Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PEDAGOGIA • UNIVALI São objetivos desta unidade: • interpretar o texto como instrumento de comunicação e perceber suas intenções comunicativas; • distinguir as características dos tipos e dos gêneros textuais; • aplicar as diferentes formas de estruturação dos parágrafos; • distinguir textos literários e textos não literários. A Leitura de todos bons livros é como uma conversa com os melhores espíritos dos séculos passados, que foram seus autores, e é uma conversa estudada, na qual eles nos revelam seus melhores pensamentos. (RENÉ DESCARTES, 1596 – 1650). 1 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM INICIANDO O TEMA 2 UNIDADE 2Tipologias textuais egêneros textuais Profa. Maria Cristina Kumm Pontes PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 2 Na unidade anterior, trabalhamos com os conceitos de Leitura e de texto, e também discutimos que, para que ela seja realizada com sucesso, há necessidade de o leitor ter desenvolvido um acervo de informações em sua memória e de ter elaborado estratégias. Agora, chegou o momento de analisarmos o interior dos textos, revendo as estruturas textuais que aparecem com mais frequência em nosso cotidiano. Além disso, focaremos nossa atenção na estrutura discursiva do texto, naquilo que ele quer comunicar e em como se estrutura para fazer isso! E, para continuarmos nossa viagem, vamos conhecer um pouco melhor a estrutura interna dos textos. 2.1 Os textos e suas intenções comunicativas Os textos estão a nossa volta em todos os lugares – na rua, no mercado, nas praças, no ônibus, nos panfletos e anúncios publicitário, na TV. São textos de todos os gêneros, tipos, formatos e com funções comunicativas distintas. A intenção para se elaborar um texto é basicamente simples: quem o elabora quer comunicar algo a alguém. Mas o formato do texto, o seu tipo e o seu gênero dependerão da intenção comunicativa que se tem. Há textos que nos relatam algo que acabou de acontecer ou um fato ocorrido há muito tempo. Há outros que apresentam os detalhes de uma paisagem, ou as características psicológicas de uma personagem. E há ainda aquele texto que expressa uma opinião ou que tenta nos convencer de algo. Há os textos orais, os escritos e os que não usam palavras. Há os literários, que trabalham a beleza e a magia das palavras; e outros mais objetivos, técnicos e impessoais. Mas não podemos esquecer, ainda, que há textos para serem simplesmente lidos, como esse: O ensino da técnica narrativa cai com facilidade nas fórmulas prontas e em análises superficiais de obras consagradas. Da teoria descontextualizada à pura receita (não raro com tons de autoajuda), poucos nesse segmento são capazes de fundir essas duas instâncias no ensino da arte de escrever, e ainda assim manter com dignidade um papel renovado para a tradição crítica da melhor estirpe. [...] (MURANO, 2011, p. 28). 3PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 E há textos para serem lidos com expressão, em voz alta, para si ou para outro ouvinte, como um poema. [...] Sou um caboco rocêro Sem letra e sem instrução; O meu verso tem o chêro Da poêra do sertão; Vivo nesta solidade Bem destante da cidade Onde a ciença governa. Tudo meu é naturá, Não sou capaz de gosta Da poesia moderna. [...] (ASSARÉ, 2011, p. 66). Mas ainda há textos para serem cuidadosamente vistos, observados, admirados. Figura 1: O livro árvore, de Salvador Dali. Fonte: <http://washingtonallifer.wordpress.com/2010/09/22/ obras-de-salvador-dali/>. PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 4 São diferentes textos, com diferentes estruturas e diferentes objetivos. Entretanto, mesmo havendo um número incontável de textos, existe algo em comum entre eles que está na base de sua organização interna. Para compreendermos ainda melhor, precisamos seguir uma ordem em nossa análise. E, para isso, é necessário ter em mente que existe uma diferença significante entre a expressão escrita e a expressão oral, e que para a produção escrita, o escritor deve estar atento às variadas técnicas de redação, dependendo dos objetivos que ele traçou para seu texto. E, para iniciarmos nossa análise, precisamos entender certos conceitos, como os de textos literários e os de textos não-literários. Os primeiros, por serem considerados textos artísticos, não visam apenas à transmissão de pensamentos. Esses textos objetivam, segundo Santos (2002, p. 33), a recriação e a interpretação da realidade do artista. São exemplos de textos literários as obras de Shakespeare, de Drummond, de Cecília Meireles e de Joaquim Manuel de Macedo, entre outros. E é um trecho de uma das mais célebres obras de Macedo, A Moreninha, publicada em 1844, que você lerá a seguir: [...] Era uma gruta pouco espaçosa e cavada na base de um rochedo que dominava o mar. Entrava-se por uma abertura alta e larga, como qualquer porta ordinária. Ao lado direito havia um banco de relva, em que poderiam sentar-se a gosto três pessoas; no fundo via-se uma pequena bacia de pedra, onde caía, gota a gota, límpida e fresca água que do alto do rochedo se destilava; preso por uma corrente à bacia de pedra estava um copo de prata, para servir a quem quisesse provar da boa água do rochedo. Foi este lugar escolhido por Augusto para fazer suas revelações à digna hóspeda. O estudante, depois de certificar-se de que toda a companhia estava longe, veio sentar-se junto da Sra. D. Ana, no banco de relva, e começou a história dos seus amores. [...] (MACEDO, 1994, p. 51). É muito importante que você saiba que podemos classificar os textos de diferentes formas, seja pelo objetivo do escritor, pela organização discursiva que recebeu, pela função comunicativa que exerce, pelo formato, pela linguagem, e por uma série de outras