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bem estar no abate[5437]

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Universidade Federal de Viçosa
SAMIRA SILVEIRA MOREIRA
BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE BOVINOS
Viçosa - MG
2018
SAMIRA SILVEIRA MOREIRA
BEM-ESTAR ANIMAL NO ABATE DE BOVINOS
Trabalho apresentado a Universidade Federal de Viçosa, para a disciplina de Bem-estar animal - ZOO472, do Departamento de Zootecnia.
 Professora: Luciana Navajas Rennó
 
Viçosa, 
18 de novembro de 2018.
Sumário
Introdução	5
Área de descanso e período de jejum	5
Banho de aspersão e insensibilização	5
Insensibilização por dardo cativo com penetração	6
Insensibilização por dardo cativo sem penetração	6
Sangria	7
Abates religiosos	7
Abate emergencial imediato	7
Referências	9
Introdução
O Brasil é um dos maiores exportadores de carne bovina do mundo, tendo em vista o fato que o mercado externo é extremamente exigente em relação ao bem estar dos animais, este se torna um assunto cada vez mais preocupante para os produtores e frigoríficos brasileiros. O manejo pré-abate causa estresse aos animais, prejudicando o bem estar e a qualidade da carne destes, portanto a preocupação com um abate humanitário vem crescendo. O Brasil institui com isto, uma normativa que regulariza o abate de bovinos no pais.
De acordo com a Instrução Normativa nº 3, de 17 de janeiro de 2000 abate humanitário é o conjunto de diretrizes técnicas e científicas que garantam o bem-estar dos animais desde a recepção até a operação de sangria. O bem – estar animal pode ser entendido como a capacidade do animal em se adaptar ao meio (Broom,1986).
Para evitar o estresse dos animais durante o processo de abate é necessário utilizar de mecanismos que os minimizem, como oferecer treinamento aos funcionários para que realizem seu trabalho com segurança, reduzindo situações de risco para ele e para os animais (Humane Slaughter Association, 2001).
De acordo com Andrade et. al. 2014 , os princípios básicos que devem ser observados para atender à qualidade ética no manejo pré-abate são:
· Métodos de manejo pré-abate e instalações que reduzam o estresse; 
· Equipe treinada e capacitada, comprometida, atenta e cuidadosa no manejo dos bovinos;
· Equipamentos apropriados, com manutenção periódica, a serem utilizados devidamente ajustados à espécie e situação; 
· Processo eficaz de insensibilização que induza à imediata perda da consciência e sensibilidade, de modo que não haja recuperação e, consequentemente, não haja sofrimento até a morte do animal.
Área de descanso e período de jejum
O transporte é o processo onde os animais sofrem um grande estresse, principalmente por ser uma experiência nova onde estão expostos a muitas situações desconhecidas, com isso é imprescindível que os animais ao chegarem ao frigorifico tenham um curral de descanso (Foto 1). O curral de espera deve conter área coberta, piso adequado e estruturas que garantam o conforto dos animais (BRASIL, 2000). 
Além de permitir a recuperação dos animais, o período de descanso, também tem como finalidade completar o tempo de jejum. Segundo a IN 3 de 2000 os animais devem ser submetidos a jejum e dieta hídrica por período mínimo de oito horas e este não deve exceder 24 horas. Períodos longos de jejum podem ocasionar problemas de bem estar e de qualidade da carne como, lesões por brigas e aparecimento de carnes DFD (dura, seca e escura). Os animais, após o descanso regulamentar, seguem por uma rampa de acesso ao boxe de atordoamento.
Foto 1: Curral de descanso. Na foto é possível ver a separação por lotes
Banho de aspersão e insensibilização
O banho de aspersão (Foto 2) é realizado antes do boxe de atordoamento. No final da rampa de acesso ocorre o afunilamento, chamada de seringa, é nela onde o banho ocorrerá (Foto 3). Segundo o Ministério da Agricultura, o local deve dispor de um sistema tubular de chuveiros dispostos transversal, longitudinal e lateralmente, orientando os jatos para o centro da rampa. A água, deve ter a pressão não inferior a três atmosferas (3,03 Kgf/cm2) e recomenda-se hiper cloração a 15ppm.
