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Antropologia_Aplicada_ao_Servico_Social_Tema_04

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© 2014 Anhanguera Educacional. Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, 
 resumida ou modificada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma. 
1 
 
 
Como citar este material: 
FINAMORI, Sabrina. Antropologia Aplicada ao Serviço Social: Família e Conceitos Afins. 
Caderno de Atividades. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2015. 
 
 
Na história da Antropologia, família e parentesco estão no centro da disciplina. Tal 
importância atribuída ao tema decorre do fato de o parentesco ser considerado um 
princípio organizador da vida social em “sociedades primitivas”, como então eram 
denominadas as sociedades sem Estado. 
A ideia de família ou grupo de parentesco como uma referência básica comum à 
humanidade logo se mostrou, contudo, imprecisa e ambivalente. Do mesmo modo que 
outros conceitos e instituições presentes em nossa sociedade, também a organização 
social, em termos de parentesco, mostrou-se variável em cada grupo pesquisado. Mesmo 
em nossa sociedade, há muitos modelos e muitas ideias sobre o que é uma família. Pense, 
por exemplo, que há um modelo clássico, que denominamos família nuclear ou, ainda, na 
linguagem popular, “a família de comercial de margarina” – que tem um pai, uma mãe e 
filhos felizes tomando café da manhã juntos –, mas todos sabemos que essa não é a única 
forma possível. Há famílias em que há apenas uma mãe ou pai criando seus filhos 
sozinhos; há avós que criam netos; há casais sem filhos; e, até mesmo, há grupos de 
amigos que se consideram uma família. 
Os estudos antropológicos têm demonstrado que em cada sociedade a procriação e as 
formas de organização em termos de parentesco são pensadas de modos diversos. Neste 
tema, faremos um sobrevoo por alguns dos estudos de família e parentesco ao longo da 
história da Antropologia. 
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Os Estudos Clássicos 
Nas pesquisas antropológicas sobre sociedades não ocidentais há, basicamente, duas 
teorias de parentesco: a teoria da descendência, presente, sobretudo, nos estudos 
britânicos, e a teoria estruturalista da aliança, proposta pelo antropólogo Claude Lévi-
Strauss. 
As teorias de descendência britânicas consideravam a linhagem ou o grupo de 
descendência como o elemento central às sociedades sem Estado ou instituições 
governamentais, por proporcionarem a continuidade e a estabilidade da ordem política. O 
foco desses estudos era a forma e a estrutura do grupo político composto por meio do 
parentesco. A questão principal era a relação de filiação, e o objetivo era compreender 
como ocorria a transmissão de status, direitos e deveres. Seu interesse central era, 
portanto, o aspecto jurídico-político do parentesco. 
Para compreendermos melhor essa questão da linhagem ou descendência, podemos 
refletir sobre o modo como cada grupo, mesmo em nossa sociedade, organiza seus laços 
genealógicos. Por exemplo, quando fazemos uma árvore genealógica, em alguns grupos 
sociais, teremos uma longa cadeia de relacionamentos, estendendo-se a muitas gerações 
passadas. Este é frequentemente o caso das famílias de elite, cuja memória e o registro 
dos antepassados têm uma extensão muito longa. Em outros grupos, essa memória pode 
ser mais superficial, chegando apenas aos avós. 
 
 
 
 
 
 
 
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 resumida ou modificada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma. 3 
Saiba Mais! 
 
Fonte: Por Takato Marui - Osaka, Japão – Árvore Família Šternberg, via Wikimedia Commons. Disponível 
em: http://commons.wikimedia.org/wiki/File%3ACesky_Sternberk_Castle_CZ_family_tree_116.jpg. Acesso 
em: 27 out. 2014. 
 
Atualmente, muitas pessoas constroem suas próprias árvores genealógicas 
como uma forma de entretenimento ou para conhecer melhor suas próprias 
origens. Há muitos sites que auxiliam a construção de uma árvore genealógica. 
Entre eles: 
 www.myheritage.com.br/. Acesso em: 26 out. 2014. 
 http://www.ages-online.com/. Acesso em: 26 out. 2014. 
 
