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Evandro Castro Pedro Ricardo Souza Cerqueira Paulo Teixeira de Sousa Gestão de estoques e ArmAzenAGem *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Imagem da capa: © Macrovector // Shutterstock. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Copyright Universidade Positivo 2018 Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido Curitiba-PR – CEP 81280-330 Presidente da Divisão de Ensino Reitor Pró-Reitor Coordenação Geral de EAD Coordenação de Metodologia e Tecnologia Autoria Supervisão Editorial Parecer Técnico Validação Institucional Layout de Capa Prof. Paulo Arns da Cunha Prof. José Pio Martins Prof. Carlos Longo Prof. Everton Renaud Profa. Roberta Galon Silva Prof. Evandro Castro Pedro Prof. Ricardo Souza Cerqueira Prof. Paulo Teixeira de Sousa Bianca de Brito Nogueira Carlos César Ribeiro Santos Regiane Rosa Valdir de Oliveira DTCOM DIRECT TO COMPANY S/A Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Imagem de Capa, Design Gráfico e Revisão Textual Ícones Afirmação Contexto Biografia Conceito Esclarecimento Dica Assista Curiosidade Exemplo Sumário Apresentação .................................................................................................................. 12 A autoria .......................................................................................................................... 13 Capítulo 1 Gerenciamento de estoques: visão geral ........................................................................ 17 1.1 Introdução ao gerenciamento de estoques ............................................................... 17 1.1.1 O gerenciamento dos estoques ...............................................................................................................................18 1.1.2 A armazenagem de materiais ................................................................................................................................ 20 1.1.3 Motivações para redução dos estoques ................................................................................................................ 21 1.2 O propósito da armazenagem de materiais ..............................................................21 1.2.1 A dinâmica da demanda e a necessidade de estocagem ..................................................................................... 22 1.2.2 Estocagem nos canais de distribuição .................................................................................................................. 23 1.2.3 Noções de trade-off entre custos e satisfação do cliente .......................................................................................24 1.2.4 Decisões na gestão de estoques ........................................................................................................................... 26 1.3 Sistemas de armazenagem .......................................................................................27 1.3.1 Tipologia dos estoques .......................................................................................................................................... 27 1.3.2 Funções do sistema de estocagem ....................................................................................................................... 29 1.3.3 Armazéns gerais .................................................................................................................................................... 30 1.3.4 Documentação e considerações legais sobre armazéns ........................................................................................31 1.4 Alternativas de estocagem ........................................................................................31 1.4.1 Armazéns para granéis .......................................................................................................................................... 32 1.4.2 Armazéns para mercadorias em geral .................................................................................................................. 32 1.4.3 Armazéns com temperatura e ambientes controlados ......................................................................................... 33 1.4.4 Miniarmazéns, armazéns alugados e armazenagem temporária ......................................................................... 34 Referências ......................................................................................................................35 Capítulo 2 Estratégias de estoque ....................................................................................................37 2.1 Quanto e quando pedir ..............................................................................................37 2.1.1 A importância do tamanho do lote........................................................................................................................ 38 2.1.2 A coordenação entre oferta e demanda ................................................................................................................ 39 2.1.3 A coordenação da produção .................................................................................................................................. 40 2.1.4 Impacto da localização dos estoques .....................................................................................................................41 2.2 Técnicas de previsão de demanda ............................................................................42 2.2.1 A relevância da análise e previsão da demanda .................................................................................................... 42 2.2.2 Tipologia das previsões de demanda: qualitativa versus quantitativa .................................................................. 44 2.2.3 Principais técnicas quantitativas ........................................................................................................................... 45 2.2.4 Escolhendo o modelo de previsão da demanda ................................................................................................... 50 2.3 O lote econômico e suas restrições ...........................................................................51 2.3.1 Os custos de armazenagem ...................................................................................................................................51 2.3.2 O cálculo do lote econômico ................................................................................................................................. 54 2.3.3 O lote econômico com descontos de preços e do frete ........................................................................................ 55 2.3.4 Restrições ao lote econômico ................................................................................................................................ 58 2.4 Ponto de pedir e sua reposição .................................................................................59 2.4.1 O ponto de pedir e suas variações ......................................................................................................................... 59 2.4.2 Nível de reposição e intervalos de revisão fixos .................................................................................................... 60 2.4.3 MRP – material requirement planning ...................................................................................................................61 2.4.4 Estoques de segurança ..........................................................................................................................................63 Referências ......................................................................................................................65 Capítulo 3 Funções do sistema de estocagem .................................................................................67 3.1 O ciclo de pedido do cliente .......................................................................................67 3.1.1 O ciclo das operações ............................................................................................................................................. 68 3.1.2 O impacto do ciclo de pedido na cadeia de suprimentos ..................................................................................... 69 3.1.3 O pedido perfeito ................................................................................................................................................... 69 3.1.4 Métricas de atendimento ....................................................................................................................................... 70 3.2 Recebimento, fracionamento de volume, combinação e manuseio de materiais ....71 3.2.1 O recebimento de materiais .................................................................................................................................. 71 3.2.2 O controle de recebimento .................................................................................................................................... 72 3.2.3 O impacto da localização das mercadorias no espaço do armazém .................................................................... 