categorias. ATENÇÃO 5PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 Os textos não-literários, por sua vez, estão preocupados com a exatidão, com o “comunicar corretamente dados corretos” (SANTOS, 2002, p. 33), como acontece com as dissertações de mestrado, com as teses de doutorado e com os artigos científicos, que comunicam os resultados de pesquisas realizadas, e, ainda, com as bulas de remédio, os dicionários e manuais de instrução. Agora, talvez você esteja se perguntando: e onde entram aquelas outras formas de textos – narração, descrição e dissertação – que aprendemos na educação básica? Para facilitar nosso entendimento geral sobre a classificação dos textos, vamos chamá-los aqui de organizações discursivas, pois elas são, na verdade, a forma como o nosso discurso é organizado para transmitir determinada informação com objetivos específicos. Essas organizações não são exclusivas de textos literários – elas podem aparecer em diferentes gêneros textuais como, por exemplo, em tratados médicos, em regulamentos, e em outros textos de caráter mais técnico e científico; e também em textos de caráter pessoal, como as cartas e os diários. Vamos conhecer mais detalhadamente as características básicas de cada uma dessas formas de organização discursiva? ATENÇÃO O termo Discurso possui várias acepções. Discurso aqui é entendido em um sentido mais amplo que aquele comumente utilizado de se falar em público. Ele está relacionado ao texto falado ou escrito em que o emissor, por meio de palavras e sequência de frases, comunica algo a seu interlocutor. Ou seja, significa um evento de comunicação, um sistema social de pensamento e ideias. É importante que você esteja com seus conhecimentos sintonizados no conteúdo. Por isso, quero convidá-lo a assistir ao vídeo 4. VÍDEO PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 6 2.1.1 A narração A narração é a organização discursiva que dá ao texto a estrutura para relatar eventos, fatos ocorridos ou apenas previstos, sejam eles reais ou fictícios. Um bom exemplo de texto narrativo é a fábula, como a que você lerá a seguir e cuja autoriaé atribuída a Esopo, fabulista grego que viveu em 620 a.C. A Águia e a Gralha Uma Águia, saindo do seu ninho no alto de um penhasco, num fulminante voo rasante e certeiro, capturou uma ovelha e a levou presa às suas fortes e afiadas garras. Uma Gralha, que a tudo testemunhara, tomada de inveja, decidiu que poderia fazer a mesma coisa. Ela então voou para alto e tomou impulso. Então, com grande velocidade, atirou-se sobre uma Ovelha com a intenção de também carregá-la presa às suas garras. Ocorre que suas garras, pequenas e fracas, acabaram por ficar embaraçadas no espesso manto de lã do animal, e isso a impediu inclusive de soltar-se, embora o tentasse com todas as suas forças. O Pastor das ovelhas, vendo o que estava acontecendo, capturou-a. Feito isso, cortou suas penas, de modo que não pudesse mais voar. À noite a levou para casa e entregou como brinquedo para seus filhos. “Que pássaro engraçado é esse?”, perguntou um deles. “Ele é uma Gralha, meus filhos. Mas se vocês lhe perguntarem, ela dirá que é uma Águia.” Moral da História: Não devemos permitir que a ambição nos conduza para além dos nossos limites. (ESOPO, 2017). O texto que você acabou de ler relata um evento que aconteceu durante o encontro das personagens na história, e é marcado pelas ações que eles executaram (voar, capturar, agarrar, cortar, levar,...) em um dado período de tempo e em um determinado local, características pelas quais podemos classificar esse texto como uma narração. Figura 2: Águia e Gralha. Fonte: <http://www.correiodeuberlandia.com. br/colunas/esta-escrito/a-aguia-e-a-gralha-2/>. 7PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 Embora as características típicas dos textos narrativos sejam a presença de enunciados que determinam o estado e a ação dos personagens e a existência, mesmo que não claramente expressa, de local e tempo, elas não dão conta de expressar tudo o que há em uma narrativa. Segundo Savioli e Fiorin (2007, p. 56), a evolução de uma narrativa se dá por meio de seus enunciados, que podem ser agrupados em quatro fases distintas. Elas são: a. Manipulação: considerada a parte da narrativa em que um dos personagens induz o outro a executar alguma ação que queira ou deva fazer. No exemplo da fábula de Esopo, a manipulação estava presente no momento em que a Gralha, imbuída de inveja da Águia, sentiu-se provocada e quis fazer o mesmo que sua antagonista. b. Competência: momento da narrativa em que a personagem demonstra que sabe e que consegue fazer o que lhe é de desejo ou proposto. No caso a Gralha, ela alçou voo em direção à ovelha para capturá-la com as garras, como fazia com animais menores. c. Performance (desempenho): momento em que a ação realmente é colocada em prática, em que a personagem realiza aquilo que havia se proposto a fazer, mas também é o momento em que a ação pode, por algum motivo, fracassar e dar outro rumo à história. No caso de nossa fábula, a personagem fracassou, pois não considerou que a ovelha era maior que ela e, por isso, sua performance não teve os resultados positivos que esperava. Sanção: considerada a última fase da narrativa, é o momento em que a personagem recebe sua premiação ou seu castigo. Geralmente está colocada no final dos textos, mas pode servir de abertura para que se desencadeie a narrativa por meio de um retorno psicológico. No texto em análise, a personagem recebeu, por sanção, o castigo de ter as asas cortadas e de servir de brinquedo para os filhos do fazendeiro. Os gêneros literários podem ser classificados em três grupos: épico, lírico e dramático. Para conhecer mais sobre a estrutura narrativa e todas as suas peculiaridades, sugiro