Foto 2: Banho de aspersão
Foto 3: Seringa
Tendo em vista que é impossível a realização de um esfola higiênica se o couro estiver úmido, é recomendado que os animais permaneçam por um período de tempo na rampa (Steiner, 1983). É neste processo que é feita a avaliação de vocalizações ou mugidos. O número de vezes que o animal vocaliza tem relação direta com a concentração de cortisol plasmático, este é considerado um hormônio do estresse, portanto se o manejo ocorrer adequadamente, os animais praticamente não vocalizam.
 Uma das causas de mugidos, é a utilização do bastão elétrico no manejo dos animais (Gradin, 1999). Ao reduzir o uso do bastão elétrico, melhorara-se o bem-estar animal, podendo este, ser substituído pelo uso de bandeiras ou sinalizadores (Foto 4). Após realizada a lavagem do animal e a avaliação, os animais, são direcionados para o boxe de atordoamento, essa fase tem como objetivo deixar o animal inconsciente de modo que possam ser sangrados sem causar dor (GREGORY, 1998). 
Foto 4: uso de bandeiras no manejo pré - abate
Os boxes de atordoamento devem promover o isolamento do bovino dos demais animais do grupo, em cada cessão é insensibilizado um bovino por vez, sendo o boxe de atordoamento uma estrutura metálica que restringe a movimentação do animal, permitindo uma maior precisão do disparo com o dardo cativo (WSPA, 2013).
Insensibilização por dardo cativo com penetração
A insensibilização por dardo cativo (Foto 4) tem como finalidade a perda imediata da consciência sem que haja transdução do estímulo da dor (Ludtke, 2012). Esse método é considerado o mais eficiente e humano, este tipo de pistola pode ser acionada manualmente, através do gatilho ou com disparo automático. O dardo atravessa o crânio (Foto 5) em alta velocidade e força, atingindo as principais estruturas do cérebro, como córtex cerebral, tronco encefálico e cerebelo, deixando o animal inconsciente. 
Foto 4: Pistola de dardo cativo com penetração Foto 5: Dardo atravessando crânio do animal
Afim de ter eficácia na insensibilização, a pistola deve ser posicionada no plano frontal da cabeça do animal, no cruzamento entre as linhas imaginárias traçadas entre o olho e a base do chifre oposto, local onde a espessura do osso frontal é menor (Foto 6). Além do posicionamento correto, é imprescindível que a angulação entre a pistola e a cabeça do animal seja correta. Segundo Finnie, 1993, esta deve ser de 90°. 
Foto 6: local de insensibilização
Insensibilização por dardo cativo sem penetração
O método faz o atordoamento por concussão cerebral. Segundo Lambooy et. al. 1981, este método possui menor eficiência, em seus estudos, eles evidenciaram que apenas 50% dos animais foram insensibilizados corretamente com esse método. A insensibilização por dardo cativo não penetrante, não é recomendada para bovinos com menos de oito meses, para animais muito velhos e touros. O primeiro, porque o crânio dos mesmos não é rígido como o de um bovino adulto, absorvendo a energia do impacto, reduzindo assim, a eficiência do atordoamento. Já os últimos, apresentam um crânio mais espesso e resistente ao impacto (Andrade et. al. 2014).
A posição da pistola neste método deve ser cerca de 2cm superior (Foto 7) a posição quando utilizado dardo cativo penetrante (Gradin, 2007)
Foto 7: Local de insensibilização
Sangria
Após a insensibilização, ocorre a abertura do piso e da parede lateral do boxe, o animal cai para a área de vômito. O animal então é suspenso por um membro inferior, com o auxílio de um guincho, sendo pendurado na nória. Nessa etapa, é normal ocorrer regurgitação sendo comum os animais receberem um jato de água para limpeza. Na área de vômito não é permitido mais de um animal em decúbito por boxe, afim de não comprometer o tempo entre a insensibilização e a sangria. A legislação exige que este intervalo seja o menor possível, não ultrapassando60 segundos. 
Nesta etapa, deve ser observada a eficiência da insensibilização. Os sinais que devem ser analisados são: ausência de respiração rítmica, expressão fixa e vidrada, ausência de reflexo córneo, mandíbula relaxada e línguas soltas, caídas para fora da boca (Roça, 2002). O atordoamento do animal, por qualquer método, produz uma elevação da pressão sanguínea ocasionando um aumento transitório nos batimentos cardíacos, fator que favorece a sangria.
