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Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 191˧ Educação Inclusiva: Processos de Intervenção, Recursos Pedagógicos e Metodológicos. Registros dos Atendimentos que são Proporcionados em Classes de Recursos ou em Instituições de Educação Especial SEÇÃO 1 - DIFERENCIAR PARA INCLUIR OU EXCLUIR? COMO E QUANDO INCLUIR? SEÇÃO 2 - A ESCOLA DOS DIFERENTES OU A ESCOLA DAS DIFERENÇAS? SEÇÃO 3 - AVALIAÇÃO MULTIDISCIPLINAR: DIAGNÓSTICO SEGURO NOS PROCESSOS DE INTERVENÇÃO SEÇÃO 4 - A PEDAGOGIA DAS DIFERENÇAS E DA IGUALDADE: PROCESSOS METODOLÓGICOS, RECURSOS PEDAGÓGICOS E AVALIAÇÃO PROCESSUAL SEÇÃO 5 - REGISTROS DOS ATENDIMENTOS EM CLASSES DE RECURSOS OU INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO ESPECIAL SEÇÃO 6 - INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO ESPECIAL PARA QUEM? 6 Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 192˧ SEÇÃO 1 - DIFERENCIAR PARA INCLUIR OU EXCLUIR? COMO E QUANDO INCLUIR? “Nas escolas abertas à diversidade, os alunos são respeitados e reconhecidos nas suas diferenças”. MANTOAN A escola é um local onde são transmitidos e apreendidos os instrumentos conceituais necessários para a compreensão da realidade. Como instituição social, a escola é parte de um sistema mais amplo e complexo. Construir uma Escola Inclusiva é quebrar o velho paradigma e construir novos paradigmas, que priorizem uma escola para todos, que garanta a igualdade de oportunidade, independentemente, das características individuais, indo ao encontro da diversidade, existente em um país multicultural como o Brasil, mostrando uma nova forma de ver o papel da escola e o conceito de deficiência. Tudo isso começou a ser bastante discutido após a realização de dois eventos institucionais que resultaram nos seguintes documentos: a Declaração de Jomtien, em 1990, na Tailândia, e a Declaração de Salamanca, em 1994, na Espanha. A partir de então, começaram as reflexões e os questionamentos sobre as mudanças educacionais necessárias, para efetivar a proposta da Educação Inclusiva. O Brasil, signatários desses documentos, fez a opção de construir um Sistema Educacional Inclusivo e não dispensou forças e esforços, gradativos, para concretizar essa proposta. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 193˧ A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido muito distorcido, pois é um movimento muito polemizado pelos mais diversos segmentos educacionais e sociais. No entanto, inserir alunos com déficits de toda ordem, permanentes ou temporários, mais graves ou menos severos, no ensino regular, nada mais é do que garantir o Direito de Todos à Educação – é assim que diz a Constituição (MANTOAN, 1998). A Educação Inclusiva propõe a matrícula de todas as crianças na Rede Regular de Ensino e, com isso, faz com que essas instituições tenham o dever de promover um ensino de qualidade, fomentando assim uma pedagogia na qual a criança é o centro. O objetivo é que todos tenham a oportunidade de receber educação de qualidade, inclusive, os alunos com necessidades educacionais especiais. O que sustenta a luta pela inclusão é a prioridade na qualidade de ensino, nas escolas públicas e privadas. Elas precisam estar aptas a responder às necessidades de cada um, de acordo com suas deficiências, para que não haja exclusão, isto é, caindo novamente, nas teias da educação especial e sua modalidade de exclusão. Sawaia (2002) salienta que a sociedade exclui para incluir e esta transmutação é condição da ordem social desigual, o que implica o caráter ilusório da inclusão. Portanto, a qualidade do ensino regular tem que ser prioridade e ser assumida pelos profissionais da educação, como compromisso de todos. Enfaticamente, Mantoan (1998) sublinha: O aluno da escola inclusiva é outro sujeito, não tem uma identidade fixa, permanente, essencial. Esse aluno engloba um conjunto diversificado de identidades, diante de um eu que não é sempre o mesmo, seguro e coerente, mas um eu cambiante, com cada um dos quais podemos nos confrontar e nos identificar temporariamente. Assim, como uma palavra não coincide com a mesma coisa que representa ou com o seu conceito, o sujeito não se confunde com a sua identidade. Acrescenta Mantoan (1998), que um ensino de qualidade, não exclui, não categoriza os alunos em grupos, arbitrariamente, definidos por perfis de aproveitamento escolar e por avaliações padronizadas e que Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 194˧ não admitem a dicotomia entre educação regular e especial. As escolas para todos são Escolas Inclusivas, em que todos os alunos estudam juntos, em salas de aula de ensino regular. Esses ambientes educativos desafiam as possibilidades de aprendizagem de todos os alunos e as estratégias de trabalho pedagógico são adequadas às habilidades e necessidades de todos. A diferenciação para incluir como saída para enfrentar as ciladas da inclusão está se impondo aos poucos e cada vez mais se destacando e promovendo, a inclusão total. Tal processo de diferenciação implica a quebra de barreiras físicas, atitudinais, comunicacionais, que impedem algumas pessoas em certas situações e circunstâncias de conviverem, cooperarem, estarem com todos, participando, compartilhando com os demais da vida social, escolar, familiar, laboral, como sujeitos de direitos e de deveres comuns a todos. Ao diferenciarmos para incluir, estamos reconhecendo o sentido multiplicativo e incomensurável da diferença, que vaza e não permite contenções, porque está se diferenciando sempre, interna e externamente, em cada sujeito. Enfrentar as ciladas da inclusão é reagir contra os valores da sociedade dominante e rejeitar o pluralismo, entendido como uma incorporação da diferença, pela mera aceitação do outro, sem conflitos e sem confronto. A inclusão desestabiliza a diferença tolerada e Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 195˧ coloca em xeque a sua produção social, como um valor que marginaliza e discrimina. Os que se envolvem na defesa dos preceitos inclusivos precisam estar atentos ao sentido da diferença como padrão produzido pelos que procuram se diferenciar, cada vez mais, para manter a estabilidade de sua identificação ou diferença. Há muitas formas de contribuir para que se confirme o sentido desestabilizante da diferença, no qual a inclusão se fundamenta, para que possamos continuar a progredir na direção de uma sociedade, verdadeiramente, democrática. Deslizes podem ocorrer no entendimento do direito à diferença, com base no que ela significa, e durante os processos de diferenciação surgem os problemas e os caminhos equivocados. Os processos de diferenciação precisam ser cuidadosamente observados, para que, na intenção de acertar, as escolas acabem se perdendo e caindo em armadilhas difíceis de escapar. Diferenciar para incluir é possível, quando a aluno ou beneficiário de uma ação afirmativa, qualquer, estiver no gozo do direito de escolha ou não dessa diferenciação. Um exemplo desse direito é o aluno que pode optar pelo lugar que ocupará em uma sala de aula, quando usa a cadeira de rodas. Ele não é obrigado a se sujeitar à imposição de sentar-se sempre à frente de todos, em um lugar especial, definido por especialistas, se sua turma de colegas está localizada mais ao fundo. Um aluno cego ou com baixa visão, que é o único a usar um computador na sala de aula, não está sendo diferenciado e excluído, dos seus colegas, se o computador o faz participar das aulas com autonomia e independência, por meio de um leitor de tela, por exemplo. Ele também tem o direito de estudar os conteúdos escolares em BRAILLE, ampliados na fonte e essas diferenciações são aceitáveis, porque, não são recursos que o discriminarão, em sala de aula. Nos exemplos de diferenciações citados, que envolvem inclusão nos processoseducativos, estão resguardados os direitos à igualdade, de estudar e compartilhar conhecimentos com os colegas de turma, é à diferença, que assegura ao aluno equipamentos, apoio da Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 196˧ tecnologia na sala de aula e outros suportes e que lhe faculta a liberdade de escolhê-los, de modo que se sinta melhor assistido, para participar das aulas. Muitos poderão entender que essas diferenciações são para incluir, pois do contrário os alunos seriam relegados pela escola, por falta de atenção a suas necessidades. Ocorre que tais programas, por restringirem conteúdos e atividades escolares, são considerados discriminatórios e excludentes e atentam para a liberdade do estudante aceitá-las ou não, no período de aula. Na boa vontade de “customizar” o processo educativo, de modo que se ajuste ao feitio de cada um, a exclusão se manifesta, embora, estejamos pretendendo o contrário. Uma sociedade inclusiva é possível e está a caminho. Os avanços nessa direção são evidentes e resultantes de conquistas que os tornam irreversíveis. Nosso compromisso como educadores do século 21 reveste-se da responsabilidade de concretizar uma pedagogia que responda aos anseios e necessidades desse novo tempo. MANTOAN (2013). Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 197˧ SEÇÃO 2 - A ESCOLA DOS DIFERENTES OU A ESCOLA DAS DIFERENÇAS? Vamos entender essa diferença? A Educação Inclusiva é uma educação de qualidade direcionada a todos os alunos da comunidade escolar. No âmago dos seus pressupostos sugere-se que, ao conviver com as diversidades, todos os integrantes da comunidade escolar têm mais benefícios do que perdas, mesmo que, inicialmente, esse ambiente seja discriminatório ou excludente, pois, ao interagir com as diferenças, pode-se instituir a respeitabilidade mútua. Entretanto, o aluno com deficiência não deve apenas ser inserido na escola, mas fazer parte de uma comunidade escolar, que aceite e lute pela Inclusão Escolar e consequentemente, pela Inclusão Social. A Educação Inclusiva é mais do que a retirada dos obstáculos que impedem todos os alunos de frequentarem a escola regular. É, antes de tudo, um processo dinâmico, sem término, já que não é um Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 198˧ mero estado de mudança, mas um Processo de Reestruturação Educacional, tanto no âmbito organizacional, quanto no âmbito pedagógico. Na visão de Peterson (2006), é de extrema importância a formação do “educador geral” e do “educador especial” para a eficiência dos programas de “inclusão colaborativa” a todo Sistema de Ensino. No programa de inclusão colaborativa, tanto os educadores de sala regular, quanto os educadores especiais, trabalham de forma cooperativa, com a participação de uma equipe interdisciplinar, alunos, famílias e agências comunitárias. Segundo Peterson (2006), para a eficácia de programas que possam de fato incluir pessoas com deficiência à rede de ensino, deve-se garantir a formação do especialista em educação especial, tendo em vista que os professores de educação especial totalmente qualificados são imprescindíveis para a efetiva implementação de programas de inclusão para alunos com deficiência. Libâneo, Oliveira e Toschi (2009), apontam que o cenário atual de constantes introduções de reformas educativas não é algo, exclusivamente, do sistema educacional brasileiro, mas uma tendência internacional. O objetivo principal dessas reformas é a busca da qualidade para o sistema educacional, por meio das mudanças: nos currículos, na gestão dos sistemas, na avaliação dos sistemas educacionais e na profissionalização do professor. O conceito da Educação Inclusiva, sob a ótica da formação de conceitos de Vigostky, parece-nos um termo em processo de significações, portanto, em construção social, imerso em práticas discursivas tendendo a se estabilizar. O mesmo comparativo podemos fazer com relação à expressão Educação Especial, concebida como uma modalidade de ensino que permeia [...] todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os serviços e recursos próprios desse atendimento e orienta os alunos e seus professores quanto a sua utilização nas turmas comuns do ensino regular. (BRASIL, 2008). Nessa compreensão de Educação Inclusiva, a escola tem papel fundamental para a construção de uma sociedade inclusiva. E, para Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 199˧ isso, o que de fato o sistema educacional necessita, além de uma política educacional comprometida com a qualidade de ensino, é de um profissional bem formado, em todas as modalidades de ensino. Esse profissional não deve apenas ter acesso à informação sobre a Educação Inclusiva, mas que seja um sujeito histórico e transformador de sua prática pedagógica. Um profissional que reflita sobre o seu papel como educador e seja capaz de perceber quando suas atitudes começam a se cristalizar, para assim, poder mudá-las. Um profissional aberto a tais mudanças são as maiores premissas para a efetivação de qualquer prática educativa inclusiva. Segundo Mantoan (1998), no contexto da Educação Inclusiva, o professor é uma referência para o aluno e não apenas um mero instrutor, acentuando-se a importância de seu papel, tanto na construção do conhecimento, como na formação de atitudes e valores do futuro cidadão. Em decorrência, a formação continuada vai além dos aspectos instrumentais de ensino. Entende-se que os professores, como os seus alunos, não aprendem no vazio. A escola, para a maioria das crianças brasileiras, é o único espaço de acesso aos conhecimentos universais e sistematizados, ou seja, é o Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 200˧ lugar que vai lhes proporcionar condições de se desenvolver e de se tornar um cidadão, isto é, alguém com identidade social e cultural. Melhorar a qualidade do ensino é oferecer melhores oportunidades para formar gerações, mais preparadas, para viver a vida na sua plenitude, livremente, sem preconceitos e sem barreiras. Não podemos contradizer, nem mesmo contemporizar soluções, ainda que o preço que tenhamos que pagar seja bem alto, já que nunca será tão alto, quanto o resgate de uma vida escolar marginalizada, por uma evasão. É preciso fazer DIFERENTE! Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 201˧ SEÇÃO 3 - AVALIAÇÃO MULTIDISCIPLINAR: DIAGNÓSTICO SEGURO NOS PROCESSOS DE INTERVENÇÃO Vamos conhecer a práxis da Avaliação Multidisciplinar? A busca por um Sistema Educacional Inclusivo tem impulsionado a descoberta de caminhos e práticas que concretizem o ideal de igualdade de acesso, permanência e aprendizagem a todos os alunos, que apresentam necessidades educacionais especiais, no espaço escolar. Os serviços e profissionais de apoio, são apontados como alternativas favoráveis à efetivação desse princípio, tendo em vista a escolarização em classe comum. Partindo-se da hipótese de que tais serviços de equipes multiprofissionais, quando existentes nas redes de ensino, são fragmentados e desarticulados, dada a pouca experiência que se tem com esse tipo de suporte na realidade brasileira. O cenário que observamos, hoje, é que o trabalho das equipes normalmente inclui profissionais que atuam individualmente, distantes do ideal de uma equipe integrada e colaborativa, que tem como objetivo comum atender às necessidades dos alunos e seus familiares. Mendes (2008) retrata a tradição na educação brasileira de encaminhar os alunos, que apresentavam dificuldades no percurso escolar, Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 202˧ para especialistas e esperar por intervenções fora da sala de aula, como alternativa, pararesolver problemas escolares. Como consequência dessa condução e com o aumento significativo na demanda de crianças, com problemas de aprendizagem na escola, tornou-se inviável atender toda essa demanda. Desencadeou-se, assim, um processo de reflexão e mudança na atuação de especialistas no contexto escolar, trazendo para dentro da escola as discussões sobre fracasso escolar, modificando-se o campo de atuação desses especialistas - da clínica para a escola - segundo o entendimento de que “esse profissional atuando in loco estaria reconhecendo a importância da parceria e do apoio ao professor na solução dos problemas escolares (MENDES, 2008). A orientação para mudança na prática desses profissionais, atuando na escola, é confirmada, por exemplo, nas diretrizes do Conselho Regional de Fonoaudiologia - CRF, (SÃO PAULO, 2010), este orienta que a atuação do fonoaudiólogo, em contexto escolar, seja em conjunto com o professor, na busca por intervenções que contemplem todos os alunos, Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 203˧ modificando a expectativa, sobre o atendimento clínico, que passa a ser considerado como mais um componente e não como único responsável pelo fracasso ou pelo sucesso escolar dos alunos. Essa concepção, também, é observada nas Referências Técnicas para Atuação de Psicólogos na Educação Básica do Conselho Federal de Psicologia (CFP), com a proposição de que a atuação desse especialista, no contexto educacional, seja permeada por reflexões que auxiliem na superação do mecanismo de culpabilização dos alunos e seus familiares pelas dificuldades encontradas, durante o processo de escolarização (BRASÍLIA, 2013). Os pressupostos dos Subsídios para Atuação de Assistentes Sociais na Educação - CFSS (BRASÍLIA, 2013), por sua vez, propõe o trabalho desse profissional do Serviço Social, direcionado para uma educação emancipadora, não se restringindo apenas às abordagens individuais, envolvendo, também, ações junto às famílias, aos professores, aos gestores e aos funcionários da escola. Assim, a atuação do assistente social na educação deve priorizar a garantia do acesso e permanência de todos os alunos na escola No Brasil a proposta de atender o aluno, em serviços paralelos aos da sala de aula, está contida na Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, para o Atendimento Educacional Especializado. Nesse modelo o aluno é retirado da sala de aula ou retorna no período contrário ao da sala de aula regular e recebe atendimentos complementares a sua escolarização, individualmente ou em pequenos grupos, com especialistas em Educação Especial, que tem como função, minimizar as desvantagens escolares, que esses alunos possam apresentar, na tentativa de melhorar o desempenho do aluno, para que ele consiga atingir o nível de aprendizagem da sala de aula e do ano em que está matriculado. É uma prática que merece ser refletida para que, primeiramente, o aluno não seja o único responsabilizado pelas suas dificuldades, em segundo, para que não recaia, exclusivamente, sobre o Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 204˧ especialista a responsabilidade pela aprendizagem desses alunos e em terceiro, cabe analisar a real potencialidade que ações isoladas, meramente remediadas, exercem sobre as mudanças necessárias nas práticas pedagógicas, em sala de aula e na escola. Nesse sentido, faz-se necessário "o entendimento do lócus" da escola como lugar coletivo de aprendizagem, para além da concepção de saúde, não como doença, mas como qualidade nas relações, nas aprendizagens, no ensino ofertado, enfim, na Educação para Todos (SÃO PAULO, 2010). Defende-se aqui que todos os alunos têm direito aos atendimentos que necessitarem, não descartando a