Buscar

CapituloII A teoria de Kurt Lewin

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CAPílULO li 
A TEORIA DE KURT LEWIN 
Embora nosso interesse sobre o trabalho de Kurt Lewin esteja centrali­
zado em suas contribuições relativas à temática da dinâmica de grupo, este 
capítulo não se limita a tal campo de investigação. Não é possível reduzir 
Kurt Lewin ao "psicólogo que criou a dinâmica de grupo", visto que talvez 
a maior parte de sua obra o apresente como PRODUTOR DE TEORIA e 
de METODOLOGIA, cuja atualidade pode ser percebida num confronto 
com as demais tendências estruturalistas presentes nas Ciências Contempo­
râneas. Além disso, a abordagem lewiniana à Psicologia Social requer, para 
seu esclarecimento, uma referência à postura epistemológica e metodológi­
ca que a orienta. Neste sentido, o início do capítulo está dedicado às 
principais considerações epistemológicas de Lewin, visando à constituição 
da Psicologia como ciência. Em seguida, apresentamos os principais concei­
tos produzidos sob esta orientação para, finalmente, dedicarmo-nos à 
teorização e à metodologia relativas ao estudo de grupos. No que se refere 
à exposição da Epistemologia e da Psicologia lewinianas, a maior parte do 
que se segue foi tomada do excelente trabalho sobre Kurt Lewin, de 
autoria do Prof. Luiz Alfredo Garcia Roza - Psicologia Estrutural em Kurt 
Lewin, Petrópolis, Vozes. As análises críticas, no entanto, são de nossa 
inteira responsabilidade. 
A TEORIA DE CAMPO DE KURT LEWIN 
Em seu artigo "O Conflito entre os Modos de Pensar Aristotélico e 
Galileano na Psicologia Contemporânea" (1 ), Kurt Lewin aponta, como 
passo indispensável à superação de uma etapa pré-científica em Psicologia, 
a substituição de seus conceitos de classe por conceitos de campo. Os pri­
meiros, inspirados na tradição aristotélica, seriam identificados por seu ca­
ráter valorativo e dicotômico, pelas classificações abstratas e pela vincula­
ção da legalidade cientlfica à freqüência. Os últimos, de i11spiração galilea­
na, teriam como características o fato de serem unificadores, condicionais e 
genéticos (funcionais), desvinculando a legalidade científica da freqüência 
e, conseqüentemente, afirmando a validade geral das· leis psicológicas. 
24 
Embora reconhecendo um movimento de passagem, na Psicologia contem­
porânea, do modo de pensar aristotélico ao galileano - presente, a seu ver, 
na Psicanálise, no Behaviorismo, no Gestaltismo e na Reflexologia -, a 
maior parte da obra de Lewin consiste exatamente num trabalho teórico e 
metodológico que visa a realizar, concretamente, esta superação. Devemos, 
portanto, conceber a teoria de campo não como um domínio particular 
da Psicologia, e sim como um método de analisar relações causais e 
construir teorias científicas, caracterizado pelos seguintes atributos: 
a) utilização de um método de construções, e não de classificações;
b) interesse pelos aspectos dinâmicos dos acontecimentos;
c) perspectiva psicológica e não física;
d) análise iniciada pela situação como um todo;
e) distinção entre problemas sistemáticos e históricos,·
f) representação matemática do campo.
Quanto à necessidade de construção teórica, Lewin se opõe resoluta­
mente a qualquer empirismo de acumulação de dados (empirismo sistemá­
tico), mas ressalta que a valorização das propriedades conceituais correla­
cionadas a conceitos matemáticos não deve conduzir à especulação e ao 
formalismo vazio: as construções devem ser relacionadas aos fatos observá· 
veis por meio de definições operacionais, permitindo a verificação experi­
mental das hipóteses (empirismo metodológico). Segundo Lewin, uma 
situação psicológica poderia ser representada por dois grupos de conceitos 
que, associados, fornecem a estrutura de sua psicologia: 
a) conceitos matemáticos;
b) conceitos de conteúdo psicológico.
Os primeiros só podem ser aplicados em Psicologia caso coordenados a
conteúdos psicológicos, que devem, por sua vez, ser definidos por procedi­
mentos observáveis. 
Do ponto de vista matemático, é possível dividir os problemas psicoló­
gicos em dois grupos: 
a) problemas topológicos, relativos à estrutura e dimensão do campo
psicológico;
b) problemas vetoriais, relativos às tensões e aos campos induzidos.
