Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
02510702 Ciências dos M ateriais Nome negrito parte sem negrito Me. LUIS HENRIQUE DE SOUZA Ciências dos Materiais Ciências dos Materiais Me. Luis Henrique de Souza Coordenador de Conteúdo Crislaine Rodrigues Galan e Fabio Augusto Gentilin. Designer Educacional Janaína de Souza Pontes e Yasminn Talyta Tavares Zagonel. Revisão Textual Érica Fernanda Ortega e Cíntia Prezoto Ferreira. Editoração Bruna Stefane Martins Marconato. Ilustração Mateus Calmon, Marcelo Goto e Natalia de Souza Scalassara. Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro Naldei e Thiago Surmani. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SOUZA, Luis Henrique de. Ciências dos Materiais. Luis Henrique de Souza. Maringá-PR.: Unicesumar, 2019. 288 p. “Graduação - EAD”. 1. Ciências. 2. Materiais. 3. Engenharia. 4. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 620 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação CEP 87050-900 - Maringá - Paraná unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de Design Educacional Débora Leite; Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros; Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock. PALAVRA DO REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! BOAS-VINDAS Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. APRESENTAÇÃO Prezado(a) aluno(a), este livro foi elaborado para um curso inicial sobre Ciências dos Materiais e, no decorrer do estudo dessa disciplina, utilizando esse material, percorreremos um trajeto que nos dará conhecimento sobre os sólidos, suas estruturas e defeitos estruturais, suas propriedades, falhas, diagramas de transformações eaplicações usuais das classes de materiais. Iniciaremos esse trajeto na Unidade 1, em que será realizada uma intro- dução aos materiais, seguida de uma explicação breve sobre a classificação dos materiais e terminando com o estudo das suas estruturas cristalinas. Na Unidade 2, veremos como é realizada a determinação de pontos, direções e planos na célula unitária de um sólido cristalino, definiremos materiais amorfos e cristalinos e estudaremos as imperfeições estruturais. A difusão em sólidos, os mecanismos de difusão, a lei de Fick e os parâ- metros que influenciam no processo de difusão serão abordados e aplicados em exemplos na Unidade 3. Já na Unidade 4, você irá conhecer as proprieda- des mecânicas dos materiais, tais como dureza, limite de resistência à tração e ductilidade, que serão trabalhadas após uma conceituação básica para lhe deixar mais confortável com o assunto. Continuando, na Unidade 5, você vai conhecer as falhas típicas que ocorrem em projetos envolvendo mate- riais, sendo elas a fratura, fadiga e fluência, e os mecanismos usuais delas. Na Unidade 6, você vai estudar um tópico muito importante nas ciências dos materiais, denominado diagrama de fases, e vai aprender a determinar fases presentes em um sistema, quantidades relativas e composição dessas fases aplicando esses conhecimentos no diagrama ferro-carbono. Nas Uni- dades 7 e 8 serão abordadas outras propriedades dos materiais; na Unidade 7, você verá as propriedades elétricas, condução elétrica nos condutores e isolantes, e as propriedades térmicas, condutividade térmica, expansão térmica e capacidade calorífica. Já na Unidade 8, você vai conhecer as pro- priedades ópticas, como a reflexão, absorção e refração; as propriedades magnéticas, como o diamagnetismo e ferromagnetismo; e, concluindo a unidade, você vai conhecer os tipos de corrosão que ocorrem em materiais metálicos e a degradação em materiais poliméricos. Concluiremos os nossos estudos da disciplina de Ciências dos Materiais com a Unidade 9, na qual serão abordadas as classes dos metais, cerâmicas, polímeros e compósitos, e onde você vai conhecer um pouco mais de cada umas dessas classes apresentadas na Unidade 1 e mencionadas nas demais unidades. Aqui, veremos alguns métodos de produção, materiais específicos de cada uma dessas classes e aplicações deles. Desejo a você uma ótima leitura. CURRÍCULO DOS PROFESSORES Me. Luís Henrique de Souza Possui mestrado em Engenharia Química na área de modelagem e simulação de processos fotocatalíticos pela Universidade Estadual de Maringá (2016) e graduação em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Maringá (2013). Tem experiência na área de Engenha- ria Química, em Modelagem e simulação de reatores fotocatalíticos, síntese e avaliação do desempenho de catalisadores bifuncionais e enzimáticos, tratamento de efluentes utilizando processos oxidativos avançados e programação em Matlab; também tem experiência no Ensino Superior nas disciplinas de Modelagem Matemática, Cálculo Numérico, Saneamento Urbano, Programação para Engenharia e Física I. Atualmente, doutorando em Engenharia Química na Universidade Estadual de Maringá. Currículo Lattes disponível em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4499456E7 Introdução a Ciências dos Materiais 13 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos 41 Difusão em Sólidos 71 Propriedades Mecânicas Falhas em Materiais Sólidos 101 131 Diagrama de Fases 159 Propriedades Elétricas e Propriedades Térmicas dos Materiais Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais 223 Classes de Materiais e Aplicações 253 193 29 Redes de Bravais 58 Discordância sem sólidos cristalinos Utilize o aplicativo Unicesumar Experience para visualizar a Realidade Aumentada. PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Me. Luis Henrique de Souza • Conhecer a importância dos materiais em nossas vidas e na evolução da humanidade e ter uma visão geral do ramo das ciências dos materiais. • Apresentar as principais classes dos materiais e suas ca- racterísticas gerais. • Introduzir a ideia de materiais cristalinos, sistemas crista- linos e redes de Bravais. Perspectiva Histórica Classificação dos Materiais Estruturas Cristalinas dos Materiais Introdução a Ciências dos Materiais Perspectiva Histórica Antes de iniciarmos a nossa aventura no mundo dos materiais, é importante que você tenha uma perspectiva histórica sobre as ciências dos mate- riais, essa perspectiva será apresentada a seguir, no decorrer deste tópico. Além disso, vamos definir o que são as ciências dos materiais, para deixá-lo(a) mais confortável com o assunto. Desde o início das civilizações, os materiais e a energia são utilizados para melhorar a vida dos seres humanos; por essa razão, eles estão in- timamente ligados à existência e à evolução da humanidade e acompanharam essas civilizações no decorrer de todo o seu desenvolvimento desde a pré-história, na Idade da Pedra, quando nossos ancestrais lascavam pedras para produzir armas de caça; passando pela Idade do Bronze, na qual foi desenvolvida a base da metalurgia com as ligas de cobre e estanho na produção de armas superiores; até os dias atuais, com a produção de superligas, grafeno, entre outros (SHACKELFORD, 2013). 15UNIDADE 1 Para que você possa perceber a importância dos materiais para a humanidade, imagine a sua vida sem alguns deles, por exemplo, o plástico, o cimento, o vidro, o alumínio e o papel. É impossível imagi- nar tal situação, não é? Isso deixa claro que os materiais estão presentes em todos os setores de nossas vidas, seja na habitação, transporte, comunicação, indústria ou, ainda, no lazer. A produção e a transformação desses materiais em bens acabados representa uma das atividades mais importantes da economia moderna. Todo o conhecimento adquirido ao longo da nossa evolução acerca dos materiais tornou possível o desenvolvimento de uma variedade enorme de materiais e moldagem das propriedades desses materiais de acordo com o interesse e a necessidade da sociedade (SMITH; ROSA, 1998; CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Ciência e Engenharia dos Materiais O estudo da estrutura de um material pode ser realizado em quatro níveis diferentes. O primeiro é o nível subatômico que estuda o átomo indi- vidualmente e o comportamento de seu núcleo e elétrons. O segundo nível é o nível atômico, que estuda a interação entre vários átomos e a formação de ligações e moléculas. O terceiro nível é o microscópico, que corresponde aos ar- ranjos atômicos e moleculares e a formação de estruturas cristalinas, moleculares e amorfas. Por fim, o nível macroscópico relacionado ao com- portamento do material em serviço. Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013). A ciência e engenharia de materiais é um cam- po de conhecimento interdisciplinar, que trata do estudo e manipulação da composição e es- trutura dos materiais, com o intuito de controlar as propriedades destes por meio da síntese e do processamento para a produção de bens de uso e consumo. A ciência dos materiais tem como obje- tivo o estudo da estrutura interna, das proprieda- des e do processamento dos materiais, enquanto a engenharia dos materiais dedica-se à aplicação destes conhecimentos de modo a transformar os materiais em produtos úteis e/ou necessários à sociedade; entretanto, não existe uma linha es- tritamente definida separando esses dois ramos (SMITH; ROSA, 1998). Neste livro, serão abor- dados tanto aspectos da ciência quanto da enge- nharia dos materiais. Na ciência e engenharia dos materiais, o termo composição refere-se à constituição química do material, ou seja, aos átomos,moléculas ou íons que constituem esse material. Já o termo estrutura refere-se à forma como esses átomos, moléculas ou íons se organizam (arranjam) para a formação do material. Outros termos utilizados nesse âmbito são: o termo síntese, que se refere ao modo e às subs- tâncias químicas necessárias para a produção de um material específico, e o termo processamento, que remete ao modo como os materiais sintetizados são transformados em bens de uso e consumo com propriedades adequadas a cada finalidade (ASKELAND; WRIGHT, 2015). 16 Introdução a Ciências dos Materiais É importante saber que, quando falamos de ma- teriais, devemos ter em mente que toda matéria é um material em potencial, dependendo apenas que suas propriedades (ópticas, mecânicas, elétricas etc.) confiram-lhe alguma função especifica (ZAR- BIN, 2007). Além disso, o desempenho do material em uma aplicação é um fator determinante em projetos. Portanto, pode-se notar que a ciência dos materiais está embasada em quatro pilares: a sín- tese e processamento; a composição e estrutura; as propriedades; e o desempenho (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Em resumo, a partir da ciência e engenharia dos materiais, é possível compreender a natureza dos materiais e aplicar conceitos fundamentais e empíricos que possibilitam relacionar a estrutu- ra dos materiais, suas diversas propriedades e o seu comportamento para a transformação desses materiais em produtos. 17UNIDADE 1 Os materiais, por razões de conveniência, são se- parados em classes com base na sua constituição, arranjo de seus átomos e suas propriedades. Essas classes, ou grupos, são: • Metais ou materiais metálicos. • Cerâmicas ou materiais cerâmicos. • Polímeros ou materiais poliméricos. • Compósitos ou materiais compósitos. Cada uma dessas classes possui materiais com estruturas e propriedades diferentes das outras classes. A seguir, vamos conhecê-las e entender suas características gerais. Metais Os materiais pertencentes à classe dos metais são substâncias inorgânicas, constituídos por um ou mais elementos químicos metálicos, podendo con- ter elementos não metálicos em sua composição. Dentre os materiais metálicos mais usuais estão o aço, o ferro, o magnésio, o cobre, o alumínio, a prata, o bronze, o titânio, o ouro etc. Além disso, dentro da Classificação dos Materiais 18 Introdução a Ciências dos Materiais classe dos materiais metálicos, também existem as ligas metálicas, que são formadas pela mistura de um metal com um ou mais metais ou não metais, alguns exemplos de materiais não metálicos que podem estar presentes em ligas metálicas são o carbono, nitrogênio e oxigênio (ASKELAND; WRIGHT, 2015). A ligação do tipo iônica é uma ligação que ocorre entre dois íons de cargas opostas, um cátion e um ânion, enquanto a ligação covalente é um tipo de ligação em que ocorre o compartilhamento de elétrons entre os átomos envolvidos. Por fim, a ligação metálica é aquela que ocorre entre dois átomos de metais e, nessa ligação, todos os átomos envolvidos perdem elétrons de suas camadas mais externas, e esses elétrons se deslocam com grande mobilidade entre essas camadas, formando uma nuvem eletrônica (também conhecida como “mar de elétrons”). Fonte: adaptado Callister Jr. e Rethwisch (2013). Alguns exemplos comuns, feitos de materiais metálicos, presentes no nosso dia a dia, podem ser vistos na Figura 1. Figura 1 - Objetos comuns feitos de metal e ligas metálicas Eles possuem alto nível de organização espacial no arranjo de seus átomos, definido pelo termo “es- trutura cristalina”. Em função dessa estrutura atômica organizada, os metais possuem boa resistência mecânica, ductilidade, alta rigidez, resistência a choques e podem ser deformados sob a ação de forças externas. Além disso, são bons condutores de eletricidade e de calor, devido às suas ligações metálicas. Apesar dos metais puros serem pouco utilizados, as ligas possuem diversas aplicações, uma vez que elas permitem combinações de propriedades melhores que os metais puros. Na fabricação de joias, por exemplo, o ouro puro não é utilizado, pois ele é um material muito macio; para resolver esse problema, os ourives misturam o ouro com cobre, com a finalidade de melhorar a sua resistência mecânica para que a joia não seja danificada facilmente (ASKELAND; WRIGHT, 2015). 19UNIDADE 1 Cerâmicas A palavra cerâmica, na linguagem do dia a dia, tem um significado diferente do que tem nas Ciências dos Materiais. Na linguagem popular, cerâmicas são os objetos feitos de porcelana ou louça; no âmbito das Ciências dos Materiais, a palavra “cerâmicas” tem uma abrangência muito maior. As cerâmicas são constituídas por elementos químicos metálicos e não metálicos que se ligam por meio de ligações covalentes e iô- nicas. O óxido de alumínio, ou alumina, é um exemplo de material cerâmico composto por alumínio, que é um metal, juntamente com o oxigênio, um não metal, cuja fórmula química é Al2O3. Outros exemplos de materiais cerâmicos comuns são o dióxido de silício (ou sílica, SiO2), dióxido de zircônio (ou zircônia, ZrO2), carbeto de silício (SiC) e nitreto de silício (Si3N4). Na Figura 2, podemos ver alguns objetos feitos de materiais cerâmicos. Figura 2 - Objetos comuns feitos de materiais cerâmicos Os materiais cerâmicos são duros, possuem rigidez e resistência comparadas às dos metais, entretanto, são frágeis, ou seja, apresentam baixa resistência a esforços de tração, torção, flexão etc. Contudo, as cerâmicas são mais resistentes a altas temperaturas e ambientes severos do que os polímeros e os me- tais, e são materiais tipicamente isolantes térmicos e elétricos (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). No âmbito de ciência dos materiais, dureza é a uma das características dos materiais que está inti- mamente vinculado com a ligação dos átomos que formam esse material. A grosso modo, a dureza pode ser entendida como a facilidade que um material tem de riscar ou penetrar em outro. Fonte: Durocontrol (2016, on-line)1. Os usos mais comuns das cerâmicas são na produção de tijolos, vasos sanitários, refratários, entre outros. Já as cerâmicas avançadas são aplicadas na produção das estruturas de chips de computadores, capacitores, velas de ignição de automóveis, indutores elétricos etc. (ASKELAND; WRIGHT, 2015). A indústria moderna é altamente dependente dos metais, uma vez que seu uso ocorre em uma excep- cional diversidade de segmentos, desde a indústria automotiva à microeletrônica. 20 Introdução a Ciências dos Materiais Polímeros A classe dos polímeros é um ramo de produtos da química orgânica, formados, principalmente, por carbono e hidrogênio, podendo conter outros elementos não metálicos. O processo de produção dos polímeros é conhecido como polimerização. Os polímeros são moléculas de cadeia longa, for- mados pela união de várias (poli) unidades me- nores (meros). O polietileno (C2H4)n é um exem- plo de polímero formado apenas por carbono e hidrogênio, pela união de 100 até 1000 moléculas de etileno (C2H4). Entretanto, além do carbono e hidrogênio, os polímeros podem conter oxigê- nio, como o acrílico, nitrogênio, poliamidas ou náilons, flúor, fluorocarbonos, silício e silicones. A seguir, são apresentados, na Figura 3, alguns objetos feitos de polímeros. Em geral, os materiais poliméricos possuem grande ductilidade e tem baixa densidade. Além disso, esses materiais são isolantes elétricos, não magnéticos e, alguns polímeros, são altamente resistentes a produtos químicos corrosivos. Suas desvantagens estão no fato de serem menos resistentes a defor- mações que os metais, e de amolecer e/ou se decompor em temperaturas moderadas; contudo, mesmo com essas limitações, eles ainda são uma opção altamente versátil e útil. O avanço das tecnologias, na última década, no desenvolvimentode compostos poliméricos, tem permitido a produção de polímeros com resistência e rigidez altas o suficiente para substituir alguns metais em aplicações estruturais comuns em projetos (SHACKELFORD, 2013). Compósitos Os compósitos são formados pela combinação entre os materiais das classes apresentadas anteriormente (metais, cerâmicas e polímeros). Essa união conduz a um material com propriedades superiores aos dos componentes