importância do atendimento clínico e dos atendimentos individuais, para o desenvolvimento e para a qualidade de vida das pessoas. Entretanto, é preciso cuidado ao priorizar esses atendimentos na escola, para que, o uso dessa prática não reforce a concepção de que, ao atender os alunos individualmente, suas necessidades escolares serão sanadas, como se o aluno precisasse ser "tratado, reabilitado e capacitado para se adaptar a sociedade como ela é" E nesse caso, adaptar-se à sala de aula, como se ela e a escola, não precisassem mudar. (PICOLLO, 2011). Ao estudar a atuação de psicólogos em uma rede pública de educação, Souza (2010) apresenta algumas considerações que, se ampliadas para o contexto da equipe, aqui estudada, conferem-lhe veracidade. É preciso considerar que há uma diversidade nos modos de compreender a instituição escolar e as relações que nela se dão, pois verificou-se que existem psicólogos que defendem que a tônica do fracasso escolar é de responsabilidade da criança, ou seja, buscam explicações e justificativas no mundo interno da criança, nos problemas familiares, na carência cultural e em outros fatores, acabando por excluir a escola deste processo. Compreendemos que essa contradição pode constituir-se como um exemplo do momento de transição ou seja, pode-se notar uma tentativa de se construir práticas inspiradas na Psicologia Escolar e Educacional em uma perspectiva crítica, convivendo ao lado de práticas que revelam elementos que ainda estão Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 205˧ intimamente ligados a uma intervenção não-crítica. (SOUSA, 2010, p. 73). Na escola, o Gestor Escolar, deve assumir sua função fundamental no acompanhamento do trabalho multiprofissional, em conjunto, e fazer a leitura da execução das soluções propostas para a solução dos problemas enfrentados pela escola, os quais se espera, não seja feita de maneira isolada, imposta, mas definida em conjunto, com a participação dos demais profissionais pertencentes a esse espaço, de maneira que sejam capacitados e fortalecidos, para que além de discutirem os problemas que enfrentam, possam compreender e modificar as situações que causaram tais problemas. Glat et al. (2006) ressaltam que, mesmo considerando que o atendimento a pessoas com deficiências, na maioria dos casos, pressupõe um trabalho de natureza multidisciplinar, verifica-se, com frequência, uma fragmentação dos serviços, com cada profissional considerando sua área, prioritária, até quando atuam no mesmo espaço institucional. A equipe multidisciplinar pode ser definida como um grupo de pessoas com contribuições distintas, com um método compartilhado frente a um objetivo comum. Assim, cada membro da equipe assume, claramente, as suas próprias funções, bem como, os interesses comuns do coletivo e todos os membros compartilham as suas responsabilidades e seus resultados. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 206˧ Contudo, a existência de uma equipe multidisciplinar ou multiprofissional não garante que o trabalho desenvolvido, seja integrado ou interdisciplinar, pois não basta que um grupo de profissionais se reúna para discutir um caso, cada um apresentando sua visão e o tipo de atendimento a ser prestado ao cliente (GLAT et al., 2006). De acordo com os autores, para que se possa causar um impacto real no desenvolvimento do indivíduo, é preciso que, a partir dos diferentes olhares e avaliações sobre o caso, seja definida uma estratégia de atendimento integrada onde sejam estabelecidas, conjuntamente, as prioridades terapêuticas e educacionais. Machado e Almeida (2010) observam que, no ensino colaborativo, as estratégias desenvolvidas conjuntamente tem potencial para melhorar a qualidade do ensino regular. Os pesquisadores sublinham que o ensino colaborativo, do ponto de vista dos envolvidos, possibilita a reflexão da prática pedagógica, pela professora, e torna-se importante considerar a implementação de estratégias colaborativas,em futuras pesquisas, as quais poderão, por sua vez, subsidiar as Políticas Públicas. Por fim, destaca-se aqui a importância do enfoque multidisciplinar e colaborativo na análise e na construção de uma educação efetivamente inclusiva, em que os envolvidos assumam sua responsabilidade e cultivem o respeito e a cooperação frente aos colegas, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação, diante das complexas situações encontradas no sistema educacional atual e que, dificilmente, seriam desenvolvidas isoladamente. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 207˧ SEÇÃO 4 - A PEDAGOGIA DAS DIFERENÇAS E DA IGUALDADE: PROCESSOS METODOLÓGICOS, RECURSOS PEDAGÓGICOS E AVALIAÇÃO PROCESSUAL Vamos entender o que é Tecnologia Assistiva, termo que aparece nas legislações estudadas? A Tecnologia Assistiva é uma expressão utilizada para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e, consequentemente, promover vida independente e inclusão. A Tecnologia Assistiva deve ser compreendida como resolução de problemas funcionais, em uma perspectiva de desenvolvimento das potencialidades humanas, valorização de desejos, habilidades, expectativas positivas e da qualidade de vida, as quais incluem recursos de comunicação alternativa, de acessibilidade ao computador, de atividades de vida diárias, de orientação e mobilidade, de adequação postural, de adaptação de veículos, órteses e próteses, entre outros. (Brasil, 2006). Nesta definição destacamos que a Tecnologia Assistiva é composta de recursos e serviços: Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 208˧ O recurso é o equipamento utilizado pelo aluno, que lhe permite ou favorece o desempenho de uma tarefa. O serviço de tecnologia é aquele que buscará resolver os problemas funcionais do aluno, no espaço da escola, encontrando alternativas para que ele participe e atue, positivamente, nas várias atividades neste contexto. O conceito da Tecnologia Assistiva significa “resolução de problemas funcionais”. Para implementação desta prática no contexto educacional, necessitamos de criatividade e disposição de encontrarmos, junto com o aluno, alternativas possíveis que visam vencer as barreiras que o impedem de estar incluído, em todos os espaços e momentos, da rotina escolar. No desenvolvimento de sistemas educacionais inclusivos as ajudas técnicas e a tecnologia assistiva, estão inseridas no contexto da educação brasileira, dirigida à promoção da inclusão de todos os alunos na escola. Portanto, o espaço escolar deve ser estruturado como aquele que oferece também, as ajudas técnicas e os serviços de tecnologia assistiva. (BRASIL, 2006). Fazer Tecnologia Assistiva na Escola é: Buscar, com criatividade, uma alternativa para que o aluno realize o que deseja ou precisa. Encontrar uma estratégia para que ele possa fazer de outro jeito. Valorizar o seu jeito de fazer e aumentar suas capacidades de ação e interação, a partir de suas habilidades. Conhecer e criar novas alternativas para a comunicação, escrita, mobilidade, leitura, brincadeiras, artes, utilização de materiais escolares e pedagógicos, exploração e produção de temas através do computador, etc. Envolver o aluno ativamente, desafiando-o a experimentar e conhecer, permitindo que construa, individual e coletivamente, novos conhecimentos. Retirar do aluno o papel de espectador e atribuir-lhe a função de ator. Ajudas técnicas é o termo utilizado na legislação brasileira, quando trata de garantir: produtos, instrumentos e equipamentos ou Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 209˧ tecnologias adaptados ou especialmente projetados, para melhorar a funcionalidade da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, favorecendo a autonomia pessoal, total ou assistida. (BRASIL, 2004, Decreto n. 5.296). Ajudas técnicas é, portanto, sinônimo de tecnologia assistiva no que diz respeito aos recursos que promovem funcionalidade de pessoas com deficiência ou com incapacidades, advindas do envelhecimento. É importante ressaltar que a legislação brasileira garante ao cidadão brasileiro com deficiência ajudas técnicas, portanto o professor especializado, sabendo desse direito do aluno, deve ajudá-lo a identificar quais são os recursos necessários para a sua educação, a fim de que ele possa recorrer ao poder público e obter esse benefício. O Decreto n. 3.298 de 20 de dezembro de 1999, cita quais são os recursos garantidos às pessoas com deficiência e entre eles encontramos: Equipamentos, maquinarias e utensílios de trabalho, especialmente, desenhados ou adaptados para uso por pessoa portadora de deficiência; Elementos de mobilidade, cuidado e higiene pessoal necessários para facilitar a autonomia e a segurança da pessoa portadora de deficiência; Elementos especiais para facilitar a comunicação, a informação e a sinalização para pessoa portadora de deficiência; Equipamentos e material pedagógico especial para educação, capacitação e recreação da pessoa portadora de deficiência; Adaptações ambientais e outras que garantam o acesso, a melhoria funcional e a autonomia pessoal. Retomando o tema da implementação da Tecnologia Assistiva na escola, entende-se que Atendimento Educacional Especializado, será àquele que estruturará e disponibilizará o Serviço de Tecnologia Assistiva e os espaços para organização desse serviço, são as Salas de Recursos Multifuncionais. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 210˧ Salas de Recursos Multifuncionais, são espaços da escola onde se realiza o Atendimento Educacional Especializado, para os alunos com necessidades educacionais especiais, por meio de desenvolvimento de estratégias de aprendizagem, centradas em um novo fazer pedagógico que favoreça a construção de conhecimentos pelos alunos, subsidiando-os para que desenvolvam o currículo e participem da vida escolar. (BRASIL, 2006). Nas Salas de Recursos Multifuncionais, destinadas ao Atendimento Especializado na Escola, é que o aluno experimentará várias opções de equipamentos, até encontrar o que melhor se ajusta à sua condição e necessidade. Junto com o professor especializado, aprenderá a utilizar o recurso, tendo por objetivo usufruir ao máximo desta tecnologia. Após identificar que o aluno tem sucesso com a utilização do recurso de Tecnologia Assistiva, o professor especializado, deverá providenciar que este recurso seja transferido para a sala de aula ou permaneça com o aluno, como um material pessoal. As ajudas técnicas e a tecnologia assistiva constituem um campo de ação da Educação Especial que tem por finalidade atender o que é específico dos alunos, com necessidades educacionais especiais, buscando recursos e estratégias que favoreçam seu processo de aprendizagem, habilitando-os funcionalmente, na realização das tarefas escolares. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 211˧ No processo educacional, poderão ser utilizadas nas salas de recursos tanto a tecnologia avançada, quanto os computadores e softwares específicos, como também, recursos de baixa tecnologia, que podem ser obtidos ou confeccionados artesanalmente pelo professor, a partir de materiais que fazem parte do cotidiano escolar. (BRASIL, 2006). Os serviços de Tecnologia Assistiva, são geralmente de característica multidisciplinar e devem envolver profundamente o usuário da tecnologia e sua família, bem como, os profissionais de várias áreas, já envolvidos no atendimento deste aluno. Outros profissionais como os fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e psicólogos, poderão auxiliar os professoresna busca da resolução de dificuldades do aluno com deficiência. Convênios com secretaria da saúde e integração das equipes sempre serão bem-vindos. Outra alternativa, interessante, será o estabelecimento de contatos do professor especializado com os profissionais que já atendem seu aluno, em instituições de reabilitação. Esses profissionais, que conhecem o aluno, poderão compor com a escola, a equipe de Tecnologia Assistiva. Devemos conhecer o aluno, sua história, suas necessidades e desejos, bem como, identificar quais são as necessidades do contexto escolar, incluindo seu professor, seus colegas, os desafios curriculares e as tarefas exigidas no âmbito coletivo da sala de aula e as possíveis barreiras encontradas, que lhe impedem o acesso aos espaços da escola ou ao conhecimento. Em Tecnologia Assistiva aproveitamos aquilo que o aluno consegue fazer e ampliamos esta ação, através da introdução de um recurso. Conhecendo necessidades e habilidades do aluno e tendo objetivos claros a atingir, pesquisamos sobre os recursos disponíveis, para aquisição ou desenvolvemos um projeto para confecção de um recurso personalizado, que atenda aos nossos objetivos. O aluno precisará de um tempo para experimentar, aprender e ele mesmo definir se o resultado vai ao encontro Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 212˧ de suas expectativas e necessidades. Confirmada a eficácia do recurso proposto, devemos fornecê-lo ao aluno ou orientá-lo para a aquisição. Todo o projeto de Tecnologia Assistiva encontra sentido, se o aluno, ao sair da escola, leva consigo o recurso que lhe garante maior habilidade. É importante entendermos que a TA é um recurso do usuário e não pode ficar restrita ao espaço do atendimento especializado. A implementação da TA se dá, de fato, quando o recurso sai com o aluno e fica ao seu serviço, em todos os espaços, onde for útil. A equipe de TA deverá conhecer fontes de financiamento e propor à escola a aquisição dos recursos que venham atender às necessidades de seus alunos, devendo seguir o aluno e acompanhar o seu desenvolvimento no uso da tecnologia. Modificações podem ser necessárias, assim como novos desafios funcionais aparecerão, diariamente, trazendo novos objetivos para intervenção, destes profissionais. Durante todo o processo de avaliação básica, deveremos promover e avaliar os mecanismos existentes para o fortalecimento da equipe que atua no serviço de Tecnologia Assistiva. Neste ponto, valoriza- se a organização do serviço implementado, questões de liderança, trocas efetivas de experiências, objetividade nas ações e resultados obtidos pela equipe. Este item perpassa todos os outros e a ação interdisciplinar, que envolve também o aluno e sua família, é fundamental para que tenhamos um bom resultado na utilização da Tecnologia Assistiva. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 213˧ Vamos entender, agora, o que é o Atendimento Educacional Especializado A regulamentação do Atendimento Educacional Especializado – AEE, foi efetivada pelo Decreto n. 7.611 de 17.11.2011. Já seu artigo primeiro, estabelece que o dever do Estado com a educação das pessoas público alvo da educação especial, será efetivado de acordo, com as seguintes diretrizes: Garantia de um Sistema Educacional Inclusivo em todos os níveis, sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades; Aprendizado ao longo de toda a vida; Não exclusão do sistema educacional geral sob alegação de deficiência; Garantia de ensino fundamental gratuito e compulsório, asseguradas adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individuais; Oferta de apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com vistas a facilitar sua efetiva educação; Adoção de medidas de apoio individualizadas e efetivas, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena; Oferta de Educação Especial, preferencialmente, na Rede Regular de Ensino; e Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 214˧ Apoio técnico e financeiro, pelo Poder Público, às instituições privadas, sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial. O público alvo da educação especial são as pessoas com deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades ou superdotação. No caso dos estudantes surdos e com deficiência auditiva, serão observadas as diretrizes e princípios dispostos no Decreto no 5.626, de 22 de dezembro de 2005. O Atendimento Educacional Especializado – AEE, deve integrar a Proposta Pedagógica da Escola, envolver a participação da família para garantir pleno acesso e a participação dos estudantes, visando atender às necessidades específicas, das pessoas público alvo da educação especial e deve ser realizado em articulação com as demais políticas públicas. São objetivos do Atendimento Educacional Especializado – AEE: Prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular e garantir serviços de apoio especializados, de acordo com as necessidades individuais dos estudantes; Garantir a transversalidade das ações da Educação Especial no Ensino Regular; Fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos, que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e Assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis, etapas e modalidades de ensino. O Governo Federal, segundo estabelece o Decreto, deverá prestar apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino dos Estados, Municípios e Distrito Federal e a instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas, sem fins lucrativos, com a finalidade de ampliar a oferta do Atendimento Educacional Especializado, aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na Rede Pública de Ensino Regular. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 215˧ O apoio técnico e financeiro, contemplará as seguintes ações: Aprimoramento do Atendimento Educacional Especializado já ofertado; Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais; Formação continuada de professores, inclusive para o desenvolvimento da educação bilíngue, para estudantes surdos ou com deficiência auditiva e do ensino do Braille, para estudantes cegos ou com baixa visão; Formação de gestores, educadores e demais profissionais da escola para a Educação na perspectiva da Educação Inclusiva, particularmente na aprendizagem, na participação e na criação de vínculos interpessoais; Adequação arquitetônica de prédios escolares para acessibilidade; Elaboração, produção e distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade; Estruturação de núcleos de acessibilidade nas Instituições Federais de Educação Superior. As Salas de Recursos Multifuncionais são ambientes dotados de equipamentos, mobiliários e materiais didáticos e pedagógicos, para a oferta do Atendimento Educacional Especializado. A produção e a distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade e aprendizagem, incluem materiais didáticos e paradidáticos em Braille, áudio e Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, laptops com sintetizador de voz, softwares para comunicação alternativa e outras ajudas técnicas, que possibilitam o acesso ao currículo. Os núcleos de acessibilidade nas instituições federais de educação superior visam eliminar barreiras físicas, de comunicação e de informação que restringem a participação e o desenvolvimento acadêmico e social de estudantes com deficiência. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 216˧ O Ministério da Educação disciplinará os requisitos, as condições de participação e os procedimentos paraapresentação de demandas para apoio técnico e financeiro, direcionado ao Atendimento Educacional Especializado. O Decreto, assegura, ainda, para efeito da distribuição dos recursos do FUNDEB, o cômputo das matrículas efetivadas na Educação Especial, oferecida por instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, com atuação exclusiva na Educação Especial, conveniadas com o Poder Executivo competente. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, cada escola tem o direito de ter sua própria identidade, e para isso, tem liberdade de elaborar a sua Proposta Pedagógica e o seu Projeto Político-Pedagógico, respeitando-se os pressupostos legais. Portanto, a partir de agora, desenvolveremos nosso trabalho no sentido de exemplificar de que forma poderão ser realizado os Atendimentos Educacionais Especializado - AEE, assegurados, no Decreto que acabamos de estudar, em termos de garantir direitos e especialmente, proporcionar mecanismos possíveis quanto aos aspectos pedagógicos, metodológicos e de recursos necessários para atender, cada uma das deficiências, na sua especificidade. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 217˧ A seguir detalharemos como poderão ser realizados os diversos Atendimentos Educacionais Especializados, aos alunos portadores de necessidades educativas especiais, apenas, como ponto de referência para planejamentos pedagógicos futuros. O Atendimento Educacional Especializado para os Atendimento Educacional Especializado para os Alunos Portadores de Necessidades Educacionais Especiais - Auditivas: Uma Proposta Inclusiva. O trabalho pedagógico realizado com os alunos portadores de necessidades educativas especiais - auditivas, nas escolas comuns, deve ser desenvolvido em um ambiente bilíngue, ou seja, em um espaço que seja utilizada a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e a Língua Portuguesa. Neste caso, é recomendado um, período adicional de horas diárias de estudo, para a execução do Atendimento Educacional Especializado – AEE, que pode ser distribuído, por exemplo, em três momentos didático pedagógicos: Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 218˧ 1) Momento do Atendimento Educacional Especializado em Libras na Escola Comum: em que todos os conhecimentos dos diferentes conteúdos curriculares, diariamente, são explicados em LIBRAS por um professor. 2) Momento do Atendimento Educacional Especializado para o Ensino de Libras, na Escola Comum: no qual os alunos com terão aulas de Libras, favorecendo o conhecimento e a aquisição, principalmente de termos científicos. Este trabalhado é realizado pelo professor ou instrutor de Libras, de acordo com o estágio de desenvolvimento da Língua de Sinais, em que o aluno se encontra. O atendimento deve ser planejado, a partir do diagnóstico do conhecimento, que o aluno tem a respeito da Língua de Sinais. 3) Momento do Atendimento Educacional Especializado para o Ensino da Língua Portuguesa: onde são trabalhadas as especificidades da língua portuguesa, diariamente, à parte das aulas da turma comum, por uma professora de Língua Portuguesa, graduada nesta área, preferencialmente. O atendimento deve ser planejado a partir do diagnóstico do conhecimento que o aluno tem a respeito da Língua Portuguesa. O planejamento do Atendimento Educacional Especializado deve ser elaborado e desenvolvido, conjuntamente, pelos professores que ministram: aulas em Libras, o professor de classe comum e o professor de Língua Portuguesa, para os alunos portadores de necessidades educacionais especiais auditivas. O planejamento coletivo inicia-se com a definição do conteúdo curricular, sugerindo que os professores pesquisem sobre o assunto a ser ensinado. Em seguida, os professores elaboram o plano de ensino e preparam, também, os cadernos de estudos do aluno, nos quais os conteúdos são interligados. No planejamento para as aulas em Libras, há que se fazer o estudo dos termos científicos do conteúdo a ser estudado, nessa língua. Cada termo é estudado, com o objetivo de ampliar e aprofundar o vocabulário do aluno. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 219˧ Na sequência, todos os professores selecionam e elaboram os recursos didáticos, para o Atendimento Educacional Especializado, em Libras e em Língua Portuguesa, respeitando as diferenças entre os alunos portadores de necessidades educativas especiais - auditivas e definindo em que momento didático pedagógico, serão utilizados. O atendimento deve ser planejado a partir do diagnóstico do conhecimento que cada aluno tem a respeito da Língua de Sinais e da Língua Portuguesa. Os alunos integrantes dos AEE, são observados por todos os profissionais que, direta ou indiretamente, trabalham com eles. A observação do desenvolvimento da aprendizagem, deve ser nos seguintes aspectos: sociabilidade, cognição, linguagem (oral, escrita, viso espacial), afetividade, motricidade, aptidões, interesses, habilidades e talentos. Ressaltamos, a necessidade de que as observações iniciais sejam registradas em relatórios individuais, contendo todos os dados colhidos ao longo do processo e demais avaliações, relativas ao desenvolvimento do desempenho de cada aluno. A organização didática dos espaços de aprendizagem utilizados, implica essencialmente no uso de muitas imagens visuais e de todo tipo de referências, que possam colaborar para o aprendizado dos conteúdos curriculares em estudo, na sala de aula comum. Os materiais e os recursos para esse fim, precisam estar presentes na sala de Atendimento Educacional Especializado, por exemplo: mural de avisos e notícias, biblioteca da sala, painéis de gravuras e fotos sobre temas de aula, roteiro de planejamento, fichas de atividades e outros. Os recursos didáticos utilizados na sala de aula comum, para a compreensão dos conteúdos curriculares, são também, utilizados no Atendimento Educacional Especializado em Libras. No decorrer do Atendimento Educacional Especializado em Libras, os alunos se interessam, fazem perguntas, analisam, criticam, fazem analogias, associações diversas entre o que sabem e os novos conhecimentos em estudo. Os professores no decorrer dos trabalhos observa o desenvolvimento que cada aluno apresenta, além da relação de todos os conceitos estudados, organizando a representação deles, em forma de desenhos e gravuras, que ficam no caderno de registro do aluno. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 220˧ O Atendimento Educacional Especializado para os Atendimento Educacional Especializado para os Alunos Portadores de Necessidades Educacionais Especiais - Físicas: Uma Proposta Inclusiva. Inicialmente, vamos observar que o comprometimento da função física pode acontecer quando existe a falta de um membro (amputação), sua má-formação ou deformação (alterações que acometem o sistema muscular e esquelético). Encontraremos, também, decorrentes de alterações funcionais motoras, motivadas por lesões do Sistema Nervoso e, nesses casos, é essencial observar a alteração do tônus muscular (hipertonia, hipotonia, atividades tônicas reflexas, movimentos involuntários e não coordenados. As terminologias “para, mono, tetra, tri e hemi”, diz respeito à determinação da parte do corpo envolvida, significando, respectivamente, “somente os membros inferiores, somente um membro, os quatro membros, três membros ou um lado do corpo”. O documento Salas de Recursos Multifuncionais. Espaço do Atendimento Educacional Especializado, publicado pelo Ministério da Educação afirma que: A deficiência física se refere ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende: o Sistema Osteoarticular, o Sistema Muscular e o Sistema Nervoso. As doenças ou lesõesque afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir grandes Acessando o Portal do Ministério da Educação: AEE – ALUNO SURDEZ – elaborado por Mirlene Ferreira Macedo Damázio. http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_da.pdf http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_da.pdf Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 221˧ limitações físicas de grau e gravidades variáveis, segundo os segmentos corporais afetados e o tipo de lesão ocorrida. (BRASIL, 2006). Na escola encontraremos alunos com diferentes diagnósticos. Portanto, para os professores será necessária a informação sobre os quadros progressivos ou estáveis, alterações ou não da sensibilidade tátil, térmica ou dolorosa e se existem outras complicações associadas como epilepsia ou problemas de saúde que requerem cuidados e medicações (respiratórios, cardiovasculares, etc.), para que essas indicações possam ser observadas durante o planejamento, a execução e na avaliação das atividades propostas. Essas informações auxiliarão o professor especializado a conduzir seu trabalho com o aluno e orientarão o professor da classe comum, sobre questões específicas de cuidados que cada aluno precisa. É preciso distinguir lesões neurológicas não evolutivas, como a paralisia cerebral ou traumas medulares, de outros quadros progressivos como distrofias musculares ou tumores que agridem o Sistema Nervoso. Nos primeiros casos temos uma lesão de característica não evolutiva e as limitações do aluno tendem a diminuir a partir da introdução de recursos e estimulações específicas. Já no segundo caso, existe o aumento progressivo de incapacidades funcionais e os problemas de saúde associados, poderão ser mais frequentes e podem interferir, significativamente, na evolução da aprendizagem do aluno. Algumas vezes, os alunos estarão impedidos de acompanhar as aulas com a regularidade necessária, por motivo de internação hospitalar ou de cuidados de saúde que deverão ser priorizados. