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Aula 3 - Karl Marx 2017

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O PENSAMENTO SOCIOLÓGICO DE 
Prof.ª Janaina de Souza Bujes
Curso: Direito
Carga Horária: 76 h 
2017/2
Semana 3
O PENSAMENTO SOCIOLÓGICO DE 
KARL MARX (1818-1883)
• Nasceu em Trèves, filho de um advogado bem 
conceituado na pequena burguesia local.
• Foi economista, filósofo e desde a juventude trazia 
as ideias que, mais tarde, embasaram suas teorias;
• Estudou nas Universidades de Bonn e Berlim, onde 
iniciou na filosofia com os jovens Hegelianos.
• Editava um jornal radical e, por suas atividades 
políticas, teve problemas com autoridades alemãs 
indo para Paris, onde conheceu Engels, com o qual indo para Paris, onde conheceu Engels, com o qual 
concebeu sua teoria econômica (1843).
• As ideias de Marx e sua perspectiva (materialismo 
histórico-dialético) tiveram muito impacto na 
Sociologia e grande recepção na Europa Ocidental 
(França) e América Latina (Brasil). 
• Em 1849, exilou-se em Londres, onde viveu até 
sua morte; formulou suas teorias e participou, em 
1864, da AIT (1ª. Internacional), como dirigente.
Karl Marx
05/05/1818 – 14/06/1883
CONTEXTO DE SURGIMENTO DAS IDEIAS:
• Instabilidade do sistema capitalista neste período.
• França sofreu 6 levantes entre 1830 e 1848 entre lutas democráticas e operárias.
• 1848 – auge dos movimentos sociais: efervescência da contestação, dos levantes 
e da convulsão social.e da convulsão social.
• 1848-1873 – auge do capitalismo liberal.
• 1870 – Comuna de Paris: momento histórico do capitalismo liberal, durou cerca 
de 2 meses e era autogestionada por cerca de 90 trabalhadores eleitos.
• 1873-1896 – depressão econômica  11 crises. 
• As mudanças sociais do período estavam diretamente ligadas ao capitalismo, 
uma ruptura com os modelos econômicos anteriores.
PERSPECTIVA CENTRAL:
Comunismo humanista: o homem como centro da preocupação, face às 
desigualdades, pobreza, miséria. 
 Crítica ao capitalismo como ponto-chave: crítica à sociedade assimétrica e 
desigual, onde a riqueza é mal distribuída e busca a origem e a possibilidade de desigual, onde a riqueza é mal distribuída e busca a origem e a possibilidade de 
supera-las. 
Movimentos socialistas: noção de intervenção social para superar as diferenças 
sociais. 
 A ideologia comunista do autor se desenvolve ao longo do tempo. 
 Produção científica muito intensa e crítica: influência do movimento trabalhista 
e nas ideias socialistas se reflete em seus estudos. 
CAPITALISMO E ECONOMIA:
Classe 
Dominada 
Classe 
Dominante
- O capitalismo é um sistema de classe 
e as relações sociais (de classe) são 
caracterizados pelo conflito.
Proletariado 
Mão de obra
Exploração
Capitalista 
Capital
- A relação de classes é de exploração, 
na qual a disputa pelo controle (dos 
meios de produção/trabalho) e pelo 
trabalho (mais-valia/remuneração) é 
constante e tende a ficar mais aguda 
com o tempo.
A LUTA DE CLASSES:
A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a 
história da luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão 
e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e 
oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, 
ora franca, ora disfarçada; numa guerra que terminou sempre, ou por uma 
• A mudança social e o desenvolvimento histórico seria possível a partir do 
conflito de classes ("o motor da história").
• A mudança viria dos fatores econômicos e não das ideias e valores sociais.
ora franca, ora disfarçada; numa guerra que terminou sempre, ou por uma 
transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das 
duas classes em luta (Marx e Engels, 1848).
CAPITALISMO E ECONOMIA:
• Estágios históricos progressivos: as sociedades fazem a transição (gradual ou 
abrupta) de um modo de produção a outro como resultado de contradições de 
suas economias.
Sociedade 
Comunal 
Coletora
Sociedade 
Escravista
Sociedade 
Feudal
Sociedade 
Artesãos 
Sociedade 
Capitalista
TRANSFORMAÇÃO SOCIAL:
• Perspectiva humanista: o homem como centro da preocupação, com a partilha 
mais humana e igualitária das riquezas, produto do trabalho.