separadamente. Existem vários tipos de compósitos, formados por diferentes combinações entre metais, cerâmicas e polímeros, a maior parte deles e feita pelo homem; contudo, alguns materiais de ocorrência natural também são considerados compósitos, como é o caso do osso e da madeira. Um dos compósitos mais famosos é a fibra de vidro, constituída de pequenas fibras de vidro em- butidas no interior de uma matriz polimérica. A união das fibras de vidro, material resistente e rígido (porém frágil) com a matriz polimérica, material dúctil e flexível (porém fraco) resulta em um material compósito flexível, dúctil, resistente e relativamente rígido (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Figura 3 - Objetos comuns feitos de polímeros 21UNIDADE 1 A partir dos compósitos, é possível obtermos materiais leves, robustos, dúcteis e resistentes a altas temperaturas ou mesmo produzirmos ferramentas de corte, duras e resistentes a choques, que fratu- rariam se fossem feitas com outros materiais (ASKELAND; WRIGHT, 2015). Na Tabela 1, pode-se observar alguns exemplos de materiais pertencentes aos grupos apresentados anteriormente, suas aplicações e suas propriedades. Tabela 1 - Aplicações e propriedades dos materiais Classes Exemplos de aplicações Propriedades Metais e Ligas Cobre Fios elétricos Alta condutividade elétrica, boa conformabilidade Ferro fundido cinzento Blocos de motores para automóveis Fundibilidade, usinabilidade, amor-tecimento de vibrações Aços especiais Ferramentas, chassis de automóveis Endurecibilidade por tratamento térmico Cerâmicas e vidros SiO2-Na2O-CaO Vidro para janelas Transparência ótica, isolamento térmico Al2O3, MgO, SiO2 Refratários (revestimento resistente ao calor para fornos de fusão) Isolamento térmico, refratarieda- de, inércia química Titanato de bário Capacitores para microeletrônica Grande capacidade de armazena-mento de cargas elétricas Sílica Fibras óticas para a tecnologia da informação Índice de refração adequado, bai- xas perdas óticas Polímeros Polietileno Embalagens para alimentos Facilidade de ser moldado para produzir filmes finos, flexibilidade e hermetismo Resinas de epóxi reforçada com fibras de carbono Encapsulamento de circuitos inte- grados Isolante elétrico e resistência à umidade Resinas fenólicas Adesivos para união de camadas de compensado Resistência mecânica e à umidade Compósitos Resina epóxi reforçada com fibras de carbono Componentes para aviação Elevada razão resistência-peso Metal duro (liga de cobalto reforçada com carbeto de tungstênio) Ferramentas de corte para usina- gem Elevada dureza conjugada com boa resistência a choques Aço revestido com titânio Vasos para reatores Baixo custo e associação de alta resistência do aço com a elevada resistência à corrosão do titânio Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015). 22 Introdução a Ciências dos Materiais Materiais avançados Os materiais avançados são materiais que são aplicados na produção de componentes ou dis- positivos de alta tecnologia, cujo funcionamento possui princípios intrincados ou sofisticados. Os materiais dessa categoria pertencem às classifica- ções descritas anteriormente e devemos entender o termo “alta tecnologia” como sendo relacionado a produtos e dispositivos, por exemplo, equipa- mentos eletrônicos, computadores, aeronaves, sistemas de fibras ópticas, equipamentos médi- cos etc. Semicondutores Os semicondutores são materiais com proprieda- des elétricas intermediárias entre os condutores (metais) e os isolantes (polímeros e cerâmicas). Além disso, as propriedades elétricas desses ma- teriais são extremamente sensíveis a pequenas concentrações de átomos de impurezas presentes em sua composição. O controle das concentrações de impurezas em regiões definidas do material permite con- trolar a condutividade elétrica nessas regiões do material, possibilitando sua aplicação em compo- nentes como, por exemplo, circuitos eletrônicos integrados. Os semicondutores são, geralmente, feitos de silício, germânio e arsenato de gálio. Ao longo das últimas décadas, os semicondutores revoluciona- ram a indústria de eletrônicos e de computadores, em decorrência de suas propriedades elétricas diferenciadas (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Voltaremos a falar sobre os materiais semi- condutores mais adiante, na Unidade 7. Biomateriais Os biomateriais são materiais pertencentes às classes de materiais anteriores (metais, polímeros, cerâmicas e semicondutores). Esses materiais são utilizados na área da saúde para as mais diversas finalidades, entre elas dispositivos biomédicos (biosensores, tubos de circulação, sistemas de he- modiálise), materiais implantáveis (suturas, subs- titutos ósseos, lentes, dentes, válvulas cardíacas), órgãos artificiais (pulmões, coração, rim, pele), curativos, dentre outros. Devido à finalidade desses materiais, eles de- vem ser materiais não tóxicos, pois eles entram em contato com sistemas biológicos. Além disso, eles devem ser compatíveis com os tecidos do corpo, uma vez que muitos deles são implanta- dos como substitutos a órgãos e tecidos danifi- cados do corpo humano (PIRES; BIERHALZ; MORAES, 2015). Dentre os materiais metálicos, o titânio e suas ligas, por exemplo, têm sido usado por décadas na fixação de fraturas e reconstrução de articulações por ser resistente à corrosão, biocompatível e pela indução do crescimento ósseo (bioadesão). Além disso, alguns tipos de ligas de cobre são aplicados para artroplastia total de quadril, que consistem em uma haste femoral conectada a uma cabeça modular sujeita à articulação com o componente acetabular. Já os materiais cerâmicos bioinertes possuem aplicações biomédicas, principalmente nas áreas de ortopedia e odontologia, com grande represen- tatividade de compostos, como a alumina (Al2O3), zircônia (ZrO2) e zircônia estabilizada com óxido de ítrio (ZrO2(Y2O3)), devido à sua capacidade de não reagir com o tecido adjacente, resistência à corrosão, grande resistência ao desgaste e alta re- sistência mecânica (BIOFABRIS, [2019], on-line)2. 23UNIDADE 1 Magnéticos A palavra magnetismo está associada ao fenômeno de atração que um material exerce sobre outro material. Sendo assim, os materiais magnéticos são materiais com a capacidade de exercer uma força de atração ou repulsão sobre outros materiais. Alguns materiais são capazes de se manterem magnetizados mesmo na ausência de um campo magnético, eles são chamados de ferromagnéticos; outros materiais apresentam propriedades mag- néticas apenas na presença de um campo magnético atuante. Um exemplo de material ferromagnético é o imã em barra, apresentado na Figura 4a, que exibe dois polos identificados (norte-sul); para um imã reto e um imã em formato de U, na Figura 4b, são visuali- zadas as linhas de campo formadas pela limalha de ferro quando submetida a esses dois tipos de imãs. Ímã de barra Ímã em ferradura a) b) Figura 4 - a) Representação das linhas de campo de um imã; b) O efeito do imã sobre a limalha de ferro 24 Introdução a Ciências dos Materiais Os materiais magnéticos possuem aplicações variadas, desde pequenos imãs para fechar portas de armários, até componentes sofisticados utilizados na indústria de eletrônicos (RODRIGUEZ, 1998). Os materiais magnéticos serão vistos com maior detalhamento na Unidade8. Nanotecnológicos Os materiais nanotecnológicos são diferenciados em relação ao seu tamanho a nível nano, ou seja, suas partículas possuem dimensões da ordem de nanômetros (10-9 metros). O estudo desses ma- teriais é chamado de nanotecnologia. Eles são de grande expectativa tecnológica, devido às suas características fascinantes e, por essa razão, ga- nharam significativa importância a partir do final do século XX, com aplicações em nichos, como eletrônica, biomedicina, esportes, produção de energia, entre muitos outros. As propriedades dos materiais que conhece- mos são fortemente dependentes do tamanho das partículas que compõem esses materiais; dessa forma, podemos modificar as propriedades de um determinado material por meio do controle do tamanho e da forma de suas partículas cons- tituintes e, com isso, obter novas possibilidades de aplicação para o mesmo material. Portanto, a partir da nanotecnologia, materiais opacos podem se tornar transparentes em escala nanométrica, alguns sólidos tornam-se líquidos, isolantes elétricos tornam-se condutores etc. Então, tornou-se possível modificar propriedades físicas e químicas dos materiais pertencentes a todas as classes de materiais (metais, cerâmicas, polímeros, compósitos) somente controlando o tamanho e o formato de suas partículas, sem a necessidade de alterar sua composição química (ZARBIN, 2007). A Figura 5, a seguir, mostra a estrutura dos nanotubos de carbono produzidos a partir da na- notecnologia aplicada aos materiais. Esse material possui um vasto campo de aplicações, por exemplo, na fabricação de suportes para catalisadores, puri- ficação e descontaminação de águas, em baterias de íons de lítio, sensores e biosensores, entre muitas outras aplicações (ZARBIN; OLIVEIRA, 2013). Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Figura 5 - Representação tridimensional da estrutura de um nanotubo de carbono 25UNIDADE 1 É fundamental conhecer o arranjo estrutural dos átomos na formação dos materiais, uma vez que esse arranjo determina muitas das propriedades desses materiais. Para melhor aproveitamento deste conteúdo, vamos introduzir alguns concei- tos importantes, como o de estrutura cristalina, rede cristalina e célula unitária. Além disso, devemos saber que os átomos são formados por um núcleo, com prótons e nêutrons, cercado por elétrons que circulam ao redor desse núcleo. Para a finalidade de descrever os arranjos nos sólidos, adotaremos um sistema no qual os átomos que compõem um material serão considerados esferas rígidas, como bolas de pingue-pongue. • Rede cristalina: é um conceito matemá- tico e infinito em extensão. Em outras pa- lavras, uma rede cristalina é um conjunto de pontos dispostos de acordo com um padrão periódico, ou seja, um arranjo tri- dimensional de pontos cuja vizinhança é idêntica. Portanto, essas redes são os esque- letos sobre os quais as estruturas cristalinas dos materiais são formadas e os átomos ou grupo de átomos estão posicionados nos pontos dessa rede ou próximos a eles. Estruturas Cristalinas dos Materiais 26 Introdução a Ciências dos Materiais • Estrutura cristalina: é a estrutura forma- da pelo arranjo dos átomos, íons ou mo- léculas quando se organizam na formação de um material. Os cristais formados nesse processo podem ter as mais variadas for- mas, desde estruturas mais simples – para os metais – até estruturas complexas – para algumas cerâmicas e polímeros. • Célula unitária: nos sólidos cristalinos, pe- quenos grupos de átomos se organizam de maneira periódica na formação da estrutura cristalina de um material; por essa razão, é conveniente e prático dividir a estrutura cris- talina nessas unidades menores e repetitivas, que são denominadas células unitárias. A célula unitária é o bloco estrutural básico, ou bloco construtivo da estrutura cristalina, que ainda mantém as características gerais da rede, portanto é possível descrever a estrutura cris- talina de um sólido cristalino conhecendo sua célula unitária. As células unitárias são, na maioria das vezes, paralelepípedos ou prismas. Na Figura 6, a seguir, podemos observar a célula unitária na forma de esferas reduzidas para alguns materiais comuns, que são o sal de cozinha, o diamante, o gelo seco e o ferro metálico, todos com estrutura cúbica. Iônico Sal de Cozinha – NaCl Atômico Diamante – C Molecular Gelo seco – CO Metálico Ferro metálico - Fe2 Figura 6 - Células unitárias de alguns materiais comuns 27UNIDADE 1 Sistemas Cristalinos Como existem diversas estruturas cristalinas diferentes, é conveniente agrupá-las de acordo com a configuração de suas células unitárias. O enfoque mais utilizado é fundamentado somen- te na geometria da célula unitária, sem levar em consideração as posições dos átomos nela. Além disso, para que seja possível a aplicação desse enfoque, definimos um sistema de coorde- nadas cartesianas xyz, com a origem posicionada em um dos vértices da célula unitária, e com cada um dos eixos, x, y e z, coincidindo com uma das arestas do paralelepípedo e estendendo-se a partir do vértice de origem. A Figura 7 representa uma célula unitária ge- nérica de um material qualquer; nela, os parâme- tros a, b, c, α, β e γ apresentados são denominados parâmetros de rede cristalina ou simplesmente parâmetros de rede, onde a, b e c são os compri- mentos das arestas que compõem a célula unitá- ria e α, β e γ são os ângulos formados entre essas arestas. Por convenção, o eixo x está relacionado com a aresta de comprimento a, o eixo γ está rela- cionado com a aresta de comprimento b, e o eixo z está relacionado com a aresta de comprimento c, como mostrado na Figura 7. bx y z a c β α γ Existem sete combinações possíveis para os parâmetros a, b, c, α, β e γ, cada combinação dá origem a uma geometria diferente para a célula unitária. Essas geometrias são denominadas sistemas cristalinos. Os sete sistemas cristalinos são os sistemas cúbico, tetragonal, hexagonal, ortorrômbico, romboédrico, monoclínico e triclínico. Na Figura 8, podemos verificar as relações para os parâmetros de rede, assim como as representações para as células unitárias de cada um dos sete sistemas cristalinos. Figura 7 - Esquematização de uma célula unitária genérica e seus parâmetros de rede Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013). 28 Introdução a Ciências dos Materiais a a a a a a c c a a c a b a a a b β a c b β a c α γ Cúbico a = b = c a = b ≠ c a = b ≠ c a = b = c a ≠ b ≠ c a ≠ b ≠ c a ≠ b ≠ c α = β = γ = 90° α = β = 90°, γ = 120° α = β = γ = 90° α = β = γ ≠ 90° α = β = γ = 90° α = γ = 90° ≠ β° α ≠ β ≠ γ ≠ 90° Hexagonal Tetragonal Ortorrômbico Romboédrico (Trigonal) Monoclínico Triclínico b β a c α γγγ a ≠ b ≠ c α ≠ β ≠ γ ≠ 90°Triclínico c a b a ≠ b ≠ c α = β = γ = 90°Ortorrômbico c a a a = b ≠ c α = β = γ = 90°Tetragonal a a a Cúbico a = b = c α = β = γ = 90° Sistema Cristalino Relações Axiais Ângulos entre os Eixos Geometria da Célula Unitária Figura 8 - Representação e caracterização dos parâmetros da célula unitária para os sete sistemas cristalinos Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013). 29UNIDADE 1 Dentro dos sete sistemas cristalinos, as estruturas cristalinas podem se organizar em 14 formas únicas de arranjo dos pontos em sua rede cristalina. Esses arranjos tridimensionais únicos dos pontos da rede cristalina são denominados redes de Bravais – nome concedido em homenagem ao cristalógrafo francês Auguste Bravais (1811-1863). A seguir, podemos visualizar as 14 redes de Bravais naFigura 9 (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). a a a de face centrada de face centrada de corpo centrado Cúbico Tetragonal Hexagonal Ortorrômbico Monoclínico Triclínico Romboédrico a a a c c a b � � � α b βc α γ de corpo centrado a a a b β a c β a Figura 9 - Representação das 14 redes de Bravais Fonte: adaptada de Centro de Informação Metal Mecânica ([2019], on-line)3. Redes de Bravais 30 Introdução a Ciências dos Materiais Polimorfismo e alotropia Quando estudamos os materiais, não podemos deixar de mencionar um fenômeno conhecido como polimorfismo; esse fenômeno ocorre, principalmente, em metais e alguns ametais. O polimorfismo acontece quando um material possui mais do que uma estrutura cristalina, e esta que prevalece é depen- dente da temperatura e pressão às quais o material é submetido. Em sólidos elementares, ou seja, em um material formado apenas por um elemento químico, o mesmo fenômeno recebe o nome de alotropia. Na Figura 10, a seguir, vemos quatro formas alotrópicas do carbono, ou seja, quatro arranjos cris- talinos diferentes dos átomos de carbono e, por consequência, quatro compostos com propriedades distintas, formados somente por carbono. Geralmente, as transformações polimórficas são acompanhadas de mudanças nas propriedades físicas do material, por exemplo, na massa específica. Um outro exemplo de alotropia acontece com o estanho branco, que possui uma estrutura cristalina tetragonal de corpo centrado nas condições ambiente; porém, quando submetido à temperatura de 13,2 °C, transforma-se em estanho cinza, que possui uma estrutura cristalina cúbica (semelhante à do diamante). A velocidade com que a transfor- Gra�te Diamante Fulereno Grafeno Gra�te Diamante Fulereno Grafeno Figura 10 - Exemplos de compostos alotrópicos do carbono 31UNIDADE 1 mação ocorre é extremamente lenta, contudo, e conforme a temperatura diminui abaixo de 13,2 °C, mais rapidamente a transformação acontecerá (Callister JR.; RETHWISCH, 2013). Nesta primeira unidade do nosso livro da disciplina de Ciências dos Materiais, apresentamos a você, caro(a) aluno(a), uma breve perspectiva histórica sobre as ciências dos materiais para que pudéssemos entender qual a importância desta disciplina no desenvolvimento da humanidade, desde os tempos antigos até a atualidade. Além disso, foram abordados conceitos importantes sobre o que são as ciências dos materiais e, em seguida, foi introduzida a classificação dos materiais em metais, cerâmicas, polímeros e compósitos, além de uma abordagem dos materiais avançados, semicondutores, nanomateriais, magnéticos e bio- materiais, apontando suas características principais e exemplos mais comuns de cada classe. Encerramos a Unidade 1 com uma introdução à estrutura cristalina dos materiais, onde vimos que os