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Semiologia neurológica O sistema nervoso é difusamente distribuído, se integrando a todos os outros sistemas, por isso, o exame neurológico é extremamente detalhado e oferece muitos achados (como a lesão do fascículo longitudinal medial que resulta em oftalmoplegia internuclear, identificado facilmente no EF), além disso, na neurologia, há uma relação muito grande entre o exame físico e a anamnese, uma vez que durante o questionamento e conversa com o paciente, já se pode avaliar algumas funções neurológicas. O exame neurológico tem várias etapas, que pode ser lembrado pelo mnemônico Elisa Maria Foi Toda Contente Rever Seu Namorado Inteligente, que representa o estado mental/estática, marcha, força, tônus, coordenação, reflexos, sensibilidade, nervos cranianos e irritação meníngea. Esses exames podem ser feitos em qualquer ordem a critério do médico, porém, há uma única exceção, o exame de força precisa anteceder o exame de coordenação. Estado de consciência: Escala de Coma de Glasgow De forma geral, ela avalia o nível mental do paciente, porém, inicialmente foi feita para avaliar o nível do TCE, uma pontuação de 15 a 13 representa um TCE leve, de 12 a 9, moderado, e de 8 a 3, grave (a intubação já é indicada). Obs.: decerebração significa extensão de MMSS e MMII, decorticação significa flexão do MMSS, mas extensão dos MMII. Assim, um paciente com MMSS estendidos é mais grave que outro com MMSS fletidos. Obs.2: A nova ECG leva em consideração a resposta pupilar, delegando de 2 a 0 pontos negativos à pontuação dos outros critérios, 0 pontos é dado quando as 2 pupilas estão reativas, 1 ponto, quando apenas uma está, e 2 pontos, quando ambas permanecem midriáticas à estímulo luminoso. Obs.3: O Glasgow e o RASS (usado para pacientes em cuidado intensivo) avaliam o nível geral de consciência, o estudo qualitativo de consciência é feito com ferramentas voltadas para cognição (MEEM e MOCA) ou estado psiquiátrico do paciente: atitude, humor, pensamento, psicomotricidade. Distúrbios de fala: ● A dislalia é um distúrbio de articulação da palavra sem causa neurológica, de causas múltiplas, é fisiológica até os 4 anos de idade; ● A disfonia é a alteração na produção da voz. Nestas situações, a voz produzida não é harmônica, é obtida com esforço e sem a possibilidade de variações de seus atributos, pode ser rouca, de falsete ou bitonal, aponta para lesão de nervo acessório ou ramos do vago (laríngeo recorrente); ● A disartria é a dificuldade em articular as palavras, o paciente consegue entender linguagem e se expressar, mas sua fala fica alterada, pode resultar de uma alteração em nervos cranianos, estruturas extrapiramidais e cerebelo, assim, existem diferentes padrões de disartria: ○ Disartria flácida: caracterizada por voz soprosa, consoantes imprecisas e hipernasalidade, acontece após AVC unilateral e Miastenia Gravis; ○ Espástica: voz tensa, estrangulada, consoantes e vogais distorcidas, hipernasalidade, acontece após TCE; ○ Atáxica: voz áspera, com monoaltura e monointensidade, variação da prosódia, imprecisão articulatória e lenta, lembrando fala de bêbado, acontece nas cerebelopatias ○ Hipo e hipercinética: realacionadas respectivamente às síndromes parkinsonianas e à doença de Huntington. Distúrbios de linguagem A afasia é a dificuldade de compreensão ou expressão de palavras, de forma geral aponta para lesão cerebral. A afasia de Wernicke é a dificuldade de compreensão, o paciente consegue falar perfeitamente as palavras, mas de forma desconexa, é causada por lesão da área de Wernicke, localizada no lobo temporal esquerdo (em destros). A afasia de Broca é a dificuldade de expressar palavras, o paciente entende conceitos e comandos, mas não consegue se expressar, decorre de lesão da área de Broca que se localiza no lobo frontal esquerdo. Uma maneira que ajuda a diferenciar as duas formas de afasia é pedindo para o paciente apontar um objeto e nomear um objeto apontado. Análise da marcha Muitos autores consideram a análise da marcha o exame físico mais importante da neurologia. A marcha é um ato motor aprendido com finalidade de deslocamento, cada indivíduo tem