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Nutrição funcional

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www.portaleducacao.com.br 1
PROF: RAQUEL TINOCO Treinamento Funcional | Portal Educação 
NUTRIÇÃO 
FUNcIONal
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Treinamento Funcional | Portal Educação 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.
NUTRIÇÃO 
FUNcIONal
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SUMÁRIO 
 
MÓDULO I 
 
1 INTRODUÇÃO 
1.1 HISTÓRICO 
1.1 NUTRIÇÃO FUNCIONAL X NUTRIÇÃO TRADICIONAL 
1.2 A NUTRIÇÃO FUNCIONAL NA ERA DA NUTRIGENÔMICA 
1.2.1 Perspectivas 
2 BASES FISIOPATOLÓGICAS DA NUTRIÇÃO FUNCIONAL 
2.1 ESTRESSE OXIDATIVO 
2.2 ENVELHECIMENTO 
2.3 FISIOPATOLOGIA DAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES 
2.4 OBESIDADE E INFLAMAÇÃO 
2.5 DISBIOSE INTESTINAL 
2.6 FISIOPATOLOGIA DO CÂNCER 
 
MÓDULO II 
 
3 COMPOSTOS FUNCIONAIS PRESENTES EM ALIMENTOS 
3.1 DEFINIÇÃO 
3.2 PRINCIPAIS COMPOSTOS FUNCIONAIS EM ALIMENTOS 
3.2.1 Polifenóis 
3.2.2 Glicosinolatos 
3.2.3 Carotenoides 
3.2.4 Isoflavonas 
3.2.5 Ácidos graxos ômega-3 
3.2.6 Fibras Solúveis e Insolúveis 
3.2.7 Alil sulfetos 
3.2.8 Lignanas 
3.2.9 Probióticos 
 
 
MÓDULO III 
4 ALIMENTAÇÃO FUNCIONAL E NUTRACÊUTICOS 
4.1 DEFINIÇÃO 
 
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4.2 LEGISLAÇÃO 
5 EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS SOBRE NUTRIÇÃO FUNCIONAL E SAÚDE 
5.1 SAÚDE CARDIOVASCULAR 
5.2 OBESIDADE E INFLAMAÇÃO 
5.3 CÂNCER 
5.4 SAÚDE REPRODUTIVA 
5.5 NUTRIÇÃO FUNCIONAL E ESTÉTICA 
5.6 FUNÇÃO INTESTINAL E DETOXIFICAÇÃO 
 
MÓDULO IV 
 
6 COMO PRATICAR NUTRIÇÃO FUNCIONAL 
6.1 ANAMNESE NUTRICIONAL 
6.2 INTERPRETAÇÃO DE EXAMES BIOQUÍMICOS 
6.3 ELABORAÇÃO DE CARDÁPIO 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
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1 INTRODUÇÃO 
 
1.1 HISTÓRICO 
 
FIGURA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Há mais de 2500 anos, Hipócrates disse a frase: “que o alimento seja 
teu medicamento, e seu medicamento o teu alimento”. No entanto, somente no 
início do século XX a Nutrição emergiu como ciência. As condições históricas 
para a constituição deste campo científico foram acumuladas ao longo da história 
da humanidade, estimuladas com a revolução industrial no século XVIII, e 
desencadeadas entre 1914 e 1945, período entre as duas grandes Guerras 
Mundiais. 
 
A história da Nutrição pode ser dividida em três eras, denominadas de: 
naturalística, químico-analítica e biológica. A era naturalística, delimitada no 
período de 400 a. C. até 1750 d. C., teria sido caracterizada pelo empirismo ou 
observação popular. A era químico-analítica, entre 1750 a 1900, caracterizou-se 
pelas grandes descobertas científicas, particularmente aquelas associadas a 
Lavoisier, considerado o pai da ciência da Nutrição. 
 
 
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Por último, a era biológica, iniciada por volta de 1900, que se caracteriza 
pelas descobertas científicas relacionadas aos nutrientes, ao metabolismo e à 
fisiopatologia nutricional. Nos dias atuais, a Nutrição estaria vivenciando a era 
pós-genômica, constituindo-se uma ciência multidisciplinar, caracterizada pela 
integração das dimensões biológica, social e ambiental. 
 
Embora, portanto, há muitos anos se reconheça os benefícios do 
consumo de substâncias provenientes de alimentos para o tratamento de 
desequilíbrios biológicos e nutricionais, somente na década de 90 a nutrição se 
estabeleceu como maneira dinâmica de abordar, prevenir e tratar desordens 
crônicas complexas por meio da detecção e correção desses desequilíbrios que 
geram doenças. 
 
O ramo da Nutrição que se desenvolveu baseando-se no rastreamento 
a sinais, sintomas e características de cada paciente, relacionando-os a 
situações de carência ou excesso de determinados nutrientes, é hoje chamado 
de Nutrição Funcional. 
 
 
1.2 NUTRIÇÃO FUNCIONAL X NUTRIÇÃO TRADICIONAL 
 
A Nutrição tradicional se preocupa geralmente com a saúde coletiva, 
buscando o estabelecimento de recomendações, as quais, se seguidas por um 
grupo de indivíduos, melhorarão o estado de saúde deste grupo como um todo. 
O modelo de conhecimento adotado geralmente é fragmentado, cartesiano, e 
fraciona o ser humano, desconsiderando a inseparabilidade entre as partes e a 
totalidade do ser. 
 
A Nutrição Funcional, por sua vez, considera a individualidade 
bioquímica do paciente, e, dessa forma, as suas necessidades particulares. A 
Nutrição Funcional considera a interação entre todos os sistemas do corpo, 
incluindo as relações que existem entre o funcionamento físico e aspectos 
emocionais, e possui cinco princípios básicos: 
 
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Individualidade bioquímica 
 
É o conjunto de fatores genéticos que controlam o metabolismo, as 
necessidades nutricionais e a sensibilidade ambiental de cada pessoa. A 
realização de exames laboratoriais, além do exame clínico detalhado, ajuda a 
conhecer a individualidade bioquímica do paciente, sendo fundamental para a 
prescrição de dietas funcionais. 
 
Tratamento centrado no paciente, e não na doença 
 
O foco dos tratamentos convencionais em saúde costuma ser a doença, 
e não o paciente. A Nutrição Funcional considera que o cuidado nutricional não 
deve considerar apenas o diagnóstico, e sim decodificar as mensagens 
expressas pelo paciente segundo as etapas do atendimento, que incluem 
anamnese clínica, psicossocial e econômica, medicamentos utilizados, exames 
bioquímicos e o conhecimento do diagnóstico clínico. 
 
Assim, o atendimento em Nutrição Funcional considera a integralidade 
do ser humano, uma vez que o corpo humano é único, estruturado em órgãos e 
sistemas que se interdependem. 
 
Equilíbrio nutricional e biodisponibilidade de nutrientes 
 
Para que haja otimização da absorção de nutrientes, bem como de seu 
aproveitamento pelas células, torna-se importante à oferta de nutrientes em 
quantidades adequadas e em equilíbrio com todos os outros. É fundamental, 
portanto, conhecer o conceito de biodisponibilidade de nutrientes. 
 
A biodisponibilidade de um nutriente ingerido pode ser definida como sua 
acessibilidade para processos metabólicos e fisiológicos. Ou seja, a eficiência 
com que um componente da dieta é utilizado sistematicamente por meio de vias 
metabólicas normais. A biodisponibilidade é uma resposta da interação entre a 
dieta, o nutriente e o indivíduo, e em níveis fisiológicos pode ter influência para 
 
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o lado benéfico. Por outro lado, pode afetar a natureza e gravidade toxicológica 
devido ao excesso. 
 
São fatores que afetam a biodisponibilidade: concentração do nutriente, 
fatores dietéticos, forma química do nutriente, interação entre nutrientes, 
digestão, transferência, distribuição e armazenamento, condição nutricional e de 
saúde do indivíduo, perdas por excreção e, por fim, o metabolismo e utilização 
biológica do nutriente. 
 
Relações entre fatores fisiológicos 
 
Todas as funções de nosso corpo estão interligadas. A Nutrição 
Funcional considera a inter-relação de todos os processos bioquímicos internos, 
de forma que um influencia no outro, gerando desordens que abrangem os 
diversos sistemas. Hoje sabemos, por exemplo, que disfunções imunológicas 
podem promover doenças cardiovasculares, que desequilíbrios nutricionais 
provocam desequilíbrios hormonais e que exposições ambientais podem 
precipitar síndromes neurológicas como a doença de Parkinson. 
Essa “teia” conduza organização do raciocínio na busca da 
compreensão dos desequilíbrios que estão nas bases funcionais do 
desenvolvimento das condições clínicas, corrigindo a causa, ao invés de apenas 
os sintomas genéricos. 
 
Saúde como vitalidade positiva 
 
A saúde não é meramente a ausência de doenças, e sim o resultado de 
diversas relações entre os sistemas orgânicos, por isso deve-se analisar os 
sinais e sintomas físicos, mentais e emocionais que podem estar nas bases dos 
problemas apresentados. 
 
A Nutracêutica, termo introduzido em 1989 por Stephen DeFelice a partir 
da conjunção dos conceitos de Nutrição e Farmacêutica, se constitui em um 
campo científico cujo objeto de estudo é a investigação dos componentes 
 
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químicos presentes nos alimentos e plantas medicinais e sua influência na 
promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças. 
 
Simultaneamente, também passou a ser difundido o conceito de 
alimento funcional, o qual é definido 
pela Agência Nacional de Vigilância 
Sanitária (ANVISA), órgão do 
Ministério da Saúde, como “O 
alimento ou ingrediente que alegar 
propriedades funcionais ou de saúde 
pode, além de funções nutricionais 
básicas, quando se tratar de 
nutriente, produzir efeitos 
metabólicos e ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro 
para consumo sem supervisão médica”. 
 
