Buscar

O Processo Administrativo e o Princípio Constitucional de Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

10/05/2020 O Processo Administrativo e o Princípio Constitucional de Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos
www.pge.sp.gov.br/teses/Roque Jeronimo.htm 1/12
O Processo Administrativo e o Princípio Constitucional de
Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos
 
 
 
Roque Jerônimo Andrade 
 Procurador do Estado
 
 
 
Sumário: I. Introdução. II. Cláusula do Devido Processo Legal e o Procedimento Administrativo. 
III. O Procedimento Administrativo e as Provas Ilícitas. IV. Conclusão. V. Bibliografia.
 
 
I. Introdução
 
 A efetivação do status civitatis no Brasil, após dez anos da Constituição da República de
l988, deu um passo, enorme, com a edição pioneira da Lei paulista n.º 10.177, de 30/12/98,
secundada pela Lei federal n.º 9.784, de 29/01/99, que regulam, no âmbito da Administração
Pública respectiva, o processo (rectius: procedimento) administrativo.
 
 O procedimento administrativo é absolutamente necessário à produção de atos
administrativos, para que a Administração Pública realize seus cometimentos, documentando
todos os atos e fatos que levam à conduta administrativa.
 
Importa dizer que o procedimento administrativo é um instrumento importante para que os
administrados possam fazer valer seus direitos contra a Administração Pública. Faz parte do
instrumental das garantias outorgadas pela Constituição.
 
 Nas palavras daquele que lançou a idéia há mais de oito anos, Procurador do Estado
Carlos Ari Sundfeld (in Boletim Centro de Estudos da PGESP, 22(6):478-80, nov./dez.-1998):
 
“As leis de Procedimento Administrativo são consideradas instrumentos fundamentais do Estado de Direito e
da Cidadania, na generalidade dos países democráticos. São exemplos de países em que elas existem e são
tidas como importantes: Estados Unidos, Alemanha, Itália, Espanha e os do Mercosul (Argentina e Uruguai).
 
10/05/2020 O Processo Administrativo e o Princípio Constitucional de Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos
www.pge.sp.gov.br/teses/Roque Jeronimo.htm 2/12
A Lei Paulista de Procedimento Administrativo é a primeira do gênero no Brasil. A tradição
autoritária do País ainda não havia permitido a edição de uma lei assim, porque ela sempre
implica a limitação dos poderes das autoridades públicas.”
 
 Adita, ainda, que o objetivo da lei é:
 
a) “limitar os poderes dos administradores públicos (desde os Chefes do Executivo e
seus auxiliares diretos até as autoridade de menor escalão), fixando prazos e
condições para o exercício de todas as suas competências;
 
b) proteger os indivíduos e empresas contra o poder arbitrário das autoridades
administrativas, ao dar-lhes instrumentos legais para que apresentem, à
Administração, suas reivindicações (...), suas denúncias etc., bem como para que se
defendam, apresentem sugestões e críticas, e daí por diante.”
 
Seguem-se, neste passo, para o aperfeiçoamento do serviço público, vias análogas às do
procedimento judicial, através de atos de comunicação procedimental destinados a estabelecer a
bilateralidade no procedimento administrativo, para que, assim, fiquem atendidos os princípios
básicos do due process of law. O administrado toma ciência dos fatos em que a administração
alicerça sua pretensão e o exercício da autotutela. E defende-se, dentro dos limites que a lei traça,
para que, assim, não periclite o seu direito de defesa, petição, participação, etc.
 
 
II. A Cláusula do Devido Processo Legal e o Procedimento Administrativo
 
O procedimento administrativo recebeu novo enfoque na Constituição da República de l988,
onde, pela primeira vez, veio a trazer expressamente a garantia do devido processo legal, tanto
nos processo judiciais (tal como acontecera com as anteriores) quanto nos administrativos,
incluindo-o lado a lado com o judicial (Odete Medauar, A processualidade no direito administrativo,
SP, tese de titular, 1993, p. 73 e segs.).
 
