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Leitura e produção de textos de comunicação da ciência Cristina Pimentel Damim (org.) Isa Mara da Rosa Alves Janaína Lemos Becker Juliana Alles de Camargo de Souza Maria Eduarda Giering (org.) Maria Helena Albé Silvana Kissmann Vera Helena Dentee de Mello EDITORA UNISINOS 2013 SUMÁRIO CAPÍTULO 1 – APRESENTAÇÃO 1.1 Algumas noções importantes CAPÍTULO 2 – GÊNEROS ACADÊMICOS E DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA CAPÍTULO 3 – O ARTIGO ACADÊMICO-CIENTÍFICO: CONFIGURAÇÃO GLOBAL CAPÍTULO 4 – O RESUMO ACADÊMICO-CIENTÍFICO: CARACTERÍSTICAS 4.1 O que é? 4.2 Quem escreve para quem? 4.3 Onde é veiculado? 4.4 Qual é a sua finalidade? 4.5 O que deve ser abordado? 4.6 Análise de um resumo de artigo acadêmico a partir das unidades temáticas propostas por Swales (1990) 4.7 Palavras-chave 4.8 Algumas questões linguístico-discursivas em jogo no resumo acadêmico- científico 4.9 Etapas para a elaboração do resumo de um artigo acadêmico-científico CAPÍTULO 5 – A RESENHA ACADÊMICA CAPÍTULO 6 – NOS PASSOS DA RESENHA CAPÍTULO 7 – A PRODUÇÃO DE RESUMOS E O PROCESSO DE SUMARIZAÇÃO CAPÍTULO 8 – ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE RESENHAS ACADÊMICAS 8.1 Etapa 1 – Leitura atenta da obra a ser resenhada 8.2 Etapa 2 – Redação da resenha CAPÍTULO 9 – A DIVULGAÇÃO DA CIÊNCIA CAPÍTULO 10 – QUESTÕES LINGUÍSTICO-DISCURSIVAS 10.1 Coesão textual 10.2 Uso de voz passiva como recurso de impessoalização 10.3 Citação de discurso alheio 10.4 Paráfrase 10.5 Plágio ANEXOS Anexo 1 Anexo 2 Anexo 3 SOBRE OS AUTORES CAPÍTULO 1 APRESENTAÇÃO Neste capítulo, apresentamos os temas principais do livro, teorias que o embasam e noções principais. A comunicação encontra-se no coração da ciência, sendo ela tão vital quanto a própria pesquisa. A comunicação da ciência pode se fazer em vários contextos, tanto no acadêmico-científico quanto no midiático, entre outros, com diferentes objetivos. Cada contexto implica diferenças, exige atenção às convenções, regras e normas que regem os respectivos domínios, ou seja, impõe que se conheça o contrato de comunicação que rege as trocas de linguagem em cada situação. Contrato de comunicação? Utilizamos a metáfora do contrato (o contrato social é o documento por meio do qual se estabelecem direitos e obrigações recíprocos aos seus signatários) para pensar as relações que se instituem entre os interlocutores que interagem por meio da linguagem em determinado contexto. Conforme o domínio de comunicação (jurídico, midiático, religioso, propagandístico, acadêmico etc.), a identidade dos parceiros, o tema em questão, a finalidade e o meio utilizado para comunicar, mudam as formas de dizer (o como dizer). Dirigir-se a crianças ou a adultos implica estratégias comunicativas diferentes. Para sensibilizar crianças, por exemplo, precisamos, muitas vezes, pensar formas mais criativas de organizar nosso texto (quem sabe optar por uma narrativa ou utilizar personagens animais) a fim de sermos aceitos e compreendidos. A finalidade da comunicação também rege as formas de dizer. Por exemplo, no domínio midiático, o informar é concretizado por gêneros como a notícia e a reportagem; já o opinar se revela em gêneros como o editorial ou o artigo de opinião. Se o objetivo ainda é emocionar nosso interlocutor, há necessidade de planejar formas de alcançar isso. O meio em que se dá a comunicação também exerce influência sobre as formas: se estamos frente a frente com nosso interlocutor, organizamos nosso texto diferentemente de se estivéssemos compondo um artigo para ser publicado numa revista. Os gêneros de discurso que circulam nos diferentes domínios de comunicação delimitam igualmente as formas e os modos de dizer: por exemplo, no domínio acadêmico, há uma organização pré-estabelecida para a redação de um resumo, assim como no domínio jurídico, há regras e normas para escrever uma petição. Tudo é uma questão de contrato, ou melhor, de levar em consideração as normas e regras que se estabelecem entre os usuários da língua que estão se comunicando em diferentes contextos. Esta é uma questão crucial para quem deseja se fazer compreender pelo outro e quer compreender os discursos que circulam nos diferentes domínios: saber identificar as normas e regras em jogo nos diferentes contratos de comunicação. É preciso levar em consideração igualmente que existem situações em que o contrato de comunicação é mais rígido, deixando pouca liberdade para o usuário, e outras situações em que há maior liberdade, o que permite ao produtor do texto maior criatividade. Por exemplo, a redação de um artigo acadêmico é mais regrada do que a composição de uma reportagem de divulgação científica, na qual o produtor textual é mais livre para escolher as formas de dizer. Neste livro, tratamos de alguns gêneros do domínio acadêmico-científico, especificamente, o artigo, o resumo e a resenha acadêmica, que requerem o conhecimento dos contratos que circulam no domínio da academia. Da mesma forma, vamos estudar a divulgação científica midiática, concentrando-nos na notícia que veicula informação sobre resultados de pesquisas ou descobertas acadêmico- científicas. 1.1 Algumas noções importantes Estudamos os gêneros discursivos considerando as situações de comunicação em que são produzidos e sua organização discursiva e linguística conforme Charaudeau (2009). 1.1.1 A situação de comunicação – Qual o contrato de comunicação? Olhar para os dados da situação de comunicação na qual se dá o intercâmbio de linguagem é fundamental. Como afirma Charaudeau (2009, p. 1), “não existe ato de linguagem fora de contexto”. Tanto quem produz o texto quanto quem o lê ou ouve estão inseridos em contextos de comunicação e têm expectativas sobre como se comportar nesses contextos. Para que a comunicação tenha êxito, ambos devem partilhar de conhecimentos sobre o que se espera sejam os comportamentos naquela situação específica. Por exemplo, se o leitor de um artigo científico de determinada área não conhece as normas do contrato de comunicação do discurso acadêmico-científico publicado naquela área de conhecimento, terá dificuldades de compreender os raciocínios desenvolvidos pelo autor do texto, assim como as escolhas que o produtor fez para divulgação de sua pesquisa no artigo, que se organiza em função desse contrato. É preciso saber, por exemplo, que, em vista de os artigos acadêmicos serem dirigidos aos pares, ou seja, outros especialistas, provavelmente haverá abundância de vocabulário técnico, além da não explicitação de conceitos teóricos, pois é esperado do leitor especializado um conhecimento técnico mais aprofundado. Pressupõe-se de um leitor de artigo acadêmico certo saber técnico não apenas em relação à área de conhecimento, mas também quanto às formas de comunicação no contexto acadêmico. Para identificar a situação de comunicação, deve-se atentar para as seguintes condições: Identidade dos que se comunicam, que é caracterizada por meio da pergunta “Quem troca com quem?” ou “Quem se dirige a quem?”