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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E PETRÓLEO MARINA DE OLIVEIRA MIELI CONTROLE DE POÇOS HPHT Niterói, RJ 2016 MARINA DE OLIVEIRA MIELI CONTROLE DE POÇOS HPHT Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Pós-Graduação (Latu Sensu) em Engenharia de Petróleo e Gás Natural da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Engenharia de Petróleo e Gás Natural. Orientador: Prof. Alfredo Moisés Vallejos Carrasco, Dsc – UFF Niterói, RJ 2016 Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Engenharia e Instituto de Computação da UFF M631 Mieli, Marina de Oliveira Controle de poços HPHT / Marina de Oliveira Mieli. – Niterói, RJ : [s.n.], 2016. 55 f. Monografia (Especialização em Engenharia de Petróleo e Gás Natural) – Universidade Federal Fluminense, 2016. Orientador: Alfredo Moisés Vallejos Carrasco. 1. Poço de petróleo. 2. Poço HPHT. 3. Perfuração de poço. I. Título. CDD 622.3382 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, que me guiou e permitiu que chegasse até aqui, e estará sempre à frente das minhas vitórias. À minha família, namorado e amigos, que nunca deixaram de me apoiar e compreenderam meus momentos de ausência. À minha mãe, Margarida, que me ensinou com o exemplo que podemos perder tudo, menos o aprendizado. Com isso, nunca permitiu que eu deixasse a educação em segundo plano na minha vida. Ao meu irmão Alexandre, que foi meu colega de trabalho e acompanhou de perto meu crescimento profissional. E ao meu irmão Marcelo, que está sempre disposto a ajudar e contribuiu para que eu chegasse até aqui. Especialmente ao meu pai, que é o meu maior exemplo de professor e minha inspiração para seguir esta profissão. Agradeço ao meu orientador, Alfredo Moisés Vallejos Carrasco, não só pela orientação, mas pelo aprendizado transmitido ao longo do curso. 2 RESUMO A demanda e dependência mundial do petróleo vêm trazendo a necessidade de se explorar campos considerados impossíveis, à medida que os campos convencionais se esgotaram ou deixaram de ser tão produtivos. Com isso, a perfuração de poços de altas pressões e altas temperaturas teve início, assim como os estudos e desenvolvimento de tecnologias na área. Alguns desafios provenientes destas operações especiais, antes considerados obstáculos para a exploração destes campos, já foram vencidos, devido ao desenvolvimento de equipamentos, fluidos e técnicas. Os efeitos das altas temperaturas e altas pressões nos parâmetros de perfuração fazem com que estas operações sejam mais perigosas e, consequentemente, cuidados e critérios especiais devem ser adotados para o controle de pressões, comparando-se à perfuração convencional. Palavras-chave: HPHT, controle de poços, controle de pressões, perfuração. 3 ABSTRACT The increase in the world demand and dependency in the oil industry has brought the need in exploring fields which were considered impossible, as conventional fields were depleted or were no longer productive. With that, high pressure and high temperature drilling started, so did the studies and development of technologies for this area. Some of the challenges of these kinds of operations, before considered obstacles for the exploration of these fields, are no longer difficulties, because of the improvement of equipment, fluids and techniques. The high temperature and pressure effects on the drilling parameters make these operations more dangerous and risky, consequently, special care must be taken and control pressure criteria shall be applied, in comparison to conventional drilling. Key words: HPHT, drilling, well control, control pressure 4 LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 – Condições necessárias para a ocorrência de kicks ............................... 13 Figura 2.2 – Janela operacional de perfuração ......................................................... 15 Figura 2.3 – Sobrecarga em poços terrestres e submarinos ..................................... 17 Figura 2.4– Gradientes de sobrecarga para diferentes lâminas de água .................. 17 Figura 3.1– Poços HPHT no mundo .......................................................................... 18 Figura 3.2– Classificação dos poços de acordo com a pressão e temperatura ........ 19 Figura 3.3– Fluxograma básico de um projeto .......................................................... 22 Figura 4.1– Resultados de campos onde o método do expoente “d” foi utilizado para detectar zonas de transição ...................................................................................... 28 Figura 4.2– Exemplo de curva de um teste de absorção .......................................... 30 Figura 4.3 - Exemplos de gradiente de pressão de poros em um poço HPHT ......... 31 Figura 4.4 – Densidade do fluido e profundidades dos revestimentos baseados na janela operacional ..................................................................................................... 32 Figura 4.5 – Esquema de um poço HPHT ................................................................. 33 Figura 4.6– Aplicação de K e Δρkt em um cenário de água profunda ........................ 36 Figura 4.7 – Aplicação do critério baseado na janela operacional ............................ 37 Figura 4.8 – Aplicação do critério baseado na tolerância ao kick .............................. 38 Figura 4.9 – Comparação do aumento de volume do fluido de perfuração para diferentes pressões e temperaturas .......................................................................... 45 Figura 4.10 – Fluxograma para identificação de um falso kick .................................. 48 5 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 7 1.1. APRESENTAÇÃO .......................................................................................... 7 1.2. JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 8 1.3. OBJETIVOS GERAIS ..................................................................................... 9 1.4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................... 9 2. CONTROLE DE POÇOS .................................................................................... 11 2.1. BLOWOUTS ................................................................................................. 11 2.1.1. Barreiras de Segurança ......................................................................... 12 2.2. JANELA OPERACIONAL ............................................................................. 14 3. POÇOS HPHT .................................................................................................... 18 3.1. CLASSIFICAÇÃO DOS POÇOS HPHT ....................................................... 19 3.2. ORIGEM DAS ALTAS PRESSÕES E TEMPERATURAS ............................ 20 3.3. PRINCIPAIS DESAFIOS NAS OPERAÇÕES HPHT ................................... 21 4. MÉTODOS DE PREDIÇÃO E AVALIAÇÃO DAS PRESSÕES DA FORMAÇÃO ......... 24 4.1.1. Expoente “d” .......................................................................................... 26 4.2. MÉTODOS PARA DETERMINAÇÃO DA PRESSÃO DE FRATURA ........... 28 4.3. DETERMINAÇÃO DO ASSENTAMENTO DO REVESTIMENTO ................ 30 4.3.1. Critério Baseado na Janela Operacional ............................................... 32 4.3.2. Critério Baseado na Tolerância ao Kick................................................. 33 4.4. FLUIDOS ...................................................................................................... 38 4.4.1. Expansão Térmica do Fluido ................................................................. 39 4.4.2. Decantação de Barita ............................................................................ 39 4.4.3. Solubilização do Gás ............................................................................. 40 4.4.4. Difusão dos Gases ................................................................................ 41 4.4.5. Hidratos ................................................................................................. 42 4.4.6. Desempenho dos Fluidos em Poços HPHT .......................................... 42 6 4.5. FALSOS KICKS ........................................................................................... 44 4.6. BOAS PRÁTICAS ........................................................................................ 49 5. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 51 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 52 7 1. INTRODUÇÃO 1.1. APRESENTAÇÃO O petróleo atualmente representa a maior matriz energética mundial, somos dependentes de seus subprodutos no dia a dia. Para atender à grande dependência e consumo, a indústria começou a investir cada vez mais em tecnologias para sua exploração em larga escala. A exploração de hidrocarbonetos está entre os segmentos da indústria que mais movimentam a economia mundial. Sua utilização abrange uma enorme variedade de setores, desde a indústria farmacêutica, de cosméticos, de combustíveis e lubrificantes à indústria alimentícia. Seus derivados são utilizados desde o século XIX, com aplicações na construção civil, como assentamento de tijolos e pavimentação de estradas, e nas guerras e batalhas, como material inflamável. Seu uso também se estendia a lubrificantes para equipamentos e armas, inclusive para fins medicinais. A exploração se dava através de poços rasos ou exsudações na superfície. Seu derivado mais comum, entretanto, era o querosene para iluminação, utilizado em lampiões rudimentares. Lucchesi (1998) relata que o primeiro poço foi perfurado em Cel. Drake, na Pensilvânia, em 1859. Com 30 m de profundidade, produzia 2 m³/dia. A partir deste período, a crescente procura por esta fonte de iluminação, fez com que a exploração do petróleo aumentasse ainda mais e se espalhasse por diferentes países. Em paralelo à grande demanda do produto, devido aos preços elevados de outras fontes de iluminação, como o óleo destilado do carvão ou o óleo de baleia, a revolução industrial introduzia a necessidade de melhores lubrificantes para o maquinário das fábricas. Do ponto de vista econômico e comercial, o petróleo deixou de ser um produto para subsistência e sua exploração passou a ter como objetivo principal a comercialização e arrecadação de capital. Em termos tecnológicos, de acordo com Morais (2013), a indústria venceu algumas etapas para alcançar a escala e complexidade das atividades atuais e, cada vez mais, 8 novas tecnologias são desenvolvidas para vencer os mais variados desafios operacionais, como estabilidade e controle do poço, redução de tempo não produtivo, barreiras geológicas, altas pressões e temperaturas, entre outros. Rundmo (1992) relata que, como consequência do crescimento das atividades exploratórias e da busca pela máxima produção, redução de custos, economia de recursos e matéria prima, as atividades de exploração e produção de petróleo tornaram-se cada vez mais complexas e perigosas. Os poços tornam-se cada vez mais profundos, e a preocupação com a preservação do meio ambiente e, principalmente, a segurança crescem à mesma proporção. A importância do controle de poço e prevenção de blowouts têm sido fatores propulsores para o avanço da tecnologia e pesquisa na área. O nível de complexidade das atividades desenvolvidas cresce junto à dependência por este produto. Poços antes considerados impossíveis de serem perfurados, ou inatingíveis, devido às grandes profundidades, pressões, temperaturas e lâmina de água, estão ganhando destaque nas atividades recentes. Além do avanço da tecnologia, fatores econômicos, como o preço do barril de petróleo, também impulsionaram a exploração destes tipos de poços. Portanto, poços como os de alta pressão e alta temperatura, considerados inviáveis, tanto técnica quanto economicamente, passaram a ser possíveis e lucrativos. 1.2. JUSTIFICATIVA Segundo Silva (2016), os poços com características de alta pressão e alta temperatura, também conhecidos como poços HPHT (High Pressure and High Temperature), representam apenas 1% da produção mundial dos reservatórios. Entretanto, estas operações merecem devida atenção por suas características especiais e consequente complexidade, o que leva a condições muito diferentes das usuais. Sua exploração, entretanto, apresenta alguns desafios: as altas pressões e temperaturas comprometem não só a vida útil dos equipamentos, mas também o 9 comportamento e estabilidade dos fluidos e todos os riscos associados a estas atividades são aumentados. Em termos de controle, Falcão (2007) faz uma comparação entre poços convencionais e HPHT, concluindo que a ocorrência de kicks em poços HPHT apresenta uma frequência cinco vezes maior se comparados a poços convencionais. Por tais razões, o estudo deste tipo de poço torna-se fundamental, não apenas para o desenvolvimento de novas tecnologias, como para a constante melhoria em termos de segurança em sua exploração, uma vez que são atividades “mais perigosas e de delicado controle”. Além do fator técnico, este estudo visa contribuir para o enriquecimento da literatura acerca do tema, que apresenta poucas fontes de pesquisa. 1.3. OBJETIVOS GERAIS Com vista nos desafios que surgem no cenário de explorações de alta pressão e alta temperatura, este trabalho tem por objetivo fazer uma análise do comportamento das pressões durante operações de controle de poços HPHT, fazendo referência ao controle de poços convencionais. Algumas dificuldades devem ser superadas para que a exploração destes reservatórios seja viável, também, economicamente. Somando a isso, a segurança torna-se fator chave nestas operações. Este trabalho apresentará alguns fatores que devem ser levados em consideração no projeto e durante as operações de perfuração destes poços. 1.4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Comparando-se a operações convencionais, o controle de poços HPHT apresenta alguns desafios especiais, apresentando-se como objetivo de estudo neste trabalho, que levam a: Analisar o impacto sobre as características dos fluidos em dinâmica e estática; 10 Estudar o comportamento, solubilidade e difusão dos gases; Elencar potenciais agravantes para condições de kicks durante as operações; Descrever técnicas para o controle com uma janela operacional reduzida, aumentando, assim, a segurança da operação. 11 2. CONTROLE DE POÇOS No final do século XIX, as explorações de petróleo se davam a partir de exsudações encontradas na superfície. Quando os primeiros poços foram perfurados, os conceitos de perfuração e controle de poços ainda eram desconhecidos, e os poços eram perfurados de forma sub-balanceada (underbalance), isto é, a pressão dos fluidos da formação superava as pressões do poço, permitindo o fluxo destes fluidos para dentro do poço, até a superfície. Esta falta de controle acabava por resultar em muitas perdas, inclusive perdas de reservas. (MORAIS, 2013) Com o passar dos anos, a complexidade das operações foi aumentando, acompanhada da preocupaçãocom o controle do poço, não somente pelo maior aproveitamento de recursos, mas principalmente com redução de riscos e segurança. IADC Lexicon define controle de poços como um conjunto de medidas, práticas, procedimentos e equipamentos, como monitoração de fluidos, para assegurar a segurança das pessoas e do meio ambiente durante as operações de perfuração, completação, abandono e workover. Controle de poços é definido pela Norsok (2004) como o “conjunto de medidas que podem ser aplicadas para prevenir a liberação descontrolada de fluidos do poço para o ambiente externo ou um fluxo subterrâneo”. Em outras palavras, os métodos de controle de poço são métodos de controle de pressões, cujo objetivo é prevenir que fluidos da formação entrem para o poço de forma descontrolada e, consequentemente, atinjam a superfície, causando um blowout. 2.1. BLOWOUTS Blowouts de óleo e gás estão entre os acidentes mais trágicos e dispendiosos da indústria. Além de causar danos irreparáveis ao meio ambiente e equipamentos, também pode impactar a vida de centenas de famílias, causando mortes. Apesar de suas imensas proporções, não são tragédias naturais. Este tipo de acidente é causado pelo homem e, portanto, de possível prevenção. 12 Grandes desastres marcaram a indústria e ficaram conhecidos em todo o mundo. Felizmente, não são muito frequentes e valiosas lições foram aprendidas, no que diz respeito à prevenção: o potencial para que um desastre ocorra está presente sempre que um poço é perfurado. (BOOTS AND COOTS, 2014) “Um blowout pode ser definido como o fluxo descontrolado de fluidos da formação de um poço para a superfície. A palavra chave na definição é descontrolado”. (BOOTS AND COOTS, 2014) Quando fluidos provenientes da formação entram no poço pode-se dizer que um kick ocorreu. Isto é, quando a pressão hidrostática se torna insuficiente, a barreira primária é perdida. É necessário, portanto, fechar o poço, de forma a prevenir que o kick se torne um fluxo descontrolado. 2.1.1. Barreiras de Segurança Uma barreira é um envelope de um ou mais elementos dependentes, que previne que fluidos ou gases provenientes da formação fluam não intencionalmente para o poço, em direção à outra formação ou à superfície. (NORSOK, 2004) São duas as barreiras de segurança utilizadas nos poços, a pressão hidrostática, gerada pelo fluido de perfuração, que exerce a função da barreira primária do poço, e como barreira secundária, tem-se os equipamentos de segurança e controle, dentre os quais se encontra o preventor de blowout (BOP – Blowout Preventer). Uma das funções mais importantes dos fluidos de perfuração é exercer pressão hidrostática. A barreira primária consiste na manutenção da pressão hidrostática exercida pelo fluido de perfuração, mantendo o mesmo superior à pressão da formação para evitar a ocorrência de um kick. Quando a barreira primária é perdida, isto é, quando a pressão hidrostática passa a ser inferior à pressão exercida pelos fluidos da formação, pode-se dizer que o poço tem potencial para entrar em kick, ou seja, fluidos da formação podem fluir para dentro do poço. 13 Fluidos da formação estão presentes nos poros das rochas, os espaços entre os grãos que compõem a mesma. A relação entre estes espaços e o volume da rocha é conhecida como porosidade. Quando estes espaços estão conectados entre si, pode- se dizer que a rocha, além de porosa, é permeável. Para que um kick ocorra é necessário que ambas as condições existam, ou seja, é preciso que a rocha possua fluidos e os mesmos possam fluir para dentro do poço. Além de porosidade e permeabilidade, para que os fluidos da formação fluam para dentro do poço, o mesmo deve estar em uma condição de underbalance. Em outras palavras, a pressão da formação deve ser superior à pressão hidrostática, forçando os fluidos da formação para dentro do poço. A Figura 2.1 mostra estas condições. Figura 2.1 – Condições necessárias para a ocorrência de kicks Fonte: (SANTOS, 2014) 2.1.1.1. Pressão hidrostática Pressão hidrostática é aquela exercida por uma coluna de fluido na vertical