que você consulte o livro Como Analisar Narrativas, de Cândida Vilares Gancho. O livro faz parte da Série Princípios da editora Ática. SAIBA MAIS PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 8 Há textos narrativos que fazem uso abundante de palavras, como os contos, músicas, poemas e notícias, e aqueles que usam poucas ou nenhuma palavra expressa, como os filmes mudos, as charges ou histórias em quadrinhos. Nestas, por exemplo, as ações, o espaço e a progressão temporal são representados claramente pelas imagens. Figura 3: Imagem de história em quadrinho sem falas. Fonte: <http://alfabetizandocommonicaeturma.blogspot.com/>. Independentemente do gênero textual, a narrativa possui alguns elementos essenciais, que são: Narrador: aquele que conta a história e que pode ou não ter participação nela. É essa posição como ator ou observador que define se a narração será feita em primeira ou terceira pessoa. Para Amaral (et al, 2005), a classificação do narrador pode ser estabelecida como: • narrador-personagem – é aquele que participa dos eventos e, portanto, conta os fatos na primeira pessoa. Apresenta características subjetivas em suas colocações e seu ponto de vista fica em evidência. 9PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 • narrador-observador – a narrativa é feita na terceira pessoa, já que o narrador não participa dos eventos (apenas os observa). Não tem conhecimento pleno dos personagens nem dos fatos, por isso, narra-os com certa imparcialidade. • narrador-onisciente – é o narrador que conhece o íntimo dos personagens e dos fatos e, por isso, conhece seus pensamentos e sentimentos e sabe o que acontece simultaneamente em lugares distintos. A narração é geralmente feita em terceira pessoa, mas pode aparecer também em primeira. Personagens: são os seres que realizam as ações no decorrer da narrativa e que podem ser humanos ou humanizados. Dependendo de seu papel na trama, a personagem pode ser classificada como principal ou protagonista, e ajudante ou antagonista. Diálogo: é a fala das personagens ao longo do texto. Eles podem aparecer de forma direta, que é apresentação literal da fala da personagem; indireta, quando o narrador reproduz com suas próprias palavras o discurso feito pela personagem; e indireta livre, que é a representação da “fala” interior do personagem, acompanhada pelo fluxo de consciência, que estará incluída na linguagem usada pelo narrador. Tempo: é o período em que a história se desenrola. Pode ser classificado em cronológico, que respeita a ordem natural dos fatos, seguindo a ordem clássica do início para o final do enredo, e pode ser medido pelas unidades de tempo (horas, meses, séculos); e psicológico, que é determinado pela vontade, pela memória do narrador ou da personagem e, por isso, é não-linear, estando fora de sua ordem natural. Em algumas narrativas, é comum o uso do flashback. Este é em recurso usado quando o narrador deseja voltar no tempo para elucidar algum fato ou acrescentar alguma informação ao fato narrado. Espaço: é o local geográfico, físico ou social (CEREJA; MAGALHÃES, 1999), onde todas as ações acontecem. O espaço pode influenciar nas atitudes e comportamentos das personagens. O espaço físico procura respeitar a movimentação das personagens e é, em geral, constituído por descrições; o social está relacionado às condições psicológicas e culturais das personagens e à sua situação socioeconômica, projetando a época e os conflitos. Enredo: é como chamamos a sequência das ações que são narradas. Os enredos podem ser, segundo Carneiro (2001), de três tipos: realista, que tem como base a realidade; verossímil, que se assemelha à realidade e é o modelo comum às produções literárias; e o não-verossímil, que trata da realidade no âmbito mental, das vivências fantasiosas. PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 10 2.1.2 A descrição A Escrava Isaura Achava-se ali sozinha e sentada ao piano uma bela e nobre figura de moça. As linhas do perfil desenham-se distintamente entre o ébano da caixa do piano, e as bastas madeixas ainda mais negras do que ele. São tão puras e suaves essas linhas que fascinam os olhos, enlevam a mente, e paralisam toda análise.A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma nuança delicada, que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada. (GUIMARÃES, 1993, p. 13-14). Enquanto você lia o texto de Bernardo Guimarães, você conseguiu recriar em sua memória a imagem da moça ao piano, não é mesmo? Isso foi possível porque esse é um texto descritivo. Descrever é procurar recriar, na imaginação do leitor, a imagem apresentada pelo escritor, que pode ser uma paisagem, um objeto ou uma pessoa. Por não ter como foco as transformações de estado do elemento observado, a descrição tende a ser caracterizada pela ausência de progressão temporal, que pode ser percebida pela escolha do tempo verbal (em geral, presente do indicativo) e pela ausência de elementos que indiquem transformações de estado sofridas pelos elementos observados. Segundo Savioli e Fiorin (2007), os fatos de uma descrição são produzidos simultaneamente, eliminando-se, assim, os efeitos de anterioridade e posterioridade, que são comuns em narrações. Dessa forma, se as posições dos enunciados sofrerem inversão (troca de posição no texto), a coerência do texto será mantida. Para que a descrição atinja seu objetivo, o escritor deve usar palavras que permitam uma detalhada enumeração de características. Conhecer a Língua Portuguesa é essencial para se estabelecer uma boa comunicação. Então, saiba mais sobre os modos e os tempos verbais consultando uma boa gramática. Dentre os gramáticos mais renomados estão Evanildo Bechara, Ernani Terra, Domingos Paschoal Cegalla, Celso Luft e Luiz Antônio Sacconi. SAIBA