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PSIQUIATRIA 2019-VOL ÚNICO

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Prévia do material em texto

�HE�CEL 
PSIQUIATRIA 
César Augusto Guerra 
Licia Milena de Oliveira 
Marcelo Altona 
Psicologia	Médica
Licia	Milena	de	Oliveira
1.	Introdução
A	Psicologia	médica	é	o	ramo	da	Medicina	que	tem	a	Psicologia	como
campo	interdisciplinar	específico.	Pode	também	ser	definida	como	o	estudo
das	relações	médico-paciente	e	das	ações	psicológicas	na	prática	médica	em
geral,	que	se	constitui	como	uma	ciência	única	e	independente	da	Psiquiatria
e	da	Psicologia.
Grandes	contribuições	à	Psicopatologia	vieram	da	Psicologia	médica,	em
especial	das	relacionadas	a	Ernst	Kretschmer	(1888-1964)	e	Sigmund	Freud
(1856-1939),	que	recomendavam	a	especialização	em	psicanálise	das
distintas	especialidades	médicas,	aperfeiçoando	os	profissionais	na	lida	com
os	processos	transferenciais	da	relação	médico-paciente.	Os	conceitos	de
psicanálise	a	seguir	foram	retirados	das	obras	de	Sigmund	Freud,	resumidas
no	livro	“Noções	básicas	de	Psicanálise”,	de	Charles	Brenner.
2.	Transferência	e	contratransferência
A	transferência	e	a	contratransferência	são	uma	forma	de	projeção	típica	da
relação	terapêutica	entre	paciente	e	médico	e	podem	se	caracterizar	de	forma
positiva,	com	sentimentos	de	afeto	e	admiração,	ou	negativa,	com
sentimentos	de	agressividade	e	resistência,	dependendo	dos	laços
inconscientes	e	emocionais	que	emergem	dessa	relação.
Denominamos	“transferência”	as	projeções	relacionadas	a	reações
emocionais	do	paciente,	dirigidas	ao	médico,	com	base	nos	conflitos	infantis
dos	pacientes	com	relação	às	figuras	paterna	e	materna.	A
“contratransferência”	envolve	sensações,	sentimentos	e	percepções	que
brotam	no	médico,	emergentes	do	relacionamento	terapêutico	com	o
paciente,	também	com	base	em	seus	conflitos	inconscientes.	Espera-se	que	o
médico	esteja	preparado	emocionalmente	para	saber	lidar	com	tais	conflitos.
Dica
Transferências	são	as	projeções	do	paciente	dirigidas	ao	médico,	enquanto
as	contratransferências	são	projeções	do	médico	em	relação	ao	paciente.
3.	Inconsciente
Freud	iniciou	seus	estudos	pela	utilização	da	técnica	da	hipnose	como	forma
de	acesso	aos	conteúdos	mentais	no	tratamento	da	histeria.	Ao	observar
melhora,	elaborou	a	hipótese	de	que	a	causa	da	doença	era	psicológica,	não
orgânica.	Essa	hipótese	serviu	de	base	para	seus	outros	conceitos,	como	o	do
inconsciente.	Assim,	abandonou	o	uso	de	hipnose	em	pacientes	com	histeria,
em	favor	da	interpretação	de	sonhos	e	da	livre	associação	como	vias	de
acesso	ao	inconsciente.
Freud	procurou	uma	explicação	à	forma	de	operar	do	inconsciente,
propondo	uma	estrutura	particular.	No	1º	tópico,	recorre	à	imagem	do
“iceberg”,	em	que	o	consciente	corresponde	à	parte	visível,	e	o	inconsciente
corresponde	à	parte	não	visível,	ou	seja,	à	parte	submersa	do	“iceberg”.	Em
sua	teoria,	Freud	estava	preocupado	em	estudar	o	que	levava	à	formação	dos
sintomas	psicossomáticos.
4.	Id,	ego	e	superego
Quando	sua	preocupação	se	voltou	para	a	forma	como	se	dava	o	processo	da
repressão,	Freud	passou	a	adotar	os	conceitos	de	id,	ego	e	superego.
O	id	representa	os	processos	primitivos	do	pensamento	e	constitui,	segundo
Freud,	o	reservatório	das	pulsões,	e,	dessa	forma,	toda	a	energia	envolvida
na	atividade	humana	seria	advinda	do	id.	Inicialmente,	considerou	que	todas
essas	pulsões	seriam	de	origem	sexual.	Posteriormente,	introduziu	o
conceito	das	pulsões	de	morte,	que	atuariam	no	sentido	contrário	ao	das
pulsões	de	agregação	e	preservação	da	vida.	O	id	é	responsável	pelas
demandas	mais	primitivas	e	perversas.
O	superego,	a	parte	que	contra-age	ao	id,	representa	os	pensamentos	morais
e	éticos	internalizados.
O	ego	permanece	entre	ambos,	alternando	nossas	necessidades	primitivas	e
crenças	éticas	e	morais.	É	a	instância	na	qual	se	inclui	a	consciência.	Um	eu
saudável	é	aquele	que	tem	a	habilidade	para	adaptar-se	à	realidade	e
interagir	com	o	mundo	exterior	de	uma	maneira	que	seja	cômoda	para	o	id	e
o	superego.
5.	Eros	e	tânatos
Freud	estava	especialmente	interessado	na	dinâmica	destas	3	partes	da
mente.	Argumentou	que	essa	relação	é	influenciada	por	fatores	ou	energias
inatas,	que	chamou	de	pulsões.	Descreveu	2	pulsões	antagônicas:	eros,	a
pulsão	sexual	com	tendência	à	preservação	da	vida,	e	tânatos,	a	pulsão	da
morte,	que	levaria	à	desagregação	de	tudo	o	que	é	vivo,	à	destruição.	Ambas
não	agem	de	forma	isolada,	estão	sempre	trabalhando	em	conjunto.
6.	Fases	do	luto
A	psiquiatra	suíça	Elisabeth	Kübler-Ross,	em	sua	obra	“Sobre	a	morte	e	o
morrer”,	pesquisou	e	trabalhou	com	o	tema	do	luto,	descrevendo	5	fases
desse	processo.	Existem	pensamentos	e	comportamentos	comuns	às	pessoas
que	passam	por	cada	uma	dessas	fases	e	a	descrição	delas	pode	facilitar	a
compreensão	e	a	percepção	sobre	o	que	ocorre	com	as	pessoas	que
vivenciam	o	luto.
A	-	Fase	1:	negação
É	uma	defesa	psíquica,	em	que	o	indivíduo	acaba	negando	o	problema,
tentando	encontrar	algum	jeito	de	não	entrar	em	contato	com	a	realidade	e
geralmente	não	quer	falar	sobre	o	assunto.
B	-	Fase	2:	raiva
Nessa	fase,	o	indivíduo	revolta-se	com	o	mundo,	sente-se	injustiçado	e	não
se	conforma	que	isso	está	acontecendo	com	ele.
C	-	Fase	3:	barganha
Essa	é	fase	que	o	indivíduo	começa	a	negociar;	por	exemplo,	prometendo
que	será	uma	pessoa	melhor	se	sair	daquela	situação.
D	-	Fase	4:	depressão
A	pessoa	se	retira	para	seu	mundo	interno,	isolando-se	e	considerando-se
impotente	perante	o	que	ocorre.
E	-	Fase	5:	aceitação
O	indivíduo	não	sente	mais	desespero	e	consegue	enxergar	a	realidade	como
realmente	é,	assimilando	por	completo	a	perda	ou	a	morte.
Resumo
Introdução	à	Psiquiatria
Licia	Milena	de	Oliveira
1.	Psicopatologia
A	Psicopatologia	propõe-se	a	conhecer	e	descrever	os	fenômenos
psicopatológicos	para,	dessa	forma,	oferecer	à	Psiquiatria	as	bases	para	a
compreensão	e	o	estudo	do	psiquismo	humano.	Compete	a	ela	reunir
materiais	para	a	elaboração	do	conhecimento	dos	fenômenos	com	o	qual	a
Psiquiatria	possa	coordenar	a	sua	ação	diagnóstica,	curativa	e	preventiva.
Como	dito	por	Paulo	Dalgalarrondo,	em	seu	livro	Psicopatologia	e	semiologia
dos	transtornos	mentais,	que	será	utilizado	como	base	para	o	capítulo:	“A
semiologia	é	a	base,	o	pilar	fundamental	da	atividade	médica.	Saber	observar
com	cuidado,	olhar	e	enxergar,	ouvir	e	interpretar	o	que	se	diz,	saber	pensar,
desenvolver	um	raciocínio	clínico	crítico	e	acurado	são	as	capacidades
essenciais	do	profissional	de	saúde”.	O	diagnóstico	em	Psiquiatria	é	feito	com
base	no	exame	psíquico,	excluindo	outras	patologias	clínicas	que	possam
cursar	com	alterações	no	psiquismo.
2.	Funções	psíquicas	e	suas	alterações
A	-	Consciência
Consciência	é	a	capacidade	do	indivíduo	de	entender	o	que	está	acontecendo
dentro	e	fora	de	si	mesmo.	A	clareza	dessa	consciência	é	traduzida	pela
lucidez.	Quando	o	paciente	está	desperto,	recebendo	e	devolvendo
informações	com	o	meio	ambiente,	está	lúcido.	As	alterações	da	consciência
podem	ser	quantitativas	e	qualitativas.
Em	seu	aspecto	quantitativo,	a	consciência	pode	estar	diminuída	ou
aumentada.	Dentre	as	diminuições	da	consciência,	a	forma	mais	suave	é
denominada	obnubilação,	que	resulta	em	intensificação	dos	estímulos	para	se
obter	acesso	eficiente	à	consciência.	Ocorre	diminuição	da	sensopercepção,
lentidão	da	compreensão	e	da	elaboração	das	impressões,	lentificação	no
ritmo	e	alteração	no	curso	do	pensamento,	prejuízo	da	memória,	algum	grau
de	desorientação	e	sonolência	mais	ou	menos	acentuada.	Se	na	diminuição	da
consciência	os	estímulos	para	determinar	manifestações	primitivas	como
gemer	ou	balbuciar	são	muito	intensos,	fala-se	em	estupor.	Um	grau	mais
aprofundado,	ou	seja,	a	abolição	total	do	contato	entre	o	indivíduo	e	o	meio	é
denominada	estado	de	coma.
Qualitativamente,	a	consciência	é	avaliada	como	a	aptidão	em	apreender
todos	os	fenômenos	interiores	ou	exteriores	e	integrá-los	a	um	contexto	real
das	circunstâncias	ocorridas	no	presente,	no	passado	e	que	ocorrerão
futuramente.
As	alterações	qualitativas	são	apresentadas	a	seguir.
a)	Estado	crepuscular
É	um	estreitamento	transitório	da	consciência,	com	a	conservação	deatividade	mais	ou	menos	coordenada	e	mais	ou	menos	automática.
Normalmente,	há	a	falsa	aparência	de	que	o	paciente	está	compreendendo	a
situação.	Em	geral,	a	percepção	do	mundo	exterior	é	imperfeita	ou	de	todo
inexistente.	Os	estados	crepusculares	costumam	desaparecer	rapidamente,
mas,	em	alguns	casos,	podem	durar	muitos	dias.	Apresentam-se	e	terminam
de	modo	súbito,	acompanhados	de	amnésia	em	relação	às	vivências	acessuais.
b)	Dissociação	da	consciência
Ocorre	fragmentação	ou	divisão	do	campo	da	consciência,	com	perda	da
unidade	psíquica	do	ser	humano.	Observa-se	estado	semelhante	ao	sonho,
podendo	ocorrer	em	estados	dissociativos	e	de	ansiedade	intensa.
c)	Transe
É	o	fenômeno	em	que	a	pessoa	se	sente	transformada	em	outra,	como	uma
“despersonalização”.	Desaparece	a	relação	entre	o	corpo	e	os	objetos	do	meio
exterior,	como	impossibilidade	de	estabelecer	a	distinção	entre	o	que	é
próprio	e	o	que	pertence	ao	exterior.	Pode	ocorrer	em	contextos	religiosos
(não	sendo	patológico),	casos	neurológicos	ou	início	de	psicoses.
d)	Polarização	da	consciência	ou	estado	hipnótico
É	a	orientação	forçada	da	consciência	em	determinado	sentido,	segundo	forte
tendência	afetiva.	É	uma	atitude	mais	focal	e	profunda	do	que	o	estado
crepuscular	e	nem	sempre	sugere	estado	patológico.	É	possível	que,	tocado
por	intensa	motivação	afetiva,	o	indivíduo	concentre	toda	a	sua	consciência
em	um	dado	ponto	(música	ou	imagem),	desconsiderando	os	demais
estímulos	à	sua	volta.
B	-	Atenção
A	atenção	é	um	processo	psíquico	que	concentra	a	atividade	mental	sobre
determinado	ponto,	traduzindo	um	esforço	mental,	e	resulta	de	atividade
deliberada	e	consciente	do	indivíduo.	Existem	a	atenção	voluntária	(ativa	e
intencional	–	capacidade	de	ler	um	livro,	por	exemplo)	e	a	espontânea	(por
algum	interesse	incidental	e	momentâneo	por	algum	objeto	–	capacidade	de
parar	de	ler	o	livro	para	focar	em	algum	barulho	que	acontece	no	momento,
por	exemplo).