átomos, molécula ou íons que formam os materiais podem se arranjar de várias formas, dando origem aos sistemas cristalinos. Gra�te Diamante Fulereno Grafeno Gra�te Diamante Fulereno Grafeno 32 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. A rede cristalina é o arranjo cristalino in- finito, tridimensional de pontos, no qual cada ponto possui vizinhanças idênti- cas. Também sabe-se que essa rede cristalina possui os pontos chamados de nós, que podem estar arranjados de 14 diferentes formas, conhecidas como redes de Bravais. A seguir, é apresen- tada a célula unitária do enxofre; com base nos conhecimentos sobre siste- mas cristalinos e redes de Bravais, jul- gue as afirmativas apresentadas sobre o sistema cristalino e o nome da estrutura para a célula unitária apresentada. Sabendo que os parâmetros de rede são: a = 1 nm; b = 1,3 nm; c = 2,4 nm; α = β = γ = 90°, analise as afirmativas a seguir: I) Sistema ortorrômbico. II) Estrutura tetraédrica de corpo centrado. III) A célula unitária possui todas as arestas iguais. IV) Sistema hexagonal. É correto apenas o que se afirma em: a) I e II. b) III e IV. c) I e III. d) Apenas I. e) Apenas III. bx y z a c β α γ 33 2. Os materiais sólidos podem ser classificados em quatro grandes grupos, são eles: metais, cerâmicas, polímeros e compósitos. A classificação destes mate- riais é, principalmente, baseada na estrutura atômica e em suas composições químicas; sendo assim, os materiais pertencentes a um grupo possuem cons- tituintes e propriedades diferentes em relação aos materiais pertencentes aos demais grupos. Com base nas características estruturais e nas propriedades dos materiais, analise as afirmações a seguir. I) As propriedades dos materiais sólidos dependem da sua estrutura cristali- na, ou seja, da maneira pela qual os átomos, moléculas ou íons se arranjam espacialmente. II) Os materiais metálicos e alguns materiais cerâmicos formam cristais quando se solidificam, ou seja, seus átomos se arranjam em um modelo ordenado e repetitivo chamado estrutura cristalina. III) Os metais e suas ligas são substâncias inorgânicas constituídas apenas por elementos químicos metálicos. Dentre os materiais metálicos mais usuais, estão o magnésio, o cobre, o alumínio, a prata, o bronze, o titânio, o ouro, o aço, o ferro, entre outros. IV) Os metais e suas ligas (como, por exemplo, o aço e o latão) são bons condu- tores de eletricidade e de calor, resistentes e, em determinadas condições, deformáveis, enquanto os materiais cerâmicos (porcelana, cimento) são duros e quebradiços. É correto apenas o que se afirma em: a) I e II. b) I e IV. c) II e III. d) I, II e IV. e) II, III e IV. 34 3. Os materiais avançados são materiais de alto desempenho, sintetizados ou cujas características foram aprimoradas por alguma técnica de processamento. São materiais que podem pertencer à classe dos metais, cerâmica, polímeros ou compósitos e são utilizados em aplicações de alta tecnologia. Tomando como base os materiais avançados, avalie as afirmativas a seguir. I) Biomateriais são empregados em componentes para implantes de partes em seres humanos, por essa razão, esses materiais não devem produzir substâncias tóxicas e devem ser compatíveis com o tecido humano. II) Os semicondutores são, geralmente, feitos de silício, germânio e arsenato de gálio, são materiais com propriedades elétricas intermediárias entre os condutores e os isolantes; além disso, as propriedades elétricas desses ma- teriais são extremamente sensíveis a pequenas concentrações de átomos de impurezas presentes em sua composição. III) Nenhum material possui comportamento magnético naturalmente, esse comportamento magnético envolve a capacidade de exercer uma força de atração ou repulsão sobre outros materiais. IV) A nanotecnologia aplicada as ciências dos materiais possibilita modificar as propriedades de um determinado material por meio do controle do tamanho e da forma de suas partículas constituintes, contudo, isso não possibilita novas aplicações para o mesmo material. Estão corretas as alternativas: a) Apenas I e II. b) Apenas II e III. c) Apenas III e IV. d) Apenas II e IV. e) Apenas I e IV. 35 O material complementar apresenta uma breve discussão a respeito do grafeno, alótropo de carbono. Neste material, são apontadas algumas das características promissoras desse material, os desafios envolvidos no processo e os centros de pesquisas que trabalham no seu desenvolvimento. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB 36 ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage Learning, 2015. CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2013. PIRES, A. L. R.; BIERHALZ, A. C. K.; MORAES, Â. M. Biomateriais:tipos, aplicações e mercado. Química nova, On-line, v. 38, n. 7, p. 957-971, 2015. Disponível em: http://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?id=6262. Acesso em: 1 abr. 2019. RODRIGUEZ, G. J. B. O porque de estudarmos os materiais magnéticos. Revista Brasileira de Ensino de Fısi- ca, On-line, v. 20, n. 4, p. 315, 1998. Disponível em: http://www.ifba.edu.br/PROFESSORES/lissandro/arquivos/ importancia_magnetismo.pdf. Acesso em: 1 abr. 2019. SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013. SMITH, W. F.; ROSA, M. Princípios de ciência e engenharia de materiais. 3. ed. Portugal: Editora McGra- w-Hill, 1998. ZARBIN, A. J. G. Química de (nano) materiais. Química Nova, On-line, v. 30, n. 6, p. 1469, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/qn/v30n6/a16v30n6.pdf. Acesso em: 1 abr. 2019. ZARBIN, A. J. G.; OLIVEIRA, M. M. Nanoestruturas de carbono (nanotubos, grafeno): Quo Vadis. Química Nova, São Paulo, v. 36, n. 10, p. 1533-1539, 2013. REFERÊNCIAS ON-LINE 1Em: http://www.durocontrol.com.br/blog/dureza/. Acesso em: 28 maio 2019. 2Em: http://biofabris.com.br/pt/biomateriais/. Acesso em: 28 maio 2019. 3Em: https://www.cimm.com.br/portal/material_didatico/6414-empacotamen-to-atomico-dos-cristais-intro- ducao#.W43_pM4zqpp. Acesso em: 28 maio 2019. 37 1. D. A partir dos parâmetros da célula unitária, temos: a ≠ b ≠ c ; γ = β = α = 90° Na Figura 8, esses parâmetros representam um Sistema Ortorrômbico. A afirmativa II está incorreta porque a estrutura é ortorrômbica, contudo, não há como determinar a estrutura ortorrômbica dentre as quatro possibilidades, pois nessa representação não temos os átomos apresentados. A afirmativa III está incorreta porque a célula unitária não possui nenhuma aresta igual. E a afirmativa IV está incorreta porque o sistema é ortorrômbico. 2. D. A afirmativa III está incorreta, pois os metais e suas ligas são substâncias inorgânicas constituídas por elementos químicos metálicos e podendo conter elementos não metálicos como o carbono, por exemplo. Dentre os materiais metálicos mais usuais estão o magnésio, o cobre, o alumínio, a prata, o bronze, o titânio, o ouro, o aço, o ferro entre outros. 3. A. A afirmativa III está incorreta, pois alguns materiais possuem comportamento magnético naturalmente; esse comportamento magnético envolve a capacidade de exercer uma força de atração ou repulsão sobre outros materiais A alternativa IV também está incorreta, pois a nanotecnologia aplicada as ciências dos materiais possibilita modificar as propriedades de um determinado material por meio do controle do tamanho e da forma de suas partículas constituintes e com isso obter novas possibilidades de aplicação para o mesmo material. 38 39 40 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Aprender o que são e como determinar pontos, direções e planos cristalográficos nas células unitárias. • Diferenciar materiais cristalinos e materiais não cristalinos. • Conhecer a técnica de difração de raios X. • Conhecer os tipos de defeitos em materiais cristalinos e entender a importância deles nesses materiais. Pontos, direções e planos cristalográficos Materiais cristalinos e não cristalinos Imperfeições nos materiais cristalinos Me. Luis Henrique de Souza Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos Pontos, Direções e Planos Cristalográficas Caro(a) aluno(a), na Unidade 2, daremos continui- dade ao assunto de estrutura cristalina dos mate- riais introduzido na Unidade 1. Nesta unidade, es- tabeleceremos a diferença entre material cristalino e material amorfo (não cristalino), aprenderemos a determinar as coordenadas de pontos, direções e planos dentro das células unitárias e finalizaremos a unidade com uma abordagem sobre os defeitos cristalinos dos materiais. Como vimos na Unidade I, os materiais cris- talinos possuem uma organização regular e repe- titiva dos átomos, moléculas ou íons que os com- põem, cuja menor unidade representativa dessa organização é chamada de célula unitária. Para que se possa trabalhar com materiais cristalinos, é interessante e necessário convencionar algumas informações para as células unitárias. As convenções tomadas em relação às células unitárias dos materiais cristalinos estabelecem um sistema de coordenadas cartesiano para essas células unitárias, no qual a origem está localizada em um dos vértices de uma célula unitária ar- bitraria, e os eixos x, y e z coincidem com cada aresta que parte desse vértice (origem), o sistema descrito na Figura 1. 