Você também pode saber mais sobre as origens de famílias que migraram para 
o Brasil no site do Museu da Imigração: www.museudaimigracao.org.br. Acesso 
em: 26 out. 2014. 
 
A organização do parentesco e os direitos e deveres podem variar também de acordo com 
a linhagem ou descendência. Se uma sociedade possui descendência patrilinear, os 
relacionamentos são traçados apenas a partir das ligações masculinas; se a 
descendência é matrilinear, eles são observados por meio da linhagem feminina; e 
quando se trata de descendência cognática, como é o caso de nossa sociedade, 
traçamos as relações e os direitos tanto a partir do lado paterno quanto do materno. 
 
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Muitas das pesquisas clássicas sobre parentesco nos trazem exemplos de conceituações 
distintas das nossas. Em geral, tendemos a pensar que pais, filhos e irmãos estão ligados 
uns aos outros por meio de uma substância biológica comum, o mesmo “sangue”. 
Pensamos, também, que os filhos são concebidos por meio da relação sexual entre um 
homem e uma mulher que culmine na fecundação do óvulo pelo espermatozoide, e que os 
filhos fazem parte igualmente da família de seu pai e de sua mãe. O que os estudos 
clássicos mostravam, contudo, era que nem todas as sociedades pensavam essas 
relações deste modo. 
Ao descrever o parentesco entre os trobriandeses, Malinowski apontava que eles 
acreditavam que os filhos seriam concebidos pelos espíritos dos antepassados da mãe da 
criança. Em uma sociedade matrilinear como aquela, o direito de propriedade vinha 
também por meio do irmão da mãe, o tio materno. Então, embora o filho tivesse uma 
relação afetiva com seu pai, a figura de autoridade que tinha de respeitar era o tio materno; 
se formos simplificar usando um termo de nossa sociedade, era como se o direito de 
herança fosse também proveniente do tio materno, e não do pai. 
Já a teoria estruturalista da aliança estava mais preocupada em analisar as sociedades 
que possuem regras sobre a escolha do cônjuge. O grande expoente desta vertente 
teórica é o antropólogo Claude Lévi-Strauss. Em oposição à antropologia inglesa, que via 
no grupo de descendência o elemento central do parentesco, a teoria de Lévi-Strauss 
estava mais interessada em compreender as regras que norteiam quem é legítimo de se 
casar com quem em determinada sociedade. Assim, uma questão central para Lévi-
Strauss é saber por que o tabu do incesto é uma regra universal. 
O tabu do incesto – que proíbe relações sexuais e o casamento entre parentes – está 
presente em todas as sociedades, ainda que as regras de proibição possam variar de 
sociedade para sociedade. Por exemplo, enquanto em algumas sociedades o casamento 
entre primos é proibido, em outras pode até mesmo ser a união recomendada. Assim, 
embora no senso comum muitas vezes se afirme que certos casamentos são proibidos por 
causas biológicas, Lévi-Strauss atribuiu essa proibição a causas sociais. O tabu do incesto 
fundaria, segundo ele, o caráter social das relações humanas, pois, ao impedir o 
casamento entre os próprios parentes, os grupos seriam obrigados a fazer alianças e a 
estabelecer relações por meio do casamento. Mais do que casamento, em sentido estrito, 
a aliança tem a ver,então, com o estabelecimento de uma relação entre dois grupos 
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sociais. Para Lévi-Strauss, a proibição do incesto seria, deste modo, um fenômeno que 
distinguiria humanos de animais, representando, assim, o primeiro passo na transição 
entre natureza e cultura. 
Na teoria estruturalista de Lévi-Strauss, a atenção se volta para o parentesco como um 
todo, que envolve as relações de afinidade (marido-mulher), de consanguinidade (entre 
irmãos) e de filiação (pai-filho) –, e esses três elementos configurariam o átomo de 
parentesco, a unidade mínima. Lévi-Strauss acrescenta, no entanto, ao átomo do 
parentesco, a figura do irmão da mãe. Aí está a importância do tabu do incesto, isto é, para 
que haja o marido e a mulher, algum homem tem de renunciar à sua irmã e “dá-la” a outro 
homem. As famílias podem, assim, casar entre si, mas não dentro de si mesmas. 
Este é um resumo bastante simplificado de uma teoria de parentesco muito complexa e 
sofisticada, que foi delineada de forma altamente abstrata. Em suas pesquisas, Lévi-
