendo seqüências de não palavras de 2 a 5 sílabas. todas as palavras inventadas são paroxítonas e foram elaboradas, contendo em ordens distintas: 6 fonemas oclusivos (/p/, /t/, /k, /b/, /d/, /g/), 3 nasais (/m/; /n/; /ŋ/), 6 fricativos (/f/;/v/, /J/, /ς/, s/, /z/) e 2 líquidos (/l/; /r/), 5 vogais fechadas (/a/, /e/, /i/; /o/; /u/). o padrão silábico quando utili- zado para crianças de 3 e 4 anos é c+v (c = consoante e v = vogal) v+ c e para aquelas acima de 5 anos é: c+v; v+c; c+v+c, c+c+v. a prova é aplicada da seguinte maneira: o avaliador fala cada palavra da lista e a criança as repete imediatamente. forma de pontuação: atribui-se: 2 pontos quando repetia-se corretamente na primeira vez 1 ponto quando repetia-se corretamente na segunda vez 0 ponto quando não conseguia-se nas duas tentativas. a prova de dígitos é constituída de diversas seqüências de números de 1 a 9 para ser repetida na ordem direta e inversa. a seqüência direta vai de 2 a 8 dígitos e a inversa, de 2 a 7. a forma de pontuação é a mesma da prova de não palavras. a forma de pontuação adotada em ambas as provas baseou-se na pontuação do sub- teste 5 – memória seqüencial auditiva - do teste illinois de Habilidade psicolingüísticas – itpa, padronização brasileira (bogossian e santos, 1977). a prova está em anexo a teste artigo. os resultados foram apresentados considerando medidas descritivas com valores de mediana, média, valores mínimos, máximos, de quartil mais baixo, quartil superior e quartil de variação, com seus respectivos desvio padrão. para a comparação entre as idades e as séries foi utilizado teste t de student, sendo considerado significativo valor de p<0,05. para a comparação entre o número de sílabas das não palavras foi utilizado o teste de tukey para as comparações múltiplas e a análise de variância a um critério. 3. RESULTADOS a tabela 1 apresenta as medidas descritivas do desempenho de 117 crianças com idade entre sete anos e sete anos e onze meses, na prova de não palavras (com duas sílabas, três sílabas, quatro sílabas, cinco sílabas e pontuação total), e na prova de dígi- tos (ordem direta, ordem inversa e pontuação total), com valores de mediana, média, valores mínimos, máximos, de quartil inferior, quartil superior e quartil de variação, com seus respectivos desvio padrão. cAdernos de comunicAÇão e linguAgem / 65 tABelA 1. medidas descritivas do desempenho de crianças de sete a sete anos e onze meses de idade. nP e Dígitos nº de Sujeitos Média Mediana Mínimo Máximo Quartil inferior Quartil superior Quartil de Variação Desvio Padrão Np_2S 117 20 20 17 20 20 20 0 0,58 Np_3S 117 19 20 16 20 19 20 1 0,94 Np_4S 117 18 19 12 20 17 19 2 1,72 Np_5S 117 16 17 9 20 14 18 4 2,61 Np_tOtAL 117 74 74 60 80 72 76 4 4,05 D_OD 117 15 14 6 26 12 17 5 3,41 D_OI 117 8 8 2 17 6 10 4 2,76 D_tOtAL 117 23 22 11 42 19 25 6 5,26 legenda: np - não palavras; 2s-duas sílabas; 3s-três sílabas; 4s-quatro sílabas; 5s-cinco sílabas; d - dígitos; od - ordem direta; oi - ordem inversa. a tabela 2 refere-se às medidas descritivas do desempenho de 83 crianças com idade entre oito anos e oito anos e onze meses, na prova de não palavras (com duas sílabas, três sílabas, quatro sílabas, cinco sílabas e pontuação total), e na prova de dígitos (or- dem direta, ordem inversa e pontuação total), com valores de mediana, média, valores mínimos, máximos, de quartil inferior, quartil superior e quartil de variação, com seus respectivos desvio padrão. tABelA 2. medidas descritivas do desempenho de crianças de oito a oito anos e 11 meses de idade. nP e Dígitos nº de Sujeitos Média Mediana Mínimo Máximo Quartil inferior Quartil Superior Quartil de Variação Desvio Padrão Np_2S 83 20 20 15 20 19 20 1 0,78 Np_3S 83 19 20 16 20 19 20 1 1 Np_4S 83 19 19 12 20 18 20 2 1,76 Np_5S 83 17 18 9 20 15 19 4 2,77 Np_tOtAL 83 74 76 61 80 72 78 6 4,62 D_OD 83 15 15 8 22 13 16 3 2,72 D_OI 83 9 8 0 18 7 10 3 2,96 D_tOtAL 83 24 24 12 40 21 26 5 4,83 legenda: np- não palavras; 2s-duas sílabas; 3s-três sílabas; 4s-quatro sílabas; 5s-cinco sílabas; d - dígitos; od - ordem direta; oi - ordem inversa. a tabela 3 refere-se à comparação do desempenho de crianças entre sete anos a sete anos e onze meses e oito anos a oito anos e onze meses, cujos resultados demonstram que estas crianças obtiveram desempenhos semelhantes, não apresentando assim di- ferença estatisticamente significante. 66 / investigAÇão clínicA tABelA 3. comparação do desempenho entre o grupo de crianças entre sete anos a sete anos e onze meses e o grupo de crianças entre oito anos a oito anos e onze meses, utilizando o teste t de student. nP e Dígitos Média G_1:7 Média G_2:8 número de Sujeitos G_1:7 número de Sujeitos G_2:8 Desvio Padrão G_1:7 Desvio Padrão G_2:8 Valor de t p Np_2S 20 20 117 83 0,58 0,79 1,17 0,25 Np_3S 19 19 117 83 0,94 1 0,46 0,65 Np_4S 18 19 117 83 1,72 1,76 -1,19 0,24 Np_5S 16 17 117 83 2,61 2,78 -1,46 0,15 Np_tOtAL 74 74 117 83 4,05 4,62 -0,98 0,33 D_OD 15 15 117 83 3,41 2,72 -0,55 0,59 D_OI 8 9 117 83 2,76 2,96 -1,67 0,10 D_tOtAL 23 24 117 83 5,27 4,83 -1,37 0,17 legenda: np – não palavras; 2s-duas sílabas; 3s-três sílabas; 4s-quatro sílabas; 5s-cinco sílabas; d - dígitos, od - ordem direta; oi - ordem inversa; g_1: 7-grupo 1; g_2: 8- grupo 2; p-significância estatística. a tabela 4 refere-se à comparação entre o número de sílabas das não palavras (2 sílabas, 3 sílabas, 4 sílabas e 5 sílabas), cujos resultados não demonstraram diferença estatisticamente significante na repetição de não palavras de 2 sílabas para 3 sílabas, porém, para as demais sílabas (de 3 para 4 sílabas e de 4 pra 5 sílabas ) houve diferença estatisticamente significante. tABelA 4. comparação entre o número de sílabas das não palavras, utilizando o teste de tukey para as comparações múltiplas. Efeito Principal : nº de Sílabas 2 3 4 5 2 19,68000 19,29000 18,34500 16,60000 3 0,0504612 0,0000077 0,0000077 4 0,0000077 0,0000077 5 0,0000077 4. DISCUSSÃO considerando a relação existente entre memória de trabalho fonológica e desenvol- vimento de linguagem, assim como os estudos que apontam a relação entre déficit de memória fonológica e alterações de linguagem, este estudo verificou o perfil de cAdernos de comunicAÇão e linguAgem / 67 desempenho em provas de memória de trabalho fonológica de crianças normais entre sete anos e oito anos e onze meses, em início de processo de alfabetização. a opção por provas que envolvessem a repetição de dígitos e não palavras base- aram-se nos trabalhos de baddeley (1986, 2003), aguado (1999) e gonçalves (2002) apontaram que as habilidades de memória de trabalho fonológica em geral são avalia- das por meio de repetição destes índices, enfatizando que a repetição de não palavras solicita mais confiavelmente esse tipo de memória, em função de o material verbal não estar sujeito às influências lexicais. bryan e Howard (1992) consideraram que para a criança repetir não palavras é necessário uma conexão entre o seu sistema de análise perceptiva e seu planejamento fonológico, sendo que a análise perceptiva fornece a seqüência de fonemas que não pode ser gerado no léxico. a prova de não palavras utilizou-se dos princípios da prova de pseudopalavras criada por g. aguado (aguado et al., 2006) e foi construída considerando os padrões silábicos e os fonemas da língua portuguesa falada no brasil. as tabelas 1 e 2 demonstram os resultados obtidos, considerando as duas faixas de idade analisadas. não houve diferença estatisticamente significante entre o desempe- nho das crianças entre sete e oito anos. o estudo de santos e bueno (2003) encontrou resultados que comprovaram a influência da idade na repetição de não palavras, to- davia, o trabalho daquelas