uma peculiaridade de marcha, mas a partir do momento que o paciente apresenta um distúrbio neurológico específico, os mecanismos de adaptação das pessoas fazem com que ela se torne muito característica, sendo um bom indicador para a doença. A marcha atípica apresenta os seguintes fatores: olhar para a frente, ritmo regular, balanço harmônico de membros superiores, deslocamento do centro de gravidade antes da passada, avanço do pé com dorso-flexão e pouso com calcâneo. Já na marcha típica, há alguma dessas alterações: largura da base aumentada, assimetria na passada (principalmente a dorso-flexão de um pé em relação ao outro), comprimento da passada alterado (parkinson), movimento do quadril alterado (marcha miopática), sinais nas mãos, balanço dos braços irregular, direção do olhar para baixo e virada alterada. No momento que o paciente entra no consultório, a marcha já pode ser avaliada, já que o paciente não sabe que está sendo julgado, assim, a análise da marcha acaba sendo https://pt.wikipedia.org/wiki/Voz mais fidedigna. Se houver dúvida se há neuropatia na análise da marcha, existem alguns testes de triagem que aumentam a sensibilidade para neuropatias: andar em Tandem (com um pé na frente do outro), andar nas pontas dos pés (avalia a raiz de S1), andar nas pontas dos calcanhares (avalia a raiz de L4 e os músculos da panturrilha), pular de um pé só. A análise da marcha também precisa ter um critério temporal, as marchas que evoluem agudamente são condições mais sérias, decorrentes de um TCE, AVE, etc. Após a identificação de uma marcha típica, é importante a classificação em distúrbio neurológico de marcha (hemiplégica, cerebelar, parkinsoniana...) ou em distúrbio não neurológico da marcha (senil, histérica, antálgica). As principais marchas típicas de distúrbios neurológicos são: -Marcha hemiplégica: flexão de cotovelo em 90 graus, MS em adução e com mão fechada em leve pronação. O MI do mesmo lado é espástico e o joelho não flexiona, assim, a perna se arrasta descrevendo um semicírculo quando o paciente troca o passo. Ela ocorre na hemiplegia causada por AVE, assim, frequentemente se associa à reflexos patológicos, hiperreflexia e fraqueza muscular. -Marcha atáxica cerebelar: lembra alguém embriagado, com base alargada, passadas sem ritmo e coordenação, decorre de uma lesão de cerebelo (se houver alteração da marcha tendendo para a direita, a lesão cerebelar está na porção direita, uma vez que as fibras do cerebelo cruzam duas vezes). A marcha atáxica sensitiva é muito parecida com a cerebelar, ela decorre de uma lesão do sistema lemniscal, a principal diferença dela, é que o paciente fiscaliza rigorosamente seus passos com o olhar; -Marcha Parkinsoniana: o doente anda como um bloco, em passos miúdos e rápidos, sem movimento automático dos braços e com a cabeça inclinada para a frente, característica das síndromes parkinsonianas. É muito parecida com a marcha petit-pas, decorrente de arteriosclerose cerebral generalizada e atrofia cortical de senilidade, porém, esta não se associa aos sinais de Parkinson: tremor em contar de moedas, rigidez, bradicinesia; -Marcha escarvante: decorre de uma paralisia da musculatura dorsiflexora dos artelhos e pé (principalmente o mm. tibial anterior, inervado pelo nervo fibular), assim, o paciente não realiza dorsiflexão e para contornar o problema, levanta o pé numa altura maior que a normal. Ocorre na lesão do nervo fibular (de forma unilateral), radiculopatia de L5 e esclerose lateral amiotrófica (bilateral). -Marcha anserina/ miopática: caracterizada pela acentuação da lordose lombar e inclinação do tronco ora pra esquerda, ora para a direita, como se o paciente estivesse rebolando. Decorre da diminuição da força dos mm.pélvicos e de MMII proximais, é encontrada principalmente em doenças musculares (distrofias musculares, dermatopolimiosite), -Marcha tabética: para se locomover, o pcte. mantém o olhar fixo no chão, os MMII são levantados de forma abrupta e explosiva e, ao serem re-colocados no chão, os calcanhares tocam o solo pesadamente, piora consideravelmente com olhos fechados. Indica perda da sensib. proprioceptiva por lesão do cordão post. da medula (tabes