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�HE�CEL PSIQUIATRIA César Augusto Guerra Licia Milena de Oliveira Marcelo Altona Psicologia Médica Licia Milena de Oliveira 1. Introdução A Psicologia médica é o ramo da Medicina que tem a Psicologia como campo interdisciplinar específico. Pode também ser definida como o estudo das relações médico-paciente e das ações psicológicas na prática médica em geral, que se constitui como uma ciência única e independente da Psiquiatria e da Psicologia. Grandes contribuições à Psicopatologia vieram da Psicologia médica, em especial das relacionadas a Ernst Kretschmer (1888-1964) e Sigmund Freud (1856-1939), que recomendavam a especialização em psicanálise das distintas especialidades médicas, aperfeiçoando os profissionais na lida com os processos transferenciais da relação médico-paciente. Os conceitos de psicanálise a seguir foram retirados das obras de Sigmund Freud, resumidas no livro “Noções básicas de Psicanálise”, de Charles Brenner. 2. Transferência e contratransferência A transferência e a contratransferência são uma forma de projeção típica da relação terapêutica entre paciente e médico e podem se caracterizar de forma positiva, com sentimentos de afeto e admiração, ou negativa, com sentimentos de agressividade e resistência, dependendo dos laços inconscientes e emocionais que emergem dessa relação. Denominamos “transferência” as projeções relacionadas a reações emocionais do paciente, dirigidas ao médico, com base nos conflitos infantis dos pacientes com relação às figuras paterna e materna. A “contratransferência” envolve sensações, sentimentos e percepções que brotam no médico, emergentes do relacionamento terapêutico com o paciente, também com base em seus conflitos inconscientes. Espera-se que o médico esteja preparado emocionalmente para saber lidar com tais conflitos. Dica Transferências são as projeções do paciente dirigidas ao médico, enquanto as contratransferências são projeções do médico em relação ao paciente. 3. Inconsciente Freud iniciou seus estudos pela utilização da técnica da hipnose como forma de acesso aos conteúdos mentais no tratamento da histeria. Ao observar melhora, elaborou a hipótese de que a causa da doença era psicológica, não orgânica. Essa hipótese serviu de base para seus outros conceitos, como o do inconsciente. Assim, abandonou o uso de hipnose em pacientes com histeria, em favor da interpretação de sonhos e da livre associação como vias de acesso ao inconsciente. Freud procurou uma explicação à forma de operar do inconsciente, propondo uma estrutura particular. No 1º tópico, recorre à imagem do “iceberg”, em que o consciente corresponde à parte visível, e o inconsciente corresponde à parte não visível, ou seja, à parte submersa do “iceberg”. Em sua teoria, Freud estava preocupado em estudar o que levava à formação dos sintomas psicossomáticos. 4. Id, ego e superego Quando sua preocupação se voltou para a forma como se dava o processo da repressão, Freud passou a adotar os conceitos de id, ego e superego. O id representa os processos primitivos do pensamento e constitui, segundo Freud, o reservatório das pulsões, e, dessa forma, toda a energia envolvida na atividade humana seria advinda do id. Inicialmente, considerou que todas essas pulsões seriam de origem sexual. Posteriormente, introduziu o conceito das pulsões de morte, que atuariam no sentido contrário ao das pulsões de agregação e preservação da vida. O id é responsável pelas demandas mais primitivas e perversas. O superego, a parte que contra-age ao id, representa os pensamentos morais e éticos internalizados. O ego permanece entre ambos, alternando nossas necessidades primitivas e crenças éticas e morais. É a instância na qual se inclui a consciência. Um eu saudável é aquele que tem a habilidade para adaptar-se à realidade e interagir com o mundo exterior de uma maneira que seja cômoda para o id e o superego. 5. Eros e tânatos Freud estava especialmente interessado na dinâmica destas 3 partes da mente. Argumentou que essa relação é influenciada por fatores ou energias inatas, que chamou de pulsões. Descreveu 2 pulsões antagônicas: eros, a pulsão sexual com tendência à preservação da vida, e tânatos, a pulsão da morte, que levaria à desagregação de tudo o que é vivo, à destruição. Ambas não agem de forma isolada, estão sempre trabalhando em conjunto. 6. Fases do luto A psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross, em sua obra “Sobre a morte e o morrer”, pesquisou e trabalhou com o tema do luto, descrevendo 5 fases desse processo. Existem pensamentos e comportamentos comuns às pessoas que passam por cada uma dessas fases e a descrição delas pode facilitar a compreensão e a percepção sobre o que ocorre com as pessoas que vivenciam o luto. A - Fase 1: negação É uma defesa psíquica, em que o indivíduo acaba negando o problema, tentando encontrar algum jeito de não entrar em contato com a realidade e geralmente não quer falar sobre o assunto. B - Fase 2: raiva Nessa fase, o indivíduo revolta-se com o mundo, sente-se injustiçado e não se conforma que isso está acontecendo com ele. C - Fase 3: barganha Essa é fase que o indivíduo começa a negociar; por exemplo, prometendo que será uma pessoa melhor se sair daquela situação. D - Fase 4: depressão A pessoa se retira para seu mundo interno, isolando-se e considerando-se impotente perante o que ocorre. E - Fase 5: aceitação O indivíduo não sente mais desespero e consegue enxergar a realidade como realmente é, assimilando por completo a perda ou a morte. Resumo Introdução à Psiquiatria Licia Milena de Oliveira 1. Psicopatologia A Psicopatologia propõe-se a conhecer e descrever os fenômenos psicopatológicos para, dessa forma, oferecer à Psiquiatria as bases para a compreensão e o estudo do psiquismo humano. Compete a ela reunir materiais para a elaboração do conhecimento dos fenômenos com o qual a Psiquiatria possa coordenar a sua ação diagnóstica, curativa e preventiva. Como dito por Paulo Dalgalarrondo, em seu livro Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, que será utilizado como base para o capítulo: “A semiologia é a base, o pilar fundamental da atividade médica. Saber observar com cuidado, olhar e enxergar, ouvir e interpretar o que se diz, saber pensar, desenvolver um raciocínio clínico crítico e acurado são as capacidades essenciais do profissional de saúde”. O diagnóstico em Psiquiatria é feito com base no exame psíquico, excluindo outras patologias clínicas que possam cursar com alterações no psiquismo. 2. Funções psíquicas e suas alterações A - Consciência Consciência é a capacidade do indivíduo de entender o que está acontecendo dentro e fora de si mesmo. A clareza dessa consciência é traduzida pela lucidez. Quando o paciente está desperto, recebendo e devolvendo informações com o meio ambiente, está lúcido. As alterações da consciência podem ser quantitativas e qualitativas. Em seu aspecto quantitativo, a consciência pode estar diminuída ou aumentada. Dentre as diminuições da consciência, a forma mais suave é denominada obnubilação, que resulta em intensificação dos estímulos para se obter acesso eficiente à consciência. Ocorre diminuição da sensopercepção, lentidão da compreensão e da elaboração das impressões, lentificação no ritmo e alteração no curso do pensamento, prejuízo da memória, algum grau de desorientação e sonolência mais ou menos acentuada. Se na diminuição da consciência os estímulos para determinar manifestações primitivas como gemer ou balbuciar são muito intensos, fala-se em estupor. Um grau mais aprofundado, ou seja, a abolição total do contato entre o indivíduo e o meio é denominada estado de coma. Qualitativamente, a consciência é avaliada como a aptidão em apreender todos os fenômenos interiores ou exteriores e integrá-los a um contexto real das circunstâncias ocorridas no presente, no passado e que ocorrerão futuramente. As alterações qualitativas são apresentadas a seguir. a) Estado crepuscular É um estreitamento transitório da consciência, com a conservação deatividade mais ou menos coordenada e mais ou menos automática. Normalmente, há a falsa aparência de que o paciente está compreendendo a situação. Em geral, a percepção do mundo exterior é imperfeita ou de todo inexistente. Os estados crepusculares costumam desaparecer rapidamente, mas, em alguns casos, podem durar muitos dias. Apresentam-se e terminam de modo súbito, acompanhados de amnésia em relação às vivências acessuais. b) Dissociação da consciência Ocorre fragmentação ou divisão do campo da consciência, com perda da unidade psíquica do ser humano. Observa-se estado semelhante ao sonho, podendo ocorrer em estados dissociativos e de ansiedade intensa. c) Transe É o fenômeno em que a pessoa se sente transformada em outra, como uma “despersonalização”. Desaparece a relação entre o corpo e os objetos do meio exterior, como impossibilidade de estabelecer a distinção entre o que é próprio e o que pertence ao exterior. Pode ocorrer em contextos religiosos (não sendo patológico), casos neurológicos ou início de psicoses. d) Polarização da consciência ou estado hipnótico É a orientação forçada da consciência em determinado sentido, segundo forte tendência afetiva. É uma atitude mais focal e profunda do que o estado crepuscular e nem sempre sugere estado patológico. É possível que, tocado por intensa motivação afetiva, o indivíduo concentre toda a sua consciência em um dado ponto (música ou imagem), desconsiderando os demais estímulos à sua volta. B - Atenção A atenção é um processo psíquico que concentra a atividade mental sobre determinado ponto, traduzindo um esforço mental, e resulta de atividade deliberada e consciente do indivíduo. Existem a atenção voluntária (ativa e intencional – capacidade de ler um livro, por exemplo) e a espontânea (por algum interesse incidental e momentâneo por algum objeto – capacidade de parar de ler o livro para focar em algum barulho que acontece no momento, por