• Não haveria monopólio do poder econômico (e político) pois o sistema 
econômico (e a propriedade dos meios de produção) seria comum a todos.
• Revolução era inevitável para introduzir uma nova sociedade: concentração da 
riqueza entre poucos  distribuição entre o grupo);
• A perspectiva comunista seria abrangente (universal) para transformar todo o 
sistema social. 
• Estudos de Marx tiveram amplo impacto no século XX e serviram de base e 
inspiração para as políticas sociais de mais de 1/3 das sociedades atuais.
TRANSFORMAÇÃO SOCIAL:
 “Reflexão moral e política”: uma nova sociedade, mais igualitária, 
onde o indivíduo pode se desenvolver intelectualmente e em sua 
função social. 
 Influências nitidamente Iluministas (razão, ciência e progresso 
cientifico).cientifico).
 Perspectiva científica – metodologia, levantamento de dados, 
linguagem de “ciência”, influenciado pelos novos paradigmas da 
ciência da época, estabelecimento de leis, etc.
 Filosofia da práxis: promoveu o diálogo entre teoria e prática 
transformadora da sociedade;
 Materialismo Histórico Dialético: influência de seus primeiros 
estudos sobre o idealismo alemão e a filosofia dialética de Hegel. 
MÉTODO: MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO
• Parte de premissas para entender a realidade 
fática, as condições materiais de existência; 
• Indivíduos humanos “vivos” (in concretu).
Materialismo
• Considera o momento social, o contexto;
• Em cada época a sociedade se organiza para viver 
e reproduzir a vida naquele momento.
Histórico
• Relação mútua entre as condições materiais da 
existência humana e das ideias dos fatos sociais; 
• Envolve a contraposição e conflitos, tensão. 
Dialético
DIALÉTICA HEGELIANA:
•método para atingir um conhecimento, para a 
criação de ideias;
• é idealista objetivo: uma ideia absoluta, que se 
“exterioriza” através da razão absoluta;
• através das contradições dialéticas é que as ideias 
se desenvolvem;
Tese Antítese Síntese
•Da relação das ideias, que pode ser conflitante, surge 
nossas perspectivas e argumentos.
• Para Marx, essa relação é mútua, mas as condições 
concretas (a "vida material") muitas vezes são pré-
condições (condiciona ou determina suas ideias, sua 
consciência de alguns fatos). 
TEORIA SOCIAL:
• Forças Produtivas: as formas como os homens se organizam para 
viver (relações sociais), produzir e reproduzir, e os meios que 
usam para tal;
• Cada época possui um conjunto de forças produtivas (ciência, 
Superestrutura 
jurídico-política: 
estado, leis, política 
ideologias, cultura etc.
• Cada época possui um conjunto de forças produtivas (ciência, 
tecnologia, máquinas) e elas dão origem a um conjunto histórico 
específico de relações jurídicas, políticas, culturais, etc. 
Estrutura Econômico-Social
• Enquanto o modo de produção se modifica muito rapidamente, as 
relações sociais produtivas se modificam de maneira mais lenta, o 
que gera uma tensão, podendo até atrapalhar o andamento das 
forças produtivas  Superestrutura Jurídico-política
Estrutura econômico-
social: forças 
produtivas
TEORIA SOCIAL:
• Marx (e também Durkheim) afastam a ideia de fenômenos 
coletivos como fatos da natureza humana universal, objeto 
da livre vontade, para situar em dada sociedade (rompe com 
a filosofia jurídico-política da época: idealista);
• Vai contra a essencialização da natureza humana • Vai contra a essencialização da natureza humana 
(jusnaturalistas) e defende o homem e a sociedade como 
produtos da história.
• Em Ideologia Alemã (1845), ele diz que os filósofos se 
limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras, mas 
que o importante, também, é transformá-lo.
• Como um sistema econômico agiria na forma concreta de 
vida das pessoas, nas suas interações com outras pessoas e 
coisas;
TEORIA SOCIAL:
Como um sistema econômico age na forma concreta de 
vida daspessoas, nas suas interações com outras 
pessoas e coisas?