. No caso do discurso científico, é pressuposto que o cientista seja o produtor do texto, que será lido por outro membro da comunidade acadêmica, seja outro cientista ou um estudante. No discurso midiático de divulgação científica, por outro lado, quem redige, em geral, são jornalistas, mas também cientistas podem escrever em jornais e revistas que divulgam ciência para o público não especializado. Finalidade da troca: identifica-se essa condição por meio da seguinte pergunta: “Estamos aqui para dizer o quê?”. À finalidade da troca corresponde um gênero de discurso. Por exemplo, para divulgar uma pesquisa experimental num periódico científico, o gênero de discurso adequado é o artigo acadêmico, cuja organização prevê as etapas da investigação científica. Na mídia, o gênero discursivo notícia é utilizado para informar o leitor sobre resultados de pesquisas e descobertas da ciência. Tema da troca, que leva à pergunta “De que se trata?”. No artigo acadêmico, devido às expectativas que o contrato de comunicaçãogera nos interlocutores de determinada comunidade acadêmica, espera-se que o produtor domine o tema em questão, cujo tratamento deve ser julgado relevante para o avanço dos conhecimentos na área. No discurso midiático, quando o jornalista científico informa os temas da ciência, ele os apresenta valendo-se de frequentes citações diretas e indiretas da voz do cientista ou da academia, a fim de garantir credibilidade à notícia. Condições materiais de comunicação, que remete à pergunta “Em que ambiente se inscreve o ato de comunicação, que lugares físicos são ocupados pelos parceiros, que canal de comunicação é utilizado?” (CHARAUDEAU, 2006, p. 70). No caso do artigo acadêmico, ele é publicado em revistas científicas impressas ou digitais dirigidas aos pares. As normas de publicação podem variar conforme a área de conhecimento, mas a organização global do artigo segue regras comuns (conforme Feltrim, Aluísio e Nunes, 2000). As notícias de divulgação científica, por sua vez, são veiculadas em meio impresso ou eletrônico, o que impõe diferenças na organização dos textos. Nas notícias publicadas em formato digital, publicadas em sites ou blogues, por exemplo, é comum o produtor agregar outros conjuntos de informação na forma de blocos de textos, infográficos, imagens ou sons, cujo acesso se dá por hiperlinks. Essas quatro indicações dizem respeito às condições da situação de comunicação que restringem as ações do produtor do texto, isto é, que exercem influência sobre como se organiza seu texto. 1.1.2 A organização discursiva – Como se organiza o discurso? Diante das restrições da situação de comunicação, o produtor do artigo acadêmico se pergunta “Como dizer?”. Frente às instruções contidas nas restrições situacionais, trata-se de saber como devem se comportar os interlocutores, quais gêneros de discurso são pertinentes, que vocabulário empregar etc. No discurso acadêmico, o produtor do artigo é visto como aquele que exerce um papel de possuidor de um saber e que se dirige à comunidade acadêmica para divulgar esse saber. Impõe-se, assim, ao produtor do artigo acadêmico, que ele justifique por que tomou a palavra. Ele deve se apresentar como alguém que tem algo relevante a dizer, conquistando seu direito de poder se comunicar na comunidade acadêmica. Além disso, deve estabelecer relações de força e de aliança, de exclusão e de inclusão. No artigo acadêmico, isso significa não só propor uma questão científica relevante na área de conhecimento em questão, como posicionar-se sustentado por uma teoria explicativa adequada para o tratamento do problema. Além disso, o produtor deve levar em conta a possibilidade de existirem diversos posicionamentos teóricos na área, diferentes daquele assumido na pesquisa, o que o conduz a responder por antecipação objeções que lhe poderiam ser feitas. Há necessidade, dessa forma, de realizar citações, trazendo a palavra de outros (teorias) para reforçar a posição teórica assumida ou para se opor a uma posição diferente. No discurso de midiatização da ciência, o produtor textual, por se dirigir a um público não especializado e não necessariamente interessado em temas científicos, precisa acionar estratégias diferentes, que captem o leitor para a leitura, ao mesmo tempo em que informem, com credibilidade, sobre as novidades da ciência. 1.1.3 Organização linguística – Qual a maneira de dizer? O planejamento discursivo da comunicação tem sua contrapartida nas escolhas linguísticas e na configuração do texto: “Qual a maneira de dizer?”. Essa indagação leva o produtor à escolha das formas para concretizar seu projeto de comunicação inserido num determinado contexto. No artigo científico, se a organização geral é dada – conforme Feltrim, Aluísio e Nunes (2000) –, as formas de dizer, embora sofram influência do contrato acadêmico, dependem das escolhas do produtor. É ele quem planeja o texto, gerindo-o passo a passo. É o produtor, por exemplo, que manipulará o uso dos mecanismos de coesão (conectores, emprego de pronomes etc.), retomando informações já ditas e avançando com informações novas. É ele que decidirá se explicitará conteúdos ou se fará com que o leitor os infira a partir dos conteúdos explicitados; se irá se valer de gráficos, ilustrações, diagramas, infográficos; se utilizará frases mais curtas ou mais complexas etc. Nesse nível também se revela a competência do produtor no manejo do sistema da língua, incluindo, entre outras habilidades, as de empregar as vozes verbais (ativa e passiva), a de transformar orações desenvolvidas em reduzidas e vice-versa, a de utilizar conectores, adjetivos, pronomes, a de fazer escolhas vocabulares etc. Em resumo, atentar para a situação, para as escolhas discursivas e textuais é inerente a toda comunicação. As restrições situacionais agem sobre as escolhas discursivas, que exigem uma contrapartida linguística. 