Os primeiros seriam passíveis de uma descrição fenomenológica, com 
auxílio de conceitos matemáticos fornecidos pela Topologia. A Topologia 
pode ser definida como um ramo não-quantitativo da Matemática, que 
trata das relações espaciais que podem ser estabelecidas em termos de parte 
e todo. Ou melhor, que investiga as propriedades das figuras geométricas 
que se mantêm, mesmo quando todas as suas propriedades métricas foram 
alteradas. Por esta razão, a Topologia costuma ser chamada "Geometria do 
Espaço de Borracha". 
Esta descrição - que especifica quais os eventos possíveis num espaço 
25 
de vida (o espaço de vida é definível como espaço composto pelas regiões· 
da pessoa e do meio, enquanto determinantes do comportamento) - deve 
ser seguida da elaboração de constructos de caráter dinâmico, capazes de 
dar conta de qual o evento que ocorre dentre as diversas possibilidades. Es­
tas propriedades dinâmicas estariam ligadas às causas do comportamento, 
não mais designando, portanto, eventos diretamente observáveis. Para expli­
citar a diferença entre os conceitos geométricos (topológicos) e os dinâmi­
cos, Lewin costuma referir-se aos primeiros como "constructos de primeira 
ordem" (descritivos), sobre os quais se fundamentariam os últimos, os 
"constuctos de segunda ordem" (explicativos). Estes remetem, por sua vez, 
não à Topologia e sim à Hodologia, o que possibilita definir forças 
dirigidas. 
Ao longo dessa exposição resumida sobre os princípios de teorização 
segundo a teoria de campo, é possível apreciar a ênfase posta por Lewin 
sobre a necessidade de substituir, em Psicologia, os conceitos de classe (que 
remetem a essências que determinariam, a priori, a direção e a qualidade 
dos vetores) por conceitos de campo ou de série (construtivos, relaciona­
dos a leis). No caso dos conceitos de campo, cada vetor depende da 
inter-relação de vários fatores, que incluem o objeto - em nosso caso o 
indivíduo - e seu ambiente. Quanto a este aspecto, é útil recordar a 
influência exercida sobre Lewin pelos gestaltistas da Escola de Berlim 
(notadamente Wertheimer e Kohler), com sua insistência em considerar a 
situação como totalidade, como realidade estruturada, abordagem inspira­
da não só pela Fenomenologia como também pela ressonância em Psicolo­
gia da Física dos Campos da segunda metade do século XIX (trabalhos de 
Faraday e Maxwell). Frise-se, no entanto, que Lewin amplia esta considera­
ção estrutural de nível ontológico, característica dos gestaltistas (a própria 
realidade aparecendo como estruturada, gestáltica, onde as partes são defi­
nidas por reciprocidade) para uma consideração de tipo epistemológico, já 
que a Topologia e a Hodologia são formalismos que implicam "sistemas de 
· correlações". Lewin tenta evitar, portanto, o perigo de substituir problemas
. dinâmicos por uma descrição fenomenológica pura e simples: a descrição
fenomenológica é pré-teorética, estabelecendo apenas condições, ao supe­
rar preconceitos de origem metafísica, para a verdadeira explicação teórica. 
Ao definir campo psicológico, Lewin não se limita à noção descritiva de 
"Gestalt", pois apela para a conceituação de um campo de forças que 
compreende a totalidade dos fatos coexistentes e mutuamente interdepen­
dentes. O campo psicológico consiste no espaço de vida considerado 
dinamicamente. Compreende tanto a pessoa como o meio, sem se esgotar 
na percepção que o indivíduo tem dele, pois envolve também variáveis 
não-psicológicas (biológicas, sociais e físicas), que incidem na zona de 
fronteira. 
26 
Ao apresentar os principais atributos da teoria de campo, não se pode 
omitir a importância de que se reveste, para K. Lewin, a distinção entre 
causalidade histórica e causalidade sistemática, em suas vinculações com o 
princípio de contemporaneidade do campo. A teoria de campo rejeita não 
apenas a explicaçãoteleológica, como a explicação pelo passado: os fatos 
passados, não existindo atualmente, não podem ter influências presentes, a 
não ser de forma indireta. Isto implica distinguir as noções de "origem" e 
de "causa". Não há dúvida de que o campo passado é uma das origens do 
campo presente - o que justifica a validade das pesquisas históricas. No 
entanto, a causa só pode ser encontrada na dinâmica presente, a qual dá 
conta da razão pela qual, numa determinada situação, ocorre um evento 
determinado. O princípio da contemporaneidade - "qualquer mudança no 
campo psicológico depende somente do campo naquele momento" (2) -
não expressa, segundo Lewin, uma posição a-histórica. O principal argu­
mento neste sentido lança mão da "espessura temporal do campo", pois o 
"campo num determinado momento" refere-se a um momento real, con­
creto, com certa duração, e não ao momento abstrato, sem extensão 
temporal. Inclui também o passado, enquanto percebido pelo indivíduo, 
assim como o futuro, em suas expectativas, desejos e temores. É numa 
perspectiva psicológica, e não física, que convém considerar o princípio de 
contemporaneidade de Lewin. 