C	-	Orientação
Pode-se	definir	orientação	como	um	complexo	de	funções	psíquicas	pelo	qual
tomamos	consciência	da	situação	real	em	que	nos	encontramos.	A	orientação
pode	ser	inferida	da	avaliação	do	estado	de	consciência	e	está	intimamente
ligada	às	noções	de	tempo	e	espaço.
Em	geral,	o	1º	sentido	de	orientação	perdido	é	o	do	tempo;	depois,	o	do
espaço,	que	envolve	deslocamento	e	localização	e,	num	estado	mais	grave,	a
“desorientação	do	próprio	eu”	(identidade	e	corpo).
D	-	Sensopercepção
Sensação	é	o	fenômeno	elementar	gerado	por	estímulos	físicos,	químicos	ou
biológicos,	que	produzem	estimulação	dos	órgãos	receptores.	Percepção	é	a
tomada	de	consciência	de	tal	estímulo	sensorial.	Podem	acontecer	alterações
quantitativas	e	qualitativas.
a)	Quantitativas
b)	Qualitativas
Dica
Ilusão	é	a	percepção	deformada	da	realidade,	uma	interpretação	errônea	do
que	existe,	enquanto	alucinação	é	percepção	real	de	um	objeto	inexistente,
ou	seja,	sem	um	estímulo	externo.
E	-	Memória
Memória	é	a	capacidade	de	registrar,	manter	e	evocar	fatos	passados.	Há	4
dimensões	principais	do	seu	funcionamento:
A	função	mnésica	pode	ser	avaliada	pela	rapidez,	precisão	e	cronologia	das
informações	oferecidas	pelo	próprio	paciente,	assim	como	a	observação	da
capacidade	de	fixação.	A	memória	pode	ser	imediata,	de	curto	ou	de	longo
prazo.
Podem	existir	as	alterações	quantitativas:	hipermnésia	(aceleração	psíquica)	e
hipomnésias	ou	amnésias.	As	últimas	podem	ser	anterógradas	(o	paciente	não
consegue	fixar	memória	a	partir	do	evento	que	causou	o	dano	cerebral)	ou
retrógradas	(perda	da	memória	para	fatos	ocorridos	antes	do	trauma).	Podem,
também,	ocorrer	amnésias	lacunares,	ou	seletivas.
O	exame	da	memória	passada	(retrógrada)	é	feito	com	perguntas	sobre	o
passado	do	paciente	e	data	de	acontecimentos	importantes.	Contradições	nas
informações	podem	indicar	dificuldades.	Com	relação	à	memória	recente
(anterógrada),	podem	ser	feitas	perguntas	rápidas	e	objetivas,	como	“O	que
você	fez	hoje?”	ou	dizer	um	número	de	4	ou	5	algarismos	ou	uma	série	de
objetos	e	pedir	para	que	o	paciente	os	repita	após	alguns	minutos.	Para	o
exame	da	memória	de	retenção,	pode-se	pedir	a	ele	que	repita	algarismos	na
ordem	direta	e	depois	inversa.
Dica
A	amnésia	pode	ser	anterógrada	(o	paciente	não	fixa	a	memória	a	partir	do
evento	que	causou	o	dano),	retrógrada	(perda	para	fatos	ocorridos	antes	do
trauma)	e	lacunar	ou	seletiva.
A	maior	parte	das	alterações	da	memória	provém	de	síndromes	orgânicas
(amnésia,	hipermnésia	ou	hipomnésia).	As	alterações	qualitativas,	ou
paramnésias,	são	lembranças	deformadas,	que	não	correspondem	à
sensopercepção	original.
F	-	Afetividade
A	afetividade	compreende	o	estado	de	ânimo	ou	de	humor,	os	sentimentos,	as
emoções	e	as	paixões	e	reflete	sempre	a	capacidade	de	experimentar
sentimentos	e	emoções.	É	ela	que	determina	a	atitude	geral	do	indivíduo
diante	de	qualquer	experiência	vivencial,	promove	os	impulsos	motivadores	e
inibidores,	percebe	os	fatos	de	maneira	agradável	ou	sofrível,	confere
disposição	indiferente	ou	entusiasmada	e	determina	sentimentos	que	oscilam
entre	2	polos:	depressão	e	euforia.
A	afetividade	divide-se,	basicamente,	em:
Humor:	um	estado	de	ânimo;	é	a	disposição	afetiva	de	fundo,	que
penetra	em	toda	a	experiência	psíquica	do	indivíduo.	Algumas	alterações
de	humor	são:
Hipertimia:	euforia;
Hipotimia:	depressão;
Disforia:	irritabilidade,	mau	humor.
Afeto:	o	tônus	emocional	que	acompanha	uma	ideia	ou	representação
mental.
G	-	Pensamento
Por	meio	do	pensamento	ou	do	raciocínio,	o	ser	humano	é	capaz	de
manifestar	suas	possibilidades	de	adaptar-se	ao	meio.	É	por	ele	que	se
elaboram	conceitos,	articulam-se	juízos,	constrói-se,	compara-se,	solucionam-
se	problemas,	elaboram-se	conhecimentos	adquiridos	e	ideias,	transforma-se	e
cria-se.
É	importante	a	investigação	do	curso,	da	forma	e	do	conteúdo	do	pensamento.
a)	Curso
Trata-se	da	velocidade	com	que	o	pensamento	é	expresso	e	pode	ir	do
acelerado	ao	lentificado.
b)	Forma
c)	Conteúdo
As	perturbações	no	conteúdo	do	pensamento	estão	associadas	a	determinadas
alterações,	como	as	obsessões,	as	fobias	e,	especialmente,	os	delírios.
Para	classificar	uma	ideia	como	delirante,	deve-se	considerar	alguns	aspectos:
a	incorrigibilidade	(não	há	como	modificar	a	ideia	delirante	por	meio	de
correções),	a	influenciabilidade	(a	vivência	é	muito	intensa;	chega	a	ser	mais
fácil	o	delirante	influenciar	a	pessoa	dita	normal)	e	a	incompreensibilidade
(não	pode	ser	explicada	logicamente).	O	delírio	é	uma	convicção	íntima	e
irremovível,	contra	a	qual	não	há	argumento.
Dica
Uma	ideia	delirante	deve	ter	aspectos	como	incorrigibilidade,
influenciabilidade	e	incompreensibilidade.
Os	delírios	podem	ser	primários	(núcleo	da	doença)	ou	secundários
(consequentes	à	situação	social,	manifestação	afetiva	ou	disfunção	cerebral).
H	-	Linguagem
A	linguagem	é	considerada	um	processo	mental	predominantemente
consciente,	significativo,	além	de	ser	orientada	para	o	social.	É	um	processo
dinâmico	que	se	inicia	na	percepção	e	termina	na	palavra	falada	ou	escrita	e,
por	isso,	se	modifica	constantemente.
As	alterações	mais	comuns	são	disartrias	(má	articulação	de	palavras),	afasias
(perturbações	por	danos	cerebrais	que	implicam	dificuldade	ou	incapacidade
de	compreender	e	utilizar	os	símbolos	verbais),	verbigeração	(repetição
incessante	de	palavras	ou	frases),	parafasia	(emprego	inapropriado	de
palavras	com	sentidos	parecidos),	neologismo	(criação	de	palavras	novas),
jargonofasia	(“salada	de	palavras”),	mussitação	(voz	murmurada	em	tom
baixo),	logorreia	(fluxo	incessante	e	incoercível	de	palavras)	e	pararrespostas
(responde	a	uma	indagação	com	algo	sem	relação	alguma	com	o	que	foi
perguntado).
I	-	Vontade/volição
A	vontade,	relacionada	aos	atos	voluntários,	é	uma	disposição	(energia)
interior	com	o	princípio	de	alcançar	um	objetivo	consciente	e	determinado.
O	indivíduo	pode	apresentar-se	normobúlico	(vontade	normal),	ter	a	vontade
rebaixada	(hipobulia),	uma	exaltação	patológica	(hiperbulia),	responder	a
solicitações	repetidas	e	excessivas	(obediência	automática),concordar	com
tudo	o	que	é	dito,	mesmo	que	sejam	juízos	contraditórios	(sugestionabilidade
patológica),	realizar	atos	contra	a	sua	vontade	(compulsão),	duvidar
exageradamente	do	que	quer	(dúvida	patológica),	opor-se	de	forma	passiva	ou
ativa	às	solicitações	(negativismo),	repetir	de	forma	automática	as	palavras	ou
ações	do	entrevistador	(ecolalia	e	ecopraxia).
J	-	Psicomotricidade
A	psicomotricidade	pode	estar	normal,	diminuída	(hipocinesia),	inibida
(acinesia)	ou	exaltada	(hipercinesia).	O	paciente	pode	apresentar	maneirismos
(movimentos	bizarros	e	repetitivos),	estereotipias	posturais	(repetições
automáticas	e	uniformes),	automatismos,	flexibilidade	cérea	(tendência	a
manter-se	na	posição	colocada	pelo	examinador),	cataplexia	(perda	abrupta	do
tônus	muscular),	tiques	motores	e	alterações	na	marcha.
K	-	Consciência	do	eu
Este	item	se	refere	ao	fato	de	o	indivíduo	ter	a	consciência	dos	próprios	atos
psíquicos,	a	percepção	do	seu	eu,	como	o	sujeito	apreende	a	sua
personalidade.
L	-	Inteligência
O	que	se	faz	na	avaliação	da	inteligência	não	é	o	que	chamamos	de	“avaliação
fina”,	realizada	por	meio	de	testes;	o	objetivo	é	constatar	se	o	paciente	está
dentro	do	considerado	padrão	de	normalidade,	conseguindo	resolver	os
problemas	básicos	da	vida.	Devem-se	considerar	sempre	o	contexto
sociocultural	e	a	escolaridade	do	paciente.	As	deficiências	de	inteligência	são
os	retardos	mentais,	em	todos	os	seus	níveis.
3.	Exame	do	estado	mental	-	exame	psíquico
O	exame	psíquico	consiste	na	detalhada	avaliação	das	funções	psíquicas,	bem
como	das	impressões	e	das	observações	feitas	pelo	examinador	enquanto	está
em	contato	com	o	paciente.	Deve	ser	sempre	acompanhado	de	anamnese
completa,	com	identificação,	queixa	principal,	história	da	doença	atual,
história	patológica	pregressa,	história	pessoal	e	familiar.	Todo	paciente
psiquiátrico	deve	ser	submetido,	ainda,	ao	exame	físico.
Importante
O	exame	psíquico	deve	ser	completo	e	espelhar	exatamente	o	estado
mental	do	paciente	no	período	analisado.
Quanto	ao	psiquismo	do	paciente,	deve-se	seguir	um	roteiro	básico	de
observação.
-	Exemplo	de	exame	psíquico
Paciente	trajado	e	asseado	adequadamente;	vígil,	gesticulando	muito,
inquieto,	por	vezes	saindo	da	cadeira	para	andar	pela	sala;	coopera	com	o
entrevistador,	mas	se	mostra	um	tanto	irritado	com	as	perguntas;	linguagem
um	tanto	exaltada,	por	vezes	prolixo;	atenção	espontânea	e	voluntária
preservadas;	orientado	auto	e	alopsiquicamente;	humor	exaltado,	afeto
expandido;	pensamento	expansivo,	mas	sem	alteração	de	curso;	pragmatismo
preservado;	inteligência	sem	rebaixamento;	crítica	parcial	do	estado	mórbido.
4.	Classificações	em	Psiquiatria
São	usadas,	exclusivamente,	para	uniformizar	a	linguagem	médica	e	como
objeto	de	pesquisa.	São	elas:
A	-	DSM-5
O	Manual	Diagnóstico	e	Estatístico	de	Transtornos	Mentais	é	uma	publicação
da	American	Psychiatric	Association,	Washington	D.C.,	sendo	a	sua	5ª	edição
conhecida	pela	designação	DSM-5.	Fornece	critérios	de	diagnóstico	para	a
generalidade	das	perturbações	mentais,	incluindo	componentes	descritivos,	de
diagnóstico	e	tratamento,	constituindo	um	instrumento	de	trabalho	de
referência	para	os	profissionais	da	saúde	mental.
No	DSM-5,	os	diagnósticos	psiquiátricos	são	formulados	de	acordo	com	uma
avaliação	multiaxial,	que	estabelece	5	eixos.
B	-	CID-10
A	Classificação	Internacional	de	Doenças	e	Problemas	Relacionados	à	Saúde
(também	conhecida	como	Classificação	Internacional	de	Doenças	–	CID-10)
foi	publicada	pela	Organização	Mundial	da	Saúde	(OMS)	em	1992	e	visa
padronizar	a	codificação	de	doenças	e	outros	problemas	relacionados	à	saúde.
A	CID-10	fornece	códigos	relativos	à	classificação	de	doenças	e	de	uma
grande	variedade	de	sinais,	sintomas,	aspectos	anormais,	queixas,
circunstâncias	sociais	e	causas	externas	para	ferimentos	ou	doenças.	A	cada
estado	de	saúde	é	atribuída	uma	categoria	única	à	qual	corresponde	um
código	CID-10.	Essa	é	a	classificação	usada	para	laudos,	atestados	e	pareceres
médicos.
A	OMS	lançou,	em	junho	de	2018,	sua	nova	Classificação	Estatística
Internacional	de	Doenças	e	Problemas	Relacionados	à	Saúde	(CID-11),	que
será	apresentada	para	adoção	em	maio	de	2019	(durante	a	Assembleia
Mundial	da	Saúde)	e	entrará	em	vigor	em	1º	de	janeiro	de	2022.