autoras, apesar de poucos sujeitos por faixa etária, abran- geu uma faixa mais extensa, entre quatro e dez anos, o que provavelmente justifica os resultados influenciados pela idade. vale ressaltar que o estudo aqui apresentado é a primeira parte do levantamento do perfil de desempenho de crianças em provas que investigam a memória de trabalho fonológica, assim é provável que com a ampliação da faixa etária na seqüência deste trabalho se encontre diferença estaticamente signi- ficante entre as idades. as tabelas 3 e 4 apresentam a comparação entre o número de sílabas das não pala- vras (2 sílabas, 3 sílabas, 4 sílabas e 5 sílabas). não houve diferença estatisticamente significante na repetição de não palavras de 2 sílabas para 3 sílabas, porém, para as de- mais sílabas (de 3 para 4 sílabas e de 4 pra 5 sílabas) essa diferença ocorreu. tais acha- dos comprovam a influência da extensão das não palavras na reflexão da rechamada subvocal, já que o desempenho da criança diminuiu conforme a não palavra ia au- mentando o número de sílabas. os mesmos achados foram encontrados por santos e bueno (2003). de acordo com as autoras as não palavras são retidas por um determina- do tempo e se não forem recuperadas rapidamente pelo processo subvocal, acabam sendo perdidas, dessa forma, quanto maior o número de sílabas, maior a dificuldade em armazenar o material verbal na memória. 68 / investigAÇão clínicA 6. CONCLUSÃO para estas faixas etárias estudas não há mudanças significativas no armazenamento do material verbal na memória de trabalho fonológica, na medida em que não houve diferença estatisticamente significante entre o desempenho das crianças entre sete e oito anos. também não houve diferença estatisticamente significante na repetição de não palavras de até 3 sílabas, porém, para a comparação das demais sílabas (de 3 para 4 sílabas e de 4 pra 5 sílabas) essa diferença ocorreu, o que demonstra que quanto maior o número de sílabas, maior a dificuldade em armazenar o material verbal na memória. 7. REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS • aguado, g. Trastorno Específico del lenguaje: retraso de lenguaje y disfasia. málaga: edi- ciones aljibe, 217p., 1999. • aguado, g.; cuestos, f., domezáin, m.J.; pascual, b. repetición de peseudopalavras en niños españoles con trastorno específico del lenguaje: marcador psicolingüístico. 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Atribuir: 2 pontos (p) quando repetir corretamente na 1ª vez 1 ponto (p) quando repetir corretamente na 2ª vez 0 ponto (p) quando não conseguir nas duas primeiras tentativas OBS: Acentuação - todas as palavras são paroxítonas. A prova deve ser encerrada quando se atribuir 0 ponto em 2 pseudopalavras que não foram repetidas nas duas tentativas. Só é permitido repetir a seqüência de sílabas uma vez. pARA CRIANÇAS DE 3 E 4 ANOS: pSEUDOpALAVRA RESpOStA p pSEUDOpALAVRA RESpOStA p 01. faque 05. patofe 02. vano 06. daverra 03. tabi 07. fideco 04. dalo 08. balico 05. sito 10. zupanho total parcial (2) total parcial (3) pESEUDOpALVA RESpOStA p pSEUDOpALAVRAS RESpOStA p 11. patifevo 16. polanhosaba 12. bacuvipe 17. guimalebiza 13. farrebitu 18. verripimeno 14. valonigo 19. patofelica 15. laboquefu 20. bozicalode total parcial (4) total parcial (5) tOtAL cAdernos de comunicAÇão e linguAgem / 71 pARA pESSOAS A pARtIR DE 5 ANOS: pSEUDOpALAVRA RESpOStA p pSEUDOpALAVRA RESpOStA p 01. toli 11. rossola 02. erba 12. porquijo 03. guchi 13. deitiva 04. deico 14. querrefo 05. binha 15. senuno 06. ruris 16. cholapes 07. chefu 17. gromelha 08. prido 18. vunhébe 09. zuga 19. churéga 10. ratros 20. jutrisbe total parcial (2) total parcial (3) pESEUDOpALVA RESpOStA p pSEUDOpALAVRAS RESpOStA p 21. munhocossi 31. pedalhofame 22. ritossila 32. islogaguta 23. merbufita 33. ribomaniga 24. feituninha 34. duvoupilhepo 25. zojilibo 35. chotinecapu 26. lusvanicha 36. zanovelopus 27. diruzeto 37. dilepazina 28. plesmizigo 38. bitrujalico 29. guilheravi 39. sujemitóssa 30. brapitelo 40. flesbaroguido total parcial (4) total parcial (5) tOtAL pROVA DE DÍGItOS: Forma de pontuação. Atribuir: 2 pontos (p) quando repetir corretamente na 1ª vez 1 ponto (p) quando repetir corretamente na 2ª vez 0 ponto (p) quando não conseguir nas duas primeiras tentativas OBS: a prova deve ser encerrada quando se atribuir 0 ponto em 2 seqüências de dígitos que não foram repetidas nas duas tentantivas. Só permitido repetir a seqüência de dígitos uma vez. 72 / investigAÇão clínicA DÍGItOS ORDEM DIREtA p DÍGItOS ORDEM DIREtA p DÍGItOS ORDEM INVERSA p DÍGItOS ORDEM INVERSA p (2). 7-2 (6). 3-1-9-2-7-4 (2). 7-2 (5). 4-2-8-7-5 (2). 5-9 (6). 7-5-3-9-2-1 (2). 5-9 (5). 3-6-7-1-4 (3). 3-6-5 (7). 3-1-4-2-5-9-8 (3). 3-6-5 (6). 3-1-9-2-7-4 (3). 9-1-4 (7). 5-7-3-2-1-4-6 (3). 9-1-4 (6). 7-5-3-9-2-1 (4). 2-9-4-1 (8). 7-9-5-3-2-4-6-1 (4). 2-9-4-1 (7). 3-1-4-2-5-9-8 (4). 6-1-4-3 (8). 4-3-9-8-5-2-1-6 (4). 6-1-4-2 (7). 5-7-3-2-1-4-6 (5). 4-2-8-7-5 (5). 3-6-7-1-4 tOtAL tOtAL OBSERVAÇõES: _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Instruções: “Eu vou falar algumas palavras que não significam nada, mas não se preocupe com isso. Você deve prestar atenção porque terá que repeti-las como eu falei. Eu vou falar uma vez e você repete. pode ser um pouco estranho, mas não demora. Então, atenção, vamos lá!” Observações: para considerar a repetição adequada, ela deve ser emitida de maneira idêntica ao do avaliador. pode ser considerado correto, entretanto, quando houver a troca da vogal “e” por “i” em final de palavra, ou ainda, uma vogal fechada “e, o” por aberta “é, ó”. Se a criança apresentar alteração fonológica, os processos devem ser anotados na ficha de resposta. Nestas circuns- tâncias, a substituição ou omissão de um fonema na repetição poderá ser aceita como produção adequada. ARTIGO_ran.pdf 1 DESEMPENHO DE ESCOLARES LEITORES PROFICIENTES NO TESTE DE NOMEAÇÃO AUTOMATIZADA RÁPIDA (RAN) Tais de Lima Ferreira1, Simone Aparecida Capellini2, Sylvia Maria Ciasca3, Josiane M. de Freitas Tonelotto4. RESUMO O Teste de Nomeação Automatizada Rápida (RAN) mede a velocidade do sujeito em acessar e recuperar atividades verbais na nomeação contínua de diversos estímulos visuais. Este estudo teve por objetivo verificar o desempenho de escolares leitores proficientes de 1ª a 4ª série de escola pública estadual no município de São Carlos – SP no Teste de Nomeação Automatizada Rápida (RAN). Participaram deste estudo 80 escolares de ambos os sexos, sem queixas acadêmicas da 1ª à 4ª séries de ensino fundamental, que foram submetidos à aplicação das sub-provas de cores, letras, dígitos e objetos. Os resultados permitiram-nos verificar o aumento gradual da velocidade de nomeação dos códigos de acordo com a velocidade de nomeação em todas as sub-provas quanto aos sexos dos sujeitos da 1ª à 4ª série. A partir dos resultados verificamos que os escolares de um modo geral nomeiam com maior velocidade letras e 1 Fonoaudióloga com Curso de Aprimoramento em Fonoaudiologia Aplicada à Neurologia Infantil pela FCM – UNICAMP. Membro do Grupo de Pesquisa CNPq:”Neurodesenvolvimento, Aprendizagem, Escolaridade”. Aluna especial do Programa de Pós Graduação da FCM – UNICAMP (Ciências Médicas). 2 Doutora em Ciências Médicas - FCM – UNICAMP. Docente do curso de Fonoaudiologia da UNESP – Campus de Marília, Docente do Curso de Pós Graduação da FCM – UNICAMP (Ciências Médicas/Neurologia). Membro do Grupo de Pesquisa CNPq: “Neurodesenvolvimento, Aprendizagem, Escolaridade”. 3 Doutora em Ciências Médicas - FCM – UNICAMP. Docente do Disciplina de Neurologia Infantil da FCM - UNICAMP. Coordenadora do Curso de Aprimoramento da FCM - UNICAMP. Coordenadora do Grupo de Pesquisa CNPq:”Neurodesenvolvimento, Aprendizagem, Escolaridade”. 