Utilizando as propriedades dos alimentos funcionais, os nutricionistas 
atualmente podem elaborar cardápios individualizados, que proporcionem 
equilíbrio de nutrientes, hormônios e neurotransmissores, dentre outros 
componentes regulatórios do metabolismo. Dessa maneira, podem contribuir 
para a prevenção e tratamento de distúrbios como obesidade, diabetes, câncer, 
envelhecimento, osteoporose, doenças cardiovasculares, dentre muitos outros. 
 
 
1.2 A NUTRIÇÃO FUNCIONAL NA ERA DA NUTRIGENÔMICA 
 
A Nutrigenômica tem sido considerada um novo campo científico que 
começou a se constituir dentro da Nutrição a partir dos avanços científicos 
verificados no campo da genética e do mapeamento do genoma humano, 
anunciado nos meios de comunicação em junho de 2000. 
A Nutrigenônica é definida como a ciência que estuda a interação entre 
os nutrientes e os genes humanos. Ou seja, estuda a forma pela qual o DNA e 
o código genético influenciam a determinação das necessidades nutricionais e o 
 
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metabolismo de nutrientes de cada indivíduo. Portanto, parte da premissa de que 
os distintos nutrientes constituintes da dieta desempenham diferentes papéis ou 
funções nutricionais em cada indivíduo, conforme sua herança ou código 
genético. 
 
O termo Nutrigenética, por sua vez, refere-se às interações entre hábitos 
dietéticos e o perfil genético de cada indivíduo. Assim, ela é baseada em 
observações das respostas individuais à determinada modificação na dieta e 
também em hipóteses que estas diferentes respostas sejam associadas à 
presença ou ausência de marcadores biológicos específicos, geralmente 
polimorfismos genéticos, que poderiam, então, predizer a resposta individual à 
dieta. 
 
A Nutrigenética aborda estudos das diferenças entre indivíduos em 
relação à resposta a um nutriente ou uma dieta em particular, enquanto a 
Nutrigenômica estuda as diferenças entre os nutrientes com relação à expressão 
gênica. Mesmo apresentando objetivos imediatos distintos, a expectativa a 
respeito destas duas abordagens é que seja possível identificar uma grande 
variedade de genes cuja expressão possa ser modificada por componentes 
alimentares a fim de serem incorporados em estratégias nutricionais visando 
melhorar a qualidade de vida, otimizar a saúde e prevenir doenças. 
 
1.2.1 Perspectivas 
 
Com o avanço da Nutrigenômica e da Nutrigenética, abre-se a 
perspectiva de prescrição e elaboração de dietas personalizadas de acordo com 
a composição genética individual, ampliando-se as estratégias disponíveis no 
sistema de promoção da saúde e de prevenção e tratamento de doenças como 
diabetes mellitus tipo 2 e obesidade. 
 
Ressalta-se que os achados observacionais já existentes devem ser 
aprofundados com experimentos in vitro e in vivo, cujos resultados demonstrarão 
os mecanismos moleculares responsáveis pelas interações observadas. Além 
 
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disso, ainda que a Nutrigenética já tivesse atingido o patamar de conhecer o real 
papel de cada variante genética sobre a resposta nutricional, a tecnologia para 
a genotipagem de um grande número de genes ainda não está disponível para 
a maioria da população: até o momento, estes métodos são caros demais até 
mesmo para países desenvolvidos. 
 
Futuramente, é provável que os custos diminuam, e espera-se que o 
entendimento da importância da Nutrigenética aumente, de maneira que seja 
possível aplicar o conhecimento que está sendo produzido no momento. Os 
maiores desafios desta nova área de conhecimento podem não ser científicos, 
pois a difusão deste conhecimento é crucial para que o mesmo possa ser 
aplicado com sucesso por nutricionistas e profissionais da área. 
 
Para que a Nutrigenética se torne útil na saúde pública, deve ocorrer o 
desenvolvimento e utilização de ferramentas matemáticas e de bioinformática 
que examinem o impacto combinado de múltiplas variantes genéticas sobre 
parâmetros de saúde, bem como as alterações nessa relação que podem ocorrer 
pelo uso de estratégias dietéticas. 
Assim, para que este conhecimento possa ser correto e efetivamente 
aplicado, fica claro que o caminho a ser trilhado nesta área é bastante longo, e 
a determinação de quais genes é importante em cada população, constituindo 
somente o primeiro passo. Até o momento, não existe nenhum dado publicado 
sobre o papel da Nutrigenética em populações brasileiras, ou mesmo sul-
americanas. 
 
Uma vez que tanto a composição genética como os hábitos alimentares 
são diferentes em nossas populações, estudos na área da Nutrigenética devem 
ser desenvolvidos com a população brasileira, para que este conhecimento 
possa ser aplicado na clínica. Conhecendo o perfil genético individual, 
saberemos quais pacientes responderão melhor a uma dieta específica, o que 
poderá ser aplicado tanto na prevenção, quanto no tratamento de doenças. 
 
 
 
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2 BASES FISIOPATOLÓGICAS DA NUTRIÇÃO FUNCIONAL 
 
 
2.1 ESTRESSE OXIDATIVO 
 
Atualmente existe um grande interesse no estudo dos antioxidantes 
devido, principalmente, às descobertas sobre o efeito dos radicais livres no 
organismo. A oxidação é parte fundamental da vida aeróbica e do nosso 
metabolismo e, assim, os radicais livres são produzidos naturalmente ou por 
alguma disfunção biológica. 
 
Esses radicais livres cujo elétron desemparelhado encontra-se centrado 
nos átomos de oxigênio ou nitrogênio são denominados espécies reativas de 
oxigênio (ERO) ou espécies reativas de nitrogênio (ERN). No organismo, 
encontram-se envolvidos na produção de energia, fagocitose, regulação do 
crescimento celular, sinalização intercelular e síntese de substâncias biológicas 
importantes. No entanto, seu excesso apresenta efeitos prejudiciais, tais como a 
peroxidação dos lipídios de membrana e agressão às proteínas dos tecidos e 
das membranas, às enzimas, carboidratos e DNA. 
Dessa forma, encontram-se relacionados com várias patologias, tais 
como artrite, choque hemorrágico, doenças do coração, catarata, disfunções 
cognitivas, câncer e AIDS, podendo ser a causa ou o fator agravante do quadro 
geral. 
O excesso de radicais livres no organismo é combatido por antioxidantes 
produzidos pelo corpo ou absorvidos da dieta. Antioxidante é qualquer 
substância que, quando presente em baixa concentraçãocomparada à do 
substrato oxidável, regenera o substrato ou previne significativamente a 
oxidação do mesmo. 
 
Os antioxidantes produzidos pelo corpo agem enzimaticamente, a 
exemplo da glutationa peroxidase (GPx), catalase (CAT) e superóxido dismutase 
(SOD) ou, não enzimaticamente a exemplo de glutationa redutase (GSH), 
 
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peptídeos de histidina, proteínas ligadas ao ferro (transferrina e ferritina), ácido 
di-idrolipoico e CoQH2. 
 
Além dos antioxidantes produzidos pelo corpo, o organismo utiliza 
aqueles provenientes da dieta como o a-tocoferol (vitamina E), β-caroteno (pró-
vitamina A), ácido ascórbico (vitamina C), e compostos fenólicos dentre os quais 
se destacam os flavonoides e poliflavonoides. Dentre os aspectos preventivos, 
é interessante ressaltar a correlação existente entre atividade antioxidante de 
substâncias polares e capacidade de inibir ou retardar o aparecimento de células 
cancerígenas, além de retardar o envelhecimento das células em geral. 
 
O organismo humano sofre ação constante de ERO e ERN geradas em 
processos inflamatórios, por alguma disfunção biológica ou proveniente dos 
alimentos. As principais ERO distribuem-se em dois grupos, os radicalares: 
hidroxila (HO•), superóxido (O2•−), peroxila (ROO•) e alcoxila (RO•); e os não 
radicalares: oxigênio, peróxido de hidrogênio e ácido hipocloroso. Dentre as ERN 
incluem-se o óxido nítrico (NO•), óxido nitroso (N2O3), ácido nitroso (HNO2), 
nitritos (NO2−), nitratos (NO3−) e peroxinitritos (ONOO−). 
 
Enquanto alguns deles podem ser altamente reativos no organismo 
atacando lipídios, proteínas e DNA, outros são reativos apenas com os lipídios. 
Existem ainda alguns que são pouco reativos, mas apesar disso podem gerar 
espécies danosas. O radical HO• é o mais deletério ao organismo, pois devido a 
sua meia-vida muito curta dificilmente pode ser sequestrado in vivo. Esses 
radicais frequentemente atacam as moléculas por abstração de hidrogênio e por 
adição a insaturações. 
 
O radical HO• é formado no organismo principalmente por dois 
mecanismos: reação de peróxido de hidrogênio com metais de transição e 
homólise da água por exposição à radiação ionizante. A incidência de radiação 
no ultravioleta, radiação γ e raios X podem produzir o radical HO• nas células da 
pele. O ataque intensivo e frequente deste radical pode originar mutações no 
 
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DNA e, consequentemente, levar ao desenvolvimento de câncer em seres 
humanos no período de 15 a 20 anos. 
 
O peróxido de hidrogênio (H2O2) é pouco reativo frente às moléculas 
orgânicas na ausência de metais de transição. No entanto, exerce papel 
importante no estresse oxidativo por ser capaz de transpor as membranas 
celulares facilmente e gerar o radical hidroxila. Ele somente oxida proteínas que 
apresentem resíduos de metionina ou grupos tiol muito reativos GSH por 
exemplo. O H2O2 é gerado in vivo pela dismutação do ânion-radical superóxido 
(O2•–) por enzimas oxidases ou pela β-oxidação de ácidos graxos. As 
mitocôndrias são importantes fontes de O2• – e, como a presença deste ânion-
radical pode causar sérios danos, elas são ricas em SOD que o converte em 
H2O2. O peróxido de hidrogênio gerado é então parcialmente eliminado por 
catalases, glutationa peroxidase e peroxidases ligadas à tioredoxina, mas como 
essa eliminação tem baixa eficiência, grande parte do H2O2 é liberado para a 
célula. 
O radical ânion superóxido (O2•–), ao contrário da maioria dos radicais 
livres, é inativo. Em meio aquoso, sua reação principal é a dismutação, na qual 
se produz uma molécula de peróxido de hidrogênio e uma molécula de oxigênio. 
Ele também é uma base fraca cujo ácido conjugado, o radical hidroperóxido 
(HOO•) é mais reativo. 
 