Daí se segue que não podem os outros ramos do poder público exercer, sem contraste, o
seu imperium, aguardando eventual intervenção posterior do Judiciário, para corrigir ou anular os
atos que atinjam ou causem lesão a direito individual. É injusto e antagônico à Constituição que a
atividade administrativa fique com inteira liberdade de atuar, quando, em sua função externa, entre
em contato com os administrados, ainda mais quando lemos no inc. LV, do art. 5º da Magna Carta
que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
 
Originariamente como requisito de validade da jurisdição penal, o devido processo legal
estendeu-se à jurisdição civil e, mais recentemente, também aos procedimentos administrativos,
nestes visando assegurar sobretudo o direito de defesa e a estrita observância do princípio da
10/05/2020 O Processo Administrativo e o Princípio Constitucional de Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos
www.pge.sp.gov.br/teses/Roque Jeronimo.htm 3/12
legalidade (Augusto do Amaral Dergint, Aspecto Material do Devido Processo Legal, in RT
709/249).
 
“O processo administrativo encontra respaldo expresso e direto no inc. LV do art. 5º da CF
de 1988, que impõe o contraditório e a ampla defesa, com seus desdobramentos, em situações de
controvérsia e conflitos de interesse ante a Administração e em situações nas quais se atribuem a
pessoas, condutas ou atividades suscetíveis de sanções (acusados)” (Odete Medauar, A
processualidade no direito administrativo, RT, 1993, p. 159).
Assim, a Administração Pública Brasileira está obrigada, constitucionalmente, a assegurar
aos que, com ela litigam, e àqueles a quem imputar a prática de ilícitos administrativos o devido
processo legal.
 
Os princípios básicos norteadores do processo administrativo são, portanto, os que orientam
os processos judiciais. Os princípios que regem o processo administrativo versando sobre uma
controvérsia, são aqueles que orientam o processo civil, quanto ao processo administrativo
disciplinar, guarda relação com os princípios que fundamentarm o processo penal. A teoria geral
do processo administrativo disciplinar deve ser construída inspirando-se nos princípios
norteadores do processo penal, em face da similitude existente entre estas duas espécies
processuais. Ambos visam à apuração de fato que, se comprovados, resultam na aplicação de
pena.
 
A Constituição pressupõe a existência do processo como garantia da pessoa humana. Ao ver o
processo como garantia constitucional, as Constituições do Séc. XX, com poucas ressalvas,
reconhecem a necessidade de proclamação programática do direito processual e as garantias
respectivas como imprescindível no conjunto dos direitos da pessoa humana.
 
Nesse diapasão, a originária concepção de mero respeito ao procedimento existente (procedural
due process of law), por sua vez, ensejou a conclusão de que não basta o respeito ao
estabelecido na lei processual, se esta não garante ao processo requisitos mínimos para ser
considerado como tal, segundo os parâmetros constitucionais. É dizer: o devido processo legal,
como garantia constitucional, não se vê respeitado com o simples cumprimento de um grupo de
normas rotulado de lei processual ou código de processo, mas sim com a previsão, nesse grupo
de normas, de determinadas garantias que dêem, àquele procedimento positivado, a verdadeira
dimensão que o termo processo tem, se veiculado – como é o caso brasileiro – em uma
Constituição democrática, de um Estado Democrático de Direito (art. 1º, caput, da CF/88).
 
A cláusula do devido processo legal, que é ampla, abrange, dentre outros, os seguintes direitos e
princípios (cf. Pinto Ferreira, Comentários à Constituição Brasileira, 1º vol., pp. 175-176, Ed.
Saraiva):
 
a) direito ao juiznatural;
b) direito à indeclinabilidade da prestação jurisdicional quando solicitada;
c) direito à citação e ao conhecimento do teor da acusação;
10/05/2020 O Processo Administrativo e o Princípio Constitucional de Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos
www.pge.sp.gov.br/teses/Roque Jeronimo.htm 4/12
d) direito a um rápido e público julgamento;
e) direito ao arrolamento de testemunhas e à notificação das mesmas para
comparecimento perante os tribunais;
f) direito ao procedimento contraditório;
g) direito de não ser processado, julgado ou condenado por alegada infração às leis ex
post facto; 
h) direito à plena igualdade entre acusação e defesa;
i) direito contra medidas ilegais de busca e apreensão; 
j) o direito de ser julgado mediante provas e evidência legal e legitimamente obtida;
k) direito à assistência judiciária, inclusive gratuita;
l) direito aos recursos (duplo grau de jurisdição);
m) o direito à decisão com eficácia de coisa julgada;
n) privilégio contra a auto-incriminação.
 