43UNIDADE 2 c � z x a y αβ γ Figura 1 - Esquematização de uma célula unitária genérica e seus parâmetros de rede Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013). A partir desse sistema cartesiano, empregam-se três números (índices) para determinar as posições de pontos, direções e planos dentro da célula unitá- ria de um material cristalino. Então, o que vamos estudar agora é o significado desses índices e a me- todologia para a determinação de cada um deles. Coordenadas dos pontos Quando estudamos as estruturas cristalinas dos materiais, vez ou outra, é necessário localizarmos pontos, como a posição de um átomo nas células unitárias desses materiais. Podemos localizar esses pontos dentro de uma célula unitária, especifi- cando suas coordenadas na forma de frações ou múltiplos dos comprimentos das arestas a, b e c que formam essa célula, baseando-se no sistema cartesiano estipulado para ela. Dessa forma, um ponto que esteja exatamente no centro da célula unitária seria representado por ½ ½ ½, ou ½, ½, ½, uma vez que esse ponto se encontra na metade (½) do comprimento da aresta a em x; na metade (½) da aresta b em y; e na metade (½) da aresta c em z. Como você pode perceber, a posição de um ponto na célula unitária possui a forma geral de três números separados por um espaço entre eles, ou seja, as coordenadas de um ponto na cé- lula unitária são q r s. Obs.: as coordenadas de um ponto podem, também, serem apresentadas separadas entre vírgulas: q, r, s. Na Figura 2, considere o ponto P, localizado no interior da célula unitária. Podemos determinar a posição de P a partir do sistema cartesiano for- mado pelos eixos x, y e z, cuja origem foi estabe- lecida no vértice indicado em laranja, utilizando as coordenadas genéricas, q, r e s. Dessa forma, vemos que o ponto P se encontra a uma distância qa da origem em relação ao eixo x; rb em relação ao eixo y; e sc em relação ao eixo z. Portanto, as coordenadas desse ponto serão q r s. z b a c x yqa rb sc P q r s Figura 2 - Esquematização da determinação de um ponto P utilizando um sistema cartesiano em uma célula unitária Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 47). Para que você possa entender melhor, vejamos um exemplo mais prático: desejamos localizar um ponto P de coordenadas q, r e s iguais a, respec- tivamente, ¼ 1 ½ na célula unitária apresentada na Figura 3. 44 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos Primeiramente, devemos determinar os valores dos parâmetros de rede a, b e c. Sabemos que a é a aresta que sai da origem e tem a mesma direção do eixo x e, portanto, a vale 0,48 nm. De forma similar, as arestas b e c são as arestas que partem da origem e tem a mesma direção, respectivamente, dos eixos y e z, então temos que b = 0,46 nm e c = 0,40 nm. A partir das coordenadas informadas sobre o ponto P, sabemos que q = ¼ , r = 1 e s = ½ e, ao multiplicarmos cada um desses valores, respec- tivamente, pelo comprimento das arestas a, b e c, obtemos as distâncias, qa, rb e sc desse ponto em relação a origem do sistema cartesiano dessa célula unitária. Calculando as distâncias qa, rb e sc obtemos:• qa = (¼)(0,48) = 0,12 nm • rb = (1)(0,46) = 0,46 nm • sc = (½)(0,40) = 0,20 nm Finalmente, com esses resultados, podemos en- contrar a posição do ponto P na célula unitária; o processo esquematizado é apresentado na Figura 4. Para começar, devemos partir da origem (ponto M) e caminharmos no sentido positivo do eixo x, uma distância qa = 0,12 nm, chegando ao ponto N. Em seguida, caminhamos na direção positiva do eixo y, uma distância rb = 0,46 nm, chegando ao ponto O. E, por fim, caminhamos na direção positiva do eixo z, uma distância sc = 0,20 nm, chegando à posição exata do ponto P. Direções cristalográficas As direções cristalográficas são vetores, definidos por linhas que ligam dois pontos da rede cristalina, portanto, esses vetores indicam direções específicas dentro da célula unitária de um material cristalino. O conhecimento dessas direções é importan- te na determinação de algumas propriedades de materiais cristalinos e, para determinarmos os índices direcionais, devemos executar os seguintes passos (ASKELAND; WRIGHT, 2015): • A partir do sistema de coordenadas da célula unitária (Figura 1), são necessários dois pon- tos para definir uma direção cristalográfica. Tome esses dois pontos em termos de suas coordenadas q, r e s. Figura 3 - Exemplo da determinação de pontos em células unitárias Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 48). z 0,46mm 0,4 8m m 0,40mm x y z x y P O M0,12nm N 0,46nm 0,20 nm 1 4 1 2 —,1,— Figura 4 - Resolução do exemplo de determinação de pontos em células unitárias Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 48). 45UNIDADE 2 • Subtraia, coordenada a coordenada, o ponto final do ponto inicial. O resultado obtido será um conjunto com três números que representam os parâmetros de deslocamento em cada eixo do sistema de coordenadas. • Caso o resultado obtido no passo anterior tenha algum valor fracionário ou o conjunto obtido possa ser reduzido a números inteiros menores, multiplique ou divida os valores obtidos, a fim de obter os menores números inteiros para esses parâmetros. • Coloque os números obtidos entre colchetes e sem espaçamento entre eles, da seguinte forma [uvw], onde u, v e w correspondem às projeções da direção nos eixos x, y e z, respectivamente. Obs: caso algum dos números obtidos seja negativo, retire o sinal negativo desse número e inclua uma barra sobre ele. Como você pode notar, as direções cristalográficas são sempre um conjunto de números menores inteiros delimitado por colchetes. A Figura 5 apresenta uma célula unitária genérica, na qual são indi- cadas três direções cristalográficas: a direção [111], em vermelho, a direção [110], em azul, e a direção [100], em verde. Para que você entenda melhor o processo de determinação das direções cristalográficas, vamos resolver um exemplo. A Figura 6 apresenta uma célula unitária com três direções indicadas e os seus respectivos pontos iniciais e finais. Seguindo a sequência de passos estipulados anteriormente, vamos determinar os índices direcionais da direção A. [111] [110] z y x [100] Figura 5 - Representação de uma célula unitária com as direções cristalográficas Fonte: Callister Jr. e Rethwish (2013, p. 49). Figura 6 - Exemplo de determinação das direções crista- lográfica Fonte: o autor. � 0, 0, 1 1, 1, 1 1, 1, 0 , 1, 0 0, 0, 0 1, 0, 0 � � A B C 1 2 46 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos A partir da Figura 6, podemos observar que o ponto inicial da direção A possui coordenadas ½ 1 0 (ou ½, 1, 0) e o ponto final 1 0 0 (ou 1, 0, 0). Com essas informações em mão, o primeiro passo já está completo. No segundo passo, devemos subtrair o ponto final do ponto inicial, então: Pinicial - Pfinal = [1, 0, 0] - [½, 1, 0] = [½, -1, 0] Agora, o resultado ½, -1, 0 deve ser analisado para verificar se existe possibilidade de simplificação. Como você pode observar, existe uma fração, ½, então devemos multiplicar todo o resultado por um valor que transforme essa fração eu um nú- mero inteiro, nesse caso o número é 2 e ele será multiplicado por cada um dos números obtidos no resultado anterior, ½, -1, 0. 2 1 2 2 0 = 1 -2 0 O resultado 1, -2, 0 é o conjunto de menores in- teiros possíveis, portanto, basta colocarmos esse resultado entre colchetes para termos os índices direcionais da direção A, lembrando que para o índice -1 deve-se retirar o sinal negativo e incluir uma barra sobre o número. Dessa forma, os índi- ces direcionais de A são: [1 2 0] O procedimento de determinação dos índices direcionais da direção A pode ser resumido na Tabela 1, apresentada a seguir. Tabela 1 - Resumo do exemplo de determinação dos índices da direção A Eixo x y z Coordenadas ponto final 1 0 0 Coordenadas ponto inicial ½ 1 0 Subtração 1 -1 0 Simplificação ½ -1 2(0) 1 -2 0 Índices Direcionais [uvw] [1 2 0] Fonte: o autor. Faça você a determinação das direções B e C, o resultado esperado é 111�� �� para a direção B e 111� � para a direção C. Planos Cristalográficos Os materiais cristalinos possuem planos de áto- mos denominados planos cristalográficos e es- tes têm como base o mesmo sistema cartesiano da célula unitária, mencionado anteriormente, para os pontos e as direções cristalográficas. Eles são planos que cortam a célula unitária e suas orienta- ções também são dadas por meio de índices. Com exceção dos sistemas cristalinos hexagonais, que não serão contemplados nesse tópico, os planos cristalográficos são especificados por três índices, conhecidos como índices de Miller, e representa- dos por (hkl). Um fato importante a ser mencionado é que quaisquer dois planos paralelos entre si são planos equivalentes e possuem índices idênticos. 