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Necrose Tubular Aguda É uma nefropatia tubulointersticial. Logo, acomete aspectos histológicos e funcionais dos túbulos renais e interstício renal. Como diferenciar clinicamente uma glomerulopatia de uma nefropatia tubulointersticial? A nefropatia tubulointersticial é marcada por distúrbios da concentração urinária (como a hipostenúria) e do equilíbrio hidroeletrolítico e ácido-básico (hipocalemia, acidose metabólica hiperclorêmica) A Necrose Tubular Aguda ● É a segunda causa mais comum de IRA em pacientes hospitalizados, e a primeira causa mais comum em pacientes críticos ● Acomete principalmente o TCP e porção ascendente espessa da Alça de Henle (por serem áreas de maior taxa metabólica, sofrem primeiro com a depleção de ATP) A necrose de células epiteliais leva ao desprendimento delas, que “descamam” no lúmen tubular, causando plugs obstrutivos capazes de levar à IRA. Vale ressaltar que o epitélio tubular tem capacidade de regenerar-se. Sobreviventes da NTA, geralmente, recuperam a função renal dentro de 7 a 21 dias. Desde então, o paciente ainda apresenta poliúria, mas com redução paulatina das escórias nitrogenadas. Causas de NTA Choque PAM<80 mmHg por mais de 1 hora pode levar à NTA. O choque, por contar com hipoperfusão renal, causa insuficiência pré-renal. Se grave ou prolongada, pode evoluir para NTA. Ocorre, no choque, vasoconstrição reflexa que agrava o quadro renal. Vale ressaltar que o choque cardiogênico conta com menor frequência de NTA. Isso se deve à produção de Peptídeo Natriurético Atrial e ao declínio do tônus simpático sobre a vasculatura renal. Sepse e SIRS (Síndrome com os mesmos sintomas que a sepse; porém sem etiologia infecciosa) A Sepse e a SIRS levam à liberação de NO, que causa vasodilatação sistêmica. Entretanto, no endotélio renal, há hiperativação de leucócitos, sistema complemento e fatores de coagulação, o que contribuem para a vasoconstrição do endotélio renal - agravada pela produção de leucotrienos e tromboxano A2, bloqueando a liberação de prostaglandinas e óxido nítrico. Pós-Operatório Pode ocorrer por depleção volêmica pré ou pós operatória; ação de anestésicos; hemotransfusão maciça. Cirurgias cardíacas, correções de aneurisma de aorta abdominal e cirurgia hepatobiliar têm riscos aumentados de NTA. Cirurgias cardíacas muitas vezes contam com circulação extracorpórea, responsável pela lise de hemácias e ativação de leucócitos, plaquetas e complemento - podendo provocar, assim, injúria renal. A cirurgia de correção de aneurisma de aorta abdominal requer clampeamento da aorta, o que implica em parada temporária da vascularização renal. A bile é responsável por degradar microrganismos gram negativos intestinais. Na cirurgia hepatobiliar, em que a liberação da bile é suspensa, esses microrganismos podem provocar injúria, culminando em hipoxemia e lesão renal por endotoxinemia. Medicamentos Drogas que lesam diretamente o epitélio tubular Aminoglicosídeos: Atuam sobre o TCP. O prejuízo à reabsorção proximal de sódio aumenta o aporte deste eletrólito ao néfron distal. Como resultado, há maior excreção renal de de potássio, já que o K+ é secretado no néfron distal em troca do Na+ reabsorvido. O sódio não será devidamente reabsorvido no TCP (devido à ação dos aminoglicosídeos sobre esse segmento tubular). Logo, no TCD ocorrerá acúmulo de sódio, que será reabsorvido em grandes quantidades em troca de grandes quantidades de potássio (bomba Na+/K+ ATPase), por isso o paciente cursará com hipocalemia. Anfotericina B: Altera a porção ascendente espessa da alça de Henle, ocorrendo a perda urinária de magnésio (segmento tubular encarregado da reabsorção de Mg+). Doses superiores a 1g são relacionadas a hipocalemia e hipomagnesemia); Ifosfamida: Implicada na Sd. de Fanconi