MAIS 11PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 São duas as formas básicas de descrição: • Objetiva: que se caracteriza pela apresentação de informações pontuais, tentando uma reprodução fiel das características do objeto, como sua altura, peso, cor, forma, volume. Os elementos descritos são apresentados de forma bastante concreta, típicos de textos não-literários. Veja o exemplo: Esta é Emília. Uma boneca de pano feita por Tia Anastácia para presentear a menina Narizinho. Feita de retalhos das roupas velhas de Tia Anastácia, tem olhos de botões, e cabelo de trapos de pano. Seu vestido colorido em vermelho e amarelo é curto e mostra sua bombacha branca. Nos pés, meias de malha verde se destacam por tamanhos assimétricos com a composição que faz com as cores dos sapatos coloridos. • Subjetiva: que apresenta o predomínio das impressões do observador, que o descreve usando toda sua sensibilidade e sentimento. Esse tipo de descrição é comumente utilizado em textos literários. Esta é Emília. Uma boneca linda, sapeca e tagarela que fala o que pensa e não tem limites. Apesar disso, é uma criatura encantadora, doce e delicada, e muito engraçada. Emília tem olhos de jabuticaba, profundos e sentimentais, e um sorriso contagiante e verdadeiro. Sua gargalhada são notas musicais, ora graves, ora agudas, mas sempre doces que inebriam os que a ouvem. Mas quando se zanga... franze sua sobrancelha de lã e mexe seu delicado nariz de conta vermelha, como o mais belo rubi. Nada em Emília surpreende mais que sua criatividade. É a boneca dos sonhos de toda menina! Segundo Carneiro (2001), a descrição apresenta alguns elementos fundamentais, que são: • Observador: tem como função realizar a seleção de dados que serão apresentados ao leitor, e podem ainda indicar seu nível de conhecimento sobre o objeto observado. PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 12 • Tema-núcleo: pode variar entre um objeto, um processo ou um ser animado ou inanimado. A observação dependerá do nível de conhecimento do observador em relação ao tema-núcleo, e também de suas limitações psicológicas, de posicionamento e do referente. • Dados referentes a esse tema-núcleo: são os dados coletados pelo observador, através de seus sentidos físicos – audição, visão, tato, paladar, olfato –, que servem de base para os elementos concretos. O observador poderá fazer uso de suas capacidades intelectuais, quando os elementos não fizerem parte do universo dos elementos concretos. Para descrever seres humanos ou humanizados, o observador poderá fazer uso dos aspectos psicológicos e sociológicos, além dos físicos. Apesar de serem organizações discursivas distintas, a narração e a descrição são essenciais uma à outra – em alguns casos, indissociáveis. O motivo é simples: na narração, tanto o cenário como as personagens precisam ser descritos para darem ao leitor as características específicas que os diferenciam de outros cenários e personagens. Da mesma forma, há, na descrição, alguns eventos que carecem de narração. Este recurso tem funções decorativas e explicativas. 2.1.3 A dissertação Quando ainda na educação básica fomos apresentados a um tipo de texto a que chamamos de dissertação. Na verdade, esta é uma forma simplificada de apresentar os textos argumentativos, de opinião e injuntivos em uma única classificação, pois eles têm algo em comum: tais textos têm por base a exposição, através de palavras, dos argumentos, das opiniões e das reflexões de um argumentador a respeito de um determinado assunto, objeto ou fato da realidade, na tentativa de esclarecer ou de convencer o leitor. Para isso, ele nos apresenta elementos que comprovem sua tese diante de análises e discussões interpretativas. A narração está interessada no enredo, na progressão temporal, na evolução da história, nas transformações de estado, enquanto a descrição está centrada na contemplação, na caracterização, nos elementos que compõem a cena. ATENÇÃO 13PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 O termo dissertação também é empregado para designar o gênero textual relativo às produções acadêmico-científicas resultantes das produções de pesquisa do mestrado. Os textos argumentativos, os de opinião e os injuntivos têm funções específicas que são expressas em suas organizações discursivas. E é isso que vamos ver a partir de agora em detalhes. Nos textos de opinião o autor expõe seu posicionamento diante de algum tema atual e de interesse de muitas pessoas. Algumas vezes, o tema é polêmico. Para compreender o que é um texto de opinião (ou artigo de opinião), vamos começar com a Leitura de um trecho selecionado. Gravidez na Adolescência A gravidez da mulher jovem não é um problema exclusivo de nossos dias. Nossas avós casavam-se aos 15 ou 16 anos e começavam a procriar, nunca ocorrendo a ninguém daquela época que isso pudesse ser um problema, pois essas gestações eram desejadas. O que se tem constituído em preocupação, nos dias atuais, é o crescente número de gestações indesejáveis e indesejadas na adolescência. Surgem como um “efeito colateral” do exercício da sexualidade entre jovens – às vezes muito jovens – que, pela própria imaturidade, nem sempre são capazes de avaliar e de assumir os riscos e as consequências dessa vida sexual. O problema da gestação indesejada entre adolescentes passou a se tornar importante a partir da década de 60. A revolução de costumes, a onda de contestação juvenil, o advento de anticoncepção eficaz e a afirmação dos direitos da mulher marcaram a época, resultando em maior liberalização do exercício da sexualidade, iniciação sexual mais precoce e aumento dos índices de doenças sexualmente transmissíveis e de gravidez indesejada. [...] (VITIELLO, 1999, p. 43). Como você pôde perceber durante