4 Doutora em Ciências Médicas - FCM – UNICAMP. Docente do curso de Psicologia da PUCCAMP. Membro do Grupo de Pesquisa CNPq: “Neurodesenvolvimento, Aprendizagem, Escolaridade”. 2 números devido a uma maior capacidade de automatização e acesso a memória à curto prazo, evidenciando assim, maior utilização de processos atencionais e perceptuais. Palavras – Chaves: Aprendizagem - leitura - nomeação automatizada rápida PERFORMANCE OF PROFICIENT READING STUDENTS IN THE TEST OF RAPID AUTOMATIZED NAMING (RAN) ABSTRACT The test of Rapid Automatized Naming (RAN) measures the subject´s velocity in accessing and recuperating verbal activities in the continuous naming of several visual stimuli. This study aimed to verify the performance of proficient reading students from the 1st grade to the 4th grade of a estadual public school of São Carlos in the test of Rapid Automatized Naming (RAN). Eighty (80) students, of both sexes, without academic complaints, were evaluated: 20 from 1st grade, 20 from 2nd grade, 20 from 3rd grade, and 20 from 4th grade. They were submitted to the application of subtests about the naming of letters, numbers, colors and objects. The results let us verify the gradual increase of the naming velocity of the codes, according to the age and scholarship of the children. From these results, we verified that students, in general, name letters and numbers at higher velocity because of a higher capacity of automatization and consequently access to memory in the short term, so evidencing a larger utilization of the attention and perceptual processes. Uniterms: Learning – Reading - Rapid Automatized Naming 3 INTRODUÇÃO Estudos recentes demonstram que crianças que apresentam problemas de aprendizagem também podem apresentar dificuldade de acesso ao léxico decorrentes de alterações em diferentes níveis do processamento da informação. Há três décadas, pesquisas demonstram que a velocidade de nomeação de estímulos encontra-se intimamente relacionada à velocidade de acesso à memória a curto prazo e à nomeação fonológica que influenciam o desenvolvimento da leitura e da escrita. A capacidade de nomeação de estímulos requer o uso de componentes cognitivos visuais. Atualmente encontramos estudos demonstrando que a maioria de adultos e crianças com déficit de leitura apresentam dificuldades em nomear rapidamente uma quantidade de objetos familiares e estímulos como: letras, números, cores e objetos simples. Geralmente os estudos enfatizam que estas crianças e adultos não apresentam dificuldade na linguagem oral, mas são evidentemente mais lentos na leitura contínua ou em atividades de velocidade de nomeação, nas quais eles são requisitados a dizerem nomes habituais, seqüencialmente, na presença de um estímulo, sob condições de medição de tempo. Entretanto, as investigações sobre a capacidade de nomeação e sua relação com o desenvolvimento da linguagem e a aprendizagem escolar não são recentes. De acordo com CASTNER & GESELL (1940), a capacidade de nomeação de cores é adquirida mais tardiamente em crianças, e que somente 61% das crianças com 5 anos tem sucesso na nomeação de cores como vermelho, azul, amarelo, verde e preto. Nomeação de letras e números são ainda mais tardiamente adquiridos, concomitantemente com o início da aprendizagem. 4 Outros estudos são baseados no trabalho de neurociências originado na hipótese de GESCHWIND & FUSILLO (1966), que sugerem a existência de componentes cognitivos envolvidos na nomeação de cores, que estão envolvidos em uma nomeação “rotulada” de símbolos abstratos, estímulos visuais, que seriam um importante fator para o desempenho da leitura, apresentando portanto, necessidades cognitivas similares. A linguagem apresenta uma estrutura regular na formação de palavras, os estímulos podem ser decodificados usando um número relativamente menor de habilidades fonológicas. A velocidade de processamento varia mais com a influência dos fatores do desempenho da leitura do que com tarefas de influência de consciência fonológica. O autor ainda refere à inexistência de diferença de velocidade de nomeação, em crianças normais (CRITCHLEY, 1970) Estas hipóteses foram investigadas e desenvolvidas por DENCKLA (1972) e DENCKLA & RUDEL (1974,1976 a, 1976 b), que verificaram que os estímulos gráficos (letras e dígitos) eram recuperados com maior velocidade, quando comparados a cores, tornando evidente a diferenciação entre os leitores com dislexia de outros tipos de leitores com dificuldades na leitura. Estas pesquisas foram as primeiras a criarem o RAPID “AUTOMATIZED” NAMING TEST (R.A.N.), que mede continuamente o desempenho na velocidade de nomeação seqüencial de estímulos comuns, ou seja, a velocidade com que a criança verbaliza seqüencialmente uma lista contendo símbolos básicos. Este teste já foi aplicado em diversas populações de leitores como: disléxicos com variados graus de leitura, leitores com dificuldades de aprendizagem, 5 demonstrando diferenças básicas na velocidade de nomeação (DENCKLA, 1974; DENCKLA, 1976 a.) DENCKLA (1974) demonstrou que um pequeno grupo de crianças com dislexia severa apresentou déficit na nomeação de cores, assim como em um estudo de adultos com alexia, o déficit foi atribuído à baixa velocidade ou lentidão, na nomeação de cores, em comparação com os indivíduos normais. Em 1976, o mesmo autor avaliou 180 crianças de 5 à 10 anos, verificando que crianças com idade acima de 6 anos nomeiam letras e números com maior velocidade que cores e objetos. Este achados demonstraram que a diferença de nomeação seriada de diferentes categorias semânticas está diretamente relacionada à estimulação, a qual estas crianças foram expostas. O autor ainda referiu a existência de uma menor diferença na velocidade de nomeação entre meninos e meninas na tarefa de cores. A diferença entre os sexos mostrou que as meninas são mais rápidas do que os meninos, relacionado ao fato das meninas desenvolverem a linguagem mais cedo em decorrência de maturação neurológica mais precoce do hemisfério esquerdo (JANSKY & De HIRSCH, 1973). Em outro estudo realizado por DENCKLA & RUDEL EM 1976 (b) com 120 crianças, os autores demonstraram que o teste de nomeação seriada para diferentes estímulos visuais (cores, letras, números, objetos) possibilitou a diferenciação entre indivíduos disléxicos e indivíduos com dificuldades de aprendizagem e, não somente entre disléxicos e escolares sem queixas de aprendizagem, sendo que os indivíduos disléxicos apresentaram uma velocidade de nomeação inferior aos com dificuldades de aprendizagem. 