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Febre Beatriz Marinelli OBJETIVOS Compreender, esclarecer e discutir a importância dos conceitos de febre, hipertermia e hipotermia na prática médica. CASO CLINICO Identificação: AMB, 62 a, feminina, branca, aposentada (serviços gerais), católica, natural e procedente de Santo Anastácio. QD: febre há 2 dias HPMA: Paciente refere quadro de febre há 2 dias com temperaturas variando de 38 a 39°C, relata ainda odinofagia importante e adenomegalia cervical IDA: AR: nega dispneia, tosse. ACV: nega taquicardia, bradicardia, síncope AGU: nega disúria, polaciúria, nictúria. ALM: nega alteração da marcha, dor nas pernas. Olho: nega lacrimejamento, alterações visuais OUVIDO: nega hipoacusia, disacusia AP: duas cesárias, hepatite A na infância. Carteira vacinal em diaAF: mãe diabética, pai falecido HS: mora em casa de alvenaria com 3 quartos e água e esgoto tratado Exame físico A, A, eupnéica Orofaringe: placa em amígdala direita ACV: 2BNF, s/s, rit e regulares AR: MV+ e s/ ruídos adventícios Abd: percussão, ausculta e palpação sem alterações HD: amigdalite ANATOMIA E FISIOLOGIA DO HIPOTÁLAMO, HIPÓFISE, NEUROHIPÓFISE No hipotálamo temos o centro controlador da temperatura, o termostato, responsável por sermos homeotermos. DEFINIÇÕES Febre: “elevação da temperatura corporal que ultrapassa a variação diária normal e ocorre associada a um aumento do ponto de ajuste hipotalâmico (por exemplo de 37 para 39). É um mecanismo adaptativo de benefício* para o organismo estimulando o sistema imune e preservando a integridade da membrana celular”. Aumento da temperatura corporal que ultrapassa a variação diária normal e ocorre associada a um aumento do ponto de ajuste hipotalâmico. É um mecanismo adaptativo de benefício para o organismo estimulando o sistema imune e preservando a integridade da membrana celular. A febre pode ser benéfica para estimular o sistema imune, pois diminui a sobrevida da bactéria, uma vez que diminui o seu fator de virulência e aumenta a capacidade fagocítica. A febre origina-se de complicações na região do termostato. Hipertermia: ocorre devido à exposição ao sol/calor, como em praia e piscina, o que leva ao aumento da temperatura corporal. Hipotermia: quando o indivíduo apresenta temperatura menor que 35°C. Pode ser primária ou secundária, coexistindo ou não com disfunção hipotalâmica: • Hipotermia primária: gerada devido à infecção por gram-negativa que desregula o termostato. • Hipotermia secundária: ocorre devido ao ambiente, como no caso o frio. A hipotermia também pode ser dividida em: • Hipotermia aguda: pular na água gelada; temperatura cai rapidamente • Hipotermia subaguda: demora horas; pessoa agasalhada no ambiente muito frio • Hipotermia crônica: devido à infecção bacteriana (doenças prévias); associada à enfermidade Hipotermia Aguda Lago gelado Subaguda Ambiente frio Crônica Doenças prévias EPIDEMIOLOGIA • A epidemiologia da febre depende de dados locais (muitas vezes relacionados à estação do ano) e de doenças existentes em locais específicos, como a malária e a dengue. • Tais dados epidemiológicos podem ser de grande auxilio na determinação da etiologia da febre. CARACTERIZAR A HIPOTERMIA Queda da temperatura: • Rápida: imersão em água muito gelada • Lenta: exposição a ambientes mais temperados Intensidade da hipotermia: • Leve: 32 a 35°C • Moderada: 30 a 32°C • Grave: abaixo de 30°C CARACTERIZAR A FEBRE Início: • Súbito: quase sempre acompanhada dos