A atuação do radical ânion superóxido como oxidante direto é 
irrelevante. Dentre os aminoácidos, o único que sofre oxidação com o radical 
O2•– é a cisteína. Além disso, o radical ânion superóxido presente no organismo 
é eliminado pela enzima superóxido dismutase, que catalisa a dismutação de 
duas moléculas de O2•– em oxigênio e peróxido de hidrogênio. Esse último, 
quando não eliminado do organismo pelas enzimas peroxidases e catalase, 
pode gerar radicais hidroxilas. 
 
Apesar dos efeitos danosos, o radical O2•– tem importância vital para as 
células de defesa e sem ele o organismo está desprotegido contra infecções 
causadas por vírus, bactérias e fungos. O radical O2•– é gerado in vivo por 
 
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fagócitos ou linfócitos e fibroblastos durante o processo inflamatório, para 
combater corpos estranhos. 
 
O radical óxido nítrico (NO•) pode ser produzido no organismo pela ação 
da enzima óxido nítrico sintase a partir de arginina, oxigênio e NADPH, gerando 
também NADP+ e citrulina. Esse radical também pode ser produzido em maiores 
quantidades por fagócitos humanos, quando estimulados. O nitrato pode 
transformar-se em nitrito, que reage com os ácidos gástricos gerando o ácido 
nitroso (HNO2). O óxido nitroso (N2O3) também é precursor do HNO2 por meio 
da sua reação com a água. O HNO2 promove a desaminação das bases do DNA 
que contêm grupo –NH2 livre que são citosina, adenina e guanina, formando-se 
uracila, hipoxantina e xantina, respectivamente. 
 
O óxido nítrico não é suficientemente reativo para atacar o DNA 
diretamente, mas pode reagir com o radical ânion superóxido produzido pelos 
fagócitos, gerando peroxinitrito. Esse último, por sua vez, pode sofrer reações 
secundárias, as quais formam agentes capazes de nitrar aminoácidos 
aromáticos, a exemplo da tirosina gerando nitrotirosina e as bases do DNA, em 
particular a guanina, na qual o produto principal é a 8-nitroguanina. 
 
Os radicais livres promovem reações com substratos biológicos podendo 
ocasionar danos às biomoléculas e, consequentemente, afetar a saúde humana. 
Os danos mais graves são aqueles causados ao DNA e RNA. Se a cadeia do 
DNA é quebrada, pode ser reconectada em outra posição alterando, assim, a 
ordem de suas bases. Esse é um dos processos básicos da mutação e o 
acúmulo de bases danificadas pode desencadear a oncogênese. Uma enzima 
que tenha seus aminoácidos alterados pode perder sua atividade ou, ainda, 
assumir atividade diferente. Ocorrendo na membrana celular, a oxidação de 
lipídios interfere no transporte ativo e passivo normal através da membrana, ou 
ocasiona a ruptura dessa levando à morte celular. A oxidação de lipídios no 
sangue agride as paredes das artérias e veias, facilitando o acúmulo desses 
lipídios, com consequente aterosclerose, podendo causar trombose, infarto ou 
acidente vascular cerebral. 
 
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As proteções do organismo contra as ERO e ERN abrangem a proteção 
enzimática ou por micromoléculas, que podem ter origem no próprio organismo 
ou são adquiridas por meio da dieta. As macromoléculas são representadas 
pelas enzimas e podem atuar diretamente contra as ERO e ERN ou, ainda, 
reparar os danos causados ao organismo por essas espécies. Um exemplo é a 
catalase (CAT), que converte o peróxido de hidrogênio em H2O e O2. 
 
Outras são capazes de eliminar a molécula ou a unidade dessa que se 
encontra danificada, como, por exemplo, as enzimas responsáveis pela excisão 
das bases nitrogenadas danificadas e substituição por outras intactas. São 
conhecidos três sistemas enzimáticos antioxidantes: o primeiro é composto por 
dois tipos de enzimas SOD, que catalisam a destruição do radical ânion 
superóxido O2•−, convertendo-o em oxigênio e peróxido de hidrogênio. A 
decomposição do radical ânion superóxido O2•− ocorre naturalmente, porém, por 
ser uma reação de segunda ordem, necessita que ocorra colisão entre duasmoléculas de O2•−, de forma que há necessidade de maior concentração do 
radical ânion superóxido. A presença da enzima SOD favorece essa dismutação 
tornando a reação de primeira ordem, eliminando a necessidade da colisão entre 
as moléculas. 
 
Existem duas formas de SOD no organismo, a primeira contém cobre 
(Cu2+) e zinco (Zn2+) como centros redox e ocorre no citosol, sendo que sua 
atividade não é afetada pelo estresse oxidativo. A segunda contém manganês 
(Mn2+) como centro redox, ocorre na mitocôndria e sua atividade aumenta com 
o estresse oxidativo. O segundo sistema de prevenção é muito mais simples, 
sendo formado pela enzima catalase que atua na dismutação do peróxido de 
hidrogênio (H2O2) em oxigênio e água. 
 
O terceiro sistema é composto pela GSH em conjunto com duas enzimas 
GPx e GR. A presença do selênio na enzima (selenocisteína) explica a 
importância desse metal e sua atuação como antioxidante nos organismos vivos. 
Esse sistema também catalisa a dismutação do peróxido de hidrogênio em água 
e oxigênio, sendo que a glutationa opera em ciclos entre sua forma oxidada e 
 
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sua forma reduzida. A GSH reduz o H2O2 a H2O em presença de GPx, formando 
uma ponte dissulfeto e, em seguida, a GSH é regenerada. 
Dentre os antioxidantes biológicos de baixo peso molecular, podem ser 
destacados os carotenoides, a bilirrubina, a ubiquinona e o ácido úrico. Porém, 
as mais importantes micromoléculas no combate ao estresse oxidativo são os 
tocoferóis e a vitamina C. 
 
 
2.2 ENVELHECIMENTO 
 
 FIGURA 2 
 
 
A senescência resulta do somatório de alterações orgânicas, funcionais 
e psicológicas do envelhecimento normal, enquanto a senilidade é caracterizada 
por afecções que frequentemente acometem os indivíduos idosos. As doenças 
são as causadoras da perda das reservas orgânicas e, consequentemente, da 
aceleração do envelhecimento, processo de declínio gradativo da função dos 
vários sistemas orgânicos. 
No idoso, ocorrem modificações anatômicas na coluna vertebral, que 
causam redução na estatura, aproximadamente um a três centímetros a cada 
década. Após os 50 anos de idade inicia-se a atrofia óssea, ou seja, a perda de 
massa óssea que poderá levar a fraturas. A cartilagem articular torna-se menos 
resistente e menos estável, sofrendo um processo degenerativo. 
Ocorre diminuição lenta e progressiva da massa muscular, sendo o 
tecido gradativamente substituído por colágeno e gordura. As alterações no 
 
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sistema osteoarticular podem prejudicar o equilíbrio corporal do idoso, reduzindo 
a amplitude dos movimentos e modificando a marcha. 
Além disso, o envelhecimento modifica a atividade celular na medula 
óssea, ocasionando reabastecimento inadequado de osteoclastos e 
osteoblastos e também desequilíbrio no processo de reabsorção e formação 
óssea, resultando em perda óssea. 
Há tendência a ganho de peso pelo aumento do tecido adiposo e perda 
de massa muscular e óssea. A distribuição da gordura corporal se acentua no 
tronco e menos nos membros. Dessa forma, a gordura abdominal eleva o risco 
para doenças metabólicas, sarcopenia e declínio de funções. O aumento da 
gordura corporal total e a diminuição do tecido muscular podem ocorrer 
principalmente devido a diminuição da taxa de metabolismo basal e do nível de 
atividade física. 
 
Dentre as modificações mais importantes na estrutura e funcionamento 
cerebral, pode-se destacar: atrofia, hipotrofia dos sulcos corticais, redução do 
volume do córtex, espessamento das meninges, redução do número de 
neurônios e diminuição de neurotransmissores. 
 
Há alterações degenerativas da estrutura do olho, levando a diminuição 
visual, aumento da sensibilidade à luz, perda da nitidez das cores e da 
capacidade de adaptação noturna. A perda de audição resulta da disfunção dos 
componentes do sistema auditivo. Há perda da discriminação dos sons mais 
baixos. As alterações vasculares também alteram a audição. São comuns os 
estados vertiginosos e zumbidos. 
 
A deterioração visual se deve a modificações fisiológicas e alterações 
mórbidas. Os transtornos mais comuns que afetam os idosos são a catarata, a 
degeneração macular, o glaucoma e a retinopatia diabética. 
 
Dentre as modificações mais importantes na estrutura e funcionamento 
cardiovascular, pode-se destacar: aumento de gordura, espessamento fibroso, 
substituição do tecido muscular por tecido conjuntivo, calcificação do anel valvar. 
 
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O envelhecimento também está associado a alterações estruturais cardíacas. As 
paredes do ventrículo esquerdo aumentam de espessura, ocorre depósito de 
colágeno e a aorta torna-se mais rígida. 
 
Nas artérias, ocorre acúmulo de gordura, perda de fibra elástica e 
aumento de colágeno. Dessa forma, a função cardiovascular fica prejudicada, 
diminuindo a resposta de elevação de frequência cardíaca ao esforço ou 
estímulo, aumentando a disfunção diastólica do ventrículo esquerdo e 
dificultando a ejeção ventricular. Além disso, ocorre a diminuição da resposta às 
catecolaminas e a diminuição a resposta vascular ao reflexo barorreceptor. 
Ocorre maior prevalência de Hipertensão Arterial Sistólica (HAS) isolada, com 
maior risco de eventos cardiovasculares. 
 
