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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Fisiopatologia .............................................................. 4 3. Manifestações clínicas ............................................. 8 4. Diagnóstico ................................................................11 5. Terapêutica .................................................................16 Referências bibliográficas ........................................21 3DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) 1. INTRODUÇÃO A doença de Alzheimer é o tipo de demência mais comum, frequente- mente associada à demência senil, definida como um processo envol- vendo ẞ-amiloidose e neurodege- neração límbica e isocortical, carac- terizada principalmente por amnésia anterógrada. Com a evolução da do- ença, além da perda da memória re- cente, o paciente também sofre com outros déficits cognitivos, como dis- funções de linguagem, redução da velocidade de pensamento, dificul- dade na orientação espaço-temporal, além de déficit na função executiva e alterações de comportamento, humor e personalidade, condições que tor- nam o paciente bastante debilitado e dependente. No geral, a doença de Alzheimer é mais prevalente entre os indivíduos acima de 65 anos, sem relação apa- rente com diferença étnicas e raciais. Ainda não estão bem estabelecidas diferenças entre no acometimento entre os sexos, porém, em termos ab- solutos há mais mulheres com essa doença, devido a expectativa de vida das mulheres ser maior que a dos homens. Assim, os fatores de risco envolvidos com o desenvolvimento da doença de Alzheimer são idade avançada e histórico familiar, no en- tanto, evidências sugerem que o Dia- bete Mellitus e a Hipertensão Arterial Sistêmica podem ter alguma relação com a patogênese desta doença. 4DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) 2. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da doença de Alzhei- mer envolve duas principais estrutu- ras: placas neuríticas e emaranhados neurofibrilares. As placas neuríticas são núcleos de amiloide, rodeados de neuritos em degeneração (neuri- tos distróficos), que por sua vez são fragmentos de axônios e dentritos neuronais. O principal componente amiloide dessas estruturas é o peptí- deo ẞ-amiloide, o qual é derivado de uma proteína precursora de amiloide (APP) a partir de processamentos es- pecíficos indevidos – são proteínas mutantes, dobradas de forma ina- dequada e que causam inflamação nos diversos órgãos que podem se depositar. Essas placas são encon- tradas principalmente no hipocampo, amígdala e no neocórtex, geralmente poupando o córtex motor e sensorial (o que também ocorre com os emara- nhados neurofibrilares). INTRODUÇÃO À DOENÇA DE ALZHEIMER DIFICULDADE DE ORIENTAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DISFUNÇÃO DE LINGUAGEM DISFUNÇÃO EXECUTIVA REDUÇÃO DA VELOCIDADE DE PENSAMENTO ACOMETE IGUALMENTE AMBOS OS SEXOS DOENÇA DE ALZHEIMER DÉFICT COGNITIVO DEMÊNCIA SENIL ALTERAÇÕES DE COMPORTAMENTO, HUMOR E PERSONALIDADE IDOSOS > 65 ANOS AMNÉSIA ANTERÓGRADA 5DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) Figura 1. Placas com neuritos ao redor do núcleo amiloide. Fonte: https://quimicalzheimer.files.wordpress. com/2013/01/lzheimer.jpg A PET TC (tomografia por emissão de pósitron), realizada com ligantes com afinidade pelo ẞ-amiloide, mos- tram que a proteína amiloide começa a se acumular no neocórtex em até cerca de 20 anos antes de surgirem os sinais clínicos da demência pro- vocada pela doença de Alzheimer. Quando isso ocorre, muitos depósitos de peptídeos ẞ-amiloide são encon- trados nas placas neuríticas do neo- córtex, assim, essas placas represen- tam o estágio final do processo de Alzheimer, mas vale ressaltar que a quantidade desse peptídeo não está relacionado com a gravidade da do- ença. Contudo, acredita-se que esses depósitos são os principais agentes relacionados à indução ou aceleração da lesão neuronal. 6DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) SE LIGA! A maioria dos casos de do- ença de Alzheimer tem causa idiopáti- ca, porém alguns genes parecem estar associados com seu surgimento, todos eles envolvidos na produção do peptí- deo ẞ-amiloide, a saber: gene da pro- teína precursora de amiloide (APP) e os genes da pré-selina 1 e 2 (PS1 e PS2). O primeiro, gene da APP, pode apresen- tar mutações que provocam a produção excessiva do ẞ-amiloide, o que leva ao início precoce da doença, e há evidên- cias que essas mutações estão asso- ciadas com o surgimento da doença de Alzheimer em portadores da Síndrome de Down (possuem uma cópia do gene da APP devido à trissomia). Em relação à pré-selina, proteína envolvida na de- gradação da molécula da APP, muta- ções em seus genes (PSEN1 e PSEN2) também levam à produção excessiva de ẞ-amiloide, estando igualmente asso- ciadas com o início precoce da doença (40 a 60 anos de idade). Há ainda ou- tro gene envolvido com o surgimento da doença de Alzheimer, que é o gene que codifica a proteína apoE, relacionada com o transporte de lipídios, cuja muta- ções estão associadas com o surgimen- to tardio da doença de Alzheimer. Os emaranhados neurofibrilares, por sua vez, são agregados intracelula- res de uma forma bastante fosforila- da da proteína tau, associada a mi- crotúbulos. A proteína tau fosforilada se autoagrega, levando à formação dos emaranhados. Essas estruturas são frequentemente encontradas no córtex entorrinal, prosencéfalo basal, núcleos da rafe, além do hipocampo e amígdala. Figura 2. Emaranhados neurofibrilares. Em D, coloração prata mostrando um emaranhado no citoplasma neuronal. Em E, emaranhado (superior esquerdo) e neuritos ao redor de uma placa (inferior direito) contendo tau. Fonte: KUMMAR, Vina, et. Al. Robbins & Cotran. Bases patológicas das doenças. 8ª ed. Rio de Janeiro. Elsevier, 2010 7DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) Entretanto, à medida que a doença progride, os emaranhados neurofi- brilares têm sua extensão regional aumentada. Essas estruturas apare- cem no lobo temporal medial e tronco cerebral em pessoas sem déficits de cognição por volta da quarta década de vida, porém em pessoas com pre- disposição à doença de Alzheimer, ocorre disseminação transináptica desses emaranhados para áreas de associações corticais. Assim, quan- do surgem os sintomas da doença, os emaranhados neurofibrilares são en- contrados no neocórtex de associa- ção dos lobos frontal, parietal e tem- poral, e nos estágios mais avançados da doença eles são encontrados nos lobos occipitais e córtices motor e sensitivo primários. A localização dos emaranhados neu- rofibrilares está diretamente relacio- nada à evolução clínica dos sintomas específicos do Alzheimer, bem como a gravidade da doença. Com isso, nas manifestações clinicas iniciais, a maior concentração dessas estruturas é no córtex entorrinal e no hipocampo, re- giões relacionadas com a memória episódica declarativa. Porém, vale pontuar que essas estruturas não são específicas da doença de Alzheimer, podendo ser encontradas em outras doenças neurológicas. FISIOPATOLOGIA DA DOENÇA DE ALZHEIMER β-amiloide NEOCÓRTEX PROTEÍNA TAU NÚCLEOS DA RAFE PROSENCÉFALO BASAL CÓRTEX ENTORRINAL HIPOCAMPO AMÍGDALA PLACAS NEURÍTICAS FISIOPATOLOGIA DA D. DE ALZHEIMER EMARANHADOS NEUROFIBRILARES 8DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) 3. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A manifestação clínica inicial mais comum da doença de Alzheimer é a amnésia anterógrada. Isso pode ser identificado a partir de algumas quei- xas como esquecimento de eventos e conversas recentes, colocação errada de objetos, problemas para acompa- nhar datas, perder-se em vizinhanças conhecidas e dificuldade para lembrar de completar tarefas usuais. No Alzheimer leve, a função da me- mória episódica declarativa pode ser perdida, porém o conhecimento pré- vio pode permitir que os pacientes sigam suas rotinas normais, a menos que algo além do usual seja deman- dado deles. No entanto, nesse estágio da doença, podem ocorrererros na to- mada de medicamentos e dificuldade para lidar com o dinheiro e finanças, requerendo o auxílio de familiares, além de mudanças no comportamen- to, personalidade e humor, manifesta- dos como humor deprimido, que pode ocorrer em paralelo ao acometimento da memória, apatia, perda de iniciati- va e perda de interesse pelos hobbies, por exemplo. Uma parcela menor de pacientes pode ainda cursar com in- sônia ou anorexia, fato que não tem relação com maior ou menor gravida- de da doença. Também há relatos de delírios