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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE MANICA DIVISÃO DE ECONOMIA, GESTÃO E TURISMO CURSO DE CONTABILIDADE E AUDITORIA OS CRITÉRIOS USADOS PARA SELECÇÃO DOS BENEFICIÁRIOS DO FUNDO DO DESENVOLVIMENTO DO DISTRITO DE CHIMOIO NO PERÍODO DE 2015 – 2017. Fortunato Março Supervisor: Zefanias Jone Magodo, Msc. Matsinho, Abril de 2020 OS CRITÉRIOS USADOS PARA SELECÇÃO DOS BENEFICIÁRIOS DO FUNDO DO DESENVOLVIMENTO DO DISTRITO DE CHIMOIO NO PERÍODO DE 2015 – 2017. Fortunato Março Email: fortunamarco56@gmail.com Contacto: +258 844 352 220 Projecto de Licenciatura apresentado ao Instituto Superior Politécnico de Manica, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria. Matsinho, Abril de 2020 mailto:fortunamarco56@gmail.com DECLARAÇÃO Eu, Fortunato Março, declaro por minha honra que este trabalho é da minha autoria e nunca foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau académico. Todas obras de outros autores, utilizadas neste trabalho foram devidamente citadas e listadas na página de referências bibliográficas. Matsinho, aos de Abril de 2020 _________________________________ AGRADECIMENTOS Gostaria de endereçar os meus mais sinceros agradecimentos para todos aqueles que directa ou indirectamente contribuíram para a minha formação académica e profissional, assim como para a materialização deste trabalho. Em primeiro lugar, agradeço a Deus pela vida e por iluminar todo meu caminho neste processo. Em segundo, agradeço à minha família, especialmente a minha esposa Saugina Macie e aos meus filhos Beto, Alex, Wilma, Edson e Hélcio Fortuna de Março, pelo apoio moral e material, sem os quais não seria possível chegar a esta fase da minha formação académica e profissional. Em terceiro, agradeço ao meu supervisor Zefanias Jone Magodo, Msc., pelo incentivo, paciência e sábia orientação, os quais foram muito importantes durante todo o processo de elaboração do trabalho. Em quarto, agradeço à direcção, corpos docente e técnico administrativo do Instituto Superior Politécnico de Manica (ISPM) e em especial os docentes do Curso de Contabilidade e Auditoria, pela sua contribuição dada para a minha formação. Em quinto, aos meus estimados colegas do Curso de Contabilidade e Auditoria, pela amizade e apoio dispensados ao longo dos quatro anos da licenciatura. Finalmente e, não por serem menos importantes, agradeço a todos aqueles que, mesmo não estando aqui mencionados, contribuíram de alguma forma para a materialização deste trabalho. Obrigado a todos! DEDICATÓRIA Dedico aos meus pais Arminda Lucas e Março Folige, este último mesmo não estando entre nós sempre acreditou e incentivou-me na continuação dos estudos, se estive vivo com certeza estaria orgulhoso desta conquista. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CCD Conselho Consultivo Distrital CCL Conselho Consultivo Local CPI Centro de Promoção de Investimentos CRM Constituição da República de Moçambique FDD Fundo de Desenvolvimento Distrital INE Instituto Nacional de Estatística MAE Ministério de Administração Estatal MF Ministério das Finanças MPD Ministério da Planificação e Desenvolvimento NUIT Número Único de Identificação Tributária OIIL Orçamento de Investimento de Iniciativa Local PAP Parceiros de Apoio Programático PNUD Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento PPFD Programa de Planificação e Financiamento Descentralizado SDAE Serviço Distrital de Actividades Economicas SDEJT Serviço Distrital de Educação Juventude e Tecnólogia SDPI Serviço Distrital de Planeamento e Infra-Estruturas SDSMAS Serviço Distrital de Saúde, Mulher e Acção Social UNCDF Fundo das Nações Unidas para Desenvolvimento Comunitário LISTA DE FIGURAS Figura 1: Organigrama do Governo do Distrito de Chimoio............................................... 41 Figura 2: Gráfico da Distribuição de Elementos da Amostra, Mediante o Nível Académico ............................................................................................................................................. 46 Figura 3: Gráfico da Distribuição do Contributo dos Beneficiários do FDD no Desenvolvimento da Comunidade ...................................................................................... 47 Figura 4: Uso de Critérios de Avaliação e Selecção dos Projectos Beneficiários do FDD . 49 Figura 5: Nível de Transparência dos Critérios Usados para Selecção dos Projectos Beneficiados ....................................................................................................................... 50 Figura 6: Factores que Influenciaram os Critérios Usados para Selecção dos Beneficiários do FDD……………………………………………………………………..………….…..51 RESUMO O Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD), foi criado tendo em vista a materialização dos objectivos do governo orientados para o desenvolvimento do Distrito, especificamente no domínio da produção de alimentos e geração de rendimento, garantindo a criação de postos de trabalho a nível local. No sentido de analisar os factores que influenciaram nos critérios usados para selecção e atribuição deste fundo aos projectos e sua influência no desenvolvimento do Distrito de Chimoio, foi realizada a presente pesquisa cujo horizonte temporal foi de 2015 a 2017. Para sua realização recorreu-se a pesquisa bibliográfica sobre os conceitos teóricos e legais aplicáveis ao tema em causa. Recorreu-se ainda ao trabalho de campo onde foram questionados 22 funcionários afectos ao Governo Distrital de Chimoio. Os resultados mostram que o Governo Distrital Chimoio atribuiu o FDD há um número considerável de 74 Beneficiários, dos quais 59% são de sexo masculino e 41% são de sexo feminino. Portanto, do questionário realizado indica que 68% afirma que os projectos beneficiados pelo FDD não exibiram uma contribuição vistosa no desenvolvimento das comunidades locais e nem proporcionaram o retorno financeiro esperado destes, enquanto 18% acreditam que os projectos beneficiados contribuíram de certa forma para desenvolverem a comunidade em que actuavam, e os restantes 14% foram indeferentes na hora de responder.os resultados mostram ainda que, 50% dos funcionários questionados não tem certeza de uso pleno dos critérios para seleccionar os beneficiários do FDD, enquanto 32% acreditam que os beneficiários do FDD foram submetidos numa avaliação e preferidos com base nos critérios para selecção dos fundos de FDD, e os restantes 18% foram categóricos ao afirmarem que não foram considerados plenamente os critérios e mecanismo de avaliação e selecção dos projectos no momento de eleger os beneficiários do FDD, pautando mais pela experiencias dos avaliadores. Contudo, o estudo concluiu que os factores como o companheirismo, género mais precisamente o feminino e o partidarismo, influnciaram grandemente no processo de avaliação e selecção de projectos e como consequência estes não apresentaram mecanismos que impulsionasse o desenvolvimento da comunidade no Distrito de Chimoio e nem proporcionaram o devido reembolsos dos valores atribuídos a estes. Palavras-Chave: Desenvolvimento local; FDD; Critérios de Selecção. ÍNDICE DECLARAÇÃO ............................................................................................................... III AGRADECIMENTOS ...................................................................................................... IV DEDICATÓRIA .................................................................................................................V LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ...................................................................... VI LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................... VII RESUMO ......................................................................................................................... VIII CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO ....................................................................................... 11 1.1. Contextualização ...................................................................................................... 11 1.2. Problema de Pesquisa ............................................................................................... 13 1.3. Justificativa ............................................................................................................... 14 1.4. Objectivos da Pesquisa ............................................................................................. 15 1.4.1. Objectivos Geral ................................................................................................ 15 1.4.2. Objectivos Específicos ...................................................................................... 15 1.5. Delimitação da Pesquisa ........................................................................................... 15 CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA ............................................................. 17 2.1. Origem e Evolução da Descentralização .................................................................. 17 2.2. A Descentralização e Processo Histórico em Moçambique ..................................... 20 2.3. O Desenvolvimento Local ........................................................................................ 23 2.3.1. O Local como Possibilidade de Desenvolvimento Sustentável ........................ 25 2.4. O Fundo de Desenvolvimento Distrital .................................................................... 