72 3.2.4 As principais técnicas de controle ..........................................................................................................................74 3.3 Consolidação, unitização e manutenção de estoques ...............................................76 3.3.1 Consolidação e unitização ......................................................................................................................................76 3.3.2 Paletização ............................................................................................................................................................ 77 3.3.3 Gerenciamento de entradas e saídas .................................................................................................................... 78 3.3.4 Causas de perdas no estoque ................................................................................................................................ 79 3.4 Separação, unitização e despacho dos materiais ......................................................80 3.4.1 A ordem de separação de mercadorias ................................................................................................................. 80 3.4.2 Unitização .............................................................................................................................................................. 81 3.4.3 A importância das embalagens............................................................................................................................. 82 3.4.4 Documentação de despacho de mercadorias ....................................................................................................... 83 Referências ......................................................................................................................85 Capítulo 4 Movimentação de materiais ............................................................................................87 4.1 Movimentação e manuseio .......................................................................................87 4.1.1 Tipologia da movimentação .................................................................................................................................. 88 4.1.2 Recebimento .......................................................................................................................................................... 89 4.1.3 Manuseio interno ................................................................................................................................................... 90 4.1.4 Separação e expedição .......................................................................................................................................... 91 4.2 Sistemas de movimentação ......................................................................................93 4.2.1 Sistemas mecanizados .......................................................................................................................................... 94 4.2.2 Sistemas semiautomatizados................................................................................................................................ 95 4.2.3 Sistemas automatizados ....................................................................................................................................... 96 4.2.4 Dispositivos de apoio ............................................................................................................................................. 98 4.3 Sistemas de armazenagem .....................................................................................100 4.3.1 Prateleiras e racks ................................................................................................................................................101 4.3.2 Blocagem e outras técnicas .................................................................................................................................102 4.3.3 Silos e tancagem ................................................................................................................................................. 104 Referências ....................................................................................................................106 Capítulo 5 Manuseio e proteção das mercadorias ..........................................................................107 5.1 Unitização e paletização ..........................................................................................107 5.1.1 Funções da embalagem de unitização................................................................................................................. 108 5.1.2 Sistemas paletizados ........................................................................................................................................... 109 5.1.3 Tipologia dos paletes ............................................................................................................................................110 5.2 Conteinerização ....................................................................................................... 111 5.2.1 Funções da conteinerização ..................................................................................................................................112 5.2.2 Sistemas e funcionalidades ..................................................................................................................................113 5.2.3 Tipologia dos contêineres ....................................................................................................................................114 5.2.4 Operações internacionais .....................................................................................................................................115 5.3 Layout do armazém ................................................................................................ 116 5.3.1 Layout típico de armazenagem ............................................................................................................................117 5.3.2 O uso do espaço do armazém ..............................................................................................................................119 5.3.3 Dimensionamento do armazém .........................................................................................................................120 5.3.4 Classificação ABC na armazenagem .....................................................................................................................124 5.4 Funcionalidades e crossdocking ...............................................................................125 5.4.1 Funções de industrialização no espaço de armazenagem ...................................................................................126 5.4.2 O crossdocking ......................................................................................................................................................127 5.4.3 Montagem de kits no armazém ...........................................................................................................................128 5.4.4 Vantagens e desvantagens das novas funcionalidades....................................................................................... 130 Referências ....................................................................................................................132 Capítulo 6 Custos e taxas de armazenagem ...................................................................................134 6.1 Custos diretos e indiretos na armazenagem ............................................................134 6.1.1 Custos fixos de armazenagem ..............................................................................................................................135 6.1.2 Custos variáveis .....................................................................................................................................................137 6.1.3 Custos diretos e indiretos ......................................................................................................................................137 6.2 Seleção da localização do armazém .......................................................................139 6.2.1 Relevância na escolha da localização do armazém ..............................................................................................139 6.2.2 Técnicas de seleção da localização ...................................................................................................................... 140 6.2.3 Aspectos legais e incentivos tributários ...............................................................................................................142 6.3 Técnicas úteis para profissionais de logística ..........................................................143 6.3.1 Novas técnicas de armazenagem ........................................................................................................................ 144 6.3.2 Armazenagem em trânsito ..................................................................................................................................145 6.3.3 Merge in transit .................................................................................................................................................... 146 6.3.4 Armazéns alfandegados .......................................................................................................................................147 Referências ....................................................................................................................149 Capítulo 7 Avaliação e controle dos estoques ................................................................................152 7.1 Problemas no gerenciamento dos estoques ............................................................152 7.1.1 Obsolescência ....................................................................................................................................................... 