Nesse passo, as leis acima citadas vieram concretizar, na esfera administrativa, a cláusula do
devido processo legal, incluindo, em especial, o direito de não ser acusado, nem julgado e nem
condenado com base em provas ilegalmente obtidas.
 
Dos vários aspectos dignos de análise, trazidos pelos referidos diplomas legislativos, nos
deteremos na problemática das provas ilícitas, procurando trazer algumas modestas linhas,
escoradas no Direito Processual Penal, onde seu estudo se encontra em estágio avançado.
 
No direito pátrio, a Lei Maior proíbe no processo as provas obtidas por meio ilícitos em face do
que diz o art. 5º, inc. LVI, in verbis: “São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos”.
 
A Constituição, ao não admitir provas ilícitas no processo, referiu-se a este de modo amplo,
incluindo-se aí, portanto, o inquérito e os procedimentos administrativos. “A Prova Ilícita contraria
o processo, o inquérito policial, o processo administrativo e a sindicância” (STJ, RHC 6.008/SC,
Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro).
 
 
III. O Procedimento Administrativo e as Provas Ilícitas
 
Ciente de tal assertiva, o legislador infra-constitucional fez constar, na regulamentação do
procedimento administrativo, em especial, no que se refere à fase probatória ou de instrução:
10/05/2020 O Processo Administrativo e o Princípio Constitucional de Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos
www.pge.sp.gov.br/teses/Roque Jeronimo.htm 5/12
 
Art. 22, § 2º da Lei Estadual n.º 10.177, de 30/12/98:
 
“Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fundamentada, as provas propostas pelos
interessados quando sejam ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou protelatórias”.
 
Lei Federal n.º 9.784, de 29/01/99:
 
Art. 30 – “São inadmissíveis no processo administrativo as provas obtidas por meios ilícitos”.
 
Art. 38, § 2º- “Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fundamentada, as provas
propostas pelos interessados quando sejam ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou
protelatórias”.
 
No âmbito estadual bandeirante, é digno de nota, ainda, a edição da Lei n.º 10.294, de 20/04/99
(dispõe sobre a “proteção e defesa do usuário do serviço público do Estado”) instrumentalizando
direitos básicos: informação, qualidade e controle adequado do serviço público. No que se refere
ao procedimento administrativo daí advindo, em seu art. 23, estatuiu que: “Serão assegurados o
contraditório e a ampla defesa, admitindo-se toda e qualquer forma de prova, salvo as obtidas por
meios ilícitos”.
 
São Paulo também publicou a Lei n.º 10.941, de 25/10/01, que dispõe sobre o processo
administrativo tributário decorrente de lançamento de ofício, e estabeleceu em seu artigo 19, no
capítulo das provas, que: “Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos obtidos de
forma lícita, são hábeis para provar a verdade dos fatos controvertidos”.
 
O limite constitucional e legal, no que concerne aos meios de prova, caracteriza-se pela vedação
das provas ilícitas no processo (provas inadmissíveis ou vedadas; cf. também, art. 233 do CPP,
art. 332 do CPC e art. 295 do CPPM).
 
A ilicitude da prova – hoje objeto de expressa repulsa constitucional – representa, pelo
caráter de antijuridicidade que assume, um dos aspectos mais graves da atividade probatória,
para a plena garantia dos direitos individuais.
 
É certo que as provas ilícitas não se revestem de eficácia jurídica e nem podem ser admitidas
como suporte de juízos acusatórios ou de juízos condenatórios.
 
 Indispensável que, no medir os poderes de investigação, a conduta das partes, para ser
justificada, não resulte em romper a balança ou o equilíbrio que deve ser mantido entre estes
10/05/2020 O Processo Administrativo e o Princípio Constitucional de Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos
www.pge.sp.gov.br/teses/Roque Jeronimo.htm 6/12
poderes e os direitos dos indivíduos, pois uns e outros são igualmente essenciais à estrutura
constitucional do regime.
 
Segundo a doutrina, são inadmissíveis as provas incompatíveis com os princípios de respeito ao
direito de defesa e à dignidade humana; os meios cuja utilização se opõe às normas reguladoras
do direito que, com caráter geral, regem a vida social de um povo.
 