Com relação ao sistema respiratório, as alterações determinadas pelo 
envelhecimento afetam desde os mecanismos de controle até as estruturas 
pulmonares e extrapulmonares que participam do processo de respiração. 
A musculatura da respiração enfraquece com o progredir da idade. Isso 
ocorre devido ao enfraquecimento dos musculosqueléticos somado ao 
enrijecimento da parede torácica, resultando na redução das pressões máximas 
inspiratórias e expiratórias com um grau de dificuldade maior para executar a 
dinâmica respiratória. 
 
Na parede torácica, ocorre aumento da rigidez, calcificação das 
cartilagens costais, calcificação das articulações costais e redução do espaço 
intervertebral. Ocorre ainda redução da força dos músculos respiratórios, 
redução da taxa de fluxo expiratório e redução da pressão arterial de oxigênio. 
O sistema digestório, assim como os demais sistemas, sofre 
modificações estruturais e funcionais com o envelhecimento. As alterações 
ocorrem em todo trato gastrointestinal, da boca ao reto. 
 
Ocorrem alterações na cavidade oral, havendo perda do paladar, 
redução da inervação do esôfago, redução na secreção de lípase e insulina pelo 
pâncreas, diminuição da metabolização de medicamentos pelo fígado, 
 
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dificuldade de esvaziamento da vesícula biliar e discreta diminuição da absorção 
de lipídeos no intestino delgado. No cólon, observa-se o enfraquecimento 
muscular, havendo alteração de peristalse. No reto e ânus são observadas 
alterações com espessamento e alterações do colágeno e redução de força 
muscular, que diminuem a capacidade de retenção fecal volumosa. A isso se 
acrescem alterações de elasticidade retal e da sensibilidade à sua distensão. 
 
Além das alterações de caráter físico, com o envelhecimento podem-se 
verificar modificações nas reações 
emocionais, como o acúmulo de 
perdas e separações, solidão, 
isolamento e marginalização social. 
Algumas características do 
envelhecimento emocional são: 
redução da tolerância aos estímulos, 
vulnerabilidade à ansiedade e depressão, sintomas hipocondríacos, 
autodepreciativos, de passividade e conservadorismo de caráter e de ideias. 
 
 
 
2.3 FISIOPATOLOGIA DAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES 
 
 
FIGURA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 Hipertensão arterial (HA)A hipertensão arterial essencial ou primária (HA) é uma das causas mais 
comuns de doenças cardiovasculares, afetando aproximadamente 20% da 
população adulta em sociedades industrializadas. A HA parece ter causa 
multifatorial para a sua gênese e manutenção. A investigação da sua 
fisiopatologia necessita de conhecimentos dos mecanismos normais de controle 
da PA para procurar então, evidências de anormalidades que precedem a 
elevação da PA para níveis considerados patológicos. 
 
A pressão arterial é determinada pelo produto do débito cardíaco (DC) e 
da resistência vascular periférica (RVP). Nos indivíduos normais e nos 
portadores de hipertensão arterial essencial existe um espectro de variação do 
DC com respostas concomitantes da RVP para um determinado nível de PA. 
 
A contratilidade e o relaxamento do miocárdio, o volume sanguíneo 
circulante, o retorno venoso e a frequência cardíaca podem influenciar o DC. A 
RVP, por sua vez, é determinada por vários mecanismos vasoconstritores e 
vasodilatadores, como o sistema nervoso simpático, o sistema renina 
angiotensina e a modulação endotelial. A RVP depende também da espessura 
da parede das artérias, existindo uma potencialização ao estímulo vasoconstritor 
nos vasos nos quais há espessamento de suas paredes. Em muitos pacientes 
portadores de HA a elevação da PA é decorrente do aumento da RVP enquanto 
em alguns, a elevação do DC é o responsável pela HA. 
Na gênese da HA, estão envolvidos mecanismos neurais, bem como o 
sistema renina-angiotensina-aldosterona, alterações no metabolismo do sódio e 
a participação de moléculas como óxido nítrico, endotelinas, cininas e peptídeos 
natriuréticos, os quais serão descritos resumidamente a seguir. 
 
O sistema nervoso autônomo tem participação importante no controle 
normal da PA e pode estar alterado em pacientes com HA essencial. Muitos 
pacientes com HA essencial apresentam frequência cardíaca de repouso mais 
elevada que o normal. Isso pode sugerir alterações na sensibilidade dos 
barorreceptores nos pacientes com HA. Além disso, vários estudos têm 
 
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demonstrado aumento na liberação, sensibilidade e excreção de norepinefrina 
em hipertensos, notadamente naqueles com HA borderline e com menos 
severidade da doença. Alguns estudos mostraram não existir alterações na 
biossíntese ou liberação das catecolaminas, embora tenham relatado aumento 
na responsividade dos receptores b-adrenérgicos em hipertensos e em certos 
modelos experimentais de HA. 
A renina é uma enzima liberada pelas células justaglomerulares dos rins 
quando estimulada através da redução do fluxo sanguíneo renal, contração de 
volume intravascular, redução da ingestão de sódio na dieta, estímulo β-
adrenérgico nas células justaglomerulares e redução nos níveis plasmáticos de 
aldosterona. A renina liberada atua sobre o angiotensinogênio produzido pelo 
fígado, convertendo-o em angiotensina I, que é imediatamente transformada na 
circulação pulmonar, através da enzima conversora da angiotensina (ECA), em 
um peptídeo com potente ação vasoconstrictora, a angiotensina II. 
A angiotensina II atua na musculatura lisa dos vasos produzindo 
constrição, no córtex adrenal liberando aldosterona, na medula adrenal liberando 
catecolaminas, em certas áreas do sistema nervoso central iniciando a liberação 
de adrenalina no cérebro e promovendo a ingestão de líquidos por meio de 
estímulo no centro da sede no cérebro. Essas ações, fisiologicamente, atuam 
como uma defesa da PA, aumentando a RVP e a retenção de sódio e água. O 
feedback negativo dessa sequência homeostática fisiológica ocorre quando, na 
presença de excesso de angiotensina II, a liberação de renina é inibida. 
É também de particular relevância considerar as ações dos hormônios e 
substâncias vasoativas não apenas em relação as suas clássicas ações nos 
órgãos-alvo, mas também pelas suas capacidades em modificarem as ações de 
outras substâncias. A angiotensina II pode aumentar e potencializar as ações 
adrenégicas, dos peptídeos atriais, das terminações nervosas, da endotelina, do 
neuropeptídeo Y e interagir com as cininas e prostaglandinas nos rins. Outro 
possível exemplo dessa ação cardiovascular modulatória ocorre no endotélio, 
através de ações da angiotensina II sobre a L-argina, óxido nítrico e bradicinina, 
alterando as funções hemodinâmicas locais. 
As alterações no metabolismo do sódio e no volume de líquido 
extracelular têm respostas heterogêneas nos indivíduos normotensos e 
 
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hipertensos. Vários estudos epidemiológicos demonstram uma correlação direta 
entre a quantidade de sódio ingerida e a prevalência de HA. Quando a resposta 
individual ao sódio é avaliada, muitos estudos demonstram que a PA, em alguns 
indivíduos, é responsiva, ou “sensível” a manipulação do sódio, enquanto em 
outros ela é “resistente”. A despeito do grande número de estudos 
epidemiológicos mostrando a associação entre consumo de sódio e HA, os 
dados sobre a fisiopatologia dessa associação são escassos. 
A endotelina-1 (ET-1) é um peptídeo de origem endotelial que possui 
muitas propriedades que resultam não somente na elevação da PA, mas também 
em complicações nos órgãos envolvidos com a HA. As principais ações da ET-
1 são: efeito miocárdio inotrópico positivo, fibrose do músculo cardíaco, 
vasoconstrição coronariana, secreção de peptídeo natriurético atrial, 
vasoconstrição renal, redução do ritmo de filtração glomerular e da excreção 
urinária de sódio, aumento da secreção de aldosterona, vasoconstrição e 
broncoespasmo pulmonar e hipertrofia vascular. 
Os achados do comprometimento da atividade do óxido nítrico em 
pacientes hipertensos podem ser a chave para o entendimento da origem da 
disfunção endotelial. A redução da biodisponibilidade associado à disfunção 
endotelial em hipertensos pode ser consequência da redução da síntese, 
aumento da degradação ou integração com outras substâncias derivadas do 
endotélio que resultam em diminuição da atividade do óxido nítrico. 
As cininas são autacoides vasodepressores importantes na regulação 
da função cardiovascular e renal. As principais cininas são a bradicinina e a lisil-
bradicina, que são liberadas a partir de extratos conhecidos como 
cininogenases. A redução da atividade do sistema calicreína-cinina também 
pode ter papel importante no desenvolvimento da HA. 
O envolvimento do peptídeo natriurético atrial (PNA) na regulação da PA 
e patogênese da HA é controverso. Alguns estudos mostram que a redução do 
PNA pode resultar em retenção de sódio e HA sódio-sensível. Essa possibilidade 
é suportada pelo fato de que a destruição do gene pró-PNA em ratos causa HA 
sódio-sensível. Em contraste, ratos transgênicos com superexpressão do gene 
para PNA têm níveis de PA inferior aos ratos normais. Diversos outros 
mecanismos fisiopatológicos relacionados com a HA ainda estão sob estudo. 
 