e em repouso e pode ser definida pela seguinte fórmula: 𝑃𝐻 = 𝜌 𝑥 0,17 𝑥 𝑇𝑉𝐷 (Eq. 2.1) 14 Onde: 𝑃𝐻 é a pressão hidrostática, psi 𝜌 é a massa específica do fluido, lbm/gal 𝑇𝑉𝐷 é a profundidade vertical da coluna de fluido, metros Quando perfurando poços convencionalmente, o mesmo deve estar em uma condição de balance ou overbalance, quando a pressão hidrostática está igual ou superior à pressão da formação, respectivamente. Se a pressão hidrostática for inferior à pressão da formação, considera-se que o poço está em uma condição de underbalance e um kick poderá ocorrer. Em contrapartida, a pressão extra gerada pelo overbalance não poderá ultrapassar a pressão de fratura, pois, em caso positivo, o poço poderá começar a perder fluidos para a formação, fazendo com que a coluna de fluido no poço diminua. Como consequência a hidrostática também irá diminuir, podendo levar a uma condição de underbalance e causar um kick. 2.2. JANELA OPERACIONAL Durante operações de perfuração, é preciso que a pressão hidrostática do poço seja mantida acima da pressão de poros da formação, para evitar a ocorrência de kicks. Para determinar a pressão mínima dentro do poço, também é preciso considerar a pressão de colapso da formação, que, se não for atingida, pode levar a aprisionamento de coluna ou desmoronamento parcial e total do poço. No entanto, se a pressão no poço for muito alta, de forma a exceder os limites de fratura da formação, perda de fluido do poço para a formação pode ocorrer, induzindo à fratura da própria formação. De forma a manter a integridade do poço, respeitando os limites de pressão de poros, colapso e fratura, é necessário que as pressões do mesmo estejam dentro de uma janela de operação. A Figura 2.2 mostra um exemplo típico de janela operacional, cujo limite inferior é delimitado pelas pressões de poros e colapso, o superior determina a máxima pressão que, se excedida, pode levar à fratura da formação. 15 Figura 2.2 – Janela operacional de perfuração Fonte: (ROCHA E AZEVEDO, 2009) O peso do fluido é baseado nestas condições de pressão e deve ter um valor mínimo de forma a sobrepor a pressão de colapso e de poros e, ao mesmo tempo, não pode exceder a curva de pressão de fratura da formação. Segundo Santos (2014), a pressão de fratura pode ser determinada diretamente a partir de testes na formação a cada revestimento assentado. Quando esta pressão não é determinada diretamente, pode-se utilizar uma estimativa do seu valor com base na pressão de sobrecarga, que é gerada pelo peso da coluna litostática, pressão de poros e coeficiente de tensões na matriz: 𝑃𝑓 = 𝐾 × (𝑃𝑜 − 𝑃𝑝) + 𝑃𝑝 (Eq. 2.2) 16 Onde: 𝑃𝑓 é a pressão de fratura da formação, psi 𝐾 é o coeficiente de tensões na matriz 𝑃𝑜 é a pressão de sobrecarga na formação, psi 𝑃𝑝 é a pressão de poros da formação, psi Em locações marítimas, a curva de fratura é menor para uma mesma profundidade de poço em comparação a um poço terrestre. Conforme observado na Figura 2.3, a razão para este comportamento é a redução da pressão de sobrecarga devido à menor coluna litostática e menor gradiente de pressão hidrostática da água em comparação ao gradiente de sobrecarga. Considerando um gradiente de sobrecarga de 1 psi/pé, no primeiro poço da Figura 2.3, a pressão total de sobrecarga no fundo seria de 10.000 psi. No poço à direita, porém, há sobrecarga apenas a partir do fundo do mar, e o gradiente hidrostático da água é de 0,465 psi/pé, somando-se a hidrostática da água, 930 psi, à pressão de sobrecarga da coluna litostática, 8.000 psi, a formação do fundo do poço teria uma pressão total de sobrecarga de apenas 8.930psi. A Figura 2.4 faz uma comparação entre os gradientes de sobrecarga de poços com diferentes profundidades de lâmina de água. Observa-se que para o poço terrestre, a curva de gradiente de sobrecarga é maior e, à medida que a profundidade da lâmina de água (LDA) aumenta, os valores de sobrecarga diminuem. 17 Figura 2.3 – Sobrecarga em poços terrestres e submarinos Fonte: (ADAMS, 1980) Figura 2.4– Gradientes de sobrecarga para diferentes lâminas de água Fonte: (ROCHA E AZEVEDO, 2009) 18 3. POÇOS HPHT Embora recentemente explorados, poços HPHT são conhecidos desde o final dos anos 70. Sua exploração está concentrada no Golfo do México, nos Estados Unidos e no Mar do Norte, onde suas pressões e temperaturas podem atingir até 16.000 psi e 350ºF (176ºC), respectivamente. Na Figura 3.1,observa-se que a atividade de poços HPHT, além dos locais citados acima, também pode ser encontrada, por exemplo, em países como a Tailândia, onde mais de 45 destes tipos de poços já foram perfurados, Angola, e Yemen. Figura 3.1– Poços HPHT no mundo Fonte: (ADAMSON et al, 1998) Júnior (2008) fala sobre o primeiro blowout ocorrido em uma unidade semi- submersível que explorava poços de alta pressão e alta temperatura no Mar do Norte. Até 1988, a indústria não fazia distinção na classificação dos poços, apenas após o desastre na Ocean Odissey que o Instituto de Petróleo Britânico (UK Petroleum Institute), em conjunto com a Associação de Operadores Marítimos (Offshore Operators Association) passou a enxergar este tipo de operação como especial e criaram a classificação HPHT, assim como regulamentações e práticas para a perfuração e operação segura destes poços. 19 3.1. CLASSIFICAÇÃO DOS POÇOS HPHT De acordo com a classificação da Norsok (2004), para que um poço seja classificado como HPHT, as pressões de fechamento esperadas na superfície devem ser superiores a 690 bars (10.000 psi) e temperaturas no fundo do poço acima de 300ºF (150ºC). Tomando como referência a pressão de poros, se a mesma for superior a 15,3 lbm/gal, um poço poderá ser caracterizado como de alta pressão. (ROCHA E AZEVEDO, 2009) Existem poços que apresentam gradientes de pressão superiores a 15,3 lbm/gal, mas não possuem temperaturas elevadas, e vice-versa. Nestes casos, o poço é considerado de alta pressão, ou de alta temperatura, respectivamente. No entanto, à medida que estes reservatórios foram sendo explorados, surgiram cenários cada vez mais desafiadores: pressões e temperaturas ainda maiores. O ambiente de altas pressões e temperaturas limita o uso de materiais e tecnologias disponíveis, foi com base nisto que a Schlumberger classificou estes cenários. Na Figura 3.2, podem-se observar quatro classificações de poços. Figura 3.2– Classificação dos poços de acordo com a pressão e temperatura Fonte: (SKEATES et al, 2008) 20 Como destacado na Figura 3.2, um poço é classificado como Ultra-HPHT quando a pressão e temperatura do reservatório ultrapassam 20.000 psi e 205°C, respectivamente. A caracterização de um poço de extrema alta pressão e alta temperatura (HPHT-hc) se dá quando o mesmo ultrapassa 35.000 psi e 260°C. 3.2. ORIGEM DAS ALTAS PRESSÕES E TEMPERATURAS Durante a perfuração de poços convencionais, é comum que sejam encontradas formações com pressões anormais, isto é, formações que apresentem pressões diferentes das pressões consideradas normais e esperadas em determinadas condições, sejam elas altas ou baixas. Uma formação classificada como normalmente pressurizada apresenta um gradiente de pressão igual ao da água do mar, 1,53 psi/m ou 9 lbm/gal, dependendo da região. Ou seja, uma formação normalmente pressurizada apresentará uma pressão igual à pressão hidrostática do fluido que a mesma contém. Formações anormalmente pressurizadas não possuem esta comunicação de pressão hidrostática como as zonas de pressão normal. Se este fosse o caso, as altas pressões teriam comunicação com as pressões normais e rapidamente se dissipariam, fazendo com que a pressão da zona se tornasse normal. Quando uma rocha reservatório, que possui hidrocarbonetos, está envolta por uma rocha capeadora, que apresenta baixa permeabilidade e porosidade, esta segunda rocha irá formar um selo ao redor deste reservatório. Diz-se, então, que os fluidos do reservatório estão “trapeados”, isto é, estão aprisionados pela rocha capeadora, que não permite que estes fluidos se movam e fluam para outras zonas de menor pressão. Este mecanismo faz com que estes fluidos altamente pressurizados permaneçam na rocha reservatório, mantendo as altas pressões da zona. A presença deste selo ao redor das rochas depende de diferentes fatores, como litologia, mineralogia, atividade tectônica, taxas de sedimentação, ambiente e ação de sedimentação, presença ou não de falhas geológicas, terremotos, entre outros, citados por Adams (1980, apud Fertl). 