dorsalis – característico da neurossífilis ou da deficiência de B12). Exames do equilíbrio O equilíbrio necessita das eferências para manter um tônus postural adequado (o que é coordenado pelo cerebelo e núcleos da base), mas as aferências são muito mais importantes, elas sinalizam para a correção e manutenção da postura de acordo com o ambiente, assim, as principais desordens de equilíbrio envolvem as aferências de propriocepção (definida pela capacidade de localização tridimensional do corpo no espaço, responsável por 70% do equilíbrio), do sistema vestibular (garante a noção da posição da cabeça, 20% do equilíbrio) e da visão (10% do equilíbrio). A pesquisa do sinal de Romberg é a manobra mais importante do equilíbrio, deve ser feita tanto com olhos abertos quanto fechados, pede-se para o paciente se levantar e permanecer em pé olhando um ponto fixo com sua base estreita (pernas juntas) e braços abduzidos. O momento mais sensível do teste é o momento que é pedido para o paciente fechar os olhos, pois a visão pode compensar um distúrbio de propriocepção ou vestibular, assim, quando houver sinal de desequilíbrio, o sinal de Romberg é positivo (quando um paciente já se desequilibrar com os olhos abertos, apenas com o estreitamento da base, isso sugere lesão cerebelar). O teste pode ser sensibilizado ao pedir para o paciente cruzar os braços e ficar na posição de tandem (um pé na frente do outro) e pode significar alteração da propriocepção ou do sistema vestibular, a diferenciação dessas alterações pode ser feita com uma simples manobra, pedindo para o paciente virar a cabeça para o lado, assim, se for uma alteração de propriocepção, o paciente continua caindo para o lado, se for uma alteração do sistema vestibular, o paciente cai para trás ou para frente. Exame de força Avalia a capacidade de movimentação do sistema osteoarticular, por mais que o exame neurológico não tenha ordem, o exame de força sempre deve preceder o exame de coordenação, pois a fraqueza muscular pode ser a causa da alteração desse último exame, que seria interpretado como uma alteração de coordenação, além disso, a limitação de movimento por edema ou dor e a alteração da velocidade do movimento, causada por fadiga, parkinsonismo ou hipertireoidismo, não devem ser confundidas com redução da força muscular, assim, as causas ortopédicas e reumatológicas sempre devem ser descartadas. As principais alterações de força são: ● Paresia: diminuição no grau da força, dependendo da quantidade de membros afetados, pode ser uma mono, di, tri ou tetraparesia. Se acometer toda a metade do corpo, é denominada como hemiparesia. ● Paralisia/plegia: ausência de força. O exame de força deve avaliar todos os componentes da motricidade voluntária: energia, velocidade e simetria dos movimentos de flexão, extensão e rotação. Os mesmos movimentos devem ser avaliados contra resistência promovida pelo examinador, além disso, movimentos finos também podem ser avaliados, como a abdução dos dedos da mão e movimento de pinça. O exame deve ser feito da cabeça aos pés: -Cabeça: deve ser avaliado a flexão, extensão, flexão lateral e rotação contra resistência; -MMSS: elevação dos ombros (o que avalia a função do trapézio, inervado pelo nervo acessório), abdução e adução dos braços, flexão e extensão de cotovelos, flexão dos punhos, extensão dos punhos (o que avalia o nervo radial), abdução dos dedos (nervo ulnar) e flexão do dedão em 4 (nervo mediano). Além disso pode ser feito o teste de Mingazzini, em que é pedido para elevar os MMSS, aduzir os dedos e fechar os olhos, a queda de um membro indica paresia,. -MMII: extensão e flexão das coxas e pernas, também é pedido para o paciente andar nas pontas dos pés, para avaliar a força do gastrocnêmio e sólio, e o teste de Barré, em que o paciente deita em decúbito ventral e flete os joelhos em 45 graus, se houver queda de alguma das pernas, o teste demonstra paresia do MI acometido. De forma geral, a redução da força muscular pode ser generalizada ou focal. A focal respeita a distribuição de uma raiz ou se localiza em apenas um lado do corpo, resulta de lesões de nervos periféricos, radiculopatias, plexopatias e lesões