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TEMPOS E ESPAÇOS ESCOLARES

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Análise do texto “Os tempos e os espaços escolares no processo de institucionalização da escolar primária no Brasil” (FARIA FILHO¹, Luciano Mendes; VIDAL¹, Diana Gonçalves, 2000)
Marilandia Sabino de Oliveira Silva
Os autores Luciano Faria Filho e Diana Vidal (2000), no artigo “Os tempos e os espaços escolares no processo de institucionalização da escola primária no Brasil”,fazem uma análise de como os espaços e os tempos escolares foram se constituindo diferenciadamente ao longo da história da educação brasileira, e como se tornaram dois grandes desafios na estruturação de um sistema de ensino primário que atendesse minimamente às necessidades impostas pelo desenvolvimento social.
Os autores buscam compreender a relação entre escolarização de conhecimentos e tempos e espaços sociais, posto que a singularidade da instituição escolar e da cultura escolar estava entrelaçada a construção de espaços adequados para o ensino e a definição de tempos de aprendizagem. (FARIA FILHO; VIDAL, 2000, p.20). Ao realizar essa análise do processo de escolarização primária no Brasil, os autores procuram identificar o processo histórico de sua produção, mudanças e permanências.
Para explicar a relação entre espaços e tempos escolares na estruturação do sistema público de ensino primário no Brasil os autores delimitamquatros grandes momentos históricos da escola primáriadefinidos a partir do lugar físico-arquitetônico e das temporalidades múltiplas vivenciadas. O recorte temporal que ancoram as análises dos autores corresponde as diferentes décadas dos séculos XVIII, XIX e XX.
A partir da segunda metade do século XVIII com professores reconhecidos ou nomeados pelo governo, a maioria dos espaços destinados ao ensino funcionavam em locais improvisados, como igrejas, sacristias, prédios comerciais e até mesmo na própria residência dos mestres.O período escolar era realizado em quatro horas divido em duas sessões,configurava-se assim o que os autores denominaram de “escolas de improviso”. (FARIA FILHO; VIDAL, 2000, p.21). Paralelamente havia uma redede escolas particulares ou domésticasque realizavam também o ensino às primeiras letras. Um outro modelo que foi configurando-se no decorrer do século XIX eram as escolas mantidas pelos pais que contratavam coletivamente um professorou uma professora para ensinar as criançassem nenhum vínculo com o Estado, mastodos esses modelos de escolarização (com exceção dos colégios) utilizavam espaços improvisados.(FARIA FILHO; VIDAL,2000, p.21-22)
A partir da segunda década do século XIX e após a independência, iniciou-se a discussão sobre espaços adequados para abrigar a escola pública primária. Os intelectuais e políticos colocaram no cerne das discussões um novo método de ensino que estava sendo empregado nos países europeus: o método mútuo. Esse método possibilitava um único professor dar aula para até centenas de alunos sendo necessário para isso materiais adequados e ajuda dos alunos-monitores. Esse método foi adotado em todas as escolas públicas de primeiras letras no Impérios por ordem do Imperador D. Pedro I, mas por volta de 1840 devido a vários fatores começou a entrar em declínio. Observamos a partir dessa nova organização da escolarização de que o tempo escolarprecisava estar em constante diálogo com os outros tempos sociaise que para um ensino mais produtivo era necessário a repartição e organização sequencial dos conteúdos escolares. (FARIA FILHO; VIDAL, 2000,p.23)
O debate entorno da realidade material e espacial da escola brasileira continuava, profissionais, políticos e demais interessados na educação do povo eram unânimes em afirmar a urgência de se construírem espaços específicos para a realização da educação primária. No final do século XIX, o debate se intensificou reforçando a preocupaçãode que a construção de prédios específicos para a escola eram indispensáveis,pois implicava emdiversos fatores, que os autores destacam como: fatores de ordem político-cultural (fortalecimento do Estado Imperial), pedagógica (arsenal inovador de materiais didático-pedagógicos),científica (adequação dos espaços a boas condições de higiene) e administrativa (fiscalização das escolas e controle dos professores). (FARIA FILHO; VIDAL, 2000, p.23).
	Em meados da última década do século XIX surgem uma nova proposta, “os grupos escolares”, que se inicia em São Paulo e, depois se expande para outros estados brasileiros. Os grupos escolares permitiam aos republicanos romper com o passado imperial, projetavam um futuro em que na República, o povo, reconciliado com a nação se moldaria a uma ideia de pátria ordeira e progressista. Desse modo, os edifícios que eram construídos tinham características monumentais, sendo esse o segundo momento histórico analisado pelos autores, as “escolas-monumento”. Nesses prédios destaca-se a rigorosa divisão dos sexos, a indicação precisa de espaços individuais na sala de aula e o controle dos movimentos na hora do recreio. Todo esse convívio com a arquitetura monumental visava inculcar nos alunos o apreço à educação racional e científica, valorizando uma simbologia estética, cultura e ideológica constituída na República.(FARIA FILHO; VIDAL, 2000, p.25).
Assim, mais que produzir e legitimar um novo espaço para a educação era preciso que novas referências de tempos e novos ritmos fossem construídos e legitimados que passavam pela discussão do próprio horário das aulas. Foram implementados normas e instrumentos de controle e tempos e horários aos grupos escolares.Essa materialização dos tempos escolares e de outros dispositivos, bem como a gradual passagem ou transição da escola para uma outra dinâmica está, indiscutivelmente, relacionada as características das sociedades capitalistas.Os grupos escolares deixaram um legado importante para a cultura escolar que atravessou o século XX, constituindo-se em referência básica para a organização seriada das classes, para a utilização racionalizada do tempo e dos espaços e para o controle sistemático do trabalho dos professores, dentre outros aspectos. (FARIA FILHO; VIDAL, 2000, p.27).