27 2.4.1. Critérios de Elegibilidade dos Beneficiários e Projectos dos Recursos do FDD ..................................................................................................................................... 31 2.4.2. Monitoria e Avaliação do Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD) ........... 34 2.4.3. Orgãos do Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD) .................................... 34 2.4.3.1. Conselho Consultivo Distrital ou Local ..................................................... 35 2.4.3.2. O Presidente do Conselho Consultivo Distrital ou Local ........................... 37 2.4.3.3. A Comissão Técnica de Avaliação de Projectos ........................................ 37 CAPÍTULO III: METODOLOGIA ................................................................................ 40 3.1. Descrição do Local de Estudo .................................................................................. 40 3.1.1. Planeamento Estratégico do Governo do Distrito de Chimoio.......................... 40 3.2. Tipo de Pesquisa ....................................................................................................... 41 3.2.1. Quanto à Natureza ............................................................................................. 41 3.2.2. Quanto à Abordagem ......................................................................................... 42 3.2.3. Quanto aos Procedimentos Técnicos ................................................................. 42 3.3. População, Amostra e Processo de Amostragem ..................................................... 42 3.3.1. População .......................................................................................................... 42 3.3.2. Amostra ............................................................................................................. 43 3.3.3. Processo de Amostragem .................................................................................. 43 3.4. Métodos e Procedimentos de Colecta de Dados ....................................................... 43 3.5. Processamento de Análise de Dados ........................................................................ 44 3.6. Limitações da Pesquisa ............................................................................................. 44 CAPÍTULO IV: RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................... 45 4.1. Caracterização da Amostra da Pesquisa ................................................................... 45 4.2. Beneficiarios do Fundo de Desenvolvimento Distrital no Distrito de Chimoio....... 46 4.3. Contribuição dos Projectos Beneficiários do FDD no Desenvolvimento do Distrito de Chimoio ...................................................................................................................... 47 4.4. Cumprimento dos Critérios Usados para Selecção e Atribuição do FDD aos Beneficiários no Distrito de Chimoio .............................................................................. 48 4.5. Factores que Influenciaram os Critérios Usados para Selecção dos Beneficiários do FDD ................................................................................................................................. 50 CAPÍTULO V: CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES .............................................. 52 5.1. Conclusão ................................................................................................................. 52 5.2. Recomendações ........................................................................................................ 53 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 54 Legislação ........................................................................................................................ 56 APÊNDICES ...................................................................................................................... 58 Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 11 CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO 1.1. Contextualização Segundo Weimer e Carrilho (2017), o subdesenvolvimento tem sido uma característica constante de Moçambique nas últimas quatro décadas, havendo actualmente mais de 60% da população (16 milhões de pessoas) a viver em pobreza extrema e estudos recentes, documentam a percentagem significativamente elevada da população que não tem acesso a necessidades básicas, tendo o país uma das mais baixas esperanças de vida no mundo. No entanto, o desenvolvimento socio-económico de qualquer país é impulsionado por actividades de natureza económica, porém, no contexto moçambicano são poucas as pessoas que dispõem de recursos necessários para a efectivação destas actividades. Ciente desta realidade, o Governo moçambicano criou mecanismos que facilitam a efectivação de actividades económicas, tendo introduzido a política do Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD). Para Nuvunga (2017), esta política consiste na concepção de financiamentos aos cidadãos moçambicanos que queiram abraçar o exercício económico, bastando para tal a apresentação de planos de negócios económicos e financeiramente viáveis. Mas Weimer e Carrilho (2017), referem que a descentralização nem sempre é positiva, mas que se trata de um processo político, institucional e económico profundo, sistemático e racional, que deve ser conduzido com critérios de transparência e de racionalidade administrativa. Entretanto, de acordo com o CPI - Centro de Integridade Pública (2012), durante a última década cresceu a percepção de que em Moçambique, se podia fazer muito mais do que se faz em torno do combate à pobreza absoluta que afecta mais de metade da população moçambicana. Por um lado, ouvem-se argumentos que defendem que há um grande desperdício de recursos financeiros comoresultado de fragilidades institucionais, incluindo capacidades em recursos humanos, dos actores envolvidos na governação, em particular, o Governo. Por outro lado, há a percepção de que esse desperdício de recursos financeiros resulta de acções deliberadas de agentes que lideram o processo decisório, de alocação de recursos e de implementação de políticas/programas governamentais nos vários níveis da máquina estatal (CPI, 2012). Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 12 Neste contexto, o presente projecto de licenciatura com o tema “ os critérios usados para selecção dos beneficiários do fundo do desenvolvimento do Distrito de Chimoio no período de 2015 – 2017” procura trazer uma abordagem sobre factores que influenciaram os critérios para selecção dos beneficiários do FDD e sua contribuição efectiva no desenvolvimento sustentável da Comunidade do Distrito de Chimoio. Portanto, para o desenvolvimento desta pesquisa o autor efectuou estudo de caso no Governo do Distrito de Chimoio que reuni dados para tal e recorreu a material contido nos livros e manuais especializados, artigos científicos e legislação que aborda assuntos relacionados com o tema em discussão. Com vista a elaborar e apresentar argumentos relevantes sobre o FDD, no intuito de responder as principais questões que levaram ao desenvolvimento desta pesquisa. Em termos de estrutura, o presente trabalho, está organizado em cinco capítulos, nomeadamente: Capítulo I: Introdução, no qual se descrevem as razões que levaram ao desenvolvimento da pesquisa. Para melhor evidenciar o seu conteúdo, o mesmo encontra- se dividido em diversos subcapítulos, nomeadamente, a contextualização, a problematização do estudo, os objectivos e a justificativa de escolha do tema. Capítulo II: Revisão da Literatura, esta parte ocupa-se em dar uma abordagem geral e pormenorizada dos conceitos fundamentais sobre os factores que influência os critérios de selecção dos beneficiários do fundo do desenvolvimento distrital no distrito de chimoio, que sustentam o trabalho. Capítulo III: Metodologia, onde estão descritos os procedimentos e técnicas utilizadas para a concretização dos objectivos da pesquisa, desde procedimentos técnicos, instrumentos de colecta de dados e processos de amostragem. Capítulo IV: Onde são apresentados, analisados e discutidos os resultados da pesquisa. Capítulo V: Onde são apresentados, a conclusão e propostas de melhoria dos critérios de selecção dos beneficiários do fundo do desenvolvimento distrital no Distrito de Chimoio. Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 13 1.2. Problema de Pesquisa Ao abrigo da alínea f) do nº 1 da Constituição da República (CRM), o Conselho de Ministros através do Decreto Nº. 90/2009 de 15 de Dezembro, criou o Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD), tendo em vista a materialização dos objectivos do governo orientados para o desenvolvimento do Distrito, especificamente no domínio da produção de alimentos e geração de rendimento, garantindo a criação de postos de trabalho a nível local. O mesmo é resultado do processo de descentralização na qual destina-se a captação e gestão de recursos financeiros visando impulsionar o desenvolvimento e o empreendedorismo na satisfação das necessidades básicas das comunidades locais, mediante a concessão de empréstimos reembolsáveis. Tendo em conta a dura realidade de financiamento nos distritos, foi com muita espectativa que a população recebeu esta oportunidade de financiamento do FDD. No entanto, para aceder ao financiamento é mediante a apresentação de projectos económicos e financeiramente viáveis. Desta forma, muitas pessoas interessaram-se e por via disso candidatam-se ao financiamento, mas, uma vez serem muitos os remetentes, nem todos são financiados, sendo que todos os projectos passam por um processo de avaliação que culmina com a selecção dos beneficiários do fundo. Apesar da operacionalização do fundo, existem ainda alguns problemas verificados na gestão do FDD ligados aos critérios usados para selecção dos beneficiários tanto como alguns descontentamentos no que diz respeito a transparência no processo de atribuição, considerando que alguns deste beneficiários são seleccionados com base na confiança individual e política, trazendo com isso a falta de clareza quanto aos critérios ou procedimentos subsequentes para a avaliação e selecção dos projectos que se beneficiam do FDD. Frustando com isso, a concretização de varios e grandes projectos com ideais assimiladas no contexto de desenvolver negócios viáveis para a prosperidade do distrito, lezando assim o objectivo fundamental do Governo na prossecução do Fundo de Desenvolvimento Distrital. Desta forma, percebe-se que é pertinente desenvolver uma pesquisa sobre análise dos Critérios Usados para Selecção dos Beneficiários do Fundo do Desenvolvimento do Distrito de Chimoio. Perante este cenário, coloca-se a seguinte questão de partida: Que Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 14 factores influenciaram os critérios usados para Selecção dos Mutuários do FDD no Distrito de Chimoio no período de 2015 a 2017? 1.3. Justificativa O maior objectivo do Governo de Moçambique, está focado no combate a pobreza e promoção da cultura de trabalho, com vista ao alcance do crescimento económico inclusivo e redução da pobreza e vulnerabilidade no País. Diante deste contexto o governo adoptou a política de alocar fundos de investimentos aos Governos Distritais, com o intuito de criar empregos, incluindo auto-emprego, aumento da produção e da riqueza, através de financiamento de projectos que concorram para o desenvolvimento local. Atribuindo a gestão do fundo aos governos distritais em estrita coordenação com os Conselhos Consultivos Locais (CCL) que deveriam garantir a transparência no processo de avaliação, selecção e monitoria dos projectos. Deste modo, este estudo constitui uma contribuição relevante de diferentes extractos sociais: Para o Pesquisador: a realização deste trabalho deve-se ao interesse pessoal, ou seja, pelo desejo particular de aprofundar o seu entendimento sobre o tema, tratando-se de um estudante das ciências sociais, económicas e empresarias. Para o Estado: este estudo é pertinente, pois, há-de servir de reflexão para os gestores do Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD), perceber o quanto este fundo pode alavancar o desenvolvimento distrital e do país, desde que sejam bem gereridos, e haja transparência no processo de avaliação, selecção e monitoria dos projectos. Com vista a seleccionar projectos criativos e viáveis que se adequa a realidade actual do distrito, conforme a garantir os principais objectivos almejados pelo governo incluíndo, o reembolso do valor financiado e a continuidade dos projectos beneficiados. Para os Beneficiarios do FDD: este estudo é relevante, pois demostra que o principal objectivo do governo com a introdução do FDD é destinado a impulsionar o desenvolvimento e empreendedorismo na satisfação das necessidades básicas das comunidades locais, mediante a concessão de empréstimos reembolsáveis e não enriquecer os bolsos dos gananciosos que não se preocupam com a reposição do financiamento aos cofres do Estado. Pois, é apenas com o reembolso do financiamento que se pode garantir a continuidade da política de Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD). Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 15 Para a Academia: certamente que há-de servir para os estudantes da área de ciências sociais, económicas e de gestão, na medida em que cresce a preocupação com os resultados da aplicabilidade do Fundo de Desenvolvimento Distrital no desenvolvimentolocal, será claramente um incentivo para os estudantes aprofundarem pesquisas em torno deste tema para além de ser mais um instrumento de apoio existente para consultas e que sirva de fonte para futuras pesquisas. Para a Sociedade em Geral: este estudo é relevante, pois, a sua leitura e análise pode fornecer informação do ponto de vista de esclarecer os procedimentos e critérios para a selecção dos beneficiários do Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD) e perceber os principais objectivos almejados pelo governo na concessão deste financiamento, ilustrando o quanto este fundo pode contribuir para o desenvolvimento da Comunidade, do Distrito, da Provincia e do País em geral. 1.4. Objectivos da Pesquisa 1.4.1. Objectivos Geral Analisar os Factores Influenciadores nos Critérios Usados para Selecção dos Beneficiários do Fundo do Desenvolvimento do Distrito de Chimoio no período de 2015 – 2017. 1.4.2. Objectivos Específicos Verificar a Contribuição dos Projectos Beneficiários do FDD no Desenvolvimento do Distrito de Chimoio; Aferir o Nível de Cumprimento dos Critérios usados para Selecção dos Beneficiários do Fundo do Desenvolvimento do Distrito de Chimoio; Analisar os Factores condicionantes aos Critérios usados para Selecção dos Beneficiários do FDD no período de 2015 a 2017 no Distrito de Chimoio. 1.5. Delimitação da Pesquisa A delimitação do presente tema de pesquisa circunscreve-se à análise de aspectos ligados a factores que influência os critérios usados na selecção dos beneficiários do FDD no desenvolvimento do distrito de Chimoio. Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 16 Assim sendo, a pesquisa analisa os factos ocorridos durante o período compreendido entre os anos de 2015 a 2017, isto é, durante 3 anos. Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 17 CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA 2.1. Origem e Evolução da Descentralização A descentralização teve a sua origem na Europa oriental no início dos anos 90, como reacção das sucessivas falhas do Estado centralizado que vigorou durante vários anos. A maior parte destas mudanças se deve as políticas da união europeia que incentivavam a criação de governos a nível local (Deva, 2005). De acordo com Lane (2007), as principais reformas no velho continente que ocorreram entre 1991 e 1994, condicionaram a uma significativa privatização da propriedade, um grande declínio dos partidos comunistas e a ascensão de um sistema eleitoral partidário competitivo. Estas reformas levaram ao surgimento de três grandes grupos, em termos de liberalização política e económica: Primeiro grupo nas sociedades ocidentais avançadas, em que as pessoas possuíam direitos e liberdades civis; Segundo grupo considerado de intermediário na liberalização política, semelhante ao modelo dos países latinos americanos; Terceiro grupo, constituído por países que possuíam partido único e uma economia planificada. Com isso, a descentralização pode ser entendida como um processo planificado que tem por objectivo, produzir mudanças na geografia e na sociologia de um dado poder central, a favor de "níveis de poder" mais baixos da administração do Estado, sem pôr em causa as forças políticas que a constituem e que controlam a distribuição do poder, da riqueza, dos recursos e da administração Estatal (Weimer, 2012). Ou seja a descentralização pode ser vista como o processo da transferência de atribuições e competências do Estado central para o Poder Local (distritos ou autarquias locais), na perspectiva de que correspondam a um núcleo de interesses verdadeiramente locais capazes de assegurar o reforço da coesão local e nacional, e para a promoção da eficiência e eficácia na gestão pública através de processos e mecanismos de participação colectiva dos cidadãos (Neves, 2004). Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 18 De um modo geral, a descentralização é entendida como transferência de recursos e poderes a nível central para o local. Dada a sua complexidade, ela pode ter vários significados, em diferentes contextos e da forma como os planos são desenhados e implementados (Dauce, 2013). Segundo IBIS (2010), Existem três definições chaves da descentralização: (i) desconcentração ou descentralização administrativa, (ii) descentralização fiscal e, (iii) devolução ou descentralização democrática, ondem: A Desconcentração ou Descentralização Administrativa: é a transferência de funções, responsabilidades e funcionários do nível central para as unidades sub-nacionais. É a realocação dos funcionários do nível central nos diferentes pontos do território nacional com vista a fortificar a autoridade do governo. Na desconcentração, o governo central não cede qualquer poder uma vez que tais funcionáriossimplesmente cumprem tarefas e implementamas decisões tomadas pelo governo central. Todas as linhas de comando são de cima parabaixo e a prestação de contas é de baixo para cima. A Devolução ou Descentralização Democrática: é a transferência de poder (tomada de decisão), funções e recursos do governo central para os governos locais, que são eleitos pelas comunidades locais e prestam contas a elas. A devolução cede a autoridade de decisão e influência às instituições democraticamente eleitas, através de mecanismos legais de partilha do poder entre o governo central e os governos locais. A devolução envolve a cedência de personalidade legal, áreas de competência legalmente definidas, autonomia de cobrar impostos, incluindo o direito de ter orçamento e competência legislativa. A Descentralização Fiscal: é a transferência de