6 A habilidade para nomear letras do alfabeto vem em segundo lugar ( num ranking de nomeação), atrás da nomeação de objetos, como fator predisponente para a leitura. Certamente poucos casos de letras que apresentam a capacidade de reflexibilidade, como por exemplo: “b” / “d”, “p” / “q”, são freqüentemente confundidas até oito anos. O autor ainda refere que caso tivesse o pleno conhecimento de como as crianças normais com 5 anos desenvolvem cada uma das categorias de nomeação, certamente traria conhecimento para diversos pesquisadores em como avaliar crianças disléxicas ou com outras dificuldades de leitura CASTNER & GESELL (1940). BADDELEY (1986), WAGNER & TORGENSEN (1987) referiram que tarefas de categorização sonora e de recodificação de estímulos visuais necessitam simultaneamente de processamento e armazenamento das informações. As atividades de categorização sonora são mais eficazes quando existe um armazenamento correto na memória de trabalho. Esta capacidade é um fator determinante no desempenho de atividades de consciência fonológica e tem relação com o desenvolvimento da habilidade de leitura. Novas pesquisas na década de 90 foram realizadas demonstrando a presença do déficit da velocidade de nomeação em leitores com severas dificuldades e a relação entre a velocidade de nomeação e a dificuldade de leitura. A maioria das pesquisas sobre a velocidade de nomeação fazerem deste aspecto, como sendo um sub-item do processo fonológico (TORGENSEN et al, 1997). Entretanto, pesquisas atuais, investigam se o déficit de velocidade de nomeação representa um segundo tipo de déficit no centro fonológico da dislexia, que é exatamente independente da fonologia e deste modo, não um sub-tipo 7 desta patologia, revelando assim, que crianças e adultos com dislexia apresentam maior lentidão do que outros leitores para acessar e recuperar atividades verbais para estímulos visuais, principalmente quando os estímulos são em série de números e letras e com isso capacitando a possibilidade de medida de automatização. BOWERS & WOLF (2000) E WOLF & BOWERS (2000) sugeriram que a habilidade de processar símbolos visuais rapidamente também desempenha um papel importante na aprendizagem da leitura e da escrita em uma ortografia alfabética, e que uma desordem nessa habilidade constitui um segundo déficit na consciência de fonemas. BOWERS et al. (1994), em sua visão de trabalho, relacionam as atividades de nomeação rápida e automatizada como sendo de natureza fonológica, entretanto, eles enfatizaram os componentes visuais e de velocidade desta atividade. Os autores sugerem que as tarefas de nomeação rápida acessam o funcionamento de um “mecanismo preciso de tempo”, o qual é importante em um processo complexo, envolvendo o sistema fonológico e representações visuais na forma de códigos ortográficos. Os autores ainda hipotetizam que a baixa velocidade de nomeação de letras ou dígitos pode ser sinal de uma alteração no processo de automatização. CARDOSO-MARTINS & PENNINGTON (2001) realizaram estudo com objetivo de relacionar a nomeação seriada rápida e a consciência de fonemas como medidas de habilidade de leitura e escrita. Participaram deste estudo 146 crianças e adolescentes norte-americanos, entre 7 e 18 anos de idade, sendo que 71 crianças apresentavam dificuldades de leitura. Os resultados revelaram que a 8 nomeação seriada rápida contribuiu para a variação na habilidade de leitura e escrita independentemente da consciência de fonemas. Entretanto, com relação a consciência fonêmica , a nomeação seriada rápida apresentou uma contribuição modesta para a aprendizagem da leitura e escrita em um sistema de escrita alfabética. Os resultados das análises adicionais sugeriram que a habilidade subjacente à nomeação seriada rápida é particularmente importante para o desenvolvimento da habilidade de ler textos, rápida e acuradamente. Neste estudo, ficou pouco evidente a variação do papel desempenhado pela nomeação seriada e pela consciência de fonemas, em função da idade ou da habilidade de leitura. Segundo MIRANDA-CASAS et al. (2003), é necessário avaliarmos a velocidade e a exatidão da leitura por meio de provas centradas no processamento e com critérios para a leitura, por que desta forma, seria possível a identificação das alterações de leitura e possibilitando o desenvolvimento de programas de intervenção, que estimulem a automatização do acesso ao léxico e a compreensão da leitura. Com base no exposto acima, este trabalho teve por objetivo avaliar a velocidade / tempo de nomeação de dígitos, cores, letras e objetos em escolares leitores proficientes e a necessidade de utilizar instrumentos que verifiquem o processamento rápido e automático da informação da leitura. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Sujeitos Fizeram parte deste estudo 80 crianças de ambos os sexos, com idade média de 8 anos e 4 meses, variando entre 7 anos e 7 meses a 10 anos e 11 9 meses, sem queixas de aprendizagem, matriculadas de 1a a 4a séries no Ensino Público Fundamental da Escola Luís Augusto de Oliveira, no município de São Carlos – S.P. Foram avaliadas 11 crianças por série. Os sujeitos foram divididos nos seguintes grupos: - Grupo 1 (G1): composto por 20 crianças da 1ª série com idade entre 7 anos e 7 meses a 7 anos e 11 meses; - Grupo 2 (G2): composto por 20 crianças da 2ª série com idade entre 8 anos a 8 anos e 11 meses; - Grupo 3 (G3): composto por 20 crianças da 3ª série com idade entre 9 anos a 9 anos e 11 meses; - Grupo 4 (G4): composto por 20 crianças da 4ª série com idade entre 10 anos a 10 anos e 11 meses. Foram considerados como critério de inclusão neste estudo, crianças que apresentavam bom desempenho escolar e leitura proficiente, as quais foram indicadas pelos respectivos professores. Critérios de Seleção dos sujeitos Os sujeitos foram selecionados a partir da indicação dos professores de 1a a 4a séries quanto à realização de leitura proficiente. Após o levantamento do número de escolares leitores proficientes junto aos professores da escola, os sujeitos foram submetidos ao procedimento de verificação do desempenho escolar por meio da aplicação do Teste de Desempenho Escolar (TDE - STEIN, 1994). Este teste tem por objetivo avaliar as capacidades fundamentais para o desempenho escolar, mais especificamente da escrita, aritmética e leitura. O procedimento foi elaborado para avaliar escolares de 1a a 6a séries do 1o grau, com critérios elaborados a partir da realidade escolar brasileira. 10 0 10 20 30 40 50 60 70 G1 G2 G3 G4 Escrita Aritmética Leitura GRÁFICO 1: REPRESENTAÇÃO GRÄFICA DO DESEMPENHO DOS SUJEITOS DOS GRUPOS G1, G2, G3, G4 EM RELAÇÃO AOS SUBTESTES DO TDE. O gráfico 1 demonstra o desempenho dos escolares dos grupos G1, G2,G3, G4 nos sub-testes de escrita, aritmética e leitura. Observa-se que os sujeitos dos grupos apresentaram bom desempenho nas atividades de leitura, escrita e aritmética, além do aumento gradativo do desempenho nos sub-testes de acordo com o aumento do nível de escolaridade. Procedimentos Após seleção da amostra, os escolares leitores proficientes foram submetidos em seguida a aplicação do Teste de Nomeação Automatizada Rápida (RAN - DENCKLA, 1974), composta dos sub-testes de nomeação de cores, dígitos, letras e objetos. Os sub-testes são compostos por 5 estímulos diferentes, os quais alternavam-se entre si, formando ao todo dez linhas seqüenciais em um total de cinqüenta estímulos. O sub-teste de cores foi composto pelas cores: verde, vermelha, preto, azul e amarelo. O sub-teste de letras foi composto pelas letras p, d, o, a, s. O sub-teste de dígitos foi composto pelos seguintes números: 6, 2, 4, 9, 11 7 e o sub-teste de objetos foi composto por figuras dos seguintes objetos: pente, guarda-chuva, chave, relógio, tesoura. A pesquisadora certificou-se de que os sujeitos tinham conhecimento sobre os estímulos por meio da solicitação às crianças de repetição dos estímulos antes do início da prova e também as crianças receberam a orientação de repetir com a maior velocidade que pudessem e sem erros os estímulos apresentados. Os sujeitos foram orientados que o tempo seria cronometrado a partir do momento em que a pesquisadora desse o sinal de início. Os dados foram anotados em um protocolo específico para este teste, constando o tempo usado para cada sub- prova e a caracterização dos erros cometidos. 2. Análise dos dados: Os dados foram analisados através de estatística descritiva, usando o Teste T de student para comparação das médias de dois grupos e Análise de Variância para comparação de médias de 3 grupos ou mais. RESULTADOS Os resultados serão apresentados em tabelas e gráficos para melhor visualização dos achados. A Tabela 1 apresenta as médias de tempo obtidas pelos sujeitos do G1, G2, G3, G4 quanto à velocidade de nomeação de letras, dígitos, cores e objetos. 