Como produzimos, adquirimos e nos relacionamos com 
bens materiais e que papel os bens que produzimos bens materiais e que papel os bens que produzimos 
desempenham nos nossos sociais?
O quanto a esfera econômica impacta inclusive no 
âmbito das relações sociais, em termos de padrões 
estéticos/sociais? 
A valorização de pessoas com base em bens ou 
produtos que possuem, conforme o valor comercial 
(valor de troca) deles?
O CAPITAL (1867, 1885, 1894):
• Obra considerado pela mais profunda investigação crítica do modo de produção 
capitalista;
• Critica os economistas clássicos em suas teorias cujas abstrações "naturalizam" o 
homem, o individualismo, o egoísmo etc;homem, o individualismo, o egoísmo etc;
• Metáfora do Robinson Crusoé: precisamos analisar os homens “reais”, as relações 
sociais específicas em determinadas épocas e lugares = historicidade.
• Compreender a "vida real" das pessoas: sua existência, no cotidiano, suas relações 
de convivência e dependência mútua dentro deste modo de produção. 
• Realidade social repleta de antagonismos, oposições, conflitos de interesses, uso 
ilegítimo da força, diferenças arbitrárias de qualidade de vida etc.
MARX E O DIREITO:
• Marx foi um pensador radical e crítico: ia à raiz e de forma questionadora.
• Sua perspectiva rompeu com a forma única de pensar e de "fazer ciência". 
• No Direito, a perspectiva de Marx revolucionou ao introduziu uma visão mais 
ampla, que nos permite ir além da análise puramente dogmática e normativista.ampla, que nos permite ir além da análise puramente dogmática e normativista.
• Essa postura crítica e dialética permite que se perceba a interação de vários 
fatores na construção de um fenômeno social e no fenômeno jurídico.
• Faz aparecer o que está "invisível", formalmente instituído, usual ou 
"naturalizado" nas práticas e fenômenos jurídicos.
• Esforço teórico é permanente, para construir e interpretar as ações e as 
categorias usadas no mundo jurídico para explicar ou regrar a sociedade.
MARX E O DIREITO:
• Para Marx, o direito precisa ser entendido dentro do contexto local e tempo da 
sociedade em que ele foi criado e regula  historicidade.
– “Crítica à Filosofia do Direito de Hegel” (1844): crítica ao pensamento jurídico alemão da época, 
marco divisor da 2ª Fase de Marx;
• Esta perspectiva crítica da teoria marxiana é fundamental no Direito para:
1. Questionarmos as construções mistificadoras e descoladas da historicidade;
2. Os discursos fundados em "abstrações" ou os ideológicos sobre e do Direito que 
não aproximam teoria e prática; 
3. Refletirmos sobre uma realidade contraditória apresentada como coerência (Ex: 
a "vocação" do Direito para a manutenção da paz ou ordem social, normas 
programáticas etc.)
MARX E O DIREITO:
• Considerando estes elementos, a perspectiva de Marx parte do pressuposto de 
que a realidade, em sua totalidade é constantemente mutável;
• O ser humano, dentro de sua historicidade, também é mutável: é um sujeito ativo 
e participante da própria história e de sua sociedade. 
• As ideias de Marx no Brasil tiveram ampla recepção e forte influência no 
pensamento social, a partir da década de 1960.
• No Direito, elas impactaram o ensino jurídico e as práticas jurídicas, dando 
origem no Brasil, ao “Direito Achado na Rua” e, mais tarde, ao “Movimento do 
Direito Alternativo", cujos principais principais representantes foram Roberto 
Lyra Filho, Edmundo Lima de Arruda Jr., Luis Alberto Warat, Antonio Carlos 
Wolkmer, Amilton Bueno de Carvalho, entre outros. 
MARX E O DIREITO:
• Direito = manutenção de privilégios (privi-legem, leis privadas) para 
o interesses de uma classe em detrimento de outra classe (ou da 
sociedade como um todo).
• Uma sociedade desigual nas suas relações básicas tenderá a ter um 
direito também desigual (leis e aparatos institucionais): recortes de 
classe ou quaisquer outras posições sociais (gênero, raça, 
orientação sexual, religião etc);
• Para Marx, o direito (assim como outros conjuntos de ideias e 
estruturas políticas da sociedade) também seria uma expressão do 
modo de produção e, também, dialética.
