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Resumo - Descaminho e Contrabando [Direito Penal]

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Felipe Pereira Boechat – Acadêmico de Direito | fpboechat 
 
A) Tipos Penais: 
■ Descaminho 
Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela 
entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 
 
■ Contrabando 
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. 
B) Bens Jurídicos Tutelados: O controle do Poder Público sobre a entrada e saída de 
mercadorias no país (contrabando) e os interesses em termos de tributação a Fazenda Pública 
(descaminho). 
C) Sujeito Ativo: Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. O funcionário público 
responde por facilitação de contrabando ou descaminho (art. 318, CP). 
D) Sujeito Passivo: O Estado, representado pela União. 
E) Tipo Objetivo: A Lei n. 13.008/14, visando aumentar a pena do crime de contrabando, 
desmembrou o antigo artigo 344 do CP em dois tipos penais. 
■ Descaminho é a ilusão, a fraude tendente a frustrar, total ou parcialmente, o pagamento 
de direitos de importação ou exportação ou do imposto de consumo sobre mercadorias. 
■ Contrabando é a clandestina importação ou exportação de mercadorias cuja entrada no 
País, ou saída dele, é absoluta ou relativamente proibida. 
F) Tipo Subjetivo: É constituído pelo dolo (dispensando qualquer elemento subjetivo 
especial), consistente na vontade livre e consciente de praticar as condutas típicas (Iludir; 
importar; exportar). Contudo, o dolo não se presume, demonstra-se. Portanto, os crimes dos 
caputs não existem na modalidade culposa. 
G) Entendimento de Tribunais – Descaminho: 
a) Princípio da Insignificância: O STF com fulcro no art. 20 da Lei nº 10522/02 passou a 
reconhecer reiteradamente a insignificância quando o débito tributário não for superior a R$ 
10.000,00 (dez mil reais). Posteriormente as Portarias nº 75/12 e 130/12 do Ministério da 
Fazenda passaram a dispensar a cobrança fiscal em juízo de valores até R$ 20.000,00 
(vinte mil reais), de modo que o STF passou a reconhecer a insignificância ate tal patamar. 
b) Extinção da punibilidade com o pagamento do tributo: Trata-se de assunto 
controvertido. 
DIREITO PENAL 
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STF STJ 
Concorda com a abrangência 
pela lei por ser crime de 
natureza tributária. 
Não concorda com o entendimento do Tribunal 
Superior, argumentando da seguinte forma: 
Pelo fato do descaminho se 
tratar de crime que atinge a 
ordem tributária, é passível a 
sua extinção da punibilidade 
com fulcro nos art. 69 da Lei n. 
9249/95; art. 9, § 2º da Lei n. 
10684/03; e art. 69 da Lei n. 
11941/09. 
1) O delito de descaminho é formal, não podendo ser 
equiparado aos crimes materiais de ordem tributária; 
2) O bem jurídico tutelado no descaminho vai além do 
imposto cobrado ou sonegado, gerando uma série de 
prejuízos para a atividade empresarial brasileira; 
3) O art. 9 da Lei n. 10684/03 prevê a extinção da 
punibilidade (pelo pagamento dos débitos fiscais) 
apenas no que se refere os art. 1º e 2º da Lei. n. 
8137/90 (168-A e 337-A do CP). Há taxatividade. 
H) Entendimento de Tribunais – Contrabando: 
a) Configura crime de contrabando a importação não autorizada de arma de pressão por 
ação de gás comprimido ou por ação de mola, independentemente do calibre. 
b) Constitui crime de contrabando, insuscetível de aplicação do princípio da insignificância, a 
importação não autorizada de cigarros ou gasolina. 
c) A importação clandestina de medicamentos configura crime de contrabando. 
Excepcionalmente aplica-se o princípio da insignificância nos casos de pequena quantidade 
para uso próprio. 
I) Consumação: Trata-se de crime formal, pois independe independentemente da 
constituição administrativa do débito fiscal. É também crime instantâneo de efeitos 
permanentes, não se confundindo com o crime permanente, já que a consumação ocorre no 
local em que o tributo deveria ser pago, pouco importando o local da apreensão da 
mercadoria. (STJ. RT 728/511). Portanto, não há prisão em flagrante quando o agente é 
encontrado na posse de produtos que ingressou no País dias antes. 
■ Descaminho: Se por via aduana, consuma-se com a liberação da mercadoria, sem o 
pagamento do tributo devido; se ocorre em local distinto, se consuma com a entrada ou 
saída do País. 
■ Contrabando: Ocorre com a entrada ou saída da mercadoria proibida do território 
nacional. 
J) Tentativa: É possível, por se tratar de conduta plurissubsistente. Ex.: Mercadoria 
apreendida no setor alfandegário. 
K) Causa de aumento: De acordo com os parágrafos 3º dos art. 334 e 334-A, a pena será 
aplicada em dobro quando o descaminho ou contrabando for praticado em transporte aéreo, 
marítimo ou fluvial (por haver maior facilidade na prática do delito). 
L) Legislação Penal Especial: 
a) Importação e exportação ilegal de substância entorpecente: Crime de tráfico 
internacional de entorpecente previsto no art. 33, caput com aumento pelo art. 40, I, ambos 
da Lei, n. 11343/06. 
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b) Importação ou exportação ilegal de arma de fogo, acessório ou munição: Crime 
específico previsto no art. 18 da Lei n. 10826/03. 
M) Figuras equiparadas ao crime de descaminho: 
I) pratica navegação de cabotagem fora dos casos permitidos em lei. A navegação de 
cabotagem é a realizada entre portos ou pontos de um mesmo país, utilizando a via 
marítima ou vias navegáveis interiores (art. 2º, IX, da Lei n. 9.432/97). Trata-se de norma 
penal em branco, cuja tipificação pressupõe o desrespeito ao texto de outra lei; 
 
II) pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho. Constitui fato assimilado 
previsto em lei, por exemplo, a saída de mercadorias da Zona Franca de Manaus sem o 
pagamento de tributos, quando o valor excede a cota que cada pessoa pode trazer. Trata-
se, também, de norma penal em branco; 
 
III) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em 
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, 
mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou 
importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no 
território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem. O legislador pune 
na parte inicial o próprio autor do descaminho que vende, expõe à venda, mantém em 
depósito ou de qualquer forma utiliza a mercadoria no exercício de atividade comercial ou 
industrial. Quando isso ocorre, é evidente que o agente não será punido pela figura do 
caput, que resta, portanto, absorvida. Em sua parte final, a lei ainda pune quem toma as 
mesmas atitudes em relação a mercadorias introduzidas clandestinamente ou importadas 
fraudulentamente por terceiro; 
 
IV) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade 
comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de 
documentação legal, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. A lei 
pune, aquele que, no exercício de atividade comercial ou industrial, adquire (obtém a 
propriedade), recebe (obtém a posse) ou oculta (esconde) mercadoria de procedência 
estrangeira desacompanhada de documentos ou acompanhada de documentos que sabe 
serem falsos. Trata-se de delito que possui as mesmas condutas típicas do crime de 
receptação, mas que se aplica especificamente a mercadorias objeto de descaminho. 
N) Figuras equiparadas ao crime de contrabando: 
I) pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando. A exemplo do art. 39 do 
Decreto-Lei nº 288 de 1967, que considera como contrabando a saída de mercadorias da 
Zona Franca sem a autorização legal expedida pelas autoridades competentes. Trata-se, 
também, de norma penal em branco; 
 
Art. 334, § 1º – Incorre na mesma pena: 
quem: 
Art. 334-A, §1º – Incorre na mesma pena: 
quem: 
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II) importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise 
ou autorização de órgão público competente; O objeto material das condutas aqui 
contidas são mercadoria estrangeira, na hipótese de importação, introduzida clandestina 
ou fraudulentamente no País, e mercadoria brasileira exportada sem cumprir as 
formalidades legais. Essa previsão é absolutamente equivocada e desnecessária. Já que 
equipara uma conduta que configuraria um descaminho, como um crime de contrabando; 
 
III) reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação; Trata-
se de figura equiparada de difícil exemplificação, já que não trata de mercadoria cuja 
exportação já foi concluída, muito menos trata da reimportação; 
 
IV) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em 
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, 
mercadoria proibida pela lei brasileira; Se trata de conduta dolosa e que só pode ser 
praticada no exercício de atividade comercial ou industrial; 
 
V – adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade 
comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. É reconhecido que a 
falta de consciência ou conhecimento da natureza e origem da mercadoria afasta por 
completo o elemento subjetivo que, no caso, seria o dolo, não havendo previsão de 
modalidade culposa. 
■ Atenção! Observar o disposto no § 2º do art. 334 e 334-A, nos casos dos incisos III e IV 
(art. 334) e incisos IV e V (art. 334-A): “Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos 
deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, 
inclusive o exercido em residências”. 
Ocorre que o parágrafo supracitado tem a mesma redação em ambos os artigos e define 
que equipara-se à atividade comercial qualquer forma de comércio irregular (sem registro 
junto aos órgãos competentes) ou clandestino de mercadorias estrangeiras (camelôs, por 
exemplo), inclusive o exercido em residências. 
O) Ação Penal: É pública incondicionada. A Súmula n. 151 do STJ estabelece que “a 
competência para processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se 
pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens”, ou seja, a competência é 
da Justiça Federal. 
■ Referência Bibliográfica: 
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito Penal Esquematizado: 8 Ed. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2018. (Coleção Esquematizado® / Coordenador Pedro Lenza).

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