exemplo). C - Orientação Pode-se definir orientação como um complexo de funções psíquicas pelo qual tomamos consciência da situação real em que nos encontramos. A orientação pode ser inferida da avaliação do estado de consciência e está intimamente ligada às noções de tempo e espaço. Em geral, o 1º sentido de orientação perdido é o do tempo; depois, o do espaço, que envolve deslocamento e localização e, num estado mais grave, a “desorientação do próprio eu” (identidade e corpo). D - Sensopercepção Sensação é o fenômeno elementar gerado por estímulos físicos, químicos ou biológicos, que produzem estimulação dos órgãos receptores. Percepção é a tomada de consciência de tal estímulo sensorial. Podem acontecer alterações quantitativas e qualitativas. a) Quantitativas b) Qualitativas Dica Ilusão é a percepção deformada da realidade, uma interpretação errônea do que existe, enquanto alucinação é percepção real de um objeto inexistente, ou seja, sem um estímulo externo. E - Memória Memória é a capacidade de registrar, manter e evocar fatos passados. Há 4 dimensões principais do seu funcionamento: A função mnésica pode ser avaliada pela rapidez, precisão e cronologia das informações oferecidas pelo próprio paciente, assim como a observação da capacidade de fixação. A memória pode ser imediata, de curto ou de longo prazo. Podem existir as alterações quantitativas: hipermnésia (aceleração psíquica) e hipomnésias ou amnésias. As últimas podem ser anterógradas (o paciente não consegue fixar memória a partir do evento que causou o dano cerebral) ou retrógradas (perda da memória para fatos ocorridos antes do trauma). Podem, também, ocorrer amnésias lacunares, ou seletivas. O exame da memória passada (retrógrada) é feito com perguntas sobre o passado do paciente e data de acontecimentos importantes. Contradições nas informações podem indicar dificuldades. Com relação à memória recente (anterógrada), podem ser feitas perguntas rápidas e objetivas, como “O que você fez hoje?” ou dizer um número de 4 ou 5 algarismos ou uma série de objetos e pedir para que o paciente os repita após alguns minutos. Para o exame da memória de retenção, pode-se pedir a ele que repita algarismos na ordem direta e depois inversa. Dica A amnésia pode ser anterógrada (o paciente não fixa a memória a partir do evento que causou o dano), retrógrada (perda para fatos ocorridos antes do trauma) e lacunar ou seletiva. A maior parte das alterações da memória provém de síndromes orgânicas (amnésia, hipermnésia ou hipomnésia). As alterações qualitativas, ou paramnésias, são lembranças deformadas, que não correspondem à sensopercepção original. F - Afetividade A afetividade compreende o estado de ânimo ou de humor, os sentimentos, as emoções e as paixões e reflete sempre a capacidade de experimentar sentimentos e emoções. É ela que determina a atitude geral do indivíduo diante de qualquer experiência vivencial, promove os impulsos motivadores e inibidores, percebe os fatos de maneira agradável ou sofrível, confere disposição indiferente ou entusiasmada e determina sentimentos que oscilam entre 2 polos: depressão e euforia. A afetividade divide-se, basicamente, em: Humor: um estado de ânimo; é a disposição afetiva de fundo, que penetra em toda a experiência psíquica do indivíduo. Algumas alterações de humor são: Hipertimia: euforia; Hipotimia: depressão; Disforia: irritabilidade, mau humor. Afeto: o tônus emocional que acompanha uma ideia ou representação mental. G - Pensamento Por meio do pensamento ou do raciocínio, o ser humano é capaz de manifestar suas possibilidades de adaptar-se ao meio. É por ele que se elaboram conceitos, articulam-se juízos, constrói-se, compara-se, solucionam- se problemas, elaboram-se conhecimentos adquiridos e ideias, transforma-se e cria-se. É importante a investigação do curso, da forma e do conteúdo do pensamento. a) Curso Trata-se da velocidade com que o pensamento é expresso e pode ir do acelerado ao lentificado. b) Forma c) Conteúdo As perturbações no conteúdo do pensamento estão associadas a determinadas alterações, como as obsessões, as fobias e, especialmente, os delírios. Para classificar uma ideia como delirante, deve-se considerar alguns aspectos: a incorrigibilidade (não há como modificar a ideia delirante por meio de correções), a influenciabilidade (a vivência é muito intensa; chega a ser mais fácil o delirante influenciar a pessoa dita normal) e a incompreensibilidade (não pode ser explicada logicamente). O delírio é uma convicção íntima e irremovível, contra a qual não há argumento. Dica Uma ideia delirante deve ter aspectos como incorrigibilidade, influenciabilidade e incompreensibilidade. Os delírios podem ser primários (núcleo da doença) ou secundários (consequentes à situação social, manifestação afetiva ou disfunção cerebral). H - Linguagem A linguagem é considerada um processo mental predominantemente consciente, significativo, além de ser orientada para o social. É um processo dinâmico que se inicia na percepção e termina na palavra falada ou escrita e, por isso, se modifica constantemente. As alterações mais comuns são disartrias (má articulação de palavras), afasias (perturbações por danos cerebrais que implicam dificuldade ou incapacidade de compreender e utilizar os símbolos verbais), verbigeração (repetição incessante de palavras ou frases), parafasia (emprego inapropriado de palavras com sentidos parecidos), neologismo (criação de palavras novas), jargonofasia (“salada de palavras”), mussitação (voz murmurada em tom baixo), logorreia (fluxo incessante e incoercível de palavras) e pararrespostas (responde a uma indagação com algo sem relação alguma com o que foi perguntado). I - Vontade/volição A vontade, relacionada aos atos voluntários, é uma disposição (energia) interior com o princípio de alcançar um objetivo consciente e determinado. O indivíduo pode apresentar-se normobúlico (vontade normal), ter a vontade rebaixada (hipobulia), uma exaltação patológica (hiperbulia), responder a solicitações repetidas e excessivas (obediência automática),concordar com tudo o que é dito, mesmo que sejam juízos contraditórios (sugestionabilidade patológica), realizar atos contra a sua vontade (compulsão), duvidar exageradamente do que quer (dúvida patológica), opor-se de forma passiva ou ativa às solicitações (negativismo), repetir de forma automática as palavras ou ações do entrevistador (ecolalia e ecopraxia). J - Psicomotricidade A psicomotricidade pode estar normal, diminuída (hipocinesia), inibida (acinesia) ou exaltada (hipercinesia). O paciente pode apresentar maneirismos (movimentos bizarros e repetitivos), estereotipias posturais (repetições automáticas e uniformes), automatismos, flexibilidade cérea (tendência a manter-se na posição colocada pelo examinador), cataplexia (perda abrupta do tônus muscular), tiques motores e alterações na marcha. K - Consciência do eu Este item se refere ao fato de o indivíduo ter a consciência dos próprios atos psíquicos, a percepção do seu eu, como o sujeito apreende a sua personalidade. L - Inteligência O que se faz na avaliação da inteligência não é o que chamamos de “avaliação fina”, realizada por meio de testes; o objetivo é constatar se o paciente está dentro do considerado padrão de normalidade, conseguindo resolver os problemas básicos da vida. Devem-se considerar sempre o contexto sociocultural e a escolaridade do paciente. As deficiências de inteligência são os retardos mentais, em todos os seus níveis. 3. Exame do estado mental - exame psíquico O exame psíquico consiste na detalhada avaliação das funções psíquicas, bem como das impressões e das observações feitas pelo examinador enquanto está em contato com o paciente. Deve ser sempre acompanhado de anamnese completa, com identificação, queixa principal, história da doença atual, história patológica pregressa, história pessoal e familiar. Todo paciente psiquiátrico deve ser submetido, ainda, ao exame físico. Importante O exame psíquico deve ser completo e espelhar exatamente o estado mental do paciente no período analisado. Quanto ao psiquismo do paciente, deve-se seguir um roteiro básico de observação. - Exemplo de exame psíquico Paciente trajado e asseado adequadamente; vígil, gesticulando muito, inquieto, por vezes saindo da cadeira para andar pela sala; coopera com o entrevistador, mas se mostra um tanto irritado com as perguntas; linguagem um tanto exaltada, por vezes prolixo; atenção espontânea e voluntária preservadas; orientado auto e alopsiquicamente; humor exaltado, afeto expandido; pensamento expansivo, mas sem alteração de curso; pragmatismo preservado; inteligência sem rebaixamento; crítica parcial do estado mórbido. 4. Classificações em Psiquiatria São usadas, exclusivamente, para uniformizar a linguagem médica e como objeto de pesquisa. São elas: A - DSM-5 O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais é uma publicação da American Psychiatric Association, Washington D.C., sendo a sua 5ª edição conhecida pela designação DSM-5. Fornece critérios de diagnóstico para a generalidade das perturbações mentais, incluindo componentes descritivos, de diagnóstico e tratamento, constituindo um instrumento de trabalho de referência para os profissionais da saúde mental. No DSM-5, os diagnósticos psiquiátricos são formulados de acordo com uma avaliação multiaxial, que estabelece 5 eixos. B - CID-10 A Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (também conhecida como Classificação Internacional de Doenças – CID-10) foi publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1992 e visa padronizar a codificação de doenças e outros problemas relacionados à saúde. A CID-10 fornece códigos relativos à classificação de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenças. A cada estado de saúde é atribuída uma categoria única à qual corresponde um código CID-10. Essa é a classificação usada para laudos, atestados e pareceres médicos. A OMS lançou, em junho de 2018, sua nova Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11), que será apresentada para adoção em maio de 2019 (durante a Assembleia Mundial da Saúde) e entrará em vigor em 1º de janeiro de 2022. Dica Documentos médicos com fins judiciais devem utilizar o CID-10, enquanto o DSM-5 é usado em prontuários e discussões. Resumo Exame psíquico: apresentação, atitude, linguagem, consciência, atenção, orientação, humor, afeto, sensopercepção, orientação, pensamento, memória, inteligência, pragmatismo e crítica; Classificações em Psiquiatria: CID-10 e DSM-5. Transtornos mentais orgânicos Licia Milena de Oliveira 1. Introdução O agrupamento dos transtornos mentais orgânicos compreende uma série de transtornos mentais reunidos, tendo em comum uma etiologia demonstrável, como doença, lesão cerebral ou outro comprometimento que leva a disfunção cerebral. A disfunção pode ser primária, em ação direta sobre o sistema nervoso, ou secundária. O comprometimento que ocorre é o das funções cognitivas (memória, linguagem, atenção); por vezes, precedido de deterioração do controle emocional, do comportamento social ou da motivação. As principais síndromes mentais orgânicas são o delirium e a demência. 