e comportamento psicótico, que aumentam com a progressão da doença e podem ser persistentes em cerca de 20% dos casos. Esse quadro progride à medida que a doença avança para os estágios Inter- mediário e Avançado. Nessas fases, o paciente encontra dificuldades cada vez maiores para realizar suas tare- fas diárias, tornando-se dependente para atividade básicas, como alimen- tar-se, vestir-se e fazer a higiene. No estágios terminais da doença, todas as capacidades de comunicação po- dem ser perdidas, porém em muitos casos a mobilidade é preservada até tardiamente. Os pacientes com doença de Alzhei- mer costumam vir a óbito pelas mes- mas doenças que afetam idosos de- bilitados que não apresentam essa demência, como sepse, pneumonia e insuficiência cardíaca, principal- mente devido ao fato de que esses indivíduos perdem a capacidade de expressar suas necessidades e a fal- ta de um cuidado adequado e bem treinado pode vir a deixar passar si- nais de desconforto, que quando não notados precocemente, evoluem para quadros mais graves. Por exemplo, pacientes com Alzheimer em locais quentes ou condições favoráveis po- dem sofrer desidratação, cujos sinais podem passar despercebido pelo cui- dador, evoluindo a óbito por choque hipovolêmico. A duração e evolução clínica da do- ença de Alzheimer é longa, porém 9DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) variável, levando o paciente com de- mência leve até a morte no período de 2 a 3 anos ou uma década. Vale pon- tuar que, apesar do principal sintoma dessa doença ser déficit de memória, há formas atípicas dessa síndrome, como a atrofia cortical posterior, na qual os déficits são visuoespaciais (praxia construtiva) sem a amnésia anterógrada. Figura 3. Áreas do cérebro envolvidas com a memória. Fonte: //italo.com.br/wp-content/uploads/2019/05/Captura- -de-Tela-2019-05-06-a%CC%80s-14.16.21.png 10DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) SAIBA MAIS! A memória consiste na capacidade de adquirir, armazenar e evocar informações, sendo uma das principais funções neurológicas que tornam os indivíduos distintos. A aquisição depende dos mecanismos de aprendizagem, enquanto a evocação está relacionada com a lembrança. Exis- tem dois principais tipos de memória: memória declarativa e não declarativa (memória de proce- dimento). A memória declarativa é aquela que pode ser descrita por meio de palavras, enquanto a memória de procedimento está relacionada com aprendizagens de sequências motoras. Há ainda as classificações de memória de longa ou curta duração, que se diferem pelo tempo de retenção da informação, e memória retrógrada e anterógrada, que se diferenciam pela capacidade de lembrar de informações anteriores ou de armazenar novas informações, respectivamente. As áreas corticais cerebrais responsáveis pela memória incluem princi- palmente o hipocampo, o giro denteado, o córtex entorrinal, o córtex para-hipocampal e o córtex cingulado posterior, cada uma mais ou menos envolvida com determinados aspectos da memória. Porém, outras regiões cerebrais podem estar relacionadas com essa função cognitiva, especialmente na formação da memória, tais como a amígdala, importante no processamento das emoções, e cerebelo, fundamental nas funções motoras. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DIFICULDADE DE ORIENTAÇÃO ESPAÇO- TEMPORAL DISFUNÇÃO DE LINGUAGEM AMNÉSIA ANTERÓGRADA DISFUNÇÃO EXECUTIVA LEMBRANÇA INICIAL DE EVENTOS ANTERIORES DÉFICT COGNITIVO DELÍRIOS COMPORTAMENTO PSICÓTICOS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS HUMOR DEPRIMIDO DÉFICIT MOTOR REDUÇÃO DA VELOCIDADE DE PENSAMENTO 11DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) 4. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da doença de Alzhei- mer se baseia na história clínica, achados histopatológicos, biomarca- dores e exames de imagem. A histó- ria clínica direciona o diagnóstico para as demências, sendo provável o aco- metimento por doença de Alzheimer quando o paciente apresenta início insidioso dos sintomas, ou seja, tem início gradual e evolui para perda de memória, além do agravamento da cognição por relato ou observação de pessoas próximas. Os déficits cog- nitivos iniciais podem ser divididos em distúrbio amnésico ou distúrbio não amnésio (pouco comum), que in- clui afasia (distúrbio de linguagem), distúrbio visuoespacial ou distúrbio comportamental/executivo. Embora existam déficits na capaci- dade cognitiva, os outros aspectos do exame neurológico na doença de Alzheimer normalmente se apresen- tam normais, sendo relativamente frequentes sinais extrapiramidais, in- cluindo rigidez, bradicinesia, marcha dos pés arrastados e alterações pos- turais. As funções motoras e senso- riais são poupadas, assim, anormali- dades oculomotoras, cerebelares ou nos nervos periféricos identificadas no exame neurológico sugerem ou- tras doenças neurológicas e não Al- zheimer. Isso é importante salientar, visto que devem ser afastadas outras causas de demência, como doença cerebrovascular (AVC), outras doen- ças neurodegenerativas e até mesmo manifestações neurológicas secun- dárias ao uso de medicações. Os exames de imagem auxiliam na determinação do diagnóstico de Al- zheimer, que é um diagnóstico de inclusão, ou seja, se o histórico e os exames de imagem sugerirem Al- zheimer e outras exclusões possam ser verificadas, é possível confirmar a doença com segurança. Assim, pa- cientes com suspeita de Alzheimer podem ser submetidos à ressonân- cia magnética (RM), tomografia por emissão de pósitrons (PET-TC) e to- mografia de emissão de pósitrons com fluorodesoxiglicose (FDG-PET). As imagens cerebrais podem ser di- vididas em estruturais, funcionais ou histológicas. As imagens estruturais são fornecidas por RM ou TC, e são usadas principalmente para afastar outras causas de demência, como tumores, hematomas ou acidentes vasculares. Na RM, pacientes com Alzheimer apresentam atrofia difusa exagerada para a idade, envolvendo especial- mente a região hipocampal e outras áreas de associações corticais-cha- ve, como os lobos temporais late- rais, lobos parietais inferiores, córtex cingulado posterior e lobos frontais laterais. Além disso, a RM também revela a dilatação dos ventrículos la- terais e o alargamento dos sulcos corticais, principalmente nas regiões 12DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) temporais. A RM volumétrica tem sido usada, pois o Alzheimer provoca redução do volume cerebral especial- mente no lobo medial, auxiliando no diagnóstico diferencial em relação às outras demências, podendo ser útil no diagnóstico precoce da doença. Na demência frontotemporal (DFT), por exemplo, a atrofia é mais marcan- te no lobo frontal. Figura 4. Imagens coronais em série de uma RM de um paciente com Alzheimer. A imagem da esquerda foi de um exame realizado quando o paciente se apresentava clinicamente normal e a imagem da direita foi feita 11 anos depois, quando o paciente apresentava demência. Observa-se uma drástica atrofia hipocampal com a evolução da doença. Fonte: GOLDMAN, Lee, SCHAFER, Andrew L, et al. Goldman-Cecil. Medicina. 25ª ed. Rio de Janeiro. Elsevier, 2018. Os exames de emissão de pósitron fornecem imagens funcionais, sendo sensíveis ao metabolismo cerebral, sendo úteis para o diagnóstico pre- coce do Alzheimer, bem como para o acompanhamento da evolução da do- ença. A FDG-PET se baseia no grau de metabolismo da glicose, exibindo reconstruções da relação de capta- ção de glicose regional no córtex, en- quanto a PET-TC avalia especialmen-te a deposição anormal de amiloide e da proteína tau e, por isso, também é caracterizado como um exame que fornece imagem histológica. Dessa forma, a PET-TC é bastante útil na di- ferenciação do Alzheimer e outras de- mências, pois esta doença apresenta maior carga de placas amiloides do que a DFT e outras doenças neurode- generativas. Porém, como essas pla- cas também estão presentes em pes- soas idosas sadias, é questionável se sua identificação auxilia na detecção precoce de Alzheimer. 13DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) Figura 5. Imagens do PET-TC e RM em indivíduos normais, com doença de Alzheimer e com DFT (FTD em inglês). O sinal verde representa baixos níveis de ligação inespecífica da substância branca. As setas representam a retenção proeminente do agente da imagem amiloide nos cortices frontal e parietal. Fonte: https://radiologyassistant.nl/assets/ dementia-role-of-mri/a509797720938b_FDG-pet.jpg 14DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) Figura 6. Imagem do FDG-PET. As cores mais quentes (amarela e laranja) representam as áreas de captação normal de glicose, enquanto as cores frias (azul e verde) representam as regiões com hipometabolismo, mostrando que na do- ença de Alzheimer, há um hipometabolismo nas regiões temporal e parietal. MCI: comprometimento cognitivo leve (em inglês Mild cognitive impairment) Fonte: https://doctorlib.info/pharmacology/stahls-essential-psychopharmacology-4/ stahls-essential-psychopharmacology-4.files/image554.jpg Aqui! O diagnóstico da doença de Alzhei- mer definitivo é feito através dos acha- dos histopatológicos, caracterizados pela presença significativa de placas neuríticas e emaranhados neurofibri- lares, sendo necessária a presença de pelo menos seis placas neuríticas e emaranhados neurofibrilares visíveis no córtex frontal, temporal ou parie- tal. Entretanto, o diagnóstico de Al- zheimer é predominantemente feito pela história clínica e pelos exames de imagem, visto que a biópsia é um procedimento invasivo e deve ser evi- tado nos casos em que se pode con- firmar a patologia por outros meios. Assim, a certeza definitiva da doença de Alzheimer só é estabelecida por necropsia. Os biomarcadores, por sua vez, podem ser pesquisados no líqui- do cefalorraquidiano (LCR) através de punção (menos invasiva que a bióp- sia, porém também é um método que deve ser evitado). O principal biomar- cador é o ẞ-amiloide, mas a proteína tau, bem como os genes da PSEN1, PSEN2 e da APP também podem su- gerir o diagnóstico de Alzheimer. A Doença de Alzheimer pode ser con- fundida com outras patologias, que devem ser afastadas no momento do diagnóstico. A demência por corpús- culos de Lewy pode ser confundida com Alzheimer devido às característi- cas histológicas, porém ela cursa com parkinsonismo, alucinações visuais proeminentes e um tipo específico de distúrbio do sono. Além da da demên- cia por corpúsuclos de Lewy, a doença de Alzheimer apresenta outros diag- nósticos diferenciais, a saber: doen- ça de Huntington, doença de Wilson, esclerose lateral amiotrófica, entre outras, que se diferem principalmen- te por apresentarem um component motor não característico da doença de Alzheimer. No entanto, o Alzheimer é comumente confundido com a doen- ça vascular cerebral, da qual é pratica- mente impossível distinguir. 15DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) MAPA – DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO GENE DA APP β-amiloideTAU GENE DA PSEN1 E PSEN2 MARCADORES BIOLÓGICOS RM FDG-PET PET - TC EXAMES DE IMAGEM EMARANHADOS NEUROFIBRILARES PLACAS NEURÍTICAS EXAME HISTOPATOLÓGICO PRINCIPAIS SINTOMAS ACOMETIMENTO INSIDIOSO Apraxia Distúrbios de execução Dificuldades na orientação espaço-temporal Distúrbio espaçovisual Distúrbios de Linguagem Distúrbios de memória Principalmente memória anterógrada HISTÓRIA CLÍNICA 16DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) 5. TERAPÊUTICA A doença de Alzheimer ainda não possui cura estabelecida, sendo ma- nejada apenas com cuidados pa- liativos que reduzem os sintomas e buscam conferir maior qualidade de vida aos pacientes. Com isso, existem duas principais classes de drogas uti- lizadas no tratamento dessa doença, que são os inibidores da acetilcolines- terase e a mamentina. O principal déficit neurotransmissor na doença de Alzheimer é na trans- missão colinérgica, ou seja, aquela coordenada pela acetilcolina. Assim, os inibidores da acetilcolinesterase são utilizados por atuarem aumen- tando o tempo de ação da acetilcolina na fenda sináptica, intensificando sua transmissão, visto que a acetilcolines- terase é uma enzima que degrada a acetilcolina liberada, regulando seu tempo de ação. Assim, os inibidores da acetilcolinesterase são colinomi- méticos, estando nesses grupos a do- nepezila (5 a 10 mg/dia), galantamina (16 a 24 mg/dia), rivastigmina (6 a 12 mg/dia), entre outros, que podem ser administrados por via oral e alguns por adesivo cutâneo. Esses fármacos retardam a progressão dos sintomas por 6 a 12 meses em pacientes com Alzheimer leve a moderada a um nível significativo mas clinicamente margi- nal, porém não o fazem aos 3 anos da doença (tempo médio que leva ao óbito). Porém, não há evidências de que esses medicamentos retardem a progressão biológica deste demência. Figura 7. Mecanismo de ação dos inibidores da acetilcolinesterase. A primeira