recursos fiscais para os escalões inferiores do governo. A descentralização fiscal cede influência sobre orçamentos e decisões financeiras, que podem ser confiadas aos funcionários desconcentrados, mas que só prestam contas aos superiores dos escalões superiores, ou aos nomeados não-eleitos, escolhidos superiormente. Assim sendo, a descentralização fiscal pressupõe mover a governação para mais perto das pessoas e isto requer um fortalecimento das finanças dos governos municipais e distritais. A ideia é dar às instituições locais um poder de taxação e responsabilização no dispêndio dos diversos recursos à sua disposição, permitindo que eles decidam sobre o Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 19 nível e a estrutura dos seus orçamentos. Supõe-se que deste modo, as instituições locais tenham maior capacidade de responder à demanda da população em termos de prestação de melhores serviços, de maneira que ela possa estar mais satisfeita e participe activamente na vida política do país. A descentralização fiscal requer que as instituições locais tenham uma autonomia na tomada de decisão na componente fiscal (IBIS, 2010). No entanto, Manor (1999) realça que as vezes os três tipos de descentralização (política, administrativa e económica), podem ocorrer simultaneamente, mais também podem ocorrer separadamente dependendo da forma de organização de cada país. Desta forma, os dois tipos de descentralização, nomeadamente: a desconcentração ou descentralização administrativa e a devolução ou descentralização democrática são os que ocorrem e se evidenciam actualmente em Moçambique. A desconcentração é dirigida aos órgãos locais do estado: província, distritos, postos administrativos e localidades (Lei nº. 8/2003), enquanto a devolução é dirigida aos municípios (Lei nº. 2/97) (IBIS, 2010). Com isso, a descentralização democrática ou política é muitas vezes considerada como um mecanismo indispensável para tornar um Estado em democrático e desenvolvido, pelo facto de o governo local tera capacidade de utilizar recursos limitados mais eficientes que o central (Dauce, 2013). Em todo caso, Rodriguez-Pose e Gil (2005) referem que as potenciais vantagens económicas da devolução em relação ao centralismo podem ser discutidas mediante três áreas: Em primeiro lugar, num sistema centralizado, os decisores políticos tomam decisões para todo o país. Este sistema poderá ser ineficiente se houver uma distribuição desigual de recursos pelas regiões deste mesmo país. A segunda maior fonte de ganhos económicos que a devolução pode gerar são as inovações políticas: Se os governos locais são mais responsáveis por seu próprio bem- estar, pode fazer com que eles mesmo tenham ideias criativas para melhorar as suas próprias receitas. Por último, a devolução aumenta o poder na tomada de decisão a nível local aumentando a transparência e a responsabilização através da redução da distância entre os políticos e os seus eleitores. Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 20 2.2. A Descentralização e Processo Histórico em Moçambique Os modelos de governação de um país mostram os esforços que o mesmo tem vindo a realizar na adaptação das suas necessidades locais de modo a criar condições favoráveis para o seu desenvolvimento (Carvalho, 2008). Assim sendo, Moçambique, após a independência experimentou diversos modelos de governação, como sejam o da centralização (1975-1986), o da liberalização (a partir de 1987) e o do multipartidário (a partir de 1994) como resultado da assinatura dos acordos gerais de paz em 1992. A partir de 1996 foram aprovadas a lei a que regula a criação de autarquias locais 1 , e em 2003 a lei que estabelece os princípios e normas de organização, competências efuncionamento dos órgãos locais do Estado 2 , abrindo assim espaço para a devolução de poderes para o nível local (Dauce, 2013). Segundo Forquilha (2008), as reformas do Estado desencadeadas em Moçambique a partir dos anos 80 ditando uma redefinição das relações de poder no seio do sistema político, cristalizaram-se em reformas de descentralização. Entretanto, Dias (2015) considera que: O processo de reformas políticas, económicas e sociais de Moçambique, no período pós- colonial, teve o seu ponto alto com a promulgação e entrada em vigor da Constituição da República de 1990. Esta acelerou as medidas para a adopção da economia de mercado, aprofundou os princípios do Estado de Direito e do sistema político multipartidário, abriu caminho à descentralização e com esta viabilizou a criação das autarquias e órgãos locais do Estado, com intuito de aproximar a Administração Pública aos cidadãos, tornando-a mais eficiente e eficaz na solução dos problemas locais e um meio de promoção do desenvolvimento local. De acordo com Valá (2009), as experiências de planificação e finanças descentralizadas desenvolvidas ao longo do país e as múltiplas iniciativas de desenvolvimento rural levadas a cabo desde 1995, culminaram com reformas na governação e com o desenvolvimento económico local visando contribuir para o combate à pobreza provendo bens e serviços como resposta a procura das populações. 1 Lei nº 2/97, de 28 de Maio, Aprova a Lei de Bases das Autarquias e Cria o Quadro Jurídico para a Implementação das Autarquias Locais. 2 Lei 8/2003, regulamentada pelo regulamento lei dos órgãos locais do estado 6/2005 de 10 de junho. Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 21 Porém a descentralização em Moçambique, não foi inicialmente impulsionada por uma agenda anti-pobreza explícita, privilegiando antes a reconfiguração e consolidação da administração do Estado e a melhoria da prestação de serviços na situação do pós-guerra. A ligação explícita entre a descentralização e a redução da pobreza apareceu muito mais tarde, numa altura em que o governo, apoiado pelos seus Parceiros de Apoio Programático (PAP), concebeu e levou à prática o seu primeiro programa de redução de pobreza, PARPA I, que vigorou entre 2001 e 2005. Como faltava ao processo de descentralização uma estratégia explícita e publicamente evidente e, por conseguinte, um processo de monitoria que lhe estivesse ligado, tem sido difícil não só avaliar sistematicamente os resultados que a descentralização tem produzido até agora, mas também o impacto que teve, ou não, na redução dos níveis de pobreza (Weimer, 2012). Com isso, a organização e o funcionamento dos órgãos do Estado a nível local obedecem aos princípios de descentralização e desconcentração, sem prejuízo da unidade de acção e dos poderes de direcção do Governo. No seu funcionamento, os órgãos locais do Estado, promovendo a utilização dos recursos disponíveis, garantem a participação activa dos cidadãos e incentivam a iniciativa local na solução dos problemas das comunidades (Números 1 e 2 do Artigo 263, Título XII, Capítulo IV da Constituição da República). Assim, o processo de descentralização em Moçambique tem duas vertentes, a destacar: política e administrativa. A primeira constitui as autarquias, feita através da criação de novas unidades jurídicas com território e população; a segunda é a desconcentração, a qual é efectuada através da atribuição de maiores competências aos distritos e aos órgãos hierarquicamente subordinados a ela, constitui uma mera extensão e mecanismo administrativo visando aproximar os serviços aos seus beneficiários. Neste âmbito, a direcção deste processo cabe ao Ministério da Administração Estatal (MAE), Ministério da Planificação e Desenvolvimento (MPD) e Ministério das Finanças (MF), este último envolvendo matéria de fiscalização e finanças (MÉTIER, 2004). Portanto, estas ideias são reforçadas por Forquilha (2008), referindo o seguinte: Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 22 Em Moçambique, a descentralização é feita através de autarquias locais, órgãos locais do Estado e instituições de participação e consulta comunitária. De forma mais específica, a política de descentralização visa promover a participação dos cidadãos, comunidades e outros actores na governação local, melhorar o desempenho da administração local do Estado e da administração autárquica, através de mecanismos que conduzam à eficácia e eficiência na prestação de serviços e promover a convergência e interacção entre as diversas formas de descentralização, nomeadamente democrática, empoderamento das comunidades e desconcentração, como movimentos coordenados visando a promoção do desenvolvimento local e bem-estar das populações. Desta forma, o processo de descentralização em Moçambique tende a desdobrar-se em dois conceitos diferentes, mas concomitantes: (i) a desconcentração (caraterizada pela existência dos órgãos locais do Estado a diferentes níveis) e, (ii) a descentralização (levada a cabo a partir de processo gradual de autonomização dos poderes locais) (Jamal, 2014). Segundo Cailaux e Yuki (2004), a desconcentração é o tipo de descentralização aplicável na transferência de determinados graus de autoridade administrativa do governo central para o nível local, ou seja, delegação de responsabilidades ao nível local através do governo central. No entanto, é de destacar que o processo de descentralização em Moçambique (ainda) não é abrangente, pois termina nas linhas dos territórios municipalizados (vilas e cidades), enquanto a maior parte da população vive para além das fronteiras municipais (aldeias, povoados, localidades, postos-administrativos). Assim, a lacuna não preenchida pela descentralização (autárquica) no processo da democratização do país é ocupada pelos órgãos locais nomeados pelo Estado central, o que tende a propiciar tensões, e pode alargar o conceito da responsabilização e prestação de contas(Jamal, 2014). Por sua vez, Ilal (2008), defende que o modelo moçambicano de descentralização implica a transferência de responsabilidades, sem a autonomia dos governos locais, na medida em que, a transferência de responsabilidades não é acompanhada da descentralização de fontes efectivas de recursos, o que em última análise mantém e consolida o poder do governo central perante os governos locais. Deste modo, o alcance dos objectivos da descentralização em Moçambique, depende de uma justa e equilibrada distribuição de recursos financeiros, materiais e humanos, assim como da capacidade dos órgãos locais maximizarem as oportunidades para geração de receitas (Canhanga, 2009). Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 23 Neste contexto, Chichava (1999), sustenta que os órgãos locais do Estado no âmbito da descentralização devem: Funcionar como órgão responsável pela planificação do desenvolvimento local e como agente principal de desenvolvimento a nível local; Prestar serviços sociais e económicos às comunidades locais e; Estimular, organizar a participação das comunidades na solução dos seus problemas. Em todo caso, o desenvolvimento local não pode ser alheio a descentralização financeira associada ao capital humano, social e o tecnológico, visto que estes são grandes impulsionadores do mesmo e em conjunto proporcionam oportunidades de desenvolver as comunidades. Portanto, a ideia de desenvolvimento local envolve a capacidade de impulsionar projectos comunitários, onde é necessária a motivação, reflexão e organização político-comunitário que caminhem em paralelo com o sentimento de cidadania, liderança, esforço conjunto e estratégia de acção (Machava, 2011). 2.3. O Desenvolvimento Local Segundo Diniz (2006), o desenvolvimento é um processo complexo que engloba aspectos económicos, sociológicos, psicológicos e políticos da vida em sociedade. Neste caso, a existência de crescimentoeconómico não conduz nem se confunde com o desenvolvimento, na medida em que o últimoexige a transformação profunda das estruturas económicas e sociais. Por seu turno, odesenvolvimento deve ser entendido como um progresso económico da sociedade como um todo. Assim, o desenvolvimento é um processo que consiste na transformação do fraco em forte ou do improdutivo ao produtivo com vista a gerar progresso, crescimento e expansão da economia. Por outras palavras pode-se entender o desenvolvimento como um processo de melhoria das condições de vida, de trabalho, de lazer, em fim, do bem-estar das comunidades que habitam uma determinada área (MPD - Ministério da Planificação e Desenvolvimento, 2007). Com isso, o desenvolvimento, em qualquer concepção, deve resultar do crescimento económicoacompanhado de melhoria na qualidade de vida, ou seja, deve incluir as Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 24 alterações da composiçãodo produto e a alocação de recursos pelos diferentes sectores da economia, de forma a melhoraros indicadores de bem-estar económico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condiçõesde saúde, alimentação, educação e moradia) (Vasconcellos e Garcia, 1998). Do ponto de vista de Sousa (2009), a condição básica para se alcançar o desenvolvimento é o crescimento económico. Portanto, desenvolvimento, visto numa perspectiva económica é a existência de crescimento económico emritmo superior ao crescimento demográfico, envolvendo mudanças de estrutura e melhoria dosindicadores económicos, sociais e ambientais. Enquanto Sandroni (1994), considera desenvolvimento económico como crescimento económico (incrementos positivos no produto) acompanhado por melhorias do nível de vida dos cidadãos epor alterações estruturais na economia. Para ele, o desenvolvimento depende das característicasde cada país ou região. Isto é, depende do seu passado histórico, da posição e extensãogeográficas, das condições demográficas, da cultura e dos recursos naturais que possuem. Em suma, o desenvolvimento constitui nos dias de hoje a única forma de assegurar que os direitos humanos, conquista civilizacional de mais alto valor, seja respeitado na sua plenitude, porque o desenvolvimento reflecte uma vida digna a ser vivida, enquanto prevalecer a pobreza em qualquer agregado humano e consequentemente os seus membros estiverem a viver numa situação de penúria, essa sociedade considerar-se-á não desenvolvida e por consequência os direitos humanos estariam desse modo a ser violados (Jemusse, 2014). No entanto, o desenvolvimento local é uma estratégia de valorização das potencialidades locais que possam impulsionar um novo padrão de crescimento económico dotado de sustentabilidade sócio ambiental (De Carvalho, 1999). Este autor refere ainda na sequência, o seguinte: O desenvolvimento local é um processo endógeno de mobilização de energias sociais na implementação de mudanças que contribuem para o aumento das oportunidades sociais e melhoramento das condições de vida no plano local, com base nas potencialidades e no envolvimento da sociedade nos processos decisórios. Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 25 Entranto, o Artigo 263, Título XII, Capítulo IV da Constituição da República, destaca que os órgãos locais do Estado têm como função a representação do Estado ao nível local para a administração e o desenvolvimento do respectivo território e contribuem para a integração e unidade nacionais. 2.3.1. O Local como Possibilidade de Desenvolvimento Sustentável De acordo com Sousa (2009), o ser humano é um ser individual de natureza social, e como indivíduo, o mesmo procura satisfazer as suas necessidades fisiológicas. No seu espírito, o ser humano recorre à reflexão, à participação, à solidariedade e outras formas de cooperar e ajudar os demais. Tão antiga quanto a civilização humana, a organização dos homens no meio em que inseriam, na busca do bem além do individual fez com que nascesse o esforço comunitário de satisfazer interesses comuns ou de todos. Desta forma, o desenvolvimento local nasceu como resposta a situação precária em que se encontravam os membros de certos agregados humanos, portanto, o desenvolvimento comunitário surge com a criação e estabelecimento de programas de melhoramento da qualidade de vida da população pobre, principalmente a camponesa (Jemusse, 2014). Assim, o desenvolvimento local assenta em três princípios fundamentais a saber: criação de condições de progresso económico e social; a participação activa da comunidade e a confiança na sua capacidade de iniciativa (Laissone, 2016). Para Jemusse (2014), outro dado de extrema importância a ter em conta em torno do desenvolvimento local, é a seguinte: Os programas e projectos de desenvolvimento implementados nas comunidades, devem ter carácter e natureza própria da comunidade a que se insere, quer-se com isso dizer que não se podem uniformizar ou generalizar as acções que devem ser implementadas nas diferentes comunidades, pois, cada comunidade oferece um diferente potencial económico a aproveitar. Enquanto Laissone (2016), refere que todo o processo conducente ao melhoramento de vida de qualquer comunidade deve começar dentro dela, aproveitando para tal os recursos humanos e naturais lá existentes, ou seja, no processo de consecução dos objectivos do desenvolvimento é necessário que haja o envolvimento da própria comunidade na transformação dos recursos disponíveis ao seu dispor em riqueza. Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 26 Em muitas vezes, a palavra sustentabilidade é associada ao desenvolvimento, porque o desenvolvimento sustentável é um desenvolvimento que tem como principal objectivo satisfazer as necessidades do presentesem comprometer as das gerações futuras (Texeira, 2011). No entanto, em seu sentido lógico sustentabilidade é a capacidade de se sustentar, de se manter. Uma actividade sustentável é aquela que pode ser mantida para sempre e uma sociedade sustentável é aquela que não coloca em risco os elementos do meio ambiente. Neste contexto, o desenvolvimento sustentável é aquele que melhora a qualidade de vida do homem na terra ao mesmo tempo em que respeita a capacidade de produção dos ecossistemas nos quais vivemos (Machava, 2011). Em todo caso, o conceito de desenvolvimento local tem-se mostrado com mudanças ao longo do tempo. Actualmente é unânime entender que o desenvolvimento local não está relacionado unicamente ao crescimento económico, mas também com a melhoria da qualidade de vida das pessoas e com a conservação do meio ambiente. Por isso, o único significado de desenvolvimento que faz sentido deve ser o de melhorar a qualidade de vida das pessoas não enquanto indivíduos, mas de todas as pessoas no presente e no futuro (Milani, 2005). Assim sendo, o desenvolvimento local é justamente o processo que considera, respeita e aproveita a qualidade, a realidade e as potencialidades de cada comunidade ou localidade. Para além de ser um processo de reactivação da economia de dinamização de uma sociedade local, com base no bom aproveitamento dos recursos, objectivando o crescimento da economia, criação de emprego para a melhoria da qualidade de vida (Ávila, 2007). Desta forma, a consecução dos objectivos do desenvolvimento na perspectiva local, pressupõe um significativo grau de interdependência e dependência entre diversos segmentos que compõem a comunidade, e nessa lógica que são chamados todos sectores, interveniente e agentes de certa comunidade para em conjunto fazerem face a transformação da realidade local, rumo ao melhoramento da sua qualidade de vida (Jemusse, 2014). Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 27 Entretanto, o desenvolvimento Local consiste num processo sustentável de aproveitamento de oportunidades das capacidades locais, com a integração da sociedade local tornando-a em agentes económicos capazes de catalisar suas potencialidades apostando em uma melhoria integral da qualidade de vida das populações locais, através do uso racional e regular dos recursos disponíveis, garantindo assim o bem-estar comum, sem se esquecer das gerações futuras (Sousa, 2009). Contudo, o Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD) foi criado com objectivo de garantir um desenvolvimento sustentável para as famílias Moçambicanas a nível dos distritos; este fundo para além de assegurar um desenvolvimento sustentável é também uma forma de garantir a produtividade sem aumentar o uso de recursos naturais além da capacidade da terra (Laissone, 2016). 2.4. O Fundo de Desenvolvimento Distrital Segundo Weimer e Carrilho (2017), o Fundo de Desenvolvimento Distrital é resultado do processo de descentralização de instrumentos de planificação e orçamentação com vista ao envolvimento das populações ao nível local e tem a cobertura da Lei n° 8/2003 e do Decreto n° 11/2005. Assim entende-se que o FDD reforça o princípio do distrito como a base do desenvolvimento, na medida em que, pretende afectar recursos para a produção de alimentos, criação de emprego e geração de renda, de forma a contribuir para o combate à pobreza no país. No entanto, as primeiras experiências de planificação e orçamentação descentralizada em Moçambique com foco nos distritos, foram implementadas entre 1998 e 2005 na província de Nampula. Financiadas pelo fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNCDF), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Embaixada da Holanda, estas experiências inseriam-se no Programa de Planificação e Financiamento Descentralizado (PPFD). Esta iniciativa fundamentava-se na crença de que o desenvolvimento local dependia do grau de descentralização e desconcentração de responsabilidadese recursos, e da participação comunitária na planificação e implementação de actividades do sector público local. Estas actividades tinham como foco o desenvolvimento de infra-estruturas, o fortalecimento da capacidade institucional e a articulação de objectivos e prioridades da planificação, não apenas o financiamento de actividades individuais (Chichava, 2010). Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 28 A contribuição do OIIL para a redução da pobreza rural (no distrito) foi concretizada por via da dinamização da actividade produtiva rural levada a cabo, maioritariamente, por pessoas pobressem acesso ao crédito dos mercados financeiros formais, para além de estimular a participação da comunidade e indivíduos no desenvolvimento local. Os “7 milhões” são para a população que tem neste fundo a sua única alternativa para gerar comida, emprego e renda, reduzindo, assim, o nível de pobreza. A iniciativa, na sua forma original, não contemplava serviços de apoio institucional, infra-estruturas e base logística necessária para tornar as actividades produtivas privadas viáveis e sustentáveis financeira e economicamente (Guebuza, 2009). Em finais de 2009, o OIIL foi transformado em Fundo Distrital de Desenvolvimento (FDD), compersonalidade jurídica, autonomia administrativa e financeira, gerido localmente. O FDD étutelado pelo Governador provincial que homologa os planos e relatórios de actividades, autorizaa recepção de donativos e abertura de contas e realiza inspecções regulares. A execução dasactividades do FDD é da responsabilidade dos Conselhos Consultivos Distritais (CCD). O FDD pode recorrer aosreembolsos, às subvenções do Estado, donativos e fundos comunitários para dar crédito às pessoas pobres (MPD - Ministério da Planificação e Desenvolvimento, 2011). Entretanto, no âmbito do aprofundamento do processo de descentralização e desconcentração de competências administrativas para os órgãos locais do Estado. A partir de 2006, as responsabilidades e competências da Secretaria Distrital na preparação e execução do Orçamento do Estado foram acrescidas com a atribuição de recursos do Orçamento de Investimento de Iniciativa Local (OIIL) a todos os distritos do País. Portanto, os recursos do OIIL, eram alocados anualmente aos Distritos, servindo de instrumento de promoção das actividades económicas orientadas para a produção de comida e criação de emprego, propiciando a captação de rendimentos por parte das comunidades locais. Com isso, este fluxo de fundos resultou numa dinâmica económica e financeira semprecedentes a nível local, trazendo consigo novas situações que exigiram como resposta do Governo a criação de instituições adequadas (MPD - Ministério da Planificação e Desenvolvimento, 2011). Deste modo, para assegurar a materialização dos objectivos do Governo orientados para o desenvolvimento do Distrito, especificamente no domínio da produção de alimentos Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 29 e geração de rendimento, garantindo a criação de postos de trabalho a nível local. O Conselho de Ministros aprovou a criação do Fundo de Desenvolvimento Distrital em todos distritos do país, como uma instituição pública dotada de personalidade jurídica, autonomia administrativa e financeira, abreviadamente designada por FDD, destinada à captação e gestão de recursos financeiros visando impulsionar o desenvolvimento e o empreendedorismo na satisfação das necessidades básicas das comunidades locais, mediante a concessão de empréstimos reembolsáveis (Artigos Números 1 e 2 da Parte Introdutora do Decreto nº 90/2009 de 15 de Dezembro). Neste contexto, segundo MPD (2011) o Conselho de Ministros criou o Fundo Distrital de Desenvolvimento (FDD) como forma de: Flexibilizara Gestão Orçamental e Facilitar os Mecanismos de Transferências dos Recursos do Estado para o Benefício das Comunidades; Conferir Maior Dinâmica Económica e Financeira a Nível Local Através do Estabelecimento de Mecanismos Flexíveis, Apropriados e Legalmente Enquadrados; e Criar um Fundo Vocacionado à Promoção de Actividades Económicas Através da Captação, Disponibilização e Recuperação de Recursos. Assim sendo, o Fundo de Desenvolvimento Distrital é uma dotação orçamental de âmbito distrital destinada a apoiar prioritariamente pessoas pobres, economicamente activas 3 , sem possibilidade de acesso ao crédito no sistema financeiro formal. No âmbito dos FDD são financiáveis as acções que concorrem para a geração de emprego permanente ou sazonal, produção de comida e geração de rendimento. Os projectos elegíveis devem estar estritamente ligados ao desenvolvimento económico local com o impacto no quadro do combate à pobreza e devem ser propostos por indivíduos, associações, grupos sociais organizados e outras formas sociais de base comunitária reconhecidos pelo Governo do Distrito em estreita colaboração com as autoridades comunitárias locais. O Conselho Consultivo Distrital é o órgão que aprecia, aprova os pedidos de empréstimos submetidos e faz o seu acompanhamento permanente (CPI – Centro de Integridade Pública, 2012). 3 Conforme os autores, esta expressão pretende captar num só conceito todas as pessoas singulares e colectivas que, embora tenham iniciativas produtivas cobertas pelos objectivos do FDD, não são elegíveis para a concessão de créditos do sistema bancário formal. Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 30 Porém, conforme os números 1, 2 e 3 do Artigo 3, Capítulo I do Decreto nº 90/2009, de 15 de Dezembro, estabelece que o Fundo Distrital de Desenvolvimento é tutelado pelo Governador Provincial, e constitui especial responsabilidade deste, promover a consolidação, a expanção e o desenvolvimento do fundo, e as boas práticas de gestão participativa, com transparência, equidade, eficiência e efectividade, no quadro dos esforços para o desenvolvimento local edas comunidades, através das competências que lhe confere para executar as seguintes actividades: a) Homologar os Planos Anuais; b) Autorizar a Recepção dos Donativos Externos; c) Autorizar a Abertura de Contas em Nome do Fundo Distrital de Desenvolvimento em Banco Comercial; d) Verificar os Relatórios de Actividades e de Contas do Fundo; e e) Promover Inspecções Regulares ao Funcionamento do Fundo. Em todo caso, o Fundo de Desenvolvimento Distrital, tutelado pelo governador provincial, é uma instituição pública dotada de personalidade jurídica, autonomia administrativa e financeira, que se destina a captação e gestão de recursos financeiros provenientes de orçamento do Estado, dos reembolsos dos empréstimos concedidos (sujeitos à aplicação de taxas de juros) e fundos concedidos por instituições nacionais ou internacionais a título de donativo. Este fundo visa financiar acções que estimulem o empreendedorismo no nível local de pessoas pobres, mas economicamente activas e que não têm acesso ao crédito bancário; actividades de produção e comercialização de alimentos, criação depostos de trabalho permanentes ou sazonais, assegurando a geração de rendimento; acções que visem melhorar as condições de vida relacionadas comas actividades económicas e produtivas das comunidades locais, mediante a concessão de empréstimos reembolsáveis (Chichava, 2010). De acordo com o Artigo 5, Capítulo I do Decreto nº 90/2009, de 15 de Dezembro, são atribuições do Fundo Distrital de Desenvolvimento as seguintes: a) Gerir os Recursos Postos à sua Disposição; b) Assegurar a Execução e o Controlo Financeiro das Actividades do Fundo Distrital de Desenvolvimento; Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 31 c) Financiar os Projectos e Empreendimentos Aprovados e Garantir o Retorno dos Recursos; d) Financiar Acções Complementares que Assegurem o Aumento da Produção e da Produtividade a Nivel Local. Portanto, as actividades e acções financiadas pelo Fundo Distrital de Desenvolvimento são previamente aprovadas pelo Conselho Consultivo Distrital (CCD), órgão de natureza essencialmente consultiva, com a designação de Conselho Local de Distrito, nos termos do Regulamento aprovado pelo decreto nº 11/2005, de 10 de Junho (Número 2 do Artigo 4, Capítulo I do Decreto nº 90/2009, de 15 de Dezembro). Contudo, os governos distritais passaram então a ser responsáveis pela execução do Fundo Distrital de Desenvolvimento em projectos de produção de alimentos, geração de renda com impacto junto às populações locais. O FDD constituiu teoricamente um mecanismo para a materialização da visão, dos objectivos estratégicos e das prioridades constantes nos instrumentos de políticas e estratégias governamentais de Moçambique (MPD - Ministério da Planificação e Desenvolvimento, 2011). 