12 TABELA 1 : MÉDIAS OBTIDAS PELOS SUJEITOS DE G1, G2, G3, G4 NA VELOCIDADE / TEMPO DE NOMEAÇÃO DE LETRAS, DÍGITOS, CORES E OBJETOS. Por meio da análise estatística dos resultados observamos que em todos os grupos ocorreu diminuição gradual do tempo de nomeação de cores, letras, números e objetos. Para todos os sujeitos, a nomeação de objetos é significantemente mais lenta do que os demais códigos e as cores foram nomeadas mais lentamente do que letras e números (p<0,001). Vel./ Grupos G1 G2 G3 G4 Minimo Máximo Mínimo Máximo Mínimo Máximo Mínimo Máximo Cores 41`09`` 85` 39`13`` 78` 28`82`` 48` 31`06`` 45`21`` Letras 28` 45`85`` 22`31`` 45`47`` 17`78`` 26` 17` 28`52`` Dígitos 25`53`` 50`13`` 26`34`` 45`07`` 18` 29` 17`15`` 25` Objetos 56`87`` 148`13`` 37`75`` 73`66`` 35`63`` 67` 37`22`` 66` G1 G2 G3 G4 Cores 56' 97" 46' 80" 36' 29" 36' 42" Letras 38' 68" 29' 82" 25' 29" 22' 92" Dígitos 35' 57" 28' 47" 23' 71" 21' 98" Objetos 76' 09" 52' 48" 47' 61" 46' 74" 13 TABELA 2: VELOCIDADE/ TEMPO MÍNIMO E MÁXIMO OBTIDOS PELOS SUJEITOS DOS GRUPOS G1, G2, G3 E G4 NA NOMEAÇÃO DE CORES, LETRAS, DÍGITOS E OBJETOS. Na tabela 2 verificou-se a variação do desempenho no tempo/velocidade de nomeação dos estímulos visuais apresentados. Os sujeitos de todos os grupos nomearam com maior velocidade letras e dígitos. Houve diminuição do tempo de nomeação em função do aumento da idade e escolaridade, ou seja, quanto maior a idade e a escolaridade da criança menor o tempo de nomeação de cores, letras, dígitos e objetos (Tabela 2). 0 10 20 30 40 50 60 70 80 G1 G2 G3 G4 T e m p o e m s e g u n d o s Cores Letras Dígitos Objetos GRÁFICO 2- REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO DESEMPENHO DOS SUJEITOS DO GRUPOS G1,G2, G3, G4 EM RELAÇÃO AOS SUBTESTES DE NOMEAÇÃO DE CORES, DÍGITOS, LETRAS E OBJETOS. Nos resultados apresentados no gráfico 2, ocorreu declínio quanto ao desempenho das crianças do grupo G1, G2, G3, G4 em cada sub-teste de 14 velocidade de recodificação fonológica mais significativo no tempo de nomeação (ou seja, aumento da velocidade) da categoria cores entre os sete e oito anos de idade, entretanto, verificamos que entre nove e dez anos de idade a diminuição do tempo/velocidade não foi tão evidenciada. Diferenças significativas foram observadas na análise de variância que comparou a média entre os grupos Quanto à velocidade de nomeação de objetos, verificamos aumento da velocidade de nomeação entre os sete e oito anos de idade, sendo que dos oito aos nove anos e dos nove aos dez anos, ocorreram variações quanto ao aumento da velocidade, porém de forma menos intensa. Nos grupos observou-se diferença de velocidade de nomeação entre os sujeitos, pois estes apresentavam idades que variavam em meses, ou seja, existiam sujeitos do grupo G1 que apresentavam idades entre 7 anos e 7 anos e 11 meses. No gráfico 2, também pode-se verificar que os sujeitos dos grupos G3 e G4 apresentaram pouca diferença entre a velocidade de nomeação de letras e dígitos, porém os sujeitos do grupo G3 apresentaram maiores diferenças entre as velocidades de nomeação destas duas categorias. Quanto aos códigos letras e números verificou-se que ocorreu diferença estatisticamente significante para nomeação mais rápida do que os demais (p<0,001). Os sujeitos dos grupos G1, G2 e G3 nomearam respectivamente com maior velocidade letras, números, cores e objetos. Os sujeitos do grupo G4 nomearam respectivamente com maior velocidade números, letras, cores e objetos (GRÁFICO 3). 15 O gráfico 3, demonstra resumidamente o desempenho na nomeação dos códigos letras, dígitos, cores e objetos pelos sujeitos dos grupos G1, G2, G3, G4. Não foram evidenciadas diferenças estatisticamente significante quanto ao sexo entre os sujeitos do grupo G1, G2, G3, G4 (p >0,05) (TABELA 3). Médias Masculino Feminino VELCOR 43' 41" 44' 84" VELDIG 28' 49" 29' 86" VELEITUR 26' 06" 28' 86" VELOBJET 56' 54" 54' 92" TABELA 3: MÉDIAS OBTIDAS PELOS SUJEITOS DO SEXO MASCULINO E FEMININO NAS PROVAS DE VELOCIDADE DE NOMEAÇÃO DE CORES, DÍGITOS, LETRAS E OBJETOS. Não houve diferença estatisticamente significante na velocidade / tempo de nomeação quando compara-se a idade e a escolaridade. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Os resultados deste estudo evidenciaram que o Teste de Nomeação Automatizada Rápida de cores, letras, números e objetos caracterizou o desempenho de leitores proficientes de 1ª a 4ªsérie, corroborando com os achados de DENCKLA & RUDEL (1974). Os códigos letras e números foram nomeados com maior facilidade e rapidez do que cores e objetos, que foram nomeados com maior lentidão pelas crianças de todas as idades. Estes achados não são compatíveis com os de JANSKY & DeHIRSCH (1973), os quais referiram que a capacidade de nomeação 16 de objetos é precocemente aprendida e por isso, nomeada com maior rapidez e facilidade. A nomeação mais rápida de letras e dígitos do que de cores confirma os achados de DENCKLA (1972), DENCKLA & RUDEL (1974, 1976 a,b), pois a nomeação destes estímulos requer o uso mais eficaz de processos atencionais e perceptuais visuais, como: discriminação e análise-síntese. A presença de diferença nas velocidades de nomeação de letras e dígitos em todas as idades e graus de seriação são compatíveis com os dados de DENCKLA (1972) relacionando a influência da aquisição da leitura e escrita com a velocidade de processamento de informações visuais. Os resultados permitiram-nos verificar a diferença da velocidade de nomeação para os diferentes códigos de acordo com a idade e graus de escolaridade, não corroborando os achados de DENCKLA (1974) que referiram a inexistência de diferença de velocidade de nomeação entre crianças normais. A capacidade de nomeação e automatização dos estímulos apresentados tem grande relação com a capacidade de acesso lexical, discriminação visual, freqüência de uso dos estímulos e com a competição para a apresentação de um menor tempo possível na nomeação dos códigos. Por meio da avaliação da velocidade/tempo de nomeação em série de estímulos visuais, como letra, dígitos e cores, torna-se possível verificar a habilidade no processamento de estímulos visuais que é necessária para a realização da leitura textual, uma vez que para a compreensão da leitura deve ocorrer uma correlação entre a habilidade de reconhecer palavras escritas rápida sucessivamente com a habilidade de reconhecimento rápido de estímulos visuais 17 (nomeação seriada/automática) que exige o uso de recursos intelectuais como atenção, discriminação e memória de curta duração. A velocidade de acesso ao léxico está diretamente relacionada com a habilidade do processamento fonológico que deve ser mensurada por meio de atividade que verifiquem não somente as habilidades de identificação e decodificação de palavras, como também as habilidades de compreensão da leitura. Para tanto, torna-se necessário o uso de estratégias que verifiquem o processamento de reconhecimento e nomeação de cores, letras, dígitos e objetos, como também de estratégias denominadas de critérios que possam mensurar o tempo por minuto e o número de erros na leitura de palavras, parágrafos e de texto, garantindo assim a verificação com exatidão não somente do processamento fonológico, como também de processos perceptivo-visuais e de processos mnemônicos. Sendo assim, este estudo nos forneceu parâmetros para a avaliação da velocidade de nomeação do material lingüístico em escolares leitores proficientes, o que de certa forma oferece uma contribuição para estudiosos e pesquisadores interessados em verificar velocidade/tempo de nomeação em crianças com desenvolvimento normal de leitura e com transtornos de aprendizagem, como forma de investigação parcial do processamento fonológico da informação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 18 1. Braddley, L. & Bryant, P. Rhyme and reason in reading and spelling. Ann Arbor: University of Michigan Press, 1985. 