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Ester Paiva – P5M2 2022/2 BILIRRUBINA E COLELITÍASE METABOLISMO DA BILIRRUBINA • Os pigmentos biliares são o principal produto de degradação da hemoglobina, da mioglobina e das hemoproteínas*. • A principal fonte de bilirrubina é a hemoglobina proveniente da quebra de eritrócitos maduros, a qual contribui com cerca de 80-85% da produção total. • Em adultos, são quebrados diariamente cerca de 35g de hemoglobina, resultando na produção de 300 mg de bilirrubina. • Dentro das células fagocíticas ocorre a lise dos eritrócitos e a degradação da hemoglobina. O produto resultante é a biliverdina não conjugada (Lipossolúvel/Indireta), que é convertida em bilirrubina pela enzima biliverdina redutase. • A bilirrubina não conjugada ou indireta liga-se reversivelmente à albumina, forma pela qual é transportada no plasma. • Ressalta-se que as sulfonamidas e salicilatos competem com a bilirrubina pela ligação com a albumina. • A bilirrubina não conjugada tem afinidade pelo tecido nervoso e, quando em concentrações elevadas no sangue em recém-nascidos, impregna os gânglios da base causando kernicterus. • O fígado ocupa papel central no metabolismo da bilirrubina, sendo responsável por sua captação, conjugação e excreção. • Uma vez transferida para dentro do hepatócito, a bilirrubina se liga, pelo menos em parte, a uma proteína citoplasmática denominada ligandina. • No retículo, a bilirrubina não conjugada, que é lipossolúvel e indireta, é convertida pela ação da enzima UDP-glicuronosil transferase em compostos solúveis em água (monoglicuronato e diglicuronato de bilirrubina). • O processo de excreção de bilirrubina para o canalículo biliar requer energia. o Quando esse passo do metabolismo da bilirrubina é comprometido, ocorre a diminuição da excreção de bilirrubina para a bile e regurgitação da bile para o sangue. o No sangue, a bilirrubina conjugada também se liga à albumina, entretanto, isso se faz tanto de forma reversível como não reversível. • Da ligação não reversível resulta a formação de complexos que não são filtrados pelos rins e podem ser detectados na circulação durante várias semanas após a resolução do processo causador da icterícia. • Uma vez excretada do hepatócito, a bile é transportada: canalículos biliares - dúctulos - ductos interlobulares - ductos septais - dois principais ductos hepáticos que emergem dos lobos direito e esquerdo do fígado. Os dois ductos formam o ducto hepático comum, que se une com o ducto cístico e formar o ducto biliar comum e desemboca no duodeno. • A bilirrubina conjugada ou direta é polar e não absorvida pelo intestino delgado. • No íleo e cólon, a bilirrubina (direta) é hidrolisada (hidrossolúvel) por enzimas bacterianas (beta-glicuronidases) formando-se o urobilinogênio. o Em situação de disfunção hepática, a reexcreção biliar de urobilinogênio pode diminuir, aumentando a parcela eliminada na urina o Em condições em que há diminuição da excreção de bilirrubina ao intestino ou diminuição da flora intestinal (uso de antibióticos, por exemplo) pode haver diminuição da produção de urobilinogênio. • As fezes normais de um indivíduo adulto contêm uma mistura de urobilinogênio e seu produto de oxidação correspondente, de cor laranja, a urobilina. o A diminuição ou ausência de excreção de bilirrubina na luz intestinal provoca alterações na cor das fezes tornando-as mais claras (hipocolia fecal) ou esbranquiçadas (acolia fecal). • A bilirrubina conjugada/direta, por ser solúvel em água, penetra mais facilmente em fluidos corpóreos e é capaz de provocar graus mais acentuados de icterícia que a bilirrubina não conjugada. Ester Paiva – P5M2 2022/2 • A bilirrubina