1.1.4 Noção de gênero de discurso Consideramos que os gêneros de discursos são situacionais, isto é, eles se organizam tendo em vista as condições de produção da situação. As características discursivas e linguísticas de uma notícia de divulgação científica, de uma resenha ou de um resumo acadêmico, por exemplo, são determinadas pelas restrições do contrato de comunicação. REFERÊNCIAS CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2009. ______. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2006. FELTRIM, V. D.; ALUÍSIO, S. M.; NUNES, M. G. V. Uma revisão bibliográfica sobre a estruturação de textos científicos em Português. Série de Relatórios do NILC. NILC-TR-00-11, out. 2000. Capítulo elaborado por Maria Eduarda Giering. CAPÍTULO 2 GÊNEROS ACADÊMICOS E DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Apresentamos os gêneros discursivos acadêmicos, a notícia de divulgação científica e o conceito de comunidade acadêmica. Os gêneros acadêmicos são produzidos e lidos pela comunidade acadêmica. Conforme Swales (1990), uma comunidade acadêmica é formada por membros – pesquisadores, professores, estudantes – que trabalham usual ou profissionalmente com determinados gêneros (o artigo científico, o resumo, o relatório, por exemplo) e conhecem as convenções desses gêneros que circulam na comunidade. É por meio deles que se intercomunicam, divulgando suas pesquisas e estudos. Uma das condições essenciais para fazer parte da comunidade acadêmica é dominar razoavelmente os gêneros de discurso que ela detém e ser capaz de manejar as convenções comunicativas e os usos da linguagem dessa comunidade. As diversas áreas de conhecimento – Direito, Administração, Economia, Linguística, Medicina, Engenharia, Educação etc. – formam comunidades acadêmicas cujos membros partilham um tópico de estudo, desenvolvem pesquisas e dominam um campo de conhecimento específico. Além disso, utilizam um vocabulário especializado e possuem um conjunto de normas e convenções – nem sempre explicitadas – que os membros devem conhecer. Swales (2009) salienta que os membros novos que se inserem nas comunidades discursivas precisam receber instruções sobre o funcionamento dessas comunidades, tanto no que se refere às práticas discursivas quanto aos hábitos dos seus componentes – e até de seus orientadores – a fim de que possam “ler nas entrelinhas” as expectativas de seus interlocutores. Isso significa que a inserção nas comunidades acadêmicas exige o desenvolvimento de uma série de competências, entre as quais a atenção às situações de comunicação nas quais o conhecimento científico é produzido. Nos capítulos que seguem, estudaremos gêneros de discurso que circulam na academia: o artigo, o resumo e a resenha acadêmica, cada qual envolvendo uma prática discursiva. Os artigos acadêmicos são formas de documentação dos resultados de pesquisas realizadas pelos membros da comunidade acadêmica, que os publicam em periódicos dirigidos aos pares. Conforme Macedo e Pagano (2011), os artigos acadêmicos podem ser classificados em artigos teóricos e artigos experimentais. Nesta obra, estudaremos os experimentais e os teóricos. Estes últimos tratam de assuntose/ou pesquisas que não envolvem a coleta de dados à maneira da pesquisa experimental; aqueles baseiam- se em estudos sobre dados coletados. O resumo acadêmico, por sua vez, circula na comunidade acadêmica como parte integrante do artigo acadêmico, ou como texto independente que apresenta dados essenciais de uma pesquisa a ser apresentada aos pares em eventos científicos. Já a resenha acadêmica, publicada em periódicos que circulam no âmbito da academia, apresenta para a comunidade acadêmica, sob uma perspectiva crítica, o conteúdo e o valor de uma obra (geralmente livro ou artigo acadêmico) que acaba de ser publicada. Externa ao domínio acadêmico, mas vinculada a ele, estudamos também a notícia de divulgação científica, que mescla características dos gêneros artigo acadêmico e notícia. Esse gênero de discurso do domínio midiático oferece à comunidade em geral, não especializada, informações sobre resultados de pesquisas ou descobertas do mundo da ciência, as quais tiveram, num primeiro momento, circulação restringida ao âmbito da comunidade acadêmica. REFERÊNCIAS MACEDO, T. S. de; PAGANO, A. S. Análise de citações em textos acadêmicos escritos. D.E.L.T.A., v. 27, n. 2, p. 257-288, 2011. SWALES, John. Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. Capítulo elaborado por Maria Eduarda Giering. CAPÍTULO 3 O ARTIGO ACADÊMICO-CIENTÍFICO: CONFIGURAÇÃO GLOBAL Este capítulo detalha aspectos gerais da configuração do artigo acadêmico-científico. Demonstramos como se organizam globalmente o artigo acadêmico-científico experimental e o artigo teórico ou de revisão. Swales (1990) sublinha que a abordagem focalizada no gênero exige particular atenção à organização retórica dos textos. Tal observação centraliza o trabalho no que ele chama de esquematização. O autor esclarece essa noção, estreitamente ligada ao gênero, em: Um gênero compreende uma classe de eventos comunicativos, cujos exemplares compartilham os mesmos propósitos comunicativos. Esses propósitos são reconhecidos pelos membros mais experientes da comunidade discursiva original e constituem a razão do gênero. A razão subjacente dá o contorno da estrutura esquemática do discurso e influencia e restringe as escolhas de conteúdo e estilo (SWALES, 1990, p. 58). Com Swales (1990), portanto, enfatizam-se as práticas de linguagem nos eventos comunicativos, no que ele denomina de comunidades discursivas. O autor assinala que essas experiências providenciam uma espécie de conjunto de memórias (ou repertório) de fatos, conceitos, formas de organizar e de dizer algo. Esses conhecimentos de fundo habilitam os interlocutores para a compreensão, a interpretação, a verificação e a avaliação da adequação, da relevância e da “verdade” do que é dito. As escolhas estratégicas do produtor e a estruturação textual-discursiva delimitam esse contorno denominado retórico. Segundo o pesquisador, assim se concretizam os propósitos de um determinado evento comunicativo, por exemplo, a escrita do