Strauss estava em busca dos universais do pensamento humano, e os princípios de troca 
matrimonial seriam uma dessas manifestações universais. O antropólogo propôs, assim, 
uma grande teoria do desenvolvimento da cultura humana, na qual o parentesco ocupava 
lugar central. O tabu do incesto representa, neste modelo teórico, a passagem da natureza 
para a cultura, algo que particulariza a humanidade, fundando o caráter social das 
relações: 
O que diferencia verdadeiramente o mundo humano do mundo animal é que, na 
humanidade, uma família não poderia existir sem existir a sociedade, isto é, uma 
pluralidade de famílias dispostas a reconhecer que existem outros laços para além 
dos consanguíneos e que o processo natural de descendência só pode levar-se a 
cabo através do processo social da afinidade (LÉVI-STRAUSS, 1980, p. 34). 
As Críticas aos Estudos de Família e Parentesco 
Nas décadas de 1960 e 1970, os estudos antropológicos de parentesco passaram por uma 
série de reavaliações críticas. Uma das questões fundamentais neste debate era um 
questionamento sobre o etnocentrismo dos próprios antropólogos ao olharem para as 
outras sociedades. Por exemplo, a crença trobriandesa de que as crianças seriam 
concebidas pelos espíritos matrilineares era vista por Malinowski como uma prova da 
ignorância daquele povo sobre a paternidade biológica. Quando se iniciou esse 
questionamento sobre o etnocentrismo da antropologia, outros antropólogos, como 
Edmund Leach, passaram a argumentar que isso se referia mais a um dogma de outros 
povos do que ignorância propriamente. Leach comparou com o exemplo dos cristãos, em 
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nossa sociedade, que acreditam que Jesus é filho de Deus e da Virgem Maria. Essa 
crença religiosa não é, contudo, tomada, em nossa sociedade, como sinal da ignorância 
dos cristãos sobre a paternidade biológica. Para Leach, os antropólogos viam certos 
comportamentos como ignorância porque isso correspondia a uma fantasia etnocêntrica 
deles sobre a ignorância dos nativos. 
Mais ou menos no mesmo período, com o fortalecimento do feminismo, houve também 
uma revisão não só da antropologia clássica do parentesco, mas também da própria ideia 
de família, conforme concebida nos estudos sobre sociedades ocidentais. A crítica 
feminista buscava desfazer uma crença muito presente no senso comum de que a família 
seria uma espécie de “refúgio do mundo”, lugar do afeto e da compreensão. Alertando para 
as inúmeras situações de violência e abuso ocorridas em contextos familiares, as 
feministas passaram a enfatizar que as pesquisas sobre família deveriam contemplar não 
só a dimensão do afeto e do amor, mas também da violência e do conflito. 
Desde então, muitas pesquisas antropológicas têm enfocado a violência contra a mulher e 
contra as crianças a partir de contextos familiares. Outra questão fundamental levantada a 
partir daí é que a família não é uma dimensão isolada da vida social. Ao contrário, está 
ligada à vida econômica e política mais ampla. Neste sentido, basta lembrarmos que sobre 
as famílias são aplicadas políticas públicas, e elas são importantes espaços de consumo e 
de constituição da força de trabalho. Deste modo, ao se pesquisar “famílias”, é importante 
lembrar que a vida doméstica está intrinsecamente ligada ao Estado e à dimensão 
econômica, além de prestar também atenção às dimensões de gênero, raça e geração que 
as configuram. 
Nos anos 1980, a antropologia do parentesco também passou por renovações e deixou de 
se focar apenas nos aspectos formais do parentesco, como as classificações 
genealógicas, as regras de casamento e de transmissão de direitos. Em vez disso, a 
atenção das novas pesquisas passou a se dirigir para a experiência cotidiana de 
parentesco em diferentes sociedades. 
A partir desta renovação teórica deste campo de estudos, muitos antropólogos propuseram 
uma noção de parentesco menos associada à suposição dos laços biológicos ou à 
formalidade das classificações genealógicas e mais ligada às práticas cotidianas e aos 
aspectos emocionais do parentesco. A antropóloga Janet Carsten (2004) sugere, por 
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exemplo, o termo relacionalidade para se pensar o parentesco. Na mesma direção, o 
antropólogo Marshalll Sahlins (2012) tem proposto pensar o parentesco como “mutualidade 
do ser”, buscando enfatizar que o parentesco tem a ver com pessoas que são intrínsecas à 