2. Delirium A - Definição Delirium, ou estado confusional agudo, é uma síndrome clínica caracterizada por rebaixamento súbito do nível de consciência, comprometimento da atenção, distúrbios da percepção (distorções, ilusões e alucinações), distúrbio da capacidade de compreensão e de abstração, delírios pouco estruturados e fugazes, déficit de memória de fixação e relativa preservação da memória remota, desorientação (mais comumente no tempo), comprometimento da atividade psicomotora (aumento ou redução), alteração do ciclo sono-vigília, transtornos emocionais (depressão, ansiedade, medo, irritabilidade, euforia, apatia, perplexidade), com início abrupto dos sintomas e flutuação ao longo do dia, tendendo a piorar à noite. Tem duração limitada, em geral dias ou semanas, e os sintomas desaparecem quando o fator de causa é identificado e tratado. Dica No delirium, há rebaixamento súbito de consciência, comprometimento da atenção (característica mais importante), distúrbios perceptivos e de compreensão, desorientação e alteração ciclo sono-vigília. Apresenta início abrupto e curso flutuante. B - Epidemiologia Trata-se de um transtorno bastante frequente, principalmente entre pacientes internados. Dados revisados da literatura médica apontam a presença de delirium em cerca de 30% dos pacientes que estão em unidades cirúrgicas de tratamento intensivo e unidades cardíacas de cuidados intensivos e 40 a 50% dos que estão se recuperando de cirurgias por fraturas de quadril. O delirium pode acometer até 80% dos pacientes criticamente enfermos sob ventilação mecânica, segundo estudos americanos e canadenses. Porém, é comumente subdiagnosticado; aproximadamente 70% dos casos não são reconhecidos pelos médicos, o que leva a aumento nas taxas de mortalidade e morbidade, declínio da capacidade funcional e prolongamento das internações hospitalares. C - Etiologia D - Diagnóstico Quando se suspeita do diagnóstico de delirium, é essencial tentar encontrar e tratar a causa-base, o que deve ser o foco principal do manejo. Deve-se fazer exame físico completo, revisão de prontuário (procurando, principalmente, por mudanças de comportamento, inclusão de novas drogas ao regime e resultados de exames complementares) e solicitar exames laboratoriais e de imagem adequados. a) Exames básicos Hemograma completo com diferencial de leucócitos; Eletrólitos, índices renais e hepáticos, glicemia; Testes de função da tireoide; Testes sorológicos para sífilis; Teste sorológico para HIV; Análise de urina; Eletrocardiograma; Eletroencefalograma; Radiografia torácica; Triagem para drogas no sangue e na urina. b) Exames adicionais Cultura de sangue, urina e liquor; Concentração de ácido fólico e B12; Tomografia computadorizadaou ressonância magnética do cérebro; Punção lombar e exame do liquor. Diagnóstico É importante a solicitação de todos os exames laboratoriais, pois sempre haverá causa orgânica no delirium. E - Diagnósticos diferenciais Demência, em que o curso é mais lento e insidioso e não há rebaixamento do nível de consciência. Porém, ambas as condições podem coexistir; Mania ou outro transtorno psicótico, em que o paciente também apresenta alucinações, delírios, pensamento desorganizado e agitação, mas não tem alteração da consciência; Depressão, que se confunde, sobretudo, com o subtipo sonolento de delirium. F - Tratamento O tratamento da condição médica que induz à agitação é primário. Posteriormente, se necessário, deve-se sedar com neuroléptico de alta potência e baixa interferência em parâmetros vitais: haloperidol (Haldol®), 5mg IM, a cada 30 minutos, até obter sedação, com possibilidade de dose máxima entre 45 e 100mg em 24 horas. Pode-se utilizar neuroléptico atípico, como risperidona, 1 a 2mg VO, ou ziprasidona, 40mg VO. Deve-se manter cerca de metade da dose inicialmente eficaz, intramuscular ou oral, com redução progressiva à medida que os sintomas remitem. A dose de manutenção em idosos deve ser menor: 1mg VO, a cada 12 horas. Tratamento O tratamento de delirium envolve o manejo específico da afecção orgânica primária e, se necessário, o controle da agitação, com haloperidol 5mg IM, a cada 30 minutos, até 45 a 100mg em 24 horas, risperidona 1 a 2mg VO ou ziprasidona 40mg VO. 3. Demência A - Definição A demência é uma síndrome progressiva que apresenta múltiplos comprometimentos da função cognitiva. As 3 características principais são: Esquecimento ou problemas com a memória; Problemas de comportamento (agitação, insônia, choro fácil, comportamentos inadequados); Perda das habilidades adquiridas durante a vida (dirigir, vestir a roupa, gerenciar a vida financeira, cozinhar etc.). B - Etiologia A demência pode ter várias causas, algumas delas reversíveis (15% dos casos). A mais comum é a doença de Alzheimer (50% dos casos), seguida da demência vascular (15% dos casos). Outros fatores que podem causar demência são: Drogas e toxinas; Tumores cerebrais; Traumatismo cranioencefálico; Hidrocefalia de pressão normal; Transtornos neurodegenerativos: Parkinson, Huntington, Pick; Infecções: sífilis, encefalite, HIV; Transtornos nutricionais e metabólicos. Dica A doença de Alzheimer é a causa mais comum de demências. C - Diagnóstico Devem ser solicitados exames laboratoriais tanto para diagnóstico quanto para tentar estabelecer a etiologia da demência. São os mesmos exames realizados nos casos de delirium. a) Doença de Alzheimer A doença é diagnosticada depois de excluídas as demais causas de demência, já que seu diagnóstico definitivo é o exame anatomopatológico do cérebro. Ocorre quadro de início insidioso, sendo os déficits de memória os primeiros sintomas. A doença progride em fases. Vários estudos demonstraram que a doença de Alzheimer é idade- dependente e que o risco aumenta em familiares, demonstrando que a genética está fortemente relacionada. A hereditariedade está muito mais marcada na chamada doença de Alzheimer familiar (15 a 20%), cujo início é precoce, antes dos 65 anos, do que na doença de Alzheimer esporádica (80 a 85%), caracterizada pelo aparecimento em idades mais avançadas. A forma familiar está relacionada à herança autossômica dominante com penetrância idade-dependente. Já na forma esporádica, há um padrão de alta frequência e baixa penetrância, distúrbio relacionado a um único gene ou um modelo multifatorial com múltiplos genes e/ou fatores não genéticos. O componente genético parece variar de família para família: algumas fortemente relacionadas, outras sem grande relevância. b) Demência vascular A demência vascular é causada por várias enfermidades, que têm em comum origem vascular, derrame ou trombose, além da obstrução de pequeninas artérias cerebrais (Binswanger), ou por causas cardiorrespiratórias (parada cardíaca ou outra causa de falta de oxigênio no cérebro). Apresenta quadro clínico de demência mais agudo (repentino) após evento neurológico, como derrame ou trombose. O diagnóstico é feito pelo exame clínico e por tomografia computadorizada ou ressonância magnética de crânio. Dica Suspeita-se de demência vascular na presença de quadro abrupto, alterações no exame neurológico e histórico de doença cardiovascular. D - Tratamento das demências Se for por causa reversível, deve-se tratar as demências o mais rápido possível. Nas degenerativas, deve-se manejar os transtornos de comportamento com antipsicóticos em doses baixas (Haldol®, 1 a 2mg/d; risperidona, 1 a 2mg/d). A doença de Alzheimer pode estabilizar-se com um inibidor de colinesterase (rivastigmina, donepezila, tacrina). Na demência vascular, deve-se controlar a doença de base para prevenir novos infartos. São fundamentais orientação familiar e suporte psicossocial. 