a leitura dessa parte do texto de Vitiello, o autor não nos relata ações ou movimentos, nem apresenta as características físicas de algo ou alguém, tampouco as psicológicas. Isso acontece porque o texto está expondo os pensamentos que o autor tem sobre um determinado tema e deseja desenvolvê-lo, caracterizando assim um texto de opinião. O texto argumentativo, por sua vez, tem por característica a tentativa de convencimento. É claro que a opinião do autor também está presente,mas, com as escolhas de argumentos consistentes e, preferencialmente, fundamentados, ele tenta convencer o leitor a concordar com seu pensamento, motivo pelo qual utiliza, além da exposição de suas ideias, as falas de outros autores que discutem o mesmo assunto. PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 14 Todo texto tem, por trás de si, um produtor que procura persuadir o seu leitor (ou leitores), usando para tanto vários recursos de natureza lógica e linguística. Chamamos procedimentos argumentativos a todos os recursos acionados pelo produtor do texto com vistas a levar o leitor a crer naquilo que o texto diz e a fazer aquilo que ele propõe. [...] Um texto ganha mais peso quando, direta ou indiretamente, apóia-se em outros textos que trataram do mesmo tema. Costuma-se chamar argumento de autoridade a esse recurso à citação. (SAVIOLI; FIORIN, 2007, p. 173-174). A apropriação dos discursos de outros autores tem como objetivo o fortalecimento dos argumentos apresentados. Os textos injuntivos são textos que têm por característica propor a execução de uma ação, aconselhar ou recomendar algo, como é o caso dos manuais de instrução e as receitas culinárias, além dos textos publicitários que orientam o leitor a determinado comportamento. Figura 4: Exemplo de texto injuntivo: instruções para montagem de Origami. Fonte: <http://thingsotk.blogspot.com/2011_08_01_ archive.html>. 15PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 Como vimos, nos textos de caráter dissertativo, o argumentador é a pessoa essencial na elaboração do texto. Na exposição de suas ideias, ele pode colocar suas próprias opiniões sobre o assunto, ou ainda apresentar as ideias de outros autores, ou aquelas que são opiniões gerais, de senso comum, que já fazem parte do discurso cotidiano da população. Uma estratégia eficiente para os argumentadores é trazer para seu texto diferentes opiniões, confrontando as ideias dos vários autores para que se chegue a uma conclusão consistente, o que também pode tornar o texto mais polêmico ou mais informativo. Independentemente do fato de ser um texto argumentativo, de opinião ou injuntivo, os textos dissertativos constituem-se classicamente de três partes. Introdução: é a parte inicial do texto. Sua função é apresentar ao leitor o posicionamento do autor diante do assunto que será discutido. Desenvolvimento: é a parte central do texto, também chamada de “corpo do texto”. Ela é fundamental à dissertação, pois é nessa parte que são apresentados os argumentos originais ou alheios, as instruções para a execução da ação, e ainda as opiniões do argumentador (CARDOSO, 2001). Para o desenvolvimento do texto, o autor pode dividi-lo em parágrafos, conforme forem sendo apresentadas as ideias que fundamentam a tese. Conclusão: é a parte final do texto. É o momento em que o autor “amarra a sua reflexão” na tentativa de garantir a adesão do leitor para sua tese, ou ainda de demonstrar, de forma concisa, os resultados obtidos. Há diferentes formas de elaborar a conclusão, mas as mais adequadas são em forma de resumo ou de sugestão. No resumo, o autor retoma as ideias já desenvolvidas e as confirma; na sugestão, ele lança as propostas para que os problemas sejam solucionados. Agora que você já conhece os três modos de organização discursiva, veja o quadro elaborado por Carneiro (2001, p. 29) e que apresenta, de forma comparativa, as características que estudamos há pouco: MODO DESCRITIVO NARRATIVO DISSERTATIVO Agente Observador Narrador Argumentador Conteúdo Seres, objetos, cenas, processos Ações, acontecimentos Opiniões, argumentos Tempo Momento único Sucessão Ausência Objetivo Identificar, localizar e qualificar Relatar Discutir, informar, expor Classes de palavras Substantivos e adjetivos Verbos, advérbios e conjunções (temporais) Conectores Tempos verbais mais comuns nos textos Presente ou pretérito imperfeito do indicativo Presente ou pretérito Presente do indicativo Fonte: Carneiro (2001, p. 29). Quadro 1: Diferenças fundamentais entre as organizações discursivas. PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 16 A classificação dada aos textos e que está relacionada à função sóciocomunicativa, ou seja, ao fim a que se destina, é denomina por Marcuschi (2002) como gênero textual. Os textos, quanto a esta classificação, variam segundo a época, a cultura e as finalidades sociais, e dela fazem parte um número ilimitado de textos. Alguns exemplos de gêneros textuais são: o resumo, o bilhete, a carta, as crônicas, leis, notícias, o e-mail, os textos publicitários em seus diversos formatos, o sermão, o requerimento, a piada e a receita culinária, o horóscopo e muitos outros, incluindo todos os literários, os comerciais e oficiais, e os científicos. Quanto à organização interna, cada um dos textos possui características próprias, segundo a função comunicativa que eles exercem. Tomemos como exemplo uma receita – as partes básicas desse texto são: o nome, a lista dos ingredientes e a explicação do modo de fazer, certo? Nós não encontraremos, em uma receita culinária, os mesmos elementos que encontramos em uma bula de remédios, visto que cada um dos textos exerce uma função comunicativa distinta. Por haver uma infinidade de gêneros textuais que servem a atividades didático- pedagógicas, precisamos