Dica
Documentos	médicos	com	fins	judiciais	devem	utilizar	o	CID-10,	enquanto
o	DSM-5	é	usado	em	prontuários	e	discussões.
Resumo
Exame	psíquico:	apresentação,	atitude,	linguagem,	consciência,	atenção,
orientação,	humor,	afeto,	sensopercepção,	orientação,	pensamento,
memória,	inteligência,	pragmatismo	e	crítica;
Classificações	em	Psiquiatria:	CID-10	e	DSM-5.
Transtornos	mentais	orgânicos
Licia	Milena	de	Oliveira
1.	Introdução
O	agrupamento	dos	transtornos	mentais	orgânicos	compreende	uma	série	de
transtornos	mentais	reunidos,	tendo	em	comum	uma	etiologia	demonstrável,
como	doença,	lesão	cerebral	ou	outro	comprometimento	que	leva	a
disfunção	cerebral.	A	disfunção	pode	ser	primária,	em	ação	direta	sobre	o
sistema	nervoso,	ou	secundária.	O	comprometimento	que	ocorre	é	o	das
funções	cognitivas	(memória,	linguagem,	atenção);	por	vezes,	precedido	de
deterioração	do	controle	emocional,	do	comportamento	social	ou	da
motivação.	As	principais	síndromes	mentais	orgânicas	são	o	delirium	e	a
demência.
2.	Delirium
A	-	Definição
Delirium,	ou	estado	confusional	agudo,	é	uma	síndrome	clínica
caracterizada	por	rebaixamento	súbito	do	nível	de	consciência,
comprometimento	da	atenção,	distúrbios	da	percepção	(distorções,	ilusões	e
alucinações),	distúrbio	da	capacidade	de	compreensão	e	de	abstração,
delírios	pouco	estruturados	e	fugazes,	déficit	de	memória	de	fixação	e
relativa	preservação	da	memória	remota,	desorientação	(mais	comumente	no
tempo),	comprometimento	da	atividade	psicomotora	(aumento	ou	redução),
alteração	do	ciclo	sono-vigília,	transtornos	emocionais	(depressão,
ansiedade,	medo,	irritabilidade,	euforia,	apatia,	perplexidade),	com	início
abrupto	dos	sintomas	e	flutuação	ao	longo	do	dia,	tendendo	a	piorar	à	noite.
Tem	duração	limitada,	em	geral	dias	ou	semanas,	e	os	sintomas	desaparecem
quando	o	fator	de	causa	é	identificado	e	tratado.
Dica
No	delirium,	há	rebaixamento	súbito	de	consciência,	comprometimento	da
atenção	(característica	mais	importante),	distúrbios	perceptivos	e	de
compreensão,	desorientação	e	alteração	ciclo	sono-vigília.	Apresenta	início
abrupto	e	curso	flutuante.
B	-	Epidemiologia
Trata-se	de	um	transtorno	bastante	frequente,	principalmente	entre	pacientes
internados.	Dados	revisados	da	literatura	médica	apontam	a	presença	de
delirium	em	cerca	de	30%	dos	pacientes	que	estão	em	unidades	cirúrgicas	de
tratamento	intensivo	e	unidades	cardíacas	de	cuidados	intensivos	e	40	a	50%
dos	que	estão	se	recuperando	de	cirurgias	por	fraturas	de	quadril.	O	delirium
pode	acometer	até	80%	dos	pacientes	criticamente	enfermos	sob	ventilação
mecânica,	segundo	estudos	americanos	e	canadenses.	Porém,	é	comumente
subdiagnosticado;	aproximadamente	70%	dos	casos	não	são	reconhecidos
pelos	médicos,	o	que	leva	a	aumento	nas	taxas	de	mortalidade	e	morbidade,
declínio	da	capacidade	funcional	e	prolongamento	das	internações
hospitalares.
C	-	Etiologia
D	-	Diagnóstico
Quando	se	suspeita	do	diagnóstico	de	delirium,	é	essencial	tentar	encontrar	e
tratar	a	causa-base,	o	que	deve	ser	o	foco	principal	do	manejo.	Deve-se	fazer
exame	físico	completo,	revisão	de	prontuário	(procurando,	principalmente,
por	mudanças	de	comportamento,	inclusão	de	novas	drogas	ao	regime	e
resultados	de	exames	complementares)	e	solicitar	exames	laboratoriais	e	de
imagem	adequados.
a)	Exames	básicos
Hemograma	completo	com	diferencial	de	leucócitos;
Eletrólitos,	índices	renais	e	hepáticos,	glicemia;
Testes	de	função	da	tireoide;
Testes	sorológicos	para	sífilis;
Teste	sorológico	para	HIV;
Análise	de	urina;
Eletrocardiograma;
Eletroencefalograma;
Radiografia	torácica;
Triagem	para	drogas	no	sangue	e	na	urina.
b)	Exames	adicionais
Cultura	de	sangue,	urina	e	liquor;
Concentração	de	ácido	fólico	e	B12;
Tomografia	computadorizadaou	ressonância	magnética	do	cérebro;
Punção	lombar	e	exame	do	liquor.
Diagnóstico
É	importante	a	solicitação	de	todos	os	exames	laboratoriais,	pois	sempre
haverá	causa	orgânica	no	delirium.
E	-	Diagnósticos	diferenciais
Demência,	em	que	o	curso	é	mais	lento	e	insidioso	e	não	há
rebaixamento	do	nível	de	consciência.	Porém,	ambas	as	condições
podem	coexistir;
Mania	ou	outro	transtorno	psicótico,	em	que	o	paciente	também
apresenta	alucinações,	delírios,	pensamento	desorganizado	e	agitação,
mas	não	tem	alteração	da	consciência;
Depressão,	que	se	confunde,	sobretudo,	com	o	subtipo	sonolento	de
delirium.
F	-	Tratamento
O	tratamento	da	condição	médica	que	induz	à	agitação	é	primário.
Posteriormente,	se	necessário,	deve-se	sedar	com	neuroléptico	de	alta
potência	e	baixa	interferência	em	parâmetros	vitais:	haloperidol	(Haldol®),
5mg	IM,	a	cada	30	minutos,	até	obter	sedação,	com	possibilidade	de	dose
máxima	entre	45	e	100mg	em	24	horas.	Pode-se	utilizar	neuroléptico	atípico,
como	risperidona,	1	a	2mg	VO,	ou	ziprasidona,	40mg	VO.
Deve-se	manter	cerca	de	metade	da	dose	inicialmente	eficaz,	intramuscular
ou	oral,	com	redução	progressiva	à	medida	que	os	sintomas	remitem.	A	dose
de	manutenção	em	idosos	deve	ser	menor:	1mg	VO,	a	cada	12	horas.
Tratamento
O	tratamento	de	delirium	envolve	o	manejo	específico	da	afecção	orgânica
primária	e,	se	necessário,	o	controle	da	agitação,	com	haloperidol	5mg	IM,
a	cada	30	minutos,	até	45	a	100mg	em	24	horas,	risperidona	1	a	2mg	VO
ou	ziprasidona	40mg	VO.
3.	Demência
A	-	Definição
A	demência	é	uma	síndrome	progressiva	que	apresenta	múltiplos
comprometimentos	da	função	cognitiva.	As	3	características	principais	são:
Esquecimento	ou	problemas	com	a	memória;
Problemas	de	comportamento	(agitação,	insônia,	choro	fácil,
comportamentos	inadequados);
Perda	das	habilidades	adquiridas	durante	a	vida	(dirigir,	vestir	a	roupa,
gerenciar	a	vida	financeira,	cozinhar	etc.).
B	-	Etiologia
A	demência	pode	ter	várias	causas,	algumas	delas	reversíveis	(15%	dos
casos).	A	mais	comum	é	a	doença	de	Alzheimer	(50%	dos	casos),	seguida	da
demência	vascular	(15%	dos	casos).
Outros	fatores	que	podem	causar	demência	são:
Drogas	e	toxinas;
Tumores	cerebrais;
Traumatismo	cranioencefálico;
Hidrocefalia	de	pressão	normal;
Transtornos	neurodegenerativos:	Parkinson,	Huntington,	Pick;
Infecções:	sífilis,	encefalite,	HIV;
Transtornos	nutricionais	e	metabólicos.
Dica
A	doença	de	Alzheimer	é	a	causa	mais	comum	de	demências.
C	-	Diagnóstico
Devem	ser	solicitados	exames	laboratoriais	tanto	para	diagnóstico	quanto
para	tentar	estabelecer	a	etiologia	da	demência.	São	os	mesmos	exames
realizados	nos	casos	de	delirium.
a)	Doença	de	Alzheimer
A	doença	é	diagnosticada	depois	de	excluídas	as	demais	causas	de	demência,
já	que	seu	diagnóstico	definitivo	é	o	exame	anatomopatológico	do	cérebro.
Ocorre	quadro	de	início	insidioso,	sendo	os	déficits	de	memória	os	primeiros
sintomas.	A	doença	progride	em	fases.
Vários	estudos	demonstraram	que	a	doença	de	Alzheimer	é	idade-
dependente	e	que	o	risco	aumenta	em	familiares,	demonstrando	que	a
genética	está	fortemente	relacionada.	A	hereditariedade	está	muito	mais
marcada	na	chamada	doença	de	Alzheimer	familiar	(15	a	20%),	cujo	início	é
precoce,	antes	dos	65	anos,	do	que	na	doença	de	Alzheimer	esporádica	(80	a
85%),	caracterizada	pelo	aparecimento	em	idades	mais	avançadas.	A	forma
familiar	está	relacionada	à	herança	autossômica	dominante	com	penetrância
idade-dependente.	Já	na	forma	esporádica,	há	um	padrão	de	alta	frequência	e
baixa	penetrância,	distúrbio	relacionado	a	um	único	gene	ou	um	modelo
multifatorial	com	múltiplos	genes	e/ou	fatores	não	genéticos.	O	componente
genético	parece	variar	de	família	para	família:	algumas	fortemente
relacionadas,	outras	sem	grande	relevância.
b)	Demência	vascular
A	demência	vascular	é	causada	por	várias	enfermidades,	que	têm	em	comum
origem	vascular,	derrame	ou	trombose,	além	da	obstrução	de	pequeninas
artérias	cerebrais	(Binswanger),	ou	por	causas	cardiorrespiratórias	(parada
cardíaca	ou	outra	causa	de	falta	de	oxigênio	no	cérebro).
Apresenta	quadro	clínico	de	demência	mais	agudo	(repentino)	após	evento
neurológico,	como	derrame	ou	trombose.	O	diagnóstico	é	feito	pelo	exame
clínico	e	por	tomografia	computadorizada	ou	ressonância	magnética	de
crânio.
Dica
Suspeita-se	de	demência	vascular	na	presença	de	quadro	abrupto,
alterações	no	exame	neurológico	e	histórico	de	doença	cardiovascular.
D	-	Tratamento	das	demências
Se	for	por	causa	reversível,	deve-se	tratar	as	demências	o	mais	rápido
possível.	Nas	degenerativas,	deve-se	manejar	os	transtornos	de
comportamento	com	antipsicóticos	em	doses	baixas	(Haldol®,	1	a	2mg/d;
risperidona,	1	a	2mg/d).	A	doença	de	Alzheimer	pode	estabilizar-se	com	um
inibidor	de	colinesterase	(rivastigmina,	donepezila,	tacrina).	Na	demência
vascular,	deve-se	controlar	a	doença	de	base	para	prevenir	novos	infartos.
São	fundamentais	orientação	familiar	e	suporte	psicossocial.
4.	Diagnósticos	diferenciais
A	depressão	é	o	estado	psiquiátrico	mais	comum	que	pode	apresentar-se	sob
a	forma	de	demência.	O	termo	pseudodemência	indica	que	portadores	de
doença	depressiva	podem	apresentar	quadro	demencial.	Quando
convenientemente	tratados,	respondem	muito	bem,	chegando
frequentemente	à	remissão	completa	do	quadro	demencial,	o	que	não
acontece	nas	demências	de	Alzheimer	ou	vascular.
Resumo
Os	transtornos	mentais	orgânicos	compreendem	afecções	que	têm	em
comum	uma	etiologia	demonstrável,	como	doença,	lesão	cerebral	ou
outro	comprometimento	que	leva	a	disfunção	cerebral;
Ocorre	comprometimento	das	funções	cognitivas	(memória,	linguagem,
atenção),	deterioração	do	controle	emocional,	do	comportamento	social
ou	da	motivação;
As	principais	síndromes	mentais	orgânicas	são:
Delirium;
Demência.
Delirium
Delirium,	ou	estado	confusional	agudo,	é	caracterizado	por	rebaixamento
súbito	do	nível	de	consciência,	comprometimento	da	atenção,	distúrbios
da	percepção,	distúrbio	da	capacidade	de	compreensão	e	abstração,
déficit	de	memória	de	fixação	e	outros.	Tem	duração	limitada	de	dias	ou
semanas,	e	os	sintomas	desaparecem	após	o	fator	de	causa	ser
identificado	e	tratado;
Tem	diversas	etiologias,	como:
Infecções	sistêmicas;
Infecção	do	trato	urinário;
Desequilíbrio	eletrolítico;
Hipoglicemia;
Hipóxia;
Trauma;
Abstinência	de	substâncias;
Medicamentos;
Toxinas.