demais sintomas da síndrome febril; • Gradual: prevalece a sudorese, cefaléia e inapetência Intensidade: de acordo com a temperatura axilar: • febre leve ou febrícula - até 37,5ºC • febre moderada - de 37,5 a 38,5ºC • febre alta ou elevada – acima de 38,5ºC Duração: • De poucos dias - em diversas doenças infecciosas. • Prolongada – perdura no mínimo por 14 dias sem definição diagnóstica. Término: • Em crise: malária, desaparece subitamente, por isso gera o tremor. • Em lise: diminui lentamente. Modo de evolução: • É dada pela análise da curva térmica e da anamnese • Gráfico térmico → é o registro da temperatura em tabelas, a fim de ser estabelecido o tipo de febre apresentada pelo paciente (curva térmica) • Não a uso pois o remédio pode alterá-la Febre contínua: o paciente não sai da faixa febril Febre intermitente: fica na normalidade, sobe rápido e cai rápido (fica períodos sem febre) Febre remitente: febre, cai para normal e depois sobe denovo Febre irregular ou séptica: tem períodos sem febre Febre recorrente ou ondulante: caracteriza linfoma Fatores subjetivos: • A percepção do estado febril varia de pessoa para pessoa. Muitos pacientes são capazes de avaliar com precisão as elevações térmicas do seu organismo, outros não; SINTOMAS COMUNS DA SÍNDROME FEBRIL • Febre, Astenia, Inapetência, Cefaléia, Taquicardia, Taquipnéia, Taquisfigmia, Oligúria, Dor no corpo, Calafrios, Sudorese, Náuseas, Vômitos SINTOMAS COMUNS HIPOTERMIA • Respostas ao frio: vasoconstrição, tremores, taquicardia; • Leve (35 a 33°C): tremores, letargia motora, espasmos musculares, cianose; • Moderada (33 a 30°C): MM. rígidos, bradicardia, bradipnéia, sonolência; • Grave (menos de 30°C): da sonolência evolui para o coma; MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DO QUADRO FEBRIL PE = pirógeno endógeno FÁRMACOS ANTI-PIRÉTICOS Atuam na inibição da formação das prostaglandinas. Muitos deles, inibindo a ciclooxigenase. Ex: paracetamol, dipirona, ácido acetil salicílico. CONDIÇÕES ASSOCIADAS AO SURGIMENTO DA FEBRE • Hipertireoidismo → aumento na produção de calor • Por bloqueio da perda de calor → ictiose • Por lesão tissular: neoplasias, todas as infecções, lesões mecânicas, hemolinfopoieticas, afecções vasculares, doenças auto-imunes, doenças do SNC • Pacientes com neoplasias o aparecimento da febre é muito comum e possui três mecanismos diferentes que podem causá-la: ▪ Liberação de PE (pirógenos endógenos) pela destruição tissular ou por inflamação do tecido ▪ liberação de PE por liberação de fatores auto-imunes induzidos pelas células malignas; ▪ Ou próprio tumor produz PE • Doenças infecciosas e parasitárias ▪ Causa mais frequente de febre em todas as faixas etárias; ▪ Febre quase sempre presente em nas infecções viróticas, bacterianas e por protozoários e nos processos inflamatórios de fundo imunológico (artrite reumatóide, lúpus eritematoso); ▪ A febre logo se acompanha de sinais e sintomas indicativos do órgão afetado; ▪ Grupo que tem como característica febre prolongada nem sempre com sintomatologia: Tuberculose, Endocardite Infecciosa, Brucelose, Salmonelose, Infecções Piogênicas, Amebíase, Esquistossomose, Malária e Doença de Chagas Aguda. • Doenças do sistema nervoso: ▪ Hipertermia Neurogênica: a temperatura pode se elevar após intervenções cirúrgicas na região da fossa hipofisária e no 3º ventrículo ▪ AVC: febre moderada, 37,5 a 39°C. ▪ Lesão da medula: grave distúrbio da regulação da temperatura. Lesão na medula cervical inferior