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 Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) 
O infarto agudo do miocárdio (IAM) é definido como um foco de necrose 
resultante de baixa perfusão tecidual, com sinais e sintomas consequentes da 
morte celular cardíaca. A concepção tradicional é de que a maioria dos casos de 
IAM resulta de doença aterosclerótica coronariana. Outros exemplos de 
possíveis mecanismos são: doença arterial coronária não aterosclerótica 
(arterite, trauma, espasmo, dissecção, espessamento intimal), êmbolos para a 
artéria coronária (endocardite, mixoma), anormalidades congênitas (origem 
anômala das coronárias), alterações hematológicas (hipercoagulabilidade), 
drogas (cocaína) e aumento no consumo de oxigênio (estenose aórtica, 
insuficiência aórtica, hipertireoidismo). 
Atualmente, o conceito de que o IAM é precipitado por um trombooclusivo sobre uma placa aterosclerótica complicada tem aceitação 
generalizada. Este conceito torna imperativo o conhecimento sobre as 
alterações que ocorrem na placa aterosclerótica e que posteriormente vão 
predispor a um evento coronariano agudo. Estudos patológicos estabeleceram 
que a perda da integridade da placa aterosclerótica é o mecanismo 
fisiopatológico primário na maioria dos casos das síndromes coronárias agudas. 
Existem duas formas de perda de integridade da placa: a erosão e a ruptura da 
placa. 
A erosão consiste de perda superficial da integridade endotelial com 
posterior exposição do tecido conectivo subendotelial. O colágeno exposto ativa 
a adesão e a agregação plaquetária, com posterior formação de trombo aderente 
à superfície da placa. A análise destas placas tem demonstrado acúmulo de 
macrófagos intensamente ativados. 
Estas células liberam proteases e induzem apoptose das células 
endoteliais, que por sua vez vão resultar em denudação endotelial. 
A segunda forma de perda da integridade da placa é a ruptura da capa 
fibrosa. Análises histológicas revelaram algumas características das placas que 
apresentam maior probabilidade de ruptura. Classicamente, as placas 
vulneráveis apresentam um núcleo lipídico grande ocupando, no mínimo, 50% 
do volume total da placa. Pode-se identificar, no interior da placa, alta 
concentração de células inflamatórias (macrófagos e linfócitos) e de fator 
 
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tissular, capa fibrosa fina, com pobreza de células musculares lisas e conteúdo 
colágeno desorganizado (Figura 1). 
 
 
FIGURA 4 - PATOGÊNESE DA PLACA ATEROSCLERÓTICA 
 
 
 
 
A) lesão inicial; B) remodelamento positivo e afilamento da capa fibrosa; C) Ruptura da capa 
fibrosa sem hemorragia intraplaca; D) Hemorragia intraplaca determinando ruptura da capa 
fibrosa. FONTE: Albuquerque et al. 2006. 
 
O principal fator responsável pela integridade da capa fibrosa é o 
colágeno intersticial, particularmente o tipo I, que é sintetizado pelas células 
musculares lisas. Estudos identificaram que as placas vulneráveis apresentam 
tanto diminuição na síntese como aumento na degradação do colágeno. 
Acredita-se que o mecanismo responsável pela redução das células musculares 
lisas seja a liberação de citocinas (interferon, interleucinas e fator de necrose 
tumoral) pelas células inflamatórias ativadas. Essas substâncias inibem a 
migração e proliferação das células musculares, ao mesmo tempo em que 
ativam a apoptose destas células. As citocinas também aumentam a produção 
das metaloproteinases, enzimas sintetizadas pelos macrófagos e capazes de 
 
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degradar todos os componentes da matriz intersticial, incluindo o colágeno. 
Todos esses fatores favorecem a ruptura da placa, com exposição de seu núcleo 
altamente trombogênico. 
 
 Insuficiência Cardíaca (IC) 
A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa de caráter 
sistêmico, definida como disfunção cardíaca que ocasiona inadequado 
suprimento sanguíneo para atender necessidades metabólicas tissulares, na 
presença de retorno venoso normal, ou fazê-lo somente com elevadas pressões 
de enchimento. 
As alterações hemodinâmicas comumente encontradas na IC envolvem 
resposta inadequada do débito cardíaco e elevação das pressões pulmonar e 
venosa sistêmica. Na maioria das formas de IC, a redução do débito cardíaco é 
responsável pela inapropriada perfusão tecidual (IC com débito cardíaco 
reduzido). De início este comprometimento do débito cardíaco se manifesta 
durante o exercício, e com a progressão da doença ele diminui no esforço até 
ser observado sua redução no repouso. 
O mecanismo responsável pelos sintomas e sinais clínicos pode ser 
decorrente da disfunção sistólica, diastólica ou de ambas, acometendo um ou 
ambos os ventrículos. Nos adultos, em aproximadamente 60% dos casos está 
associada à disfunção ventricular esquerda sistólica e nos restantes à disfunção 
diastólica, devendo ser realçado que essa última vem sendo mais observada 
com o aumento da expectativa de vida da população. 
A IC envolve a ativação de múltiplas vias celulares, metabólicas e neuro-
hormonais perante uma agressão miocárdica. Diversos agentes neuro-
hormonais têm sido implicados na progressão para a IC, em parte devido ao fato 
dos seus níveis plasmáticos estarem elevados nesta síndrome (norepinefrina, 
epinefrina, endotelina, renina, angiotensina II, aldosterona, neuropeptídeo Y, 
insulina, cortisol, TNF-α, IL-6, dopamina, prostaglandinas e bradicinina). 
Os mediadores neuro-hormonais liberados, atuando de forma endócrina, 
parácrina ou autócrina, promovem um espectro de efeitos que, embora possam 
ser considerados inicialmente compensadores, rapidamente se tornam 
deletérios, contribuindo para o ciclo vicioso de autoagravamento que caracteriza 
 
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esta síndrome. Reforça ainda a importância dos mecanismos neuro-hormonais 
o fato do seu bloqueio representar um dos avanços mais significativos da 
terapêutica farmacológica da IC, com reflexos diretos no prognóstico da doença 
e, assim sendo, na sobrevida dos doentes. 
À medida que a disfunção ventricular progride, ocorre a ativação de 
diversos sistemas neuroendócrinos, incluindo o sistema nervoso simpático e o 
sistema renina-angiotensina. Esses, embora fisiologicamente promovam o 
aumento da contratilidade e da frequência cardíaca e preservem o equilíbrio 
hidroeletrolítico, contribuem para o remodelamento cardíaco, vasoconstrição 
periférica, retenção de sódio e cardiomegalia progressiva. 
Além desses, também são ativados outros sistemas vasoconstritores, 
como o sistema da arginina-vasopressina e da endotelina-1 (ET-1). Em oposição 
a estes, ocorre à ativação de outros mecanismos neuro-hormonais (peptídeos 
natriuréticos, prostaglandinas vasodilatadoras e provavelmente o sistema 
dopaminérgico), predominantemente vasodilatadores, natriuréticos e 
antiproliferativos. 
Durante muito tempo, considerava-se que os mediadores neuro-
hormonais apenas seriam capazes de alterar cronicamente as propriedades 
diastólicas do miocárdio mediante a indução de fibrose e hipertrofia. Contudo, a 
literatura sugere que a rigidez diastólica pode ser modulada de forma aguda por 
alguns destes mediadores, caso do óxido nítrico, da ET-1 e da angiotensina II. 
Outros sistemas neuro-hormonais envolvidos na fisiopatologia da IC ainda estão 
sob estudo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2.4 OBESIDADE E INFLAMAÇÃO 
 
 
 FIGURA 5 
 
 
A obesidade foi inicialmente reconhecida como uma condição de 
inflamação crônica de baixo grau no começo da década de 1990, quando se 
constatou o aumento da expressão do gene que codifica para a citocina pró-
inflamatória, denominada fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α), no tecido 
adiposo e a redução da sensibilidade à insulina em roedores submetidos a um 
protocolo de obesidade induzida pela dieta. 
Posteriormente, outras pesquisas verificaram que a obesidade está 
diretamente relacionada a alterações nas funções endócrinas e metabólicas do 
tecido adiposo. Em indivíduos obesos, esse tecido aumenta a capacidade de 
síntese de moléculas com ação pró-inflamatória, denominadas adipocitocinas ou 
adipocinas, como a enzima óxido nítrico sintase induzível (iNOS), a proteína C 
reativa, o fator de transformação do crescimento-beta (TGF-β), a proteína 
quimiotática para monócitos (MCP-1), a molécula de adesão intracelular solúvel 
(sICAM), o angiotensinogênio, o inibidor-1 do ativador do plasminogênio (PAI-1), 
o TNF-α, a interleucina-6 (IL-6) e a leptina. A capacidade de síntese dessas 
proteínas, a partirdo tecido adiposo de indivíduos magros, é muito inferior. Além 
disso, o aumento da concentração plasmática do PAI-1, o principal inibidor da 
fibrinólise, correlaciona-se à presença de obesidade abdominal e de outros 
 
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componentes da SM. Esse biomarcador é um preditor do status da síndrome 
metabólica mais eficaz que a proteína C reativa. 
A resposta inflamatória promove, por um lado, o aumento da síntese de 
diversas adipocinas com ação pró-inflamatória e, por outro, a redução da 
concentração plasmática de adiponectina, que apresenta ação anti-inflamatória. 
Esse processo reduz a expressão gênica de moléculas de adesão em células 
endoteliais: a liberação de TNF-α a partir de monócitos e a proliferação de células 
da musculatura lisa. Verifica-se forte correlação entre a redução da concentração 
plasmática de adiponectina e o aumento da resistência periférica à ação da 
insulina. 
A redução da gordura corporal resulta em aumento da concentração 
plasmática de adiponectina, em redução da resposta inflamatória e, como 
consequência, em diminuição da resistência periférica à ação da insulina. 
O tecido adiposo é um tecido heterogêneo composto por adipócitos 
maduros e por células da fração estromal-vascular. Essa fração inclui pré-
adipócitos, fibroblastos, células endoteliais, histiócitos e macrófagos. Na 
obesidade, verifica-se que o aumento de macrófagos no tecido adiposo, em 
particular no tecido adiposo visceral, é inicialmente precedido pela migração de 
monócitos do sangue para esse tecido em indivíduos obesos, cujas células, 
quando presentes no tecido adiposo visceral, diferenciam-se em macrófagos. 
Esse aumento do processo de quimiotaxia de monócitos, a partir do 
sangue para o tecido adiposo visceral, é mediado pela MCP-1, sendo que o 
receptor para essa proteína, denominado CCR2, é expresso em monócitos 
presentes no sangue periférico e em macrófagos teciduais. Além disso, a 
expressão da MCP-1 correlaciona-se positivamente à adiposidade, sendo a sua 
expressão gênica maior no tecido adiposo visceral quando comparada ao 
subcutâneo. 
O conjunto de fatores compreendendo a síntese de adipocinas, 
quimiocinas e citocinas; hipertrofia de adipócitos; hipoxia (deficiência de 
oxigênio) no tecido adiposo e endotoxemia devido ao aumento da concentração 
sanguínea de LPS levam a uma maior infiltração de macrófagos no tecido 
adiposo. 
 