Para	o	diagnóstico,	é	necessário	tentar	encontrar	e	tratar	a	causa-base.	Os
exames	que	devem	ser	solicitados	são:	hemograma;	eletrólitos;	ureia;
creatinina;	TGO;	TGP;	glicemia;	TSH;	T4;	VDRL;	teste	de	HIV;	urina	I;
eletrocardiograma;	radiografia	de	tórax;	teste	de	drogas	no	sangue	e	na
urina;	ácido	fólico;	B12;	tomografia	de	crânio;	liquor,	quando
necessário;
Diagnóstico	diferencial	com:
Depressão;
Mania;
Transtorno	psicótico.
Tratamento:	é	fundamental	tratar	a	causa-base	e,	se	agitação,	utilizar
haloperidol.
Demência
A	demência	é	uma	síndrome	progressiva	com	comprometimento	da
função	cognitiva,	principalmente:
Problemas	de	memória;
Problemas	de	comportamento;
Perda	de	habilidades	adquiridas	ao	longo	da	vida.
Pode	ser	reversível	ou	irreversível;
As	principais	formas	são:
Alzheimer;
Vascular.
A	doença	de	Alzheimer	é	diagnosticada	após	a	exclusão	de	outras
causas,	é	geneticamente	relacionada	e	tem	quadro	insidioso,	com	3	fases:
Inicial:	perda	de	memória;
Intermediária:	deterioração	das	habilidades	verbais;
Avançada:	tendência	de	perda	da	fala.
A	demência	vascular	é	causada	por	doenças	de	origem	vascular	e
apresenta	quadro	mais	agudo.
Transtornos	mentais
decorrentes	de	substâncias
psicoativas
Licia	Milena	de	Oliveira
1.	Conceitos	gerais
Os	conceitos	definidos	segundo	o	Compêndio	de	Psiquiatria:	Ciência	do
Comportamento	e	Psiquiatria	Clínica	e	o	consenso	de	Abuso	e	Dependência
do	Álcool	(2002),	da	Associação	Brasileira	de	Psiquiatria	(ABP),	estão
apresentados	a	seguir.
A	-	Substâncias	psicoativas	ou	drogas
Substâncias	psicoativas,	ou	drogas,	são	substâncias	que	alteram	o
comportamento	do	usuário	e	o	induzema	usá-las	novamente.	São
classificadas	de	acordo	com	o	efeito	que	causam	no	cérebro,	em	depressoras
(álcool,	inalantes,	opioides),	estimulantes	(cocaína,	nicotina	e	anfetamina)	e
alucinógenas	(LSD).
B	-	Abuso	de	substâncias
A	característica	essencial	do	abuso	de	substâncias	é	um	padrão	mal	adaptativo
de	uso,	manifestado	por	consequências,	significativamente	danosas	e
recorrentes,	relacionadas	ao	uso	repetido	da	substância.
Em	decorrência	do	abuso,	pode	haver	fracasso	repetido	em	cumprir
obrigações	importantes,	uso	repetido	em	situações	em	que	isso	apresenta
perigo	físico,	problemas	legais,	sociais	e	interpessoais.	Tais	problemas	devem
ser	recorrentes	(com	recaídas)	durante	um	período	de	12	meses.	A	diferença
entre	dependência	e	abuso	de	substâncias	diz	respeito	à	tolerância	(aumento
na	quantidade	consumida),	à	abstinência	(crise	por	falta	da	substância)	ou	a
um	padrão	de	uso	compulsivo.
Embora	um	diagnóstico	de	abuso	de	substâncias	seja	mais	provável	em
indivíduos	que	começaram	recentemente	a	consumi-las,	alguns	indivíduos
continuam	por	longo	período	sofrendo	as	consequências	sociais	adversas
relacionadas	a	ela,	sem	desenvolverem	evidências	de	dependência	de
substância.	A	categoria	“abuso	de	substância”	não	se	aplica	à	nicotina	e	à
cafeína.
C	-	Dependência
Dependência	é	a	presença	de	um	agrupamento	de	sintomas	psicofisiológicos,
indicando	que	a	pessoa	continua	a	usar	a	substância	apesar	dos	problemas
significativos	relacionados	a	ela.	Há	um	padrão	de	uso	repetido	que,	em	geral,
resulta	em	tolerância,	abstinência	(dependência	física)	e	comportamento
compulsivo	de	consumo	da	droga,	com	impulso	irrefreável	para	consumi-la
(dependência	psicológica).
Um	diagnóstico	de	dependência	de	substância	pode	ser	aplicado	a	toda	classe
de	substâncias,	exceto	à	cafeína.	Os	sintomas	de	dependência	são	similares
entre	as	várias	categorias	de	substâncias,	mas,	para	certas	classes,	alguns	são
menos	salientes	e,	em	certos	casos,	nem	todos	os	sintomas	se	manifestam.
Dica
Para	haver	dependência,	deve	haver	abstinência	(dependência	física),
comportamento	compulsivo	de	consumo	com	impulso	irrefreável
(dependência	psicológica)	e	tolerância.	O	uso	diário	de	substância	não	é
critério	para	dependência.
D	-	Tolerância
Tolerância	é	a	necessidade	de	crescentes	quantidades	da	substância	para
atingir	o	efeito	desejado	ou	um	efeito	acentuadamente	diminuído	com	o	uso
continuado	da	mesma	quantidade	da	substância.	O	grau	em	que	a	tolerância	se
desenvolve	varia	imensamente.	Indivíduos	em	uso	intenso	de	opioides	e
estimulantes	podem	desenvolver	níveis	substanciais	(multiplicados	por	10)	de
tolerância.	Em	geral,	a	tolerância	ao	álcool	é	muito	menos	extrema	do	que	no
caso	das	anfetaminas.	Muitos	tabagistas	consomem	mais	de	20	cigarros/dia,
quantidade	que	teria	produzido	sintomas	de	toxicidade	quando	começaram	a
fumar.	Os	indivíduos	em	uso	intenso	de	maconha,	em	geral,	não	têm
consciência	de	que	desenvolveram	tolerância	(embora	esta	tenha	sido
demonstrada	em	estudos	com	animais	e	em	alguns	indivíduos).
E	-	Síndrome	de	abstinência
A	síndrome	de	abstinência	é	uma	alteração	comportamental	mal	adaptativa,
com	elementos	fisiológicos	e	cognitivos,	que	ocorre	quando	as	concentrações
de	uma	substância	no	sangue	e	nos	tecidos	declinam	em	um	indivíduo	que
manteve	uso	intenso	e	prolongado	dela.	Após	o	desenvolvimento	dos
sintomas	desagradáveis	de	abstinência,	a	pessoa	tende	a	consumir	a
substância	para	aliviá-los	ou	evitá-los,	tipicamente	o	dia	inteiro,	começando
logo	após	o	despertar.	Os	sintomas	de	abstinência	variam	imensamente	entre
as	classes	de	substâncias,	de	modo	que	são	oferecidos	conjuntos	separados	de
critérios	de	abstinência	para	a	maioria	das	classes.	Sinais	acentuados	e,	com
frequência,	facilmente	mensuráveis	de	abstinência	são	comuns	com	álcool,
opioides	e	sedativos,	hipnóticos	e	ansiolíticos.	Os	sinais	e	sintomas	de
abstinência	com	frequência	estão	presentes,	mas	podem	ser	menos	visíveis	no
caso	de	estimulantes,	como	anfetaminas,	cocaína	e	nicotina.	Nenhuma
abstinência	significativa	é	vista,	mesmo	após	o	uso	repetido	de	alucinógenos.
Dica
Tolerância	e	abstinência	estão	presentes	na	dependência	de	substâncias	e
ausentes	no	abuso	de	substâncias.
F	-	Intoxicação
A	intoxicação	é	o	desenvolvimento	de	uma	síndrome	reversível	específica,
ocasionada	pela	recente	ingestão	de	uma	substância	(ou	exposição	a	ela).
Diferentes	substâncias	podem	produzir	síndromes	similares	ou	idênticas.
Alterações	comportamentais	ou	psicológicas	clinicamente	significativas	e	mal
adaptativas,	em	razão	do	efeito	da	substância	sobre	o	Sistema	Nervoso
Central	(SNC	–	beligerância,	instabilidade	do	humor,	prejuízo	cognitivo,
comprometimento	da	memória,	prejuízo	no	funcionamento	social	ou
ocupacional),	que	se	desenvolvem	durante	ou	logo	após	o	uso	da	substância.
Os	sintomas	não	são	atribuídos	a	uma	condição	médica	geral	nem	são	mais
bem	explicados	por	outro	transtorno	mental.
Na	intoxicação	por	ADT	pode-se	encontrar	agitação	ou	sedação,	midríase,
taquicardia,	convulsões	generalizadas,	perda	da	consciência,	depressão
respiratória,	arritmia	cardíaca,	parada	cardíaca	e	morte.	Tendo	em	vista	a
grande	afinidade	proteica	dos	ADTs,	sua	eliminação	por	diálise	ou	diurese	é
muito	difícil.	Nos	casos	de	intoxicação,	indica-se	o	uso	de	anticolinesterásicos
(fisostigmina	ou	Prostigmine®	intramusculares	ou	intravenosas)	e	medidas	de
sustentação	geral.	Na	intoxicação	por	anticolinesterásico,	como	os
organofosforados,	as	manifestações	tóxicas	se	devem	à	inibição	da
acetilcolinesterase	no	sistema	nervoso.	Manifestações	muscarínicas	incluem
miose,	lacrimejamento	aumentado,	broncoespasmo,	visão	turva,	broncorreia,
diaforese,	salivação,	bradicardia,	hipotensão,	incontinência	urinária	e
motilidade	gastrintestinal	aumentada.	Manifestações	nicotínicas	incluem
fasciculações,	fraqueza	muscular,	hipotensão,	cãibras	e	paralisia	respiratória.
Toxicidade	do	SNC	gera	ansiedade,	fala	pastosa,	alterações	do	estado	mental
(delirium,	coma	e	convulsões)	e	depressão	respiratória.
G	-	Dados	epidemiológicos
2.	Álcool
Tema	frequente	de	prova
A	dependência	alcoólica,	bem	como	suas	consequências,	estão	presentes
nas	questões.
A	-	Mecanismo	de	ação
Quando	consumido,	o	álcool	passa	pelo	estômago	e	começa	a	ser	absorvido
no	intestino,	caindo	na	corrente	sanguínea.	Ao	passar	pelo	fígado,	começa	a
ser	metabolizado.	A	1ª	substância	formada	pelo	álcool	chama-se	acetaldeído,
depois	convertido	em	acetato	por	outras	enzimas.	Essas	substâncias,	como	o
álcool	excedente,	são	eliminadas	pelos	rins.	As	que,	eventualmente,	voltam	ao
fígado,	são	transformadas	em	água	e	gás	carbônico	expelido	pelos	pulmões.	A
passagem	do	intestino	para	o	sangue	ocorre	conforme	a	velocidade	com	que	o
álcool	é	ingerido;	já	o	processo	de	degradação	do	álcool	pelo	fígado	obedece
a	um	ritmo	fixo,	podendo	ser	ultrapassado	pela	quantidade	consumida.
Quando	isso	ocorre,	tem-se	a	intoxicação	pelo	álcool	(estado	de	embriaguez).
Como	a	quantidade	de	enzimas	é	regulável,	um	indivíduo	em	uso	contínuo	de
álcool	acima	do	necessário	estará	produzindo	mais	enzimas	metabolizadoras
do	álcool,	tornando-se	mais	“resistente”	a	ele.	A	presença	de	alimentos	no
intestino	lentifica	a	absorção	do	álcool.	Apesar	de	ser	altamente	calórico,	o
álcool	não	fornece	material	estocável,	assim	a	energia	oferecida	é	utilizada
enquanto	ele	circula	ou	é	perdida.	O	dano	físico	direto	do	álcool	sobre	o
cérebro	é	um	fato	inquestionavelmente	confirmado.	A	parte	mais	afetada
costuma	ser	o	córtex	pré-frontal,	responsável	pelas	funções	intelectuais
superiores,	como	raciocínio,	capacidade	de	abstração	de	conceitos	e	lógica.
Os	mesmos	estudos	que	investigam	as	imagens	do	cérebro	identificam	uma
correspondência	linear	entre	a	quantidade	de	álcool	consumida	ao	longo	do
tempo	e	a	extensão	do	dano	cortical.	Quanto	mais	álcool,	maior	o	dano.
Depois	do	córtex,	as	áreas	envolvidas	são	as	relacionadas	com	a	memória	e	o
cerebelo,	que	é	a	parte	responsável	pela	coordenação	motora.	O	estresse
oxidativo,	decorrente	do	metabolismo	do	etanol,	produz	alto	nível	intracelularde	espécies	reativas	de	oxigênio	e	nitrogênio,	que	são	os	pontos	cardiais	da
patogênese	de	uma	série	de	complicações	clínicas	relacionadas	ao	álcool,
como	hepatopatia	alcoólica,	pancreatopatia	alcoólica,	miocardiopatia
alcoólica,	alterações	hematológicas	etc.	A	peroxidação	de	lipídios,	formando
ácidos	graxos,	também	contribui	com	as	lesões	orgânicas	advindas	do
metabolismo	do	álcool.	A	ação	do	etanol	interfere	em	macromoléculas
celulares,	em	ácidos	nucleicos	e	na	cascata	de	sinalização	intra	e	extracelular,
altera	as	mitocôndrias	e	produz	dano	no	retículo	endoplasmático,	no	DNA	e
nos	ribossomos.