ANALISE CRITICA DA EPISTEMOLOGIA LEWINIANA 
Embora a "passagem do modo de pensar aristotélico ao galileano" em 
Psicologia não signifique qualquer redução do psicológico ao físico, pode­
mos, ainda assim, perceber em Lewin uma atitude reducionista, localizável 
no plano epistemológico. O paradigma da Física - . formalização abstra­
ta + definições coordenadoras - é visto como modelo ideal, desconsi­
derando que a produção de conhecimentos radicalmente novos, o começo 
de uma ciência em uma região determinada do saber, implica, como no 
caso da Física, a produção de novos modelos. Neste sentido, apesar de 
reconhecer a validade do projeto lewiniano de fornecer à Psicologia, 
através da Teoria de Campo, os fundamentos para que ela fosse capaz de 
"se pensar'', não podemos deixar de assinalar que estes fundamentos são 
de inspiração neopositivista e desconhecem a especificidade das diversas 
práticas científicas. A influência da Fenomenologia não entra em contradi­
ção com esta postura, pois Lewin "acopla" uma abordagem descritiva, 
pré-teorética, a um plano teórico, explicativo, satisfazendo simultanea­
mente as exigências de ambas as fontes de influência. A descrição dos 
fenômenos não aparece, assim, como obstáculo à teorização, mas como um 
dos planos para a superação de preconceitos de origem metafísica. Por um 
lado, "descrever pré-teoreticamente" - encontrando, assim, uma realidade 
27 
estruturada, um campo onde os elementos só se definem por reciprocida­
de; por outro, encontrar um formalismo capaz de representar esta descri­
ção com um mínimo de ambigüidade - papel desempenhado pela Topolo­
gia. Entretanto, se há· transformações, se há movimento e mudança, é 
necessário postular "forças", e saímos já do campo do observável. Inter­
vêm aqui também constructos dinâmicos e o formalismo da Hodologia, 
que estão fundamentados sobre os constructos descritivos formalizados via 
Topologia. Esta estrutura hierárquica de patamares cada vez mais afastados 
do plano do observável, mas cujo significado a ele remete em última 
instância, faz pensar em certa ambigüidade no que se refere à ênfase 
lewiniana na necessidade de teorização. Esta última aparece menos como 
produção conceituai do que como formalismo, expressão numa linguagem:
o caráter estrutural não é tanto uma construção, e sim uma reflexão, a
nível mais abstrato e matematizado, daquilo que é diretamente dado como
organização, como "Gestalt". Esta ambigüidade se vê reforçada pelo apelo
aos determinantes dinâmicos: se estes não são observáveis, como fundamen­
tá-los sobre os constructos de primeira ordem? Ficariam reduzidos, neste
caso, a meros rótulos que sintetizariam relações. E um último impasse:
nestas determinações, encontramos variáveis não-psicológicas, incidindo na
zona de fronteira. A dificuldade de Lewin para produzir epistemologica­
mente a especificidade de seu objeto fica, aqui, flagrante: se a zona de
fronteira faz parte do campo psicológico, não vemos mais a possibilidade
de um critério fenomenológico como ponto de partida para defini-lo.
Como reconhece o próprio Lewin, este campo não se esgota na percepção
que o indivíduo tem dele, pois os fatores que determinam sua dinâmica
não são diretamente conhecidos. E isto quer para o inve .. tigado, quer para
. o investigador. Neste sentido, acreditamos que a tentativa lewiniana de 
acoplar Fenomenologia e formalização em linhas neopositivistas esbarra 
com impasses insuperáveis dentro da perspectiva continu(sta subjacente a . 
tais formulações. 
Quanto à questão da causalidade, mais uma vez é digna de considera­
ção a tentativa feita por Lewin de refletir sobre uma temática muitas vezes 
abordada sem maior crítica pelos teóricos da Psicologia. A comparação 
com a Psicanálise é, neste ponto, ilustrativa, mas consiste também numa 
possível fonte de incompreensões. Se existem razões, como aponta Lewin, 
para rejeitar uma concepção simplista de causalidade histórica em Freud -
erro no qual recaem muitos daqueles que nele identificam um ponto de 
vista genético ou evolutivo-, não nos parece que a causalidade sistemática 
e a noção de espessura temporal do campo atinjam o verdadeiro significado 
de que a causalidade se reveste em Psicanálise. O conceito de posteriorida­
de (apres-coup) representa uma novidade epistemológica radical neste 
terreno, que não se confunde quer com a concepção histórica, quer com a 
concepção sistemática de temporalidade. 