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O recrutamento e a infiltração de macrófagos no tecido adiposo 
acarretam em inflamação local, que tem papel crucial no desencadeamento da 
resistência periférica à insulina, cuja gênese está diretamente relacionada ao 
aumento da concentração plasmática de diversas citocinas pró-inflamatórias, 
como o TNF-α e a IL-6. 
O TNF-α causa resistência à insulina por inibir a fosforilação da tirosina 
presente no substrato-1 do receptor de insulina (IRS-1). Outros mecanismos de 
inibição da fosforilação do IRS-1 por mediadores inflamatórios incluem a 
ativação crônica das proteínas Jun N-terminal quinase (JNK), proteína quinase 
C (PKC) e quinase do inibidor do fator de transcrição NF-κB (IKK). Além da 
síntese do TNF-α, o tecido adiposo produz outras adipocinas, como a resistina, 
a leptina e a MCP-1, que atuam em diversas vias metabólicas, bem como na 
resposta inflamatória. 
A cultura simultânea de macrófagos e adipócitos promove a alteração da 
expressão da proteína transportadora de glicose 4 (GLUT4) e do IRS-1 nos 
adipócitos, o que pode ser parcialmente reversível pela adição de anticorpos 
anti-TNF-α. 
O processo inflamatório estimula a diferenciação de adipócitos, o que 
favorece o aumento da liberação de ácidos graxos não esterificados a partir 
dessas células para a circulação sanguínea. Ácidos graxos não esterificados 
inibem o IRS-1 e, consequentemente, induzem a resistência periférica à insulina 
no musculoesquelético e no fígado. Entre os mecanismos associados à 
resistência periférica à insulina induzida por ácidos graxos não esterificados 
estão: (i) o estresse oxidativo, (ii) a ativação da PKC e (iii) o estresse do retículo 
endoplasmático. 
O aumento do fluxo de ácidos graxos não esterificados a partir do tecido 
adiposo para o fígado promove resistência periférica à ação da insulina nesse 
tecido, devido ao aumento da expressão e atividade da enzima glicose-6-
fosfatase, da gliconeogênese e da glicogenólise. Verifica-se também elevação 
da lipogênese e da síntese de triacilgliceróis hepática, que está relacionada à 
ativação do fator de transcrição denominado proteína ligadora ao elemento 
regulatório de esteróis (SREBP). 
 
 
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2.5 DISBIOSE INTESTINAL 
 
A microbiota intestinal saudável forma uma barreira contra os 
microrganismos invasores, potencializando os mecanismos de defesa do 
hospedeiro contra os patógenos, melhorando a imunidade intestinal pela 
aderência à mucosa e estimulando as respostas imunes locais. Além disso, ela 
também compete por combustíveis intraluminais, prevenindo o estabelecimento 
de bactérias patogênicas. 
A microbiota benéfica ajuda a digerir os alimentos e a produzir ácidos 
graxos de cadeia curta (AGCC) e proteína, que são parcialmente absorvidos e 
utilizados pelo hospedeiro. Apresentam ainda importantes funções metabólicas 
e nutricionais, incluindo a hidrólise de ésteres de colesterol, de sais biliares e a 
utilização dos carboidratos, proteínas e lipídeos. As bactérias colônicas dão 
sequência à digestão de alguns materiais que resistiram à atividade digestiva 
prévia. Nesse processo, vários nutrientes são formados pela síntese bacteriana, 
disponíveis para a absorção, contribuindo para o suprimento de vitamina K, 
vitamina B12, tiamina e riboflavina. 
A microbiota intestinal auxilia a fermentar carboidratos que tenham 
permanecido mal absorvidos ou resistentes à digestão e ajuda a converter as 
fibras da dieta em AGCC (butirato, propionato, acetato e lactato). O ácido butírico 
ou butirato é o substrato preferencial para os colonócitos e é produzido pela ação 
da fermentação das bactérias intestinais sobre as fibras da dieta, particularmente 
a fibra solúvel. 
Atualmente, é reconhecido que os AGCC exercem papel fundamental na 
fisiologia normal do cólon, no qual constituem a principal fonte de energia para 
os enterócitos e colonócitos, estimulam a proliferação celular do epitélio, o fluxo 
sanguíneo visceral e intensificam a absorção de sódio e água, ajudando a reduzir 
a carga osmótica de carboidrato acumulado. 
A colonização do trato gastrointestinal compreende uma população 
bacteriana estável. As bactérias nativas não se proliferam aleatoriamente no 
trato gastrointestinal, sendo que determinadas espécies são encontradas em 
concentrações e regiões específicas. A regulação ocorre pelo próprio meio, 
devido à presença dos diversos grupos que se estabelecem à medida que as 
 
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condições apresentam-se favoráveis em relação às interações microbianas e 
substâncias inerentes ao seu metabolismo, aos fatores fisiológicos do 
hospedeiro e nutrientes provenientes da alimentação. 
Outros fatores que podem ser citados são: estado clínico do hospedeiro; 
idade; tempo de trânsito intestinal e pH intestinal; disponibilidade de material 
fermentável; interação entre os componentes da microbiota; suscetibilidade a 
infecções; estado imunológico; requerimentos nutricionais e o uso de antibióticos 
e imunossupressores. 
A cavidade oral contém uma mistura de microrganismos, sendo 
encontradas principalmente bactérias anaeróbicas. As bactérias nesta região 
são encontradas na concentração de 106-109 UFC/ml, sendo as espécies: 
Bifidobactéria, Propionibactéria, Bacterioides, Fusobactéria, Leptotrichia,Peptostreptococci, Estreptocci, Veillonella e Treponema. 
Normalmente, há pouca ação bacteriana no estômago, pois o ácido 
clorídrico atua como um agente bactericida. Geralmente estão presentes na 
concentração de 0-103 UFC/ml, a Helicobacter pylori, que tem sido encontrada 
em pacientes com úlceras pépticas e neoplasia de estômago. Outras espécies 
encontradas neste órgão são Lactobacillos e Streptococos. As condições 
marcadas pela secreção diminuída de ácido clorídrico podem diminuir a 
resistência à ação bacteriana, ocasionalmente levando à inflamação da mucosa 
gástrica ou um risco maior de supercrescimento no intestino delgado, que em 
geral é relativamente estéril. 
A microbiota do intestino delgado consiste em 103-104 UFC/ml do íleo 
proximal, com predominância de bactérias gram-positivas aeróbicas, e 1011-
1012 UFC/ml do íleo distal, com concentração de bactérias gram-negativas 
aneróbicas. O curto espaço de trânsito através do intestino delgado não permite 
maior crescimento bacteriano. Ao contrário, no cólon, no qual o tempo de trânsito 
é mais prolongado, entre outros fatores, ocorre, o estabelecimento de uma 
microbiota bastante rica. 
O trato gastrointestinal humano contém aproximadamente 1014 
bactérias, representando mais de 500 espécies diferentes. No intestino grosso, 
há três níveis distintos que podem ser observados: a microbiota dominante (109-
1011 UFC/ml de conteúdo), constituída somente por bactérias anaeróbias 
 
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estritas: Bacteroides, Eubacterium, Fusobacterium, Peptostreptococcus, 
Bifidobacterium; a microbiota subdominante (107-108 UFC/ml de conteúdo), 
predominantemente anaeróbia facultativa: Escherichia coli, Enterococcus 
faecalis e algumas vezes Lactobacillos e a microbiota residual (< 107 UFC/ml de 
conteúdo), contendo uma grande variedade de microrganismos procarióticos: 
Enterobacteriaceae, Pseudomonas, Veillonella, além de eucarióticos: leveduras 
e protozoários. 
Em diferentes regiões do trato gastrointestinal estão presentes grupos 
específicos de micro-organismos, que são capazes de produzir uma grande 
variedade de compostos, com efeitos variados na fisiologia. Esses compostos 
podem influenciar a nutrição, o metabolismo, a eficácia de drogas, a 
carcinogênese e o processo de envelhecimento, assim como a resistência do 
hospedeiro à infecção. 
O acúmulo de maus-tratos com a função intestinal afeta o equilíbrio da 
microbiota intestinal, fazendo com que as bactérias nocivas aumentem, 
configurando uma situação de risco. Algumas destas bactérias podem colonizar 
o intestino delgado, com sérias consequências, como nutrientes digeridos de 
forma inadequada e a combinação de toxinas com proteínas, formando 
peptídeos potencialmente prejudiciais. 
Este processo é chamado disbiose, um distúrbio cada vez mais 
considerado no diagnóstico de várias doenças e caracterizado por uma 
disfunção colônica devido à alteração da microbiota intestinal, na qual ocorre 
predomínio das bactérias patogênicas sobre as bactérias benéficas. Esse termo 
foi popularizado na Europa, no final do século XIX. 
Alguns fatores que podem ser atribuídos às causas desta alteração da 
microbiota intestinal são: o uso indiscriminado de antibióticos, que matam tanto 
as bactérias úteis como as nocivas e de anti-inflamatórios hormonais e não 
hormonais; o abuso de laxantes; o consumo excessivo de alimentos 
processados em detrimento de alimentos crus; a excessiva exposição a toxinas 
ambientais; as doenças consumptivas, como câncer e síndrome da 
imunodeficiência adquirida (AIDS); as disfunções hepatopancreáticas; o 
estresse e a diverticulose. 
 