2. Bowers,P.G.; Golden,J.; Kennedy, A.; & Young, A. Limits upon orthographic knowledge due to process indexed by naming speed. In: V.W. Berminger (Ed). The varieties of orthographic knowledge I: Theoretical and developmental issues. p.173-218. 1994. 3. Cardoso-Martins, C.; Pennington, B. Qual é a contribuição da nomeação seriada rápida para a habilidade de leitura e escrita? 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Bocas Perfil de Habilidades Fonológicas.pdf Folha de resposta - Perfil de Habilidades FOnológicas.pdf Manual Perfil de Habilidades Fonológicas.pdf Memoria Fonológica.pdf PPrroovvaa ddee MMeemmóórriiaa ddee TTrraabbaallhhoo FFoonnoollóóggiiccaa -- NNããoo ppaallaavvrraass ee DDííggii ttooss SSiimmoonnee HHaaggee ((22000088)) Identificação: Nome: _________________________________________________________________________________________ DN:_________ idade:_______ Escolaridade /escola: ___________________________________________________ Queixa: ________________________________________________________________________________________ Avaliador: _____________________________________ Data: ___________________________________________ PROVA DE NÃO PALAVRAS: Forma de pontuação. Atribuir: 2 pontos (P) quando repetir corretamente na 1ª vez 1 ponto (P) quando repetir corretamente na 2ª vez 0 ponto (P) quando não conseguir nas duas primeiras tentativas OBS: Acentuação - todas as palavras são paroxítonas. A prova deve ser encerrada quando se atribuir 0 ponto em 2 pseudopalavras que não foram repetidas nas duas tentativas. Só é permitido repetir a seqüência de sílabas uma vez. Para crianças de 3 e 4 anos: Pseudopalavra resposta P Pseudopalavra resposta P 01. faque 05. patofe 02. vano 06. daverra 03. tabi 07. fideco 04. dalo 08. balico 05. sito 10. zupanho Total parcial (2) Total parcial (3) Peseudopalva resposta P Pseudopalavras resposta P 11. patifevo 16. polanhosaba 12. bacuvipe 17. guimalebiza 13. farrebitu 18. verripimeno 14. valonigo 19. patofelica 15. laboquefu 20. bozicalode Total parcial (4) Total parcial (5) TOTAL Para pessoas a partir de 5 anos: Pseudopalavra resposta P Pseudopalavra resposta P 01. toli 11. rossola 02. erba 12. porquijo 03. guchi 13. deitiva 04. deico 14. querrefo 05. binha 15. senuno 06. ruris 16. cholapes 07. chefu 17. gromelha 08. prido 18. vunhébe 09. zuga 19. churéga 10. ratros 20. jutrisbe Total parcial (2) Total parcial (3) Peseudopalva resposta P Pseudopalavras resposta P 21. munhocossi 31. pedalhofame 22. ritossila 32. islogaguta 23. merbufita 33. ribomaniga 24. feituninha 34. duvoupilhepo 25. zojilibo 35. chotinecapu 26. lusvanicha 36. zanovelopus 27. diruzeto 37. dilepazina 28. plesmizigo 38. bitrujalico 29. guilheravi 39. sujemitóssa 30. brapitelo 40. flesbaroguido Total parcial (4) Total parcial (5) TOTAL PROVA DE DÍGITOS: Forma de pontuação. Atribuir: 2 pontos (P) quando repetir corretamente na 1ª vez 1 ponto (P) quando repetir corretamente na 2ª vez 0 ponto (P) quando não conseguir nas duas primeiras tentativas OBS: a prova deve ser encerrada quando se atribuir 0 ponto em 2 seqüências de dígitos que não foram repetidas nas duas tentantivas. Só permitido repetir a seqüência de dígitos uma vez. DÍGITOS ORDEM DIRETA P DÍGITOS ORDEM DIRETA P DÍGITOS ORDEM INVERSA P DÍGITOS ORDEM INVERSA P (2). 7-2 (6). 3-1-9-2-7-4 (2). 7-2 (5). 4-2-8-7-5 (2). 5-9 (6). 7-5-3-9-2-1 (2). 5-9 (5). 3-6-7-1-4 (3). 3-6-5 (7). 3-1-4-2-5-9-8 (3). 3-6-5 (6). 3-1-9-2-7-4 (3). 9-1-4 (7). 5-7-3-2-1-4-6 (3). 9-1-4 (6). 7-5-3-9-2-1 (4). 2-9-4-1 (8). 7-9-5-3-2-4-6-1 (4). 2-9-4-1 (7). 3-1-4-2-5-9-8 (4). 6-1-4-3 (8). 4-3-9-8-5-2-1-6 (4). 6-1-4-2 (7). 5-7-3-2-1-4-6 (5). 4-2-8-7-5 (5). 3-6-7-1-4 TOTAL TOTAL Observações: ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ Instruções: “Eu vou falar algumas palavras que não significam nada, mas não se preocupe com isso. Você deve prestar atenção porque terá que repeti-las como eu falei. Eu vou falar uma vez e você repete. Pode ser um pouco estranho, mas não demora. Então, atenção, vamos lá!” Observações: Para considerar a repetição adequada, ela deve ser emitida de maneira idêntica ao do avaliador. Pode ser considerado correto, entretanto, quando houver a troca da vogal “e” por “i” em final de palavra, ou ainda, uma vogal fechada “e, o” por aberta “é, ó”. Se a criança apresentar alteração fonológica, os processos devem ser anotados na ficha de resposta. Nestas circunstâncias, a substituição ou omissão de um fonema na repetição poderá ser aceita como produção adequada. Como referenciar esta prova: Hage, SRV; Grivol, MA. Desempenho de crianças normais falantes do português em prova de memória de trabalho fonológica. Cadernos de Comunicação e Linguagem, v.1, n.1, 2008. [prelo]. Prova de Acesso rápido ao léxico.pdf ran-novos-numeros.pdf Rev. CEFAC, São Paulo A NOMEAÇÃO SERIADA RÁPIDA EM ESCOLARES COM E SEM QUEIXAS DE PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM EM ESCOLA PÚBLICA E PARTICULAR The rapid serial naming in students with and without complaints of learning problems in public and private schools Lorena Gabrielle Ribeiro Bicalho (1), Luciana Mendonça Alves (2) RESUMO Objetivo: investigar a nomeação seriada rápida em crianças de uma escola pública e uma privada, com e sem queixas de problemas escolares. Métodos: participaram do estudo 137 crianças dos gêneros masculino e feminino, com idade entre 7 e 11 anos, da cidade de Belo Horizonte, matricula- das no ensino fundamental, entre o 2º e o 5º ano. Foi aplicado o Teste de Nomeação Automatizada Rápida (Rapid Automatized Naming – RAN) que avaliou o tempo gasto pelo participante para nomear uma série de estímulos visuais familiares: cores, letras, dígitos e objetos – o mais rápido possível. Resultados: os resultados deste estudo evidenciaram que o desempenho de alunos de escola parti- cular comparado ao de alunos de escola pública é superior e que há uma diferença estatisticamente significante entre sujeitos com queixas de problemas de aprendizagem comparado aos sem queixas. Conclusão: o presente estudo sinaliza que a capacidade de nomeação seriada pode ser conside- rada como uma das habilidades fundamentais para o bom desempenho em leitura. Sendo assim, há necessidade de continuidade de pesquisas que estabeleçam a relação dessa habilidade da lin- guagem com outras habilidades de leitura e escrita para verificação do impacto direto da nomeação seriada rápida no processo de aprendizagem da leitura. DESCRITORES: Aprendizagem; Criança; Leitura; Medição de Velocidade (1) Fonoaudióloga; Clínica Parlare, Fonoaudiologia e Reabili- tação Auditiva, Belo Horizonte, MG, Brasil. (2) Fonoaudióloga; Docente do curso de Graduação em Fono- audiologia do Centro Universitário Metodista Izabela Hen- drix, Belo Horizonte, MG, Brasil; Docente do curso de Pós- Graduação da FEAD – Centro de Gestão Empreendedora e do CEFAC – Pós-Graduação em Saúde e Educação, Belo Horizonte, MG, Brasil; Doutora em Estudos Linguís- ticos pela Universidade Federal de Minas Gerais. Conflito de interesses: inexistente volvimento dessa aprendizagem tão complexa varia de criança para criança, podendo ocorrer em tem- pos diferentes de acordo com cada uma 1. Aprender a ler não é um processo natural. Con- trariamente à linguagem oral a leitura não emerge naturalmente da interação com os pais e os outros adultos, por mais estimulante que seja o meio cul- tural 2. No aprendizado