28 
A PSICOLOGIA TOPOLÓGICA E A DINÂMICA DO CAMPO 
PSICOLÓGICO 
Como já assinalamos, Lewin lança mão da Topologia para representar 
os problemas relativos aos eventos possíveis ou não num espaço de vida. 
Para compreender a maneira como se realiza este objetivo, vale esclarecer 
esta última noção, que nos parece servir de base à Psicologia lewiniana em 
sua vertente descritiva. 
O espaço de vida designa a totalidade dos fatos que determinam o 
comportamento de um indivíduo num determinado momento. Inclui a 
pessoa e seu meio, permitindo formular a relação C = f (P, M), isto é: o 
comportamento (C) é função da pessoa (P) e de seu meio (M). Frise-se que 
o critério fenomenológico utilizado para estabelecer quais são os fatos
determinantes exige a consideração relacional de P e M, ou melhor: pessoa
(P), enquanto pólo de um campo que a inclui, assim como a seu meio (M);
meio (M), seja físico, social ou conceituai, porém considerado psicologica­
mente, ou seja, enquanto percebido pela pessoa e tal como é percebido por
ela. O meio psicologicamente real é o meio fenomênico, seja ele "real",
fictício, irreal ou ideal. O meio consiste naquilo que produz efeitos, num
enfoque semelhante à definição de meio comportamental (Koffka) ou de
experiência imediata (Kóhler), incluindo apenas aquilo que é intencional­
mente aprendido pelo sujeito.
De que maneira a Topologia pode ser usada para figurar a estrutura do 
espaço de vida? Na qualidade de Geometria não-métrica, ela representa as 
relações parte-todo, as conexões e as posições, sem considerar questões de 
tamanho e direção. Seu conceito fundamental - o de região -:- refere-se a 
qualquer segmento do espaço, qualquer que seja seu número de dimensões. 
Outros conceitos básicos - caminho, região conexa, região fechada e aber­
ta, região de conexão simples e múltipla, in�erseção etc. - lançam mão do 
conceito de região mediante especificações. Assim, "caminho = região-li­
nha, ligando dois pontos"; "região fechada= região que inclui seu contor­
no ou pontos-limite" etc. Vinculando estes conceitos matemáticos, median­
te definições coordenadoras, a conceitos de conteúdo psicológico, podemos 
apreciar o sentido da Psicologia Topológica. 
Com relação ao espaço de vida-, tanto a pessoa (P) como o meio (M) 
são consideradas regiões psicológicas, isto é, partes do espaço de vida. 
Ambas podem ser divididas em sub-regiões. Como sub-regiões do meio 
podemos considerar:um grupo social, uma ocupação, a esfera de influência 
· da pessoa, a família etc. A pessoa pode ser dividida em duas sub-regiões
básicas: a intrapessoal e a perceptomotora. Esta última ocupa uma posição
de zona de fronteira entre a região intr:apessoal e o meio. Deste modo, a
região intrapessoal só afeta o meio ou é por ele afetada através da região
intermediária correspondente à motricidade e ã percepção.
29 
1 nicialmente, o espaço de vida foi considerado bidimensional por 
Lewin. No entanto, este considerou necessário, posteriormente, o acrésci­
mo de uma terceira dimensão, a fim de abarcar o nível de irrealidade -
devaneios, sonhos, fantasias - no qual as barreiras são mais fluidas e a 
locomoção psicológica se dá com maior facilidade. 
Partindo do espaço de vida considerado topologicamente, é possível 
acompanhar Lewin através dos conceitos de locomoção psicológica (mu­
dança de posição ou estrutura, tornando-se a região em mudança uma 
parte de outra região), espaço de movimento livre (totalidade das regiões 
ãs quais a pessoa tem acesso a partir de sua posição atual), fronteiras, zonas 
de qualidade indeterminada, regiões superpostas, pontos inacessíveis, dife­
renciação, integração e reestruturação de regiões, topologia da pessoa e do 
meio etc. Ternos, deste modo, um esboço resumido de sua Psicologia 
Topológica. 
No entanto, como afirma Lewin, ela não é suficiente para a constitui­
ção de uma Psicologia. A representação geral assim fornecida é incapaz de 
dar conta de problemas dinâmicos, que exigem a inclusão do conceito de 
"forças psicológicas". As forças consideradas serão de natureza vetorial, 
pois o comportamento é causado por forças dirigidas, dotadas de certa 
intensidade. Levando em consideração os constructos dinâmicos, pode-se 
entender o significado da exigência de considerar o espaço hodológico. 