A prova é considerada ilícita toda vez que caracterizar violação de normas legais ou de princípios
do ordenamento, de natureza processual ou material, i. e., obtida mediante a infração a preceitos
constitucionais (garantias individuais) e legais.
 
 Consoante entendimento de Nuvolone, citados e enriquecidos pela Profª. Ada Pellegrini
Grinover e adotados pela maioria dos doutrinadores, temos que as provas ilegais ou ilícitas seriam
o gênero do qual as espécies são as provas ilícitas propriamente ditas e as ilegítimas, diante da
obtenção com violação ao ordenamento jurídico de natureza substancial ou instrumental,
respectivamente.
 
 Assim, as ilegítimas afrontam normas do Direito Processual, tanto na produção (v.g.:
provas retiradas do interior de uma casa invadida sem mandado de busca e apreensão), como na
introdução no processo (documento exibido em plenário do Júri sem observância do disposto no
art. 475 do CPP; juntada de documentos na fase do art. 406, § 2º do CPP).
 
As ilícitas propriamente ditas, por seu turno, contrariam normas de Direito material, quanto
ao meio ou quanto à forma de sua obtenção. Colheita, obtenção, formação de prova com
transgressão do direito material: violação da intimidade, da casa, das comunicações latu senso,
do sigilo profissional, fiscal, bancário, etc., desrespeito à integridade física e moral - tortura,
ameaça, coação, indução, captação da vontade -, abuso de poder, infração a dispositivos do CP,
do Cód. de Telecomunicações, da Lei n° 9.296/96, etc.
 
Grande dissídio doutrinário e divergência jurisprudencial havia sobre a utilização ou não da
prova propriamente ilícita no processo, pois a lei processual não comina expressamente sua
nulidade e nem lhe retira a eficácia (exceto art. 232 do CPP que trata das cartas interceptadas),
aplicando apenas a conseqüência do ramo próprio do direito material atingido.
 
No que tange às provas ilegítimas, a sanção para o descumprimento do modelo se
encontra na própria lei processual (sistema das nulidades, pela inobservância de suas normas:
art. 564 e segs. do CPP), como também ocorre com as que sejam concomitantemente ilegítimas e
ilícitas.
 
 O problema residia quando não havia propriamente a violação de normas processuais, mas a
violação de normas de direito material na investigação da prova, face à distinção entre prova
processualmente admissível, mas obtida através de um ato espúrio, de um lado, e de outro, prova
processualmente inadmissível.
10/05/2020 O Processo Administrativo e o Princípio Constitucionalde Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos
www.pge.sp.gov.br/teses/Roque Jeronimo.htm 7/12
 
A Constituição Federal de 1988 veio encerrar a questão, estabelecendo, de forma firme,
clara e absoluta, a subsunção do momento da ilicitude material e o da ilegitimidade processual à
mesma sanção - inadmissibilidade, ineficácia e invalidade da prova ilícita em geral no processo -
suprindo a lacuna do ordenamento infraconstitucional e encerrando a divergência, não objetivando
os constituintes alcançar apenas as provas ilegítimas, cujas limitações já existem na lei
processual.
Portanto, a conseqüência para a prova ilícita e derivada será o seu afastamento,
desentranhamento do processo, sem acarretar a nulidade deste, que prosseguirá com o restante
do conjunto probatório, se houver.
 
No ensejo, cumpre observar que o Direito comparado exibe, especificamente com relação à
utilização da prova ilícita, três grandes orientações:
 
a) Admissibilidade (male captum, bene retentum)
 
Admite a prova com a punição daquele que a tenha produzido, por crime eventualmente
cometido.
 
Funda-se no livre convencimento do juiz, na fé pública do agente estatal que a tenha
produzido e na veracidade intrínseca da prova.
 
Esgota seus efeitos na responsabilidade e na punição dos agentes que atuaram
ilicitamente para obtê-la, sem nenhum reflexo nas evidências obtidas, admitidas no processo.
 
b) Proporcionalidade ou Razoabilidade
 
Discute-se, sob a ótica da proporcionalidade (Doutrina da Beweisverbote, do direito
germânico), a admissão de prova ilícita, entendendo-se em algumas hipóteses (para a
criminalidade grave) prevalecer o direito de prova, sobrepondo-se à vedação constitucional, onde
os direitos individuais poderão ser sacrificados em nome da prevenção e repressão da
criminalidade.
 