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Considera-se também outros fatores que levam ao estado de disbiose, 
como a idade, o tempo de trânsito e pH intestinal, a disponibilidade de material 
fermentável e o estado imunológico do hospedeiro. Um dos fatores que 
concorrem muito para esse desequilíbrio da microbiota intestinal é a má 
digestão. Nem sempre o estômago está ácido o suficiente para destruir as 
bactérias patogênicas ingeridas junto com os alimentos, e assim as bactérias 
nocivas ganham uma boa vantagem sobre as úteis. A fraca acidez estomacal é 
comum entre pessoas mais idosas, e ainda entre os pacientes com diabetes, 
que costumam ter deficiência de produção de ácido clorídrico. 
A integridade intestinal está ligada a um equilíbrio das bactérias 
intestinais e à nutrição saudável de enterócitos e colonócitos. Uma das principais 
funções da mucosa intestinal é sua atividade de barreira, que impede as 
moléculas ou microrganismos antigênicos ou patógenos de entrarem na 
circulação sistêmica. 
A mucosa gastrointestinal é composta de células epiteliais que estão 
bem adaptadas, são finas e semipermeáveis, com junções firmes entre as 
células. Quando a mucosa é rompida, a permeabilidade intestinal pode ocorrer 
e as bactérias do intestino, alimento não digerido ou toxinas podem se translocar 
por essa barreira. 
A translocação bacteriana é a passagem potencial de bactérias do lúmen 
intestinal ou de endotoxinas através da mucosa epitelial do trato gastrointestinal 
para o sangue ou sistema linfático e inicia uma resposta inflamatória sistêmica. 
A exata etiologia da alteração da permeabilidade intestinal não é clara, porém, a 
ingestão dietética e o desequilíbrio bacteriano no intestino foram sugeridos como 
fatores. 
A disbiose torna-se ainda mais deletéria quando se combina com outros 
distúrbios, como o aumento da permeabilidade intestinal. Em um quadro de 
microbiota anormal, ocorre uma inadequada quebra de peptídeos e reabsorção 
de toxinas do lúmen intestinal. Estas toxinas caem na circulação portal e podem 
produzir efeitos farmacológicos, “efeito exorfina”, causando quadro de letargia 
observado nos casos de múltipla sensibilidade a alimentos. Este fenômeno pode 
produzir uma grande quantidade de doenças, desde depressão até artrite 
reumatoide. 
 
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A constipação intestinal leva à presença no cólon de fezes putrefativas, 
gerando placas duras e aderentes na mucosa intestinal, que liberam toxinas para 
todo o organismo. Estas toxinas podem ser absorvidas pela pele, resultando em 
um quadro de urticária e acne, ou para as articulações, gerando quadros de 
inflamação e até mesmo lesões articulares como a artrite reumatoide. Outras 
alterações que afetam a válvula ileocecal, que separa o intestino delgado do 
grosso, também podem fazer com que isso aconteça. 
Os indivíduos que estão sempre às voltas com dificuldades intestinais 
têm grande possibilidade de apresentar disbiose. Um sinal claro disso é a 
síndrome do cólon irritável, em que o desequilíbrio da microbiota intestinal chega 
a ponto de impedir as funções normais do cólon, provocando diarreias 
constantes. 
Embora a etiologia das doenças inflamatórias intestinais permaneça 
desconhecida, evidências sugerem que o desequilíbrio da microbiota intestinal 
seria o possível fator responsável pelo início, cronificação e recidivas destas 
doenças. Os gatilhos para o estabelecimento inicial das doenças e exacerbações 
subsequentes provavelmente envolvem interações virais ou bacterianas com 
células imunes que recobrem a parede mucosa do trato intestinal. 
A ligação entre disbiose e o desenvolvimento de certas doenças está 
apenas começando a ser explorada. Por exemplo, o papel destas bactérias no 
desenvolvimento de câncer foi estudado pela agência norte-americana “US 
Environmental Protection Agency”. Os pesquisadores descobriram que os 
agentes potencialmente carcinogênicos (corantes de alimentos, aflatoxinas, 
pesticidas, nitritos) e agentes que causam câncer em não alimentos (tabacos 
sem fumaça, medicações prescritas) eram bioativados por sistemas de enzimas 
das bactériasintestinais. Estas bioativações, que podem levar ao câncer, são 
promovidas em uma velocidade maior nos sistemas gastrointestinais com 
populações microbianas desequilibradas. 
A microbiota intestinal sintetiza vitaminas, principalmente as do 
complexo B. Se ela está anormal, então a hipovitaminose pode surgir. A 
predominância de bactérias patogênicas pode ainda afetar a produção de 
enzimas importantes e com isso diminuir a capacidade de absorção dos 
 
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nutrientes, causando um déficit nutricional que, entre outros prejuízos, 
concorrerá para a perda de peso. 
 
 
2.6 FISIOPATOLOGIA DO CÂNCER 
 
O organismo humano encontra-se exposto a múltiplos fatores 
carcinogênicos, com efeitos aditivos ou multiplicativos. Sabe-se que a 
predisposição individual tem um papel decisivo na resposta final, porém não é 
possível definir em que grau ela influencia a relação entre a dose e o tempo de 
exposição ao carcinógeno e a resposta individual à exposição. 
Independentemente da exposição à carcinógenos, as células sofrem 
processos de mutação espontânea, que não alteram o desenvolvimento normal 
da população celular como um todo. Estes fenômenos incluem danos oxidativos, 
erros de ação das polimerases e das recombinases e redução e reordenamento 
cromossômico. Há também que se considerar a vigilância imunológica como 
mecanismo de correção ou exclusão das células mutantes. 
Os fenômenos de mutação espontânea podem condicionar uma maior 
ou menor instabilidade genômica, que pode ser crucial nos processos iniciais da 
carcinogênese, como consequência de aneuploidia e amplificações genéticas. 
Em síntese, a carcinogênese pode iniciar-se de forma espontânea ou ser 
provocada pela ação de agentes carcinogênicos (químicos, físicos ou 
biológicos). Em ambos os casos, verifica-se a indução de alterações 
mutagênicas e não mutagênicas, ou epigenéticas nas células. 
A incidência, a distribuição geográfica e o comportamento de tipos 
específicos de cânceres estão relacionados a múltiplos fatores, incluindo sexo, 
idade, raça, predisposição genética e exposição à carcinógenos ambientais. 
Desses fatores, os ambientais são, provavelmente, os mais importantes. 
Os carcinógenos químicos (particularmente aqueles presentes no 
tabaco e resultantes de sua combustão e metabolismo), bem como 
determinados agentes, como os azocorantes, aflatoxinas e benzeno, foram 
claramente implicados na indução de câncer no homem e animais. 
 
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Certos vírus de DNA do grupo herpes e papiloma, bem como vírus de 
ácido ribonucleico (RNA) do tipo C, foram também implicados como agentes 
produtores de câncer em animais, podendo ser igualmente responsáveis por 
alguns tipos de câncer no homem. 
O tempo para a carcinogênese ser completada é indeterminável, 
podendo levar muitos anos para que se verifique o aparecimento do tumor. 
Teoricamente, a carcinogênese pode ser interrompida em qualquer uma das 
etapas, se o organismo for capaz de reprimir a proliferação celular e de reparar 
o dano causado ao genoma. Seria redundante salientar que a suspensão da 
exposição a agentes carcinogênicos é condição sine qua non para a interrupção 
da carcinogênese. A figura 2 sintetiza as diversas etapas da carcinogênese. 
 
 
FIGURA 6 - AS ETAPAS DA CARCINOGÊNESE 
 
 
FONTE: INCA, 2008. 
 
A descoberta de que os oncogêneses causadores de tumores estão 
relacionados aos genes normais levantou várias questões sobre o papel destes 
genes no crescimento e desenvolvimento (diferenciação) das células normais e 
tumorais. Parece certo que etapas da iniciação e promoção de um tumor e a 
própria existência de uma neoplasia maligna depende da expressão 
(manifestação do efeito) aumentada de oncogênese, ocasionada por 
amplificação (aumento do número de cópias do gene), por expressão alterada 
 
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de genes repressores ou por mutações críticas em áreas de determinado 
oncogênese. 
A estimulação da proliferação celular normal é quase sempre 
desencadeada por fatores de crescimento que se ligam aos receptores dispostos 
nas membranas celulares. O sinal recebido por esses receptores é transmitido 
para o citoplasma e, por fim, para o núcleo. Os fatores de crescimento (FC) são 
polipeptídeos que regulam a proliferação celular, bem como outras funções 
celulares, como a deposição e resolução de proteínas da matriz extracelular, a 
manutenção da viabilidade celular, a diferenciação celular, a quimiotaxia, a 
ativação de células da resposta inflamatória e o reparo tecidual. Os FC também 
são implicados na patogênese de determinadas doenças. A secreção anormal 
de FC resulta em doenças caracterizadas por resposta celular proliferativa ou 
por fibrose. A expressão aumentada de FC pode estar envolvida numa variedade 
de doenças, incluindo a aterosclerose, fibrose pulmonar, mielofibrose e 
neoplasias. 
As células cancerosas e as normais se dividem mais rapidamente 
quando os volumes teciduais ou tumorais são menores e, mais lentamente, se 
esses volumes são maiores. Isso leva a um crescimento exponencial com curtos 
tempos de duplicação em tumores de menor volume. A fração proliferativa do 
tumor decresce à proporção que o mesmo cresce, aumentando seu tempo de 
duplicação. Assim, um tumor apresenta tempos diferentes de duplicação em 
momentos diferentes de sua história natural. Três aplicações práticas derivam 
destes conhecimentos sobre a cinética celular: 
 Quanto menor o tumor, maior a sua fração proliferativa, portanto 
mais sensível será aos medicamentos antiblásticos (quimioterapia) e às 
radiações ionizantes (Radioterapia). 
 Quanto mais precoce for a aplicação de quimioterapia ou 
radioterapia após o tratamento cirúrgico do tumor, mais eficazes elas serão, pois 
maior será o número de células em fase proliferativa. 
 Os tecidos normais que apresentam alta fração de crescimento são 
os que sofrem a ação da quimio e radioterapia, neles se concentrado os efeitos 
colaterais agudos desses tratamentos (náusea e vômitos, diarreia, leucopenia, 
alopecia etc.). 
 
