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Saúde Coletiva Caso 3 Aula 1 Introdução Com o desenvolvimento do SUS e a criação das várias normas, surgiu a necessidade de se criar um documento único para estabelecer as obrigações e metas de cada nível de gestão em saúde, por esse motivo foi criado o Pacto pela Saúde. Indicador de Saúde Como já visto anteriormente, um indicador é uma variável que sintetiza ou representa algo que se quer avaliar. Um indicador de saúde é o instrumento que permite avaliar a condição de saúde de determinada população e, com essa avaliação, permite que se identifique a necessidade de intervenções em saúde. Um indicador em saúde deve ter um objetivo, uma fórmula para ser calculado, uma fonte, um parâmetro para comparação e uma meta, que é a representação na forma numérica de onde se quer chegar e em quanto tempo. A avaliação e o monitoramento dos indicadores são ações importantes que a gestão em saúde deve realizar como rotina. Com base nisso, percebe-se que os indicadores não servem somente para pesquisadores avaliarem a situação de saúde e tirarem conclusões acerca delas, mas servem principalmente para que os gestores em saúde identifiquem as fragilidades de sua população e promovam ações específicas para lidar com elas. Cada indicador vai apresentar um objetivo geral e alguns objetivos específicos. O objetivo geral dos indicadores é permitir a análise e o acompanhamento do cumprimento da Política Nacional de Atenção Básica em determinado período para que se estabeleçam metas nas três esferas de gestão do SUS. Quanto aos objetivos específicos, eles geralmente se referem à análise de tendências do comportamento dos indicadores no período considerado, à identificação dos municípios que alcançaram suas metas, à comparação dos resultados de diferentes estados se baseando em parâmetros e médias nacionais. Pacto da Atenção Básica Esse pacto foi o instrumento normativo feito para nortear as responsabilidades e metas de cada esfera de governo na Atenção Básica. Esse pacto foi definido e regulamentado por uma portaria do ministério da saúde e ele fornece indicadores que podem ser usados para avaliar a atenção básica em saúde. Esses indicadores foram definidos, a princípio, pela portaria n° 3925/ 98. Pacto pela Saúde Foi um conjunto de reformas institucionais nas três esferas de gestão do SUS, foi estabelecido em 2006 pela portaria 399 graças a necessidade de se alcançar respostas mais eficientes do SUS à população, e também reafirmar os princípios doutrinários e organizativos do SUS. Esse pacto defini prioridades articuladas e integradas em três componentes básicos do pacto, o Pacto pela Vida, Pacto em defesa do SUS e o Pacto de Gestão do SUS. O Pacto pela Saúde pode ser visto como um instrumento de avaliação da situação da saúde e também de planejamento de ações de saúde. O pacto tem indicadores de saúde importantes e ele vai apresentar o Termo de Compromisso de Gestão (TCG) que se tornou a COAP depois. O Pacto pela Saúde como instrumento de avaliação A partir do Pacto foi estabelecida uma nova lógica de pactuação que está mais próxima de cada município e permite uma atenção maior para as realidades individuais locais. Os municípios ganham certa autonomia para definir suas prioridades na saúde e como alcançar elas. O Pacto propõe uma mudança estrutural em que todos os municípios passam a ser responsáveis por seu sistema municipal de saúde, sendo necessário para isso assumir todas as competências para o gerenciamento das ações sob a sua responsabilidade. . Essa mudança foi boa pois cada município apresenta determinadas prioridades, quando outras esferas de governo determinavam as ações de saúde que seriam realizadas neles, as vezes elas eram ineficazes por não atenderem as necessidades reais e individuais de cada município. Pacto de Gestão Foi firmado após a assinatura do Termo de Compromisso de Gestão Municipal, e ele estabelece um conjunto de atribuições e responsabilidades (principalmente sanitárias) nos eixos de: ●Responsabilidades Gerais da Gestão do SUS ●Regionalização ●Planejamento e Programação ●Regulação, controle, avaliação e auditoria ●Gestão do Trabalho ●Educação em Saúde ●Participação popular e Controle social Pacto pela Vida Também chamado de Pacto dos Indicadores, foi instituído em 2007 para regulamentar a unificação do processo de pactuação de indicadores e para estabelecer os indicadores do Pacto pela Saúde que serão pactuados pelas 3 esferas de governo. Esse pacto estabelece metas e parâmetros nacionais do Pacto pela Saúde, e vai servir de referência para a definição das metas estaduais e municipais. Os indicadores desse pacto se baseiam nas prioridades que foram estabelecidas nele em 2006. São prioridades: Saúde do Idoso, Controle do Câncer de Colo de Útero (e de mama), Redução da Mortalidade Infantil e Materna, Promoção à Saúde, Fortalecimento