Tal espaço é composto de regiões nas quais a direção e a distância são 
definidas por caminhos passíveis de serem coordenados à locomoção 
psicológica. Este novo capítulo da Psicologia terá por base o conceito de 
força psicológica. Sempre que houver um comportamento, este será resul­
tante de um campo de forças, podendo-se distinguir, por exemplo, forças 
impulsoras e forças frenadoras - as primeiras provocando a locomoção e as 
últimas como obstáculos ã mesma (barreiras). Ou mesmo considerar a 
possibilidade de forças pessoais, induzidas e impessoais, consistindo, respec­
tivamente, em necessidades pessoais, desejos de outrem e forças correspon­
dentes ao contexto social. A direção e a intensidade de tais forças -
propriedades que permitem que sejam matematicamente representadas por 
vetores - dependem da valência das regiões do campo psicológico. Esta 
valência será positiva ou negativa, conforme exerça atração ou repulsão 
sobre o indivíduo. Além da valência, deve-se considerar a distância entre a 
pessoa e a valência para estimar a intensidade da força. A consideração das 
propriedades de direção e intensidade está na base da teorização lewiniana 
sobre o conflito psicológico (oposição de forças de igual intensidade), seja 
ele de aproximação-aproximação (duas valências positivas), aproximação­
afastamento (uma valência positiva e uma negativa) e afastamento-afasta-
mento (duas valências negativas). 
Com apoio na Psicologia Topológica e na Psicologia Vetorial podemos, 
30 
finalmente, definir campo psicológico. Consiste ele no espaço de vida 
considerado dinamicamente, isto é, como campo de forças, compreenden­
do a totalidade dos fatos coexistentes e mutuamente interdependentes. O 
campo psicológico compreende: a) o espaço de vida: todas as variáveis 
psicológicas, com duas regiões distintas - pessoa e meio; b) a zona de 
fronteira: zona de incidência das variáveis não-psicológicas (biológicas, 
sociais, físicas). Esta noção de campo permite explicar o comportamento 
mediante a idéia de um "sistema de tensão". Lewin supõe um estado de 
equilíbrio entre a pessoa e o meio que, quando rompido, faz surgir uma 
locomoção no sentido de restabelecê-lo. Deve-se ressaltar que o equilíbrio 
não implica em ausência de tensão, e sim num nível ótimo da mesma que, 
quando alterado (para mais ou para menos), faz surgir a tentativa de 
restabelecimento. 
CONSIDERAÇÕES CRITICAS 
Nossas considerações se dividem em dois grupos. Em primeiro lugar, 
deve-se ter em mente que este resumo s1mplificado das principais idéias da 
Psicologia lewiniana não faz justiça à complexidade conceituai de suas 
exposições originais. Dispersas por um imenso número de artigos e sistema­
tizadas apenas em dois livros - Principies of Topological Psychology para 
os problemas topológicos e The conceptual Representation and the Mensu­
rement of Psychological Forces para os vetoriais -, representam um 
desafio e um esforço considerável de penetração em ramos raramente 
familiares para o psicólogo: as novas Geometrias não-métricas, a Física dos 
campos, as diversas concepções físicas do equilíbrio etc. Nossas primeiras 
considerações versam sobre tal complexidade e suas conseqüências sobre a 
instrumentação concreta da teorização lewiniana. Apesar de sua intensa 
divulgação e da referência quase invariável ao nome de Lewin entre os que 
trabalham com técnicas grupais, é possível observar, paralelamente, a 
supersimplificaçâ'o de que se revestem. Supersimplificação da qual, de 
resto, também não nos eximimos totalmente. Em termos de nossa experi­
ência universitária no Brasil, pode-se perceber um distanciamento do 
alunado destes meandros teóricos, supostamente complexos demais por 
sua formalização e matematizaçâ'o. Os estudantes parecem guardar por 
Lewin apenas o respeito (citações, referências) e algumas idéias que 
primam pela falta de aprofundamento (fala-se em "campo", em "aqui e 
agora", em "tensão", em "coesão"). No plano profissional, a situação não 
é muito diferente. Os "práticos" da dinâmica de grupo são lewinianos "de 
verniz", mas raramente lewinianos por aprofundamento conceituai. 
Raramente leram Lewin, ou o leram pouco, e quase nunca chegaram a seu 
livro sobre Psicologia Vetorial - complexo, altamente formalizado, exigin­
do profundos conhecimentos de F ísi�a e Matemática. Estes conhecimentos, 
31 
presentes em Lewin - com formação em Física -, quase nunca são 
disponíveis para um profissional de Psicologia, ao menos em nosso méio. 
O segundo grupo de considerações versa sobre alguns tópicos da 
teorização lewiniana que consideramos problemáticos. Destacamos, para 
comentário, as noções de espaço de vida e de ecologia psicológica (variáveis 
não-psicológicas que incidem na zona de fronteira). 