21 Santos (2014) também comenta a respeito da origem destas altas pressões, mencionando o fenômeno da subcompactação, que ocorre devido à rápida deposição de sedimentos naquela região, impedindo que a água presente nestes sedimentos seja expulsa gradualmente e flua em sua velocidade normal para outros poros durante o processo de compactação. Desta forma, ela fica “presa” nos poros da rocha e suporta parte das pressões de sobrecarga. De acordo com Rocha e Azevedo (2009), no que diz respeito à temperatura, uma taxa normal para seu aumento, o gradiente geotérmico normal, varia entre 1,37 a 1,65°F a cada 100 pés (30,48 metros) perfurados. Como exemplo, se um poço terrestre com 4.500 metros de profundidade e temperatura de superfície de 20°C, for perfurado em uma região cujo gradiente geotérmico é de 25°C/km e o gradiente de pressão de poros corresponde a 9 lbm/gal, seus respectivos valores no fundo do poço seriam 132,4°C e aproximadamente 6.900 psi. Neste mesmo caso, porém, com gradiente geotérmico e pressão de poros com características HPHT, 35°C/km e 15,3 lbm/gal de pressão de poros, no fundo do poço estes valores excederiam 177°C e 11700 psi. 3.3. PRINCIPAIS DESAFIOS NAS OPERAÇÕES HPHT O planejamento para um poço HPHT deve ser cuidadoso e requer a participação de especialistas de diferentes áreas. A prevenção e o controle de kicks é a prioridade nestas operações, mas nestes tipos de poços, os riscos são amplificados. A Figura 3.33 apresenta um fluxograma básico para um projeto. Em projetos de poços HPHT, desafios são encontrados desde a primeira etapa, como a obtenção de informações, até o projeto do poço. Os equipamentos, os fluidos de perfuração e pastas de cimento, a ocorrência de kicks, dentre outras situações, são impactados diretamente pelas altas pressões e temperaturas neste ambiente. A predição das pressões da formação sempre foi um desafio para a perfuração. O conhecimento prévio geológico nos permite prever condições de temperatura e pressão no reservatório, facilitando a escolha dos equipamentos que serão usados nas operações subsequentes. O avanço da tecnologia também tornou as operações mais seguras, com o surgimento de diferentes ferramentas de aquisição de dados, 22 como perfis e ferramentas de LWD (Logging While Drilling), MWD (Measure While Drilling) e PWD (Pressure While Drilling), que fornecem decisivos parâmetros em tempo real, como as pressões no fundo do poço, perdas de carga no anular e pressão da formação. Figura 3.3– Fluxograma básico de um projeto Fonte: (FALCÃO, 2007) Entretanto, apesar de muitas dessas ferramentas suportarem altas temperaturas, sua vida útil é comprometida pela exposição contínua. Muitos destes equipamentos podem trabalhar em ambientes com temperaturas superiores a 150°C, mas sua utilização não é possível durante todo o tempo necessário requerido para a operação, oque inviabiliza seu uso e aumenta o custo total da operação. Além dos desafios tecnológicos, os fluidos apresentam um diferente comportamento em condições dinâmicas, consequentemente, a detecção de kicks pode ser dificultada. Com isso, é necessária uma análise detalhada para a determinação da janela operacional, as profundidades de assentamento dos revestimentos, a estabilidade do poço, dentre outros fatores limitantes. Obter Informações Calibrar Dados Avaliar Geopressões Avaliar Estabilidade Perfis Elétricos, Poços de Correlação, Objetivos, etc. Peso de Lama, Kicks, Perdas, RFR, DST Pressão de Poros Gradiente de Fratura Assentamento Sapatas Definição do Pesos da Lama Dimensionamento do Revestimento Projeto de Cimentação Etc. Projeto do Poço 23 Segundo Júnior (2008), as operações de poços HPHT demandam novas tecnologias e ainda apresentam desafios e problemas comuns às operações convencionais, como ocorrência de kicks, perda de circulação, aprisionamento de ferramenta e alguns problemas adicionais, tais como: Identificação das zonas de transição; Medição da pressão de poros, de fratura e temperatura no fundo do poço; Posicionamento dos revestimentos; Novos critérios de dimensionamento para revestimentos; Poços profundos, com alta perda de carga anular; Ocorrência de hidratos; Dificuldade na detecção de kicks em fluidos sintéticos; Efeito balão e breathing formation. Do ponto de vista do tempo operacional e dos riscos da operação, Falcão (2007) ressalta que poços HPHT demandam 30% a mais de tempo para serem perfurados e apresentam um tempo de perfuração três vezes maior, com chances de aprisionamento de coluna 30% maiores. Em relação à ocorrência de kicks, quando da perfuração de poços convencionais a média é de um kick a cada dez poços perfurados, em poços HPHT a ocorrência é de dois a cada poço. 24 4. MODIFICAÇÕES NO PROJETO DO POÇO DEVIDO AO AMBIENTE HPHT O maior risco de kicks durante operações de poços HPHT, unido à maior ocorrência de kicks, fez com que a indústria desenvolvesse estudos cada vez mais detalhados e tecnologias capazes de fornecer informações provenientes do poço mesmo em temperaturas elevadas. Os desafios para a perfuração deste tipo de poços são ainda maiores e muitos obstáculos precisam ser vencidos para se alcançar uma operação bem-sucedida. Este capítulo faz uma comparação entre o controle de poços convencionais e os impactos que as altas pressões e altas temperaturas têm no comportamento do poço e dos fluidos de perfuração. 4.1. MÉTODOS DE PREDIÇÃO E AVALIAÇÃO DAS PRESSÕES DA FORMAÇÃO A previsão da pressão de poros é de fundamental importância para o planejamento de um poço HPHT. É a partir desta previsão que parte da janela operacional pode ser determinada. Portanto, técnicas bem precisas devem ser aplicadas. A Tabela 4.1 evidencia algumas destas técnicas usadas antes do início do poço e durante a perfuração. Como abordado no item 3.2, Origem das Altas Pressões e TEMPERATURAS, estas pressões estão associadas à permeabilidade da formação, existência de rochas selantes, velocidade de compactação, efeito de sobrecarga, tectonismo, transferência de pressão lateral, tipo de fluido, presença de hidrocarbonetos, entre outros. Portanto, a análise dos períodos geológicos e litologia da região auxiliam diretamente nesta estimativa, além da utilização de perfis e dados sísmicos para identificar a presença de geradores de zonas anormalmente pressurizadas. Além da identificação destas zonas, Rocha e Azevedo (2009) também citam a necessidade de se estimar a pressão de poros previamente para que a determinação do BOP adequado possa ser feita, tendo em vista a segurança nas futuras operações. 25 Tabela 4.1– Técnicas disponíveis para prever, detectar e avaliar sobre pressões antes e durante as operações de perfuração Fonte de dados Indicadores de pressão Momento de registro Métodos geológicos Sísmica (velocidade de formação) Antes do início da perfuração Gravidade Magnetismo Métodos de prospecção elétrica Parâmetros de perfuração Taxa de penetração Durante a perfuração (em tempo real) Expoente-D Expoente-D modificado Equações de taxa de penetração Porosidade e registros de pressão da formação LWD Torque Drag Parâmetros do fluido de perfuração Fluido cortado por gás Durante a perfuração (considerando o atraso devido ao retorno do fluido que vem do fundo do poço) Peso do fluido na linha de retorno Kicks Temperatura do fluido na linha de retorno Resistividade, concentração de cloreto e outros parâmetros do fluido Nível do tanque e volume total do tanque Volumes de abastecimento do poço Taxa de retorno do fluido Parâmetros dos cascalhos perfurados Densidade do folhelho Durante a perfuração (considerando o atraso devido ao retorno do fluido que vem do fundo do poço) Volume, tamanho e formato Fonte: (ADAMS, 1980) 26 Uma estimativa do perfil de temperatura do poço também deve ser realizada, pois a temperatura interfere diretamente nos fluidos que circularão no poço e no tipo de equipamento que poderá ser utilizado na operação. Os fluidos de perfuração são afetados diretamente pelas altas temperaturas, principalmente na instabilidade do peso, solubilidade do gás no fluido e consequente capacidade de detecção de kicks, e, quando em águas profundas, a formação de hidratos é um fator para o qual a equipe deve atentar. Em segundo lugar, os equipamentos possuem limites operacionais, as ferramentas convencionais de LWD, por exemplo, estão limitadas às temperaturas até 150°C. (JÚNIOR, 2008) É este conhecimento prévio o ponto de partida para se trabalhar com as condições de temperatura e pressão de um poço, permitindo que a equipe de planejamento tenha parâmetros de referência sobre as condições esperadas durante as operações de perfuração. Além das técnicas supracitadas, Santos (2014) e Boots and Coots (2014) também citam a utilização de métodos de normalização da taxa de penetração, como o expoente “d”. 4.1.1. Expoente “d” As variações na taxa de penetração podem ser indicadores diretos de mudanças nas pressões de poros. Quando uma zona está sendo perfurada, parâmetros previamente planejados, como pressão de bombeio, taxa de rotação, peso sobre a broca e consequente taxa de penetração devem ser mantidos constantes. Qualquer mudança neste último parâmetro pode indicar que o poço está entrando em uma zona de transição. A taxa de penetração é uma função do diferencial de pressão no fundo do poço, entre a pressão de BHP (Bottom Hole Pressure – Pressão no fundo do poço) e a pressão da formação. Se este diferencial de pressão varia repentinamente, sem que a equipe tenha feito alguma alteração nos parâmetros, significa que a pressão da formação está mudando. 27 O expoente “d” é um método multi-passos de predição de pressões que tem como referência a taxa de penetração. Este método consiste na normalização da taxa de penetração em relação à rotação da broca, peso sobre a broca, diâmetro da broca e massa específica do fluido de perfuração. (SANTOS, 2014) Os valores de “d” são calculados a partir da seguinte equação: 𝒅𝒄 = 𝒍𝒐𝒈( 𝑹 𝟔𝟎𝒙𝑵 ) 𝒍𝒐𝒈 ( 𝟏𝟐𝒙𝑾 𝟏𝟎𝟔𝒙𝒅𝒃 ) 𝒙 ( 𝜹𝒏 𝜹𝒎 ) (Eq. 4.1) Onde: 𝑅 é a taxa de penetração, em pés/hora 𝑁 é a velocidade de rotação da broca, em RPM 𝑊 é o peso sobre a broca, em libras 𝑑𝑏 é o diâmetro da broca, em polegadas 𝛿𝑛 é a massa específica equivalente à pressão normal da área, em lbm/gal 𝛿𝑚 é a massa específica do fluido de perfuração em uso, em lbm/gal Estes valores são calculados em zonas normalmente pressurizadas e tomados como referência ao longo da perfuração. Para que o acompanhamento seja feito, um gráfico semilogarítmicoé gerado, em função da profundidade, com o intuito de definir a linha de tendência da pressão normal. Os valores de dc aumentam com a profundidade do poço e no momento em que uma zona de transição é atingida, eles tendem a diminuir. A Figura 4.1 mostra exemplos deste gráfico em diferentes localidades nos Estados Unidos, onde se pode observar a tendência das pressões normais e a zona de transição através do método do expoente “d”. 