existência umas das outras. Essa mutualidade está também relacionada ao fato de que em 
qualquer sociedade aqueles que contam como parentes estão mutuamente envolvidos. E 
não apenas em termos de atividades e comportamentos, mas de um modo ainda mais 
profundo e, por vezes, até anterior ao próprio nascimento da pessoa. 
Pense como um exemplo nesta direção o modo como um bebê ganha existência muito 
antes de seu nascimento. A ele é atribuído um nome, um conjunto de relações sociais – 
padrinhos, tios, avós –, sendo inserido até mesmo em um universo de consumo particular 
– um quarto pode ser providenciado ou redecorado, roupas são adquiridas; muitas vezes, 
uma família troca inclusive de carro ou se muda de casa ao planejar um bebê. A inserção 
do bebê em um mundo social e em um universo de parentesco pode ser feita, deste modo, 
não só antes de seu nascimento, mas até mesmo anteceder à sua concepção. 
Sob certos aspectos, o parentesco pode ser visto como algo determinado pelo nascimento, 
sendo, neste sentido, imutável; sob outros, contudo, o parentesco pode ser visto como 
moldado pelas atividades cotidianas da vida familiar e pelas relações afetivas. Neste 
sentido, muitos antropólogos têm pensado o parentesco enquanto relacionalidade, ou seja, 
em vez de se tomar o conteúdo do parentesco como dado natural, esses estudos buscam 
questionar como as relações são construídas a partir da experiência vivida do parentesco 
em contextos específicos. 
Desta perspectiva, a família corresponde a uma rede de “parentes entre si”, que não 
necessariamente tem a ver com um modelo específico de família. A ideia de parentesco 
nem sempre tem a ver com consanguinidade ou afinidade, mas, muitas vezes, com 
proximidadee identificação. Deste modo, ao se pesquisar o tema, uma das formas de se 
livrar de noções preconcebidas sobre parentesco é deixar que os próprios sujeitos 
pesquisados digam quem são seus parentes. No Brasil, por exemplo, os laços de 
compadrio ampliam as noções de parentesco. Não é incomum que o fato de uma pessoa 
apadrinhar o filho de alguém faça com que ela seja considerada, a partir deste ato, parte 
daquela família. 
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A antropóloga Marilyn Strathern (1999), que tem pesquisado tanto sociedades tradicionais 
da Melanésia quanto as novas tecnologias reprodutivas, conta um caso que nos ajuda a 
pensar também sobre a possibilidade de comparação cultural do parentesco. Certa vez, 
em uma conversa com um de seus informantes melanésios, ela lhe contou que, em nossa 
sociedade, as mulheres podem engravidar a partir da fertilização in vitro feita com a 
doação de gameta de um homem com quem elas não tiveram relações sexuais. O nativo 
da Melanésia, segundo ela, teria ficado muito surpreso, pois em sua sociedade uma 
mulher jamais poderia “fazer” um filho sozinha. Para se “fazer” um bebê, segundo ele, seria 
necessária a contribuição sexual contínua do pai da criança ao longo de toda a gravidez. 
Da perspectiva deste grupo social, então, os bebês não são formados pela simples 
fecundação do óvulo, mas pelo ato sexual que, ao longo da gravidez, nutre e forma o feto. 
Apesar de este tipo de raciocínio nos parecer tão distante, é possível pensar em paralelos 
em nossa própria sociedade. A antropóloga conta, então, outra história sobre uma mulher 
inglesa debatendo acerca da possibilidade científica de que os bebês sejam “feitos” em um 
útero artificial. Ao falar sobre o tema, a preocupação da mulher inglesa era de que, em um 
útero artificial, a mãe não poderia transmitir seus sentimentos ao bebê, de modo que o 
desenvolvimento do bebê poderia ser comprometido por essa artificialidade. Se pensarmos 
bem, essa não é uma visão incomum em nossa sociedade: de que os sentimentos e o 
amor da mãe também são responsáveis pela formação do feto em seu útero. Deste modo, 
apesar de parecerem tão distantes – o modo como alguns grupos melanésios e nós 
pensamos o processo de procriação –, há também semelhanças: em ambos os casos há 
uma preocupação similar com o modo pelo qual o comportamento dos pais influi no 
desenvolvimento dos filhos. 
Saiba Mais! 
Uma forma descontraída de refletirmos sobre as novas configurações 
familiares é por meio do cinema. No filme indicado, esta questão é discutida a 
partir das novas tecnologias reprodutivas. 
 