da linguagem escrita existe uma combinação dos fenômenos biológicos e ambien- tais, envolvendo a integridade motora, a integridade sensório-perceptual e a integridade sócio-emocio- nal (possibilidades reais que o meio oferece em termos de quantidade, qualidade e frequência de estímulos) 3. Ler e escrever, assim como as demais ativida- des humanas, demandam tempo e prática para se tornarem processos automáticos 4. Nas últimas três décadas, as pesquisas têm dado ênfase à relação entre os processamentos � INTRODUÇÃO Na atual realidade brasileira, o número de crian- ças com dificuldades de aprendizagem tem crescido de forma acelerada. As principais queixas referem- se às questões de leitura, escrita e cálculo mate- mático. Vários fatores interferem no processo de aprendizagem da leitura e escrita como, por exem- plo, a adequada instrução educacional e a própria estrutura linguístico-cognitiva do escolar. O desen- Bicalho LGR, Alves LM Rev. CEFAC, São Paulo perceptuais, linguísticos e cognitivos envolvidos na leitura 5. Uma das habilidades do processamento fonológico mais estudada internacionalmente no período citado foi a nomeação rápida 6. A partir de pesquisas, foi possível definir padrões de normali- dade em diversas modalidades de tarefas de nome- ação rápida 7. Atualmente já se sabe que o cérebro possui áreas específicas para várias funções e que a região occipital-temporal é a área onde se processa o reconhecimento visual das palavras, e onde se realiza a leitura rápida e automática. Quanto mais automaticamente for feita a ativação dessa área, mais eficiente é o processo de leitura. Os leitores eficientes utilizam esse percurso rápido e auto- mático para ler as palavras. Ativam intensamente os sistemas neurológicos que envolvem a região parietal-temporal e a occipital-temporal e conse- guem ler as palavras instantaneamente (em menos de 150 milésimos de segundo) 8. Como consequência destes estudos é possível a aplicação de avaliações que possibilitam aos pes- quisadores verificar o uso de habilidades do pro- cessamento fonológico, como a consciência fono- lógica, a memória de trabalho e a nomeação rápida em populações de bons leitores ou com alterações no processo de aprendizagem na leitura 9. Outros estudos mostraram que crianças com queixas de problemas de aprendizagem também podem vir a apresentar problemas de acesso ao léxico decorrentes de diferentes níveis do processa- mento da informação e que a velocidade de nomea- ção de estímulos encontra-se diretamente ligada à velocidade de acesso a memória de curto prazo e a nomeação fonológica, influenciando assim o desen- volvimento da escrita e da leitura 10. A partir dessas pesquisas vários estudos inter- nacionais vêm documentando o baixo desempenho de maus leitores em nomeação rápida. No Brasil há poucos estudos nesta área deixando uma ampla lacuna na literatura. A habilidade de processar símbolos visuais rapidamente é usualmente avaliada por intermé- dio de tarefas de nomeação automatizada rápida. Avalia-se, nessas tarefas, o tempo gasto pelo indi- víduo para nomear uma série de estímulos visuais familiares: cores, letras, dígitos e objetos – o mais rápido possível. Uma vez que a rapidez é também um fator importante para a leitura textual fluente, não é surpreendente que o desempenho em tarefas de nomeação automatizada rápida correlacione-se com o desempenho em medidas de leitura fluente de textos 11. O tempo que a criança leva para processar uma informação visual escrita e/ou uma imagem pode apontar para dificuldades na nomeação e na leitura e conduz a hipóteses sobre desenvolvimento, tanto de linguagem como cognitivo, afinal quanto maior a competência em se reconhecer palavras escritas de modo rápido e acurado, maiores os recursos cognitivos disponíveis para a tarefa de compreen- são de leitura 12. Leitores proficientes são capazes de ler pala- vras a uma velocidade bastante rápida, chegando a 300 palavras por minuto, ou cinco palavras por segundo 13. O teste RAN é um teste de fácil aplicação e de grande valia, pois funciona como uma ferramenta para diagnosticar problemas potenciais da leitura, permitindo a detecção precoce e a devida interven- ção 14. Busca-se, desta forma, contribuir para a escassa literatura nacional sobre o assunto e ampliar o conhecimento fonoaudiológico sobre o teste RAN e sua aplicação na avaliação dos transtornos de aprendizagem. Com esta pesquisa caminhamos na direção de prover parâmetros de resposta espera- dos para a população mineira. Assim sendo, o objetivo deste estudo é verifi- car o desempenho, no teste de nomeação rápida automatizada (RAN), de escolares com queixas de dificuldades de aprendizagem, e escolares sem histórico de dificuldade de aprendizagem, que lêem conforme sua idade e escolaridade, em escolas públicas e particulares. � MÉTODOS Tratou-se de um estudo observacional analítico com delineamento caso controle. Participaram desta pesquisa 137 escolares dos gêneros masculino e feminino, do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede pública e outra da rede particular de ensino de Belo Horizonte. A escolha por esta faixa de escolaridade (2º ao 5º ano) foi feita por ser um período em que o estu- dante já passou da fase alfabética de leitura e está plenamente inserido no contexto escolar, época em que normalmente são diagnosticados os problemas de aprendizagem. Foram entregues em média 300 termos de con- sentimento com uma média de 50% de devolução dos mesmos. Obtiveram-se em torno de 37 alunos por série. Uma vez que nesta pesquisa constaram alunos de escola particular e pública, obtiveram- se 150 sujeitos. Mas considerando os critérios de exclusão que serão especificados a seguir, resta- ram 137 sujeitos que preencheram os critérios para a presente pesquisa. Optou-se por uma escola pública e outra particular para que se pudesse investigar sujeitos de ambas as realidades sócio- Thais Realce Nomeação seriada rápida em escolares Rev. CEFAC, São Paulo educacionais. O critério de seleção das escolas foi o interesse apresentado pelas mesmas para a rea- lização da pesquisa, com disponibilidade de uma sala à parte, longe de ruídos e movimentação que pudessem interferir na coleta. Primeiramente, os responsáveis pelas crianças participantes da pesquisa foram orientados e rece- beram o Termo de Consentimento Livre e Esclare- cido. Somente aquelas crianças cujos pais aceita- ram participar da pesquisa, assinaram e entregaram o Termo de Consentimento aos pesquisadores, participaram deste estudo. A divisão dos participantes em grupos de escolares com e sem queixas de dificuldades de aprendizagem realizou-se por meio da aplicação de um questionário destinado ao responsável da criança 15 e outro ao professor 16. Por meio destes questionários foi possível obter informações dos pais referentes a possíveis dificuldades apresenta- das pela criança, dados sobre o desenvolvimento global do participante, sobre os aspectos referentes ao aprendizado da fala e da linguagem, ao aprendi- zado escolar e quanto aos antecedentes de doen- ças. Já o questionário direcionado aos professores permitiu classificar os alunos, por critérios objeti- vos, em três categorias: a) alunos que leem bem; b) alunos que leem mais ou menos; c) alunos que leem mal. A partir desta lista classificatória, foram escolhi- dos os sujeitos classificados como bons leitores, de modo a compor o número amostral de 97 estudan- tes sem queixas de alterações de linguagem oral e escrita, e os alunos que leem mal compuseram o grupo das 40 crianças com queixas. Os alunos classificados como alunos que leem mais ou menos foram direcionados para um dos dois grupos des- critos acima utilizando como critério