da Atenção Básica e o Fortalecimento da Capacidade de Resposta às Doenças Emergentes e Endemias (principalmente dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza). *Quanto a promoção à saúde, por meio de ações de educação em saúde ela visa promover a adoção de hábitos saudáveis como o combate ao tabagismo, prática de exercícios físicos e a alimentação saudável. Essa prioridade torna o indivíduo mais responsável por sua própria saúde. Em 2008, a partir de uma portaria (325/ 2008), foram estabelecidas mais prioridades para esse pacto, contendo sempre orientações, prazos e diretrizes para a pactuação delas. As prioridades adicionadas ao pacto são: Saúde do Trabalhador; Saúde Mental; Saúde do Homem; Atenção Integral às Pessoas em Situação de Risco ou Violência; Fortalecimento da Capacidade de Resposta do Sistema de Saúde às Pessoas com Deficiência. Saúde do Idoso Essa prioridade pode ser avaliada ao analisar o indicador “taxa de internação hospitalar de pessoas idosas por fratura de fêmur” por exemplo, pois as quedas de idosos que provocam esse tipo de fratura são muito comuns, o que as torna um problema de saúde que merece atenção. O objetivo desse indicador é identificar as pessoas idosas em situação de fragilidade (ou risco de fragilização) em relação às ações de prevenção de fratura de fêmur. A meta da prioridade Saúde do Idoso com base nesse indicador, é a redução em 2% dessa taxa de internação. A queda é considerada um evento sentinela na saúde do idoso, sendo suas principais causas fatores intrínsecos, como problemas de visão, equilíbrio, força muscular, demência, doenças cardiovasculares e uso de medicamentos. Os fatores extrínsecos são aqueles relacionados ao meio ambiente, e eles também devem chamar a atenção pois sua correção não é tão difícil. A principal consequência das quedas dos idosos é a fratura de fêmur e ela é mais frequente em mulheres (pela incidência maior de osteoporose nesse sexo), por esse motivo, a prevenção desse tipo de fratura exige ações de prevenção das quedas e prevenção de osteoporose em mulheres principalmente. Controle do Câncer do Colo do Útero e da Mama Essa prioridade do pacto se relaciona ao indicador “percentual de tratamento no nível ambulatorial das lesões precursoras do câncer de colo de útero em determinado local, e em determinado ano”. O objetivo desse indicador é avaliar o tratamento das lesões precursoras do câncer de colo de útero a nível ambulatorial. A meta da prioridade em saúde com base nesse indicador é tratar 100% dos casos positivos de lesão de alto grau. Redução da Mortalidade Infantil e Materna Um dos indicadores usados nessa prioridade do pacto é “proporção de investigação de óbitos infantis”, sendo que esse indicador tem como objetivo avaliar a investigação de óbitos de menores de um ano para que se identifique as principais causas deles e seja possível criar intervenções para reduzir a mortalidade nessa faixa etária. . A meta é dobrar a porcentagem de óbitos infantis investigados, nos estados que essa proporção for menor que 25%. Para osestados que, mesmo dobrando a proporção ainda não atingirem o valor de 25%, a meta é atingir pelo menos 25% de óbitos infantis investigados. Com o aumento da investigação, o gestor em saúde visa reduzir o número de óbitos. O outro indicador importante para essa prioridade do pacto é “proporção de óbitos de mulheres em idade fértil investigados”, cujo objetivo é investigar o número de óbitos de mulheres em idade fértil. A meta é que no mínimo 75% dos óbitos sejam investigados. Aula 2 Rede de Saúde O SUS é uma rede de serviços de saúde construída com a participação de muitas pessoas colaborando entre si para eficácia dos serviços. Tudo o que envolve o cuidado oferecido pela rede de saúde se refere à Atenção em Saúde, sendo que grande parte desse cuidado é oferecido em instituições que se organizam em 3 níveis de complexidade de atendimento. Existem dois modelos de rede de saúde, um modelo bem característico da era do INAMPS e um modelo mais característico do SUS atual. O modelo mais antigo é chamado de Rede de Saúde Hierárquica, onde a saúde é fragmentada e voltada para eventos agudos, é episódica, reativa e atua sobre condições já existentes. A hierarquia se referia à “importância” do serviço, não à sua complexidade. Esse modelo de rede financiava mais os serviços presentes no topo da pirâmide e menos os da base, com isso dava a entender que alguns serviços eram mais importantes que outros. Isso se reflete até hoje pois a atenção básica sempre foi deixada de lado e subfinanciada. O modelo da rede de saúde do SUS atualmente é a chamada Rede de Saúde Poliárquica, a qual é integrada e voltada tanto para condições crônicas quanto agudas, é contínua e integral por ser promocional, preventiva, curativa, reabilitadora e paliativa, ela atua sobre condições existentes e sobre os determinantes sociais da