artigo acadêmico-científico. Em vista disso, ao respondermos à pergunta “Por que escrever um artigo acadêmico-científico?”, é possível, entre outras, apontar as seguintes respostas: a) para comunicar resultados de estudos e pesquisas realizadas; b) para aprimorar a qualidade de aprendizagem e de comunicação do saber; c) para desenvolver hábitos de observação, de leitura, de pesquisa e de registros dessas atividades, a fim de partilhá- las na comunidade acadêmica e fora dela; d) para estimular a atitude científica e possibilitar o avanço da ciência. A partir dessas respostas, é possível afirmar que o conhecimento se constrói por meio de nossos sentidos ou percepções físicas e também mediante as capacidades de abstração e de raciocínio. Assim, podemos reconhecer que o saber oportuniza o entendimento pela descrição e pela explicação daquilo que é descoberto quando comunicado. As ações de pesquisar (que significa “buscar” e “inquirir”), de refletir e comunicar as descobertas são, por isso, cruciais no universo acadêmico-científico (MAGALHÃES, 2005). Tal entendimento remete à ideia de que o artigo acadêmico- científico se funda em um raciocínio demonstrativo, gerador da argumentação sobre três eixos: o da problematização, o do posicionamento e o da persuasão. Nessa troca comunicativa entre os pares, o fim demonstrativo se destaca, pois a situação de comunicação do discurso científico envolve diversos posicionamentos sustentados por teorias diferentes que exigem uma atitude aberta a objeções e contraposições possíveis (CHARAUDEAU, 2008, p. 14). Com base na situação de comunicação e nas características específicas dos parceiros da ação comunicativa realizada, o artigo acadêmico-científico requer, de quem o produz, capacidade para: a) contextualizar o tópico principal sobre o qual escreve em dada área e em relação a outras áreas de conhecimento; b) alinhar justificativa e objetivos de seu estudo, formulando hipóteses, se necessário; c) indicar e relacionar os pressupostos teóricos que balizam o trabalho; d) descrever metodologia e procedimentos gerais adotados; e) apresentar e comentar resultados, fatos e achados; e) apontar contribuições e recomendações a partir dos resultados. Esses cuidados na construção do texto, em vista do leitor que se pressupõe, podem ser aliados à pergunta “Vale a pena ler este texto?” (FEITOSA, 2004). Um artigo acadêmico-científico pode se subespecificar, de acordo com a área onde se insere e consoante o modo como são desenvolvidos os passos da investigação. Em razão disso, pode caracterizar-se como um artigo experimental ou teórico, este também conhecido como artigo de revisão. O artigo experimental tem base em um projeto de pesquisa: discute e apresenta fatos relativos a esse projeto em uma dada área de conhecimento (MOTTA-ROTH, 2010). O formato desse gênero de tipo experimental focaliza detalhadamente as etapas do trabalho de pesquisa, revelando-as em sua estrutura, conforme se visualiza na Figura 1, a seguir, proposta em Swales (1990, p. 134) e adaptada por Feltrim, Aluísio e Nunes (2000, p. 4). Por seu turno, o artigo teórico focaliza aspectos teóricos ligados a um problema ou a um tema específico. Não se concentra essencialmente em resultados, mas visa confirmar hipóteses ou defender uma tese, analisando diferentes abordagens sobre um tema ou problema específico. Esse tipo de artigo procede a uma revisão, por meio da articulação de diferentes teorias relacionadas ao foco escolhido para análise, por isso não é comum encontrar no artigo de revisão uma seção específica com título “Resultados”. A seguir, a primeira configuração de artigo acadêmico-científico – experimental – é estudada, na sua forma global, com base no texto A formação de professores e o uso pedagógico da Web 2.0: a visão de estudantes de licenciatura (ANDRELO; NAKASHIMA, 2012, p. 125-134). Trata-se de um artigo produzido por Roseane Andrelo, autora, e Rosária Helena Ruiz Nakashima, coautora, ambas doutoras em Educação. A revista acadêmica Educação UNISINOS (http://www.unisinos.br/revistas/index.php/educacao/index), em que ele foi publicado, é quadrimestral e dá continuidade à Revista Estudos Leopoldenses – Série Educação, fundada em 1997. A revista publica artigos nacionais e internacionais originais e inéditos, oriundos de pesquisas que concorram para a qualificação da produção do conhecimento do campo da Educação e áreas afins. O artigo de Andrelo e Nakashima tem como fim discursivo expor o conhecimento adquirido, por meio de revisão bibliográfica e pesquisa de campo, sobre a formação de professores para a utilização da Web 2.0 em sala de aula. Visando à publicação, as autoras seguiram as regras ditadas pela revista para a submissão de artigos, item “Diretrizes para autores” (http://www.unisinos.br/revistas/index.php/educacao/about/submissions#authorGuidelines O texto, que analisamos seguindo a esquematização proposta por Swales (2000), se encontra na íntegra nas páginas finais, em anexo, deste livro. O esquemade análise tem base em: Figura1 – Artigos experimentais. Fonte: Feltrim, Aluísio e Nunes (2000, p. 4). http://www.unisinos.br/revistas/index.php/educacao/index http://www.unisinos.br/revistas/index.php/educacao/about/submissions#authorGuidelines O desenho trazido de Swales (1990, p. 133-134), em formato de ampulheta, evidencia uma organização do texto com características de início mais geral (motivo de a forma mostrar uma abertura para cima). Há um estreitamento, quando se delimita a introdução, e, mais ainda, quando se especifica o foco nas seções de materiais-métodos e resultados. Tal esquema demonstra abertura específico-geral, mostrando um novo procedimento de generalização, marcado, na Figura 1, pela abertura em forma de um novo trapézio na base inferior da ampulheta. O trapézio inferior abriga a discussão e as conclusões do texto do artigo acadêmico, quando se relacionam com ou se explicam as descobertas e as comprovações específicas na direção de, por exemplo, outros estudos já realizados sobre o tema. As seções do artigo acadêmico exercem funções específicas na construção do sentido do texto. Assim, de modo muito breve, vale destacar: ao resumo, cabe indicar muito sucintamente objetivos, metodologia, resultados e conclusões do trabalho; à introdução, reservam-se as ações de especificar tais objetivos, lacunas existentes no tema ou problema