28 Figura 4.1– Resultados de campos onde o método do expoente “d” foi utilizado para detectar zonas de transição Fonte: (ADAMS, 1980) A comparação entre o valor calculado de dc e o valor desviado, dcn, em uma profundidade D pode ser, então, utilizado para que a pressão de poros seja calculada. 𝑃𝑝 = 0,1704 𝑥𝛿𝑛𝑥𝐷𝑥 𝑑𝑐𝑛 𝑑𝑐 (Eq. 4.2) 4.2. MÉTODOS PARA DETERMINAÇÃO DA PRESSÃO DE FRATURA Durante as operações de perfuração, é necessário que a formação seja capaz de suportar as pressões provenientes do poço sem que fluido seja perdido ou que uma fratura ocorra. O conhecimento desta pressão máxima é fundamental para que as profundidades dos revestimentos descidos possam ser estabelecidas. 29 Santos (2014) define pressão de fratura ou gradiente de fratura como a relação direta entre a pressão máxima que a formação pode suportar e a pressão de sobrecarga (overburden), pressão de poros e coeficiente de tensões na matriz da rocha. Testes na formação feitos são realizados após o assentamento de um revestimento. Com o objetivo de testar a nova formação logo abaixo do revestimento, perfura-se até aproximadamente 4,5 m após o revestimento assentado. De acordo com Boots and Coots (2014), há dois testes comumente aplicados: o teste de absorção (LOT – Leak-off Test) e o teste de integridade (FIT – Formation Integrity Test). O primeiro é utilizado quando a formação é pouco conhecida ou quando não se sabe sobre os limites da mesma. Em campos de desenvolvimento, onde alguns poços já foram perfurados, aplica-se o teste de integridade. O teste de absorção consiste no bombeio de fluido para dentro do poço com o BOP fechado. É preciso que a operação seja feita com cautela, para evitar danos permanentes à formação. À medida em que o fluido é bombeado, a pressão na superfície é registrada em um gráfico, conforme a Figura 4.2. O intervalo AO da figura representa a compressão do fluido dentro do poço. O ponto A registra o momento em que a formação começou a absorver fluido. Um teste típico é interrompido neste momento e a pressão do ponto A passa a representar a pressão máxima de superfície naquelas condições. Em alguns poços, há a necessidade de se conhecer o momento em que a fratura da formação efetivamente ocorre. Sendo assim, o teste é estendido até o ponto B. Quando o teste de integridade é feito, bombeia-se até um limite pré-determinado antes de se alcançar o ponto A da Figura 4.2. Para o teste ser considerado satisfatório, a pressão deve ser mantida por aproximadamente 10 minutos sem apresentar variação. 30 Figura 4.2– Exemplo de curva de um teste de absorção Fonte: (SANTOS, 2014) 4.3. DETERMINAÇÃO DO ASSENTAMENTO DO REVESTIMENTO A janela operacional é determinada a partir das curvas dos gradientes de fratura, colapso e pressão de poros, conforme 2.2 janela operacional. Uma vez que a janela operacional é prevista e determinada, pode-se definir um critério para o assentamento dos revestimentos e uma metodologia para o peso do fluido utilizado durante a perfuração, não somente para evitar a ocorrência de kicks, mas para manter a estabilidade do poço. Os revestimentos são descidos com o objetivo de proteger formações já perfuradas. Por fatores econômicos, a sapata do revestimento deve ser assentada à maior profundidade possível, portanto, a seleção das profundidades dos revestimentos é de fundamental importância para a diminuição do tempo de operação e consequente custo, mas principalmente para a segurança das operações. Certas zonas estão sujeitas a problemas como gases rasos, outras podem estar submetidas a pressões anormalmente altas, com maiores chances de ocorrência de kicks. Além do risco de perda de circulação e fratura, consequência de pressões anormalmente baixas. 31 Existem diferentes critérios para a determinação das profundidades dos revestimentos, baseados na janela operacional e tolerância o kick. Na Figura 4.3, observa-se que as temperaturas neste poço podem alcançar os 200°C. Se este mesmo poço estivesse em uma região de temperaturas normais, a mesma seria de até 120°C, com uma temperatura de superfície de 20°C. Além disso, a pressão de poros cresce abruptamente, aproximando-se da curva de gradiente de fratura, isto pode levar à necessidade da descida de um novo revestimento. Figura 4.3 - Exemplos de gradiente de pressão de poros em um poço HPHT Fonte: (ROCHA E AZEVEDO, 2009) O estreitamento da janela operacional é mais acentuado em poços HPHT quando comparados a poços com características convencionais e, se revestimentos intermediários não forem considerados na fase do projeto, o poço pode não atingir o objetivo final. Portanto, o critério utilizado para determinação das profundidades do revestimento acaba sendo determinante na viabilidade econômica e técnica do poço e segurança da operação. 32 4.3.1. Critério Baseado na Janela Operacional Este critério utiliza as margens superior e inferior da janela operacional e pode ser aplicado com margens de segurança. A Figura 4.4 mostra sua aplicação com uma margem de segurança. Depois de estimada a profundidade final do poço, traça-se uma seta vertical para cima até tocar o limite superior da janela operacional. Em seguida, uma reta é traçada na horizontal até encontrar o limite inferior da janela. Os pontos de interseção com a curva superior serão as profundidades definidas para o assentamento dos revestimentos. (ROCHA E AZEVEDO, 2009) Figura 4.4 – Densidade do fluido e profundidades dos revestimentos baseados na janela operacional Fonte: (HAMARHAUG, 2011) No exemplo da Figura 4.4 foram utilizadas margens de segurança para ambos os limites de pressão de poros e de fratura. Para a determinação desta margem, não há uma regra estabelecida, pois interfere diretamente no número de fases a serem utilizadas no projeto, modificando o custo total do mesmo. Este critério é aplicado independentemente da geometria do poço, entretanto, não leva em consideração a possibilidade de ocorrência de um kick, o que modifica as pressões exercidas na sapata do revestimento. 33 Outros aspectos, principalmente aqueles relacionados a poços de águas profundas e HPHT, inviabilizam ou restringem alguns projetos, como baixo gradiente de fratura e alta fricção na choke line. A Figura 4.5 destaca a zona de transição em um poço HPHT. Utilizando-se o método convencional para determinar as profundidades de cada revestimento, as chances de se alcançar a zona de interesse são reduzidas, principalmente devido ao diâmetro do poço, pois, um número maior de revestimentos seria necessário, fazendo com que o poço tivesse diâmetros cada vez menores e custos com a operação inversamente proporcionais. Figura 4.5 – Esquema de um poço HPHT Fonte: (FALCÃO, 2007) 4.3.2. Critério Baseado na Tolerância ao Kick Tolerância ao kick é definida como o máximo volume de influxo que o poço pode receber e circular, sem fraturar o ponto mais frágil da formação. Este ponto seria a formação logo abaixo da sapata do último revestimento. Outra definição utilizada por Lage, Nakagawa e Rocha (1997), é a máxima pressão de poros que pode ser admitida, de tal forma que, se um kick de determinado volume ocorrer em certa profundidade, o poço pode ser fechado e o kick pode ser circulado 34 de forma segura, sem que a formação frature. É importante estimar se a pressãono poço pode exceder a pressão de fratura, pois esta condição poderá causar perda de circulação e/ou um underground blowout. Para que a tolerância ao kick seja determinada de forma simplificada, algumas considerações iniciais são feitas: (1) o influxo de gás é uma única bolha, (2) o momento do fechamento do poço é o momento mais crítico do controle. Apesar de haver expansão do gás à medida em que é circulado até a sapata, geralmente esta expansão não exerce tanta influência quanto o tamanho do kick no fechamento inicial, quando o mesmo está entre o drill collar e o poço aberto. A Tabela 4.2 - Comparação entre a condição de fechamento e o gás na sapata exemplifica este cenário. Tabela 4.2 - Comparação entre a condição de fechamento e o gás na sapata Condição de fechamento Gás na sapata Volume do Influxo (bbl) 21,4 89,9 Altura do kick (m) 150 119 ρgás (lbm/gal) 1,95 0,664 ρkt (lbm/gal) 10,26 10,26 Fonte: (LAGE, NAKAGAWA E ROCHA, 1997) Observa-se que a altura do influxo no momento do fechamento (quando o mesmo está entre o drill collar e o poço aberto) é superior à sua altura no momento em que chega à sapata. Mesmo havendo expansão de gás, o mesmo ocupa, na sapata, mais de quatro vezes seu volume inicial, porém a capacidade do espaço anular entre o drill pipe e o poço aberto é muito superior, fazendo com que a maior altura do kick no fechamento inicial seja compensada por essa expansão. A tolerância ao kick era um conceito muito utilizado para se determinar o máximo aumento no peso do fluido. A margem de tolerância ao kick, K, é definida pela diferença entre a tolerância ao kick e o peso do fluido. 