153 7.1.2 Prazo de validade e prazo útil .............................................................................................................................. 153 7.1.3 Falta ou excesso de estoque ................................................................................................................................. 154 7.1.4 Falhas na padronização e identificação ................................................................................................................ 156 7.2 Sistemas de codificação ...........................................................................................158 7.2.1 A descrição de materiais ...................................................................................................................................... 158 7.2.2 Sistemas de codificação ........................................................................................................................................159 7.2.3 Códigos de barras ................................................................................................................................................ 162 7.2.4 Etiquetas de radiofrequência ............................................................................................................................... 163 7.3 Controles de estoques empurrados e puxados .......................................................163 7.3.1 Decisões de estoque ao longo da cadeia de suprimentos ................................................................................... 164 7.3.2 Níveis de estoque ................................................................................................................................................. 165 7.3.3 Controle de estoques empurrados ...................................................................................................................... 166 7.3.4 Controle básico e avançado de estoques puxados .............................................................................................. 168 7.4 Indicadores de desempenho no controle dos estoques .......................................... 174 7.4.1 Indicadores de desempenho típicos de armazém ................................................................................................174 Referências ....................................................................................................................178 Capítulo8 Inventários ....................................................................................................180 8.1 Inventário nas empresas ..........................................................................................180 8.1.1 A importância do inventário .................................................................................................................................181 8.1.2 Aspectos legais do inventário ...............................................................................................................................182 8.1.3 Tipologia dos inventários ..................................................................................................................................... 183 8.2 Procedimentos de inventário periódico ...................................................................184 8.2.1 Preparação do inventário ..................................................................................................................................... 184 8.2.2 Listagens e contagens ......................................................................................................................................... 185 8.2.3 Ajustes nos saldos do estoque .............................................................................................................................187 8.2.4 Análise dos resultados ......................................................................................................................................... 188 8.3 Procedimentos de inventário rotativo .....................................................................190 8.3.1 Relevância do inventário rotativo .........................................................................................................................191 8.3.2 Principais técnicas ...............................................................................................................................................1928.3.3 Recursos tecnológicos ..........................................................................................................................................193 8.4 Gestão dos recursos humanos no inventário ..........................................................194 8.4.1 Composição das equipes de inventário ............................................................................................................... 195 8.4.2 Dimensionamento ............................................................................................................................................... 196 8.4.3 Supervisão e coordenação................................................................................................................................... 198 8.4.4 Avaliação dos resultados do inventário ............................................................................................................... 198 Referências ....................................................................................................................201 A razão principal da existência de uma organização empresarial não é acumular esto- ques em seus armazéns, mas sim, maximizar o retorno sobre o capital investido em fábricas, equipamentos, tecnologia, capital de giro, suporte de vendas e estoques. Embora armazenar não gere retorno para as empresas, os estoques têm a importan- te missão de fornecer condições necessárias ao perfeito atendimento das demandas prove- nientes do departamento de vendas. Com a finalidade de propiciar a maximização dos recursos empregados em estoques, o processo de armazenamento passou por uma profunda transformação, migrando da visão primitiva ligada à guarda de materiais para se tornar uma ferramenta de gestão estratégica, empregada de formar a possibilitar o alcance dos objetivos propostos no planejamento es- tratégico das empresas, por meio da implantação de boas práticas de gestão aliadas ao su- porte fornecido pelas novas tecnologias de informação. Desse modo, armazenar e estocar não são apenas o ato de guardar algo, e sim, fatores determinantes par o sucesso de qualquer empreendimento. Apresentação Dedico a Deus por prover energia, proteção e iluminar minhas decisões. A autoria O Professor Evandro Castro Pedro possui mestrado em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Também possui especialização em Finanças e Controladoria pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e graduação em Ciências Econômicas pelo Centro Universitário de Sete Lagoas (UNIFEMM). Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/8259032197170648> Em especial, dedico este trabalho a minha querida filha, empolgada, animada e esforçada com as atividades de estudante. Que essa empolgação sirva de inspiração para todos os seus colegas e demais estudantes. O Professor Paulo Teixeira de Sousa é Mestre em Engenharia da Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Possui especialização em Gestão e Planejamento da Educação à Distância pela Universidade Federal Fluminense (UFF). É graduado em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás. Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/8982249939334898> Dedico este trabalho a todos aqueles que acreditam que a educação é o caminho para transformar o mundo por meio de seu aperfeiçoamento tanto pessoal quanto profissional. Estou certo que a vontade de trilhar esse caminho do aprendizado e a atitude proativa ao longo dessa jornada se refletirá em mudanças positivas no mundo. O professor Ricardo Souza Cerqueira é Mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Especialista em Análise de Sistemas e em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e Bacharel em Engenharia Mecânica. Com mais de 30 anos de atividade profissional, foi engenheiro de projetos e de desenvolvimento de pro- dutos e diretor geral de multinacionais, empresas nacionais e órgãos de governo, atuando em operações, logística e finanças. Na vida acadêmica, é pesquisador e professor nas áreas de lo- gística, estratégia, finanças e sistemas avançados de gestão. Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/2812192621729994> 1 Gerenciamento de estoques: visão geral Ricardo Souza Cerqueira Os estoques representam parcela considerável dos ativos de uma organização, sendo um dos responsáveis pela continuidade de suas operações de forma eficiente e eficaz face às incertezas inerentes ao mundo dos negócios. Eles podem ser compostos por matérias-primas, material em processo ou produtos prontos para venda e são determinantes para assegurar estabilidade nas vendas frente às variações na demanda, à sazonalidade da produção ou a incertezas no transporte. A gestão de estoques permite às empresas administrarem adequadamente os recursos materiais necessários para que possam gerar receitas no futuro próximo. Nesse sentido, gerenciar estoques significa, entre outros aspectos, administrar os custos dos estoques, o local onde devem ser armazenados e as condições adequadas para sua conservação e pronto uso quando necessário. Neste capítulo, veremos os objetivos centrais do gerenciamento dos estoques em empresas, com destaque para seus processos de armazenamento. 