B	-	Intoxicação
Os	estados	de	intoxicação	e	embriaguez	normalmente	são	obtidos	de	modo
voluntário.	Neles,	a	pessoa	tem	alteração	da	fala	(fala	arrastada),
incoordenação	motora,	ataxia,	nistagmo,	prejuízos	na	memória	e	atenção,
estupor	ou	coma	nos	casos	mais	extremos.	Em	geral,	junto	a	essas	alterações
neurológicas,	apresenta-se	um	comportamento	inadequado	ou	impróprio	da
pessoa	intoxicada.	O	tratamento	consiste	em	medidas	gerais	de	suporte	à	vida
e	atenção	para	trauma	cranioencefálico	e	broncoaspiração	de	vômitos,
bastante	comuns.	O	intoxicado	deve	receber,	sempre,	tiamina	antes	do	início
do	soro	glicosado,	para	prevenir	complicações	como	a	Síndrome	de
Wernicke-Korsakoff	(SWK).	Embriaguez	patológica	é	uma	condição	em	que,
com	ingestão	de	pequenas	doses	de	álcool,	há	comportamento	violento,
crepuscularização	da	consciência	e	amnésia	lacunar.
C	-	Abuso
O	critério	de	abuso	existe	para	caracterizar	as	pessoas	com	eventuais
problemas	em	razão	de	consumos	excessivos	de	álcool	em	curtos	períodos	de
tempo.	Para	o	diagnóstico,	é	preciso	que	o	paciente	esteja	tendo	problemas
com	álcool	durante,	pelo	menos,	12	meses	e	apresente,	pelo	menos,	1	das
seguintes	situações:
Prejuízos	significativos	no	trabalho,	na	escola	ou	na	família,	como	faltas
ou	negligências	nos	cuidados	com	os	filhos;
Exposição	a	situações	potencialmente	perigosas,	como	dirigir	ou
manipular	máquinas	perigosas	embriagado;
Problemas	legais,	como	desacato	a	autoridades	ou	a	superiores;
Persistência	no	uso	de	álcool,	apesar	do	apelo	das	pessoas	próximas	para
que	interrompa	o	uso.
D	-	Dependência
Para	o	diagnóstico	de	dependência	alcoólica,	é	preciso	que	o	usuário	venha
tendo	problemas	decorrentes	do	uso	de	álcool	durante	12	meses	seguidos	e
preencher,	ao	menos,	3	dos	seguintes	critérios	(CID-10):
Tolerância	ao	álcool:	marcante	aumento	da	quantidade	ingerida	para
produção	do	mesmo	efeito	obtido	no	início	ou	marcante	diminuição	dos
sintomas	de	embriaguez	ou,	ainda,	outros	resultantes	do	consumo	de
álcool,	apesar	da	contínua	ingestão;
Sinais	de	abstinência:	após	a	interrupção	do	consumo	de	álcool,	o
indivíduo	passa	a	apresentar	sudorese	excessiva,	aceleração	do	pulso
(acima	de	100),	tremores	nas	mãos,	insônia,	náuseas	e	vômitos,	agitação
psicomotora,	ansiedade,	convulsões	e	alucinações	táteis.	A	reversão
desses	sinais	com	a	reintrodução	do	álcool	comprova	a	abstinência;
O	dependente	de	álcool,	geralmente,	bebe	mais	do	que	planejava;
Persistente	desejo	de	voltar	a	beber	ou	incapacidade	de	interromper	o
uso;
Emprego	de	muito	tempo	para	obter	a	bebida	ou	recuperar-se	do	seu
efeito;
Persistência	na	bebida,	apesar	dos	problemas	e	dos	prejuízos	gerados,
como	perda	do	emprego	e	das	relações	familiares.
Diagnóstico
Para	haver	dependência	alcoólica,	deve	haver	uso	por	pelo	menos	12	meses
seguidos,	somados	a	3	destes	critérios:	tolerância,	abstinência,	ingestão
excessiva,	persistência	do	desejo	de	beber,	uso	de	muito	tempo	para	obter	a
bebida	ou	recuperar-se	do	seu	uso	e	persistência	da	dependência.
Outro	instrumento	cada	vez	mais	utilizado	para	avaliação	de	dependência	ao
álcool	é	o	questionário	CAGE.	Ele	é	composto	por	4	perguntas,	de	fácil
memorização,	sendo	bastante	preciso	para	identificar	pacientes	dependentes
de	álcool	conforme	a	definição	dos	critérios	diagnósticos.	A	presença	de	2
respostas	afirmativas	sugere	uma	indicação	positiva	de	dependência	de	álcool.
As	perguntas	são:
1	-	Cut	down	(diminuir):	você	já	pensou	em	largar	a	bebida?
2	-	Annoyed	(aborrecido):	você	já	ficou	aborrecido	quando	outras
pessoas	criticaram	o	seu	hábito	de	beber?
3	-	Guilt	(culpa):	você	já	se	sentiu	mal	ou	culpado	pelo	fato	de	beber?
4	-	Eye-opening	(ao	despertar):	você	já	bebeu	pela	manhã	para	ficar
mais	calmo	ou	se	livrar	de	uma	ressaca?
Diante	de	um	caso	de	dependência,	ainda	podemos	classificar	cada	indivíduo
de	acordo	com	a	classificação	de	Cloninger.	Essa	classificação	toma	por	base
a	epidemiologia	e	a	genética	do	dependente,	e	serve	para	identificar
comportamentos	e	estabelecer	uma	melhor	abordagem	terapêutica	para	o
alcoolismo.	Cloninger	classificou	o	alcoolismo	em	2	tipos:
Alcoolismo	tipo	I	ou	alcoolismo	decorrente	do	meio,	que	é	a	forma	mais
frequente,	com	igual	equivalência	em	ambos	os	sexos,	de	progressão
lenta	e	de	início	após	os	20	anos	de	idade,	associada	a	uma	personalidade
passivo-dependente.
Alcoolismo	tipo	II,	que	foi	definido	como	o	alcoolismo	exclusivamente
masculino,	com	início	antes	dos	20	anos	de	idade,	de	rápida	progressão
para	a	dependência	em	sujeitos	muito	impulsivos,	e	com	tendência	a
personalidade	antissocial.
E	-	Abstinência
A	síndrome	de	abstinência	constitui-se	no	conjunto	de	sinais	e	sintomas
observados	nas	pessoas	que	interrompem	o	consumo	de	álcool	após	longo	e
intenso	uso.	As	formas	mais	leves	de	abstinência	se	apresentam	com
tremores,	aumento	da	sudorese,	aceleração	do	pulso,	insônia,	náuseas	e
vômitos	e	ansiedade	depois	de	6	a	8	horas	desde	a	última	bebida.	A	síndrome
de	abstinência	leve	limita-se	a	tremores,	insônia	e	irritabilidade.	A	síndrome
de	abstinência	torna-se	mais	perigosa	com	o	surgimento	do	delirium	tremens.
Dica
A	abstinência	de	álcool	inicia-se	com	tremores,	cerca	de	6	a	8	horas	após	a
interrupção	do	uso	da	substância.
-	Delirium	tremens
O	delirium	tremens	é	uma	forma	mais	intensa	e	complicada	da	abstinência,
que	se	inicia,	geralmente,	após	72	horas	da	última	ingesta.	delirium	é	um
diagnóstico	inespecífico	em	Psiquiatria,	que	designa	estado	de	confusão
mental	(a	pessoa	não	sabe	onde	está,	em	que	dia	está,	não	consegue	prestar
atenção	em	nada,	tem	comportamento	desorganizado,	além	de	fala
desorganizada	ou	ininteligível,	e	à	noite	pode	ficar	mais	agitada	do	que
durante	o	dia).	A	abstinência	e	várias	outras	condições	médicas	não
relacionadas	ao	alcoolismo	podem	causar	esse	problema.	Um	traço	comum	no
delirium	tremens,	mas	nem	sempre	presente,	são	as	alucinações	táteis	e
visuais,	em	que	o	paciente	vê	insetos	ou	animais	asquerosos	próximos	ou	pelo
seu	corpo,	podendo	levá-lo	a	um	estado	de	agitação	violenta.	Trata-se	de	uma
condição	potencialmente	fatal,	principalmente	nos	dias	quentes	e	nos
pacientes	debilitados.	A	fatalidade,	quando	ocorre,	é	atribuída	ao	distúrbio
hidroeletrolítico.
F	-	Tratamento
Segundo	o	projeto	Diretrizes	da	Associação	Médica	Brasileira,	de	2012,	e	o
consenso	de	Abuso	e	Dependência	do	Álcool,	da	ABP,	2002:
Reposição	vitamínica:	tiamina	intramuscular,	nos	primeiros	7	a	15	dias;
após	esse	período,	por	via	oral.	Doses	de	300mg/d	de	tiamina	são
recomendadas	com	o	objetivo	de	evitar	a	SWK,	que	cursa	com	ataxia,
confusão	mental	e	anormalidades	de	movimentação	ocular	extrínseca
(esta	última,	nem	sempre	presente);
Benzodiazepínicos:	a	prescrição	deve	basear-se	em	sintomas.	Dessa
forma,	as	doses	recomendadas	são	as	que,	em	média,	o	paciente	pode
receber	em	determinado	dia.	O	diazepam	é	usado	na	dose	de	20mg/d
VO,	com	retirada	gradual	ao	longo	de	1	semana.	O	clordiazepóxido	pode
ser	usado	até	100mg/d	VO,	com	retirada	gradual	ao	longo	de	1	semana.
Nos	casos	de	hepatopatias	graves:	lorazepam	4mg/d	VO,	com	retirada
gradual	em	1	semana.
Tratamento
Na	síndrome	de	abstinência,	utilizam-se	tiamina	300mg/d	por	7	a	15	dias	e
diazepam	20mg/d	VO,	ou	lorazepam	4mg/d	VO	(hepatopatas).
Dica
Deve-se	sempre	administrar	tiamina	antes	da	glicose	no	tratamento	da
abstinência,	para	evitar	a	síndrome	de	Wernicke-Korsakoff.
-	Tratamento	das	complicações
Convulsões:	a	maioria	das	crises	é	do	tipotônico-clônica	generalizada.	As
crises	convulsivas	correspondem	a	uma	manifestação	relativamente	precoce
da	abstinência;	mais	de	90%	ocorrem	até	48	horas	após	a	interrupção	do	uso
de	álcool	(pico	entre	13	e	24	horas)	e	estão	associadas	à	evolução	para	formas
graves	de	abstinência.	Cerca	de	1/3	dos	que	apresentam	crises	evolui	para
delirium	tremens,	se	não	tratado.	Em	40%	dos	casos,	as	crises	ocorrem
isoladamente.	Nos	pacientes	que	apresentam	mais	de	1	crise,	ocorrem,	em
geral,	em	número	limitado.	O	diazepam	(ou	um	benzodiazepínico	de	ação
longa)	é	a	medicação	de	escolha,	na	dose	de	10	ou	20mg	VO.	O	uso
intravenoso	é	especialmente	indicado	durante	os	episódios	convulsivos;
Tratamento
Nas	convulsões	causadas	por	abstinência,	utiliza-se	diazepam	10	a	20mg/d
VO.
delirium	tremens:	forma	grave	de	abstinência,	geralmente	se	inicia	entre	1	e	4
dias	após	a	interrupção	do	uso	de	álcool,	até	3	ou	4	dias.	Caracteriza-se	por
rebaixamento	do	nível	de	consciência,	com	desorientação,	alterações
sensoperceptivas,	tremores	e	sintomas	autonômicos	(taquicardia,	elevação	da
pressão	arterial	e	da	temperatura	corporal).	Doses	elevadas	de
benzodiazepínico	são	necessárias,	mas	o	uso	associado	de	neurolépticos	é,	em
maior	parte,	indicado.	O	tratamento	farmacológico	inclui	diazepam,	60mg/d
(ou	lorazepam,	até	12mg/d,	em	casos	de	hepatopatia	grave)	e	haloperidol,
5mg/d.
Tratamento
No	delirium	tremens,	utiliza-se	diazepam	60mg/d	VO	ou	lorazepam
12mg/d	VO	(hepatopatas)	e	haloperidol	5mg/d.
G	-	Efeitos	crônicos
Os	alcoólatras	crônicos	podem	desenvolver	algum	problema	grave	de
memória.
Há	2	desses	tipos:	a	1ª	é	a	chamada	SWK,	e	a	outra	é	a	demência	alcoólica.
a)	Wernicke-Korsakoff	(síndrome	amnésica)
A	SWK	caracteriza-se	por	incoordenação	motora,	movimentos	oculares
rítmicos,	como	durante	uma	leitura	(nistagmo),	e	paralisia	de	certos	músculos
oculares,	provocando	algo	parecido	ao	estrabismo	para	quem	antes	não	o
possuía.	Além	desses	sinais	neurológicos,	o	paciente	pode	estar	em	confusão
mental,	ou,	se	com	a	consciência	clara,	apresentar	prejuízos	evidentes	na
memória	recente	(não	consegue	gravar	o	que	o	examinador	falou	5	minutos
antes).	Muitas	vezes,	para	preencher	as	lacunas	da	memória,	o	indivíduo
inventa	histórias	(a	isso	se	chama	fabulação).