𝐾 = 𝜌𝑘𝑡 − 𝜌𝑓 (Eq. 4.3) 35 Onde: 𝜌𝑘𝑡 é a tolerância ao kick 𝜌𝑓 é o peso do fluido utilizado À medida em que o peso do fluido aumenta, a margem de tolerância ao kick diminui. Esta diminuição era considerada um indicador para o assentamento de um novo revestimento. Por exemplo, quando a margem de tolerância ao kick estivesse próxima de 0,5 lbm/gal, um novo revestimento deveria ser assentado. Este critério considera apenas o peso do fluido, que tem como base a pressão de poros da formação. Outros fatores, porém, também influenciam no cálculo para o peso do fluido, tais como: (1) margem de segurança de riser, (2) problemas com a estabilidade do poço e (3) qualquer outra margem de segurança. De acordo com Lage, Nakagawa e Rocha (1997), considerar apenas o valor de K, não levando em conta outros fatores mencionados, pode fazer com que um revestimento seja assentado muito cedo, ou seja, em profundidades mais rasas do que as realmente necessárias. Um novo critério foi determinado, baseando-se na margem de tolerância ao kick, que representa a margem de segurança entre a pressão máxima permissível no reservatório, baseada nas cargas no poço aberto e na pressão de poros esperada. 𝛥𝜌𝑘𝑡 = 𝜌𝑘𝑡 − 𝜌𝑝 (Eq. 4.4) Onde: 𝛥𝜌𝑘𝑡 é a margem de tolerância ao kick, lbm/gal 𝜌𝑘𝑡 é a tolerância ao kick, lbm/gal 𝜌𝑝 é a pressão de poros, lbm/gal A Figura 4.6 mostra o critério de margem de tolerância ao kick, K, sendo aplicado em dois diferentes cenários, uma sonda ancorada e uma sonda de posicionamento dinâmico (DP – Dynamic Positioning). Na primeira alternativa, a sonda ancorada, uma margem de segurança de riser não é aplicada, portanto, a única margem utilizada para o peso de lama foi um overbalance de 0,3 lbm/gal. Como o critério K prevê uma 36 margem de 0,5 lbm/gal, de acordo com a figura, um novo revestimento deveria ser assentado a 2450 m (Figura 4.6 b). Utilizando-se o cenário da sonda DP, a continuidade da operação seria inviável, devido à margem de segurança do riser, que faria com que o peso do fluido fosse superior ao mínimo utilizado para a margem K (Figura 4.6 c). Figura 4.6– Aplicação de K e Δρkt em um cenário de água profunda Fonte: (LAGE, NAKAGAWA E ROCHA, 1997) O exemplo comprova que o critério K pode inviabilizar algumas operações, mesmo quando estas são seguras, pelo fato de se basear apenas no peso do fluido. Pois o peso do fluido, muitas vezes, não está diretamente relacionado à pressão de poros apenas. Se o peso do fluido for muito superior à pressão de poros por diferentes motivos, K pode apresentar valores negativos e indicar falsas condições inseguras de perfuração. Por outro lado, o critério de Δρkt mostra que, perfurando-se o mesmo poço com uma sonda ancorada, o revestimento deveria ser descido a 4400m, e não a 2450m (Figura 4.6 b). E em uma sonda DP, a operação poderia prosseguir, com um novo revestimento assentado apenas a 4500m (Figura 4.6 c). Esta diferença se dá, mais 37 uma vez, porque Δρkt é calculado baseando na relação entre a margem de tolerância ao kick e a pressão de poros. As Figura 4.7 eFigura 4.8 apresentam a aplicação dos dois critérios, com base na janela operacional e na tolerância ao kick, respectivamente. O primeiro utiliza uma margem de segurança de 0,5 lbm/gal em relação à curva inferior, de gradiente de pressão de poros. Apesar de apresentarem o mesmo número de revestimentos, o primeiro critério levaria a um projeto com custos teoricamente reduzidos, pois as duas primeiras fases, de 26 e 17,5 polegadas, seriam revestidas por colunas de assentadas em profundidades mais rasas. Em contrapartida, o projeto da Figura 4.8 – Aplicação do critério baseado na tolerância ao kick representa uma operação mais segura, pois a fase de 12 ¼ polegadas seria menor. O detalhe é observado na curva feita pela linha tracejada. (ROCHA E AZEVEDO, 2009) Figura 4.7 – Aplicação do critério baseado na janela operacional Fonte: (ROCHA E AZEVEDO, 2009) 38 Figura 4.8 – Aplicação do critério baseado na tolerância ao kick Fonte: (ROCHA E AZEVEDO, 2009) 4.4. FLUIDOS O princípio básico da perfuração rotativa permanece o mesmo desde que foi utilizado pela primeira vez há mais de um século: perfurar um poço bombeando um líquido através de uma coluna rotativa com uma broca. (BOOTS AND COOTS, 2014) Apesar de todos os avanços, a utilização de um fluido é o princípio de todo programa de perfuração. Nos primeiros poços, o fluido utilizado era a água. A água carreava os cascalhos da rocha e, na superfície, chegava uma mistura de água e argila, que passou a ser chamada de lama. Atualmente, a lama é uma mistura complexa de diferentes fluidos e compostos químicos e possui diversas funções para as operações, dentre as quais, as mais importantes são a limpeza do poço e o controle da pressão da formação. É preciso que o fluido seja viscoso o suficiente para carrear os cascalhos à superfície e mantê-los em suspensão quando a circulação é interrompida. O fluido também precisa ser capaz de conter a pressão da formação, e isso ocorre quando possui peso igual ou superior ao peso equivalente de poros. 39 Para perfurar em ambientes com altas temperaturas, acima de 270°F, o fluido mais indicado é o de base oleosa. Entretanto, neste ambiente as características e propriedades dos fluidos podem variar, afetando a precisão das análises feitas na superfície o suficiente para causar kicks. (BOOTS AND COOTS, 2014) 4.4.1. Expansão Térmica do Fluido A temperatura exerce influência inversamente proporcional à densidade do fluido, com o aumento da temperatura, a densidade do fluido diminui, pois este aumento de temperatura leva a uma expansão do fluido. Em contrapartida, quando a pressão aumenta, sua massa permanece constante, mas seu volume é reduzido, com isso a densidade do fluido aumenta à medida que a pressão também aumenta. Apesar de atuarem de forma oposta ao comportamento da densidade do fluido base óleo, o efeito da temperatura predomina, principalmente sob condições de baixa pressão. Em fluidos com base água, o efeito da pressão é muito pequeno e em poços com baixa temperatura, a pressãopode ter efeito predominante em fluidos com base óleo. (ROCHA E AZEVEDO, 2009) Manter a pressão no fundo do poço constante pode ser um desafio durante a perfuração, devido aos significativos efeitos de compressão e expansão térmica dos fluidos de base oleosa. Quando a lama é circulada através do poço, além da densidade, a viscosidade também é afetada, resultando em variações na pressão hidrostática e na densidade equivalente de circulação (ECD – Equivalent Circulating Density). De acordo com Boots and Coots (2014), ambos os efeitos combinados podem fazer com que a pressão no fundo do poço varie na grandeza de 300 psi em poços de aproximadamente 15.000 pés (4572 metros). 4.4.2. Decantação de Barita Quando comparados a fluidos com base água, os fluidos de base oleosa apresentam maior estabilidade de sólidos em ambientes HPHT, isto é, suas propriedades são mantidas ao longo da perfuração durante períodos extensos, sem a necessidade de reposição de aditivos para densidade ou viscosidade, por exemplo. A maioria 40 apresenta comportamento estável quando submetidos a temperaturas de 450°F aproximadamente, após 16 horas. (ROCHA E AZEVEDO, 2009) Poços HPHT normalmente requerem fluidos com densidades mais elevadas. Por consequência, sua capacidade de carreamento de sólidos também deve ser mais eficaz. De acordo com Hamarhaug (2011), um dos resultados de longos períodos com baixa ou nenhuma circulação e rotação da coluna no poço, é a sedimentação de sólidos. Quando isto ocorre, os aditivos do fluido se depositam no fundo do poço, fazendo com que as propriedades dos fluidos variem. Este fenômeno é mais agravado, principalmente, nas seções de maior inclinação do poço, onde a capacidade de carreamento de sólidos é mais exigida. Perda de material adensante também pode levar a problemas de controle de poços, pois a segregação de barita irá causar uma queda na densidade do fluido, diminuindo a pressão hidrostática exercida no fundo do poço. A maioria dos fluidos é desenvolvida para evitar decantação de sólidos, mas a presença de fluidos da formação no poço, seja por meio da difusão, lama cortada por gás ou kicks, pode afetar a capacidade do fluido de prevenir a ocorrência deste evento. 4.4.3. Solubilização do Gás A mudança nas propriedades do fluido de base oleosa quando comparados aos fluidos de base aquosa podem ser fatores determinantes na detecção e manutenção das pressões no poço. Quando perfurando poços de gás, kicks de gás são especialmente perigosos em fluidos com base óleo. Os principais problemas causados por estes kicks são destacados por Boots and Coots (2014) e Santos (2014): A solubilidade do gás no óleo e os efeitos na detecção do kick Os problemas para o tratamento do gás na superfície Equipamentos de limpeza de fluido e separação de gás podem ser sobrecarregados Kicks possuem maiores volumes devido à compressibilidade do fluido Pode haver gás trapeado após o fechamento, devido à expansão térmica do fluido 41 A maior parte do gás entrará em solução na lama, mascarando o volume real do kick. O primeiro sinal de que um kick está ocorrendo é um aumento no fluxo de retorno seguido de um aumento no nível do tanque, podendo também fazer com que a pressão de circulação diminua. Um kick de gás no fundo de um poço HPHT com fluido de base oleosa, entrará sem que o sondador possa observar mudanças na superfície. Nestes casos, a sonda deve possuir equipamentos confiáveis e precisos, para auxiliar a equipe na detecção deste evento. Se o kick não for detectado e as operações prosseguirem, o mesmo irá permanecer em solução líquida na medida em que migra ou é circulado em direção à superfície até que atinja o ponto de bolha, a pressão na qual o gás sai de solução. Esta pressão é atingida próximo à superfície, em sondas submarinas pode ocorrer no riser, ou na superfície, após a passagem pelo choke, trazendo a possibilidade