focalizado, hipóteses de pesquisa, contexto que situe e justifique o trabalho realizado; à seção de materiais e métodos ou metodologia, é atribuída função de explicitar o percurso e os instrumentos, o modo como se concretizou a pesquisa. A etapa de resultados e discussão é o foco para onde convergem todas as ações do artigo, visto que retoma as promessas ou metas estabelecidas nas etapas anteriores: os resultados são enumerados e explicados à luz de pressupostos adotados. A conclusão consiste em uma avaliação global dos resultados alcançados e explicados, inserindo o trabalho, até então tratado no espaço mais restrito da pesquisa, no universo de investigações sobre o tema; também aponta a relevância do que foi tratado e oferece novas bases para levantar e estudar questões futuras. Nos estudos que propomos neste capítulo, os movimentos dos textos estão anotados em balões que apontam para o corpo dos textos. Nesses balões e também em boxes, apresentam-se caracterizações, identificando as ações globais que o produtor do texto realiza ao compor um artigo acadêmico-científico experimental no texto já mencionado de Andrelo e Nakashima (2012). A introdução prossegue com diversas considerações teóricas sobre o tema, como reconhecemos em: Assim como o artigo acadêmico-científico experimental, o artigo teórico apresenta as etapas de construção estudadas, mas com sutis diferenças que merecem destaque. No artigo acadêmico-científico teórico, identificamos: Figura 3 – Artigo teórico ou de revisão. Fonte: elaborada pelas autoras do capítulo, com base em Feltrim, Aluísio e Nunes (2000, p. 4). Assim como no artigo experimental, no artigo teórico (também chamado de artigo de revisão), o resumo deve indicar muito sucintamente objetivos, metodologia, resultados e conclusões do trabalho; a introdução precisa especificar os objetivos, as lacunas existentes ou o problema a estudar, as hipóteses de pesquisa, o contexto do trabalho realizado, as linhas teóricas assumidas. À seção de materiais e métodos ou metodologia, do artigo experimental, correspondem seções como percurso metodológico, pressupostos teóricos e títulos específicos de cada tema abordado em artigos desse tipo. Tal seção deve explicitar as escolhas teóricas e demais procedimentos que esclarecem o modo como se concretiza a investigação e pode aparecer integrada no corpo do trabalho, quando são apresentadas e discutidas teorias anteriores ao estudo em curso no artigo teórico. Semelhantemente, a etapa de resultados e discussão em geral, no artigo teórico, assume títulos também específicos do tema em questão no trabalho ou aparece diluída no corpo do texto. Lembre, no entanto, que essa etapa ainda é o foco para onde convergem todas as ações do artigo, visto que retoma as promessas ou metas estabelecidas nas etapas anteriores: ideias encontradas são recuperadas e explicadas à luz dos pressupostos levantados. A conclusão realiza uma avaliação global desse estudo e corrobora a relevância do trabalho no âmbito de estudos já existentes sobre o tema, evocando novas bases para estudar questões futuras. Focalizamos, a partir deste ponto, o artigo teórico A contribuição da psicologia escolar na prevenção e enfrentamento do bullying (FREIRE; AIRES, 2012, p. 55-60), cujo texto integral também consta dos anexos deste livro. O estudo foi publicado na revista Psicologia Escolar e Educacional, periódico vinculado à Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (Abrapee)1, que objetiva constituir-se num espaço para a apresentação de pesquisas atuais no campo da Psicologia Escolar e Educacional e servir como veículo de divulgação do conhecimento produzido na área. Redigido por Alane Novais Freire e Januária Silva Aires, graduanda e mestre em Psicologia, respectivamente, o artigo discute a relação entre bullying e psicologia escolar. Para a organização do texto acadêmico em foco, as autoras seguiram as normas indicadas no item Instrução aos autores, publicadas pela revista.2 O artigo teórico de Freire e Aires mostra um resumo acadêmico seguido de versão em dois idiomas – inglês e espanhol. Após as palavras-chave, vem a introdução, que cumpre etapas e funções estudadas no texto anterior. Leiamos atentamente. Veja que este artigo de revisão focaliza um referencial teórico, efetuando entrelaçamentos entre ideias postas em jogo no texto. De modo semelhante, essas afirmações e relatos de assertivas defendidas por outros estudos são elaborados verbalmente com objetividade e clareza. É possível dizer que existe uma mediação das autoras de um panorama amplo de ideias sobre o problema. Isso mapeia e tece o percurso da análise que se faz do bullying e do papel do profissional da Psicologia diante e dentro dessa situação. Ambos os artigos – experimental e teórico – são finalizados com as referências, etapa importantíssima da escrita acadêmica, que é onde se indicam as obras consultadas. As normas da ABNT são habitualmente exigidas, com adaptações ou regramentos que cada revista impressa ou eletrônica requisita. REFERÊNCIAS ANDRELO, Roseane; NAKASHIMA, Rosária H. R. A formação de professores e o uso pedagógico da Web 2.0: a visão de estudantes de licenciatura. Educação Unisinos, v. 16, n. 2, p. 125-134, maio/ago. 2012. Disponível em: http://www.unisinos.br/revistas/index.php/educacao/article/view/edu.2012.162.04. Acesso em: 20 fev. 2013. CHARAUDEAU, Patrick. La médiatisation de la science: clonage, OGM, manipulations génétiques. Bruxelas: Éditions De Boeck Université, 2008. FEITOSA, Vera Cristina. Redação de textos científicos. São Paulo: Papyrus Editora, 2004. FELTRIM, Valéria D; ALUÍSIO, Sandra M.; NUNES, Maria G. V. Uma Revisão Bibliográfica sobre a Estruturação de Textos Científicos em Português. São Carlos: ICMC-USP, 2000. FREIRE, Alane Novais e AIRES, Januária Silva. A contribuição da psicologia escolar na prevenção e no enfrentamento do Bullying. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 16, Número 1, Janeiro/Junho de 2012: 55-60. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S1413-85572012000100006 Acesso em: 20/02/13. FUCHS, Juliana Thiesen. A seção de introdução/A seção materiais-métodos/A seção de resultados. In: GIERING, Maria Eduarda; ALVES, Isa Mara da Rosa; MELLO, Vera Helena Dentée de. Leitura e produção de artigo acadêmico-científico. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2010. http://www.unisinos.br/revistas/index.php/educacao/article/view/edu.2012.162.04 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572012000100006 MAGALHÃES, Gildo. Introdução à metodologia da pesquisa: caminhosda ciência e tecnologia. São Paulo: Ática, 2005. MOTTA-ROTH, Désirée (org.). Redação acadêmica: princípios básicos. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, Imprensa Universitária, 2010. SWALES, John. Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. Capítulo elaborado por Juliana Alles de Camargo de Souza e Maria Eduarda Giering. 1 <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1413-8557&lng=pt&nrm=iso>. 2 <www.scielo.br/revistas/pee/pinstruc.htm>. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1413-8557&lng=pt&nrm=iso http://www.scielo.br/revistas/pee/pinstruc.htm CAPÍTULO 4 O RESUMO ACADÊMICO-CIENTÍFICO: CARACTERÍSTICAS Neste capítulo, apresentamos as principais características de um resumo acadêmico- científico com o intuito de habilitá-lo a ler e produzir esse gênero discursivo. 4.1 O que é? O resumo acadêmico-científico, também chamado de resumo acadêmico, pode corresponder (i) a uma parte de uma publicação acadêmico-científica ou (ii) a uma publicação que integra resumos de um evento ou periódico. O primeiro é elemento constitutivo de um texto maior, o artigo acadêmico-científico, e o segundo configura-se como um texto independente que apresenta, de forma sucinta, os aspectos essenciais de uma pesquisa. No primeiro caso, o resumo é a primeira seção de um artigo acadêmico- científico, denominada sempre “resumo”, e possui a função de apresentar ao leitor as informações essenciais do artigo. Barrass (1991), na obra Os cientistas precisam escrever: guia de redação para cientistas, engenheiros e estudantes, destaca que o resumo deve ser cuidadosamente elaborado porque muitos leem apenas o título e o resumo de um trabalho. No segundo caso, o resumo é o texto enviado à comissão científica de um evento para que seja avaliada a pertinência e a adequação da pesquisa aos propósitos do evento; portanto, nesse caso, é um texto que tem a função de apresentar, em síntese, um trabalho de pesquisa que pode ou não estar finalizado. Tendo em vista sua independência, esse resumo recebe um título que contextualize a pesquisa que está sendo apresentada. Ambos os tipos de resumo correspondem a um texto demarcado por certa extensão, que, conforme a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), deve ter entre duzentas e quinhentas palavras, além de ser organizado em parágrafo único. A determinação da ABNT, no entanto, vale para situações em que o local de publicação do artigo (revista ou periódico) não estabelece outros critérios. 4.2 Quem escreve para quem? O resumo acadêmico é escrito pelos mesmos autores do artigo; pode ser redigido, portanto, por pesquisadores, cientistas, acadêmicos e estudantes. O público- alvo do resumo, por sua vez, pode ser composto por (a) leitores de artigos acadêmicos em revistas especializadas, (b) acadêmicos e professores de uma determinada área de estudos e (c) interessados em áreas específicas de pesquisa. 4.3 Onde é veiculado? Fundamental à constituição do texto, o local em que o resumo acadêmico geralmente é publicado são as revistas especializadas (periódicos) de áreas específicas do conhecimento em versões impressas ou online. O resumo somente constitui-se como gênero acadêmico-científico quando é veiculado nesses ambientes, que representam as circunstâncias materiais características desse tipo de resumo. 4.4 Qual é a sua finalidade? O produtor de um resumo acadêmico visa a orientar o leitor do artigo para aspectos essenciais que integrarão o texto completo. Além de indicar – de forma sucinta, interessante e informativa – as principais descobertas, a finalidade do resumo é motivar a leitura do texto ou da pesquisa a que remete; por isso, é fundamental que o produtor do texto atente para os elementos que o compõem. 4.5 O que deve ser abordado? Os gêneros do discurso científico se caracterizam, conforme Charaudeau (2008), por uma finalidade demonstrativa, mediante a qual o produtor do texto, que possui a autoridade de um saber, apresenta fatos e provas ao leitor por meio de um raciocínio hipotético-dedutivo que estabelece encadeamento entre as diferentes informações que compõem o texto. Para que o propósito comunicativo do resumo acadêmico seja atendido, a organização de suas informações se estabelece em cinco movimentos – adaptação do conceito de movimento de Swales (1990) e dos componentes do resumo do texto científico conforme Feltrim (2004): Movimento 1 – apresentação da pesquisa: tem a função de expor o tópico principal da pesquisa e apresentar os objetivos e as hipóteses que a orientam. Movimento 2 – contextualização da pesquisa: tem por função situar a investigação em relação a uma determinada área de conhecimento por meio da descrição do problema de pesquisa e da apresentação de pesquisas ou de teorias que já tenham tratado do tema em questão. Movimento 3 – apresentação da metodologia: tem a função de apresentar o método de investigação utilizado na pesquisa, através da descrição dos procedimentos metodológicos e da articulação de variáveis e de fatores de controle. Movimento 4 – sumarização dos resultados: tem por função mostrar os principais achados/dados da pesquisa, bem como comentar, de forma breve, os resultados obtidos. Movimento 5 – conclusão da pesquisa: tem por função apresentar as conclusões do estudo, por meio da articulação das hipóteses com os resultados da pesquisa. Também é possível apontar a contribuição do estudo para a comunidade científica, e é recomendável apresentar indicações de futuras pesquisas sobre o tema em estudo. Para finalizar a apresentação dos movimentos retóricos que compõem um resumo acadêmico, é importante ressaltar que são permitidas certas inversões na ordem de inclusão dessas informações no texto e, além disso, há movimentos e passos obrigatórios e opcionais. É recorrente, na literatura de diferentes áreas do conhecimento, a recomendação da inclusão de, pelo menos, os seguintes movimentos: apresentação da pesquisa, da metodologia, da sumarização dos resultados e/ou da conclusão. 