Tal	quadro	deve	ser	considerado	emergência,	pois	requer	imediata	reposição
da	vitamina	B1	(tiamina)	para	evitar	o	agravamento	da	situação.	Os	sintomas
neurológicos,	já	citados,	são	rapidamente	revertidos	com	a	reposição	da
tiamina,	mas	o	déficit	da	memória	pode	tornar-se	permanente.
Dica
O	uso	de	tiamina	(vitamina	B1)	interrompe	a	síndrome	de	Wernicke-
Korsakoff,	revertendo	sintomas	neurológicos,	mas	pode	manter	o	déficit	de
memória.
b)	Síndrome	demencial	alcoólica
A	síndrome	demencial	alcoólica	é	semelhante	à	demência	propriamente	dita,
como	a	de	Alzheimer.	No	uso	intenso	e	prolongado,	mesmo	sem	a	SWK,	o
álcool	pode	provocar	lesões	difusas	no	cérebro,	prejudicando,	além	da
memória,	a	capacidade	de	julgamento,	de	abstração	de	conceitos;	a
personalidade	pode	alterar-se;	todo	o	comportamento	fica	prejudicado.	A
pessoa	torna-se	incapaz	de	se	sustentar.
H	-	Tratamento
Segundo	o	projeto	Diretrizes	da	Associação	Médica	Brasileira,	de	2012,	o
tratamento	é	complexo,	pois	depende,	principalmente,	da	motivação	do
indivíduo	para	parar	de	beber.	Pode-se	usar	medicações	(naltrexona,
acamprosato)	para	diminuir	o	desejo	pelo	álcool,	e	deve-se	prevenir	recaídas,
especialmente,	com	consultas	próximas,	psicoterapia	ou	grupos	de	ajuda.
A	internação	deve	ocorrer	se	o	paciente	não	consegue	parar	de	beber	e
apresenta	danos	físicos	que	o	coloquem	em	risco,	se	tem	outro	transtorno
psiquiátrico	associado	em	estado	grave	ou	se	as	recaídas	são	muito
constantes.
3.	Cocaína
A	-	Mecanismo	de	ação
Ocorre	bloqueio	da	recaptação	de	dopamina,	aumentando	tal	substância	na
fenda	sináptica.	Há,	então,	aumento	da	transmissão	de	estímulos	da
sensibilidade	e	do	número	de	receptores.	A	dopamina	aumenta	a	atividade
psicomotora,	provoca	comportamentos	estereotipados	e	reduz	o	consumo	de
alimentos,	além	de	estar	relacionada	aos	centros	límbicos,	responsáveis	pelo
prazer.
B	-	Intoxicação	aguda
Os	sintomas	mais	comuns	são:
Taquicardia	ou,	menos	frequentemente,	bradicardia;
Midríase,	tornando	mais	difícil	estar	em	ambientes	claros;
Elevação	da	pressão	sanguínea	ou,	menos	constantemente,	diminuição
da	pressão;
Calafrios,	náuseas	e	vômitos;
Perda	de	peso	consequente	à	anorexia;
Agitação	psicomotora	ou,	menos	frequentemente,	retardo	psicomotor;
Dores	musculares,	diminuição	da	capacidade	respiratória	e	arritmias
cardíacas;
A	relação	entre	o	consumo	de	cocaína	e	infarto	do	miocárdio	vem	sendo
estudada.
Tanto	o	crack	como	a	merla	também	são	derivados	da	coca,	com	efeitos
semelhantes.	Porém,	a	via	de	uso	dessas	2	formas	confere	diferenças
importantes;	assim	que	fumados	(crack	e	merla),	alcançam	o	pulmão,	que	é
intensivamente	vascularizado	e	apresenta	grande	superfície,	levando	a
absorção	instantânea.	Caem	quase	imediatamente	na	circulação,	chegando
rapidamente	ao	cérebro,	aparecendo	os	efeitos	da	cocaína	muito	mais
rapidamente	que	por	outras	vias.	Pela	via	pulmonar,	os	primeiros	efeitos	já
ocorrem	em	10	a	15	segundos;	pela	via	inalatória,	após	10	a	15	minutos	e,
pela	via	intravenosa,	em	3	a	5	minutos.	A	duração	dos	efeitos,	contudo,	é
muito	rápida:	em	torno	de	5	minutos,	ao	passo	que,	após	injetar	ou	cheirar,	é
de	cerca	de	20	a	45	minutos,	respectivamente.	Essa	duração	efêmera	dos
efeitos	faz	que	o	usuário	volte	a	utilizar	a	droga	com	mais	frequência
(praticamente	a	cada	5	minutos)	por	essa	via	que	pelas	outras,	gerando
compulsão,	popularmente	denominada	“fissura”,	uma	vontade	incontrolável
de	sentir	os	efeitos	de	prazer	provocados	pela	droga.
Uma	dose	alta	da	droga	pode	desencadear	um	quadro	de	overdose,	ou	seja,
falência	de	1	ou	mais	órgãos,	com	alto	risco	de	morte.	A	overdose	pode
acometer	tanto	usuários	crônicos	quanto	eventuais.	A	dose	letal	é	incerta,
dependendo	de	fatores	como	tolerância	e	pureza	da	droga	consumida.	Ocorre
aumento	do	tônus	simpático	por	bloqueio	da	recaptação	das	monoaminas	no
SNC.
Os	sintomas	mais	comuns	na	overdose	são:
Agitação	psicomotora;
Arritmia	cardíaca;
Angina	ou	infarto	agudo	do	miocárdio;
Acidente	vascular	cerebral;
Convulsões.
C	-	Abstinência
A	interrupção	do	uso	contínuo	de	cocaína	é,	em	geral,	seguida	de	uma	crise
que	pode	ser	vista	como	síndrome	de	abstinência,	na	qual	a	exaltação	dá	lugar
a	apreensão,	depressão	profunda,	sonolência	e	inércia.	A	abstinência	pode
durar	até	10	semanas,	e	são	frequentes	as	recaídas.
Dica
A	cocaína	possui	ação	parecida	com	a	dos	antidepressivos,	portanto	a
abstinência	dela	leva	a	sintomas	depressivos.
D	-	Efeitos	crônicos
Síndrome	psicótica	com	delírios	paranoides,	alucinações	visuais	e	auditivas	e
ideias	de	autorreferência.	Nas	grávidas	que	usam	cocaína,	foram	descritos
efeitos	teratogênicos,	incluindo	anormalidades	do	trato	urinário	e	deformidade
dos	membros.
E	-	Tratamento
Tratam-se,	basicamente,	sintomas	depressivos,	ansiosos	ou	psicóticos
produzidos	pela	droga	ou	pela	abstinência.	O	tratamento	é	sintomático	e	de
manutenção;	na	psicose	cocaínica,	aplica-se	haloperidol	(5mg	IM	ou	VO,	a
cada	6	horas)	ou	tioridazina	(25	a	50mg,	a	cada	8	horas).
Tratamento
Na	psicose	cocaínica,	utiliza-se	haloperidol	5mg	IM	ou	VO,	a	cada	6	horas,
ou	tioridazina	25	a	50mg,	a	cada	8	horas.
4.	Cannabis	(maconha)
A	-	Intoxicação
Durante	a	fase	de	intoxicação,	o	usuário	apresenta	hiperemia	ocular,	aumento
do	apetite,	xerostomia	e	taquicardia.	Acontece,	ainda,	aumento	da
sensibilidade	aos	estímulos	externos,	revelando	cores	e	detalhes	antes	não
percebidos.	A	percepção	do	tempo	também	é	afetada,	passando	a	ser	sentido
como	se	estivesse	mais	lento.	Sensações	de	que	o	mundo	está	diferente,
distante	ou	de	que	houve	uma	mudança	em	si	mesmo,	como	se	não	fosse	a
mesma	pessoa	ou	se	estivesse	sonhando,	também	podem	ocorrer.	Como	efeito
imediato,	há	um	prejuízo	na	memória	de	curto	prazo,	na	atenção	e	na
capacidade	de	recordação	e	de	retenção	doconhecimento.	Há	prejuízo	na
capacidade	de	realizar	tarefas	que	apresentem	múltiplas	etapas.	A	capacidade
de	traduzir	em	palavras	o	que	se	pensa	também	fica	lesada.	As	capacidades
motoras	também	ficam	prejudicadas,	como	a	capacidade	de	exercer	a	força
muscular	original.	Inibição	dos	reflexos,	incoordenação	e	desequilíbrio
podem	acontecer	em	doses	mais	altas.
B	-	Efeitos	em	longo	prazo
Têm	sido	muito	estudados	os	prejuízos	permanentes	que	a	maconha	pode
causar	após	o	uso	intenso	durante	tempo	prolongado	(mais	de	10	anos).	Os
achados	não	são	conclusivos;	não	se	podem,	por	enquanto,	confirmar	nem
descartar	efeitos	como	a	síndrome	amotivacional	(indivíduo	apático,	sem
persistência	em	seus	objetivos),	embora	ela	se	manifeste	em	muitos	usuários.
Os	testes	neuropsicológicos	não	puderam	detectar	prejuízos,	assim	como	os
testes	de	imagens.	A	ausência	de	alterações	nos	exames	não	pode	ser
considerada	ausência	de	prejuízo;	é	possível	que	este	só	aconteça	a	uma	parte
dos	usuários,	ou	que	os	instrumentos	e	as	técnicas	de	pesquisa	ainda	não
sejam	capazes	de	localizar	o	problema.
C	-	Dependência	e	abstinência
A	maioria	não	se	torna	dependente,	e	a	minoria	desenvolve	síndrome	de	uso
compulsivo	da	droga.	Na	abstinência,	os	sintomas	são	irritabilidade,	insônia,
tremores,	visão	turva	e	incoordenação	dos	movimentos.
D	-	Tratamento
O	tratamento	baseia-se	nos	mesmos	princípios	de	outras	drogas.	Deve-se
incentivar	a	abstinência	e	tratar	seus	efeitos	sintomaticamente.	Grupos	de
apoio	e	psicoterapia	são	de	grande	ajuda.
5.	Opioides
A	-	Definição
Opioide	é	um	termo	designado	para	qualquer	substância	(endógena	ou
sintética)	similar	à	morfina.	São	elas:	heroína,	ópio,	codeína,	metadona,
fentanila	e	meperidina.
B	-	Intoxicação	aguda
Pode	haver	sonolência	e	até	inconsciência,	miose,	depressão	respiratória,
resposta	reduzida	à	dor,	bradicardia,	convulsões	e	coma.	Tríade	clássica:
coma,	pupilas	“em	ponta	de	alfinete”	e	depressão	respiratória.	Trata-se	de
uma	emergência,	devendo-se	garantir	suporte	à	vida	e	medicar	o	paciente	com
naloxona	(antagonista	opioide).
Dica
A	tríade	clássica	da	intoxicação	aguda	por	opioides	é	composta	por	coma,
pupila	“em	ponta	de	alfinete”	e	depressão	respiratória,	revertendo-se	com
naloxona.
C	-	Dependência	e	abstinência
A	tolerância	desenvolve-se	rapidamente.	Todavia,	os	sintomas	de	abstinência
sucedem	unicamente	com	uso	crônico	e	parada	abrupta.	Na	abstinência
ocorrem	sudorese,	midríase,	ansiedade	e	fissura,	lacrimejamento,	rinorreia,
tremores,	diarreia,	náuseas	e	vômitos,	dor	muscular	e	nas	articulações,
taquicardia,	aumento	da	pressão	arterial,	calafrios	e	insônia.
D	-	Tratamento	e	complicações
A	metadona	pode	evitar	sintomas	de	abstinência.	As	complicações	são
atribuídas	ao	uso	intravenoso	(tromboflebites,	úlceras,	meningite	bacteriana,
hepatites	e	HIV)	e	podem	ser	evitadas,	por	exemplo,	com	agulhas
descartáveis.
6.	Inalantes
A	-	Intoxicação	aguda
Incidem	euforia,	desinibição,	zumbidos,	ataxia,	risos	imotivados	e	fala
pastosa.	Com	doses	mais	altas,	podem	ocorrer	arritmia	cardíaca,	depressão	do
SNC	com	convulsões,	coma	e	morte.
B	-	Efeitos	em	longo	prazo
Não	há	evidências	de	tolerância	ou	abstinência.	As	principais	complicações
crônicas	são	atrofia	cortical	e	cerebelar,	insuficiência	renal	crônica	e	hepatite
tóxica.
7.	Sedativos	e	hipnóticos	(benzodiazepínicos)
A	-	Abstinência
A	abstinência	tem	início	de	2	a	10	dias	após	a	parada	do	uso.	Podem	advir
irritabilidade,	insônia,	tremores,	sudorese,	palpitação,	cefaleia,	dores
musculares	e	déficits	de	memória.	Os	benzodiazepínicos	não	são	indicados
por	períodos	prolongados,	devendo-se	diminuir	gradualmente	a	sua	dosagem,
até	a	retirada	do	medicamento.
B	-	Efeitos	em	longo	prazo
O	risco	de	dependência	é	muito	grande,	e	podem	ocorrer	piora	da	memória	e
da	coordenação	motora,	sonolência,	tontura,	quedas	e	fraturas.
Importante
Benzodiazepínicos	devem	ser	sempre	introduzidos	por	curto	espaço	de
tempo,	para	evitar	dependência.