de sobrecarga nos equipamentos de superfície, como separadores e sistema de limpeza de fluidos. Estes equipamentos devem ser bem dimensionados, pois o volume de gás que irá se expandir após a passagem pelo choke poderá ser grande, especialmente em poços HPHT. 4.4.4. Difusão dos Gases Durante a perfuração convencional, a pressão no poço é mantida acima da pressão da formação e não há fluxo de fluidos da formação para o poço. Em poços HPHT, mesmo em condições de overbalance, pode haver entrada de gases da formação para o poço. Quando o poço fica em condições estáticas por um longo período de tempo, pode ocorrer o fenômeno de difusão de gases da formação para dentro do poço, representando um problema de controle em potencial quando a circulação é retomada ou em operações de stripping do tubo para o fundo do poço. Hamarhaug (2011) e Júnior (2008) explicam o fenômeno. Mesmo que o poço esteja em overbalance, quando a broca penetra formações porosas um pequeno volume de fluido é perdido para a formação. É normal que este fluido, filtrado, entre na formação no início da perfuração, dando origem à formação do reboco, que irá proteger as paredes do poço e reduzir a taxa de filtrado perdido para a formação. Entretanto, 42 quando a circulação é interrompida por longos períodos, o gás presente na formação pode se difundir no fluido de perfuração através do filtrado e do reboco em quantidades significativas, levando a sérias situações de controle de poços e fazendo com que as propriedades do fluido sejam modificadas, diminuindo sua densidade. Este fenômeno é diretamente proporcional à capacidade de solubilização de gases no fluido de perfuração e ao tempo de exposição, isto é, ao período em que o poço é mantido sem circulação. Portanto, quanto maior a solubilidade de gás no fluido, maior será o fluxo difusivo. 4.4.5. Hidratos Hidratos são produto de uma mistura de gás natural e água. Quando submetidos a baixas temperaturas e altas pressões esta mistura se solidifica e apresenta um aspecto de gelo. A formação de hidratos pode entupir linhas, obstruir o espaço anular ou até causar o aprisionamento de ferramentas no poço. Mudanças bruscas de pressão e as baixas temperaturas causadas pelas extensas lâminas de água podem contribuir para a formação de hidratos em poços HPHT. De acordo com Santos (2014), os problemas com hidratos vão além de obstruções no poço, pois a dissolução do hidrato pode gerar altas pressões e liberar grandes volumes de gás, da ordem de 170 pés cúbicos para 1 pé cúbico de hidrato, quando submetidos a temperaturas e pressões normais. Rocha e Azevedo (2009) reforçam a importância da previsão da mínima temperatura nas operações, para que medidas de prevenção possam ser tomadas contra a formação destas misturas, como a utilização de sistema de fluidos à base de polímeros de alta salinidade ou sintéticos, ou o bombeio de misturas de glicol, caso o poço permaneça fechado por longos períodos. 4.4.6. Desempenho dos Fluidos em Poços HPHT Procedimentos operacionais e equipamentos requerem um planejamento especial, principalmente quando fluido com base óleo está sendo utilizado. Como visto previamente, o planejamento do poço deve ser feito de forma cuidadosa, pois vários 43 são os efeitos das altas pressões e temperaturas, principalmente no que diz respeito ao programa de fluidos. Muitos critérios são considerados na elaboração do programa de fluidos para poços HPHT, aTabela 4.3 apresenta os objetivos que devem ser alcançados quanto ao desempenho dos fluidos neste ambiente. Tabela 4.3 – Efeito no desempenho de algumas propriedades do fluido em ambientes HPHT Propriedades do fluido de perfuração Desempenho requerido em poços HPHT Viscosidade plástica Deve ser a mais baixa possível para minimizar o ECD Limite de escoamento e força gel Deve ter um valor suficiente para segregação por ação da gravidade (sagging),mas não tão alto que cause gelificação, ou altas pressões de pistoneio (surge e swab). Perda de fluido Deve ser a mínima possível, de forma a prevenir danos à formação e riscos de prisão por diferencial Reologia Deve ser previsível de forma a controlar a decantação, força gel e ECD Compressibilidade Deve ser conhecida para que estimativas de pressão no fundo e ECD sejam realizadas Estabilidade em relação a agentes contaminadores Deve ser estável na presença de gás, salmoura e cimento Solubilidade do gás Necessária para detecção e modelagem precisa do kick Estabilidade com o tempo As propriedades não devem se alterar ao longo do tempo, seja em condições dinâmicas ou estáticas Tolerância a sólidos As propriedades não devem ser afetadas pela presença de sólidos provenientes da perfuração Aumento do peso Devem ser de fácil e rápido adensamento, caso um kick ocorra Fonte: (ADAMSON, 1998) Rocha e Azevedo (2009) adicionam que o efeito acumulativo da temperatura nas propriedades reológicas dos fluidos pode levar a registros errôneos do poço, durante o procedimento do teste de absorção (Leak-off test) e fechamento, causando uma 44 possível interferência nas leituras das pressões de fechamento através do drill pipe (SIDPP – Shut in Drill Pipe Pressure) e do revestimento (SICP – Shut in Casing Pressure). 4.5. FALSOS KICKS Diversas operações de rotina podem causar um aumento no nível dos tanques. Por exemplo, uma transferência de fluido na superfície ou equipamentos de controle de sólidos, quando são ligados ou desligados interferem nas leituras de volume dos tanques. Durante uma conexão, se a bomba não for completamente desligada, uma falsa impressão de fluxo de retorno poderia indicar um falso kick. Para evitar tais circunstâncias, é essencial que a equipe seja treinada e possua uma boa comunicação. (BOOTS AND COOTS, 2014) Identificar um kick no momento exato em que este entra no poço não é simples, pois diferentes fatores influenciam este reconhecimento. Além da comunicação, os tipos de fluido utilizado e fluido invasor devem ser considerados. Kicks de gás que entram em um poço cujo fluido de perfuração é base óleo, são especialmente perigosos, devido à solubilidade do gás no fluido, mascarando seu potencial risco. Os principais indícios da ocorrência de kicks, que levam o sondador a fechar o poço são aumento na vazão de retorno de fluido e/ou aumento no nível dos tanques na superfície. Além dos cenários citados previamente, operações em poços HPHT possuem condições particulares que podem fazer com que o fluxo de retorno e o nível do tanque variem, sem que um kick, de fato, tenha ocorrido. As altas temperaturas do poço modificam as características de compressibilidade dos fluidos. Segundo Lomba e Silva (2007), quando isso ocorre há um aumento na vibração e na frequência dos átomos que compõem o fluido, causando uma assimetria entre a energia de ligação e a distância entre os átomos. Desta forma a energia de repulsão se sobrepõe à energia de atração, fazendo com que o volume do fluido aumente. Pode-se observar a partir da Figura 4.9 que a pressão e a temperatura exercem influência significativa no volume do fluido. 45 A pressão e o volume são inversamente proporcionais, entretanto, para uma pressão constante, um aumento na temperatura faz com que o volume do fluido aumente, podendo causar uma falsa impressão de ganho no tanque. A compressibilidade dos fluidos com base óleo e com base água varia de acordo com o tipo de óleo e a razão óleo-água. A expansão do fluido devido ao alívio de pressão na coluna e no anular é da ordem de dois a seis barris, e o fator de compressibilidade dos fluidos com base óleo é bem maior quando comparado aos fluidos cuja base é a água. (CAMBOIM, 2011) A relação entre volume e temperatura está relacionada à taxa de transferência de calor e ao coeficiente de expansão térmica do fluido. Fluidos de alta compressibilidade, como aqueles com base óleo, possuem um coeficiente de expansão térmica superior aos fluidos com base água. (CAMBOIM, 2011) Figura 4.9 – Comparação do aumento de volume do fluido de perfuração para diferentes pressões e temperaturas Fonte: (LOMBA E SILVA, 2007) Durante conexões e flow checks, a identificação de um influxo também é fonte de preocupação por parte da equipe de perfuração devido a fenômenos como breathing 46 formation e efeito balão, que dificultam a detecção do kick e podem levar o sondador a fechar o poço sem que este evento, de fato, ocorra. Quando a circulação é iniciada, as perdas de carga devido ao bombeio de fluido pelo anular começam a exercer uma pressão extra no fundo do poço. Com isso, a pressão no fundo passa a ser uma função da hidrostática e da perda de carga no anular. No momento em que a circulação é interrompida e as bombas são desligadas, a pressão no fundo do poço volta ao seu valor original, a pressão hidrostática do fluido de perfuração. Esta variação de pressão durante a circulação e quando o poço está em estática pode desencadear fenômenos conhecidos como breathing formation e efeito balão. Estes fenômenos podem ser, por vezes, confundidos com perda e ganho de fluido da formação, que ocorre quando ela é porosa e permeável e sofre fraturas devido ao aumento de pressão no fundo do poço e consequente perda de pressão hidrostática, devido à queda no nível de fluido no anular. Breathing formation ocorre durante a perfuração de zonas pouco ou não permeáveis, quando o peso do fluido se aproxima da curva de fratura da formação. Durante o bombeio, o aumento da pressão no fundo do poço, devido às perdas de carga no anular, faz com que a formação sofra pequenas fraturas. Desta forma, uma pequena quantidade