Há que se pesquisar a proporcionalidade sob o prisma material dos bens e valores em jogo
(princípios constitucionais contrastantes na infringência à norma pela prova clandestina produzida
e nos valores protegidos por esta), como, p. ex., a vida, a inocência (favorável ao réu), a
intimidade, o sigilo, etc.
 
Sopesam-se a infringência à norma na colheita da prova e os valores que a produção da
prova pode proteger, quando, no caso, outro valor fundamental mereça ser protegido, valor que,
10/05/2020 O Processo Administrativo e o Princípio Constitucional de Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos
www.pge.sp.gov.br/teses/Roque Jeronimo.htm 8/12
por si, se apresente mais relevante do que o bem violado com a obtenção da prova ilícita,
cabendo ao juiz, em cada caso, sopesar se a norma beneficiada com a ilicitude, também
constitucional, de ordem processual ou material, não supera em valor a que estaria sendo violada.
 
A crítica que se faz a essa posição é não haver como afastar o subjetivismo na análise de
ponderação entre os direitos constitucionais uns com os outros.
 
c) Inadmissibilidade
 
Esta é, na atualidade, a posição adotada pela nossa Constituição (Doutrina das
exclusionary rules do Direito Norte-Americano) e é predominante na doutrina e na jurisprudência
pátrias (em especial, no Supremo Tribunal Federal).
 
 Não mais vige, em toda sua inteireza, o princípio da busca da verdade real, de modo que
devem ser impostas algumas restrições à obtenção da prova, a fim de que sejam respeitados os
direitos personalíssimos e os direitos fundamentais, resultando, no fundo, de um interesse
também coletivo em garantir direitos básicos para a perpetuação do Estado de Direito (máxime
porque tal prova fere sobretudo o direito constitucional, tanto que a norma proibitiva encontra-se
no capítulo destinado aos Direitos e Garantias Individuais).
 
 Ensina Heleno Fragoso, em trecho de sua obra Jurisprudência Criminal, ser: “indubitável que
a prova ilícita, entre nós, não se reveste da necessária idoneidade jurídica como meio de
formação do convencimento do julgador, razão pela qual deve ser desprezada, ainda que em
prejuízo da apuração da verdade, no prol do ideal maior de um processo justo, condizente com o
respeito devido a direitos e garantias fundamentais da pessoa humana, valor que se sobreleva,
em muito, ao que é representado pelo interesse que tem a sociedade numa eficaz repressão aos
delitos. É um pequeno preço que se paga por viver-se em estado de direito democrático. A justiça
penal não se realiza a qualquer preço. Existem, na busca da verdade, limitações impostas por
valores mais altos que não podem ser violados” (apud STF, Ação Penal, n.º 307-3-DF, Plenário,
rel. Min. Ilmar Galvão, DJU 13/10/95).
 
 A atividade probatória só pode ser exercida a partir de uma posição eminentemente
ética, removendo incentivos ao desrespeito e como eficiente meio de se evitarem ações ilegais,
como um imperativo da integridade administrativa e de que não se obterá benefícios de
comportamento ilegal, a tranqüilizar a sociedade.
 
 Especialmente no âmbito administrativo, em que impera, dentre outros, o princípio da
legalidade, impessoalidade e moralidade (art. 37, caput, da CF/88), seria inconcebível a utilização
de métodos que não levassem em conta a proteção dos valores essencialmente constitucionais,
por estar na base da problemática das provas ilícitas e derivadas um problema de intimidade,
liberdade, dignidade humana, etc. Semelhante contradição comprometeria o próprio fundamento
do Direito e, em conseqüência, a legitimação de todo o sistema jurídico- administrativo.
 
10/05/2020 O Processo Administrativo e o Princípio Constitucional de Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos
www.pge.sp.gov.br/teses/Roque Jeronimo.htm 9/12
Tudo pode ser apurado e provado dentro dos limites constitucionais e legais, e, sobretudo,
com respeito aos direitos individuais de quem quer que seja. Afirmar o contrário é menosprezar a
competência de quem investiga e os direitos duramente conquistados pelo Homem, com o sério
risco de se justificarem práticas condenáveis, tristemente comuns em nosso País, perdendo-se
fatalmente o sentido de qualquer limite.
 