cerebrovasculares. A generalizada é bilateral, geralmente simétrica (de musculatura proximal ou distal- cintura escapular ou pélvica) e se associa a acometimento de musculatura bulbar, o que pode causar disfagia e oftalmoplegia, é causada por lesões medulares, síndrome miastênica, dermatopolimiosite, esclerose lateral amiotrófica... Tônus O tônus muscular é a contração basal do músculo em seu repouso máximo, é analisado pelo grau de resistência que o músculo oferece à movimentação passiva, além disso, a inspeção (pesquisa de atrofia muscular ou acentuação das curvaturas fisiológicas da coluna) e a palpação (pesquisa de tônus assimétricos) também colaboram para o exame. O tônus pode estar alterado devido a algum problema do próprio músculo, das fibras medulares ou do SNC, podendo estar aumentado (hipertonia) ou reduzido (hipotonia). Algumas condições fisiológicas podem alterar o tônus, a hipertonia pode ser causada por frio intenso, estresse e exercícios isométricos; a hipotonia pode resultar de calor intenso, idade avançada e exercícios de alongamento. Algumas condições podem até mimetizar a hipertonia, como a pseudo-hipertrofia, inflamação e edema; ou mimetizar a hipotonia, como a síndrome de Marfan e de Ehler Danlos. Em situações patológicas, as alterações de tônus têm causas específicas: ● A hipotonia é causada por miopatias (dermatomiosites, distrofias musculares, induzida por estatinas), cerebelopatias ou lesão do segundo neurônio motor (ELA, poliomielite, Guillain-Barré)- nesses casos, o paciente apresenta a síndrome do segundo neurônio: fraqueza, hiporreflexia, cãimbras, miofasciculações... ● A hipertonia é causada por lesão do trato corticoespinhal (AVE), lesão dos tratos extrapiramidais (Parkinson) e doenças cerebrais difusas. É dividida em plástica/rigidez ou elástica/espasticidade: ○ A hipertonia é considerada plástica (rigidez) quando ela é uniforme, não varia com extensão, flexão ou velocidade do movimento passivo, é difusa e tem padrão de cano de chumbo e roda dentada, acontece na alteração dos tratos extrapiramidais, principalmente nas síndromes parkinsonianas, com acometimento dos núcleos da base. Já que se associa muito ao Parkinson, frequentemente se associa à bradicinesia, hipomimia facial e tremor em contar de moedas; ○ É considerada elástica (espasticidade) quando varia de acordo com a velocidade, é segmentar (principalmente musculatura flexora do MMSS e extensora do MMII- tanto que na marcha hemiplégica, há justamente a flexão de MS e extensão do MI) e tem padrão de canivete (resistência inicial, com resto do movimento facilitado), ela acontece em lesões do trato corticoespinhal (geralmente em AVEs), por isso, se associa a outros sintomas da síndrome do primeiro neurônio/piramidal: hiperreflexia, fraqueza, reflexos patológicos... Coordenação A principal estrutura responsável pelo refinamento do sistema motor é o cerebelo, assim, um paciente com cerebelopatia consegue realizar movimentos, porém, desajeitados, grosseiros, sem precisão e associados a tremor. Para realizar essa tarefa, o cerebelo precisa de uma série de aferências do sistema motor, ele integra essas informações e coordena o movimento. É um órgão localizado na base do tentório, na região posterior do encéfalo e possuitrês divisões anatômicas: hemisfério cerebelar (neocerebelo)- responsável pela coordenação apendicular (uma lesão de hemisfério cursa com alteração apendicular ipsilateral, principalmente de MS), vérmis (paleocerebelo)- responsável pela coordenação da fala e tônus axial (uma lesão de vérmis cursa com alteração de fala, postura e marcha), e lobo floculolobular (arquicerebelo)- também responsável pelo equilíbrio e pela movimentação ocular (uma lesão do lobo FN cursa com nistagmo, dismetria ocular…). O exame de coordenação tem como objetivo avaliar o cerebelo, suas aferências e eferências, ele se baseia nos testes de dismetria, testes de disdiadococinesia e de dissinergia, a alteração de algum deles é referida como ataxia motora: ● Dismetria é a dificuldade em executar movimentos em direção a um alvo, de tal forma que o paciente conclui o movimento aquém (hipometria) ou além (hipermetria) do alvo, demonstra um problema na