4. Diagnósticos diferenciais A depressão é o estado psiquiátrico mais comum que pode apresentar-se sob a forma de demência. O termo pseudodemência indica que portadores de doença depressiva podem apresentar quadro demencial. Quando convenientemente tratados, respondem muito bem, chegando frequentemente à remissão completa do quadro demencial, o que não acontece nas demências de Alzheimer ou vascular. Resumo Os transtornos mentais orgânicos compreendem afecções que têm em comum uma etiologia demonstrável, como doença, lesão cerebral ou outro comprometimento que leva a disfunção cerebral; Ocorre comprometimento das funções cognitivas (memória, linguagem, atenção), deterioração do controle emocional, do comportamento social ou da motivação; As principais síndromes mentais orgânicas são: Delirium; Demência. Delirium Delirium, ou estado confusional agudo, é caracterizado por rebaixamento súbito do nível de consciência, comprometimento da atenção, distúrbios da percepção, distúrbio da capacidade de compreensão e abstração, déficit de memória de fixação e outros. Tem duração limitada de dias ou semanas, e os sintomas desaparecem após o fator de causa ser identificado e tratado; Tem diversas etiologias, como: Infecções sistêmicas; Infecção do trato urinário; Desequilíbrio eletrolítico; Hipoglicemia; Hipóxia; Trauma; Abstinência de substâncias; Medicamentos; Toxinas. Para o diagnóstico, é necessário tentar encontrar e tratar a causa-base. Os exames que devem ser solicitados são: hemograma; eletrólitos; ureia; creatinina; TGO; TGP; glicemia; TSH; T4; VDRL; teste de HIV; urina I; eletrocardiograma; radiografia de tórax; teste de drogas no sangue e na urina; ácido fólico; B12; tomografia de crânio; liquor, quando necessário; Diagnóstico diferencial com: Depressão; Mania; Transtorno psicótico. Tratamento: é fundamental tratar a causa-base e, se agitação, utilizar haloperidol. Demência A demência é uma síndrome progressiva com comprometimento da função cognitiva, principalmente: Problemas de memória; Problemas de comportamento; Perda de habilidades adquiridas ao longo da vida. Pode ser reversível ou irreversível; As principais formas são: Alzheimer; Vascular. A doença de Alzheimer é diagnosticada após a exclusão de outras causas, é geneticamente relacionada e tem quadro insidioso, com 3 fases: Inicial: perda de memória; Intermediária: deterioração das habilidades verbais; Avançada: tendência de perda da fala. A demência vascular é causada por doenças de origem vascular e apresenta quadro mais agudo. Transtornos mentais decorrentes de substâncias psicoativas Licia Milena de Oliveira 1. Conceitos gerais Os conceitos definidos segundo o Compêndio de Psiquiatria: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica e o consenso de Abuso e Dependência do Álcool (2002), da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), estão apresentados a seguir. A - Substâncias psicoativas ou drogas Substâncias psicoativas, ou drogas, são substâncias que alteram o comportamento do usuário e o induzema usá-las novamente. São classificadas de acordo com o efeito que causam no cérebro, em depressoras (álcool, inalantes, opioides), estimulantes (cocaína, nicotina e anfetamina) e alucinógenas (LSD). B - Abuso de substâncias A característica essencial do abuso de substâncias é um padrão mal adaptativo de uso, manifestado por consequências, significativamente danosas e recorrentes, relacionadas ao uso repetido da substância. Em decorrência do abuso, pode haver fracasso repetido em cumprir obrigações importantes, uso repetido em situações em que isso apresenta perigo físico, problemas legais, sociais e interpessoais. Tais problemas devem ser recorrentes (com recaídas) durante um período de 12 meses. A diferença entre dependência e abuso de substâncias diz respeito à tolerância (aumento na quantidade consumida), à abstinência (crise por falta da substância) ou a um padrão de uso compulsivo. Embora um diagnóstico de abuso de substâncias seja mais provável em indivíduos que começaram recentemente a consumi-las, alguns indivíduos continuam por longo período sofrendo as consequências sociais adversas relacionadas a ela, sem desenvolverem evidências de dependência de substância. A categoria “abuso de substância” não se aplica à nicotina e à cafeína. C - Dependência Dependência é a presença de um agrupamento de sintomas psicofisiológicos, indicando que a pessoa continua a usar a substância apesar dos problemas significativos relacionados a ela. Há um padrão de uso repetido que, em geral, resulta em tolerância, abstinência (dependência física) e comportamento compulsivo de consumo da droga, com impulso irrefreável para consumi-la (dependência psicológica). Um diagnóstico de dependência de substância pode ser aplicado a toda classe de substâncias, exceto à cafeína. Os sintomas de dependência são similares entre as várias categorias de substâncias, mas, para certas classes, alguns são menos salientes e, em certos casos, nem todos os sintomas se manifestam. Dica Para haver dependência, deve haver abstinência (dependência física), comportamento compulsivo de consumo com impulso irrefreável (dependência psicológica) e tolerância. O uso diário de substância não é critério para dependência. D - Tolerância Tolerância é a necessidade de crescentes quantidades da substância para atingir o efeito desejado ou um efeito acentuadamente diminuído com o uso continuado da mesma quantidade da substância. O grau em que a tolerância se desenvolve varia imensamente. Indivíduos em uso intenso de opioides e estimulantes podem desenvolver níveis substanciais (multiplicados por 10) de tolerância. Em geral, a tolerância ao álcool é muito menos extrema do que no caso das anfetaminas. Muitos tabagistas consomem mais de 20 cigarros/dia, quantidade que teria produzido sintomas de toxicidade quando começaram a fumar. Os indivíduos em uso intenso de maconha, em geral, não têm consciência de que desenvolveram tolerância (embora esta tenha sido demonstrada em estudos com animais e em alguns indivíduos). E - Síndrome de abstinência A síndrome de abstinência é uma alteração comportamental mal adaptativa, com elementos fisiológicos e cognitivos, que ocorre quando as concentrações de uma substância no sangue e nos tecidos declinam em um indivíduo que manteve uso intenso e prolongado dela. Após o desenvolvimento dos sintomas desagradáveis de abstinência, a pessoa tende a consumir a substância para aliviá-los ou evitá-los, tipicamente o dia inteiro, começando logo após o despertar. Os sintomas de abstinência variam imensamente entre as classes de substâncias, de modo que são oferecidos conjuntos separados de critérios de abstinência para a maioria das classes. Sinais acentuados e, com frequência, facilmente mensuráveis de abstinência são comuns com álcool, opioides e sedativos, hipnóticos e ansiolíticos. Os sinais e sintomas de abstinência com frequência estão presentes, mas podem ser menos visíveis no caso de estimulantes, como anfetaminas, cocaína e nicotina. Nenhuma abstinência significativa é vista, mesmo após o uso repetido de alucinógenos. Dica Tolerância e abstinência estão presentes na dependência de substâncias e ausentes no abuso de substâncias. F - Intoxicação A intoxicação é o desenvolvimento de uma síndrome reversível específica, ocasionada pela recente ingestão de uma substância (ou exposição a ela). Diferentes substâncias podem produzir síndromes similares ou idênticas. Alterações comportamentais ou psicológicas clinicamente significativas e mal adaptativas, em razão do efeito da substância sobre o Sistema Nervoso Central (SNC – beligerância, instabilidade do humor, prejuízo cognitivo, comprometimento da memória, prejuízo no funcionamento social ou ocupacional), que se desenvolvem durante ou logo após o uso da substância. Os sintomas não são atribuídos a uma condição médica geral nem são mais bem explicados por outro transtorno mental. Na intoxicação por ADT pode-se encontrar agitação ou sedação, midríase, taquicardia, convulsões generalizadas, perda da consciência, depressão respiratória, arritmia cardíaca, parada cardíaca e morte. Tendo em vista a grande afinidade proteica dos ADTs, sua eliminação por diálise ou diurese é muito difícil. Nos casos de intoxicação, indica-se o uso de anticolinesterásicos (fisostigmina ou Prostigmine® intramusculares ou intravenosas) e medidas de sustentação geral. Na intoxicação por anticolinesterásico, como os organofosforados, as manifestações tóxicas se devem à inibição da acetilcolinesterase no sistema nervoso. Manifestações muscarínicas incluem miose, lacrimejamento aumentado, broncoespasmo, visão turva, broncorreia, diaforese, salivação, bradicardia, hipotensão, incontinência urinária e motilidade gastrintestinal aumentada. Manifestações nicotínicas incluem fasciculações, fraqueza muscular, hipotensão, cãibras e paralisia respiratória. Toxicidade do SNC gera ansiedade, fala pastosa, alterações do estado mental (delirium, coma e convulsões) e depressão respiratória. G - Dados epidemiológicos 2. Álcool Tema frequente de prova A dependência alcoólica, bem como suas consequências, estão presentes nas questões. A - Mecanismo de ação Quando consumido, o álcool passa pelo estômago e começa a ser absorvido no intestino, caindo na corrente sanguínea. Ao passar pelo fígado, começa a ser metabolizado. A 1ª substância formada pelo álcool chama-se acetaldeído, depois convertido em acetato por outras enzimas. Essas substâncias, como o álcool excedente, são eliminadas pelos rins. As que, eventualmente, voltam ao fígado, são transformadas em água e gás carbônico expelido pelos pulmões. A passagem do intestino para o sangue ocorre conforme a velocidade com que o álcool é ingerido; já o processo de degradação do álcool pelo fígado obedece a um ritmo fixo, podendo ser ultrapassado pela quantidade consumida. Quando isso ocorre, tem-se a intoxicação pelo álcool (estado de embriaguez). Como a quantidade de enzimas é regulável, um indivíduo em uso contínuo de álcool acima do necessário estará produzindo mais enzimas metabolizadoras do álcool, tornando-se mais “resistente” a ele. A presença de alimentos no intestino lentifica a absorção do álcool. Apesar de ser altamente calórico, o álcool não fornece material estocável, assim a energia oferecida é utilizada enquanto ele circula ou é perdida. O dano físico direto do álcool sobre o cérebro é um fato inquestionavelmente confirmado. A parte mais afetada costuma ser o córtex pré-frontal, responsável pelas funções intelectuais superiores, como raciocínio, capacidade de abstração de conceitos e lógica. Os mesmos estudos que investigam as imagens do cérebro identificam uma correspondência linear entre a quantidade de álcool consumida ao longo do tempo e a extensão do dano cortical. Quanto mais álcool, maior o dano. Depois do córtex, as áreas envolvidas são as relacionadas com a memória e o cerebelo, que é a parte responsável pela coordenação motora. O estresse oxidativo, decorrente do metabolismo do etanol, produz alto nível intracelularde espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, que são os pontos