não conjugada/indireta/lipossolúvel, como é firmemente ligada à albumina, não é filtrada pelos glomérulos renais e, não sendo também secretada pelos túbulos renais, não é excretada na urina. • Uma fração da bilirrubina conjugada/direta/hidrossolúvel permanece não ligada, sendo filtrada pelos rins e eliminada na urina. Tal fração é responsável pela mudança da cor da urina, a qual pode ser cor de chá forte ou mesmo cor de coca-cola (colúria), na dependência da quantidade de bilirrubina presente. Ester Paiva – P5M2 2022/2 MECANISMOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA HIPERBILIRRUBINEMIA o Se a produção de bilirrubina está aumentada, se houver prejuízo em um ou mais processos de metabolização ou excreção, pode haver elevação dos níveis séricos de bilirrubina - HIPERBILIRRUBINEMIA. HIPERBILIRRUBINEMIA NÃO CONJUGADA, Indireta, Lipossolúvel (Há icterícia, porém sem colúria ou hipo/acolia fecal) 1. Maior produção de bilirrubina (até 4mg/100ml) por hemólise (anemia crônica, por exemplo) ou eritropoese ineficaz. 2. Diminuição da captação hepática/transporte de bilirrubina por jejum, sepse ou drogas (rifampicina, por exemplo) 3. Distúrbio da conjugação (bilirrubina-albumina) por deficiência hereditária (Sd. De Gilbert e de Crigler-Najjar I e II) ou desordem adquirida (Drogas, doença hepatocelular, sepse). HIPERBILIRRUBINEMIA CONJUGADA, Direta, Hidrossolúvel (Há icterícia, colúria e pode ter hipocolia/acolia) 1. Defeito na excreção de bilirrubina (defeitos intra-hepáticos) 2. Obstrução biliar EXTRA hepática: obstrução mecânica das vias biliares extra hepáticas por cálculo, estenose e tumores 3. Multifatorial: cirrose, hepatite, sepse, icterícia neonatal (Bilirrubina 6-8mg/100ml, com predomínio da fração não conjugada) CALCULOSE BILIAR OU COLELITÍASE • Caracteriza-se presença de concreções, sejam elas cálculos (> 3 mm) ou barro biliares (< 3 mm) na vesícula, nos ductos biliares ou em ambos. • Mais comum em mulheres do que em homens, muito rara em crianças e pouco frequente em adolescentes. • Pode ocorrer por mutações nos genes MDR3, ABCB4, ABCB11, 7-alfa-H, 4-colesten-3 e latosterol. FATORES DE RISCO: • Não evitáveis: idade, sexo, fator genético, etnia • Evitáveis: obesidade, perda rápida de peso, gravidez, multiparidade, nutrição parenteral, uso de hormônios femininos, síndrome metabólica, uso de cefalosporinas de 3ª geração, fumo, álcool, sedentarismo... CARACTERÍSTICAS: • Cerca de 60 a 85% dos portadores de calculose biliar são assintomáticos e não requerem tratamento preventivamente, exceto em condições de risco. • Após o primeiro episódio de cólica biliar, a chance de recorrência dos sintomas é de 70%. • Presença de febre, icterícia ou colúria durante as crises indica complicações, como: colangite (inflamação e infecção das vias biliares por obstrução do ducto), colecistite (inflamação da vesícula biliar) e coledocolitíase (presença de cálculos nos ductos biliares); Leucocitose, aumento de TGO e TGP, aumento de gamaglutamiltranspeptidase (GGT), fosfatase alcalina e hiperbilirrubinemia conjugada. • Os cálculos vesiculares puros de colesterol são os principais responsáveis pelos episódios de cólica biliar; • Os cálculos marrons, de conteúdo predominantemente pigmentar, formam-se principalmente nos ductos biliares, raramente na vesícula! Geralmente associado à infecção por E. coli mas pode ser por infecção parasitária... • Os cálculos pigmentares negros formam-se exclusivamente na vesícula, mais associado a doença hemolítica (talassemia...) Ester Paiva – P5M2 2022/2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • Dor abdominal recorrente em hipocôndrio direito • Febre, às vezes com icterícia (colangite) • Náuseas e