de fluido de perfuração penetra na formação, e na superfície pode-se observar perda de circulação. Por outro lado, quando as bombas são desligadas e a pressão no fundo do poço diminui, as fraturas se fecham e o fluido que, antes tinha sido perdido para a formação, retorna parcialmente junto ao fluido presente na formação (água, óleo ou gás). É importante ressaltar que esta contaminação de fluido pode se agravar em fluidos com base óleo, devido à grande capacidade de solubilização do gás. (CAMBOIM, 2011) Diferentemente do breathing formation, o efeito balão ocorre somente em formações impermeáveis e não causa fraturas na formação ou contaminação do fluido de perfuração, é apenas uma deformação elastoplástica do folhelho, que pode ser comparada ao efeito que ocorre nas formações salinas, por possuírem comportamento plástico. A causa deste efeito é semelhante ao breathing formation. Devido à condição dinâmica de bombeio, as paredes do poço se expandem, de forma 47 análoga a um balão, dando a impressão de que fluido de perfuração está sendo perdido para a formação. Quando o poço volta à condição estática, as paredes do poço retornam ao seu diâmetro normal, fazendo com que haja retorno de fluido após o desligamento da bomba. Este cenário, observado da superfície, pode ser confundido com um kick. Porém, o retorno adicional de fluido após o desligamento é decrescente e a variação de volume de fluido é pequena. (CAMBOIM, 2011) A identificação destes eventos é fundamental para que a equipe possa evitar sérios eventos de controle de poço. Para que isto ocorra, é preciso ter um conhecimento dos comportamentos dinâmico e estático do poço. Júnior (2008) e Boots and Coots (2014) falam sobre a técnica aplicada para a medição destas variáveis, o fingerprinting. Este método tem como objetivo identificar de forma rápida e eficaz uma situação real de kick, e consiste na comparação de dados obtidos em operações anteriores com os dados em tempo real. Diferentes parâmetros da sonda e do poço são medidos e documentados precisamente, quando operações específicas são executadas,como, por exemplo, movimentação da coluna, partida e parada das bombas, alterações na temperatura do fluido de perfuração. Um padrão é, então, definido e qualquer variação e desvio da tendência devem ser avaliados e tratados como um kick. Em outras palavras, o método prevê o comportamento “esperado” dos parâmetros do poço, comparando com o comportamento real durante determinadas operações. A aplicação deste método é possível devido ao comportamento padrão das pressões no anular, que são medidas e registradas graficamente através das ferramentas de PWD e Mudlogging, que são capazes de medir as pressões dinâmica e estática do interior da coluna e na broca. Apesar de estes fenômenos ocorrerem em poços convencionais, durante a perfuração de poços HPHT seus registros são mais numerosos, devido às grandes profundidades. Segundo Júnior (2008), a técnica do fingerprinting surgiu devido ao grande dinamismo dos sistemas HPHT, onde pressão, temperatura e volumes de tanque mudam continuamente, mesmo quando as bombas são desligadas. 48 Diante destes falsos indícios de kicks e dos efeitos balão e breathing formation, Rocha e Azevedo (2009) sugerem um fluxograma para auxiliar na identificação de um falso kick após o fechamento do poço, Figura 4.10. Seguindo a sequência do fluxograma, para que o evento seja classificado como um verdadeiro kick, é preciso que a pressão na coluna de perfuração (SIDPP), convertida em peso equivalente de fluido, seja maior do que a densidade equivalente de circulação (ECD). Isto significa que a pressão da formação é maior do que a pressão no fundo do poço em dinâmica. Além disso, não pode ter havido perda de circulação nas últimas 24 horas de perfuração, pois um retorno poderia ser apenas um retorno de fluido, conhecido como flowback. Figura 4.10 – Fluxograma para identificação de um falso kick Fonte: (ROCHA E AZEVEDO, 2009) Em seguida, é preciso observar a pressão de fechamento do revestimento (SICP), que deve ser maior do que a pressão de fechamento no drill pipe SIDPP, pois a entrada de um influxo no poço faz com que a pressão hidrostática diminua no espaço anular. Devido à menor hidrostática no espaço anular em comparação com a coluna, 49 o valor de SICP será maior do que SIDPP. Algumas situações podem fazer com que SICP seja menor, como, por exemplo, excesso de cascalho no espaço anular, manômetros descalibrados, peso do fluido invasor maior do que o peso do fluido de perfuração, gás no interior da coluna ou alguma obstrução do espaço anular. Por fim, antes do fechamento do poço, não deve haver redução no fluxo de retorno, pois isso caracterizaria um falso kick. (ROCHA E AZEVEDO, 2009) 4.6. BOAS PRÁTICAS A transição para as zonas HPHT representa o grande desafio destes poços. A pressão de poros mostra um rápido aumento, que pode levar a condições de underbalance e perigosas situações de controle, devido à expansão dos influxos de gás em poços de alta temperatura e alta pressão. Como visto anteriormente, a janela operacional se estreita bruscamente nestas zonas de transição e válvulas inferiores de segurança da coluna (float valves) ventiladas são recomendadas, para que a pressão de SIDPP seja precisamente registrada em uma situação de kick. Boots and Coots (2014) listam algumas boas práticas que podem ser aplicadas quando a circulação é retomada: Após uma manobra ou longos períodos sem circulação, deve-se ligar as bombas cuidadosamente, de forma a evitar pressões excessivas e consequente fratura ou o efeito balão da formação. Pode-se considerar revisar os registros de PWD para indicadores de surge antes da retomada da circulação. Rotacionar a coluna lentamente antes do início do bombeio, se possível. Ligar somente uma bomba, em incrementos de 10 spm, até atingir a velocidade de bombeio. Em seguida, repetir o processo com a segunda forma, se aplicável. Durante a perfuração é recomendado controlar a taxa de penetração, para que o espaço anular não fique sobrecarregado de cascalhos, o que resultaria em um significativo aumento no ECD e possível efeito balão da formação, ou até perda de 50 circulação. É recomendado o planejamento de limpezas mais frequentes, com o objetivo de controlar o aumento do ECD. A compressibilidade e expansão térmica dos fluidos, o fluxo de retorno (flow back) e pressões trapeadas podem ser mais comuns em poços HPHT. Desta forma, os manômetros e a instrumentação do poço e tanques devem ser calibrados e testados antes do registro do fingerprinting. Segundo Boots and Coots (2014), o manômetro recomendado para registro destas pressões é o manômetro do painel do choke. Para que a detecção do kick seja mais eficaz, Júnior (2008) recomenda que os procedimentos de flow check sejam mais longos que 10 minutos e que o volume de ganho nos tanques não é, necessariamente, limitado ao volume de gás no poço. E reforça que uma pequena quantidade de gás não detectada, poderá atingir o ponto de bolha no anular (ou no riser). Desta forma, deve-se estabelecer modelos e compreender adequadamente os fundamentos de solubilização do gás nos fluidos de base oleosa, permitindo-se prever a ocorrência deste fenômeno para diversas condições de temperatura e pressão. 51 5. CONCLUSÃO Operações de poços HPHT exigem cuidados especiais, não só devido às mudanças no fluido de perfuração, mas na dinâmica de toda a operação. A maior incidência de kicks e as pressões elevadas, que podem atingir a superfície, aumentam ainda mais os riscos à equipe. É necessário um treinamento especial para que toda a equipe esteja preparada, pois são muitos os efeitos das temperaturas e pressões nos parâmetros de perfuração, o que influencia diretamente a detecção de kicks e falsos kicks. Para o programa de fluidos, muitas vezes o desempenho de uma determinada propriedade só pode ser alcançado quando outra é modificada ou afetada. Por isso o estudo das propriedades do fluido é essencial para que a melhor decisão seja tomada. No presente trabalho foram apresentados critérios utilizados desde o planejamento do poço até a detecção de kicks. Os cuidados e as diferenças a serem consideradas quando perfurando poços HPHT, comparando-se a operações de controle de poços convencionais. Para futuros trabalhos, propõe-se um estudo sobre os simuladores e modelos matemáticos utilizados atualmente para a previsão e acompanhamento do comportamento dos parâmetros de perfuração e programa de fluidos antes das operações e em tempo real. 52 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAMS, N. Well Control Problems and Solutions. Tulsa, Oklahoma: Petroleum Publishing Company, 1980. 683 p. ADAMSON, K. et al. High Pressure, High Temperature Well Contruction. Schlumberger Oilfield, Verão de 1998. BOOTS AND COOTS, HALLIBURTON. Pressure Control for Drilling/Workover Operations Manual. Houston, 2014, 363 p. CAMBOIM, F. C. Aspectos do Fenômeno de Perdas e Ganhos de Fluido em Poços HPHT. Dissertação de Pós Graduação em Engenharia de Petróleo e Gás Natural – Universidade Petrobras, Salvador. 2011. FALCÃO, J. L. Construção de Poços HPHT. Salvador, 2007. 94 slides. HAMARHAUG, M. Well Control and Training Scenarios. 2011. 94 f. Dissertação (Master of Science in Petroleum Engineering/Drilling Engineering) – University of Stavanger, Faculty of Science and Technology, Stavanger.2011. IADC Lexicon. Disponível em: <http://www.iadclexicon.org/well-control/>. Acesso em: 10 set. 2016. JÚNIOR, R. R. P. 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