execução do movimento, não na mensuração do alvo ou planejamento do movimento. É identificada através da prova dedo-nariz, em que o paciente com dismetria antecede ou ultrapassa a ponta do nariz, atingindo a bochecha ou olho (é importante o teste ser realizado com os olhos abertos e fechados para diferenciação de uma ataxia motora de uma ataxia sensorial, nesse último, a alteração é muito pior com os olhos fechados), mas também, pela prova dedo-nariz-dedo e calcanhar-joelho; ● Disdiadococinesia é a dificuldade em realizar movimentos rápidos e alternados. É analisado pelo dedilhamento (finger tapping) e por movimentos rápidos e coordenados com as mãos; ● Dissinergia é a dificuldade de sinergia entre os músculos, é pesquisada principalmente através da flexão do tronco, em que o paciente com dissinergia apresenta o sinal do livro (ao flexionar o tronco, não consegue manter as pernas estendidas, assim, ele flexiona o tronco e as coxas, como um livro se fechando), o sinal do rebote de Holmes também é usado para identificação de dissinergia, é oferecido resistência à flexão de cotovelo e retirada a resistência subitamente, o paciente com coordenação alterada não consegue frear o movimento. Ataxia motora A síndrome cerebelar é composta por dismetria, dissinergia e disdiadococinesia, além de tremor (no caso, tremor de intenção/ação, aquele que aparece ou piora ao realizar uma ação, diferente do tremor de repouso na síndrome parkinsoniana), hipotonia e disartria (ebriosa, uma fala arrastada, ou silabada, uma fala sem coesão de sílabas, fragmentada), alterações oculares (principalmente nistagmo), alteração de postura e marcha. De forma geral, as síndromes cerebelares podem ser divididas em síndrome vermiana, hemisférica ou arqueocerebelar. A vermiana é composta por disartria proeminente, dismetria ocular e nistagmo leves, anormalidades da postura da cabeça e tronco, anormalidades da marcha; as etiologia mais frequentes são intoxicação por álcool e o meduloblastoma. A síndrome hemisférica é composta por achados ipsilaterais: lateralização da marcha, ataxia apendicular, hipotonia, tremor intencional e nistagmo pior no mesmo lado da lesão; as etiologias mais frequentes são vasculares (AVE cerebelar ou bulbar), esclerose múltipla e astrocitoma. A síndrome pancerebelar tem as manifestações verminianas e hemisféricas, causada por anticonvulsivantes (fenitoína), síndrome paraneoplásica e desordens genéticas. Algumas condições fazem diagnóstico diferencial com a ataxia motora, como a ataxia sensorial que ocorre por lesão do cordão posterior (assim, ele não tem a noção tridimensional onde as partes de seu corpo estão localizadas- propriocepção, essa condição é resultante de uma sífilis terciária ou da deficiência de B12). Outro dd é a ataxia frontal, que decorre de uma disfunção frontal contralateral, a diferença é que nesse caso, o paciente apresenta hiperreflexia e hipertonia. Reflexos O reflexo é qualquer ato motor involuntário frente a um estímulo sensorial, seu exame é particularmente útil para paciente não cooperativo, pois avalia de forma geral a integridade do sistema sensorial e motor. O reflexo tem um componente segmentar (centro reflexo local da medula ou do tronco) e um componente suprasegmentar (vias descendentes que regulam a atividade segmentar), assim, sua alteração pode resultar tanto de uma lesão periférica, o que resulta na abolição ou redução do reflexo, quanto de uma lesão central, o que resulta na desinibição e aumento do reflexo (geralmente por AVE que atinge a área 4 de brodmann/centro motor primário). 