1.1 Introdução ao gerenciamento de estoques Desde a origem da civilização, os estoques foram necessários para sanar as inade- quações entre o ritmo do abastecimento e o da demanda. Eles existiam em quan- tidades necessárias para suprir a demanda durante o período entre os recebimentos em cada ponto de consumo ou para regular a oferta de bens com produção sazonal, isto é, dependente dos ciclos da natureza ou de condições climáticas que afetavam as colheitas, causando sobras ou déficits de mercadorias. A partir do desenvolvimento da fórmula do lote econômico em 1915 (criada para determinar a quantidade do pedido e assim minimizar o estoque), iniciou-se a evolução de técnicas e práticas voltadas ao dimensionamento e controle de esto- ques, que passaram a compor estratégias de negócios das empresas. Na siderurgia ou no processo petroquímico, por exemplo, a produção em grandes lotes permite signi- ficativa economia ou ganho de escala, mas, por outro lado, demanda armazenagem desses materiais para vendas futuras. Os estoques também possibilitam aumentar a quantidade de produtos vendidos, pois eles ficam disponíveis imediatamente para atender à clientela. Para tanto, conforme Ballou (2009), as mercadorias ou serviços precisam estar no lugar e no tempo certo e nas condições desejadas, de forma que o comerciante possa obter maior lucro através da satisfação do cliente. Gestão de estoques e ArmAzenAGem 18 Para que os estoques possam cumprir esse papel de fornecer maior disponibili- dade de produtos, devem ser distribuídos e armazenados em vários locais ao longo da cadeia de suprimentos para não deixar faltar material para venda. Desse modo, há estoques de matérias-primas tanto nos depósitos dos produtores quanto nos armazéns das fábricas, estoques de materiais em processamento espalhados pelo processo produtivo nas fábricas e estoques de produtos acabados tanto nos arma- zéns de fábrica quanto disseminados pelos vários atacadistas, centros de distribuição e pontos de venda ao varejo. Os estoques representam uma parte significativa do investimento das empresas nos negócios, exigindo, portanto, uma dedicação especial para sua correta adminis- tração. Sendo assim, discutiremos a partir de agora alguns aspectos que nos ajudarão a compreender as necessidades de formação de estoques e armazenagem ao longo da cadeia de suprimentos. 1.1.1 O gerenciamento dos estoques A gestão eficiente dos estoques possibilita que os gestores verifiquem se os mate- riais armazenados estão sendo corretamente utilizados, bem manuseados e controlados. Os gerentes de produção do início do século XX, com base nos estudos de Taylor, publicados em 1911 no livro Os Princípios Fundamentais da Administração Científica,perceberam que era interessante conciliar as tarefas de compra dos materiais com o fluxo das mercadorias ao longo do processo produtivo, entendendo que as atividades de contratação dos fornecimentos deveriam estar integradas às funções relativas à qualidade no recebimento, movimentação, armazenagem, planejamento e controle da produção e gestão da distribuição física. A figura a seguir nos dá uma ideia dessa sequência de funcionamento. Sequência de operações na gestão de estoques Compras Estoque de matéria-prima Estoque em processo Estoque em processo Estoque de produtos finais Processamento de materiais Submontagem Gestão de estoques Fornecedores Saída de caixa Montagem Fluxos - Materiais e serviços Clientes Entrada de caixa Distribuição física Fonte: CHING, 2010, p.18. (Adaptado). © D TC O M Gestão de estoques e ArmAzenAGem 19 A sequência está alinhada com Ballou (2009), que afirma que a necessidade de gerenciar os estoques de forma mais técnica se originou no processo de gerencia- mento das compras. As operações integradas representaram um grande aprimora- mento na gestão pois, antes, cada função era desempenhada de forma independente por um diretor em cada etapa do processo produtivo, e a única integração possível era a da diretoria financeira, encarregada de conciliar receitas, despesas e disponibilidade de recursos financeiros, o que gerava insegurança e desperdício de recursos. Segundo Ballou (2009), as primeiras organizações a adotarem o gerenciamento dos estoques tinham como objetivo reduzir custos totais, pois os gastos com compras e manutenção de estoques estão entre os mais significativos nas empresas. Elas perce- beram que a redução de estoques não era suficiente para obter a melhor rentabilidade, então passaram a exigir que o processo de abastecimento fosse totalmente integrado à estratégia de atendimento ao cliente. Nesse cenário, gradualmente, novas técnicas foram desenvolvidas para auxi- liar no gerenciamento dos estoques, e atualmente, existem softwares de controle das mercadorias do tipo Enterprise Resources Planning (ERP), sistema de controle e gestão de mercadorias que permitem realizar as previsões de necessidade de materiais ou Warehouse Management System (WMS), isto é, sistema de gestão de armazéns, que são capazes de gerenciar os processos de compras e de movimentação de mercadorias dentro do armazém com rapidez e precisão. Além disso, as decisões de gestão estoques passaram a se integrar aos objetivos estratégicos da empresa. Sendo assim, se uma companhia definir como objetivo estra- tégico que dará ênfase à velocidade no atendimento ao cliente, suas decisões deverão contemplar maior disponibilidade de estoques nos pontos de vendas. De outra forma, se o intuito for servir bens e serviços com menor custo total, a gestão de estoque será dirigida a menores estoques e maior giro das mercadorias ao longo da cadeia de suprimentos. Assim, essa definição estratégica norteia a elaboração dos planos de longo prazo, como: o plano de negócios, no qual o mercado é analisado de forma mais ampla, o plano de vendas, que define as políticas e estratégias de canais de comercialização, e o plano de necessidades de recursos, que determina as fontes de matérias-primas, componentes e serviços que serão adquiridos. Os planos de produção e financeiros são então elaborados de forma a permitir um desenvolvimento integrado dos planos de médio e curto prazo nos quais são definidos os processos de compras e produção e armazenagem, sempre ancorados nas previsões de vendas, que são parte fundamental do gerenciamento da demanda. Gestão de estoques e ArmAzenAGem 20 1.1.2 A armazenagem de materiais Uma vez definida a quantidade de mercadorias que deverão existir em cada local ao longo da cadeia de suprimentos, é necessário prover as condições para que elas sejam guardadas da maneira adequada e entregues facilmente. Os custos de armazenagem são elevados, então o espaço deve ser aproveitado ao máximo. Deve- se planejar o uso de prateleiras, porta-paletes e outros recursos, maximizando a dimensão vertical do armazém sem comprometer seu layout e o espaço necessário para o manuseio das mercadorias. Rodrigues (2015) define armazenagem como o gerenciamento eficaz de um ambiente adequado e seguro colocado à disposição para a guarda de mercadorias. Segundo o autor, alguns princípios que norteiam essa atividade são: Isto é, capacidade de planejar o espaço necessário para cada tipo de mercadoria e as condições para sua guarda, manuseio e controle de acordo com as necessidades da empresa, como a capacidade de atendimento simultâneo, velocidade de separação de pedidos etc. Planejamento e flexibilidade operacional Considerando as possibilidades de verticalização e empilhamento de forma a possibilitar o armaze- namento da maior quantidade possível por unidade de volume. Otimização do espaço físico tridimensional A armazenagem inclui atividades como recebimento e conferência de mercadorias, gerenciamento da localização dos itens esto- cados, abertura das embalagens recebidas e sua reorganização em outros formatos, controle da movimentação do estoque, entre outras que veremos mais adiante. É preciso um bom gerenciamento do armazém para dar agilidade aos processos, ou seja, rapidez e acurácia nas atividades, o que permite aos gerentes tomarem deci- sões de compras com maior segurança quanto às quantidades e prazos de recebimento. © B al on ci ci // S hu tt er st oc k Gestão de estoques e ArmAzenAGem 21 1.1.3 Motivações para redução dos estoques Uma das principais demandas da diretoria das empresas é a redução dos esto- ques, pois, segundo Ching (2010), eles absorvem recursos financeiros que poderiam estar sendo aplicados de outras maneiras rentáveis. De acordo com o autor, menores estoques favorecem o giro das mercadorias e aumentam a lucratividade. Giro dos estoques é uma medida padronizada que indica o número de vezes que certa quanti- dade de mercadoria “girou” em determinado período. Se dispomos de um estoque de 10 uni- dades de mercadoria e vendemos 20 em um mês, a mercadoria “girou” duas vezes no período. Ballou (2009) também apresenta razões para a redução dos estoques. Conforme o autor, uma quantidade diminuída de mercadorias exige menos espaço na armazenagem e, consequentemente, gastos inferiores com manuseio e pessoal. Além disso, a probabi- lidade de quebras e avarias é menor e caem os riscos de prejuízo frente às flutuações de preços e de perda de mercadorias por obsolescência ou fim de seu prazo de validade. Uma das causas do excesso de estoques está relacionada com a seleção de fornecedores com prazos de entrega extensos e com grandes variabilidades no prazo de entregas. Dessa forma, é necessário atacar essas causas para então viabilizar a redução dos estoques. Devemos ter sempre em mente que um dia a mais no prazo de entrega implica a necessidade de manter o volume equivalente a um dia de vendas a mais no tamanho do estoque. Dessa forma, cabe aos gestores das organizações estabelecer parcerias com os demais integrantes da cadeia de suprimentos, de forma a possibilitar maior confiabilidade no processo de fornecimento de materiais, o que, consequentemente, reduziria os estoques praticados. 