4.6 Análise de um resumo de artigo acadêmico a partir das unidades temáticas propostas por Swales (1990) e Feltrim (2004) Em relação ao resumo do artigo “A formação de professores e o uso pedagógico da Web 2.0: a visão de estudantes de licenciatura” (ANDRELO; NAKASHIMA, 2012), que se encontra em anexo ao final deste livro, as pesquisadoras pretendem sustentar que “Os estudantes pesquisados demonstram dificuldade em usar a web de forma didática e o problema se agrava quando se trata da Web 2.0, que pressupõe o foco no usuário e a colaboração”. Para fundamentar essas afirmações, as autoras indicam, no resumo, a amostra de sua pesquisa, a metodologia utilizada e os resultados obtidos, os quais são descritos e discutidos no artigo. Palavras-chave: formação de professores, recursos da Web 2.0 , tecnologia da informação e da comunicação (TIC). O movimento 1, apresentação da pesquisa, ocorre na primeira frase do resumo em análise e expõe os objetivos do estudo. A segunda frase do resumo mostra o movimento 2, contextualização da pesquisa, situando a investigação através da descrição de sua motivação. O problema de pesquisa é apresentado. O movimento 3, apresentação da metodologia, está constituído de três frases, em que as pesquisadoras descrevem os procedimentos metodológicos adotados. A terceira frase mostra os métodos empregados, ou seja, como a pesquisa foi realizada (revisão bibliográfica e pesquisa de campo). A quarta e a quinta frases indicam como a amostra foi constituída: 213 estudantes de uma determinada disciplina de uma universidade particular de São Paulo. A sexta e a sétima frases do resumo em análise constituem o movimento 4, sumarização de resultados, em que as pesquisadoras descrevem os principais achados da pesquisa: o universo pesquisado tem acesso ao computador e à internet, tem certa habilidade para utilizar recursos da internet, pensa que é importante usar esses recursos no processo de ensino e aprendizagem e tem dificuldadepara usar a web e a Web 2.0 com fins pedagógicos. A última frase apresenta o movimento 5, conclusão da pesquisa, em que as pesquisadoras apontam a contribuição do estudo. Nesse caso específico, a contribuição não é apenas para a comunidade científica, mas também para a comunidade escolar: há uma necessidade de se repensar os cursos de formação de professores para que se possa capacitá-los a utilizar tecnologias digitais como a Web 2.0. 4.7 Palavras-chave Após o resumo acadêmico, devem ser apresentadas, no mínimo, três e, no máximo, cinco palavras-chave, que equivalem a um tipo de resumo organizado sob a forma de substantivos. Elas devem ser listadas em ordem de importância, como, por exemplo, o assunto, a área de conhecimento e a conclusão da pesquisa realizada. É importante destacar que a palavra-chave pode ser uma expressão; assim, se o artigo abordar “tecnologia da informação e da comunicação”, é essa expressão que deve ser incluída, não as palavras “tecnologia”, “informação” ou “comunicação”. No resumo do artigo em análise, as autoras utilizaram as seguintes palavras- chave: formação de professores; recursos da Web 2.0; tecnologia da informação e da comunicação (TIC). A primeira palavra-chave indica a grande área do estudo. As palavras-chave seguintes referem-se ao assunto do trabalho. 4.8 Algumas questões linguístico-discursivas em jogo no resumo acadêmico-científico 4.8.1 Tempos verbais Feltrim, Aloísio e Nunes (2000) recomendam que a contextualização da pesquisa seja redigida, em geral, no presente, enquanto o objetivo do trabalho pode ser indicado tanto no presente quanto no passado, assim como a apresentação da metodologia. Já os resultados devem ser escritos no passado, e as conclusões ou as recomendações, no presente. Além disso, devem ser utilizadas as formas verbais impessoais, flexionadas na terceira pessoa do singular (constata-se, investiga-se) ou na primeira pessoa do plural (investigamos, constatamos). Observamos que o movimento de apresentação da pesquisa é redigido no presente. Já em relação aos movimentos de contextualização e de apresentação da metodologia, as autoras flexionam os verbos, em sua maioria, no passado: “foi” (contextualização); “foi desenvolvida”, “foi representado” e “foram selecionados” (metodologia). A utilização da voz passiva (por exemplo, “foi desenvolvida”), com o objetivo de enfatizar a ação realizada e não o responsável pela ação, e o uso de formas verbais impessoais (“aponta-se”) causam um efeito de imparcialidade e de neutralidade, característica do discurso científico. 4.8.2 Construção frasal Feltrim, Aloísio e Nunes (2000) recomendam que as frases utilizadas na redação do resumo sejam redigidas, geralmente, na ordem direta (sujeito-verbo-complementos). Além disso, é recomendável elaborar uma frase, no mínimo, para cada movimento. As frases devem ser, conforme Swales (1990), afirmativas e diretas; portanto, não é recomendável o uso de períodos longos compostos por subordinação. Ainda, o uso de abreviaturas e de símbolos que possam provocar erros de interpretação deve ser evitado. Caso seja necessário utilizar uma sigla, toda a expressão deve ser explicitada por extenso, colocando-se a sigla entre parênteses, na primeira vez em que for anotada. No resumo em análise, a primeira frase, por exemplo, é afirmativa e está na ordem direta, não é um período longo: “O objetivo do artigo é discutir a importância da formação de professores para a utilização da Web 2.0 em sala de aula”. Além disso, observamos que uma das palavras-chave é uma abreviatura, explicitada por extenso. 4.8.3 Palavras e expressões recorrentes no resumo Para cada etapa do resumo, há palavras ou expressões que tipicamente antecedem a apresentação de cada um dos movimentos retóricos com o objetivo de facilitar a comunicação, possibilitando ao leitor uma compreensão antecipada do conteúdo em questão. No movimento referente à apresentação da pesquisa, é possível empregar, por exemplo, expressões como “o objetivo deste trabalho”; já no movimento relacionado à apresentação da metodologia, expressões como “técnica de coleta de dados” e “método de tabulação dos dados” podem ser utilizadas. Observamos que, no movimento retórico de apresentação da pesquisa, é utilizada a palavra “objetivo” para indicar que, a seguir, é exposto o propósito do estudo. Fato semelhante ocorre em relação ao movimento 3, que é introduzido pela expressão “como metodologia”, que indica ao leitor qual é o conteúdo da sentença. 