Quanto à primeira, vale fazer as seguintes observações. A noção de 
espaço de vida, definida por critérios fenomenológicos ("totalidade dos 
fatos que determinam o comportamento do indivíduo num determinado 
momento"), levanta uma série de dificu Idades teóricas. Assim, vejamos: a) 
real = o que produz efeitos; b) no entanto, os fatos (o que produz 
efeitos) são identificados com o fenômeno (o físico, o conceituai e o social 
"enquanto percebidos pela pessoa e tal como são vistos por ela"); c) o que 
não é percebido atua na zona de fronteira: não é psicológico, remete a uma 
ecologia psicológica; d) assim, o que não é percebido = não-psicológico; 
· o que não é conscientemente conhecido não é psicológico; as determina­
ções sociais não fazem parte da psicologia sequer para circunscrever a
produção do que se denomina pessoa e meio; e) esta pessoa e este meio da
Psicologia são "inocentes", sem determinações além das que definem a
priori sua inter-relação e integração mútua numa totalidade. Parece-nos
que, se este ponto de partida fenomenológico um tanto ingênuo já é quase
incompatível com uma teorização relativa à Psicologia Individual ("a
pessoa e seu ambiente"), terá ressonâncias ideológicas ainda mais graves na
tentativa de constituir uma Psicologia Social ("o grupo e seu ambiente").
Estreitamente relacionadas à mesma questão estão as formulações 
sobre ecologia psicológica. Consiste elano estudo das relações entre 
variáveis psicológicas e não-psicológicas (operando na zona de fronteira). 
Lewin afirma que estas relações e a compreensão das mesmas são indispen­
sáveis para alcançar uma integração das Ciências Sociais: o psicólogo deve 
conhecer estes dados não-psicológicos para saber como determinam as 
condições limítrofes da vida do indivíduo (ou do grupo). Gostaríamos de 
assinalar: a) que Lewin recai numa relação de caráter um tanto mecânico, 
linear, entre "o psicológico" e "o restante". A relação se mantém aditiva 
(psicológico e não-psicológico) ou, quando muito, fala-se de maneira vaga 
em "integração"; b) tudo que não é psicológico (ex: ecologia social) é visto 
à maneira de uma "limitação externa", sendo identificado de uma maneira 
bastante empírica ("fatores" deste ou daquele tipo); c) o psicólogo teria de 
conhecer "o resto" para saber as condições limítrofes, mas este "resto" 
não entra em sua teorização. Esta se mantém dentro do que é captável 
corno "fenômeno", como "aparecimento à consciência", consciência esta 
instalada dentro de um campo de intencionalidade e significação imediata­
mente experienciável. 
32 
Podem-se perceber aqui as mesmas ressonâncias ideológicas identifica­
das quando consideramos a noção de espaço de vida: sujeito e mundo são 
definíveis a priori como regiões separadas, mas correlacionadas, num 
modelo de equilíbrio onde o externo é sempre "limite", e nunca "consti- · 
tuinte". Não há preexistências, sujeito e mundo se dão simultaneamente 
como correlativos para o psicólogo, que se vê preso ao campo fechado de 
suas interconexões. 
Em nossa perspectiva, é por limitação teórica e num plano estritamen­
te ideológico que tais relações são assim concebidas. Este discurso ideológi­
co a respeito do social ficará evidenciado com maior clareza na teorização 
lewiniana sobre a dinâmica de grupo. 
O CAMPO SOCIAL E A DINÂMICA DE GRUPO 
Nos últimos anos de vida, Lewin dedicou-se ao desenvolvimento de 
. uma Psicologia Social, havendo fundado, em 1945, o Research Center for 
Group Dynamics, atualmente situado na Universidade de Michigan. Perce­
be ele, nesta área de estudos, a mesma carência conceituai que apontara na 
Psicologia Individual, e seu trabalho pode ser visto como uma transposição, 
para a Psicologia Social, das posições básicas adotadas em relação à 
psicologia do indivíduo. 
Se concebermos o indivíduo e seu ambiente como formando o campo 
psicológico, o campo social será entendido de forma análoga, como uma 
totalidade dinâmica e estruturada em função da posição relativa das 
entidades que o compõem. Estas são, basicamente, o grupo e seu ambiente 
e, em termos mais analíticos, grupos, subgrupos,· membros, barreiras etc., 
assim como a distribuição de forças em todo o campo. 