1.2 O propósito da armazenagem de materiais As empresas usam os estoques para melhorar a coordenação entre a oferta de maté- rias-primas e componentes e a de bens acabados de forma a atender a suas estratégias de negócios. Os materiais devem ser armazenados e manuseados da forma mais econômica possível e, para tanto, o armazém deve ser capaz de reduzir os custos de transporte sem aumentar excessivamente o gasto com a armazenagem. Segundo o Material Handling Institute (s.d.), os princípios fundamentais necessários para esse propósito são: Gestão de estoques e ArmAzenAGem 22 Capacidade de planejar antecipadamente o espaço que será necessário para armazenar todos os itens nas quantidades definidas peloplanejamento da empresa. Flexibilidade para adaptar corredores, docas e demais equipamentos às necessidades futuras do negócio, pois o mercado muda constantemente. Competência para simplificar e padronizar os procedimentos para reduzir o tempo de operação e o custo de movimentação. Integração com as atividades de produção, compras e vendas, pois é preciso saber com antecedência quais serão as mercadorias demandadas e em que quantidade serão recebidas ou expedidas para poder planejar em tempo o espaço, os equipamentos e recursos humanos necessários. Para o bom funcionamento do armazém, os gerentes também devem entender a dinâmica da demanda por produtos da empresa no mercado e como ela afeta as deci- sões de distribuição e armazenagem de mercadorias. Por exemplo, se a gerência de vendas definir que as lojas devem dispor de certa quantidade do produto X e os lojistas perceberem que a demanda está maior que a prevista, os gestores do armazém deverão decidir rapidamente se é melhor aumentar a frequência das entregas desse item ou elevar a quantidade a ser entregue em cada visita do caminhão. 1.2.1 A dinâmica da demanda e a necessidade de estocagem Entender a demanda, suas particularidades e características é uma ação essencial para que as atividades de estocagem possam ocorrer da forma mais eficiente possível dentro das organizações. Conforme Holanda (2010), demanda é a quantidade de um bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir por um preço definido em um mercado. Segundo Kotler (2000), a demanda por produtos e serviços está diretamente associada à satisfação da necessidade e de desejos do cliente. Segundo o autor, as necessidades são razoavelmente constantes, entretanto os desejos estão associados a fatores como moda, status, preço e renda, que variam ao longo do tempo, levando a grandes variações na demanda. Na gestão da cadeia de suprimentos, a satisfação do cliente está associada a um nível de serviço que se traduz na disponibilidade da mercadoria desejada no local, instante e quantidade desejados. Gestão de estoques e ArmAzenAGem 23 A satisfação do cliente é um conceito complexo, que segundo Zeithaml, Berry e Parasuraman (1996) pode ser entendido por uma mistura entre o que o consumidor acredita que poderia e deveria ser entregue pela empresa e o que a organização pode prover sem que o preço da mer- cadoria se torne excessivo. Conforme Ballou (2009), no processo de tomada de decisão sobre a armaze- nagem ao longo dos canais de distribuição, é essencial que seja considerado o custo de cada alternativa estudada e o impacto sobre a rentabilidade do produto. Uma estra- tégia que pretenda colocar mercadorias à disposição do consumidor para atendimento imediato, por exemplo, pode representar uma tarefa de custo extremamente elevado e sujeita a grandes perdas. Desse modo, as decisões de armazenagem nos pontos de venda envolvem uma cuidadosa análise de aspectos como o nível de serviço desejado, a disponibilidade e o custo de espaço nesses locais, a facilidade para carga e descarga de mercadorias e a segurança em seu manuseio. 1.2.2 Estocagem nos canais de distribuição Kotler (2000) conceitua canais de distribuição como conjuntos de processos que servem para fazer com que as mercadorias cheguem às mãos do consumidor. Também podem ser definidos como o meio utilizado pelos vendedores para movimentar fisica- mente suas mercadorias. Dependendo do tipo de mercadoria e da estratégia de vendas, pode-se investir na montagem de uma rede própria de lojas de varejo, contar com parcerias com distribuidores e representantes ou montar um serviço de vendas via internet ou televendas. As necessidades de armazenagem estão associadas ao canal de distribuição selecio- nado pelo vendedor, sem esquecer a estratégia de nível de serviço ao cliente. Em alguns, como a venda por catálogo, mala direta, telemarke- ting e internet, o contato do vendedor com o consumidor se restringe ao ato da contratação da venda, pois a entrega é geralmente realizada por terceiros especializados. Nesses canais, uma parte das mercadorias é geralmente guardada no armazém de fábrica e outra, no do operador logístico contratado. © I. P ilo n // Sh ut te rs to ck Gestão de estoques e ArmAzenAGem 24 Em outros canais de distribuição, nos quais a venda e a entrega de mercadorias ocorrem diretamente entre o fabricante e o varejista ou indiretamente, contando com o auxílio de distribuidores e atacadistas, deve-se analisar a quantidade de mercadorias distribuídas entre os armazéns de fábrica, os centros de distribuição e os armazéns das lojas, descobrindo a relação entre custo e benefício. Um fabricante de fogões e geladeiras, por exemplo, escolhe atender a seus clientes utilizando apenas as vendas via internet e telemarketing. Nesse caso, os esto- ques deverão estar centralizados na fábrica ou em centros de distribuição na forma de armazéns terceirizados. Um concorrente, por sua vez, decide utilizar intermediários, então, teria que dispor de estoques não somente na fábrica e centros de distribuição, mas também em atacadistas, distribuidores e lojas. Ainda segundo Ballou (2009), a escolha dos canais de distribuição e dos locais de armazenagem das mercadorias em armazéns mais próximos do cliente ou das fábricas é, como veremos a seguir, uma decisão que envolve um trade-off entre satisfação do cliente e custos dos produtos. 1.2.3 Noções de trade-off entre custos e satisfação do cliente Segundo Slack, Chambers e Johnston (2002), trade-offs podem ser entendidos como uma incompatibilidade entre dois ou mais critérios ou níveis de desempenho de um produto. Os autores explicam que todos os produtos possuem níveis de desem- penho, como rapidez nas entregas, grau de personalização ou de padronização e de custo total de produto, e existem situações em que a melhoria de um deles implica impacto negativo em outro. Por exemplo, se incrementarmos a velocidade de entrega de determinado bem, possivelmente teremos uma elevação de custos devido à neces- sidade de aumentar estoques e melhorar os sistemas de entrega. A imagem a seguir representa essa situação utilizando a metáfora de uma gangorra: quando o nível de desempenho em velocidade levanta, o de desempenho em custo cai. Gestão de estoques e ArmAzenAGem 25 Representação dos trade-offs como uma gangorra Nível de desempenho em “velocidade” Nível de desempenho em “custo” Nível de desempenho em “velocidade” Nível de desempenho em “custo” Fonte: CORREA; CORREA, 2004, p. 67. (Adaptado). Ainda conforme Slack, Chambers e Johnston (2002), seria difícil para uma orga- nização obter elevado desempenho em cada um dos critérios de desempenho em todos os seus produtos ao mesmo tempo, o que gera uma necessidade de escolher em quais critérios competir, relacionada aos trade-offs da área de operações. Os critérios competitivos mais usuais citados pelos autores são: custo, qualidade, rapidez, confia- bilidade, estética e flexibilidade. Por exemplo, se a empresa optar, em suas escolhas estratégicas, por privilegiar a redução de custos, possivelmente a gestão dos estoques deverá estar associada à oferta de menor variedade de mercadorias em cada ponto de vendas ou a um maior nível de padronização de produtos e processos de forma que possa satisfazer o cliente ao ofertar preços mais convidativos. Assim, podemos entender que as decisões de estoques são associadas a várias ques- tões-chave e estas, por sua vez, são consequentes de decisões estratégicas relacionadas com a satisfação dos clientes. Gestão de estoques e ArmAzenAGem 26 1.2.4 Decisões na gestão de estoques A determinação das práticas, técnicas e processos utilizados na gestão dos esto- ques nas organizações são primordiais no alcance de sua eficácia operacional. Segundo Ballou (2009), as decisões mais relevantes na gestão de estoques estão associadas a três questões-chave: o objetivo do estoque, o custo de comprar ou requisitar a produção de bense o custo de manter produtos em estoque em cada local. Ching (2010) destaca que esse processo pode ser alterado periodicamente de acordo com as previsões da demanda dos clientes. Ele começa com a previsão de vendas (que é a base para a elaboração do programa de produção) e então é conver- tido em pedidos de abastecimento, como mostra