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 222˧ Quando o aluno estiver impossibilitado de frequentar a escola comum e os Atendimentos Educacionais Especializados, o professor especializado poderá propor o atendimento educacional hospitalar ou acompanhamento domiciliar, até que esse aluno retorne ao grupo, assim que os problemas de saúde se estabilizem. Sabemos, também, que nem sempre a deficiência física aparece isolada e em muitos casos encontraremos associadas com privações sensoriais (visuais ou auditivas), deficiência mental, autismo etc. e, por isso, o conhecimento destas outras áreas, auxiliará o professor responsável pelo atendimento desse aluno, a entender melhor o quadro apresentado, para estudar e propor o Atendimento Educacional Especializado – AEE, necessário e mais adequado. É importante lembrar de que existe uma associação frequente entre a deficiência física e os problemas de comunicação, como nos caso de alunos com paralisia cerebral. A alteração do tônus muscular, nessas crianças, prejudicará, também, as funções fonoarticulatórias, onde a fala poderá se apresentar alterada ou ausente. O prejuízo na comunicação traz dificuldades na avaliação cognitiva dessa criança, que muitas vezes, é percebida erroneamente como deficiente mental. É preciso estar atento! Nesses casos, o conhecimento e a implementação da Comunicação Aumentativa e Alternativa, no espaço do Atendimento Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 223˧ Educacional Especializado, será extremamente importante para a escolarização deste aluno. Portanto, [...] é necessário que os professores conheçam a diversidade e a complexidade dos diferentes tipos de deficiência física, para definir estratégias de ensino que desenvolvam o potencial do aluno. De acordo com a limitação física apresentada é necessário utilizar recursos didáticos e equipamentos especiais para a sua educação, buscando viabilizar a participação do aluno nas situações práticas vivenciadas no cotidiano escolar, para que o mesmo, com autonomia, possa otimizar suas potencialidades e transformar o ambiente em busca de uma melhor qualidade de vida. (BRASIL, 2006). Para que o aluno portador de necessidades educativas especiais – físicas, possa acessar ao conhecimento escolar e interagir com o ambiente ao qual ele frequenta, faz-se necessário criar as condições adequadas à sua locomoção, comunicação, conforto e segurança. O Atendimento Educacional Especializado – AEE, deverá ser ministrado, preferencialmente, nas escolas do Ensino Regular, que deverá realizar uma seleção de recursos e técnicas adequadas, para cada tipo de comprometimento, no desempenho das atividades escolares. O objetivo é que o aluno tenha um Atendimento Educacional Especializado, capaz de melhorar a sua comunicação e a sua mobilidade. Por esse motivo, o Atendimento Educacional Especializado, faz uso da Tecnologia Assistiva, direcionada à vida escolar do aluno, portador de necessidades educativas especiais - físicas, visando a inclusão escolar, como por exemplo: Uso da Comunicação Aumentativa e Alternativa, para atender as necessidades dos educandos com dificuldades de fala e de escrita. Adequação dos materiais didático pedagógicos às necessidades dos educandos, tais como, engrossadores de lápis, quadro magnético com letras com ímã fixado, tesouras adaptadas, entre outros. Desenvolvimento de projetos em parceria com profissionais da arquitetura, engenharia, técnicos em edificações para promover a acessibilidade arquitetônica. Não é uma categoria, exclusivamente, de responsabilidade dos professores especializados que atuam no AEE, no entanto, são os professores especializados, apoiados pelos Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 224˧ gestores escolares, que levantam as reais necessidades de acessibilidade arquitetônica do prédio escolar. Adequação de recursos da informática: teclado, mouse, ponteira de cabeça, programas especiais, acionadores, entre outros. Uso de mobiliário adequado: os professores especializados devem solicitar à Secretaria de Educação, adequações de mobiliário escolar, conforme especificações de especialistas na área, mesas, cadeiras, quadro, bem como, os recursos de auxílio à mobilidade: cadeiras de rodas, andadores, entre outros. Os professores especializados responsáveis pelo Atendimento Educacional Especializado, tem como função a provisão de recursos para acesso ao conhecimento e ambiente escolar, proporcionando ao aluno, maior qualidade na vida escolar, independência na realização de suas tarefas, ampliação de sua mobilidade, comunicação e habilidades de seu aprendizado. Esses professores, apoiados pelos gestores escolares, estabelecem parcerias essenciais com as outras áreas do conhecimento envolvidas, como: arquitetura, engenharia, terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia, entre outras, para que desenvolvam serviços e recursos adequados para esses alunos. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 225˧ No caso de educandos com graves comprometimentos motores, que necessitam de cuidados na alimentação, na locomoção e no uso de aparelhos ou equipamentos médicos, faz-se necessário, a presença de um acompanhante no período em que o aluno frequenta a classe comum. São esses recursos humanos que possibilitam aos alunos com deficiência física a autonomia, a segurança e a comunicação, para que eles possam ser inseridos em turmas do Ensino Regular. Acessando o Portal do Ministério da Educação: AEE – Deficiência Física. Elaborado por: Carolina R. Schirmer, Nádia Browning, Rita Bersch e Rosângela Machado. http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_df.pdf O Atendimento Educacional Especializado para os Atendimento Educacional Especializadopara os Alunos Portadores de Necessidades Educacionais Especiais - Mentais: Uma Proposta Inclusiva. Atualmente, os alunos com deficiência mental ou intelectual estão incluídos na Rede Regular de Ensino. Esses alunos apresentam o funcionamento intelectual geral, significativamente, abaixo da média, oriundo do período de desenvolvimento, concomitante, com limitações associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade dos indivíduos em responder adequadamente às demandas das sociedades, nos seguintes aspectos: comunicação, cuidados pessoais, habilidades sociais, desempenho na família e comunidade, independência na locomoção, saúde e segurança, desempenho escolar, lazer e trabalho (BRASIL 1994, p. 15 apud ROSA; VITORINO, 2005, p. 10). Na deficiência mental ou intelectual, observa-se limitação da capacidade de aprendizagem do indivíduo e de suas habilidades, inclusive, relativas atividades da vida diária. Há, portanto, um déficit de inteligência conceitual, prática e social. http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_df.pdf Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 226˧ Precisamos ter clareza dos subsídios necessários para a organização e funcionamento de serviços de educação especial, tanto na escola comum quanto nos Atendimentos Educacionais Especializados, que são as seguintes: Inteligência Prática – relativa à habilidade de se manter e de se sustentar como uma pessoa independente nas atividades ordinárias da vida diária, incluindo capacidades como: habilidades sensório- motoras de autocuidado e segurança de desempenho, na comunidade e na vida acadêmica, de trabalho e de lazer, autonomia; Inteligência Social – referente à habilidade para compreender as expectativas sociais e o comportamento de outras pessoas e ao comportamento adequado em situações sociais; Inteligência Conceitual – relativa às capacidades fundamentais da inteligência, envolvendo suas dimensões abstratas. (1995, p. 19 apud ROSA; VITORINO, 2005) Ressaltamos, que a qualidade do Ensino Regular tem que ser prioridade, admitida por todos os profissionais da educação, como um compromisso de todos, porque é [...] o meio mais efetivo para combater as atitudes discriminativas, criando grupos de boas visões, construindo uma sociedade inclusiva e proporcionando educação para todos; além disso, proporcionam uma educação eficiente, para a maioria das crianças e melhoram a eficácia e, em último caso, a relação custo – benefício, de todo o sistema educacional. (UNESCO, 1994). A deficiência mental ou intelectual, na Escola Inclusiva, engendra um desafio peculiar, na medida em que se questionam os próprios limites dessa instituição e suas possibilidades de transformação. Esta, por sua vez, exige a implementação de novas e diferentes formas de trabalho, que se aplicam ao conjunto dos alunos envolvidos no processo, beneficiando-os. Do ponto de vista pedagógico, a construção desse modelo implica transformar a escola, no que diz respeito ao currículo, à avaliação e, principalmente, às atitudes (MANTOAN, 1998). Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 227˧ Quem enfrenta o desafio garante: quando a escola muda de verdade, melhora muito, pois passa a acolher melhor todos os estudantes (até os considerados “normais”). O controle da estimulação proporcionada ao aluno portador de necessidades educativas especiais - mental, segundo Souza e De Rose (2002), enquanto condição para ensino, deve garantir oportunidade de participação ativa, de exploração dos materiais e das alternativas disponíveis. É importante atentar para o uso do tempo pelo professor, em aula expositiva, porque dá margem ao envolvimento do aluno em outras ações, geralmente, incompatíveis com a aula. Os autores indicam a relevância de realizar monitoramento contínuo do desempenho do aluno: propiciar consequências imediatas e diferenciais para as diferentes respostas (oriundas da própria atividade ou da interação social com o professor ou com os colegas). É interessante que o educador gerencie situações dinâmicas e estimulantes, que propiciem condições para que ele possa ir além dos conteúdos já aprendidos, como, por exemplo, o uso dos jogos com esse aluno na educação inclusiva, promovendo assim uma experiência educacional agradável e também, uma nova chance para o aluno aprender de uma maneira lúdica e prazerosa. Vamos abordar, agora, a aprendizagem e importância do jogo, no trabalho pedagógico com alunos portadores de necessidades educativas especiais – mentais, como destaca Antunes (1998): que não existe o ensino sem que ocorra a aprendizagem e que esta não acontece, senão, pela transformação, pela ação facilitadora do professor, no processo de busca pelo conhecimento, que deve sempre partir do aluno. A ideia desse ensino despertado pelo aluno acabou transformando o que se entendia por material pedagógico, e cada estudante, independentemente da idade, cor etc., passou a ser um desafio à competência do professor. O interesse do aluno passou a ser a força que comanda o processo de ensino e aprendizagem, suas experiências e suas descobertas, o que rege seu Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 228˧ progresso e o professor, torna-se um criador de situações estimuladoras e eficazes. É nesse contexto que o jogo ganha um espaço, como ferramenta ideal, para aprendizagem e ajuda a construir novas descobertas, desenvolve, enriquece a personalidade e simboliza um instrumento pedagógico que leva o professor à condição de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem. (ANTUNES, 1998). Ainda, segundo Antunes (1998), os jogos pedagógicos, como instrumentos de uma aprendizagem significativa, precisam ser cuidadosamente planejados. O importante não é a quantidade de jogos oferecidos para os alunos, mas a qualidade dos jogos, que foram pesquisados e planejados para a utilização com eles. O uso dos jogos promove o aprendizado, levando-se em conta que o planejamento seja adequado, refletindo sobre os objetivos que se quer alcançar, como os alunos a serem atendidos, o tempo, as alterações que terão que ser feitas, para rever o planejamento, sempre que se achar necessário, procurando alcançar êxito nas atividades propostas. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 229˧ De acordo com Chinália (2005), é indiscutível a utilidade e a representação dos jogos e brincadeiras no processo de desenvolvimento da criança, além de significarem novas aquisições culturais, sociais, linguísticas e emocionais, durante a vida de uma pessoa. E, especificamente, para a educação de pessoa com deficiência, inclusive a mental ou intelectual, os jogos e brincadeiras, podem assumir um papel extremamente valioso, no que tange ao seu desenvolvimento. A escola inclusiva, trabalhando a diversidade, deve enxergar a pessoa com deficiência mental ou intelectual, assim como toda e qualquer criança que ingressa na escola, a partir de suas possibilidades e não ressaltando suas diferenças. Nesse sentido, é necessário realizar atividades que exigem criatividade, imaginação, abstração, dentre outras capacidades específicas do ser humano, podendo ser desenvolvidas como estratégias de ensino. De fato, os jogos e brincadeiras se constituem como recursos didáticos, podendo conduzir os alunos com deficiência mental ou intelectual à autonomia e independência. O concreto, nesse cenário, é um meio para se chegar a um fim, e não única estratégia viável, dentro do contexto escolar (CHINÁLIA, 2005). Desse modo, para que as escolas se tornem o ideal da aprendizagem, da integração de todos ou da não inclusão de alguns se torne realidade, deve-se quebrar paradigmas, trabalhar todo o contexto do processo educativo. E esperar que, no decorrer dos anos, ainclusão se torne um sucesso. O Atendimento Educacional Especializado aos alunos portadores de necessidades educativas especiais – mentais, existe para que os alunos possam aprender o que é diferente dos conteúdos curriculares do ensino comum e que é necessário, para que possam ultrapassar as barreiras impostas pela deficiência, na construção do conhecimento escolar. O Atendimento Educacional Especializado para esses alunos deve privilegiar o desenvolvimento e a superação de seus limites intelectuais, a pessoa com deficiência mental encontra inúmeras barreiras Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 230˧ nas interações com o meio para assimilar as propriedades físicas do objeto de conhecimento, como por exemplo: cor, forma, textura, tamanho e outras características retiradas diretamente desse objeto, pois apresentam prejuízos no funcionamento, na estruturação e na construção do conhecimento. O objetivo do Atendimento Educacional Especializado é propiciar condições e liberdade para que o aluno possa construir a sua inteligência, dentro do quadro de recursos intelectuais que lhe é disponível, tornando-se agente capaz de produzir significado. O contato direto com os objetos a serem conhecidos, partindo do concreto, ajuda os alunos a tomar consciência de que são capazes de resolver situações problemas. É preciso sempre estimular sua criatividade e a capacidade de conhecer o mundo que o cerca e a si mesmo. O Atendimento Educacional Especializado buscará o conhecimento que permite ao aluno a leitura, a escrita e a quantificação, para possibilitar a produção do saber e preservar sua condição de complemento do Ensino Regular, favorecendo que o aluno possa construir o seu conhecimento, o que é fundamental para que ele consiga alcançar o conhecimento acadêmico. O tempo reservado para esse atendimento, será definido conforme a necessidade de cada aluno e as sessões, acontecerão sempre no horário oposto ao das aulas do Ensino Regular. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 231˧ A avaliação do Atendimento Educacional Especializado, seja a inicial como a final, tem o objetivo de conhecer o ponto de partida e o de chegada do aluno, no processo de conhecimento. A interface entre o Atendimento Educacional Especializado e a escola comum acontecerá, simultaneamente, para que esse esforço de conjunto resulte na busca de soluções que venham beneficiar o aluno portador de necessidades educativas especiais de todas as maneiras possíveis. Lembrando que o envolvimento da família em todo esse processo é fundamental. Acessando o Portal do Ministério da Educação: AEE – Deficiência Mental. Elaborado por: Adriana L. Limaverde Gomes, Anna Costa Fernandes, Cristina Abranches Mota Batista, Dorivaldo Alves Salustiano, Maria Teresa Eglér Mantoan e Rita Vieira de Figueiredo http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dm.pdf O Atendimento Educacional Especializado para os Atendimento Educacional Especializado para os Alunos Portadores de Necessidades Educacionais Especiais - Visuais: Uma Proposta Inclusiva. Os alunos portadores de necessidades educativas especiais – visuais, que utilizarão o Atendimento Educacional Especializado, tem a cegueira como uma alteração grave ou total de uma ou mais das funções elementares da visão que afeta de modo irremediável a capacidade de perceber: cor, tamanho, distância, forma, posição ou movimento em um campo mais ou menos abrangente. Pode ocorrer desde o nascimento (cegueira congênita), ou posteriormente (cegueira adquirida) em decorrência de causas orgânicas ou acidentais. http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dm.pdf Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 232˧ Em alguns casos, a cegueira pode associar-se à perda da audição (surdocegueira) ou a outras deficiências. Muitas vezes, a perda da visão ocasiona a extirpação do globo ocular e a consequente necessidade de uso de próteses oculares, em um dos olhos ou em ambos. Se a falta da visão afetar apenas um dos olhos (visão monocular), o outro assumirá as funções visuais, sem causar transtornos significativos no que diz respeito ao uso satisfatório e eficiente da visão. Os sentidos tem as mesmas características e potencialidades para todas as pessoas. As informações: tátil, auditiva, sinestésica e olfativa, são mais desenvolvidas pelas pessoas cegas, porque, elas recorrem a esses sentidos com mais frequência, para decodificar e guardar na memória as informações. Sem a visão, os outros sentidos passam a receber a informação de forma intermitente, fugidia e fragmentária. O desenvolvimento aguçado da audição, do tato, do olfato e do paladar é resultante da ativação contínua desses sentidos por força da necessidade. Portanto, não é um fenômeno extraordinário ou um efeito compensatório. Os sentidos remanescentes funcionam de forma complementar e não isolada. A audição desempenha um papel relevante na seleção e codificação dos sons, que são significativos e úteis. A habilidade de atribuir significado a um som, sem perceber visualmente, a sua origem é difícil e complexa. A experiência tátil não se limita ao uso das mãos. O olfato e o paladar funcionam, conjuntamente, e são considerados coadjuvantes indispensáveis. O Sistema Háptico é o tato ativo, constituído por componentes cutâneos e sinestésicos, através dos quais impressões, sensações e vibrações detectadas pelo indivíduo são interpretadas pelo cérebro e constituem fontes valiosas de informação. As retas, as curvas, o volume, a rugosidade, a textura, a densidade, as oscilações térmicas e dolorosas, entre outras, são propriedades que geram sensações táteis e imagens mentais, importantes para a comunicação, a estética, a formação de conceitos e de representações mentais. Uma demonstração surpreendente da capacidade de coleta e do processamento de informações pela via do tato é o tadoma, mecanismo de comunicação