Sendo esta a corrente adotada pela Carta da República de 1988 e abraçada pelo Supremo
Tribunal Federal, permitimo-nos alongar um pouco mais no seu estudo.
 
Devemos delimitar a conseqüência da inutilização de uma prova ilícita, definindo se haverá
contaminação de todas as demais provas dela resultante, ou somente sua desqualificação para o
julgamento da causa (cf. arts. 573, § 1° do CPP e 248 do CPC).
 
Hoje, a posição majoritária do STF entende que a prova ilícita originária contamina as
demais provas dela decorrentes, de acordo com a Teoria dos “Frutos da Árvore Envenenada” (cf.
Alexandre de Moraes, Direito Constitucional, pp. 104-106, Ed. Atlas).
 
A ilicitude original da prova transmite-se, por repercussão, a outros dados probatórios que
nela se apóiem, dela derivem ou nela encontrem o seu fundamento causal, a contaminar outros
elementos probatórios eventualmente coligidos, oriundos direta ou indiretamente de conduta
inaceitável (Prova Ilícita por Derivação).
 
A ilicitude da obtenção da prova transmite-se à prova derivada, por repercussão, mesmo
que esta seja formalmente lícita, mas obtida por intermédio de informação tirada da prova
ilicitamente colhida.
 
 Na obra Direito à Prova no Processo Penal, o Prof. Antonio Magalhães Gomes Filho
afirma “ser impossível negar a priori a contaminação secundária pela ilicitude inicial, não somente
por um critério de causalidade, mas principalmente em razão da finalidade com que são
estabelecidas as proibições em análise; de nada valeriam tais restrições à admissibilidade da
prova se, por via derivada, informações colhidas a partir de uma violação ao ordenamento
pudessem servir ao convencimento do juiz; nessa matéria importa ressaltar o elemento
profilático, evitando-se condutas atentatórias aos direitos fundamentais e à própria administração
correta e leal da justiça penal.” (p. 110, 1ª ed., l997, Ed. RT, realces do original).Com efeito, vedar que se possa trazer ao processo a prova originária ilícita, mas admitir
que as informações nela colhidas possam ser aproveitadas para chegar a outras provas, que sem
tais informações, não colheria, evidentemente é estimular e, não, reprimir a atividade ilícita.
 
É necessário realçar que os fatos impropriamente obtidos não se tornam sagrados e
inacessíveis, sendo imprescindível passar a uma segunda etapa e verificar se não é possível
isolar, imunizar a árvore e/ou os frutos colhidos, após o que, realmente, se deverá rejeitar o
Á
10/05/2020 O Processo Administrativo e o Princípio Constitucional de Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos
www.pge.sp.gov.br/teses/Roque Jeronimo.htm 10/12
material probatório em questão (cf. Danilo Knijnik, A “Doutrina dos Frutos da Árvore Venenosa” e
os Discursos da Suprema Corte na decisão de 16-12-93, Ajuris 66/61).
 
É digno de nota ser admissível a prova ilícita, na jurisprudência pátria, quando necessária 
e indispensável à defesa do acusado, diante do conflito de normas constitucionais, entre a
proibição e a que garante a amplitude de defesa, protegendo o direito à liberdade (o que ocorre na
hipótese, em verdade, é a ausência de ilicitude dessa prova, vez que aqueles que a produziram
agiram em legítima defesa de seus direitos humanos fundamentais, que estavam sendo
ameaçados ou lesionados em face de condutas anteriormente ilícitas ou equivocadas).
 
IV. Conclusão
 
O Direito Administrativo incorpora, desta forma, a tormentosa questão da prova ilícita e derivada,
que vem ganhando espaço entre as preocupações fundamentais do direito processual moderno
(cf. Antônio Scarance Fernandes, A Lei de Interceptação Telefônica, in Justiça Penal – Críticas e
Sugestões – 4, pp. 48/70, Ed. RT), em virtude do grande desenvolvimento da tecnologia, com seu
caudal de reflexos negativos no tocante à violação dos direitos.
 