imagem mostra a ação normal da enzima, convertendo colina em ácido acético, enquanto a segunda imagem mostra a inibição dessa enzima por car- bamatos/organofosforados, que pode ser reversível ou irreversível. Os fármacos utilizados no tratamento da doença de Alzheimer podem ser inibidores reversíveis ou irreversíveis. Fonte: https://carbamatosorganofo.wixsite.com/home/ blank-8 17DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) A memantina é um antagonista não competitivo do receptor NDMA de afinidade baixa a moderada, que atua na transmissão do glutamato. Os antagonistas não competitivos atuam em um receptor diferente do agonista, provocando atenuação do efeito gerado pelo agonista. O recep- tor NMDA do glutamato é um dos principais receptores do sistema glu- taminérgico, desenvolvendo impor- tante papel na mediação de funções de cognição, memória, plasticidade neural e neurotoxicidade. A ativação desses receptores promove a abertu- ra de canais de cálcio e sódio, favore- cendo seu influxo, bem como a saída de potássio. A memantina impede a entrada de cálcio e sódio, bem como a saída de potássio, regulando os níveis elevados de glutamato que podem gerar disfunção neuronal. Essa dro- ga parece retardar a progressão do declínio funcional de pacientes com Alzheimer moderada a grave quando usada em dose de 20mg/dia. Figura 8. Mecanismo de ação da memantina. Fonte: https://psicofarmacos.info/images/graficos/nmda2.gif 18DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) Outros tratamentos! Além das drogas já mencionadas, al- guns estudos revelaram que a vita- mina E é eficiente no controle da pro- gressão do Alzheimer em pacientes no estágios de moderado a grave. A vitamina E funciona como um antioxi- dante, “combatendo” os radicais livres do organismos, reduzindo a lesão do tecido neurológico. Porém, outras vi- taminas não mostraram igual eficácia no tratamento do Alzheimer. É importante pontuar que não exis- tem tratamentos preventivos para o Alzheimer. Um dieta saudável e balanceada, associada a exercícios fí- sicos e atividades de lazer cognitiva- mente estimulantes são aconselhá- veis, especialmente por protegeram contra hipertensão arterial e diabe- tes, que são fatores de risco para esta demência, porém não há evidências de que são protetivos contra a doen- ça de Alzheimer. Quando se iniciam as manifestações dessa doença, é preciso orientar corretamente a famí- lia e cuidadores, especialmente em relação às questões de segurança quanto à supervisão de medicações, finanças e na direção de veículos. De- ve-se ainda evitar e/ou supervisionar o uso de ferramentas potencialmente perigosas, como armas de foco.Além disso, como os pacientes com Alzhei- mer comumente vagueiam e se per- dem, distanciando-se de suas casas, é importante que a família atente para identifica-los de alguma forma, como com colares ou até mesmo tatuagens visíveis que tenham informações de contato dos familiares. 19DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) MAPA MANEJO DONEPEZILA Contato e Interação Social Farmacológico MANEJO Não-farmacológico Atividade física supervisionada Atividades produtivas (ex: artesanato) MEMANTINAINIBIDORES DAS COLINESTERASES ANTAGONISTA DO RECEPTOR DE GLUTAMATO POTENCIALIZA ACETILCOLINA GALANTAMINA RIVASTIGMINA 20DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) MAPA MENTAL – DOENÇA DE ALZHEIMER DOENÇA DE ALZHEIMER AMNÉSIA ANTERÓGRADAHUMOR DEPRIMIDO DÉFICIT COGNITIVO MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS INIBIDORES DAS COLINESTERASES MEMANTINA CONDUTAS NÃO- FARMACOLÓGICAS TERAPÊUTICA MARCADORES BIOLÓGICOS EXAME HISTOPATOLÓGICO DIAGNÓSTICO EMARANHADOS NEUROFIBRILARES PLACAS NEURÍTICAS FISIOPATOLOGIA EXAMES DE IMAGEMHISTÓRIA CLÍNICA 21DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GOLDMAN, Lee, SCHAFER, Andrew L, et al. Goldman-Cecil. Medicina. 25ª ed. Rio de Ja- neiro. Elsevier, 2018. KUMMAR, Vina, et. Al. Robbins & Cotran. Bases patológicas das doenças. 8ª ed. Rio de Janeiro. Elsevier, 2010. Rowland LP, Pedley TA. Merritt: Tratado de Neurologia. 12ª ed. Rio de Janeiro. Editora Guanabara Koogan, 2011. MACHADA, Angelo, HAERTEL, Lucia M. Neuroantaomia Funcional. 3ª ed. São Paulo. Atheneu, 2013. 22DOENÇA DE ALZHEIMER (NEUROLOGIA)
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