fazer opções, já que seria impossível contemplar todos aqui. Por isso, trabalharemos com a estrutura mais clássica e mais didática dos textos. Ela servirá para sua orientação na Produção textual e, também, para as orientações que você dará aos alunos quando eles estiverem produzindo. Entretanto, é importante apresentar aos alunos o maior número de gêneros textuais para que eles compreendam as funções comunicativas que cada um deles tem. 2.2 Estrutura dos textos Você sabe que podemos organizar os textos de diferentes formas, não é mesmo? Há aqueles textos, como os poemas, que são organizados em forma de versos, e aqueles em forma de prosa, que são os organizados em parágrafos. Estes últimos é que nos interessam, pois possibilitam o desenvolvimento dos temas propostos com maior qualidade e, também, quantidade adequada de informações, além de facilitar ao leitor a compreensão e a interpretação durante a Leitura. A estrutura básica que os textos em prosa seguem em sua organização compreendem três partes – introdução, desenvolvimento e conclusão (ou começo, meio e fim), e cada uma delas possui extensão variável, de acordo com o tema e as ideias que o escritor se propõe a desenvolver. Que tal conhecer mais sobre textos em Prosa e em Verso? Então assista ao vídeo 5. VÍDEO 17PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 Veja o exemplo que é apresentado a seguir e a indicação das partes de que ele é composto. Analisando o texto apresentado, você pôde perceber que a introdução e a conclusão são as menores partes do texto, enquanto o desenvolvimento é extenso. Isso acontece pela própria função de cada uma das partes do texto – enquanto na introdução é apresentado o tema a ser desenvolvido e na conclusão o autor faz o fechamento do texto, é no desenvolvimento que todo o conteúdo se desenvolve e, por isso, as ideias devem ser mais trabalhadas. Entretanto, deve-se tomar cuidado para que as articulações entre um pensamento e outro não se percam, mantendo-se, assim, a coerência ao longo de todo o texto. Além disso, outros cuidados são necessários como com os aspectos gramaticais, com as fontes de pesquisa, com o raciocínio lógico, com necessidade de se estabelecer relações com o Cantar a capela A origem popular da expressão que indica a interpretação musical entoativa e sem instrumentos Márcio Cotrim, 2011 Expressão de o rigem italiana ( a cappella) -"cantar a capela"- designa u ma i nterpretação m usical s em qualquer acompanhamento instrumental. Nessas interpretações s ó se escuta, porc onseguinte, a v oz d o cantor o u cantores. Vem da prática do canto gregoriano - instituído pelo papa São Gregório M agno no final do século 6º. Era executado apenas por vozes de monges que, muitas vezes, se dispunham a cantar numa capela lateral da i greja, daí o berço d a expressão. A propósito, a voz humana é c onsiderada o m ais perfeito instrumento musical c onhecido. Basta e xperimentar, por exemplo, a s ensação d e escutar a Ave Maria de G ounod na sublime interpretação do tenor Beniamino Gigli no i nterior de uma igreja vazia . Sem f alar n o fenômeno v ocal d a peruana Y ma Sumac, cuja extensão v ocal c onseguia emitir notas agudíssimas, que soavam c omo o canto dos pássaros, e g raves que chegavam abaixo da tessitura de um barítono, em verdadeiras acrobacias vocais - inimaginável coloratura jamais atingida por alguém na história da música. Entre nós, certas audições d e A Capela, com M aria L úcia Godoy, deixam inesquecível recordação. Haja sensibilidade... INTRODUÇÃO DESENVOLVIMENTO CONCLUSÃO PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 18 tema e a proposta, com o projeto do texto. Deve-se ainda evitar as fórmulas prontas e promover o desenvolvimento de um estilo próprio. Para isso, a ampliação do repertório por meio de leituras variadas e anotações sobre as informações coletadas ajudam na seleção das ideias a serem desenvolvidas em cada um dos parágrafos. Mas você sabe como desenvolver os parágrafos de um texto? Então, que tal darmos uma paradinha para conhecermos a estrutura e os modelos básicos de parágrafos? 2.2.3 O Parágrafo: estrutura e modelos Você saberia definir parágrafo? Pois Garcia (1978, p. 203) o define como uma unidade de composição constituída por um ou mais períodos, e no qual é feito o desenvolvimento de uma ideia central ou nuclear, que é chamada de tópico frasal. É essa ideia central – o tópico frasal –, que rege o desenvolvimento do parágrafo. Ela pode ser uma afirmação, uma negação ou uma argumentação que permita ao escritor o desenvolvimento de seu pensamento. Analise o exemplo a seguir retirado do texto de Sírio Possenti, publicado na Revista Língua Portuguesa, em julho de 2011. As melhores aulas de português (especialmente no ensino fundamental) que alguém pode conceber partem de textos reais. A aula que começa com dado solto (para falar de qualquer questão gramatical: grafia, classificação de palavras, tipos de oração, etc., ou mesmo para comparar a escrita correta e a escrita errada) é uma aula que começa mal. A tese também vale para outras áreas: botânica deve começar com plantas (folhas e flores), não com desenhos. (POSSENTI, 2011, p. 44). E, então? Qual é o tópico frasal do parágrafo? Se você respondeu que é a primeira oração, acertou. Isso mesmo. É ela que apresenta a ideia que será desenvolvida ao longo da estrutura. E é comum que ideias secundárias sejam agregadas ao tópico frasal para facilitar o desenvolvimento do parágrafo. Assim, o parágrafo poderá ter a mesma estrutura interna básica de um texto, com introdução, desenvolvimento e conclusão. 19PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 Voltando ao parágrafo que temos como exemplo, veja como fica a análise de sua estrutura: a. Introdução é o enunciado núcleo do parágrafo, pois é nele que será apresentado o tópico frasal. “As melhores aulas de português (especialmente no ensino fundamental) que alguém pode conceber partem de textos reais”. b. Desenvolvimento é o enunciado, ou conjunto de enunciados que permite a exposição das ideias relacionadas ao tópico frasal e que poderá seguir diferentes estruturas, conforme veremos mais adiante. “A aula que começa com dado solto (para falar de qualquer questão gramatical: grafia, classificação de palavras, tipos de oração, etc., ou mesmo para comparar a escrita correta e a escrita errada) é uma aula que começa mal”. c. Conclusão é a parte em que se faz o fechamento da ideia central do parágrafo. “A tese também vale para outras áreas: botânica deve começar com plantas (folhas e flores), não com desenhos”. Para desenvolver o parágrafo, o autor poderá fazer uso de diferentes recursos que contribuirão para fortalecer o tópico frasal, como os que Serafini (1997, p. 55) aponta: a. Desenvolvimento por exemplificação – esse modelo consiste em esclarecer o tópico frasal por meio de exemplos específicos. Veja: Entre as ações encontradas, algumas são de tipo reivindicatório, por exemplo, no contexto associativo ou sindical. Em certos casos, trata-se de ações de caráter prático dentro de uma atividade coletiva, por exemplo, o lançamento de um jornal popular ou de outros meios de difusão no contexto da animação cultural. Num contexto organizacional, a ação considerada visa frequentemente resolver problemas de ordem aparentemente mais técnica, por exemplo, introduzir uma nova tecnologia ou desbloquear a circulação de informação dentro da organização. De fato, por trás de problemas desta natureza há sempre uma série de condicionantes sociais a serem evidenciados pela investigação. (THIOLLENT, 2011, p. 44). Os exemplos que foram colocados para ilustrar cada um dos recursos com os quais se pode montar os parágrafos foram selecionados cuidadosamente, pois são conteúdos relacionados a nossa disciplina. Então, não deixe de analisá-los com atenção redobrada! PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 20 b. Desenvolvimento por comparação e contraste – nesse caso, também conhecido como desenvolvimento por confronto, o parágrafo é estruturado com base no contraste das diferenças ou na aproximação das semelhanças. Veja esse exemplo retirado do livro Verbal e Não Verbal, de Aguiar (2004, p. 22). A diferença entre a manifestação de homens e máquinas está na capacidade de criar mensagens. Enquanto as pessoas formulam códigos e mensagens, decodificam-nos e respondem criativamente, as máquinas são planejadas. Elas só funcionam como emissoras e receptoras segundo as ordens que os técnicos preveem para elas. Nada é culpa do “sistema” (como muitas vezes nos dizem os burocratas), porém das pessoas que programaram o sistema. c. Desenvolvimento por questionamento (interrogativo) – esse tipo de parágrafo lança ao leitor uma questão, uma pergunta sobre o tema proposto para que, no parágrafo seguinte, o tema seja desenvolvido. Veja: Qual o objetivo da telenovela? O que está por trás dos reality shows, dos games shows ou de outros programas de televisão dirigidos a públicos específicos? Estamos virando zumbis, qual a razão disso? (VITOR, 2015, p. 5). d. Desenvolvimento por enquadramentos – essa estrutura consiste na clareza apresentada desde o início do parágrafo e que possibilita ao leitor ser guiado ao longo do texto. Geralmente, faz-se uso de expressões como: inicialmente, primeiramente, por fim, concluindo, a seguir, etc. Aqui está o exemplo: Em segundo lugar, a elaboração de uma gramática normativa não deveria ficar a cargo de meros professores de português, como é hoje a maioria dos gramáticos, mas de cientistas da linguagem (que são também professores). Afinal, um professor puro e simples, por experiente que seja, é reprodutor, não produtor de conhecimento. Para tanto, uma possível solução seria criar, por meio de lei, uma comissão formada de pesquisadores com titulação mínima de doutor e produção acadêmica relevante, a serem eleitos por seus pares – para evitarem gerência política - encarregados de elaborar uma nova gramática normativa, que contemple a realidade na nossa língua culta atual. (BIZZOCCHI, 2011, p. 64). Há ainda outros modelos apresentados por Köcke (et al, 2006), como: e. Desenvolvimento por definição – em que o autor apresenta o conceito (definição) do assunto a ser tratado, como em: Espaço é, por definição, o lugar onde se passa a ação numa narrativa. Se a ação for concentrada, isto é, se houver poucos fatos na história, ou se o enredo forpsicológico, haverá menos variedade de espaços; pelo contrário, se a narrativa for cheia de peripécias (acontecimentos), haverá maior afluência de espaços. (GANCHO, 2006, p. 23). 21PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 f. Desenvolvimento por fundamentação da proposição – consiste na apresentação de dados, teorias e declarações que sustentem o pensamento do autor. O exemplo abaixo, Aníbal Bragança, em seu texto A Política Editoria de Francisco Alves e a Profissionalização do Escritor no Brasil, utilizou afirmações de Lajolo e Zilberman (1996), As autoras de A Formação da leitura no Brasil afirmam: “Só na primeira década do século XX vem de um então desconhecido Monteiro Lobato o testemunho do que pode ser considerado, no contexto brasileiro, uma precoce percepção da anatureza da relação que o mundo moderno impõe ao escritor”, antes só “indícios, esgarçados na maioria das vezes”, que atestam, segundo elas, as frágeis manifestações de profissionalismo do escritor” e concluem enfáticas, “com Monteiro Lobato estamos no século XX”. (LAJOLO e ZILBERMAN, 1996, apud BRAGANÇA, 2002, p. 456). g. Desenvolvimento por enumeração – similar