saúde. Nesse modelo de rede, todos os serviços têm a mesma importância. Uma rede poliárquica tem uma única missão, que é oferecer um cuidado eficaz, sendo realizado no tempo certo, lugar certo, com custo certo e qualidade adequada. Essa rede oferece um cuidado contínuo, cooperativo e interdependente. A atenção primária é formada por UBS e ESF, a secundária por hospitais gerais de pequeno e médio porte, UPA, CAPs e pronto socorro, por fim, a atenção terciária é representada por hospitais e ambulatórios de maior complexidade, como os hospitais regionais. Para o bom funcionamento dessa hierarquia de complexidade, é importante instruir a população sobre o que é uma demanda urgente e o que é uma demanda eletiva. As unidades de saúde da atenção primária devem estar próximas da população, então geralmente estão distribuídas pelos bairros e preferencialmente entre aqueles mais carentes. As unidades de atenção secundária e terciária geralmente se encontram no centro da cidade para que todas as unidades primárias consigam referenciar seus pacientes para a atenção secundária e o acesso a ela não ser tão difícil. Competências de cada gestor Segundo a legislação, as competências não devem ser concorrentes entre si. Cabe à União coordenar a alta complexidade preferencialmente, como o sistema de transplantes de órgãos por exemplo. Cabe ao estado coordenar a média complexidade, como os AMEs e os hospitais de médio e pequeno porte. Por fim, cabe ao município gerenciar e executar a saúde no âmbito da atenção básica no seu território. Atenção Primária O nível primário de atenção em saúde surgiu de certa forma com a criação dos centros de saúde na década de 20, que depois foram substituídos pelas UBSs na década de 70 e depois, na década de 90, houve a implantação das ESFs para atuarem junto das UBSs. Atualmente, as ESFs são as principais unidades de saúde da atenção primária. Esse nível de atenção é a porta de entrada preferencial para o sistema de saúde, e oferta consultas médicas nas especialidades básicas, como clínica médica, ginecologia, obstetrícia e pediatria. Cabe ao médico dessas unidades de saúde atender as demandas clínicas de alguns casos agudos, promover ações de vigilância em saúde (como a imunização e controle de doenças de notificação compulsória) e realizar atendimento programático para portadores de doenças crônicas não- transmissíveis (como hipertensão e diabetes). Os grupos de atendimento prioritário são as demandas agudas, menores de um ano de idade, idosos, gestantes e deficientes. . A atenção básica é muito mais complexa do que se imagina porque ela lida com problemas prevalentes como as doenças crônicas. Esse tipo de problema nem de longe é simples pois geralmente envolve todo o estilo de vida do paciente, dessa forma o médico deve ter um relacionamento maior com o paciente e conhecer ele mais a fundo para assim conseguir tratar da melhor forma sua condição. A prática médica na atenção básica exige comunicação adequada, tecnologia, técnica, interação interpessoal, responsabilidade afetiva, empatia, capacidade de negocial as terapias de forma individual e coletivamente. O médico generalista e o clínico geral têm um conhecimento de alta complexidade e baixa densidade, isto é, conhecem diversas ciências, mas não se aprofundam em nenhuma delas. Origem da atenção primária no Brasil A atenção primária teve origem em 1920 a partir do Relatório Dawson, que reconheceu uma maior eficiência em um sistema que integrava medicina preventiva e curativa por meio de ações nos três níveis de complexidade. Esse sistema constituiu a partir daí a base do sistema de saúde britânico, que é o modelo de sistema de saúde adotado por diversos países posteriormente, inclusive o Brasil. Em 1961 foi publicado o Estudo de White et al. que confirmava aquilo que o relatório disse. Esse estudo afirmava que o cuidado médico nos EUA e Reino Unido acontecia principalmente na atenção primária, em centros de saúde comunitários, e que isso era muito eficaz pois grande parte das demandas não requer um atendimento de média ou alta complexidade. Até 1978, ano da conferência de Alma Ata, predominou o modelo curativo hospitalocêntrico no Brasil, e a partir desse ano o modelo preventivo com foco na atenção primária em saúde ganhou mais destaque. Depois dessa conferência vários outros importantes eventos sobre a atenção primária aconteceram, como a Carta de Ottawa em 1986 que reforçava a importância da promoção à saúde, a 8ª Conferência Nacional de Saúde no Brasil em 1986 e a criação do SUS em 1988. É importante compreende que toda essa mudança na saúde foi de abrangência mundial. Países como Alemanha, França, Itália, Espanha, Canadá, China e vários outros perceberam a grande importância da atenção primária e começaram a reformar seus serviços de saúde. Por fim, é importante mencionar que a justificativa para todas essas mudanças