4 tipos de reflexos são pesquisados no exame neurológico: reflexos profundos, cutâneo/superficiais, autonômicos e patológicos. ● O reflexo profundo serve para manter o tônus basal do músculo, nos MMII, serve para manter a postura. Seu aumento está relacionado com lesão de primeiro neurônio motor, enquanto sua diminuição está relacionada com lesão de segundo neurônio. A pesquisa é feita com a percussão do tendão com o martelo (com golpes bruscos e secos), não deve ser observado apenas a movimentação do membro, mas também, a contração da musculatura envolvida, e de acordo com sua intensidade, pode ser classificado em 5 graus. Existem algumas manobras para sensibilizar o exame: a principal é a manobra de Jendrassik, em que é pedido para o paciente puxar uma mão contra outra. Os principais reflexos que devem ser pesquisados são o bicipital (que avalia integridade da C5, C6 e n. musculocutâneo), tricipital (C7,C8, n. radial), estilorradial (C5, C6, n. radial), patelar (L3, L4, n. femoral) e aquileu (S1, n. ciático). ● Os reflexos superficiais decorrem de um contato superficial com a pele, eles são polissinápticos e complexos, por isso são menos consistentes, mais fadigados, com resposta mais lenta e latência maior que os profundos, assim, a identificação do reflexo superficial patológico é mais complicada, porém, uma alteração facilmente visualizável é a assimetria (por isso é tão importante comparar um lado com o outro). A principal causa é a lesão de primeiro neurônio motor, que diminui os reflexos cutâneo-superficiais (resulta também no aumento dos profundos e surgimento dos patológicos) e lesões medulares. Os principal é o cutâneo abdominal, pesquisado pelo estímulo sensorial com objeto de ponta romba da periferia do abdome até o umbigo, passando pelas 9 regiões. Outros reflexos que podem ser realizados são o cutâneo plantar (fisiológico quando houver flexão de pododáctilos, principalmente do hálux), bulbo cavernoso, anal superficial e o cremastérico. ● Os reflexos patológicos aparecem principalmente em lesões de via piramidal e lobo frontal, os principais são o Babinsky, em MMII, Tromner e Hoffman, em MMSS. O sinal de Babinsky é pesquisado com estímulo com objeto de ponta romba à região lateral do pé, do calcanhar até a ponta, e do último até o segundo dedo. Ele é positivo quando há extensão do hálux em resposta, frequentemente associado à abertura em leque dos outros dedos (a resposta normal seria a flexão do Hálux). O sinal de Tromner é pesquisado com uma movimentação abrupta da falange distal do terceiro dedo, é positivo quando há aproximação do primeiro dedo com o segundo. Os de liberação frontal/primitivos surgem principalmente em doenças que acometem o lobo frontal bilateralmente, eles surgem em encefalopatias pós-anóxicas, tóxicas ou pós traumáticas: reflexo glabelar, de preensão palmar, orbicular da boca e palmomentoniano. Sensibilidade Pode ser dividida em exteroceptiva (especial: visão, gustação, audição, olfato e labiríntica; ou somática: tato, temperatura e dor) e proprioceptiva (orientação espacial, pressão e vibração), além da interoceptiva (dor visceral, plenitude gástrica, espasmo intestinal, plenitude vesical ou retal, desconforto abdominal e pressão no tórax, produzidos pelos nervos 7, 9, 10 e autonômicos, como o torácico, lombar e sacral). As principais alterações de sensibilidade são: ● Disestesia: sensação desagradávela estímulo não desagradável; ● Hipo ou hiperestesia: sensação aumentada ou diminuída a um estímulo; ● Parestesia: sensação espontânea anormal, geralmente descrita como formigamento ou queimação; ● Hipo, hiper ou analgesia: redução, aumento ou ausência de dor a um estímulo doloroso (a hiperalgesia é diferente da alodinia, esta é caracterizada por sensação dolorosa a estímulo não doloroso, como o contato com o lençol); ● Astereognosia e agrafestesia: incapacidade de reconhecer objetos e símbolos pelo tato, é uma capacidade sensorial que depende da integridade do lobo parietal (outro exame que checa a função sensorial cerebral são a discriminação de 2 pontos). ● Hipo ou hiperpalestesia e hipo ou hiperbarestesia: sensação reduzida ou aumentada de vibração e de pressão, respectivamente. As sensações exteroceptivas são todas aquelas sensações oriundas de um estímulo externo na pele, epiderme ou mucosas, no exame, é essencial que os olhos do paciente estejam fechados, também é importante que sempre seja feito os estímulos de modo comparativo, pode ser pesquisado sensibilidade dolorosa, térmica e tátil. A propriocepção é pesquisada segurando uma articulação para cima ou para baixo e perguntando para o paciente a posição. A vibração é pesquisada pelo diapasão nas proeminências ósseas e a pressão é pesquisada apertando grupos musculares. .
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