a figura a seguir. Fluxo descontínuo de materiais Estoque de Matéria-prima Estoque produto acabado Fábrica envio Proc. PedidoPrevisão ClienteFornecedores Pedido envio despacho Fonte: CHING, 2010, p. 25. (Adaptado). O objetivo do estoque está associado ao prazo para sua obtenção e à incerteza quanto à demanda. Se fosse possível prever com exatidão a demanda futura e se os produtos necessários para satisfazê-la pudessem ser fornecidos imediatamente, não haveria razão para formar estoques. O prazo de obtenção de alguns materiais produ- zidos em locais distantes é longo e alguns produtos dependem do plantio e colheita que só ocorrem em certos períodos do ano, assim, estabelecer as quantidades a serem esto- cadas e em quais localizações é parte relevante do processo de gestão de estoques. O custo de comprar ou requisitar a produção de bens é o conjunto de operações necessárias para obter mercadorias e engloba custos administrativos decorrentes do processo de pedir propostas aos fornecedores, colocar pedidos de compras, gastos com fretes e com inspeções de recebimentos. Por fim, o custo de manutenção de esto- ques se equivale, no mínimo, à remuneração financeira que o valor investido em esto- ques teria se fosse aplicado no mercado financeiro. © D TC O M Gestão de estoques e ArmAzenAGem 27 1.3 Sistemas de armazenagem Sistemas de armazenagem podem ser definidos como a estrutura física utilizada para o armazenamento dos materiais, suas configurações de layout e os processos utilizados na movimentação e controle. Esses sistemas são compostos por: • equipamentos dedicados a organizar e movimentar de forma conveniente matérias-primas; • produtos em processo; • produtos acabados. Portanto, fazem parte do sistema de armazenagem: prateleiras, racks, estantes, empilhadeiras, paletes, tanques etc. Os sistemas podem ser operados manualmente ou por dispositivos automáticos e semiautomáticos e têm entre seus principais propósitos a maximização do uso do espaço tridimensional dedicado à armazenagem e o rápido fluxo de escoamento das mercadorias no recebimento e na entrega. Na seleção do melhor sistema de armazenagem para cada processo logístico, deve-se atentar para aspectos como: as características das mercadorias, como peso, dimensões, possibilidade de empilhamento etc, as condições físicas do armazém, como pé direito, qualidade e resistência mecânica do piso, e o custo do uso do espaço (aluguel, retorno do investimento etc). Também é necessário levar em conta o propó- sito da armazenagem nos aspectos de facilidade de separação das mercadorias e quantidades a armazenar e a separar em cada entrega. Com isso, vamos então entender a seguir os tipos de estoques, as funções da armazenagem e as possibilidades de uso de espaços de armazenagem públicos. 1.3.1 Tipologia dos estoques Segundo Viana (2008), há duas maneiras de classificar os estoques: quanto ao propósito da armazenagem ou segundo suas características físico-químicas. A clas- sificação que leva em conta o propósito ainda pode ser subdividida nos seguintes grupos: matérias-primas, componentes, estoques de produção ou processo e esto- ques de produtos acabados. Estoques de matérias-primas e de componentes têm o objetivo de manter o adequado funcionamento das atividades de produção e montagem. Estoques de mate- rial em processo são os materiais distribuídos ao longo do processo de produção, criados entre o recebimento das matérias-primas e sua entrega no estoque, já como produtos prontos para venda. Viana (2008) estabelece que, conforme seu propósito de armazenagem, os estoques podem ser dos seguintes tipos: Gestão de estoques e ArmAzenAGem 28 Quantidade de cada item de estoque necessária para atender à demanda durante o período entre abastecimentos. Estoque cíclico Quantidade de cada item dimensionada para atender às incer- tezas da demanda. Estoque de segurança Quantidade de cada item dimensionada para combater a variabilidade previsível da demanda. Estoque sazonal Quantidade de cada item que se encontra distribuída ao longo do canal de distribuição. Estoque em trânsito Materiais com validade vencida ou que deixaram por qualquer razão de serem demandados. Estoque obsoleto Podemos perceber que estoques cíclicos, de segurança, sazonal e em trânsito podem ser quantidades do mesmo item ou de itens diferentes. Ou seja, podem ser estoques do mesmo tipo de material, porém dimensionados com propósitos espe- cíficos. O estoque de segurança, por exemplo, garante o abastecimento da linha de produção entre as entregas. Assim, a diferença entre essas formas de estoque não está no tipo de produto que é estocado, mas na finalidade para o qual é realizado o estoque. Ainda segundo Viana (2008), com relação a suas características físico-químicas, os estoques podem ser: • granéis sólidos, líquidos ou gasosos; • mercadorias acondicionadas em embalagens de unitização, como caixas, gar- rafas, latas, materiais acondicionáveis em paletes etc; • materiais inertes, inflamáveis, corrosivos, tóxicos, explosivos etc. A classificação dos materiais permite escolher os equipamentos mais adequados para armazená-los e os procedimentos necessários para a proteção das mercadorias no armazém e a segurança no manuseio. A partir dessas formas de classificação dos estoques, podemos definir as funções do sistema de estocagem. Gestão de estoques e ArmAzenAGem 29 1.3.2 Funções do sistema de estocagem Conforme Ballou (2009), os sistemas de estocagem possuem duas funções básicas: manutenção do estoque e manuseio de materiais. Esta última engloba as operações de carregamento e descarregamento, movimentação da mercadoria dentro do espaço do armazém e separação de pedidos. Ainda de acordo com Ballou (2009), as operações de carregamento e descar- regamento se subdividem em operações de descarga, conferência, recebimento e marcação, contemplando as seguintes atividades: • desembarque da mercadoria do veículo transportador, com confronto físico/ documental das mercadorias desembarcadas, que consiste em comparar o que consta no pedido de compras e o que foi efetivamente recebido; • exame detalhado da documentação de compra, como pedido, nota fiscal, co- nhecimentos e romaneios de carga, documentos de trânsito aduaneiro, seguros e outros; • inspeções da qualidade das mercadorias conforme estipulado no pedido de compras ou seus anexos; • colocação ou verificação das etiquetas de identificação das mercadorias, como os códigos de barras, etiquetas de radiofrequência e etiquetas de classificação como carga perigosa, se for o caso. Já as atividades de movimentação da mercadoria no espaço do armazém contem- plam a separação da mercadoria em lotes e em locais adequados à movimentação e seu endereçamento. Além disso, é preciso prever procedimentos de segregação das mercadorias nas quais sejam apontadas divergências com o que foi pedido, evitando que elas se misturem com as aprovadas para uso. Endereçamento é a atividade na qual se determina o local exato onde cada lote de mercadoria será armazenado, por exemplo, na rua A, rack 3 e posição de prateleira 2. A estocagem propriamente dita compreende as operações de manutenção da integridade das mercadorias quanto a danos físicos causados por ação humana ou de fatores da natureza. São atividades como: a colocação das mercadorias em equipa- mentos de armazenagem, como prateleiras, racks, armários e gavetas, a limpeza e os cuidados com o ambiente físico, o registro das movimentações e controle dos saldos. Gestão de estoques e ArmAzenAGem 30 Na atividade de separação de pedidos para entrega (picking), separam-seas merca- dorias de forma a atender aos pedidos do cliente de forma rápida e cuidadosa para asse- gurar a qualidade das mercadorias a serem entregues. Além disso, preparam-se todas as documentações de vendas, transporte e contabilização das mercadorias vendidas. 1.3.3 Armazéns gerais Armazéns gerais são empresas destinadas à recepção, manutenção e guarda de mercadorias ou bens de terceiros, podendo ser públicas ou privadas e operando mediante o pagamento de uma tarifa predeterminada ou com base em um percentual do valor referente ao custo da mercadoria que permanecerá estocada, como compensação pelo serviço prestado. Normalmente, de acordo com Ballou (2009), as empresas que optam por utilizar os serviços de armazéns gerais se baseiam nos seguintes critérios: • terceirização de toda a atividade de armazenagem e distribuição; • adequação de espaço físico em determinados períodos de aumentos de vendas ou produção; • necessidade de início imediato das operações; • apuração de impostos pelo controle centralizado em seus estabelecimentos fa- bris e/ou comerciais; • compatibilidade de seu sistema de controle e transmissão de informações com o sistema do armazém geral. É importante ressaltar que um armazém geral é diferente de um depósito fechado, que geralmente é uma edificação própria ou terceirizada utilizado por uma empresa apenas para o armazenamento de suas próprias mercadorias. Assim, para ficar claro: • Armazenagem geral: guarda de mercadorias pertencentes a terceiros. Ou seja, guarda de mercadorias que não são do proprietário do armazém. • Depósito fechado: guarda de mercadorias pertencentes ao próprio proprietário do depósito. O armazém geral possui em seu objetivo social a exploração de atividade econô- mica de guarda e conservação de mercadorias pertencentes a terceiros, dessa forma, materiais de várias organizações ficam estocados no mesmo espaço, reduzindo os custos de armazenagem. © A le ph S tu di o // Sh ut te rs to ck Gestão de estoques e ArmAzenAGem 31 1.3.4 Documentação e