temperatura muito baixa e na medula cervical superior temperatura alta (interrupção dos feixes aferente e eferentes do hipotálamo). • Febre induzida por medicamentos: ▪ Diversos mecanismos: hipersensibilidade mediada por anticorpos, contaminação de frascos e soluções com microorganismos, liberação de pirogênios exógenos; ▪ Sem padrão característico ( as pistas dependem do quadro clínico, normalmente febre sustentada ou intermitente com início em uma a 2 horas e após 7 a 10 dias da administração da droga); ▪ Febre regride quando se interrompe o medicamento; ▪ Outros sinais: Exantema, dermatite esfoliativa, vasculite e urticária. ▪ Hipertermia Maligna: reação idiossincrática à anestesia com halotano, isofluranoe enflurano. - Causa: desordem genética da regulação do cálcio intracelular. - Manifestações: Febre alta, rigidez muscular, taquicardia, arritmias e hipotensão. • Febre de origem indeterminada ou obscura: ▪ FOO ou FOI caracteriza-se por TA> 37,9ºC em várias ocasiões; febre com duração de mais de 3 semanas; impossibilidade de estabelecer um diagnóstico a despeito de 1 semana de investigação hospitalar. ▪ 4 tipos: FOO clássica, FOO hospitalar, FOO neutropênica, FOO associada a infecção pelo HIV. ▪ FOO CLÁSSICA: 3 consultas ambulatoriais ou 3 dias de internação hospitalar ou 1 semana de investigação ambulatorial “criteriosa e invasiva” sem elucidação de uma causa. ▪ FOO HOSPITALAR: Suscetibilidade do paciente associada às complicações potenciais de hospitalização. As mais comuns complicações hospitalares são: ITU, pneumonia, infecções de incisões cirúrgicas, infecções relacionadas aos acessos e monitorações intravasculares. ▪ FOO NEUTROPÊNICA: Duração da doença pode ser curta, mas se não tratada pode levar a situações catastróficas. Causas comuns: Candida e Aspergillus, herpes vírus simples ou CMV, tromboflebite séptica (associada à cateteres). ▪ FOO ASSOCIADA AO HIV: A infecção pelo HIV isoladamente pode causar febre. Em mais de 80% dos pacientes a FOO associada ao HIV é por causas infecciosas, mas a febre medicamentosa e o linfoma são possibilidades importantes. • Neoplasias INVESTIGAÇÃO DA FEBRE • Início, Intensidade, Duração, Modo de evolução, Término. • Níveis medidos; • Periodicidade; • Fatores que acompanham: calafrios, mal-estar, vômitos, mialgias; • Uso de medicamentos (quais e em que quantidade); ▪ Antitérmicos: influência sobre a curva térmica. ▪ Drogas que possam produzir febre • Contato com pessoas portadoras de doenças que possam produzir febre ou de doenças infecto-contagiosas; • Entrada em florestas e cavernas; • Atividade e hábitos sexuais; • Viagens a regiões endêmicas; • Transfusão sanguínea, principalmente antes dos anos 80 (hepatite); • Contato com animais; • Hábitos higiênicos; • Hábitos alimentares; • Hábitos de vida (uso de seringas ou agulhar não esterelizados); • Emagrecimento (quanto e em que velocidade); • Doenças pregressas e familiares; • Confirmar com familiares e amigos. EXAME FÍSICO Pesquisar: lesões cutâneas, orofaringe, seios paranasais, dentes, visceromegalias, linfadenomegalias, fundo de olho, boca, região anal e reto, massas abdominais ou pélvicas e sopros cardíacos; Curva térmica deve ser pesquisada e comparada. VALORES NORMAIS DA TEMPERATURA • Axilar - 35,5 a 37,0 °C • Bucal - 36,0 a 37,4 °C • Retal - 36,0 a 37,5 °C • Timpânica – 37,8 ºC *Sinal de Lenander: a temperatura retal maior que a axilar em valores acima de 1 grau.
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