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Quando um tumor maligno alcança cerca de 1 cm de diâmetro, torna-se 
detectável pelos métodos diagnósticos disponíveis e contém cerca de 109 
células. Acredita-se que é necessário um longo período de tempo para o tumor 
alcançar este tamanho, talvez alguns anos. Ele apresenta tempos diferentes de 
duplicação em momentos diferentes de sua história natural e, em alguns deles, 
bem antes desta detecção provavelmente já ocorreu a metastatização 
hematogênica. 
Os tumores malignos apresentam duas propriedades peculiares: 
invasão dos tecidos circunvizinhos e comprometimento a distância (metástase). 
A metástase é definida como o comprometimento a distância por uma 
parte do tumor que não guarda relação direta com o foco primário. A 
disseminação tumoral é um processo complexo e não de todo esclarecido, que 
pode ser dividido em cinco etapas: 1) invasão e infiltração de tecidos subjacentes 
por células tumorais, dada a permeação de pequenos vasos linfáticos e 
sanguíneos; 2) liberação na circulação de células neoplásicas, tanto isoladas 
como na forma de pequenos êmbolos; 3) sobrevivência dessas células na 
circulação; 4) sua retenção nos leitos capilares de órgãos distantes; 5) seu 
extravasamento dos vasos linfáticos ou sanguíneos, seguido do crescimento das 
células tumorais disseminadas. 
Ao longo de todo esse processo, fatores mecânicos e imunológicos 
devem ser superados para que as células neoplásicas consigam implantar-se 
em um novo órgão e terem crescimento autônomo em relação ao tumor primário. 
As vias pelas quais o tumor dissemina são: transcavitária, linfática e 
sanguínea.• Disseminação transcavitária: As metástases transcavitárias (ou 
transcelômicas) ocorrem quando células de um tumor maligno penetram alguma 
cavidade corporal e aí crescem e disseminam-se. Na prática, as cavidades mais 
afetadas são a peritoneal e a pleural, porém a pericárdica, subaracnoidea e 
articular podem também ser atingidas. 
• Disseminação linfática: As metástases linfáticas são geralmente o 
padrão inicial de disseminação das neoplasias de origem epitelial, podendo ser 
utilizada por outros tipos de tumor. Elas seguem a drenagem linfática normal da 
área do tumor primário, ocupando os linfonodos mais próximos e que recebem 
 
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maior número de vasos linfáticos aferentes. Exemplo disto é a disseminação 
linfática do câncer de pulmão, que invade inicialmente os linfonodos mediastinais 
e, em sequência, os supraclaviculares e cervicais. O mesmo se verifica com o 
câncer de mama, que invade inicialmente os linfonodos axilares homolaterais, 
só posteriormente estendo-se aos de outras cadeias linfáticas supraclaviculares, 
infraclaviculares, cervicais, mediastinais e axilar contralateral. Por um tempo não 
determinado, é possível que os linfonodos consigam impedir a disseminação das 
células tumorais, pois, chegando aos linfonodos, elas entram em contato com 
células do sistema imunológico e, então, podem ser destruídas. De outra forma, 
se resistirem e encontrarem condições vitais favoráveis poderá multiplicar-se. 
• Disseminação sanguínea: As metástases por via hematogênica têm 
seu início quando células tumorais invadem os vasos sanguíneos. As veias e 
vênulas, por possuírem paredes mais frágeis, são mais facilmente penetradas 
do que artérias e arteríolas. As metástases por via arterial podem ocorrer, por 
exemplo, quando células metastáticas cruzam o leito capilar pulmonar, quando 
atravessam comunicações arteriovenosas ou quando as próprias metástases 
pulmonares funcionam como foco de novas células tumorais capazes de 
metastatizar. Em todo o organismo, os órgãos que mais são comprometidos por 
esse tipo de disseminação são, obviamente, os mais vascularizados: pulmão e 
fígado, em parte por receberem, respectivamente, grande volume de sangue, 
procedente das circulações cava e porta, ossos e cérebro. 
Em relação à escolha dos órgãos-alvo, sabe-se que a distribuição das 
metástases é variável, e depende principalmente do tipo histológico e da 
localização do tumor primário. De fato, a localização mais comum de metástases 
de vários tipos histológicos é o primeiro leito capilar que as células encontram. 
Exemplos o câncer de pulmão metastatizando para o sistema nervoso central e 
o câncer de cólon para o fígado. Entretanto, locais específicos parecem ser 
preferidos pelas células tumorais circulantes, como no caso do câncer de 
próstata para ossos. Isto demonstra um processo de íntima correlação entre 
célula tumoral e órgão-alvo, denominado tropismo seletivo. 
A metástase deve ser vista como um novo tumor, diferente do primário, 
com ampla autonomia para crescimento e propagação. Uma compreensão mais 
 
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abrangente sobre a patogênese da disseminação do câncer provavelmente 
resultará em mudanças significativas no tratamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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MÓDULO II 
 
 
3 COMPOSTOS FUNCIONAIS PRESENTES EM ALIMENTOS 
 
FIGURA 7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.1 DEFINIÇÃO 
 
A constatação de que dietas ricas em frutas e hortaliças, como a da 
população mediterrânea contemporânea e da população asiática, reduzem o 
risco das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) impulsionou pesquisas 
que identificaram substâncias nutrientes e não nutrientes atuantes em alvos 
fisiológicos específicos e que, dessa forma, interferem nos processos 
patogênicos dessas doenças. 
 
Essas evidências resultaram, entre outras coisas, em mudanças nas 
recomendações dos guias alimentares, os quais passaram a indicar a ingestão 
de maior número de porções de frutas e de hortaliças na dieta. Alimentos de 
origem vegetal são fontes de energia, proteína, vitaminas e minerais e a única 
ou principal fonte de vitamina C, folato, fibras e compostos bioativos (CBAs), dos 
quais o metabolismo humano também é dependente. 
 
 
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Em um novo paradigma, a ingestão insuficiente de CBAs provenientes 
de vegetais constitui importante componente de risco das DCNT, contribuindo 
na mesma magnitude do consumo excessivo de energia e de gorduras totais e 
saturadas na dieta. Isso indica que os CBAs, da mesma forma que os demais 
nutrientes, são essenciais para que se atinja a carga completa (geneticamente 
determinada) de longevidade. Segundo esse novo paradigma, as DCNT seriam 
doenças relacionadas também à deficiência de substâncias “essenciais para a 
longevidade”. 
 
Essa visão é complementar àquela que assume que o componente 
genético do homem contemporâneo está majoritariamente otimizado para a dieta 
de nossos ancestrais do Paleolítico. A discrepância entre a dieta contemporânea 
e a daquele período contribui para a etiologia das “doenças da civilização”: 
aterosclerose, doenças cardiovasculares (DCV), resistência à insulina, diabetes 
melitus tipo 2 (DMT2), síndrome metabólica (SM), osteoporose, hipertensão e 
alguns tipos de câncer. 
 
O período Paleolítico refere-se ao período da história do gênero Homo 
desde seu aparecimento, há mais de dois milhões de anos, até 10.000 anos, 
quando se iniciam a prática agrícola (predominantemente cereais) e a 
domesticação de animais. No período Paleolítico, que culminou com a 
emergência da única espécie de Homo atual, Homo sapiens, nossos ancestrais 
alimentavam-se de carne animal proveniente da caça (carne magra, órgãos 
internos, medula óssea, excluindo o leite) e plantas de ocorrência espontânea 
(principalmente raízes, frutos, vegetais não grãos, nozes) e outras plantas não 
leguminosas. 
 
Os 10.000 anos que se seguiram, quando ocorreu o desenvolvimento da 
agricultura e o da domesticação de animais, correspondem a 1% do tempo 
evolutivo do gênero Homo. Isso resultou em tempo insuficiente para que a 
evolução natural tivesse redesenhado o cerne metabólico e fisiológico de forma 
significativa para responder às mudanças de dieta introduzidas pela revolução 
agrícola e industrial. 
 
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Os CBAs presentes nos alimentos podem agir de diferentes formas, 
tanto no que se refere aos alvos fisiológicos como aos seus mecanismos de 
ação. A ação antioxidante, comum nesses compostos, por exemplo, deve-se ao 
potencial de óxido-redução de determinadas moléculas, à capacidade dessas 
moléculas em competir por sítios ativos e receptores nas diversas estruturas 
celulares ou, ainda, à modulação da expressão de genes que codificam 
proteínas envolvidas em mecanismos intracelulares de defesa contra processos 
oxidativos degenerativos de estruturas celulares (DNA, membranas). 
 
Embora seja reconhecido que CBAs presentes na dieta atuem na 
manutenção da saúde, faz-se necessário reconhecer que o efeito protetor às 
DCNT parece não se reproduzir pela sua ingestão isolada, na forma de 
suplementos. 
Estudos clínicos, em que a dieta foi suplementada com β-caroteno, 
vitamina C ou vitamina E, mostraram que essas substâncias, isoladas da matriz 
alimento, não foram eficazes na diminuição de risco à DCNT, indicando que 
fatores como a biodisponibilidade e a ação sinérgica, entre outros, atuem nesse 
processo. 
 
Na dieta habitual, alguns gramas de CBAs por dia são ingeridos. No 
entanto, as concentrações desses compostos

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