No início do século XX foi realizada por Fernando de Azevedo para o jornal O Estado de S. Paulo um inquérito sobre a arquitetura colonial na busca pela maior homogeneização dos prédios escolares e da mensagem estética, cultural e ideologia. Foram consultados arquitetos, médicos e educadores que emitiram pareceres sobre a arquitetura brasileira que serviram para propor um padrão de arquitetura escolar, neocolonial. Com isso, Azevedo concluiu que os edifícios escolares deveriam trazer a marca distintiva da brasilidade e esse estilo foi considerado por ele como a arquitetura escolar por excelência. Os princípios que deveriam reger as edificações deveriam pautar-se em necessidade pedagógica,estéticas e nacionalizantes. (FARIA FILHO; VIDAL, 2000, p.28). Esse é o terceiro marco apontado por Faria Filho e Vidal, a ressignificação de tempos e espaços escolares inspirados em ideais escolanovistas, uma nova reorganização do espaço e reordenação do tempo que estabeleceu numa nova relação entre professor e aluno. 
No entanto, os altos custos da construção escolar, rendeu a Azevedo inúmeras críticas da imprensa e educadores, pois ainda estava preso a um conceito estético de prédio que remontava à monumentalidade dos primeiros grupos escolares. Ao criticar-se a edificação da reforma Fernando de Azevedo, iniciava-se um movimento de mudança da concepção de arquitetônica da escola no Brasil. (FARIA FILHO; VIDAL, 2000, p.29)
Esse é o quarto momento descritos pelos autores “as escolas funcionais” ao apresentar uma nova política de edificações escolares, no Rio de Janeiro e em São Paulo, propostas por Anísio Teixeira e Almeida Júnior que traziam construções de prédios escolares mais simples e econômicos.Para o arquiteto e professor paulista José Maria das Neves “a arquitetura escolar não poderia admitir simetrias, nem submeter a colocação de portas e janelas a padrões estéticos. Era à arquitetura funcional, racional, e que atendesse às condições decada região.” (FARIA FILHO; VIDAL, 2000, p.29)
A proposta de Anísio Teixeira combinava modelo de “escolas nucleares” ou “escolas-classes”, “escola-parque”, “escolas platoon” (pelotão), classificando-as de acordo com a quantidade de salas no prédio e a capacidade de atendimento aos alunos. Essas novas construções escolares pretendiam um ensino em tempo integral, no entanto constituiu-se em um enorme desafio para os educadores no fim da década de 1940 associada ao fato de estender a rede escolar para o interior do país. Nos anos 50 e 60, com uma crescente simplicidade e economia nas construções escolares, ampliava-se uma nova concepção acerca dos espaços escolares, prédios funcionalistas, que eram projetados para uma educação rápida e eficiente, bem como ampliava-se progressivamente os tempos escolares, seja na duração dos cursos, seja nos horários e permanência do aluno na escola. (FARIA FILHO; VIDAL, p2000,31-32)
Com base nesses recortes históricos e temporais do processo de institucionalização da escola primária no Brasil, os autores trazem uma inquietação, o fato de que a escola a partir de um espaço específico e uma delimitação de tempo conseguiu uma hegemonia na sociedade, e isso faz com que, muitas vezes, não se levantem questionamentos sobre a necessidade de construção de prédios, nem da permanência da criança na escola. Dito isso, eles ressaltam que “espaço e tempo escolares ainda são objetos de luta”. (FARIA FILHO; VIDAL, 2000, p.32). 
Dessa forma, a partir das análises dos autores compreendemos que os estudos sobre espaços e tempos escolares continuam sendo objetos de grande relevância. É necessário compreendermos que essas duas dimensões, tempo e espaço, que envolvem a constituição da educação escolar brasileira, não são neutras ou vazias, mas carregam uma marca de construções históricas, social, cultura, ideológicas em cada momento do processo de escolarização. 
Por fim,esses dois elementos -tempo e espaço- estão no âmago da institucionalização da educação escolar, e estão tão fortemente presentes nesse processoque nos permitem, ainda hoje, ter a mesma percepção de Cora Coralina quando descreve no início do artigo a sua escola primária. Na descrição ela detalha com riqueza de detalhes as marcas temporais e espaciais que vivenciou na escola. De igual modo, quando recordamos a nossa trajetória escolar, logo vem a nossa mente: o que nos marcou profundamente nessa instituição? Ese fossemos descrever como era a nossa primeira escola, sem dúvidas, não hesitaríamos em detalhar a singularidade daquele espaço desde a estruturação do seu prédio arquitetônico até forma como era organização do tempo escolar (tempo de estudar, tempo de brincar, de fazer a lição, tempo do recreio). Enfim, há ainda muitas questões que nos inquietam que nos permitem tentar encontrar respostas sobre que marcas sociais, históricas, culturais carregam essas edificações que nos acolheram durante nossa escolarização? Que impressões sociais nos legaram, o que mudou e o que permanece? O desafio está posto! E tentar responder nossas inquietações não será tarefa fácil como os próprios autores reconhecem, pois a construção de uma escola de qualidade ainda é uma utopia a ser superada.
Referências Bibliográficas
FARIA FILHO, Luciano Mendes; VIDAL, Diana Gonçalves. Os tempos e os espaços escolares no processo de institucionalização da escola primária no Brasil. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 14, p. 19-34, 2000.

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