2.4.1. Critérios de Elegibilidade dos Beneficiários e Projectos dos Recursos do FDD Os critérios de selecção, priorização, procurement e modalidade de financiamento dos FDD são noviços devido ao carácter inovador do OIIL e por esta razão, o governo central não estabeleceu normas rígidas e prescritivas aos distritos, simplesmente elaborou regras gerais e deixando que as experiências práticas e concretas do trabalho de cada distrito permitissem que surgisse mais bases normativas e de regulamentação desde que se mostrem exequíveis, pragmáticas e sustentáveis (Valá, 2009). Porém, Osório e Silva (2009) referem que no primeiro ano, não houve definição clara de critérios. A Lei não tornou claro se os fundos assumiam uma forma de doação sem retorno ou um empréstimo e, que juros a aplicar. Portanto, de acordo com Ministério da Planificação e Desenvolvimento (MPD, 2011), o acesso aos recursos do FDD é determinado por um conjunto de critérios aplicáveis aos (i) proponentes dos projectos e (ii) tipos de projectos, conforme é descrito a seguir: Critérios de elegibilidade dos beneficiários são compostos por seguintes condições: Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 32 1º. Para Indivíduos a) Ser Residente na Unidade Territorial onde Pretende Implementar o Projecto, confirmado pelas Autoridades Locais; b) Possuir Nacionalidade Moçambicana; c) Ser Considerado Idóneo pelas Autoridades Administrativas e Comunitárias Locais; d) Ter Idade não Inferior a 18 Anos; e e) Possuir NUIT. 2º. Para Associações e Micro/Pequenas e Médias Empresas: As Associações e Micro/Pequenas e Médias Empresas devem: a) Estar Legalmente Registadas e com uma Estrutura de Organização e Gestão Consolidada Observável a partir do Núcleo Central dos Membros das Associações; b) Os Membros Devem Ser Residentes na Unidade Territorial Onde se Pretende Implementar o Projecto e com a Residência Confirmada pelas Autoridades Locais; c) Operar no Território Onde se Pretende Implementar o Projecto; d) Ser Constituídas por Cidadãos Nacionais; e e) Possuir NUIT. Em todo caso, as autoridades competentes devem flexibilizar e apoiar os beneficiários na obtenção do NUIT, aproveitando esta oportunidade para expandir a atribuição do mesmo. Igualmente, devem ser criados mecanismos para tornar célere o registo e legalização das associações (Machava, 2011). Entretanto, anteriormente este fundo financiava os projectos em espécie, onde o proponente desenhava o projecto tendo em conta o material que precisava para a implementação do mesmo, com factura anexada ao projecto, e de seguida ia apresentar na respectiva localidade, aprovado o projecto era solicitado a levantar os produtos para implementa-los. No entanto, a iniciativa não foi bem recebida por partedos beneficiários, tendo provocado descontentamento entre os mesmos e os gestores do FDD. Mais tarde esta ideia foi rectificada, a partir de 2010 optaram por financiar os projectos em dinheiro, onde cada beneficiário geria o dinheiro individualmente (Sualeche, 2015). Com isso, no âmbito do FDD, são financiáveis as acções que concorram para geração de emprego permanente e/ou sazonal, para produção de comida e geração de renda para os Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 33 produtores e suas famílias. Os projectos elegíveis devem estar estritamente ligados ao desenvolvimentoeconómico local com impacto no quadro do combate à pobreza e emsintonia com os Planos Estratégicos de Desenvolvimento do Distrito e devem ser propostos por indivíduos, associações, grupos sociais organizados e outras formas sociais de base comunitária reconhecidas pelo Governo do Distrito em estreita colaboração com as autoridades comunitárias locais. Os projectos financiados devem obrigatoriamente ser implementados na unidade territorial onde são propostos (MPD - Ministério da Planificação e Desenvolvimento, 2011). Deste modo, segundo CPI (2012) são prioridades para o critério de selecção dos projectos financiados pelo Fundo Distrital de Desenvolvimento, os projectos que pretendem desenvolver as seguintes actividades: Produção e Comercialização Agropecuária; Pesca; Piscicultura; Pequena Indústria; Agro-indústria e Pequenos Sistemas de Processamento; Turismo Rural; e Comércio. Contudo, conforme o Ministério da Planificação e Desenvolvimento (MPD, 2011) o processo de aprovação de projectos financiáveis pelo FDD obedece aos seguintes critérios: Projectos Identificados como Sendo Economicamente Viáveis e de Benefício às Comunidades, Priorizados e aprovados pelos Conselhos Consultivos Locais 4 a Vários Níveis; Projectos com Origem nas Localidades que Tenham Tido a Primeira Apreciação/Aprovação a Nível do Conselho Consultivo Local Antes de Transitarem para os Conselhos Consultivos de Posto Administrativo e, por Último, para os Conselhos Consultivos Distritais; Projectos a Serem Implementados na Unidade Territorial Onde são Propostos; 4 Os Conselhos Consultivos Locais comportam, nos termos da legislação em vigor, os conselhos consultivos de povoação, de posto administrativo e de distrito. Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 34 Projectos que Previlegiam o Uso Sustentável dos Recursos Locais (humanos, materiais e naturais). 2.4.2. Monitoria e Avaliação do Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD) Segundo o Ministério da Planificação e Desenvolvimento (MPD, 2011), a monitoria ao FDD deve ser feita a dois níveis nomeadamente: (i) a nível do próprio FDD, com vista a fazer o acompanhamento do processo de implementação do FDD e (ii) a nível dos projectos com vista a fazer o acompanhamento do ponto de situação dos projectos financiados. A monitoria cobrirá os três escalões envolvidos no FDD designadamente a nível distrital, provincial e central. A nível do Distrito: a este nível deve ser feito um acompanhamento permanente aos projectos financiados, de forma a verificar-se o ponto de situação dos projectos, principais constrangimentos e propor medidas para a sua solução. Esta monitoria deverá envolver membros do Conselho Consultivo Distrital, membros da Comissão Técnica de Avaliação de Projectos e outras instituições afins, baseadas no distrito. A nível da Província: a monitoria deve ser feita por equipas da Direcção Provincial do Plano e Finanças e para casos especificos poderá envolver outros sectores afins. Estas monitorias deverão ser feitas trimestralmente e em casos pontuais quando solicitados pelo Presidente do Fundo. A nível Central: a monitoria deve ser feita por equipas constituídas por técnicos do Ministério da Administração Estatal, da Planificação e Desenvolvimento e das Finanças e técnicos do Grupo de Referência do FDD/OIIL coordenada com a província a ser visitada. Estas monitorias deverão ser feitas trimestralmente e em casos pontuais quando solicitados pelo Presidente do Fundo. Desta forma, em intervalos de três anos deverá ser feita a avaliação da implementação do Fundo Distrital de Desenvolvimento (FDD) por uma entidade independente para medir o impacto da implementação deste fundo ao nível das comunidades (CPI, 2012). 2.4.3. Orgãos do Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD) Conforme as alíneas a, b, e c do número 1 do Artigo 7, Capítulo II do Decreto nº 90/2009, de 15 de Dezembro, estabelece que são órgãos do Fundo Distrital de Desenvolvimento, os seguintes: Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 35 a) O Conselho do Fundo Distrital: as atribuições e competências deste são exercidas pelo Conselho Consultivo Distrital. b) O Presidente do Fundo: o presidente do Fundo Distrital de Desenvolvimento é o presidente do Conselho Consultivo Distrital. c) A Comissão Técnica de Avaliação de Projectos: esta tem um papel importante no aconselhamento do Conselho Consultivo Distrital. 