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Filme: Minhas Mães e Meu Pai 
 
MINHAS MÃES e Meu Pai. Direção: Lisa Cholodenko. EUA, 2010. Comédia 
dramática. 104 min. 
Sinopse: Dois irmãos adolescentes, Joni (Mia Wasikowaska) e Laser (Josh 
Hutcherson), são filhos do casal Jules (Julianne Moore) e Nic (Annette 
Bening), concebidos através da inseminação artificial de um doador anônimo. 
Contudo, ao completar a maioridade, Joni encoraja o irmão a embarcar numa 
aventura para encontrar o pai biológico sem que as mães saibam. Quando 
Paul (Mark Ruffalo) aparece tudo muda, já que logo ela passa a fazer parte do 
cotidiano da família. 
(Fonte: Adoro Cinema. Disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-148352/. Acesso em: 27 
out. 2014) 
 
Embora, em geral, fiquemos surpresos com as diferenças em relação a outras sociedades, 
damos pouca atenção à diversidade que há em nosso próprio grupo social. Deste modo, é 
importante estarmos atentos à diversidade de configurações familiares em contextos que 
nos são próximos, sem prejulgar diferentes modelos de família. Algumas rotulações, que 
são muito usadas no senso comum, por exemplo, “família desestruturada”, são permeadas 
de etnocentrismo, uma vez que supõem que exista um modelo de família melhor do que 
outros. Este tipo de postura pouco contribui para se analisar e compreender a variabilidade 
e as particularidades das formas de família possíveis. 
Assim, é fundamental que tanto antropólogos quanto outros profissionais que trabalhem 
com intervenção em contextos familiares (como educadores e assistentes sociais) 
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desconstruam estereótipos preconcebidos e reflitam sobre as configurações familiares 
dentro de contextos sociais, econômicos e históricos precisos. 
Saiba Mais! 
A diversidade de configurações familiares sempre existiu em nossa própria 
sociedade. O filme indicado retrata a constituição de uma família pouco usual 
após a Segunda Guerra Mundial. 
 
 
Filme: A Excêntrica Família de Antonia. 
 
A EXCÊNTRICA Família de Antonia. Direção: Marleen Gorris. Holanda, 
Inglaterra, Bélgica, 1996. Comédia dramática. 105 min. 
Sinopse: Em uma pequena vila holandesa, uma matriarca relembra 
momentos marcantes de sua vida e os curiosos personagens com quem 
conviveu. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a independente Antonia 
(Willeke van Ammelrooy) voltou à cidade natal acompanhada da filha. Assim 
teve início uma saga familiar que atravessou gerações. 
(Fonte: Adoro Cinema. Disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-29758/. Acesso em: 27 
out. 2014) 
 
Os temas do parentesco e da família são muito amplos e interessantes, uma vez que 
dizem respeito não apenas a conceitos teóricos ou elaborações abstratas, mas estão muito 
próximos de nossas vivências individuais. Também no campo profissional, estas questões 
estão, com frequência, presentes. De modo mais direto em algumas profissões, como no 
Serviço Social, na Educação e no Direito de Família, mas também de forma indireta na 
Publicidade e Economia (já que a família é um importante espaço de consumo) e em 
muitas outras profissões. 
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A partir dos debates antropológicos sobre parentesco e família, que vimos neste tema, 
reflita, em seu próprio campo de trabalho, como esses temas estão presentes e em que 
medida as reflexões antropológicas podem contribuir para sua atuação profissional. 
 