Com relação ao conceito de grupo social, deve-se observar o novo 
enfoque de que o mesmo é objeto, com base em posições gestaltistas. Para 
Lewin, o grupo consiste numa totalidade dinâmica que não resulta da soma 
de seus integrantes, possuindo propriedades específicas enquanto totalida­
de. Distingue, assim, grupo social - definido pela interdependência de 
suas partes - e classe social - caracterizada pela semelhança entre seus 
membros em termos de sexo, idade, raça, nível sócio-econômico, atitudes 
etc. A partir das idéias de Lewin, o grupo passa a consistir em um objeto 
de estudo específico por parte de diversos pesquisadores, que vão conce­
bê-lo e a seu meio na qualidade de campo social. 
Quanto às investigações do próprio Lewin, podemos destacar os se­
guintes aspectos: a) ênfase no estudo de microgrupos ou grupos face-a-face 
(5 a 7 elementos), justificada pelo insuficiente desenvolvimento do instru­
mental conceituai e metodológico; b) impossibilidade de generalização 
direta para unidades macroscópicas, apesar da abertura de perspectivas 
neste sentido pela via do conceito gestáltico de transponibilidade: o padrão 
33 
de um grupo complexo e extenso poderia ser transposto para um tamanho 
adequado, mantendo-se as características estruturais essenciais; c) estudo 
intensivo das relações entre o grupo e o indivíduo, identificando os 
significados que o primeiro pode ter para o último: terreno de sustentação, 
instrumento, totalidade da qual é parte, e parte do espaço de vida. Há 
destaque para a noção de conflito: o indivíduo pertence a diferentes 
grupos, com diferentes exigências (conceito de situação transvariante); a 
divergência indivíduo-grupo pode atingir certos limites (conceito de espaço 
de movimento livre); d) definição de campo social como espaço social 
(grupo e seu ambiente) considerados dinamicamente, o que implica uma 
distribuição de forças: a mudança social exige uma ação sobre um processo 
em nível de equilíbrio (processo estacionário e equilíbrio quase estacioná­
rio), alterando a constelação de forças; e) definição de hábitos sociais 
como resistências à mudança, em virtude da criação de um campo de 
forças adicional pela constância histórica, o que tende a manter o nível 
atual do sistema. Valores e instituições tornam-se interesses adquiridos, e 
quanto maior o valor social de um padrão de grupo, maior a resistência a 
um afastamento deste n(vel; f) vinculação entre a resistência à mudança 
individual e grupal: modificando-se a intensidade do valor de um padrão de 
grupo, a resistência individual é praticamente eliminada, visto que ela é 
mantida pelos limites admissíveis de desnível indivíduo-grupo. 
Esta temática de intervenção e mudança está ligada à aspiração de 
Lewin, de transformar a Psicologia Social em uma ciência experimental. 
Por seu caráter específico, a pesquisa experimental é aqui denominada 
pesquisa-ação (action-research) ou laboratórios sociais (workshops). O pró­
prio método de pesquisa é um método para provocar transformações 
sociais, na tentativa de aplicar o método experimental a situações reais de 
grupo. A pesquisa-ação lida notadamente com dois tipos de problemas, 
considerados indissociáveis: estudo das leis gerais da vida dos grupos e · 
diagnóstico de uma situação específica. Tem início com a organização de 
grupos cujos participantes são, simultaneamente, sujeitos e objetos da 
experiência. O planejamento tem como ponto de partida uma idéia geral 
referente a um objetivo, que de início nem sempre é muito claro, mas que 
serve de guia para elaborar um plano global para atingi-lo. No decorrer do 
processo, as etapas anteriores são reexaminadas em função dos resultados 
obtidos, dando-se ênfase aos aspectos subjetivos, à elaboração da percep­
ção da situação pelos indivíduos em suas inter-relações dinâmicas. Isto 
permite o início de um novo ciclo de planejamento, ação e averiguação dos 
resultados, em que estão envolvidos tanto os pesquisadores quanto os 
participantes. 
Para concluir, deve-se assinalar que, também·com referência à temática 
da motivação, as pesquisas de Lewin se ligaram, em sua última fase, aos 
34 
estudos sobre dinâmica de grupo. A ênfase é posta, então, sobre as forças 
que atuam sobre o indivíduo, embora não correspondam a necessidades 
dele próprio. Constituem forças induzidas por outras pessoas (família, 
grupo profissional), sendo muitas delas impessoais: não refletem o desejo 
de pessoas determinadas, mas correspondem aos valores do grupo e da 
sociedade em geral. Neste último sentido, abre-se uma via para o estudo das 
ideologias de grupo, que, facilmente incorporadas de maneira inconsciente, 
passam a determinar a conduta de seus integrantes. 
