Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Colestase é a estase do fluxo biliar, com acumulo dos elementos da bile no sangue. Os principais constituintes da bile são água (97%), colesterol, bilirrubina, sais de cálcio, fosfolipídeos, sais biliares. Para relembrar, a bile auxilia na digestão de lípides e na eliminação de bilirrubina, colesterol e outros componentes. A bile é conjugada pelos hepatócitos e excretada para os canalículos biliares. O acúmulo desses elementos no sangue teremos alguns fenômenos, como: icterícia, prurido e elevação dos níveis séricos de bilirrubina direta, fosfatase alcalina (ductos e canalículos), colesterol, ácidos e sais biliares. METABOLISMO DA BILIRRUBINA O pigmento bilirrubina é o principal produto da degradação da hemoglobina, do grupamento heme. A hemoglobina está no interior das hemácias e quando degradadas, são quebradas em fração heme e fração proteica. Essa quebra ocorre nos macrófagos do baço, fígado e medula óssea. O grupamento heme é tóxico e sofre ação de uma enzima e se transforma em biliverdina (pigmento tetrapirrólico verde). A biliverdina sofre ação de outra enzima e vira bilirrubina. Essa forma de bilirrubina é chamada indireta, pois é lipossolúvel e muito tóxica aos tecidos, então precisa se ligar a albumina para poder ser lançada na corrente sanguínea. A bilirrubina na circulação está na forma insolúvel, hidrofóbica e tóxica. É chamada também de bilirrubina não conjugada (indireta). Está ligada à albumina ou à Apolipoproteína D (menor proporção). Uma vez na circulação, essa bilirrubina é captada pelos hepatócitos. No interior do REL deles, ela é conjugada à bilirrubina direta (junto ao ácido glicurônico). Essa forma é solúvel e excretada na bile. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Não é mais tóxica. A maioria são desconjugada ou degradadas para urobilinogênios incolores pelas bactérias intestinais e eliminadas nas fezes. Contudo, aproximadamente 20% dos urobilinogenios formados são reabsorvidos no cólon e retornam ao fígado e são re-excretados na bile. Além disso, uma parte é excretada na urina. Então, quando temos aumento da degradação de hemácias, temos aumento maior da bilirrubina indireta, extremamente tóxica aos tecidos. Então, em suma: o ciclo entero-hepático da bilirrubina começa com a captação da bilirrubina não conjugada pelos hepatócitos, a conjugação dessa bilirrubina pela enzima glicuronil transferase e secreção da bilirrubina conjugada para o canalículo biliar. Atinge as alças intestinais e pela flora bacteriana formam-se urobilinogenios incolores. Através da ação de outras bactérias do cólon, ele é transformado em estercobilinogenio que dão coloração acastanhada das fezes. Porém, uma vez formado o estercobilinogenio, uma porção de aprox. 20% é reabsorvido no íleo e cólon e retornam ao fígado para re-excreção na bile. Além disso, uma pequena quantidade escapa da reabsorção hepática e desvia para excreção na urina. ICTERÍCIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp É a pigmentação da pele, mucosas e esclera ocular pela bilirrubina, em consequência da hiperbilirrubinemia. A concentração sérica de bilirrubina é de 0,5-0,1 mg/dL. A icterícia fica perceptível a partir de níveis de 2-2,5 mg/dL de bilirrubina no soro. Icterícia Colestática: regurgitação da bilirrubina conjugada por insuficiência na secreção biliar, ou seja, se a secreção biliar está limitada (por ex, obstrução), toda a bile que deveria ser excretada para a luz intestinal volta ao sangue. Então há aumento da bilirrubina conjugada no soro. Além disso, uma quantidade maior de bilirrubina cai na urina. Então, há fezes acólicas e colúria. 1. COLESTASE EXTRA-HEPATICA As principais causas são: - No adulto: obstruções adquiridas, ou seja, qualquer fenômeno nos ductos biliares que impeçam a passagem da bile. Ex. migração de cálculos biliares, pancreatite crônica, tumores da cabeça do pâncreas ou papila duodenal, iatrogenia cirúrgica estenosante. - Na criança: atrésia biliar ou cisto de colédoco. Na histologia, vemos colestase intra-canalicular e intra-hepatocítica (no interior dos hepatócitos). Com isso, o fígado pode tentar mandar a bile embora causando proliferação ductular periportal para tentar compensar a deficiência na liberação da bile. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Se o processo não é resolvido, a bile acumulada estimula as células de Ito a produzirem colágeno. Há expansão portal com fibroplasia edematosa, septos fibrosos e nódulos. Nas fases avançadas evolui para cirrose biliar. Qualquer lesão da árvore biliar extra-hepatica pode causar isso. O fígado fica esverdeado, com a vias biliares bem dilatadas. Na microscopia vemos acúmulo de pigmentos biliares desde os hepatócitos até os ductos biliares interlobulares. No interior dos canalículos vemos rolhas de bilirrubina e hepatócitos ao redor, formando rosetas colestáticas. Pode haver acumulo de bilirrubina nos hepatócitos e nos macrófagos de Kupffer, ou seja, todas as células envolvidas no processo da formação da bile. - Atresia Biliar Doença de neonatos, eventualmente lactentes. A causa é pouco compreendida ainda, mas potente relação com infecção por CMV. Tem grande variabilidade de formas clínicas. Dentre as alterações morfológicas temos: reação ductular periportal, colestase e expansão portal com fibroplasia edematosa, septos fibrosos e nódulos em fases avançadas. Há espessamento da camada média dos ramos portais intra-hepáticos da artéria hepática. A atresia biliar tem tipos anatômicos variados, pode ter atresia de partes diferentes das vias biliares. O tratamento é a correção cirúrgica por Kasai. É uma derivação da alça intestinal para que a bilirrubina recém conjugada caia diretamente na luz intestinal, impedindo o acumulo de bile. Se a cirurgia não for feita o neném evolui para fibrose perissinusoidal a partir da zona 3 acinar (estímulo das células de Ito). Proliferação ductular portal associada a infiltrado inflamatório portal misto que evolui para fibrose portal. Com o tempo ocorre cirrose biliar (necessidade de transplante hepático). Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Onde tem pigmento biliar fica com depósito de colágeno. Os hepatócitos perisseptal acumulam muita bile e ficam com aspecto de degeneração plumosa. A bile estática pode começar a necrosar os hepatócitos periductais. Formam verdadeiros lagos biliares. Chamamos de infarto biliar devido ao derramamento de bile. Há uma coroa macrofágica ao redor para tentar fagocitar o pigmento. 2. COLESTASE INTRA-HEPÁTICA Um importante diagnóstico diferencial são as ductopenias. É a perda de ducto biliar intralobulares em mais de 50% dos tratos portais (ausência de ductos nos espaços porta). É a manifestação clínica e morfológica de uma colestase com destruição progressiva de vias biliares intra-hepaticas. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Temos muitas causas dessas doenças ductopenicas, como síndromes paraneoplasicas, doenças autoimunes. Podem causar destruição das vias biliares intrahepaticas. - Colangite Biliar Primária (CBP): antigamente chamada de cirrose biliar. Processo muito inflamatório que também parece ter patogênese autoimune, inclusive com reação granulomatosa e destruição linfoplasmocitaria dos ductos biliares. Temos reação ductal florida, que é a exuberante reação inflamatória junto aos ductos biliares. Com o evoluir da doença temos ductopenia. - Colangite Esclerosante Primária (CEP): menos inflamatória e mais fibrosante. Há uma destruição do ducto e substituição por colágeno. Onde estava o ducto fica a fibrose concêntrica que estrangula o ducto, uma bola hialina. Colágeno bem denso, um aspecto em casca de cebola. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp É um fenômeno dinâmico, nem todos os ductos vão sumir ao mesmo tempo.Alguns estão mais avançados, outros não, outros saudáveis. Um forte marcador de etiologia biliar da cirrose é o efeito halo. Ele é consequência da degeneração dos ductos pois a bile vai se acumulando nos espaços parasseptais. A P-ANCA também pode estar aumentado em outros casos, como hepatite autoimune. Um bom método diagnóstico é a colangiopancreatografia através de RM que mostra o aspecto de arvore podada das ramificações biliares intra-hepaticas. No grupo pediátrico, o mais importante de saber é atresia biliar. Porém, em ductopenias primárias é importante pensar em CEP.
Compartilhar