47UNIDADE 2 Para a determinação dos índices de um plano cristalográfico (índices de Miller) em uma célula unitária, os seguintes passos devem ser seguidos: • Caso o plano analisado passe pela origem do sistema de coordenadas da célula uni- tária (ponto 0 0 0), devemos selecionar um outro plano que seja equivalente (parale- lo) ao primeiro, ou seja, deve-se deslocar o plano para que ele não contenha o ponto referente à origem do sistema cartesiano. • Após verificado o passo anterior, o plano analisado (que não passe pela origem) po- derá ser paralelo a um ou dois eixos e in- terceptar o(s) restante(s), ou poderá não ser paralelo a nenhum dos eixos e interceptar cada um deles. O intercepto do plano com cada um dos eixos deve ser determinado. Obs.: para os eixos que forem paralelos ao plano, o intercepto ocorre no infinito (∞). • Para cada valor de intercepto obtido no passo anterior, deve ser invertido (1/valor do intercepto). Obs.: o inverso do ∞ é zero. • Caso algum resultado obtido seja fracioná- rio ou o conjunto obtido possa ser reduzi- do a números inteiros menores, multipli- que ou divida os valores obtidos por um fator, a fim de se obter os menores números inteiros para esses parâmetros. • Coloque os resultados menores inteiros obtidos entre parênteses e sem espaça- mento algum entre eles, da seguinte forma (hkl), na qual h, k e l são os índices de Mil- ler referentes aos eixos x, y e z, respectiva- mente. Obs.: no caso de algum dos índices obtidos ser negativo, retire o sinal negativo desse número e inclua uma barra sobre ele (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Vamos exemplificar os passos para a determina- ção dos índices de Miller do plano A, apresentado na Figura 7, para uma célula unitária genérica. x A y z Figura 7 - Exemplo da determinação dos índices de Miller para um plano Fonte: o autor. Analisando o plano A, percebemos que ele é para- lelo aos eixos x e z e, além disso, esse plano passapela origem do sistema cartesiano estabelecido. O primeiro passo do procedimento de determi- nação dos índices de Miller para esse plano é es- colher um plano equivalente ao plano A, que não passe pela origem; uma escolha simples é o plano B, indicado na Figura 8. Uma vez que, os planos A e B são equivalentes, se determinarmos os índices de Miller do plano B, os índices de Miller do plano A serão os mesmos. É importante lembrar que as coordenadas dos pontos da célula unitária são sempre frações que variam de 0 a 1, começando em 0 na origem e alcançando o valor 1 no extremo oposto da célula unitária em relação a cada eixo, como visto na Figura 8. 48 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos x A B y z 101 100 110 111 001 000 010 011 Figura 8 - Exemplo da determinação dos índices de Miller para um plano Fonte: o autor. O próximo passo é determinar os interceptos do plano B com os eixos x, y e z, que, nesse caso, são ∞ para o eixo x e para o eixo z, pois o plano é paralelo a ambos eixos, e 1 para o eixo y. Agora, devemos tomar o inverso de cada um dos interceptos (1/ valor do intercepto). • Para o eixo x: 1/∞ = 0 • Para o eixo y: 1/1 = 1 • Para o eixo z: 1/∞ = 0 Na sequência, devemos verificar se é possível simplificar os resultados obtidos, mas, como podemos observar, esses valores já são os menores inteiros possíveis, por essa razão, não há necessidade de nenhuma ope- ração para reduzi-los. Portanto, a representação dos índices de Miller para o plano B e, por consequência, para o plano A, é (010). O processo de determinação dos índices de Miller do plano B (e A) está sintetizado na Tabela 2. Tabela 2 - Resumo do exemplo de determinação dos índices de Miller do plano B (e A) Eixo x y z Interceptos ∞ 1 ∞ Inverso do intercepto 1/∞ 1/1 1/∞ 0 1 0 Simplificação - - - - - - Índices de Miller (hkl) 010� � Fonte: o autor. 49UNIDADE 2 Na Unidade 1, começamos a falar de materiais cristalinos e introduzimos a ideia de célula unitá- ria, sistemas cristalinos e redes de Bravais. Entre- tanto, não foi, ainda, passado com formalidade a você o que são os materiais ou sólidos cristalinos, e tão importante quanto conhecer os materiais cristalinos é saber que existem materiais não cris- talinos. Neste tópico, vamos entender quais são os materiais cristalinos e quais são os não cristalinos e as diferenças entre eles. Materiais Cristalinos Os materiais cristalinos são sólidos que apresen- tam um arranjo regular dos átomos que os com- põem, ou seja, são materiais nos quais os átomos estão dispostos de forma ordenada e repetitiva ao longo de grandes distâncias atômicas. Quando esse arranjo ordenado e repetitivo se estende por todo o material, sem interrupções, dizemos que o material é monocristalino ou um monocristal. Nos monocristais, todas as células unitárias se ligam da mesma maneira e possuem a mesma orientação. Materiais Cristalinos e não Cristalinos 50 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos Os monocristais acontecem naturalmente, como pode ser visto na Figura 9 (um monocristal de andra- dita laranja), e também podem ser sintetizados pelo homem; contudo, essa síntese é um processo muito delicado e requer um ambiente cuidadosamente controlado. Além disso, é interessante saber que a forma de um monocristal é um indício da estrutura cristalina do material (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Figura 9 - Fotografia de um monocristal de andradita laranja encontrado na Grécia Nos últimos anos, os monocristais se tornaram muito importantes, principalmente no setor da tecno- logia para a produção de microcircuitos eletrônicos a partir de microcristais de silício. Entretanto, a maioria dos materiais cristalinos não é formada apenas por um cristal perfeito, mas sim por vários cristais menores, os quais são chamados de grãos. Esses materiais formados por vários cristais são denominados policristalinos. Isso ocorre durante a solidificação desses materiais, na qual se formam pequenos cristais de orientação cristalográfica aleatória, e conforme a solidificação avança, esses pequenos cristais vão crescendo pela adição sucessiva de átomos que passam da fase líquida para a sólida. As superfícies planas dos cristais de algumas pedras preciosas são manifestações macroscó- picas de seus arranjos cristalinos internos, pois são monocristais. Além disso, esses arranjos cristalinos se mantêm intactos mesmo que as superfícies externas desses materiais sejam mo- dificadas. Um exemplo disso é o quartzo, que preserva sua estrutura cristalina mesmo quando se transforma em areia. Fonte: adaptado de Van Vlack (1970). Quando a solidificação se aproxima do fim, os grãos formados durante o processo são forçados uns contra os outros. No entanto, as regiões de encontro desses grãos não são uniformes e cons- tituem um “defeito” na perfeição do cristal. Dessa forma, os materiais policristalinos são formados pela união de vários monocristais que não con- seguiram se encaixar perfeitamente durante a sua formação, existindo entre eles regiões de imper- feições chamadas de contornos de grão. Para entendermos melhor a formação de um material policristalino, imagine que a Figura 10(a) representa a formação dos primeiros cristais du- rante a solidificação de material cristalino, na qual os quadrados representam as células unitárias desse material. 