cardiais da patogênese de uma série de complicações clínicas relacionadas ao álcool, como hepatopatia alcoólica, pancreatopatia alcoólica, miocardiopatia alcoólica, alterações hematológicas etc. A peroxidação de lipídios, formando ácidos graxos, também contribui com as lesões orgânicas advindas do metabolismo do álcool. A ação do etanol interfere em macromoléculas celulares, em ácidos nucleicos e na cascata de sinalização intra e extracelular, altera as mitocôndrias e produz dano no retículo endoplasmático, no DNA e nos ribossomos. B - Intoxicação Os estados de intoxicação e embriaguez normalmente são obtidos de modo voluntário. Neles, a pessoa tem alteração da fala (fala arrastada), incoordenação motora, ataxia, nistagmo, prejuízos na memória e atenção, estupor ou coma nos casos mais extremos. Em geral, junto a essas alterações neurológicas, apresenta-se um comportamento inadequado ou impróprio da pessoa intoxicada. O tratamento consiste em medidas gerais de suporte à vida e atenção para trauma cranioencefálico e broncoaspiração de vômitos, bastante comuns. O intoxicado deve receber, sempre, tiamina antes do início do soro glicosado, para prevenir complicações como a Síndrome de Wernicke-Korsakoff (SWK). Embriaguez patológica é uma condição em que, com ingestão de pequenas doses de álcool, há comportamento violento, crepuscularização da consciência e amnésia lacunar. C - Abuso O critério de abuso existe para caracterizar as pessoas com eventuais problemas em razão de consumos excessivos de álcool em curtos períodos de tempo. Para o diagnóstico, é preciso que o paciente esteja tendo problemas com álcool durante, pelo menos, 12 meses e apresente, pelo menos, 1 das seguintes situações: Prejuízos significativos no trabalho, na escola ou na família, como faltas ou negligências nos cuidados com os filhos; Exposição a situações potencialmente perigosas, como dirigir ou manipular máquinas perigosas embriagado; Problemas legais, como desacato a autoridades ou a superiores; Persistência no uso de álcool, apesar do apelo das pessoas próximas para que interrompa o uso. D - Dependência Para o diagnóstico de dependência alcoólica, é preciso que o usuário venha tendo problemas decorrentes do uso de álcool durante 12 meses seguidos e preencher, ao menos, 3 dos seguintes critérios (CID-10): Tolerância ao álcool: marcante aumento da quantidade ingerida para produção do mesmo efeito obtido no início ou marcante diminuição dos sintomas de embriaguez ou, ainda, outros resultantes do consumo de álcool, apesar da contínua ingestão; Sinais de abstinência: após a interrupção do consumo de álcool, o indivíduo passa a apresentar sudorese excessiva, aceleração do pulso (acima de 100), tremores nas mãos, insônia, náuseas e vômitos, agitação psicomotora, ansiedade, convulsões e alucinações táteis. A reversão desses sinais com a reintrodução do álcool comprova a abstinência; O dependente de álcool, geralmente, bebe mais do que planejava; Persistente desejo de voltar a beber ou incapacidade de interromper o uso; Emprego de muito tempo para obter a bebida ou recuperar-se do seu efeito; Persistência na bebida, apesar dos problemas e dos prejuízos gerados, como perda do emprego e das relações familiares. Diagnóstico Para haver dependência alcoólica, deve haver uso por pelo menos 12 meses seguidos, somados a 3 destes critérios: tolerância, abstinência, ingestão excessiva, persistência do desejo de beber, uso de muito tempo para obter a bebida ou recuperar-se do seu uso e persistência da dependência. Outro instrumento cada vez mais utilizado para avaliação de dependência ao álcool é o questionário CAGE. Ele é composto por 4 perguntas, de fácil memorização, sendo bastante preciso para identificar pacientes dependentes de álcool conforme a definição dos critérios diagnósticos. A presença de 2 respostas afirmativas sugere uma indicação positiva de dependência de álcool. As perguntas são: 1 - Cut down (diminuir): você já pensou em largar a bebida? 2 - Annoyed (aborrecido): você já ficou aborrecido quando outras pessoas criticaram o seu hábito de beber? 3 - Guilt (culpa): você já se sentiu mal ou culpado pelo fato de beber? 4 - Eye-opening (ao despertar): você já bebeu pela manhã para ficar mais calmo ou se livrar de uma ressaca? Diante de um caso de dependência, ainda podemos classificar cada indivíduo de acordo com a classificação de Cloninger. Essa classificação toma por base a epidemiologia e a genética do dependente, e serve para identificar comportamentos e estabelecer uma melhor abordagem terapêutica para o alcoolismo. Cloninger classificou o alcoolismo em 2 tipos: Alcoolismo tipo I ou alcoolismo decorrente do meio, que é a forma mais frequente, com igual equivalência em ambos os sexos, de progressão lenta e de início após os 20 anos de idade, associada a uma personalidade passivo-dependente. Alcoolismo tipo II, que foi definido como o alcoolismo exclusivamente masculino, com início antes dos 20 anos de idade, de rápida progressão para a dependência em sujeitos muito impulsivos, e com tendência a personalidade antissocial. E - Abstinência A síndrome de abstinência constitui-se no conjunto de sinais e sintomas observados nas pessoas que interrompem o consumo de álcool após longo e intenso uso. As formas mais leves de abstinência se apresentam com tremores, aumento da sudorese, aceleração do pulso, insônia, náuseas e vômitos e ansiedade depois de 6 a 8 horas desde a última bebida. A síndrome de abstinência leve limita-se a tremores, insônia e irritabilidade. A síndrome de abstinência torna-se mais perigosa com o surgimento do delirium tremens. Dica A abstinência de álcool inicia-se com tremores, cerca de 6 a 8 horas após a interrupção do uso da substância. - Delirium tremens O delirium tremens é uma forma mais intensa e complicada da abstinência, que se inicia, geralmente, após 72 horas da última ingesta. delirium é um diagnóstico inespecífico em Psiquiatria, que designa estado de confusão mental (a pessoa não sabe onde está, em que dia está, não consegue prestar atenção em nada, tem comportamento desorganizado, além de fala desorganizada ou ininteligível, e à noite pode ficar mais agitada do que durante o dia). A abstinência e várias outras condições médicas não relacionadas ao alcoolismo podem causar esse problema. Um traço comum no delirium tremens, mas nem sempre presente, são as alucinações táteis e visuais, em que o paciente vê insetos ou animais asquerosos próximos ou pelo seu corpo, podendo levá-lo a um estado de agitação violenta. Trata-se de uma condição potencialmente fatal, principalmente nos dias quentes e nos pacientes debilitados. A fatalidade, quando ocorre, é atribuída ao distúrbio hidroeletrolítico. F - Tratamento Segundo o projeto Diretrizes da Associação Médica Brasileira, de 2012, e o consenso de Abuso e Dependência do Álcool, da ABP, 2002: Reposição vitamínica: tiamina intramuscular, nos primeiros 7 a 15 dias; após esse período, por via oral. Doses de 300mg/d de tiamina são recomendadas com o objetivo de evitar a SWK, que cursa com ataxia, confusão mental e anormalidades de movimentação ocular extrínseca (esta última, nem sempre presente); Benzodiazepínicos: a prescrição deve basear-se em sintomas. Dessa forma, as doses recomendadas são as que, em média, o paciente pode receber em determinado dia. O diazepam é usado na dose de 20mg/d VO, com retirada gradual ao longo de 1 semana. O clordiazepóxido pode ser usado até 100mg/d VO, com retirada gradual ao longo de 1 semana. Nos casos de hepatopatias graves: lorazepam 4mg/d VO, com retirada gradual em 1 semana. Tratamento Na síndrome de abstinência, utilizam-se tiamina 300mg/d por 7 a 15 dias e diazepam 20mg/d VO, ou lorazepam 4mg/d VO (hepatopatas). Dica Deve-se sempre administrar tiamina antes da glicose no tratamento da abstinência, para evitar a síndrome de Wernicke-Korsakoff. - Tratamento das complicações Convulsões: a maioria das crises é do tipotônico-clônica generalizada. As crises convulsivas correspondem a uma manifestação relativamente precoce da abstinência; mais de 90% ocorrem até 48 horas após a interrupção do uso de álcool (pico entre 13 e 24 horas) e estão associadas à evolução para formas graves de abstinência. Cerca de 1/3 dos que apresentam crises evolui para delirium tremens, se não tratado. Em 40% dos casos, as crises ocorrem isoladamente. Nos pacientes que apresentam mais de 1 crise, ocorrem, em geral, em número limitado. O diazepam (ou um benzodiazepínico de ação longa) é a medicação de escolha, na dose de 10 ou 20mg VO. O uso intravenoso é especialmente indicado durante os episódios convulsivos; Tratamento Nas convulsões causadas por abstinência, utiliza-se diazepam 10 a 20mg/d VO. delirium tremens: forma grave de abstinência, geralmente se inicia entre 1 e 4 dias após a interrupção do uso de álcool, até 3 ou 4 dias. Caracteriza-se por rebaixamento do nível de consciência, com desorientação, alterações sensoperceptivas, tremores e sintomas autonômicos (taquicardia, elevação da pressão arterial e da temperatura corporal). Doses elevadas de benzodiazepínico são necessárias, mas o uso associado de neurolépticos é, em maior parte, indicado. O tratamento farmacológico inclui diazepam, 60mg/d (ou lorazepam, até 12mg/d, em casos de hepatopatia grave) e haloperidol, 5mg/d. Tratamento No delirium tremens, utiliza-se diazepam 60mg/d VO ou lorazepam 12mg/d VO (hepatopatas) e haloperidol 5mg/d. G - Efeitos crônicos Os alcoólatras crônicos podem desenvolver algum problema grave de memória. Há 2 desses tipos: a 1ª é a chamada SWK, e a outra é a demência alcoólica. a) Wernicke-Korsakoff (síndrome amnésica) A SWK caracteriza-se por incoordenação motora, movimentos oculares rítmicos, como durante uma leitura (nistagmo), e paralisia de certos músculos oculares, provocando algo parecido ao estrabismo para quem antes não o possuía. Além desses sinais neurológicos, o paciente pode estar em confusão mental, ou, se com a consciência clara, apresentar prejuízos