é baseada nos conhecimentos produzidos por Bárbara Starfield. Ela disse que um sistema de saúde com forte referencial em atenção primária é mais efetivo e satisfatório para a população, pois mesmo em contextos de grande iniquidade social, esse modelo de atendimento ainda se mostra equitativo. Funções da Atenção Básica na Rede de Saúde A atenção básica deve ser base (porta de entrada) da rede de saúde, por ser o serviço de saúde com o grau de descentralização mais elevado. Ela se encontra dispersa por todo o município, com isso oferece um acesso facilitado. A atenção básica deve ser resolutiva, identificando riscos e necessidades de saúde individuais de cada paciente, se utilizando de tecnologias diversificadas para um cuidado individual e coletivo por meio de uma clínica ampliada. Cabe à atenção básica coordenar o cuidado, elaborando e gerindo projetos terapêuticos singulares (PTS) que servem para organizar e acompanhar o fluxo de usuários entre os pontos de atenção da rede de saúde. Por fim, a atenção básica deve ser capaz de ordenar a rede de saúde, organizando as necessidades de sua população em relação aos outros pontos de atenção à saúde. Por meio disso, ela vai permitirque a programação dos serviços de saúde corresponda especificamente às necessidades de saúde individuais de cada usuário. PTS Os PTS nada mais são do que o planejamento da sequência de condutas que vão compor o cuidado do paciente (geralmente aqueles mais graves), como os encaminhamentos que ele vai precisar, quais profissionais serão necessários para lidar com aquela demanda em específico e outras ações. Os PTS são elaborados por uma equipe multidisciplinar e vão permitir uma abordagem biopsicossocial muito mais eficaz, e eles podem ser aplicados tanto para um paciente quanto para uma família O PTS é mencionado nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Medicina, onde se diz que cabe às escolas de medicina capacitar seus alunos a elaborarem um bom PTS. Além disso, a Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde de 2003 também cita o PTS, reforçando a possibilidade de pacientes mais graves serem acompanhados com PTS. Para construir um bom PTS existem passos. Primeiro deve- se Definir a Hipótese Diagnóstica (DHD), onde se estuda o paciente (por meio da anamnese, exame clínico, visita domiciliar, exames complementares e estudo do prontuário) para compreender o que está acometendo ele. Em seguida deve-se Definir Metas (DM), pois sabendo o que o paciente tem já se pode definir todas as etapas do PTS com seus objetivos. . O terceiro passo do PTS é Definir as Responsabilidades (DR), que nada mais é do que distribuir as etapas do PTS para os profissionais mais adequados. Por meio desse passo é possível identificar pontas soltas no tratamento e saber exatamente em que ponto o PTS falhou para que seja corrigido o erro caso ele exista. Por fim, o último passo para construção de um PTS é Reavaliar o Caso (RC), ou seja, reavaliar depois de algum tempo aquele caso para verificar se as metas foram cumpridas. Esse passo é importante para readequar algumas condutas caso o paciente não tenha obtido ainda a solução para seu problema. Nova Política Nacional de Atenção Básica Instituída pela portaria 2436/ 17, é o conjunto de ações individuais, familiares e coletivas que envolvem a promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e a vigilância em saúde (permeia todas as outras ações citadas). Essa política apresenta os mesmos princípios do SUS, porém com uma interpretação um pouco particular. O princípio da universalidade se refere à atenção básica atuar como porta de entrada preferencial da rede de saúde. Além disso, ela deve oferecer acesso e acolhimento (envolve a escuta qualificada) à cada novo problema levantado pelos pacientes. O princípio da equidade se refere a considerar as vulnerabilidades individuais, além dos riscos e diferenças entre os pacientes a fim de evitar exclusões e oferecer um tratamento mais eficaz. Por fim, o princípio da integralidade se refere à assistência às necessidades individuais tendo uma abordagem biopsicossocial. Esse princípio vai direcionar todas as ações da atenção básica integrando aquelas que são programáticas e aquelas que são espontâneas. Conclusão “Tecer a rede de saúde com foco nas necessidades de saúde” significa tomar as necessidades de saúde do paciente como direcionador para as intervenções e práticas terapêuticas. Esse processo só acontece quando o médico tem uma escuta qualificada para identificar as reais necessidades de seu paciente. O paciente então procura um serviço de saúde com várias necessidades de saúde, mesmo que de início ele levante apenas uma queixa, e cabe à equipe de saúde ter sensibilidade e preparo para atender esse paciente da melhor forma possível considerando suas necessidades individuais.
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