 Nesse diapasão, entre a concepção processual-formalística do Direito
americano, fechada às concessões e comparações entre os bens jurídicos envolvidos, e a
perspectiva material, bem mais flexível, do Direito alemão, sensível às circunstâncias do caso
concreto, a Constituição pátria empregou um termo claramente indicativo de que a prova ilícita é
vedada sem atenuantes, já que eivada de inconstitucionalidade (Danilo Knijnik, A “Doutrina dos
Frutos da Árvore Venenosa” e os Discursos da Suprema Corte na decisão de 16-12-93, Ajuris
66/61).
 
 A preocupação com a preservação dos direitos individuais em qualquer esfera é
fundamental para a sobrevivência da democracia, não é mero capricho. O óbice aqui analisado é
o resultado dessa preocupação, mesmo que obrigue a uma decisão contra conscientiam e por
mais relevantes que sejam os fatos por ela apurados, por subsumir-se no conceito de
inconstitucionalidade, porque – eis o ponto principal – não mais importa apenas a convicção, mas
o modo pelo qual se buscou essa convicção, que passa a ser igualmente sindicável, desde que se
consagrou o princípio da licitude da prova.
 
 Averbado que o princípio da licitude da prova torna uma questão jurídica autônoma (o “como”
do processo probatório, especificamente sobre o convencimento do julgador), cumpre observar
que há Proibição de Produção e Proibição de Valoração da prova ilícita.
 Assim, as provas ilícitas, bem como todas aquelas delas derivadas, são constitucionalmente
inadmissíveis, devendo, pois, serem desentranhadas do processo ou procedimento, não tendo,
porém, o condão de anulá-lo. Permanece válida a relação processual e as demais provas lícitas e
autônomas delas não decorrentes.
 
V. Bibliografia
10/05/2020 O Processo Administrativo e o Princípio Constitucional de Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos
www.pge.sp.gov.br/teses/Roque Jeronimo.htm 11/12
 
ANDRADE, Manuel da Costa, Sobre as Proibições de Prova em Processo Penal, Coimbra Ed.,
 1992.
 
CARVALHO, Ricardo Cintra Torres de, “A inadmissibilidade da Prova Ilícita no Processo Penal –
Um Estudo Comparativo das Posições Brasileira e Norte-Americana”, RBCCrim n.º 12/163.
 
DERGINT, Augusto do Amaral, “Aspecto Material do Devido Processo Legal”, RT 709/249.
 
FERNANDES, Antônio Scarance, “A lei de Interceptação Telefônica”, Justiça Penal – Crítica e
Sugestões 4, Ed. RT, 1997.
 
FERREIRA, Pinto, Comentários à Constituição Brasileira, 1º vol., Ed. Saraiva.
 
GOMES FIHO, Antônio Magalhães, Direito à Prova no Processo Penal, 1ª ed., Ed. RT, 1997.
 
GRINOVER, Ada Pellegrini, “A Eficácia dos Atos Processuais à Luz da Constituição Federal”,
RPGESP n.º 37/33.
 
GRINOVER, Ada Pellegrini, “Provas Ilícitas”, RPGESP n.º 16/97 e Revista do Advogado da
AASP, ano IV, n.º 15/33.
 
GRINOVER, Ada Pellegrini, Antônio Scarance Fernandes e Antônio Magalhães Gomes Filho. As
Nulidades no Processo Penal, 2ª ed., Ed. Malheiros, 1992.
 
KNIJNIK, Danilo, “A ‘Doutrina dos Frutos da Árvore Venenosa’ e os discursos da Suprema Corte
na decisão de 16-12-93”, Ajuris 66/61.
 
MEDAUAR, Odete, A Processualidade no Direito Administrativo, Ed. RT, 1993.
 
MEIRELLES, Hely Lopes, Direito Administrativo Brasileiro, 14ª ed., Ed. RT, 1989.
 
MELLO FILHO, José Celso de, “A Tutela Judicial da Liberdade”, RT 526/291.
 
10/05/2020 O Processo Administrativo e o Princípio Constitucional de Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos
www.pge.sp.gov.br/teses/Roque Jeronimo.htm 12/12
MIRABETE, Julio Fabbrini, Processo Penal, 8ª ed., Ed. Atlas, 1998.
 
MORAES, Alexandre, Direito Constitucional, Ed. Atlas, 1997.
 
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa, Processo Penal, vol. 3, 18ª ed., Ed. Saraiva, 1997.

Continue navegando