evidentes na memória recente (não consegue gravar o que o examinador falou 5 minutos antes). Muitas vezes, para preencher as lacunas da memória, o indivíduo inventa histórias (a isso se chama fabulação). Tal quadro deve ser considerado emergência, pois requer imediata reposição da vitamina B1 (tiamina) para evitar o agravamento da situação. Os sintomas neurológicos, já citados, são rapidamente revertidos com a reposição da tiamina, mas o déficit da memória pode tornar-se permanente. Dica O uso de tiamina (vitamina B1) interrompe a síndrome de Wernicke- Korsakoff, revertendo sintomas neurológicos, mas pode manter o déficit de memória. b) Síndrome demencial alcoólica A síndrome demencial alcoólica é semelhante à demência propriamente dita, como a de Alzheimer. No uso intenso e prolongado, mesmo sem a SWK, o álcool pode provocar lesões difusas no cérebro, prejudicando, além da memória, a capacidade de julgamento, de abstração de conceitos; a personalidade pode alterar-se; todo o comportamento fica prejudicado. A pessoa torna-se incapaz de se sustentar. H - Tratamento Segundo o projeto Diretrizes da Associação Médica Brasileira, de 2012, o tratamento é complexo, pois depende, principalmente, da motivação do indivíduo para parar de beber. Pode-se usar medicações (naltrexona, acamprosato) para diminuir o desejo pelo álcool, e deve-se prevenir recaídas, especialmente, com consultas próximas, psicoterapia ou grupos de ajuda. A internação deve ocorrer se o paciente não consegue parar de beber e apresenta danos físicos que o coloquem em risco, se tem outro transtorno psiquiátrico associado em estado grave ou se as recaídas são muito constantes. 3. Cocaína A - Mecanismo de ação Ocorre bloqueio da recaptação de dopamina, aumentando tal substância na fenda sináptica. Há, então, aumento da transmissão de estímulos da sensibilidade e do número de receptores. A dopamina aumenta a atividade psicomotora, provoca comportamentos estereotipados e reduz o consumo de alimentos, além de estar relacionada aos centros límbicos, responsáveis pelo prazer. B - Intoxicação aguda Os sintomas mais comuns são: Taquicardia ou, menos frequentemente, bradicardia; Midríase, tornando mais difícil estar em ambientes claros; Elevação da pressão sanguínea ou, menos constantemente, diminuição da pressão; Calafrios, náuseas e vômitos; Perda de peso consequente à anorexia; Agitação psicomotora ou, menos frequentemente, retardo psicomotor; Dores musculares, diminuição da capacidade respiratória e arritmias cardíacas; A relação entre o consumo de cocaína e infarto do miocárdio vem sendo estudada. Tanto o crack como a merla também são derivados da coca, com efeitos semelhantes. Porém, a via de uso dessas 2 formas confere diferenças importantes; assim que fumados (crack e merla), alcançam o pulmão, que é intensivamente vascularizado e apresenta grande superfície, levando a absorção instantânea. Caem quase imediatamente na circulação, chegando rapidamente ao cérebro, aparecendo os efeitos da cocaína muito mais rapidamente que por outras vias. Pela via pulmonar, os primeiros efeitos já ocorrem em 10 a 15 segundos; pela via inalatória, após 10 a 15 minutos e, pela via intravenosa, em 3 a 5 minutos. A duração dos efeitos, contudo, é muito rápida: em torno de 5 minutos, ao passo que, após injetar ou cheirar, é de cerca de 20 a 45 minutos, respectivamente. Essa duração efêmera dos efeitos faz que o usuário volte a utilizar a droga com mais frequência (praticamente a cada 5 minutos) por essa via que pelas outras, gerando compulsão, popularmente denominada “fissura”, uma vontade incontrolável de sentir os efeitos de prazer provocados pela droga. Uma dose alta da droga pode desencadear um quadro de overdose, ou seja, falência de 1 ou mais órgãos, com alto risco de morte. A overdose pode acometer tanto usuários crônicos quanto eventuais. A dose letal é incerta, dependendo de fatores como tolerância e pureza da droga consumida. Ocorre aumento do tônus simpático por bloqueio da recaptação das monoaminas no SNC. Os sintomas mais comuns na overdose são: Agitação psicomotora; Arritmia cardíaca; Angina ou infarto agudo do miocárdio; Acidente vascular cerebral; Convulsões. C - Abstinência A interrupção do uso contínuo de cocaína é, em geral, seguida de uma crise que pode ser vista como síndrome de abstinência, na qual a exaltação dá lugar a apreensão, depressão profunda, sonolência e inércia. A abstinência pode durar até 10 semanas, e são frequentes as recaídas. Dica A cocaína possui ação parecida com a dos antidepressivos, portanto a abstinência dela leva a sintomas depressivos. D - Efeitos crônicos Síndrome psicótica com delírios paranoides, alucinações visuais e auditivas e ideias de autorreferência. Nas grávidas que usam cocaína, foram descritos efeitos teratogênicos, incluindo anormalidades do trato urinário e deformidade dos membros. E - Tratamento Tratam-se, basicamente, sintomas depressivos, ansiosos ou psicóticos produzidos pela droga ou pela abstinência. O tratamento é sintomático e de manutenção; na psicose cocaínica, aplica-se haloperidol (5mg IM ou VO, a cada 6 horas) ou tioridazina (25 a 50mg, a cada 8 horas). Tratamento Na psicose cocaínica, utiliza-se haloperidol 5mg IM ou VO, a cada 6 horas, ou tioridazina 25 a 50mg, a cada 8 horas. 4. Cannabis (maconha) A - Intoxicação Durante a fase de intoxicação, o usuário apresenta hiperemia ocular, aumento do apetite, xerostomia e taquicardia. Acontece, ainda, aumento da sensibilidade aos estímulos externos, revelando cores e detalhes antes não percebidos. A percepção do tempo também é afetada, passando a ser sentido como se estivesse mais lento. Sensações de que o mundo está diferente, distante ou de que houve uma mudança em si mesmo, como se não fosse a mesma pessoa ou se estivesse sonhando, também podem ocorrer. Como efeito imediato, há um prejuízo na memória de curto prazo, na atenção e na capacidade de recordação e de retenção doconhecimento. Há prejuízo na capacidade de realizar tarefas que apresentem múltiplas etapas. A capacidade de traduzir em palavras o que se pensa também fica lesada. As capacidades motoras também ficam prejudicadas, como a capacidade de exercer a força muscular original. Inibição dos reflexos, incoordenação e desequilíbrio podem acontecer em doses mais altas. B - Efeitos em longo prazo Têm sido muito estudados os prejuízos permanentes que a maconha pode causar após o uso intenso durante tempo prolongado (mais de 10 anos). Os achados não são conclusivos; não se podem, por enquanto, confirmar nem descartar efeitos como a síndrome amotivacional (indivíduo apático, sem persistência em seus objetivos), embora ela se manifeste em muitos usuários. Os testes neuropsicológicos não puderam detectar prejuízos, assim como os testes de imagens. A ausência de alterações nos exames não pode ser considerada ausência de prejuízo; é possível que este só aconteça a uma parte dos usuários, ou que os instrumentos e as técnicas de pesquisa ainda não sejam capazes de localizar o problema. C - Dependência e abstinência A maioria não se torna dependente, e a minoria desenvolve síndrome de uso compulsivo da droga. Na abstinência, os sintomas são irritabilidade, insônia, tremores, visão turva e incoordenação dos movimentos. D - Tratamento O tratamento baseia-se nos mesmos princípios de outras drogas. Deve-se incentivar a abstinência e tratar seus efeitos sintomaticamente. Grupos de apoio e psicoterapia são de grande ajuda. 5. Opioides A - Definição Opioide é um termo designado para qualquer substância (endógena ou sintética) similar à morfina. São elas: heroína, ópio, codeína, metadona, fentanila e meperidina. B - Intoxicação aguda Pode haver sonolência e até inconsciência, miose, depressão respiratória, resposta reduzida à dor, bradicardia, convulsões e coma. Tríade clássica: coma, pupilas “em ponta de alfinete” e depressão respiratória. Trata-se de uma emergência, devendo-se garantir suporte à vida e medicar o paciente com naloxona (antagonista opioide). Dica A tríade clássica da intoxicação aguda por opioides é composta por coma, pupila “em ponta de alfinete” e depressão respiratória, revertendo-se com naloxona. C - Dependência e abstinência A tolerância desenvolve-se rapidamente. Todavia, os sintomas de abstinência sucedem unicamente com uso crônico e parada abrupta. Na abstinência ocorrem sudorese, midríase, ansiedade e fissura, lacrimejamento, rinorreia, tremores, diarreia, náuseas e vômitos, dor muscular e nas articulações, taquicardia, aumento da pressão arterial, calafrios e insônia. D - Tratamento e complicações A metadona pode evitar sintomas de abstinência. As complicações são atribuídas ao uso intravenoso (tromboflebites, úlceras, meningite bacteriana, hepatites e HIV) e podem ser evitadas, por exemplo, com agulhas descartáveis. 6. Inalantes A - Intoxicação aguda Incidem euforia, desinibição, zumbidos, ataxia, risos imotivados e fala pastosa. Com doses mais altas, podem ocorrer arritmia cardíaca, depressão do SNC com convulsões, coma e morte. B - Efeitos em longo prazo Não há evidências de tolerância ou abstinência. As principais complicações crônicas são atrofia cortical e cerebelar, insuficiência renal crônica e hepatite tóxica. 7. Sedativos e hipnóticos (benzodiazepínicos) A - Abstinência A abstinência tem início de 2 a 10 dias após a parada do uso. Podem advir irritabilidade, insônia, tremores, sudorese, palpitação, cefaleia, dores musculares e déficits de memória. Os benzodiazepínicos não são indicados por períodos prolongados, devendo-se diminuir gradualmente a sua dosagem, até a retirada do medicamento. B - Efeitos em longo prazo O risco de dependência é muito grande, e podem ocorrer piora da memória e da coordenação motora, sonolência, tontura, quedas e fraturas. Importante Benzodiazepínicos devem ser sempre introduzidos por curto espaço de tempo, para evitar dependência. 