 
Afinidade: no contexto dos estudos de parentesco, o termo afinidade refere-se às relações 
adquiridas por meio do casamento, tais como sogros ou cunhados. 
Consanguinidade: refere-se às relações de parentesco fundamentadas na ancestralidade 
comum; na ideia de laço de sangue; ou genética. Por exemplo: pais e filhos; avós e netos; 
primos. 
Descendência cognática: refere-se a sociedades que atribuem igual importância à 
linhagem materna e paterna. 
Descendência matrilinear: refere-se a sociedades que traçam as relações de direitos e 
deveres a partir da linhagem materna. 
Descendência patrilinear: refere-se a sociedades que traçam as relações de direitos e 
deveres a partir da linhagem paterna. 
Feminismo: movimento social e político que tem por objetivo mais geral igualar os direitos 
das mulheres aos direitos dos homens. Historicamente, o feminismo teve diferentes 
demandas específicas, tais como o direito ao voto feminino, o direito à propriedade, os 
direitosreprodutivos, a proteção das mulheres contra a violência doméstica e os direitos 
trabalhistas. O feminismo teve forte influência na teoria social, especialmente com a 
constituição do campo de estudos de gênero. 
Incesto: refere-se à relação sexual entre parentes que são interditos para o casamento de 
acordo com as regras culturais e/ou legais. 
 
 
 
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Instruções 
Agora chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará algumas 
questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-
se para o que está sendo pedido. 
 
Questão 1 
(ESAF 2004) No tocante às principais teorias do parentesco elaboradas na antropologia, 
assinale a opção correta: 
a) A chamada teoria da aliança foi desenvolvida por Murdock, antropólogo americano 
que a expôs no Livro Social Structure. 
b) Na teoria da aliança dá-se grande ênfase analítica às linhagens corporadas, pois são 
elas que formam as peças fundamentais desse modelo teórico. 
c) A chamada teoria da descendência está associada à obra do antropólogo francês 
Claude Lévi-Strauss. 
d) A teoria da descendência dá especial destaque aos elementos psicológicos, oriundos 
da análise freudiana, que operam na constituição do parentesco. 
e) A teoria do parentesco desenvolvida pela escola britânica de Antropologia enfatiza os 
aspectos jurídico-políticos do fenômeno, dando grande atenção aos grupos unilineares 
de parentesco, enquanto a abordagem estruturalista dá atenção aos modelos de trocas 
matrimoniais. 
Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito. 
 
Questão 2 
(ISAE 2012) Entre os critérios de identificação no sistema de parentesco, um se refere 
especificamente à diferença entre os parentes consanguíneos e os ligados pelo 
matrimônio, que amplia a rede de parentesco. 
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Assinale a alternativa que apresenta a correta associação entre este critério e seu 
exemplo: 
a) Sexo / irmão, irmã. 
b) Geração / pai, filho. 
c) Polaridade / solteiro, casado. 
d) Afinidade / mãe, mãe do marido. 
e) Colateralidade / irmãos e primos. 
Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito. 
 
Questão 3 
(COPEL, 2010) Sabe-se que no Brasil os índios Jê acreditam que são necessárias várias 
relações sexuais para se constituir uma criança que irá nascer. Na cultura dos Tupi, tal 
criança provém exclusivamente do homem, porque, mesmo antes do ato sexual, já havia 
uma “semente” com a criança em formação no ventre desse homem, que será 
transportada pela mulher. 
Essas explicações expressam: 
I. Um sistema lógico para explicar fenômenos por meio de outras classificações culturais. 
II. Que as classificações e os conhecimentos vêm do modo cultural de um grupo. 
III. Uma irracionalidade no pensamento indígena. 
IV. A insuficiência lógica do índio para conhecer fenômenos naturais. 
 
a) Apenas as assertivas I, II e III estão corretas. 
b) Apenas a assertiva I está correta. 
c) Todas as assertivas estão corretas. 
 