o questionário dos pais. Os casos duvidosos tiveram sua classifi- cação discutida pessoalmente com os professores. Os critérios de inclusão na pesquisa foram os escolares estarem devidamente matriculados na escola pesquisada, entre o 2º e o 5º ano do Ensino Fundamental, terem o termo de consentimento assinado pelo responsável, não apresentarem pro- blema de saúde que direta ou indiretamente inter- fira no desenvolvimento da linguagem indicado pelo questionário dirigido aos pais. Os critérios de exclusão foram: crianças cujos pais não assinaram o termo de consentimento, que apontaram a exis- tência de algum quadro patológico não relacionado aos distúrbios da linguagem escrita no questionário, e que apresentaram idade superior a idade determi- nada para a sua série. Todas as crianças foram submetidas ao teste RAN 7 que consiste de quatro conjuntos de estímu- los, os quais aparecem impressos em 5 fileiras de 10 itens cada. Os quatro conjuntos de estímulos são: 1) cores (vermelho, amarelo, verde, azul, preto); 2) letras minúsculas (a, d, o, s, p); 3) números (2, 4, 6, 7, 9); 3) e, 4) desenhos de objetos comuns (guarda- chuva, tesoura, pente, relógio, chave). Os estímulos em cada conjunto foram apresentados em ordem aleatória, em um total de 10 vezes cada um. O par- ticipante foi instruído a nomear os estímulos visuais apresentados o mais rápido possível. O tempo foi registrado com cronômetro. A aplicação do Teste de Nomeação Automati- zada Rápida (RAN) durou 10 minutos. Todos os procedimentos foram realizados na própria escola, individualmente, em uma sala à parte, em horá- rio não prejudicial à aprendizagem do conteúdo curricular. Os escolares foram pareados por idade e esco- laridade e subdivididos em quatro grupos: – Grupo 1 (G1): composto por escolares do 2° ano com idade entre 7 e 8 anos. – Grupo 2 (G2): composto por escolares do 3° ano com idade entre 8 e 9 anos. – Grupo 3 (G3): composto por escolares do 4° ano com idade entre 9 e 10 anos. – Grupo 4 (G4): composto por escolares do 5° ano com idade entre 10 e 11 anos. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro Universitário Meto- dista Izabela Hendrix, de acordo com o parecer n°214/2008. O suporte para o tratamento estatístico dos dados foi feito da seguinte forma: foram calculados as médias, o respectivo desvio padrão e o coefi- ciente de variação para cada variável estudada, em cada grupo pesquisado. Em seguida, foi conduzida uma comparação entre os grupos e, para cada comparação, foi investigado se a diferença entre as médias é estatisticamente significante, utilizando- se o teste t de Student. Os resultados estatistica- mente significantes foram assinalados por aste- risco (*). Adotou-se o nível de significância de 5% (0,050) para a aplicação dos testes estatísticos, ou seja, quando o valor da significância calculada (p) for menor do que 5% (0,050) observa-se uma dife- rença “estatisticamente significante”. � RESULTADOS Fizeram parte deste estudo 137 escolares, sendo que 97 estudantes não apresentavam quei- xas de alterações de linguagem oral e escrita, e 40 apresentavam tais queixas. Dos 137 escolares, 69 eram alunos da rede privada de ensino e 68 da rede pública de ensino, 75 estudantes eram do gênero feminino e 62 do gênero masculino. Bicalho LGR, Alves LM Rev. CEFAC, São Paulo A Tabela 1 apresenta as médias de tempo obti- das pelos sujeitos estudados do G1, G2, G3 e G4, quanto à velocidade de nomeação de cores, letras, dígitos e números, fazendo uma comparação entre os alunos da escola pública e da escola particular. Com a aplicação do teste t de Student, foi pos- sível verificar em alguns dos subtestes do RAN, diferenças estatisticamente significantes entre os grupos da escola particular (GPA) comparado aos da escola pública (GPU), evidenciando-se melhor desempenho dos alunos do GPA nessa pesquisa. Os sujeitos do G1PA apresentaram um melhor resultado no subteste de cores, quando compa- rados com os sujeitos do G1PU, que apresentam Grupos Média Desvio padrão Significância (P) Cores G1PA 0:00: 52 0:00: 08 0, 01672 * G1PU 0:01: 00 0:00: 05 G2PA 0:00: 44 0:00: 08 0, 21111 G2PU 0:00: 58 0:00: 37 G3PA 0:00: 44 0:00: 08 0, 21807 G3PU 0:00: 47 0:00: 08 G4PA 0:00: 40 0:00: 08 0, 04774 * G4PU 0:00: 45 0:00: 09 Grupos Média Desvio padrão Significância (P) Letras G1PA 0:00: 27 0:00: 05 0,20305 G1PU 0:00: 42 0:00: 21 G2PA 0:00: 26 0:00: 04 0,02227 * G2PU 0:00: 42 0:00: 22 G3PA 0:00: 26 0:00: 06 0,01031 * G3PU 0:00: 31 0:00: 06 G4PA 0:00:21 0:00:05 0,00024 * G4PU 0:00:29 0:00:09 Grupos Média Desvio padrão Significância (P) Dígitos G1PA 0:00:34 0:00:07 0,04334 * G1PU 0:00:45 0:00:09 G2PA 0:00:29 0:00:06 0,09724 G2PU 0:00:41 0:00:24 G3PA 0:00:29 0:00:07 0,08447 G3PU 0:00:33 0:00:28 G4PA 0:00:24 0:00:04 0,00058 * G4PU 0:00: 31 0:00: 07 Grupos Média Desvio padrão Significância (P) Objetos G1PA 0:01: 05 0:00: 13 0, 18999 G1PU 0:01: 21 0:00: 22 G2PA 0:01: 01 0:00: 10 0, 14753 G2PU 0:01: 15 0:00: 30 G3PA 0:01: 03 0:00: 14 0, 48934 G3PU 0:01: 07 0:00: 21 G4PA 0:00: 51 0:00: 09 0, 00253 * G4PU 0:01: 07 0:00: 21 Tabela 1 – Distribuição da média, desvio-padrão e p-valor do desempenho dos escolares dos grupos G1, G2, G3 e G4, comparando alunos da escola pública (GPU) e escola particular (GPA) nos subtestes do teste de nomeação automática rápida (RAN) Significância = p< 0,05 GPA= Grupo escola Particular; GPU = Grupo escola Pública; G1 = 2° ano / G2 = 3° ano / G3 = 4° ano / G4 = 5° ano Nomeação seriada rápida em escolares Rev. CEFAC, São Paulo mesma idade e escolaridade, tais resultados foram estatisticamente significantes. Os sujeitos dos grupos G2PA, G3PA e G4PA apresentaram melhor resultado no subteste de letras, quando comparados aos seus pares da escola Pública, G2PU, G3PU e G4PU, tais resulta- dos foram estatisticamente significantes. Os sujeitos do G4PA apresentaram melhor desempenho em todos os subtestes do RAN com- parados ao G4PU. Em nenhum dos subtestes os sujeitos do GPU apresentaram melhor desempe- nho que os sujeitos do GPA nessa pesquisa. Ao dividir os sujeitos pesquisados em dois grandes grupos, sendo analisado, de forma geral, o desempenho dos sujeitos da escola particular comparados com os da escola pública, foi possível observar uma diferença significante no subteste de objetos. Os sujeitos do GPA apresentaram no sub- teste de objetos uma média de 0:01:00 min e desvio padrão de 0:00:12 seg, os sujeitos do GPU apre- sentaram média de 0:01:08 min e desvio padrão de 0:00:22 seg. Tais resultados foram estatisticamente significantes (p = 0;008). Durante a análise estatística, o desvio padrão encontrado no GPU foi usualmente maior quando comparado ao GPA (Tabela 1), demonstrando uma maior variabilidade nos valores encontrados, o que nos revela a heterogeneidade dos resultados obti- dos para o GPU. A Tabela 2 apresenta as médias de tempo obti- das pelos sujeitos do G1, G2, G3 e G4 quanto à velocidade de nomeação comparando os sujeitos com queixas de problemas de aprendizagem aos sem queixas. Foram observados resultados esta- tisticamente significantes nos sujeitos do G3 e G4 nos subtestes de letras, dígitos e objetos, quando comparados indivíduos com queixas ao sem quei- xas. Nos demais grupos não foram observadas diferenças significantes. Nos subtestes de letras e dígitos foram apresentadas diferenças significantes quando comparados de forma global os alunos com queixas de problemas de aprendizagem aos sem queixas, observado na Tabela 3. A Tabela 4 apresenta as médias de tempo obti- das pelos sujeitos estudados, quanto à velocidade de nomeação fazendo uma comparação entre o gênero masculino e o gênero feminino. Não foram evidenciadas
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