8. Alucinógenos A - Definição Os alucinógenos são substâncias naturais (cogumelos) e sintéticas (LSD) que causam alucinações e perda de contato com a realidade. Os principais efeitos ocorrem no sistema serotoninérgico. A tolerância desenvolve-se rapidamente, mas não existe dependência ou abstinência. B - Intoxicação aguda Podem ocorrer ansiedade, ideação paranoide, medo de perder o juízo, despersonalização, desrealização, comprometimento da crítica, ilusões, alucinações, midríase, taquicardia, sudorese, visão turva, tremores e incoordenação motora. C - Efeitos em longo prazo Mesmo com pouco ou único uso, pode haver fenômeno de flashback (alucinações dias após a ingestão), transtorno psicótico prolongado e “bad trip” (pânico, depressão e comportamento suicida). 9. Anfetaminas A - Definição A mais conhecida é a metanfetamina, ou ecstasy, de uso recreativo. Porém, as anfetaminas também podem ser utilizadas para o tratamento de doenças psiquiátricas, como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. B - Intoxicação O indivíduo sob sua ação tem insônia, inapetência, sente-se cheio de energia e fala mais rápido. Quem toma anfetaminas é capaz de executar uma atividade qualquer por mais tempo, sentindo menos cansaço, o qual só aparece horas mais tarde, quando a droga já não está mais presente no organismo; com uma nova dose, as energias voltam, embora com menos intensidade. De qualquer modo, as anfetaminas fazem que o organismo reaja além de suas capacidades, exercendo esforços excessivos, o que, logicamente, é prejudicial à saúde. Causam midríase, taquicardia e aumento da pressão sanguínea (crise hipertensiva). Se uma pessoa exagera na dose fica mais agressiva, irritadiça, começa a suspeitar de que outros estão tramando contra ela (delírio persecutório). Os sinais físicos ficam também muito evidentes: midríase acentuada, pele pálida devido à contração dos vasos sanguíneos e taquicardia. Tais intoxicações são graves, e a pessoa, geralmente, precisa ser internada até a desintoxicação completa. Algumas vezes, durante a intoxicação, a temperatura aumenta muito, o que é bastante perigoso, pois pode levar a convulsões. C - Abstinência Chega a atingir quase 90% dos usuários. A pessoa sente grande falta de energia (astenia), tornando-se bastante deprimida, ansiosa e agitada. 10. Nicotina Tema frequente de prova O tratamento para dependência nicotínica é cada vez mais cobrado nas questões. A - Mecanismo de ação e intoxicação A nicotina age como agonista nicotínico de receptores de acetilcolina. Na intoxicação, podem ocorrer cefaleia, náuseas e tontura. B - Abstinência Ocorrem humor disfórico ou deprimido, insônia, irritabilidade, ansiedade, inquietação e dificuldade de concentração. Dentre as perturbações físicas, estão bradicardia e aumento do apetite e do peso. C - Tratamento Pesquisas comprovam que 1 em 4 adultos, ou 1,2 bilhão de pessoas, faz uso do fumo. Até 2025, o número deve subir para mais de 1,6 bilhão. O fumo foi responsável por mais de 3 milhões de mortes em 1990, atingindo 4 milhões em 1998. A avaliação global do paciente e do grau de dependência a nicotina é fundamental para estabelecer um planejamento terapêutico na cessação do tabagismo. A avaliação é feita pelo questionário de tolerância de Fagerström, que também ajuda na tomada de decisão sobre a conduta individualizada. Recomenda-se o tratamento farmacológico a todo fumante acima de 18 anos, com consumo maior do que 10 cigarros/dia, sendo essa uma medida efetiva para a cessação do tabagismo. Verifica-se o grau de interesse do paciente em parar de fumar, de acordo com o modelo que o classifica em fases motivacionais comportamentais: pré- contemplativa (não quer parar de fumar), contemplativa (pensa em parar de fumar), ativa (preparado para iniciar tratamento), manutenção e recaída (voltou a fumar). Deve-se avaliar o grau de dependência a nicotina, saber sobre experiência pregressa com fármacos para tabagismo e considerar a presença de comorbidades. A prescrição deve considerar todos esses aspectos acrescidos das contraindicações,efeitos colaterais e precauções para o uso. Para tratamento, segundo o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de Dependência de Nicotina, podem ser usados: Adesivos de nicotina: 21mg, 14mg e 7mg em 24 horas e 15mg, 10mg e 5mg em 16 horas. A dose deve ser prescrita considerando-se o consumo médio de cigarros/dia, variando de 14 a 21mg/d, com o objetivo de controlar os sintomas de abstinência, podendo aumentar a dose a critério médico; Goma de nicotina ou pastilhas: 4 e 2mg. Fumantes de 25 cigarros ou mais devem utilizar gomas ou pastilhas de 4mg e fumantes de menos de 25 cigarros/dia devem utilizar gomas de 2mg. As gomas devem ser consumidas a cada 1 ou 2 horas ao longo de 6 semanas, com redução progressiva do consumo até a 14ª semana; Bupropiona: comprimidos de 150mg de cloridrato de bupropiona de liberação prolongada. Iniciar com 150mg, 1x/d, no 4º dia prescrever 150mg, 2x/d, e prescrever usualmente por 12 semanas; Vareniclina: comprimidos de 0,5 e 1mg de tartarato de vareniclina. Iniciar com 0,5mg, 1x/d. No 4º dia, prescrever 0,5mg, 2x/d, no 7º dia prescrever 1mg, 2x/d, e prescrever por 12 ou 24 semanas. A terapia com bupropiona e vareniclina não requer cessação imediata do tabagismo. Recomenda-se a interrupção deste a partir do 8º dia após o início desses medicamentos. Embora não tenham aprovação do Food and Drug Administration (FDA) para tratamento do tabagismo e provoquem muitos efeitos colaterais, existe evidência científica de que a nortriptilina e a clonidina sejam superiores ao placebo no tratamento do tabagismo, podendo contribuir em situações em que não se podem utilizar os medicamentos considerados de 1ª linha mencionados. Figura 1 - Diretrizes clínicas na saúde suplementar, segundo a Associação Médica Brasileira e a Agência Nacional de Saúde Suplementar Resumo Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos Licia Milena de Oliveira 1. Conceitos O termo “psicótico” tem recebido, historicamente, diversas definições diferentes, nenhuma com aceitação universal. A definição mais estreita está restrita a delírios ou alucinações proeminentes, sem crítica por parte do paciente. Ainda mais ampla é a definição que igualmente inclui outros sintomas positivos da esquizofrenia, como discurso desorganizado, comportamento amplamente desorganizado ou catatônico. De acordo com o glossário da American Psychiatric Association, o termo “psicótico” refere-se a um amplo comprometimento do teste da realidade. Importante Na psicose, encontram-se delírios, alucinações e comportamento desorganizado, podendo estar presentes em esquizofrenia, transtornos de humor (mania ou depressão) e dependência química. Os transtornos incluídos nesta seção são especificados pelo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e pela CID-10 (Classificação Internacional de Doenças). A - Esquizofrenia Trata-se de uma perturbação que dura, pelo menos, 6 meses e inclui, no mínimo, 1 mês de sintomas da fase ativa (isto é, 2 ou mais sinais, como delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento amplamente desorganizado ou catatônico e sintomas negativos). B - Transtorno esquizofreniforme Caracteriza-se por quadro sintomático equivalente ao da esquizofrenia, exceto por sua duração (isto é, a perturbação dura de 1 a 6 meses) e ausência da exigência de declínio no funcionamento. C - Transtorno esquizoafetivo Trata-se de uma perturbação em que episódio de humor e sintomas da fase ativa da esquizofrenia ocorrem juntos e foram precedidos ou seguidos por, pelo menos, 2 semanas de delírios ou alucinações sem sintomas proeminentes de humor. D - Transtorno delirante Caracteriza-se por, pelo menos, 1 mês de delírios não bizarros sem outros sintomas da fase ativa da esquizofrenia. E - Transtorno psicótico breve Trata-se de uma perturbação psicótica com duração maior que 1 dia e remissão em 1 mês. F - Transtorno psicótico compartilhado Trata-se de uma perturbação que se desenvolve em indivíduo influenciado por outra pessoa com delírio estabelecido de conteúdo similar. G - Transtorno psicótico devido a uma condição médica geral Os sintomas psicóticos são considerados consequência fisiológica direta de uma condição médica geral. H - Transtorno psicótico induzido por substância Nesse caso, os sintomas psicóticos são considerados consequência fisiológica direta de droga de abuso, medicamento ou exposição à toxina. I - Transtorno psicótico sem outra especificação Está incluído na classificação de quadros psicóticos que não satisfazem os critérios para quaisquer dos transtornos psicóticos específicos definidos nessa seção, ou de sintomatologia psicótica acerca da qual existem informações inadequadas ou contraditórias. 