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d) Apenas a assertiva II está correta. 
e) Apenas as assertivas I e II estão corretas. 
Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito. 
 
Questão 4 
Entre as décadas de 1960 e 1970, o campo de estudos de parentesco foi submetido a uma 
série de reavaliações críticas que apontavam o etnocentrismo das pesquisas 
antropológicas. Exemplifique essa crítica a partir da análise de Edmund Leach. 
Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito. 
 
Questão 5 
Explique a diferença entre sociedades de descendência patrilinear, matrilinear e cognática. 
Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito. 
 
 
 
O parentesco é um dos temas primordiais na história da antropologia e, ao longo do tempo, 
passou por uma série de controvérsias teóricas. As propostas mais atuais têm buscado 
abandonar a distinção clássica entre social e biológico, apontando o entrelaçamento entre 
esses dois aspectos e o modo como as práticas cotidianas configuram diferentes formas 
de parentesco. A questão atual não é mais desvendar se outros povos têm família e 
parentesco, de acordo com nossas próprias concepções, mas que tipos de 
relacionalidades eles têm e também como, em nossa própria sociedade, as relações 
sociais podem ser organizadas a partir de múltiplas formas de parentesco e família. 
 
 
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 resumida ou modificada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma. 15 
 
CARSTEN, Janet. After Kinship. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. 
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia. São Paulo: Contexto, 2010. 
LEACH, Edmund. Nascimento Virgem. In: MATTA, Roberto da (Org.) Edmund Leach. São 
Paulo: Editora Ática, 1983. 
LEVI-STRAUSS, Claude. A família. In: SPIRO, M. et al. A família: origem e evolução. Porto 
Alegre: Editorial Villa Martha, 1980. 
SAHLINS, Marshall. What Kinship Is—And Is Not. Chicago: University of Chicago Press, 
2012. 
STRATHERN, Marilyn. Property, substance and effect. Anthropological essays on persons 
and things. London: the Athlone Press, 1999. 
 
 
 
Questão 1 
Resposta: Alternativa “E”. 
Apenas a alternativa E descreve corretamente as duas principais teorias antropológicas de 
parentesco: a britânica e a abordagem estruturalista. 
 
Questão 2 
Resposta: Alternativa “D”. 
A alternativa D descreve o critério que diferencia parentes consanguíneos e os ligados pelo 
matrimônio. Este critério é a afinidade e pode ser exemplificado pela diferença entre mãe e 
mãe do marido. 
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Questão 3 
Resposta: Alternativa “E”. 
Apenas as duas primeiras afirmativas estão corretas, as outras expressam visões 
etnocêntricas sobre o modo como os índios pensam a reprodução. 
 
Questão 4 
Edmund Leach faz uma crítica ao etnocentrismo antropológico a partir da análise da 
crença de outros povos na ideia de “nascimento virgem”. Leach argumenta que essa 
crença referia-se a um dogma de outros povos, que nada tinha a ver com ignorância deles 
sobre a paternidade fisiológica. Para reforçar seu argumento, o antropólogo compara com 
a crença dos cristãos, em nossa sociedade, que afirmam que Jesus é filho de Deus e da 
Virgem Maria. Essa crença cristã não é, contudo, tomada como sinal da ignorância sobre a 
paternidade biológica. Do mesmo, a crença de outros povos apenas pode ser vista como 
sinal de ignorância se os antropólogos partirem de uma perspectiva etnocêntrica para 
analisar outras sociedades. 
 
Questão 5 
As sociedades de descendência patrilinear traçam as relações de descendência e os 
direitos e deveres decorrentes, a partir da linhagem paterna; as de descendência 
matrilinear, a partir da linhagem materna; e as cognáticas, a partir de ambos os lados,materno e paterno.

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