Metotrexato: Pode haver deposição tubular do fármaco Cisplatina: Lesão cursa com hipomagnesemia (Ramo ascendente da Alça de Henle) Aciclovir Drogas que causam vasoconstrição arteriolar e necrose isquêmica secundária Contraste Iodado: Levam à vasoconstrição renal. Devem ser utilizados com cautela, em especial em pacientes com DM, IC, Mieloma Múltiplo, Hipovolemia e IRC. Ciclosporina e Tacrolimo: Também podem causar vasoconstrição renal. Rabdomiólise A mioglobina tem ação tóxica sobre os túbulos renais, e a doença pode cursar com vasoconstrição arteriolar. Hemólise Hb livre, filtrada pelos glomérulos, tem toxicidade direta. NTA por hemólise é rara e geralmente provocada por reação transfusional hemolítica; Deficiência de G6PD e Malária. Envenenamento Etilenoglicol → Precipitação de cristais de oxalato de cálcio nos túbulos → IRA Peçonha de jararaca ou cascavel. A hidratação vigorosa sempre é útil no manejo da nefrotoxicidade! O fluido intratubular é um meio concentrado e acidificado, que pode “solidificar” substâncias potencialmente nocivas ao túbulo ou agravar a toxicidade do elemento causador da NTA. Logo, a hidratação vigorosa pode ajudar a “lavar” esses elementos nocivos. Fisiopatologia da NTA ● Menor reabsorção de NaCl no TCP → Fluido rico em sódio chega ao TCD → Feedback por meio da mácula densa entende que há muito cloreto de sódio por filtração “excessiva” → Vasoconstrição da arteríola aferente. ● Plugs obstrutivos ● Blackleak - Vazamento do conteúdo do lúmen tubular ao sangue, “levando” escórias nitrogenadas ao plasma. Quadro Clínico da NTA ● Oligúria (em geral, ausente na NTA por insulto direto aos túbulos, como ação de aminoglicosídeos) ● Aumento de escórias nitrogenadas ● Pode ocorrer evolução para síndrome urêmica! (Diálise necessária) A NTA oligúrica pode ser confundida com IRA pré-renal. Uma das maneiras de diferenciá-las é por meio da administração de 1000 mL de cristaloide ao paciente. A IRA pré-renal responde à prova de volume, ao contrário da NTA. Na IRA pré-renal, os rins estão ávidos para reabsorver sódio e água. Assim, a urina é pobre em sódio e pobre em água (BEM CONCENTRADA). Na NTA, a deficiência tubular faz com que a urina seja diluída (d<1,015) e rica em sódio! A fração excretora de sódio é >1% nos pacientes com NTA e <1% nos pacientes com IRA pré-renal. A fração excretora de ureia é superior a 50% na NTA e inferior a 35% nos pacientes com azotemia pré-renal. EAS na NTA: Cilindros epiteliais e granulosos pigmentares. Hematúria, piúria, cilindros hemáticos ou piocitários sugerem outra causa de lesão renal. Manejo da NTA ● Não há tratamento específico. O mais importante é prevenir: ● Manter euvolemia ● Prestar atenção a sinais urêmicos (encefalopatia, pericardite, edema agudo de pulmão, HA grave, hipercalemia, Sd. metabólica) A furosemida tem função polêmica nesse caso, mas ainda é utilizada, mesmo sem estudos clínicos que comprovem sua eficácia. Por aumentar o débito urinário, deve ser iniciada após prova terapêutica com reposição volêmica, na dose de 0,4 a 0,6 mg/kg/h em infusão. A resposta à furosemida indica lesão renal mais branda. A furosemida pode transformar a IRA oligúrica em não oligúrica (“menos grave” do que a oligúrica) Evolução Natural da NTA 1. Fase inicial (ainda reversível) 2. Fase de manutenção (dano renal estabelecido, queda expressiva da TFG, até valor mínimo de 5 a 10 mL/min). Em geraldura de 7 a 21 dias, podendo se arrastar por até 1 ano 3. Fase de recuperação (epitélio tubular começa a regenerar. Em geral, paciente cursa com poliúria, hipocalemia e estabilização do débito urinário) Fatores de Mau Prognóstico no Paciente com NTA ● Sepse ● Oligúria (diurese < 500mL em 24h) ● Refratariedade à furosemida ● Síndrome Nefrótica ● Disfunção Orgânica Múltipla
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