2. Esquizofrenia A - Características gerais Os transtornos esquizofrênicos caracterizam-se, em geral, por distorções fundamentais de características do pensamento e da percepção e por afetos inapropriados ou embotados. Usualmente, mantêm-se claras a consciência e a capacidade intelectual, embora certos déficits cognitivos possam evoluir no curso do tempo. A evolução dos transtornos esquizofrênicos pode ser contínua, episódica com déficit progressivo ou estável, ou comportar 1 ou vários episódios seguidos de remissão completa ou incompleta. Não se deve fazer diagnóstico de esquizofrenia quando o quadro clínico comporta sintomas depressivos ou maníacos no 1º plano, a menos que se possa estabelecer, sem equívoco, que a ocorrência dos sintomas esquizofrênicos tenha sido anterior à dos transtornos afetivos. Além disso, não se deve fazer o mesmo diagnóstico quando se manifesta doença cerebral, abstinência de droga ou intoxicação por ela. A esquizofrenia é uma doença caracterizada por desorganização de diversos processos mentais. Culturalmente, o esquizofrênico representa o estereótipo do “louco”, um indivíduo que produz grande estranheza social em razão do seu desprezo para com a realidade reconhecida. Dica Os transtornos esquizofrênicos não podem ser diagnosticados durante doença cerebral, abstinência, intoxicações ou outros transtornos que possam alterar o paciente. B - Histórico Em 1896, Emil Kraepelin cunhou o termo dementia praecox para uma doença que tendia a começar relativamente cedo e produzir prejuízo claro e persistente em aspectos das funções cognitivas e comportamentais. No início, ele considerava a doença com curso crônico e prognóstico ruim, porém, no decorrer de sua vida profissional, acompanhou grande amostra de pacientes e observou que 12,5% se recuperaram. Em 1908, Eugen Bleuler modificou o termo para esquizofrenia (do grego schizo = cindido/dividido, phrén = mente); para ele, o sintoma mais importante era a fragmentação na formulação e na expressão do pensamento (“afrouxamento de associações”). Identificou os 4 “As” bleulerianos – que, na realidade, são 6: associações (dissociações) no processo do pensamento; ambivalência; autismo; afeto embotado; avolição e atenção prejudicadas. Kurt Schneider, interessado em identificar sintomas patognomônicos, como Bleuler, estabeleceu uma hierarquia de sintomas, de acordo com sua importância, para o diagnóstico da esquizofrenia – sintomas de 1ª e 2ª ordens. Os de 1ª ordem não são obrigatórios para o diagnóstico de esquizofrenia. Tais concepções descritas influenciaram as classificações e os critérios atuais, como o DSM-5 e a CID-10. Mais recentemente, Crow (1980) classificou esquizofrenia em tipo I (com sintomas positivos – delírios, alucinações) e tipo II (com sintomas negativos – embotamento afetivo, pobreza de discurso). Dica A esquizofrenia, hoje, é classificada em tipos I (sintomas positivos) e II (sintomas negativos). C - Prevalência Cerca de 1% da população é acometido pela doença, geralmente iniciada antes dos 25 anos, sem predileção por qualquer camada sociocultural. O diagnóstico baseia-se, exclusivamente, na história psiquiátrica e no exame do estado mental. É extremamente raro o aparecimento de esquizofrenia antes dos 10 ou após os 50 anos, e parece não haver nenhuma diferença naprevalência entre homens e mulheres. D - Curso A idade média de início do 1º episódio psicótico de esquizofrenia situa-se na 1ª metade da casa dos 20 anos para homens e no final da casa dos 20 para as mulheres. O início pode ser abrupto ou insidioso, mas a maioria apresenta algum tipo de fase prodrômica, manifestada pelo desenvolvimento lento e gradual de uma variedade de sinais e sintomas (retraimento social, perda do interesse pela escola ou pelo trabalho, deterioração da higiene e dos cuidados pessoais, comportamento incomum e ataques de raiva). Os membros da família podem encontrar dificuldades para interpretar tal comportamento, presumindo que a pessoa está “passando por uma fase”. Por fim, o aparecimento de alguns sintomas da fase ativa marca a perturbação como esquizofrenia. A idade de início pode ter importância tanto fisiopatológica quanto prognóstica. Os indivíduos com início precoce são, mais frequentemente, do sexo masculino e têm ajustamento pré-mórbido mais fraco, aquisição educacional inferior, mais evidências de anormalidades estruturais do cérebro, sinais e sintomas negativos mais proeminentes, mais evidências de prejuízo cognitivo, avaliado com testes neuropsicológicos, e pior prognóstico. Inversamente, os indivíduos com início mais tardio são, com frequência, do sexo feminino, têm menos evidências de anormalidades estruturais do cérebro ou prejuízo cognitivo e apresentam melhor prognóstico. Dica Pacientes com início precoce de esquizofrenia têm, geralmente, evidências de anormalidades estruturais cerebrais, sexo masculino e pior prognóstico, enquanto aqueles com início tardio são, em geral, mulheres, sem anormalidades estruturais, mas com prognóstico melhor. A maioria dos estudos sobre curso e resultado da esquizofrenia sugere que o curso seja variável. Alguns indivíduos apresentam exacerbações e remissões, enquanto outros permanecem cronicamente doentes. A variabilidade na definição e na determinação impossibilita a previsão acurada do resultado da esquizofrenia em longo prazo. A remissão completa (isto é, retorno ao pleno funcionamento pré-mórbido), provavelmente, não é comum. Daqueles que continuam enfermos, alguns parecem ter curso razoavelmente estável, ao passo que outros apresentam piora progressiva associada a incapacitação severa. Logo no início da doença os sintomas negativos podem ser proeminentes, aparecendo, primariamente, como aspectos prodrômicos. Posteriormente, surgem os sintomas positivos. Uma vez que são particularmente suscetíveis ao tratamento, na maioria diminuem, mas, em muitos indivíduos, os sintomas negativos persistem entre os episódios de sintomas positivos. Estudos indicam um grupo de fatores associados ao melhor prognóstico: bom ajustamento pré-mórbido, início agudo, idade mais tardia de aparecimento, eventos estressores, perturbação do humor associada, breve duração dos sintomas da fase ativa, bom funcionamento entre os episódios, mínimos sintomas residuais, ausência de anormalidades na estrutura cerebral, funcionamento neurológico normal, história familiar de transtorno do humor e ausência de história familiar de esquizofrenia. E - Padrão genético O DSM-5 aponta que existe forte contribuição dos fatores genéticos na determinação do risco para esquizofrenia, embora a maioria dos indivíduos com diagnóstico do transtorno não tenha história familiar de psicose. Essa tendência é atribuída a um espectro de alelos de risco, que são associados a outros transtornos mentais, incluindo transtorno bipolar, depressão e transtorno do espectro autista. Os parentes biológicos em 1º grau de indivíduos com esquizofrenia estão em risco 10 vezes maior para a doença do que a população geral. As taxas de concordância para esquizofrenia são maiores em gêmeos monozigóticos do que em gêmeos dizigóticos. Estudos de adoções têm mostrado que os parentes biológicos de indivíduos com esquizofrenia têm risco substancialmente aumentado para a doença, enquanto os parentes adotivos não apresentam aumento no risco. Embora muitas evidências sugiram a importância de fatores genéticos na etiologia da esquizofrenia, a existência de uma taxa substancial de discordância em gêmeos monozigóticos também indica a importância de fatores ambientais. Dica A esquizofrenia possui grande relação genética, com aumento em 10 vezes no risco em relação à população geral. F - Diagnóstico Os sintomas característicos da esquizofrenia podem ser agrupados, genericamente, em 2 tipos: positivos e negativos. Os positivos são os mais floridos e exuberantes. Os negativos são, em maior parte, os déficits. Alguns sintomas, embora não sejam específicos da esquizofrenia, são de grande valor para o diagnóstico. Quadro clínico Os sintomas de esquizofrenia dividem-se em positivos (alucinações, delírios, incoerência, prolixidade, comportamento bizarro, agitação psicomotora, negligência no autocuidado) e negativos (pobreza de fala e conteúdo, embotamento afetivo, incapacidade de sentir emoções/prazer, isolamento social e diminuição da iniciativa/vontade). Dica Os sintomas positivos da esquizofrenia são mais facilmente revertidos com medicação, enquanto os negativos são refratários a medicação. Habitualmente, o surgimento da esquizofrenia é notado quando a família e os amigos observam que a pessoa mudou de comportamento. Ela passa a ter mau rendimento em áreas significativas da vida cotidiana, como na escola, no trabalho ou nas relações sociais e familiares. Comumente, há notável falta de interesse por cuidados pessoais. G - Critérios diagnósticos - DSM-5 a) Sintomas característicos Tema frequente de prova O reconhecimento de um quadro esquizofrênico é sempre cobrado nas provas. Dois (ou mais) dos seguintes, cada qual presente por uma porção significativa de tempo durante o período de 1 mês (ou menos, se tratados com sucesso): Delírios; Alucinações; Discurso desorganizado (frequente descarrilamento ou incoerência); Comportamento amplamente desorganizado ou catatônico; Sintomas negativos, isto é, embotamento afetivo, alogia ou avolição. Importante Apenas 1 sintoma do critério A é necessário para o diagnóstico de esquizofrenia caso os delírios sejam bizarros ou as alucinações consistam em vozes que comentam o comportamento ou os pensamentos da pessoa, ou 2 ou mais vozes conversando entre elas. b) Disfunção social/ocupacional Por uma porção significativa do tempo, desde o início da perturbação, 1 ou mais áreas importantes do funcionamento, como trabalho, relações interpessoais ou cuidados pessoais, estão acentuadamente abaixo do nível alcançado antes do início (ou, quando o início se dá na infância ou na adolescência, fracasso em atingir o nível esperado de aquisição interpessoal, acadêmica ou ocupacional). c) Duração Sinais contínuos da perturbação persistem por, pelo menos, 6 meses, período que deve incluir, no mínimo, 1 mês de sintomas (ou menos, se tratados com sucesso) que satisfazem o critério A (isto é, sintomas da fase ativa) e pode incluir períodos de sintomas prodrômicos ou residuais. Durante esses períodos, os sinais da perturbação podem ser manifestados apenas por sintomas negativos ou por 2 ou mais sintomas relacionados no critério A, presentes de forma atenuada (crenças estranhas, experiências perceptuais incomuns). d) Exclusão de transtorno esquizoafetivo e transtorno do humor O transtorno esquizoafetivo e o transtorno do humor, com aspectos psicóticos, foram descartados porque nenhum episódio depressivo maior, maníaco ou misto ocorreu concomitantemente aos sintomas da fase ativa, ou se os episódios de humor ocorreram durante os sintomas da fase ativa, sua duração total foi breve em relação à duração dos períodos ativo e residual. e) Exclusão de substância/condição médica geral A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (droga de abuso, medicamento) ou à condição médica geral. f) Relação com transtorno invasivo do desenvolvimento Se há história de transtorno autista ou outro transtorno invasivo do desenvolvimento, o diagnóstico
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