2.4.3.1. Conselho Consultivo Distrital ou Local Os órgãos locais do Estado têm como função a representação do Estado a nível local para administração e o desenvolvimento do respectivo território e contribuim para integração e unidades nacionais. No âmbito das suas funções, os órgãos locais do Estado exercem competências de decisão, execução, e controlo no respectivo escalão (Numeros 1 e 2 do Artigo 3, Título I do Decreto nº 11/2005 de 10 de Junho). Com isso, a concessão de créditos a partir do FDD, assim como em outras formas de financiamento, basea-se na avaliação económico-financeira dos projectos de investimentos, não só, mas também na avaliação social dos projectos. Esta avaliação é feita pelo Conselho Consultivo Distrital (CCD). Entenda-se este como sendo uma instituição de participação e consulta comunitária de mais alto nível, que serve de espaço de diálogo e deliberação sobre as prioridades locais de desenvolvimento, entre o povo e as autoridades do governo local. Neste sentido, os CCD’s são órgãos instituídos em cada distrito no âmbito da planificação participativa com vista a inclusão das diversas vontades das comunidades locais, para a prossecução dos objectivos de desenvolvimento local (Número 1 e 2 do Artigo 100, Capítulo I, Título VIII do Decreto nº 11/2005, de 10 de Junho). Portanto, dentre várias tarefas designadas aos Conselhos Consultivos Locais (CCL), o Diploma Ministerial nº 67/2009 de 17 de Abril estabelece que os mesmos têm o papel de promover a mobilização e organização da participação da população na implementação das iniciativas do desenvolvimento local e apresentar respostas aos problemas colocados pela comunidade local; recolher e transmitir às autoridades competentes as opiniões e preocupação das comunidades locais em relação ao desenvolvimento; colaborar com as autoridades locais na divulgação da informação relevante ao desenvolvimento local e assegurar a sua transmissão às comunidades e participar no processo de preparação, implementação e controlo dos planos distritais de desenvolvimento, e apreciar relatórios Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 36 sobre a planificação, destacando a qualidade de participação de comunidades locais e dos grupos de interesse do distrito (Machava, 2011). Deste modo, o Ministério da Planificação e Desenvolvimento (MPD, 2011), refere que antes da submissão do pedido de empréstimo para a tomada de decisão pelo Conselho Consultivo Distrital, a Comissão Técnica de Avaliação de Projectos deverá proceder a análise e avaliação do pedido e produzir uma informação proposta com um parecerclaro, a ser submetido ao Conselho Consultivo Distrital, que em termos gerais comporta: A Análise dos Documentos; A Análise da Viabilidade do Pedido; A Análise da Relevância e do Impacto do Projecto para as Comunidades; A Análise do Risco. Porém, no que concerne aos CCL, muitos estudos defendem que maior parte dos membros que constituem estes conselhos apresentam défices de capacidades institucionais, uma vez que grande percentagem desconhece os instrumentos normativos que envolvem o seu funcionamento, há um fraco envolvimento na monitoria e controlo da implementação do FDD. Situação agudizada pelo facto de os membros da CCL serem indicados com base na confiança individual e política, contraindo as orientações metodológicas sobre a execução do FDD, na medida em que os membros devem ser escolhidos numa assembleia popular pelas comunidades. Outro aspecto, relacionado a este é a falta de capacitação dos mesmos em matéria de gestão de programas e planos de desenvolvimento local. Levanta-se ainda, um conflito de interesse na gestão e acesso ao fundo entre os beneficiários e os membros do CCL, na medida em que estes últimos também são beneficiários do FDD (Lauter, 2014). Em todo caso, é o Conselho Consultivo Distrital que aprecia e toma a decisão (aprovação ou não) sobre os pedidos de empréstimo submetidos, verifica a consistência dos projectos com os Planos Estratégicos de Desenvolvimento do Distrito e faz o seu acompanhamento permanente (Ministério da Planificação e Desenvolvimento, 2011). Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 37 2.4.3.2. O Presidente do Conselho Consultivo Distrital ou Local De acordo com as alíneas a), b), c), d) e e) do número 1 do Artigo 10, Capítulo II do Decreto nº 90/2009, de 15 de Dezembro, determina que compete ao Presidente do Fundo: a) Convocar e Presidir as Sessões do Conselho Consultivo Distrital; b) Celebrar Contratos com os Beneficiários Cujos Projectos Foram Aprovados pelo Conselho Consultivo Distrital; c) Submeter à Aprovação do Conselho Consultivo Distrital os Actos Relacionados com o Fundo Distrital de Desenvolvimento; d) Designar o Chefe da Comissão Técnica de Avaliação de Projectos; e) Representar o Fundo, Activa e Passivamente, Podendo, por Si ou Atraves de Representantes, praticar os Actos Previstos no Decreto nº 90/2009, de 15 de Dezembro. Entretanto, o Presidente do Fundo ou Conselho Consultivo Distrital pode convidar entidades colectivas ou individuais a participar nas sessões do Conselho Consultivo Distrital sempre que a natureza da matéria o justificar (Número 2 do Artigo 10, Capítulo II do Decreto nº 90/2009, de 15 de Dezembro). 2.4.3.3. A Comissão Técnica de Avaliação de Projectos Segundo o número 3 do Artigo 11, Capítulo II do Decreto nº 90/2009, de 15 de Dezembro, a Comissão Técnica de Avaliação de Projecto é a equipa técnica distrital designada pelo Conselho Consultivo Distrital com função de assegurar o funcionamento normal das actividades do Fundo Distrital de Desenvolvimento, nomeadamente: Elaborar e Submeter à Aprovação do Conselho Consultivo Distrital o Programa Anual de Actividades e o Respectivo Orçamento; Analisar, Avaliar e Emitir Parecer sobre os Pedidos de Financiamento, Previamente Apreciados a Nível dos Conselhos Consultivos de Localidade e Posto Administrativo, Submetendo-os à Aprovação Conselho Consultivo Distrital; Assegurar a Gestão Administrativa, Financeira e Técnica do Fundo Distrital de Desenvolvimento; Organizar os Processos e o Cadastro dos Beneficiários do Fundo Distrital de Desenvolvimento; Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 38 Elaborar e Submeter à Aprovoção do Conselho Consultivo Distrital os Relatórios de Actividades e de Contas; Realizar os Actos de Gestão Corrente Ligados ao Funcionamento Regular do Fundo Distrital de Desenvolvimento; Executar as Deliberações Tomadas pelo Conselho Consultivo Distrital; Exercer Qualquer Outra Função ou Tarefa de que seja Incunbido nos Termos da Lei. Com isso, o Ministério da Planificação e Desenvolvimento (MPD, 2011) refere que a Comissão Técnica de Avaliação de Projectos é a unidade que tem a responsabilidade de trabalhar directa e constantemente com os proponentes, fornecendo toda a informação necessária para a instrução no processo do pedido de empréstimo e apoiar os proponentes no que for necessário. Deste modo, as tarefas acometidas à Comissão Técnica são as seguintes: Assegurar a Correcta Implementação das Actividades do FDD; Fazer a Divulgação das suas Actividades; Assegurar a Tramitação e Análise dos Pedidos de Empréstimo; Emitir Pareceres a Serem Submetidos ao Conselho Consultivo Distrital; Elaborar os Contratos dos Pedidos de Crédito Aprovados para Assinatura pelos intervenientes no Processo; Garantir o Cumprimento dos Contratos; Fazer o Acompanhamento, Supervisão e Monitoria dos Projectos Financiados; Fazer a Gestão da Carteira de Crédito; Propor Alterações dos Procedimentos Assim como do Manual de Procedimentos; Propor Também a Tomada de Medidas Atempadas em Relação aos Projectos em Risco; Apresentar Regularmente os Relatórios Financeiros, da Carteira de Crédito e da Actividade em Geral. Portanto, de acordo com MPD (2011) compete ainda à Comissão Técnica de Avaliação de Projectos após a recepção dos documentos: Registar a Recepção da Documentação; Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 39 Abrir o Processo Individual do Proponente; Verificar se Toda a Documentação Exigida está completa; Fazer a Verificação da Autenticidade dos Mesmos; Fazer a Análise da Informação e dos Dados Contidos na Documentação. Contudo, uma vez que a implementação de um projecto obedece a um cronograma pré- estabelecido, a tramitação do processo deve ser realizada com rapidez, de forma a não comprometer a sua efectividade. Outro aspecto, a ter em conta neste processo, é o sigilo profissional o qual deve ser observado com todo o rigor. No entanto, verificando-se a falta de alguma documentação, a Comissão Técnica de Avaliação de Projectos deverá solicitar ao proponente a correcção da situação, (Ministério da Planificação e Desenvolvimento, 2011). Março, Fortunato Trabalho de Licenciatura em Contabilidade e Auditoria 40 CAPÍTULO III: METODOLOGIA 3.1. Descrição do Local de Estudo O presente estudo foi realizado na cidade capital da Província de Manica, Cidade de Chimoio localizada na região centro de Moçambique, a cerca de 1.100 km a norte de Maputo, a capital nacional. Chimoio, administrativamente é um município com um governo local eleito, e é também, desde Dezembro de 2013, um distrito dirigido por um administrador. De acordo com o INE (2018), Cidade de Chimoio, com uma área de 174 km² e uma população de 372 821 habitantes em 2017, a cidade de Chimoio possui 33 bairros, nomeadamente, Bairro I, Bairro II, Bairro III, Bairro IV, Centro Hípico, Nhamadjessa, Agostinho Neto, Nhamatsane, 25 de Junho, Chissui, Hombwa, Eduardo Mondlane, 3 de Fevereiro, Tranga-Passo, Musandivundze, Chinfura, Círculo Mudzingadzi, Josina Machel, 16 de Junho, 7 de Setembro, Bloco 9, Vila Nova, Herois Moçambicanos, 1º de Maio, 7 de Abril, Nhauriri, Popular da Textáfrica, Francisco Manyanga, Nhamahonha, Sitanha, Mudzingadzi, Fepom (Bairro 5) e Chwangua. O Fundo de Desenvolvimento Distrital beneficiou muitos projectos em Chimoio, porém até ao momento não se nota a contribuição efectiva destes projectos no desenvolvimento da comunidade. Com isso, o presente estudo foi realizado concretamente no Governo do Distrito de Chimoio, por estes reunir condições para o desenvolvimento deste trabalho. 3.1.1. Planeamento