Segundo o Ludtke (2012), o procedimento adequado para a sangria deve ser realizado cortando com uma faca os grandes vasos que emergem do coração causando morte por falência múltipla dos órgãos e anóxia cerebral. O sangue que escorre do animal suspenso é coletado na calha e direcionado para armazenamento em tanques, gerando de 15 a 20 litros de sangue por animal. Para que a transformação do musculo em carne seja eficiente, é removido cerca de 60% do volume total de sangue, sendo que o restante fica retido nos músculos (10%) e vísceras (20 - 25%) (Piske, 1982;). Além disso, o sangue possui pH elevado, reduzindo o tempo de prateleira da carne (Mucciolo, 1985).
Foto 8: Sangria, corte dos grandes vasos
Abates religiosos
O abate Halal é realizado seguindo as normas ditadas pelo Alcorão, sendo feito o mais rápido possível, para que o animal tenha uma morte rápida e por um mulçumano. A faca deverá ser afiada para que a sangria seja feita apenas uma vez, cortando a traqueia, o esôfago as artérias carótidas e as veias jugulares afim de apressar a morte do animal. Alguns países islâmicos permitem a insensibilização por dardo cativo não penetrante, porém os mais radicais proíbem.
O abate Kosher segue preceitos da lei judaica sendo através da degola cruenta sem prévio atordoamento. Este tipo de abate, só é permitido para atender a comunidade judaica, não podendo ser utilizado como opção de abate. Este abate, consiste em amarrar uma das patas traseiras do animal e puxá-lo para fora do boxe de atordoamento, de maneira que ela fique suspensa, uma pessoa segura a cabeça do animal, outra fixa um gancho na narina dele para esticar bem o pescoço para que ele possa ser cortado. A religião judaica, acredita que a sangria é mais eficiente neste tipo de abate, exigindo carnes que possuam pouco sangue residual. Isto foi, de fato, comprovado por ROÇA (2002).
Abate emergencial imediato
O abate emergencial é realizado em casos graves, fraturas expostas ou que submetam o animal a sofrimento intenso. Dependendo do estado em que o animal se encontre, o abate deve ser realizado no local onde o animal se encontra. O operador deve estar treinado para este tipo de abate e deve conhecer o correto posicionamento do alvo para que a insensibilização ocorra de forma rápida e no primeiro disparo. Após a insensibilização, deve-se verificar os sinais de inconsciência e a sangria no período máximo de 60 segundos. O destino do animal abatido será julgado pelo médico veterinário responsável.
Referências 
ALMEIDA, L. A. M. Manejo no pré-abate de bovinos: aspectos comportamentais e perdas econômicas por contusões. 2005. f. 2-35. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária Preventiva) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2005;
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa Nº3, de 17 de janeiro de 2000. Regulamento técnico de métodos de insensibilização para abate humanitário de animais de açougue. Diário Oficial (da) União, Brasília, 24 jan. 2000. Disponível em:<http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sustentabilidade/bem-estar-animal/arquivos/arquivos-legislacao/in-03-de-2000.pdf> acessado em: 8/11/2018 ás 19:00 horas;
BROOM, D.M. Indicators of poor welfare. British Veterinary Journal, London: v.142,p.524-526, 1986;
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FINNIE, J.W. Brain damage caused by a captive bolt pistol. Journal of Comparative Pathology, London, v. 109, n.3 p.253-258, Oct. 1993;
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GRANDIN, T. Livestock handling and transport. 3rd ed. Oxford: CABI Publishing, 2007. 386p
GREGORY, N.G. Stunning and slaughter. Animal Welfare and Meat Science. Cabi. Publishing. 1998;
LAMBOOY, E. SPANJAARD, W. Effect of the stunning shooting position on the stunning of calves by captive bolt. The Veterinary Record, 109, 16, p. 359–361, 1981;
LUDTKE . C . et al. Estratégias para avaliar o bem estar animal - Auditorias em frigorífico 2012, Disponível em : < https://pt.engormix.com/avicultura/artigos/estrategias-avaliar-bem-estar-t37430.htm> acesso em: 05/11/2018 ás 21:00 horas;
MUCCIOLO, P. Carnes: estabelecimentos de matança e de industrialização. São Paulo: Íncone, 1985. 102 p;
PERIN, G. R. et al. Bem estar animal no Manejo pré-abate de Bovinos e a influência na qualidade da carne. ISSN 2175-2214, Volume 9 - n˚ 4, p. 506 a 51, 2016;
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STEINER, H. Working model of standardized technique for the hygienic slaughtering of cattle. Fleischwirtschaft, Frankfurt, v.63, p.1186-1187, 1983;
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