vômitos* DIAGNÓSTICO: • USG: o exame mais utilizado e eficaz, principalmente na colelitíase • US-EDA (endoscópica): para diagnóstico de microlitíase • Colangiopancreatografia retrógrada (CPRE): para avaliar a árvore biliar • TC: avalia a árvore biliar quando a CPRE não é possível • Colangiopancreatografia por ressonância nuclear magnética (CPRNM): substitui a CPRE no diagnóstico COLESTASE Alteração da secreção biliar hepatocelular, envolvendo todos os componentes da bile (Popper). Geralmente, ela representa um obstáculo ao fluxo biliar, dificultandoou impedindo a chegada da bile ao duodeno. Qualquer doença (colelitíase, CA, pancreatite crônica) que interrompa o fluxo de bile do fígado ao duodeno. INTRA-HEPÁTICA: • Metabólica: sem lesão é hepatocelular é mais frequente. Reação aos anticoncepcionais e esteroides anabolizantes, gravidez... • Mecânica: colestases secundárias a obstáculo ao fluxo biliar intra hepático. Cirrose biliar primária, metástases hepáticas, Doença de Hodgkin... EXTRA-HEPÁTICA: • Geralmente sem lesão hepatocitária; Coledocolitíase e CA de pâncreas... • A icterícia é produzida por um obstáculo situado entre a bifurcação do hepático comum e a papila de Vater, dentro ou fora do tronco biliar. QUADRO CLÍNICO: • A icterícia é o dado clínico dominante e a cor da pele vai de amarelo pálido até verde intenso (icterícia verdínica). • Prurido, xantomas em pescoço, mãos e pálpebras (hiperlipemia>3m) • Febre (colangite, neoplasia, infecções secundárias...) • Má absorção de vitaminas lipossolúveis (ADEK) por ausência de sais biliares • Aumento de fosfatase alcalina*, de TGO e TGP, de GGT... • Intra-hepática: bem-estar, astenia e prurido • Extra-hepática: tríade de Charcot: dor, febre e icterícia. A colestase intra-hepática é classificada em hepatocanalicular (intra-lobular), ductular e ductal (interlobular) • A colestase hepatocanalicular ou intra-lobular resulta de defeito secretor em organelas intracelulares do hepatócito ou lesão ao nível do canalículo biliar. As principais causas são: hormônios sexuais, anabolizantes, doenças metabólicas, bactérias, nutrição parenteral, hepatites virais, hepatite alcoólica, drogas (simples ou puras) Ester Paiva – P5M2 2022/2 • Na colestase ductular, pequenos ductos são afetados; geralmente transitória; drogas incriminadas: alopurinol, carbamazepina, captopril; doenças genéticas ou de desenvolvimento, imunológicas (cirrose biliar primária, sarcoidose, colangite auto-imune), infecciosas, isquêmicas, neoplásicas, tóxicas, idiopáticas... • Nos defeitos de desenvolvimento da placa ductal, as lesões resultam de destruição (atresia = ausência; hipoplasia = redução) dos ductos durante o desenvolvimento embrionário, muitas vezes provocada por agentes externos, sobretudo infecciosos. Síndrome de Allagille: hipoplasia de ductos biliares, face triangular característica, vértebras em borboleta, xantomose, retardo mental, prurido... Pode não ser por causas sindrômicas (fibrose cística e deficiência de alfa-1 antitripsina). DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL USG – Ductos dilatados Suspeita clínica: • Cálculo em colédoco (eco-endoscopia CPRE) • CA de pâncreas (TC) • Outras (CPRM, CPRE, CPT) USG – Ductos não dilatados Suspeita clínica: • Cálculo em ducto biliar (CPRM, eco-endoscopia CPRE, biópsia) • Doença intra-hepática (Biópsia hepática) A eco-endoscopia, quando disponível, define melhor o diagnóstico e permite de imediato a papilotomia terapêutica, através da CPRE (colangio- pancreatografia retrógrada endoscópica) CPRM: colangio-pancreatografia por ressonância magnética. CPT: Colangiografia percutânea transhepática. Ester Paiva – P5M2 2022/2
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