utilizado por pessoas surdo cegas. Trata-se de uma Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 233˧ comunicação, eminentemente, tátil que permite entender a fala de uma pessoa, ao perceber as vibrações e os movimentos articulatórios dos lábios e maxilares com a mão sobre a face do interlocutor. Cada pessoa desenvolve processos particulares de codificação que formam imagens mentais. A habilidade para compreender, interpretar e assimilar a informação, será ampliada de acordo com a pluralidade das experiências, a variedade e qualidade do material, a clareza, a simplicidade e a forma como o comportamento exploratório é estimulado e desenvolvido. A definição de baixa visão (ambliopia, visão subnormal ou visão residual) é complexa devido à variedade e à intensidade de comprometimentos das funções visuais. Essas funções englobam desde a simples percepção de luz até a redução da acuidade e do campo visual, que interferem ou limitam a execução de tarefas e o desempenho geral. Em muitos casos, observa-se o nistagmo, movimento rápido e involuntário dos olhos, que causa uma redução da acuidade visual e fadiga durante a leitura. É o que se verifica, por exemplo, no albinismo, falta de pigmentação congênita que afeta os olhos e limita a capacidade visual. Uma pessoa com baixa visão apresenta grande oscilação de sua condição visual de acordo com o seu estado emocional, as circunstâncias e a posição em que se encontra, dependendo das condições de iluminação natural ou artificial. A baixa visão traduz-se numa redução do rol de informações que o indivíduo recebe do ambiente, restringindo a grande quantidade de dados que este oferece e que são importantes para a construção do conhecimento sobre o mundo exterior. Em outras palavras, o indivíduo pode ter um conhecimento restrito do que o rodeia. A aprendizagemvisual depende não apenas do olho, mas também da capacidade do cérebro de realizar as suas funções, de capturar, codificar, selecionar e organizar imagens fotografadas pelos olhos. Essas imagens são associadas com outras mensagens sensoriais e armazenadas na memória para serem lembradas mais tarde. Para que ocorra o desenvolvimento da eficiência visual, duas condições precisam estar presentes: Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 234˧ O amadurecimento ou desenvolvimento dos fatores anatômicos e fisiológicos do olho, vias óticas e córtex cerebral. O uso dessas funções, o exercício de ver. Na avaliação funcional da visão considera-se a acuidade visual, o campo visual e o uso eficiente do potencial da visão. A acuidade visual é a distância de um ponto ao outro em uma linha reta por meio da qual um objeto é visto. Pode ser obtida através da utilização de escalas, a partir de um padrão de normalidade da visão. O campo visual é a amplitude e a abrangência do ângulo da visão em que os objetos são focalizados. A funcionalidade ou eficiência da visão é definida em termos da qualidade e do aproveitamento do potencial visual, de acordo com as condições de estimulação e de ativação das funções visuais. Esta peculiaridade explica o fato de alguns alunos, com um resíduo visual equivalente, apresentarem uma notável discrepância no que se refere à desenvoltura e segurança na realização de tarefas, na mobilidade e percepção de estímulos ou obstáculos. Isto significa que a evidência de graves alterações orgânicas que reduzem, significativamente, a acuidade e o campo visual deve ser contextualizada, considerando-se a interferência de fatores emocionais, as condições ambientais e as contingências de vida do indivíduo. A avaliação funcional da visão revela dados quantitativos e qualitativos de observação sobre o nível da consciência visual, a recepção, assimilação, integração e elaboração dos estímulos visuais, bem como, sobre o desempenho e o uso funcional do potencial da visão. No Desempenho Visual na Escola, os professores costumam confundir ou interpretar, erroneamente, algumas atitudes e condutas de alunos com baixa visão que oscilam entre o ver e o não ver. Esses alunos manifestam algumas dificuldades de percepção em determinadas circunstâncias tais como: objetos situados em ambientes mal iluminados, ambiente muito claro ou ensolarado, objetos ou materiais que não proporcionam contraste, objetos e seres em movimento, visão de profundidade, percepção de formas complexas, representação de objetos tridimensionais e tipos impressos ou figuras não condizentes, com o potencial da visão. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 235˧ O trabalho com alunos com baixa visão baseia-se no princípio de estimular a utilização plena do potencial de visão e dos sentidos remanescentes, bem como, na superação de dificuldades e conflitos emocionais. Para isso, é necessário conhecer e identificar, por meio da observação contínua, alguns sinais ou sintomas físicos, característicos e condutas frequentes, como: procurar remover manchas, esfregar excessivamente os olhos, franzir a testa, fechar e cobrir um dos olhos, balançar a cabeça ou movê-la para frente ao olhar para um objeto, próximo ou distante, levantar para ler o que está escrito no quadro negro, em cartazes ou mapas, copiar do quadro negro faltando letras, tendência de trocar palavras e mesclar sílabas, dificuldade na leitura ou em outro trabalho que exija o uso concentrado dos olhos, piscar mais que o habitual, chorar com frequência ou irritar-se com a execução de tarefas, tropeçar ou cambalear diante de pequenos objetos, aproximar livros ou objetos miúdos para bem perto dos olhos, desconforto ou intolerância à claridade. Esses alunos costumam trocar a posição do livro e perder a sequência das linhas em uma página ou mesclar letras semelhantes. Eles demonstram falta de interesse ou dificuldade em participar de jogos que exijam visão de distância. Para que o aluno com baixa visão desenvolva a capacidade de enxergar, o professor deve despertar o seu interesse em utilizar a visão potencial, desenvolver a eficiência visual, estabelecer o conceito de permanência do objeto e facilitar a exploração dirigida e organizada. As atividades realizadas devem proporcionar prazer e motivação, o que leva à intencionalidade, desenvolvendo a iniciativa e a autonomia, que são os objetivos primordiais da estimulação visual. A baixa visão pode ocasionar conflitos emocionais, psicológicos e sociais, que influenciam o desempenho visual, a conduta do aluno e refletem na aprendizagem. Um ambiente de calma, encorajamento e confiança contribuirá, positivamente, para a eficiência na melhor utilização da visão potencial que deve ser explorada e estimulada no ambiente educacional, pois o desempenho visual está relacionado com a aprendizagem. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 236˧ Conhecer o desenvolvimento global do aluno, o diagnóstico, a avaliação funcional da visão, o contexto familiar e social, bem como, as alternativas e os recursos disponíveis, facilitam o planejamento de atividades e a organização do trabalho pedagógico. Como recursos pedagógicos utilizados para os alunos portadores de necessidades educativas especiais - visuais, temos os recursos ou auxílios ópticos, que são lentes de uso especial ou dispositivo formado por um conjunto de lentes, geralmente de alto poder, com o objetivo de magnificar a imagem da retina. Esses recursos são utilizados mediante prescrição e orientação oftalmológica. É importante lembrar que a indicação de recursos ópticos depende de cada caso ou patologia. Por isso, não são todos os indivíduos com baixa visão que os utilizam. Eles pode ser: Recursos ópticos para longe: telescópio: usado para leitura no quadro negro, restringem muito o campo visual; telessistemas, telelupas e lunetas. Recursos ópticos para perto: óculos especiais com lentes de aumento que servem para melhorar a visão de perto (óculos bifocais, lentes esferoprismáticas, lentes monofocais esféricas, sistemas telemicroscópicos). Lupas manuais ou lupas de mesa e de apoio: úteis para ampliar o tamanho de fontes para a leitura, as dimensões de mapas, gráficos, diagramas, figuras etc. Quanto maior a ampliação do tamanho, menor o campo de visão com diminuição da velocidade de leitura e maior fadiga visual. Convém lembrar também que o uso de lentes, lupas, óculos, telescópios representa um ganho valioso em termos de qualidade, conforto e desempenho visual para perto, mas não descarta a necessidade de adaptação de material e de outros cuidados. A utilização de recursos ópticos e não ópticos envolve o trabalho de pedagogia, de psicologia, de orientação e mobilidade e outros que se fizerem necessários. As escolhas e os níveis de adaptação desses recursos em cada caso devem ser definidos a partir da conciliação de inúmeros fatores. Entre eles, destacamos: necessidades específicas, diferenças individuais, faixa etária, preferências, interesses e habilidades que vão determinar as modalidades de adaptações e as atividades mais adequadas. Fundamentos e Metodologia da Educação Especial II 237˧ No Atendimento Educacional Especializado para alunos portadores de necessidades educativas especiais – visuais, podemos utilizar diversos recursos não ópticos, como: Tipos ampliados: ampliação de fontes, de sinais e símbolos gráficos em livros, apostilas, textos avulsos, jogos, agendas, entre outros. Acetato amarelo: diminui a incidência de claridade sobre o papel. Plano inclinado: carteira adaptada, com a mesa inclinada para que o aluno possa realizar as atividades com conforto visual e estabilidade da coluna vertebral. Acessórios: lápis 4B ou 6B, canetas
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