MARX E O DIREITO:
- Independência do Brasil (1822) temos a 1ª Constituição
de 1824 - iluminista inspirada na francesa de 1791.
- Abolição da escravatura 1888.
- Havia um sistema normativo específico para regular
cidadãos (homens livres) e escravos.
- Direito Civil (Ordenações Filipinas) e Direito Penal
(Código Criminal de 1830): Código de inspiração
iluminista, mas a prática da tortura, dos açoites e penas
cruéis ainda estava prevista para negros e índios.cruéis ainda estava prevista para negros e índios.
Nos arts. 14 e 60, Código de 1830, dizia que:
Art. 14 §6. É justificável o mal cometido no castigo moderado
aplicado pelo senhor ao escravo, ou o que dele resultar.
Art. 60. Se o réu for escravo, e incorrer em pena que não seja capital
ou de galés, será condenado na de açoites e, depois de os sofrer, será
entregue ao seu senhor, que se obrigará a trazê-lo com um ferro
pelo tempo e maneira que o juiz o designar.
PAPEL DO DIREITO PARA MARX:
• Para Marx, os conflitos não surgem de um "individualismo natural", mas de 
interesses econômicos que dividem os homens em classes que se opõem entre si.
• O Direito, tem como função legitimar o status quo, fazendo com que essa 
desigualdade material e historicamente construída "pareça natural".
• Para Durkheim e Marx, o Direito tem a função de manter a ordem: mas para Marx é 
preciso a tomada de consciência desta construção visando destruir a ordem injusta 
e superar esta desigualdade historicamente construída.
• A crítica marxiana é a mais contundente e importante na fundamentação da função 
social do Direito e serviu de base para vários autores contemporâneos formularem 
suas críticas ao sistema jurídico.
PAPEL DO DIREITO PARA MARX:
• A moderna igualdade de direitos, para Marx, cria um cidadão abstrato, descolado 
das condições materiais concretas, que permanecem desiguais. 
• Sob a "natureza humana universal" (Hobbes, Locke) de liberdade e igualdade -
abstratas e formais - o Direito omite as desigualdades existentes no grupo social.
• O Direito organiza o mundo social, perpetuando a lógica econômica e a dominação, 
disfarçando as desigualdades nessa lógica.
• O direito formal moderno produz uma falsa unificação, uma igualdade formal que 
omite sua ideologia de manter o status quo: legitima a desigualdade real.
• Para Marx, inspirado em Hegel: superar as desigualdades em prol dos interesses da 
sociedade, através de um processo de transformação da infraestrutura econômica 
(nova forma de propriedade dos bens e modos de produção).
PAPEL DO DIREITO 
PARA MARX:
Visão de que Direito contribui 
na reprodução da divisão de 
classes inerente à ordem 
capitalista vai embasar, ao longo 
do século XX, uma perspectiva 
crítica voltada para novas crítica voltada para novas 
funções do direito -
redestributivas e promocionais 
de direitos - que a crítica 
marxista desenvolve na análise 
contemporânea: o direito com o 
papel (positivo) de 
transformação social, pela 
redução de desigualdades 
sociais. 
FRAGILIDADE DAS IDEIAS DE MARX :
• A perspectiva marxista de luta de classes apresenta pelo menos dois equívocos 
(Raymond Aron):
A primeira ideia decisiva de Marx: a história humana se caracteriza pela luta de grupos A primeira ideia decisiva de Marx: a história humana se caracteriza pela luta de grupos 
humanos que chamaremos classes sociais, implica uma dupla característica; por um 
lado, traz o antagonismo dos opressores e dos oprimidos e, por outro lado, de tende a 
uma polarização em somente em dois blocos (Aron, 1997, p. 136).
• Devemos considerar que identificar apenas dois grupos, criando uma polarização, 
principalmente diante da complexidade humana, seria negligenciar a gama de 
possibilidades propostas pela diversidade social.
Imagens de Fernando Vicente 
para a edição espanhola d’ O 
ManifestoComunista (Editorial 
Nordica, 2012).
Fonte: 
http://www.criatives.com.br/201
2/10/ilustracoes-de-fernando-
vicente-para-o-manifesto-
comunista-de-karl-marx/
Acesso: 10.02.2016

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