51UNIDADE 2 Em seguida, esses cristais vão crescendo com a adição de mais átomos que passam da fase líquida para a fase sólida (Figura 10(b)). Quando a solidificação se aproxima do fim, os cristais crescidos (grãos) aproximam-se uns dos outros para a conclusão da solidifi- cação; entretanto, como podemos notar na Figura 10(c), o “encaixe” entre esses grãos não é perfeito, formando, assim, os contornos de grãos (Figura 10(d)). (a) (c) (b) (d) Figura 10 - Esquematização dos estágios na solidificação de um material poli- cristalino Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 63). Em monocristais, as direções e planos cristalográficos estão sempre ordenados por toda a extensão do material. Já em materiais policris- talinos, essas direções e planos cristalográficos são aleatórios, pois os grãos (monocristais) que formam esses materiais não estão com suas orientações alinhadas entre si, como podemos ver na Figura 10(c). Certas propriedades físicas de monocristais dependem da direção cristalográfica na qual elas são medidas, por exemplo, o módulo de elasticidade, condutividade elétrica e índice de refração. Esse tipo de comportamento é chamado de anisotropia. No caso das propriedades não dependerem da direção de medição, o material é dito isotrópico. Difração de raios X Antes de falarmos dos raios X, é necessário entender o fenômeno da difração, que ocorre quando uma onda encontra uma série de obstáculos com a capacida- de de dispersar essa onda. Tal fenômeno está relacionado com as fases de duas ou mais ondas dispersas pelos obstáculos, que possuem espaçamentos com magnitudes comparáveis às do comprimento dessa onda. Para que você possa enten- der, vamos observar a Figura 11(a), na qual temos duas ondas em fase, que possuem a mesma amplitude A e o mesmo com- primento de onda λ (ondas 1 e 2); após sofrerem o efeito de dispersão, elas continuam em fase, com a mesma amplitude A e o mesmo comprimento de onda λ (ondas 1’ e 2’). A onda resultante desse pro- cesso é uma onda de compri- mento λ, com uma amplitude 2A, que é a soma das ondas 1’ e 2’, caracterizando uma inter- ferência construtiva. Esse tipo de comportamento é uma ma- nifestação da difração, ou seja, a formação de uma onda resul- tante composta por um grande número de ondas dispersas que se reforçam mutuamente. Na Figura 11(b), temos duas ondas em fase, com amesma amplitude A e o mesmo compri- mento de onda λ (ondas 3 e 4). 52 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos Após sofrerem o efeito de dispersão, elas ficam fora de fase, mas permanecem com a mesma amplitude A e o mesmo comprimento de onda λ (ondas 3’ e 4’). Nesse caso, não existe uma onda resultante, pois, no processo, a onda 3’ cancela mutuamente a onda 4’, caracterizando uma interferência destrutiva. Por- tanto, nesse caso, não ocorre a difração. As situações apresentadas na Figura 11 são dois extremos do fenômeno de dispersão; existem situa- ções intermediárias entre esses dois extremos nas quais a onda resultante sofre apenas um reforço parcial. + Onda 2’ Onda 1’ Onda 2 A m pl itu de Onda 1 A AA O’ O Posição Evento de dispersão (a) A 2A λ λ λ λ λ + Onda 4’ Onda 3’ Onda 4 A m pl itu de Onda 3 A A AA P’ P Posição Evento de dispersão (b) λ λ λ λ Figura 11 - Demonstração do efeito de dispersão entre duas ondas de mesmo comprimento de onda Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 64). 53UNIDADE 2 A lei de Bragg Um indicativo para sabermos se acontecerão in- terferências construtivas, pode ser dado utilizan- do a lei de Bragg: n d senhklλ θ� �2 em que n é um inteiro positivo que representa a ordem da reflexão (geralmente n = 1), λ é o com- primento de onda dos raios X em Angstrom (Å), dhkl é a distância entre os planos cristalográficos adjacentes e θ é o ângulo de incidência do feixe de raios X. Caso a lei de Bragg não seja satisfeita, a interferência será não construtiva, gerando um feixe difratado de intensidade muito baixa. Na Figura 12, temos representados os planos cristalográficos de um material cristalino e sobre esse material está incidindo um feixe de raios X de mesmo comprimento de onda (λ), distância interplanar (d=dhkl) e ângulo de incidência (θ). Ambos em fase d 2θ θ sin θ = λ 2d Feixe incidente Fe ixe dif rat ad o θ Figura 12 - Esquematização da difração de raios X pelos planos de átomos de um material Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015, p. 80). A distância interplanar (dhkl) é uma função direta dos índices de Miller para o plano; para o caso de um sistema cúbico, o espaçamento entre os planos pode ser determinado pela seguinte relação: d a h k lhkl = + +2 2 2 Onde a é o tamanho da aresta da célula unitária cúbica e os parâmetros h, k e l são os índices de Miller para o plano cristalográfico. Existem rela- ções similares a essa para cada um dos outros seis sistemas cristalinos, mas essas relações não serão tratadas neste material. A técnica de difração de raios X A difração de raios X é uma das técnicas de análise estrutural mais empregadas para identificar dife- rentes materiais cristalinos. Essa técnica se baseia na presença de uma rede cristalina e na periodi- cidade do arranjo atômico, portanto, a técnica de difração de raios X é aplicada em sólidos que pos- suem algum nível de cristalinidade e não se aplica a materiais sólidos totalmente amorfos, como os vidros e polímeros de cristalinidade muito baixa. Os raios X, utilizados na técnica, é um tipo de radiação eletromagnética com altas quantidades de energia e de comprimentos de onda pequenos (de 10 nm a 0,1 nm), que são da ordem de grande- za dos espaçamentos atômicos, possibilitando sua aplicação na avaliação de estruturas cristalinas. A partir desse tipo de análise, é possível determinar a estrutura cristalina de um material e até mesmo a geometria e o tamanho de sua célula unitária. 54 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos A análise se baseia no princí- pio de que quando um feixe de raios X, com um mesmo com- primento de onda λ, incide sobre um sólido cristalino, os planos de átomos que compõem esse material dispersam uma fração desse feixe em todas as direções; nessa dispersão, poderão ocor- rer interferências construtivas ou destrutivas. No caso de ocorrer uma dispersão com interferência construtiva, dizemos que ocor- reu uma difração de raios X. A amostra que será analisa- da por difração de raios X deve ser inserida no equipamento na forma de sólido pulverizado, composta por partículas muito pequenas. Essas partículas são submetidas a um feixe de raios X monocromáticos e, como cada partícula (grão) dessa amostra possui um grande número de orientações aleatórias, isso ga- rante que algumas dessas partí- culas estão orientadas de maneira correta e, por essa razão, possuem planos cristalográficos disponí- veis para difração desses raios X. O aparelho utilizado para esse tipo de análise chama-se difratômetro e sua esquematiza- ção está representada na Figura 13 a seguir. Primeiramente, a amostra de sólido pulverizado deve ser colocada em um suporte plano, de modo a formar um pequeno filme uniforme de amostra nesse suporte. Em seguida, o feixe de raios X é emitido da fonte T em direção à amostra, e as intensidades dos raios difratados são captadas no detector C. A amostra, o emissor de raios X e receptor estão todos no mesmo plano; além disso, o equipamento permite rotações ao redor do seu próprio eixo. 0º0º 2θ θ O C T S 20º 40º 60º 80º 100º 120 º 14 0º 16 0º Figura 13 - Esquematização do funcionamento de um difratômetro de raios X Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 66). O suporte e o detector estão acoplados mecanicamente de forma que uma variação no ângulo de incidência θ do suporte é acompa- nhada de uma variação de 2θ, conhecido como ângulo de difração, no ângulo do detector, para garantir que os ângulos de incidência e reflexão sejam iguais entre si. Os resultados da análise são obtidos conforme o detector se move a uma velocidade angular constante e um registrador plota automaticamente os valores da intensidade do feixe difratado em função do valor 2θ. Um exemplo de difratograma de raios X para uma amostra de chumbo pode ser visto na Figura 14. 55UNIDADE 2 Os picos observados no difratograma da amostra de chumbo, apresentada na Figura 14, são resul- tado da difração realizada por planos cristalinos, cuja condição da lei de Bragg foi satisfeita. Os índices acima de cada pico são os índices de Miller dos planos cristalinos responsáveis pela difração. O tamanho e a geometria da célula unitária podem ser determinados a partir das posições dos picos de difração em relação ao ângulo de difração 2θ; já a forma como os átomos estão ar- ranjados está relacionada à intensidade relativa dos picos difratados (CALLISTER JR.; RETH- WISCH, 2013). Materiais não Cristalinos ou Amorfos Os materiais amorfos são caracterizados por possuírem estruturas que não formam arranjos atômicos periódicos ao longo de grandes distâncias atômicas; portanto, não existe uma célula unitária definida que possa produzir a estrutura completa desses materiais. Dentre os materiais amorfos mais comuns, estão os vidros inorgânicos e muitos plásticos. Um exemplo de material cerâmico que pode existir nos dois estados, cristalino e não cristalino, é o dióxido de silício (SiO2). Na Figura 15(a), podemos perceber um padrão de repetição na forma como se organizam espacialmente os átomos formadores do dióxido de silício. Na Figura 15(b), não é possível identificar um padrão de repetição em toda a estrutura, pois a estrutura do material é formada de maneira irregular e desordenada (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). 0.0 10.0 20.0 30.0 (111) (200) (220) (311) (222) (400) (331) (420) (422) 40.0 50.0 Ângulo de difração 2θ In te ns id ad e (r el at iv a) 60.0 70.0 80.0 90.0 100.0 Figura 14 - Difratograma de raios X para uma amostra de chumbo pulverizada Fonte: Callister
Compartilhar