considerações legais sobre armazéns Com o aperfeiçoamento das operações de logística e gestão da cadeia de supri- mentos, surgiram e prosperaram empresas especializadas na prestação de variados serviços logísticos, e o uso de armazéns gerais e outros tipos de operadores logísticos implica um aumento na documentação de escrituração fiscal e contábil dessas merca- dorias, pois elas permanecerão por algum tempo em poder de terceiros. Desse modo, os contratos de operação logística precisam ser bem elaborados, com clara descrição dos serviços que serão prestados, quais serão as responsabilidades de cada parte e os indicadores de desempenho aplicáveis em cada serviço. A gestão dos armazéns gerais é responsável pela emissão de títulos especiais que representam as mercadorias que estão sob sua guarda, ou seja, documentos que garantam aos proprietários das mercadorias seu direito de posse e a possibilidade de negociação. Um deles é o conhecimento de depósito, que representa a posse da merca- doria e que circula livremente por endosso, transferindo assim sua propriedade quando for conveniente a seus donos. Outro título é conhecido como warrant (garantia, em português), que permite penhorar a mercadoria para garantia de empréstimos. O papel de guarda de mercadorias prestado por essas empresas é dos mais rele- vantes, pois elas atuam conforme uma legislação capaz de oferecer segurança nas operações de logística ao serem garantidoras perante terceiros da quantidade e da qualidade da mercadoria que consta nesses documentos quando houver a transmissão do direito de posse dos materiais estocados, via endosso no conhecimento de depó- sito. É a empresa responsável pelo armazém que cumprirá as garantias. O Decreto n. 1.102/ 1903 estabelece os procedimentos comerciais prestados nos armazéns gerais e determina seus direitos e obrigações, e é de responsabilidade da Junta Comercial a fiscalização de sua implementação e funcionamento. Além das normas contidas na referida lei, os armazéns gerais também têm que seguir a regula- mentação prevista nos regulamentos de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de todos os estados brasileiros. 1.4 Alternativas de estocagem Ao selecionar as melhores alternativas para a estocagem de mercadorias, devem ser consideradas as características físicas das mercadorias e das embalagens de trans- porte e os propósitos da armazenagem. Assim, pode ser interessante para uma orga- nização investir em armazéns de múltiplos propósitos para seu uso exclusivo ou utilizar armazéns especializados. Gestão de estoques e ArmAzenAGem 32 Existem vários tipos de armazéns especializados. A seguir, estudaremos os arma- zéns para granéis, para mercadorias em geral, aqueles com temperatura e ambiente controlados, os miniarmazéns, armazéns alugados e armazenagem temporária. 1.4.1 Armazéns para granéis Empresas do agronegócio, companhias químicas e transportadores especiali- zados em exportação e importação de matérias-primas precisam movimentar grandes volumes de mercadorias sem embalagens, cujo valor por tonelada é geralmente muito baixo, exigindo operações automatizadas ao extremo para reduzir custos. Nesses casos, são utilizados os armazéns especializados em granéis. Nesses locais, a armazenagem das merca- dorias pode ser estática, seja por empilhamento ou acondicionamento em contêineres, ou dinâ- mica, utilizando dispositivos como silos, tremo- nhas, tanques e vasos de pressão nos quais o carregamento do armazém é feito pela parte superior e o esvaziamento, pela porção inferior, às vezes simultaneamente. O controle das mercadorias nesse tipo de armazenamento é executado por pesagem na entrada e na saída, verificação do volume por intermédio de medidores de vazão e pela conferência das notas fiscais. 1.4.2 Armazéns para mercadorias em geral Os armazéns dedicados à guarda de mercadorias em geral são o tipo mais comum, caracterizados pela presença de prateleiras, racks, porta-paletes e equipa- mentos para a movimentação de embalagens dos tipos caixa, caixote, fardo e tambor. Esses armazéns possibilitam o armazenamento de materiais com grande diver- sidade de tipos e formatos e tamanhos de embalagens, o que dificulta as possibilidades de automação, logo, é necessário o uso intensivo de mão de obra, que é diretamente proporcional à variedade dos produtos armazenados. Também são necessários processos complexos para a realização de inventários e de controle de movimentação interna de mercadorias e docas para embarque e desembarque de transportes rodoviários. © F ot of er m er // S hu tt er st oc k Gestão de estoques e ArmAzenAGem 33 1.4.3 Armazéns com temperatura e ambientes controlados A comercialização de produtos alimentí- cios ou farmacológicos exige o uso de arma- zéns com meios para controlar a temperatura ou condições ambientais como umidade ou quantidade de partículas. Essas instalações constituem um tipo especial de armazém para produtos em geral, uma vez que geralmente também movimentam mercadorias com formatos e tipos bastante variados, mas são mais complexas, já que devem dispor não somente dos equipamentos para refrigeração, mas também de áreas segregadas e procedimentos para: • armazenar produtos que são controlados pelo governo, como as carnes e pei- xes in natura e vacinas; cujos parâmetros para armazenagem estão dispostos nas portarias 1428/1993 e 326/1997 e sujeitos a fiscalização pelo Ministério da Saúde e agências municipais de vigilância sanitária; • área segregada para abrigar produtos oriundos de devoluções para que sejam inspecionados e então destinados ao estoque normal ou para destruição; • sistemas de alarmes, monitoramento contínuo e registro de temperatura e condições do ambiente; • pessoal qualificado para operar os sistemas de controle e manusear os produtos; • sistemas de controle de estoque por número de lote e data de validade, códi-gos de barras, etiquetas de rádio frequência etc, adaptados às necessidades de produtos diferentes: matérias-primas, produtos semiacabados, produtos aca- bados e produtos de alto valor; • fracionamento de pedidos em embalagens especiais, montagem de embala- gem para exportação, embalagens para transporte de amostras biológicas e caixas térmicas apropriadas para o transporte de produtos perecíveis. Armazéns com temperatura e ambientes controlados devem possuir sistemas que mantenham a temperatura constante, pois variações influenciam a validade dos produtos armazenados. Dessa forma, são adotados nesses sistemas geradores de energia, medidores de temperatura, lâmpadas especiais, climatizadores, entre outros meios de garantir o ambiente apropriado para o produto. © Z ur ije ta // S hu tt er st oc k Gestão de estoques e ArmAzenAGem 34 1.4.4 Miniarmazéns, armazéns alugados e armazenagem temporária Alugar um galpão para uso como armazém é uma decisão frequente em projetos de redes logísticas por várias razões. A primeira está relacionada à disponibilidade de recursos financeiros para investir na construção de um armazém, pois se pode preferir aplicar esse dinheiro em outras atividades mais rentáveis, como estoques. Outro motivo diz respeito à incerteza acerca dos volumes envolvidos na comercialização de bens em curto e médio prazo, pois o retorno do capital investido na construção geral- mente envolve prazos superiores a cinco anos. Um tipo de armazenagem que tem evoluído significativamente no mercado é o dos miniarmazéns ou self storage (armazenagem individual, em português). É um negócio que explora comercialmente pequenos armazéns, com áreas que variam de 1 a 100 m2, que são alugados ou arrendados por pequenas empresas ou pessoas físicas. Também é um serviço adequado para pessoas ou empresas que precisam de um espaço extra para uso temporário onde se pode guardar roupas de verão/inverno, aces- sórios, ferramentas, mercadorias compradas como reforço do estoque para ocasiões de venda mais forte, arquivos, mobiliário etc. Outra possibilidade é a armazenagem em trânsito, na qual podemos destacar o merge-in-transit, modelo de armazenagem no qual ocorre a coleta das mercado- rias de vários fornecedores, encaminhadas para pontos de consolidação, que podem ser o próprio caminhão em alguns casos, e depois, distribuídas ao consumidor final. Esse tipo de modelo é adotado por empresas de telecomunicações e indústrias de eletrônicos. Um exemplo é o computador, o monitor, teclado e mouse podem advir de origens distintas. Um exemplo prático é o que ocorre com as montadoras de veículos, que solicitam os itens necessários para a produção de cada lote aos fornecedores após a ocorrência do pedido do cliente. Dessa forma, os fornecedores devem estar aptos a fornecer esses itens de forma ágil, por ocasião da solicitação de fornecimento. Além disso, como o modelo dos itens em cada pedido varia, precisam manter estoques de materiais que compõem os produtos finais em centros de distribuição intermediá- rios, que podem ser rapidamente montados na configuração especificada no pedido e entregues ao solicitante. As organizações utilizam seus estoques com a finalidade de garantir sua sobrevi- vência, utilizando procedimentos complexos e decisões estratégicas. É por meio dos processos de armazenagem desenvolvidos em suas práticas administrativas que as empresas conseguem obter vantagens competitivas que possibilitam estabilidade e crescimento, e um tratamento inadequado dos processos de armazenagem pode ser determinante para que elas não consigam atingir seus objetivos e metas, podendo comprometer até mesmo a continuidade de suas atividades. Gestão de estoques e ArmAzenAGem 35 Referências BALLOU, R. 