8.	Alucinógenos
A	-	Definição
Os	alucinógenos	são	substâncias	naturais	(cogumelos)	e	sintéticas	(LSD)	que
causam	alucinações	e	perda	de	contato	com	a	realidade.	Os	principais	efeitos
ocorrem	no	sistema	serotoninérgico.	A	tolerância	desenvolve-se	rapidamente,
mas	não	existe	dependência	ou	abstinência.
B	-	Intoxicação	aguda
Podem	ocorrer	ansiedade,	ideação	paranoide,	medo	de	perder	o	juízo,
despersonalização,	desrealização,	comprometimento	da	crítica,	ilusões,
alucinações,	midríase,	taquicardia,	sudorese,	visão	turva,	tremores	e
incoordenação	motora.
C	-	Efeitos	em	longo	prazo
Mesmo	com	pouco	ou	único	uso,	pode	haver	fenômeno	de	flashback
(alucinações	dias	após	a	ingestão),	transtorno	psicótico	prolongado	e	“bad
trip”	(pânico,	depressão	e	comportamento	suicida).
9.	Anfetaminas
A	-	Definição
A	mais	conhecida	é	a	metanfetamina,	ou	ecstasy,	de	uso	recreativo.	Porém,	as
anfetaminas	também	podem	ser	utilizadas	para	o	tratamento	de	doenças
psiquiátricas,	como	o	transtorno	de	déficit	de	atenção	e	hiperatividade.
B	-	Intoxicação
O	indivíduo	sob	sua	ação	tem	insônia,	inapetência,	sente-se	cheio	de	energia	e
fala	mais	rápido.	Quem	toma	anfetaminas	é	capaz	de	executar	uma	atividade
qualquer	por	mais	tempo,	sentindo	menos	cansaço,	o	qual	só	aparece	horas
mais	tarde,	quando	a	droga	já	não	está	mais	presente	no	organismo;	com	uma
nova	dose,	as	energias	voltam,	embora	com	menos	intensidade.	De	qualquer
modo,	as	anfetaminas	fazem	que	o	organismo	reaja	além	de	suas	capacidades,
exercendo	esforços	excessivos,	o	que,	logicamente,	é	prejudicial	à	saúde.
Causam	midríase,	taquicardia	e	aumento	da	pressão	sanguínea	(crise
hipertensiva).	Se	uma	pessoa	exagera	na	dose	fica	mais	agressiva,	irritadiça,
começa	a	suspeitar	de	que	outros	estão	tramando	contra	ela	(delírio
persecutório).	Os	sinais	físicos	ficam	também	muito	evidentes:	midríase
acentuada,	pele	pálida	devido	à	contração	dos	vasos	sanguíneos	e	taquicardia.
Tais	intoxicações	são	graves,	e	a	pessoa,	geralmente,	precisa	ser	internada	até
a	desintoxicação	completa.	Algumas	vezes,	durante	a	intoxicação,	a
temperatura	aumenta	muito,	o	que	é	bastante	perigoso,	pois	pode	levar	a
convulsões.
C	-	Abstinência
Chega	a	atingir	quase	90%	dos	usuários.	A	pessoa	sente	grande	falta	de
energia	(astenia),	tornando-se	bastante	deprimida,	ansiosa	e	agitada.
10.	Nicotina
Tema	frequente	de	prova
O	tratamento	para	dependência	nicotínica	é	cada	vez	mais	cobrado	nas
questões.
A	-	Mecanismo	de	ação	e	intoxicação
A	nicotina	age	como	agonista	nicotínico	de	receptores	de	acetilcolina.	Na
intoxicação,	podem	ocorrer	cefaleia,	náuseas	e	tontura.
B	-	Abstinência
Ocorrem	humor	disfórico	ou	deprimido,	insônia,	irritabilidade,	ansiedade,
inquietação	e	dificuldade	de	concentração.	Dentre	as	perturbações	físicas,
estão	bradicardia	e	aumento	do	apetite	e	do	peso.
C	-	Tratamento
Pesquisas	comprovam	que	1	em	4	adultos,	ou	1,2	bilhão	de	pessoas,	faz	uso
do	fumo.	Até	2025,	o	número	deve	subir	para	mais	de	1,6	bilhão.	O	fumo	foi
responsável	por	mais	de	3	milhões	de	mortes	em	1990,	atingindo	4	milhões
em	1998.	A	avaliação	global	do	paciente	e	do	grau	de	dependência	a	nicotina
é	fundamental	para	estabelecer	um	planejamento	terapêutico	na	cessação	do
tabagismo.	A	avaliação	é	feita	pelo	questionário	de	tolerância	de	Fagerström,
que	também	ajuda	na	tomada	de	decisão	sobre	a	conduta	individualizada.
Recomenda-se	o	tratamento	farmacológico	a	todo	fumante	acima	de	18	anos,
com	consumo	maior	do	que	10	cigarros/dia,	sendo	essa	uma	medida	efetiva
para	a	cessação	do	tabagismo.
Verifica-se	o	grau	de	interesse	do	paciente	em	parar	de	fumar,	de	acordo	com
o	modelo	que	o	classifica	em	fases	motivacionais	comportamentais:	pré-
contemplativa	(não	quer	parar	de	fumar),	contemplativa	(pensa	em	parar	de
fumar),	ativa	(preparado	para	iniciar	tratamento),	manutenção	e	recaída
(voltou	a	fumar).
Deve-se	avaliar	o	grau	de	dependência	a	nicotina,	saber	sobre	experiência
pregressa	com	fármacos	para	tabagismo	e	considerar	a	presença	de
comorbidades.	A	prescrição	deve	considerar	todos	esses	aspectos	acrescidos
das	contraindicações,efeitos	colaterais	e	precauções	para	o	uso.
Para	tratamento,	segundo	o	Protocolo	Clínico	e	Diretrizes	Terapêuticas	de
Dependência	de	Nicotina,	podem	ser	usados:
Adesivos	de	nicotina:	21mg,	14mg	e	7mg	em	24	horas	e	15mg,	10mg	e
5mg	em	16	horas.	A	dose	deve	ser	prescrita	considerando-se	o	consumo
médio	de	cigarros/dia,	variando	de	14	a	21mg/d,	com	o	objetivo	de
controlar	os	sintomas	de	abstinência,	podendo	aumentar	a	dose	a	critério
médico;
Goma	de	nicotina	ou	pastilhas:	4	e	2mg.	Fumantes	de	25	cigarros	ou
mais	devem	utilizar	gomas	ou	pastilhas	de	4mg	e	fumantes	de	menos	de
25	cigarros/dia	devem	utilizar	gomas	de	2mg.	As	gomas	devem	ser
consumidas	a	cada	1	ou	2	horas	ao	longo	de	6	semanas,	com	redução
progressiva	do	consumo	até	a	14ª	semana;
Bupropiona:	comprimidos	de	150mg	de	cloridrato	de	bupropiona	de
liberação	prolongada.	Iniciar	com	150mg,	1x/d,	no	4º	dia	prescrever
150mg,	2x/d,	e	prescrever	usualmente	por	12	semanas;	Vareniclina:
comprimidos	de	0,5	e	1mg	de	tartarato	de	vareniclina.	Iniciar	com
0,5mg,	1x/d.	No	4º	dia,	prescrever	0,5mg,	2x/d,	no	7º	dia	prescrever
1mg,	2x/d,	e	prescrever	por	12	ou	24	semanas.
A	terapia	com	bupropiona	e	vareniclina	não	requer	cessação	imediata	do
tabagismo.	Recomenda-se	a	interrupção	deste	a	partir	do	8º	dia	após	o	início
desses	medicamentos.
Embora	não	tenham	aprovação	do	Food	and	Drug	Administration	(FDA)	para
tratamento	do	tabagismo	e	provoquem	muitos	efeitos	colaterais,	existe
evidência	científica	de	que	a	nortriptilina	e	a	clonidina	sejam	superiores	ao
placebo	no	tratamento	do	tabagismo,	podendo	contribuir	em	situações	em	que
não	se	podem	utilizar	os	medicamentos	considerados	de	1ª	linha
mencionados.
Figura	1	-	Diretrizes	clínicas	na	saúde	suplementar,	segundo	a	Associação	Médica	Brasileira	e	a
Agência	Nacional	de	Saúde	Suplementar
Resumo
Esquizofrenia	e	outros
transtornos	psicóticos
Licia	Milena	de	Oliveira
1.	Conceitos
O	termo	“psicótico”	tem	recebido,	historicamente,	diversas	definições
diferentes,	nenhuma	com	aceitação	universal.	A	definição	mais	estreita	está
restrita	a	delírios	ou	alucinações	proeminentes,	sem	crítica	por	parte	do
paciente.	Ainda	mais	ampla	é	a	definição	que	igualmente	inclui	outros
sintomas	positivos	da	esquizofrenia,	como	discurso	desorganizado,
comportamento	amplamente	desorganizado	ou	catatônico.
De	acordo	com	o	glossário	da	American	Psychiatric	Association,	o	termo
“psicótico”	refere-se	a	um	amplo	comprometimento	do	teste	da	realidade.
Importante
Na	psicose,	encontram-se	delírios,	alucinações	e	comportamento
desorganizado,	podendo	estar	presentes	em	esquizofrenia,	transtornos	de
humor	(mania	ou	depressão)	e	dependência	química.
Os	transtornos	incluídos	nesta	seção	são	especificados	pelo	DSM-5	(Manual
Diagnóstico	e	Estatístico	de	Transtornos	Mentais)	e	pela	CID-10
(Classificação	Internacional	de	Doenças).
A	-	Esquizofrenia
Trata-se	de	uma	perturbação	que	dura,	pelo	menos,	6	meses	e	inclui,	no
mínimo,	1	mês	de	sintomas	da	fase	ativa	(isto	é,	2	ou	mais	sinais,	como
delírios,	alucinações,	discurso	desorganizado,	comportamento	amplamente
desorganizado	ou	catatônico	e	sintomas	negativos).
B	-	Transtorno	esquizofreniforme
Caracteriza-se	por	quadro	sintomático	equivalente	ao	da	esquizofrenia,	exceto
por	sua	duração	(isto	é,	a	perturbação	dura	de	1	a	6	meses)	e	ausência	da
exigência	de	declínio	no	funcionamento.
C	-	Transtorno	esquizoafetivo
Trata-se	de	uma	perturbação	em	que	episódio	de	humor	e	sintomas	da	fase
ativa	da	esquizofrenia	ocorrem	juntos	e	foram	precedidos	ou	seguidos	por,
pelo	menos,	2	semanas	de	delírios	ou	alucinações	sem	sintomas	proeminentes
de	humor.
D	-	Transtorno	delirante
Caracteriza-se	por,	pelo	menos,	1	mês	de	delírios	não	bizarros	sem	outros
sintomas	da	fase	ativa	da	esquizofrenia.
E	-	Transtorno	psicótico	breve
Trata-se	de	uma	perturbação	psicótica	com	duração	maior	que	1	dia	e
remissão	em	1	mês.
F	-	Transtorno	psicótico	compartilhado
Trata-se	de	uma	perturbação	que	se	desenvolve	em	indivíduo	influenciado	por
outra	pessoa	com	delírio	estabelecido	de	conteúdo	similar.
G	-	Transtorno	psicótico	devido	a	uma	condição
médica	geral
Os	sintomas	psicóticos	são	considerados	consequência	fisiológica	direta	de
uma	condição	médica	geral.
H	-	Transtorno	psicótico	induzido	por	substância
Nesse	caso,	os	sintomas	psicóticos	são	considerados	consequência	fisiológica
direta	de	droga	de	abuso,	medicamento	ou	exposição	à	toxina.
I	-	Transtorno	psicótico	sem	outra	especificação
Está	incluído	na	classificação	de	quadros	psicóticos	que	não	satisfazem	os
critérios	para	quaisquer	dos	transtornos	psicóticos	específicos	definidos	nessa
seção,	ou	de	sintomatologia	psicótica	acerca	da	qual	existem	informações
inadequadas	ou	contraditórias.
2.	Esquizofrenia
A	-	Características	gerais
Os	transtornos	esquizofrênicos	caracterizam-se,	em	geral,	por	distorções
fundamentais	de	características	do	pensamento	e	da	percepção	e	por	afetos
inapropriados	ou	embotados.	Usualmente,	mantêm-se	claras	a	consciência	e	a
capacidade	intelectual,	embora	certos	déficits	cognitivos	possam	evoluir	no
curso	do	tempo.
A	evolução	dos	transtornos	esquizofrênicos	pode	ser	contínua,	episódica	com
déficit	progressivo	ou	estável,	ou	comportar	1	ou	vários	episódios	seguidos	de
remissão	completa	ou	incompleta.
Não	se	deve	fazer	diagnóstico	de	esquizofrenia	quando	o	quadro	clínico
comporta	sintomas	depressivos	ou	maníacos	no	1º	plano,	a	menos	que	se
possa	estabelecer,	sem	equívoco,	que	a	ocorrência	dos	sintomas
esquizofrênicos	tenha	sido	anterior	à	dos	transtornos	afetivos.	Além	disso,
não	se	deve	fazer	o	mesmo	diagnóstico	quando	se	manifesta	doença	cerebral,
abstinência	de	droga	ou	intoxicação	por	ela.	A	esquizofrenia	é	uma	doença
caracterizada	por	desorganização	de	diversos	processos	mentais.
Culturalmente,	o	esquizofrênico	representa	o	estereótipo	do	“louco”,	um
indivíduo	que	produz	grande	estranheza	social	em	razão	do	seu	desprezo	para
com	a	realidade	reconhecida.