ANÁLISE CRITICA 
Quem quer que se dedique ao estudo dos grupos sociais não pode 
deixar de reconhecer que as pesquisas atualmente realizadas neste campo 
têm seus fundamentos nos esforços desenvolvidos por Lewin no sentido de 
integrar as Ciências Sociais e, principalmente, de lhes fornecer um instru­
mental científico produtivo. Do mesmo modo, em meio ao ecletismo das 
fontes teóricas de que lançam mãos os psicoterapeutas de grupo, desponta 
quase que invariavelmente a referência aos conceitos lewinianos.Na verda­
de, se o grupo deve ser tomado como objeto de teorização e de interven­
ção, não há como fazê-lo na ausência de uma concepção que fundamente 
sua especificidade enquanto distinto de um somatório de integrantes. E, 
nesta linha, as idéias de Lewin aparecem como embasamento quase que 
obrigatório. 
No entanto, se a referência fica assim compreensível, nem por isso se 
torna isenta de objeções. Pode-se perceber claramente que, na elaboração 
de sua Psicologia Social, Lewin propõe implicitamente um certo paradigma 
do social que consideramos bastante contestável. Esta contestação serve de 
conclusão a este capítulo, e tem por base os seguintes argumentos: 
a) Ao distinguir grupo social e classe social, define esta última pela seme­
lhança entre seus elementos. A diferenciação se funda, portanto, em 
uma Sociologia empirista-positivista, dando-se ilusoriamente como pres­
suposto que qualquer sociologia aceita tal definição. Para fundar a
especificidade de seu objeto, Lewin omite, portanto, uma série de
desen volvimentos teóricos, nos quais uma concepção estrutural é aplica­
da à própria totalidade social.
b) Ao distinguir macrogrupos e microgrupos, o próprio Lewin recai nas
distinções meramente fenotípicas que tanto critica. A restrição aos
microgrupos é vista em certos momentos como apenas prática (não­
teórica), podendo supostamente desaparecer com o desenvolvimento de
técnicas apropriadas. O discurso faz supor que não há qualidades dife­
rentes nem mediações entre os macro e os microgrupos, mas apenas uma
dificuldade a nível tecnológico. Isto surpreende, pois, em outros mo­
mentos, Lewin aponta a falta de um instrumental conceituai bem
35 
desenvolvido (nova restrição a uma sociologia e uma psicologia empiris­
tas) e a impossibilidade de generalização direta para os macrogrupos a 
partir dos microgrupos (logo, dificuldade teórica). Paradoxalmente, a 
solução por ele encontrada parece repousar na noção gestaltista de 
transponibilidade dos padrões. Volta-se, pois, a desconhecer a especifi­
cidade do objeto teórico, mediante apelo a uma noção tão vaga como a 
de Gestalt. 
c) A teorização sobre o campo . social segue a direção orientada pela
psicologia do indivíduo, sendo a referência sociológica apenas negativa.
Temos, assim: espaço de vida - espaço social; o indivíduo e seu meio
- o grupo e seu meio; equilíbrio do indivíduo - equilíbrio do grupo;
tensão individual - tensão grupal; campo psicológico - campo social;
ecologia psicológica - ecologia social etc. Coerente com sua postura
inicialmente fenomenológica, o social é, para Lewin, primordialmente
um quase-social (social conforme percebido). Não desejamos de Lewin,
é claro, uma Sociologia. Mas é preciso notar que se a Psicologia Social
pode-se instalar na mediação individual-social, não poderá fazê-lo pela
mera ampliação de conceitos psicológicos que, inicialmente, desconhe­
cem a Sociologia. Tal mediação ganharia sentidos bastante distintos ca­
so indivíduo e sociedade não fossem concebidos, como faz Lewin, na 
qualidade de entidades separadas a reunir mediante um campo de 
intencionalidade e significações.
d) Na teorização sobre o campo social, Lewin recai na mesma dificuldade
epistemológica anteriormente assinalada: uma permanente oscilação
entre critérios fenomenológicos e critérios constructivos. É exemplar,
neste caso, o tema da motivação. Não vemos bem o sentido da distinção
entre motivos próprios do indivíduo (conscientes? ) e motivos induzidos
ou impessoais (não conhecidos conscientemente? ), a não ser reafirman­
do a ambigüidade epistemológica do acoplamento de descrições e cons­
truções.
Ao produzir sua Psicologia Social, mais uma vez Lewin hesita entre 
representar uma realidade conforme vivenciada e produzir conceitualmente 
seu objeto. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DO CAPITULO li 
(1) Lewin, K. :-- "EI conflicto entre las perspectivas aristotelicas y galilea­
nas en la psicologia contemporanea", in Lewin, K. - Dinamica de la
Personalidad, Morata, Madrid, 1969, p. 11-52.
(2)Garcia Roza, L. A. - Psicologia Estrutural em Kurt lewin, Vozes,
Petrópolis, 1972, p. 34-39. Neste trabalho pode-se encontrar uma
bibliografia bastante completa da produção conceituai de Kurt Lewin. 
36

Continue navegando