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Nesse sentido, conforme Martins e Alt (2011), gerir corretamente os estoques possibilita que as empresas estabeleçam ações para verificar se eles estão sendo corre- tamente utilizados, com localização adequada e manuseados e controlados eficiente- mente, evitando acúmulos desnecessários ou a falta de produtos para o consumidor. Determinar corretamente quanto e quando pedir, conciliando a gestão de oferta e demanda com o uso de técnicas de controle e gestão, possibilita que as organiza- ções determinem com segurança seus níveis de estoques, garantindo o atendimento às demandas dos clientes internos e externos sem custos excessivos e desnecessários. 2.1 Quanto e quando pedir Quando organizamos uma recepção para um grupo de pessoas, partimos do princípio de que é preciso definir a quantidade de participantes antes de prever a quantidade neces- sária de alimentos para atender a todos. Para as empresas, entretanto, a demanda não pode ser prevista com exatidão, portanto quanto e quando pedir são questionamentos que elas sempre devem fazer, buscando evitar problemas futuros ao realizar seu planejamento. Esses questionamentos devem ser feitos levando em conta alterações relativas à demanda, ao não cumprimento dos prazos por parte dos fornecedores, aos gargalos produtivos e aos atrasos ocorridos na distribuição. Essas desconformidades podem ser causadas por sazonalidade, mudanças climáticas, aumento de poder aquisitivo dos consu- midores ou novas tendências de mercado. Com base nesses aspectos, segundo Moreira (2004), a gestão de estoque tem que ser visualizadacom um planejamento estratégico que busque determinar valores que podem ser estocados no decorrer do tempo, estabe- lecer como ocorrem as entradas e saídas dos materiais e descobrir seus pontos de pedido. © B al on ci ci // S hu tt er st oc k Gestão de estoques e ArmAzenAGem 38 O grande desafio que as organizações enfrentam é conseguir realizar um balan- ceamento de estoque eficiente, em termos de produção e logística, que lhes possibilite determinar de forma eficaz a quantidade necessária de itens que precisam perma- necer em estoque para atender à demanda da produção e quando iniciar o processo de reabastecimento ou ressuprimento para atender à demanda do cliente. De acordo com Ching (2010), nesse cenário, a gestão de estoque objetiva garantir a disponibilidade de produtos com o melhor uso ótimo do investimento em estoques. Veremos nos tópicos seguintes como as ações relativas ao processo de gestão de estoques nas empresas podem auxiliar os gestores a determinarem quais as quantidades que devem ser adquiridas e em quais intervalos de tempo essas compras ocorrem. 2.1.1 A importância do tamanho do lote A informação sobre o tamanho do lote a ser trabalhado permite às organiza- ções definirem sistematicamente os recursos necessários para a operacionalização do processo logístico ou de produção sem impactos em seu fluxo do ciclo de pedido e na qualidade dos produtos ou serviços ofertados. Para Bertaglia (2006), os gestores devem compreender os objetivos estratégicos do gerenciamento dos estoques para definir corretamente as metas, funções e tipos de estoque. Portanto, é necessário dimensionar corretamente os níveis de estoques para atender às necessidades operacionais da empresa sem comprometer demasiadamente seus recursos financeiros para alcançar os objetivos traçados no planejamento estra- tégico, e a primeira etapa desse processo é a determinação do tamanho do lote de compra, que pode ser realizado em três etapas: • determinar o lote econômico conforme o menor custo unitário de compra. Para isso, é necessário identificar o custo total; • caso o preço unitário de compra for adequado para o lote calculado, o lote eco- nômico é a melhor solução para o custo total; • no caso contrário, devem ser calculados os lotes econômicos conforme cada um dos preços unitários e, assim, fazer a análise do custo total para cada um dos resultados. Determinar o tamanho do lote de compras passa pela análise de dois fatores. O primeiro é o processo de revisão periódica do tamanho do lote. O tamanho do lote de compra é estabelecido após a análise de características e aspectos relativos ao processo produtivo de cada organização, tais como: capacidade de armazenagem e processamento, condições de movimentação dos materiais e impactos financeiros decorrentes de sua manutenção. Esse processo foi criado com a finalidade de propor- cionar a correta utilização dos recursos na aquisição e manutenção dos estoques, e Gestão de estoques e ArmAzenAGem 39 consiste em uma avaliação periódica dos cenários econômicos nos quais a empresa está inserida, buscando determinar suas políticas de ressuprimento da forma mais eficiente possível por meio do acompanhamento constante da demanda (inclusive nos pontos de venda), com o objetivo de determinar uma agenda de produção coerente com as necessidades do mercado. O segundo fator que deve ser levado em conta ao determinar o tamanho do pedido é o alto custo de processamento de um pedido. Alguns materiais apre- sentam custo elevado de processamento de pedido, o que leva fornecedores a influen- ciar seus clientes a comprar lotes maiores e reduzir o número de compras realizadas no período. Como a composição do custo engloba principalmente o custo de transporte e o desconto devido ao volume negociado, um cliente que adquire uma carga completa pode negociar um abatimento maior e valores inferiores de frete. Além disso, grandes lotes diminuem a quantidade de pedidos que precisam ser realizados ao longo de um período, reduzindo custo de pedidos. No entanto, é necessário considerar que geral- mente grandes lotes exigem maiores estoques. Buscar alternativas que permitam adequar o tamanho dos lotes de compra com redução do custo de pedido é tarefa principal do gestor de compras. Nesse sentido, determinar o tamanho correto desse lote se resume em identificar qual a quanti- dade será adquirida em cada compra, levando em conta a coordenação entre oferta e demanda e a coordenação da produção, que veremos a seguir. 2.1.2 A coordenação entre oferta e demanda Oferta é a quantidade de um bem ou a possibilidade de contratação de um serviço disponível no mercado, enquanto procura é o interesse em relação a esse mesmo bem ou serviço. Segundo Vasconcellos (2002), a oferta é definida como a quantidade de determinado bem ou serviço que os produtores e vendedores demons- tram, isto é, representa o planejamento ou a intenção de consumo futura, e não neces- sariamente a venda efetiva. Enquanto a oferta é influenciada por fatores como preço, quantidade disponível, tecnologia e capacidade produtiva, a procura é motivada por tendências de consumo, compatibilidade entre preço e qualidade esperada, necessidade dos consumidores e facilidade de aquisição do produto. Se a oferta de um produto exceder sua demanda, seu preço tende a reduzir; por outro lado, se a demanda for maior que a oferta, a tendência é um aumento no preço. Essa é a lei da oferta e da procura, formulada pelo filosofo escocês Adam Smith. Gestão de estoques e ArmAzenAGem 40 Adam Smith (1723- 1790) foi um dos mais importantes teóricos do liberalismo econômico no século XVIII e formulou a “Teoria da mão invisível”, segundo a qual indivíduos, buscando seu próprio interesse, podem ajudar outros mesmo sem a intenção de que isso acontecesse (VASCONCELLOS, 2002). Conforme Moreira (2009), o ato de planejar é uma atividade comum a qualquer tipo de empresa e a previsão de demanda é a base para elaboração desse planeja- mento. Prever corretamente a relação entre a oferta e a procura (demanda) é funda- mental para que as empresas possam determinar corretamente seus níveis de estoques e sua política de itens armazenados, pois qualquer previsão incorreta acarre- tará a elevação dos custos relativos ao ciclo de processo dos pedidos e, consequente- mente, refletirá em seus resultados financeiros. 2.1.3 A coordenação da produção A atividade de coordenação da produção monitora os estoques e sua relação com os processos produtivos, cuidando para que as operações não sofram interrupções por falta de estoque de matérias-primas ou componentes do processo de manufatura, ocasionadas por erros no planejamento da demanda de produção. A produção está diretamente ligada à oferta e à previsão da demanda, pois, se não houver a intenção de oferecer um produto ou o interesse de alguém em consumir, não existirá a necessidade de produzir. Nesse sentido, os estoques regulam o fluxo do processo produtivo e, se fosse possível sincroniza a oferta e a demanda perfeitamente, eles não precisariam ser mantidos. Entretanto, existem diferenças entre a velocidade com que os materiais são recebidos e o tempo que são consumidos (saídas), devido a uma série de fatores e incertezas presentes no processo. Com relação ao forneci- mento, podemos destacar as seguintes incertezas em relação à velocidade de recebi- mento dos materiais (entradas): • baixo índice de confiabilidade dos fornecedores; • problemas gerados por entregas de materiais com qualidade abaixo da estipulada; • gargalos produtivos gerados devido a atrasos ocorridos por quebra de máquinas; • controle ineficiente da produção. Gestão de estoques e ArmAzenAGem 41 Entre as incertezas relativas à demanda (saídas), destacam-se: • imprevisibilidade da demanda; • erros de dimensionamento dos estoques; • alterações no plano de produção; • coordenação ineficiente do processo entre os setores diretamente envolvidos. Coordenar todos as
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