Dica
Os	transtornos	esquizofrênicos	não	podem	ser	diagnosticados	durante
doença	cerebral,	abstinência,	intoxicações	ou	outros	transtornos	que
possam	alterar	o	paciente.
B	-	Histórico
Em	1896,	Emil	Kraepelin	cunhou	o	termo	dementia	praecox	para	uma	doença
que	tendia	a	começar	relativamente	cedo	e	produzir	prejuízo	claro	e
persistente	em	aspectos	das	funções	cognitivas	e	comportamentais.	No	início,
ele	considerava	a	doença	com	curso	crônico	e	prognóstico	ruim,	porém,	no
decorrer	de	sua	vida	profissional,	acompanhou	grande	amostra	de	pacientes	e
observou	que	12,5%	se	recuperaram.
Em	1908,	Eugen	Bleuler	modificou	o	termo	para	esquizofrenia	(do	grego
schizo	=	cindido/dividido,	phrén	=	mente);	para	ele,	o	sintoma	mais
importante	era	a	fragmentação	na	formulação	e	na	expressão	do	pensamento
(“afrouxamento	de	associações”).	Identificou	os	4	“As”	bleulerianos	–	que,	na
realidade,	são	6:	associações	(dissociações)	no	processo	do	pensamento;
ambivalência;	autismo;	afeto	embotado;	avolição	e	atenção	prejudicadas.	Kurt
Schneider,	interessado	em	identificar	sintomas	patognomônicos,	como
Bleuler,	estabeleceu	uma	hierarquia	de	sintomas,	de	acordo	com	sua
importância,	para	o	diagnóstico	da	esquizofrenia	–	sintomas	de	1ª	e	2ª	ordens.
Os	de	1ª	ordem	não	são	obrigatórios	para	o	diagnóstico	de	esquizofrenia.
Tais	concepções	descritas	influenciaram	as	classificações	e	os	critérios	atuais,
como	o	DSM-5	e	a	CID-10.
Mais	recentemente,	Crow	(1980)	classificou	esquizofrenia	em	tipo	I	(com
sintomas	positivos	–	delírios,	alucinações)	e	tipo	II	(com	sintomas	negativos	–
embotamento	afetivo,	pobreza	de	discurso).
Dica
A	esquizofrenia,	hoje,	é	classificada	em	tipos	I	(sintomas	positivos)	e	II
(sintomas	negativos).
C	-	Prevalência
Cerca	de	1%	da	população	é	acometido	pela	doença,	geralmente	iniciada
antes	dos	25	anos,	sem	predileção	por	qualquer	camada	sociocultural.	O
diagnóstico	baseia-se,	exclusivamente,	na	história	psiquiátrica	e	no	exame	do
estado	mental.	É	extremamente	raro	o	aparecimento	de	esquizofrenia	antes
dos	10	ou	após	os	50	anos,	e	parece	não	haver	nenhuma	diferença	naprevalência	entre	homens	e	mulheres.
D	-	Curso
A	idade	média	de	início	do	1º	episódio	psicótico	de	esquizofrenia	situa-se	na
1ª	metade	da	casa	dos	20	anos	para	homens	e	no	final	da	casa	dos	20	para	as
mulheres.	O	início	pode	ser	abrupto	ou	insidioso,	mas	a	maioria	apresenta
algum	tipo	de	fase	prodrômica,	manifestada	pelo	desenvolvimento	lento	e
gradual	de	uma	variedade	de	sinais	e	sintomas	(retraimento	social,	perda	do
interesse	pela	escola	ou	pelo	trabalho,	deterioração	da	higiene	e	dos	cuidados
pessoais,	comportamento	incomum	e	ataques	de	raiva).	Os	membros	da
família	podem	encontrar	dificuldades	para	interpretar	tal	comportamento,
presumindo	que	a	pessoa	está	“passando	por	uma	fase”.	Por	fim,	o
aparecimento	de	alguns	sintomas	da	fase	ativa	marca	a	perturbação	como
esquizofrenia.
A	idade	de	início	pode	ter	importância	tanto	fisiopatológica	quanto
prognóstica.	Os	indivíduos	com	início	precoce	são,	mais	frequentemente,	do
sexo	masculino	e	têm	ajustamento	pré-mórbido	mais	fraco,	aquisição
educacional	inferior,	mais	evidências	de	anormalidades	estruturais	do	cérebro,
sinais	e	sintomas	negativos	mais	proeminentes,	mais	evidências	de	prejuízo
cognitivo,	avaliado	com	testes	neuropsicológicos,	e	pior	prognóstico.
Inversamente,	os	indivíduos	com	início	mais	tardio	são,	com	frequência,	do
sexo	feminino,	têm	menos	evidências	de	anormalidades	estruturais	do	cérebro
ou	prejuízo	cognitivo	e	apresentam	melhor	prognóstico.
Dica
Pacientes	com	início	precoce	de	esquizofrenia	têm,	geralmente,	evidências
de	anormalidades	estruturais	cerebrais,	sexo	masculino	e	pior	prognóstico,
enquanto	aqueles	com	início	tardio	são,	em	geral,	mulheres,	sem
anormalidades	estruturais,	mas	com	prognóstico	melhor.
A	maioria	dos	estudos	sobre	curso	e	resultado	da	esquizofrenia	sugere	que	o
curso	seja	variável.	Alguns	indivíduos	apresentam	exacerbações	e	remissões,
enquanto	outros	permanecem	cronicamente	doentes.	A	variabilidade	na
definição	e	na	determinação	impossibilita	a	previsão	acurada	do	resultado	da
esquizofrenia	em	longo	prazo.	A	remissão	completa	(isto	é,	retorno	ao	pleno
funcionamento	pré-mórbido),	provavelmente,	não	é	comum.	Daqueles	que
continuam	enfermos,	alguns	parecem	ter	curso	razoavelmente	estável,	ao
passo	que	outros	apresentam	piora	progressiva	associada	a	incapacitação
severa.	Logo	no	início	da	doença	os	sintomas	negativos	podem	ser
proeminentes,	aparecendo,	primariamente,	como	aspectos	prodrômicos.
Posteriormente,	surgem	os	sintomas	positivos.	Uma	vez	que	são
particularmente	suscetíveis	ao	tratamento,	na	maioria	diminuem,	mas,	em
muitos	indivíduos,	os	sintomas	negativos	persistem	entre	os	episódios	de
sintomas	positivos.	Estudos	indicam	um	grupo	de	fatores	associados	ao
melhor	prognóstico:	bom	ajustamento	pré-mórbido,	início	agudo,	idade	mais
tardia	de	aparecimento,	eventos	estressores,	perturbação	do	humor	associada,
breve	duração	dos	sintomas	da	fase	ativa,	bom	funcionamento	entre	os
episódios,	mínimos	sintomas	residuais,	ausência	de	anormalidades	na
estrutura	cerebral,	funcionamento	neurológico	normal,	história	familiar	de
transtorno	do	humor	e	ausência	de	história	familiar	de	esquizofrenia.
E	-	Padrão	genético
O	DSM-5	aponta	que	existe	forte	contribuição	dos	fatores	genéticos	na
determinação	do	risco	para	esquizofrenia,	embora	a	maioria	dos	indivíduos
com	diagnóstico	do	transtorno	não	tenha	história	familiar	de	psicose.	Essa
tendência	é	atribuída	a	um	espectro	de	alelos	de	risco,	que	são	associados	a
outros	transtornos	mentais,	incluindo	transtorno	bipolar,	depressão	e
transtorno	do	espectro	autista.	Os	parentes	biológicos	em	1º	grau	de
indivíduos	com	esquizofrenia	estão	em	risco	10	vezes	maior	para	a	doença	do
que	a	população	geral.	As	taxas	de	concordância	para	esquizofrenia	são
maiores	em	gêmeos	monozigóticos	do	que	em	gêmeos	dizigóticos.	Estudos	de
adoções	têm	mostrado	que	os	parentes	biológicos	de	indivíduos	com
esquizofrenia	têm	risco	substancialmente	aumentado	para	a	doença,	enquanto
os	parentes	adotivos	não	apresentam	aumento	no	risco.	Embora	muitas
evidências	sugiram	a	importância	de	fatores	genéticos	na	etiologia	da
esquizofrenia,	a	existência	de	uma	taxa	substancial	de	discordância	em
gêmeos	monozigóticos	também	indica	a	importância	de	fatores	ambientais.
Dica
A	esquizofrenia	possui	grande	relação	genética,	com	aumento	em	10	vezes
no	risco	em	relação	à	população	geral.
F	-	Diagnóstico
Os	sintomas	característicos	da	esquizofrenia	podem	ser	agrupados,
genericamente,	em	2	tipos:	positivos	e	negativos.	Os	positivos	são	os	mais
floridos	e	exuberantes.	Os	negativos	são,	em	maior	parte,	os	déficits.
Alguns	sintomas,	embora	não	sejam	específicos	da	esquizofrenia,	são	de
grande	valor	para	o	diagnóstico.
Quadro	clínico
Os	sintomas	de	esquizofrenia	dividem-se	em	positivos	(alucinações,
delírios,	incoerência,	prolixidade,	comportamento	bizarro,	agitação
psicomotora,	negligência	no	autocuidado)	e	negativos	(pobreza	de	fala	e
conteúdo,	embotamento	afetivo,	incapacidade	de	sentir	emoções/prazer,
isolamento	social	e	diminuição	da	iniciativa/vontade).
Dica
Os	sintomas	positivos	da	esquizofrenia	são	mais	facilmente	revertidos	com
medicação,	enquanto	os	negativos	são	refratários	a	medicação.
Habitualmente,	o	surgimento	da	esquizofrenia	é	notado	quando	a	família	e	os
amigos	observam	que	a	pessoa	mudou	de	comportamento.	Ela	passa	a	ter	mau
rendimento	em	áreas	significativas	da	vida	cotidiana,	como	na	escola,	no
trabalho	ou	nas	relações	sociais	e	familiares.	Comumente,	há	notável	falta	de
interesse	por	cuidados	pessoais.
G	-	Critérios	diagnósticos	-	DSM-5
a)	Sintomas	característicos
Tema	frequente	de	prova
O	reconhecimento	de	um	quadro	esquizofrênico	é	sempre	cobrado	nas
provas.
Dois	(ou	mais)	dos	seguintes,	cada	qual	presente	por	uma	porção	significativa
de	tempo	durante	o	período	de	1	mês	(ou	menos,	se	tratados	com	sucesso):
Delírios;
Alucinações;
Discurso	desorganizado	(frequente	descarrilamento	ou	incoerência);
Comportamento	amplamente	desorganizado	ou	catatônico;
Sintomas	negativos,	isto	é,	embotamento	afetivo,	alogia	ou	avolição.
Importante
Apenas	1	sintoma	do	critério	A	é	necessário	para	o	diagnóstico	de
esquizofrenia	caso	os	delírios	sejam	bizarros	ou	as	alucinações	consistam
em	vozes	que	comentam	o	comportamento	ou	os	pensamentos	da	pessoa,
ou	2	ou	mais	vozes	conversando	entre	elas.
b)	Disfunção	social/ocupacional
Por	uma	porção	significativa	do	tempo,	desde	o	início	da	perturbação,	1	ou
mais	áreas	importantes	do	funcionamento,	como	trabalho,	relações
interpessoais	ou	cuidados	pessoais,	estão	acentuadamente	abaixo	do	nível
alcançado	antes	do	início	(ou,	quando	o	início	se	dá	na	infância	ou	na
adolescência,	fracasso	em	atingir	o	nível	esperado	de	aquisição	interpessoal,
acadêmica	ou	ocupacional).
c)	Duração
Sinais	contínuos	da	perturbação	persistem	por,	pelo	menos,	6	meses,	período
que	deve	incluir,	no	mínimo,	1	mês	de	sintomas	(ou	menos,	se	tratados	com
sucesso)	que	satisfazem	o	critério	A	(isto	é,	sintomas	da	fase	ativa)	e	pode
incluir	períodos	de	sintomas	prodrômicos	ou	residuais.	Durante	esses
períodos,	os	sinais	da	perturbação	podem	ser	manifestados	apenas	por
sintomas	negativos	ou	por	2	ou	mais	sintomas	relacionados	no	critério	A,
presentes	de	forma	atenuada	(crenças	estranhas,	experiências	perceptuais
incomuns).
d)	Exclusão	de	transtorno	esquizoafetivo	e	transtorno	do
humor
O	transtorno	esquizoafetivo	e	o	transtorno	do	humor,	com	aspectos	psicóticos,
foram	descartados	porque	nenhum	episódio	depressivo	maior,	maníaco	ou
misto	ocorreu	concomitantemente	aos	sintomas	da	fase	ativa,	ou	se	os
episódios	de	humor	ocorreram	durante	os	sintomas	da	fase	ativa,	sua	duração
total	foi	breve	em	relação	à	duração	dos	períodos	ativo	e	residual.
e)	Exclusão	de	substância/condição	médica	geral
A	perturbação	não	se	deve	aos	efeitos	fisiológicos	diretos	de	uma	substância
(droga	de	abuso,	medicamento)	ou	à	condição	médica	geral.
f)	Relação	com	transtorno	invasivo	do	desenvolvimento
Se	há	história	de	transtorno	autista	ou	outro	transtorno	invasivo	do
desenvolvimento,	o	diagnóstico

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