ao desenvolvimento por enquadramentos. Nesse caso, pode ser dada uma listagem de informações. A pesquisa em comunicação abrange uma multiplicidade de aspectos: meios de comunicação de massa, audiência, grupos de influência, impressa, jornalismo, efeitos sobre o público, recepção crítica, contexto político, política governamental, opinião pública, cinema, artes, novas tecnologias, práticas religiosas, práticas militares, etc. Os enfoques podem ser mais diversos: econômico, jurídicos, sociológico, psicológico, semiológico, tecnológico, político, etc. (THIOLLENT, 2011, p. 37). Por fim, devem ser consideradas as qualidades apresentadas por Andrade e Henriques (1992). Eles afirmam que a unidade, a coerência e a concisão, e a clareza devem ser apresentadas nos parágrafos. Tais qualidades darão ao texto um vocabulário adequado, que possibilitará a leitura inteligível, a prevalência de uma única ideia nuclear e que, se unidas a outras, possibilitarão o desenvolvimento lógico e sem redundância. Como você pôde perceber, para estruturar um texto básico, é aconselhável que você siga a estrutura da dissertação, ou seja, com introdução, desenvolvimento e conclusão, elaborando parágrafos bem estruturados, os quais poderão ser por enumerações, definições e enquadramentos, por exemplo. Para compreender os elementos que auxiliam na manutenção das unidades de um texto, em sua coerência e concisão, o melhor recurso é consultar gramáticas e alguns livros específicos, como o de Savioli e Fiorin, que está na referência de nosso material. SAIBA MAIS PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 22 Para escrever um texto com qualidade, há necessidade de alguns cuidados, como a leitura, o planejamento do texto, a busca de informações, habilidades para realizar a paráfrase de alguns textos e também a necessidade de se elaborar um rascunho, principalmente para textos com características de produção de conhecimento, como é o caso dos textos acadêmicos de comunicação científica, como Relatórios, Fichamentos, Resumos, inclusive os Portfólios. E é sobre esse assunto que trataremos em nossa próxima unidade. 23PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 AGUIAR, V.T. O verbal e o não verbal. São Paulo: UNESP, 2004. AMARAL, E. (et al). Novas Palavras: Língua Portuguesa: ensino médio. 2. ed. Renov. São Paulo: FTD, 2005. Coleção Novas Palavras. ANDRADE, M. M.; HENRIQUES, A. Língua Portuguesa: noções para cursos superiores. São Paulo: Atlas, 1992. ASSARÉ, P. Aos Poetas Clássicos. Revista Língua Portuguesa, São Paulo, ano 7, n. 68, p. 66, jun. 2011. BIZZOCCHI, A. A guerra das regras. Revista Língua Portuguesa, São Paulo, ano 5, n. 58, p. 64, jul. 2011. BRAGANÇA, A. A política Editoria de Francisco Alves e a Profissionalização do Escritor no Brasil, In: ABREU, M. (org) Leitura, História e História da Leitura. Campinas, SP: Mercado das Letras: Associação de Leitura do Brasil; São Paulo: Fapesp, 2002. CARDOSO, J. B. Teoria e prática de Leitura, apreensão e produção de texto: para um tempo de “PAS”. Brasília: Universidade de Brasília, São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2001. CARNEIRO, A. D. Redação em construção: a escritura do texto. 2. ed. Renovada e ampliada. São Paulo: Moderna, 2001. CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Português: linguagens: literatura, produção de textos e gramática. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atual, 1999. v. III. COTRIM, M. Cantar a Capela. Revista Língua Portuguesa, São Paulo, ano 5, n. 69, p. 64, jul. 2011. DALI, S. O livro árvore. Disponível em: <http://washingtonallifer.wordpress. com/2010/09/22/obras-de-salvador-dali/> Acesso em: 15 out. 2011. ESOPO. A Águia e a Gralha. 2017. Disponível em < http://sitededicas.ne10.uol.com.br/ fabula_aguia_e_a_gralha.htm> Acesso em 14 maio 2017. REFERÊNCIAS PEDAGOGIA • UNIVALI LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL • UNIDADE 2 24 FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e redação. 17. ed. São Paulo: Ática, 2007. GANCHO, C. V. Como analisar narrativas. 9. ed. São Paulo, Ática, 2006. GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. 7. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1978. GUIMARÃES, B. A Escrava Isaura. 19. ed. São Paulo: Ática, 1993. LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1996. KÖCHE, V.; BOFF, O. M. B.; PAVANI, C. F. Prática textual: atividades de Leitura e escrita. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. MACEDO, J. M. A Moreninha. São Paulo: Moderna, 1994. MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R., BEZERRA. M. A. (Org.). Gêneros textuais e ensino. 5. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. MORAES, V. Soneto de Contrição. 1957. Disponível em: <www.viniciusdemoraes.com.br> Acesso em: 28 set. 2011. MURANO, E. As engrenagens da literatura. Revista Língua Portuguesa, São Paulo, ano 5, n. 67, p. 28, maio 2011. POSSENTI, S. Pra boi dormir. Revista Língua Portuguesa, São Paulo, ano 5, n. 32, p. 44, jul. 2011. SANTOS, A. R. dos. Metodologia científica: a construção do conhecimento – 5. ed. revisada – Rio de Janeiro: DP&A, 2002. SERAFINI, M. Tereza. Como escrever textos. 8. ed. São Paulo: Globo, 1997. THIOLLENT, M. Metodologia da Pesquisa-ação. 18. ed. São Paulo: Cortez, 2011. VITIELLO, N. Gravidez na adolescência. In: CEREJA, W. R; MAGALHÃES, T. C. Português: linguagens: literatura, Produção de textos e gramática. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atual, 1999. v. III. VITOR, A.A. Os meninos da rua Albatroz. 2015. Disponível em <https://books. google.com.br/books?id=c1thCgAAQBAJ&pg=PA5&dq=%22qual+a+raz%C3%A3o+disso% 3F%22&hl=pt-BR&sa=X&redir_esc=y#v=onepage&q=%22qual%20a%20raz%C3%A3o%20 disso%3F%22&f=false> Acesso em 15 maio 2017.
Compartilhar