4.9 Etapas para a elaboração do resumo de um artigo acadêmico-científico Nesta seção, você aprenderá as etapas para redigir um resumo acadêmico. Etapa 1 Responda às seguintes perguntas. Você pode formular uma ou duas respostas para cada questão. Apresentação da pesquisa: Qual é o tema do trabalho? Qual é o objetivo do trabalho? Contextualização da pesquisa: Qual é a área de conhecimento em que se insere o trabalho? Qual é o problema de pesquisa? Apresentação da metodologia: Que metodologia é usada para a realização da pesquisa? Como foi feita a coleta de dados? Como o corpus foi constituído? Como foi feita a análise dos dados? Sumarização dos resultados: Quais são os resultados mais importantes do estudo? O que os resultados significam em relação ao problema de pesquisa investigado? Conclusões da pesquisa: Para que conclusões ou recomendações a pesquisa aponta? Etapa 2 Inicie a redação a partir das respostas dadas às questões do passo 1. Etapa 3 Acrescente palavras ou expressões antes da apresentação de cada um dos movimentos retóricos com o objetivo de facilitar a compreensão. Etapa 4 Faça paráfrase1 das informações referentes às unidades temáticas pertinentes. Etapa 5 Escolha de três a cinco palavras-chave e escreva-as após o texto, precedidas do vocábulo “palavras-chave”. Etapa 6 Revise o texto em busca de incorreções gramaticais. Etapa 7 Submeta o texto a um leitor experiente, a fim de verificar se ele compreendeu o trabalho. Etapa 8 Releia e reescreva o texto quantas vezes for preciso. O resumo publicado não pode ser alterado e fica como registro do trabalho; portanto, é necessário ter cuidado. Faça os ajustes necessários, e o seu resumo estará pronto. REFERÊNCIAS ANDRELO, Roseane; NAKASHIMA, Rosária H. R. A formação de professores e o uso pedagógico da Web 2.0: a visão de estudantes de licenciatura. Educação Unisinos, v. 16, n. 2, p. 125-134, maio/ago. 2012. Disponível em: http://www.unisinos.br/revistas/index.php/educacao/article/view/edu.2012.162.04. Acesso em: 20 fev. 2013. BARRASS, Robert. Os cientistas precisam escrever: guia de redação para cientistas, engenheiros e estudantes. 3 ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1991. CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso: modos de organização. São Paulo: Contexto, 2008. FELTRIM, V. D.; ALUÍSIO, S. M.; NUNES, M. G. V. Uma revisão bibliográfica sobre a estruturação de textos científicos em Português. Série de Relatórios do NILC. NILC-TR-00-11, out. 2000. ______. Uma abordagem baseada em corpus e em sistemas de crítica para a construção de ambientes Web de auxílio à escrita acadêmica em português. Tese de doutorado. ICMC-USP, 169p., 2004. SWALES, J. M. Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University, 1990. http://www.unisinos.br/revistas/index.php/educacao/article/view/edu.2012.162.04 Capítulo elaborado por Cristina Pimentel Damim, Isa Mara da Rosa Alves, Janaína Lemos Becker e Silvana Kissmann. 1 Para aprender a fazer paráfrases, leia o Capítulo 10. CAPÍTULO 5 A RESENHA ACADÊMICA Este capítulo trata das características gerais do gênero de discurso resenha acadêmica e de alguns requisitos necessários para redigi-lo. Também esclarece sob que base teórica se conduzirá o estudo de uma resenha no capítulo posterior. A resenha acadêmica é um gênero de discurso que apresenta criticamente uma obra (livro ou artigo científico). Ela é produzida ou por especialistas em uma área de conhecimento para ser publicada em revistas acadêmico-científicas dirigidasa especialistas, ou por estudantes, geralmente universitários, no cumprimento de tarefas acadêmicas. A resenha, no entanto, não circula apenas na academia. Podemos resenhar obras literárias e/ou artísticas: um livro de literatura, uma peça de teatro, um filme, um CD. É provável que você já tenha tido contato com uma resenha desse tipo – publicada em jornal, revista, blogue –, informando sobre o conteúdo de uma obra, de uma apresentação ou de um evento e tecendo avaliações ou comentários sobre o fato. É possível também que, a partir dessa leitura, você tenha se interessado – ou não – em ler certo romance, em assistir a uma peça de teatro ou a um filme, em comprar um CD de um artista ou banda. Neste livro vamos nos concentrar no estudo da resenha acadêmica, um gênero de discurso de grande circulação e importância nos meios universitários, porque permite, como afirma Severino (1998), que tomemos conhecimento prévio do conteúdo e do valor de uma obra (livro ou artigo acadêmico) que acaba de ser publicada. Isso é importante se desejamos estar atualizados sobre temas científicos de nosso interesse. Podemos, após ler a resenha, querer ler a obra original que foi resenhada ou mesmo comprar o livro recém-lançado. A leitura da resenha acadêmica, portanto, pode também influenciar a decisão de compra ou de leitura de uma obra. É possível economizar tempo e dinheiro lendo resenhas acadêmicas! Da mesma forma, quando estamos estudando ou investigando um tema científico, podemos querer saber o que já foi publicado sobre ele em livros e artigos acadêmicos, isto é, fazer um levantamento bibliográfico de determinado campo de estudo. Neste caso, a leitura de resenhas permite que realizemos uma seleção das obras que podem apresentar conteúdos ou abordagens relevantes para nosso estudo. Feito isso, o leitor decide se consulta ou não o original. Diferentemente da resenha que circula na mídia impressa ou eletrônica endereçada a um público mais geral, a resenha acadêmica se dirige a um público especializado numa determinada área de estudo acadêmico-científica, ou seja, ela pressupõe leitores especialistas na área, os chamados pares. Essas resenhas são publicadas em revistas acadêmicas ou em sites especializados e são redigidas, geralmente, por estudiosos no assunto contido na obra. No meio universitário, professores também costumam solicitar a redação de resenhas de obras e artigos a seus alunos. O objetivo principal, neste caso, é desenvolver a leitura crítica e avaliar a qualidade da leitura dos estudantes. Para redigir uma resenha, é preciso ter bom conhecimento da obra e da área disciplinar em que se situa seu conteúdo e, mais do que isso, é necessário ter capacidade de juízo de valor e saber estabelecer relações com outras obras já conhecidas na área. A resenha, portanto, quando redigida em ambiente de sala de aula, serve para avaliação de compreensão e crítica. Medeiros (2010) salienta que ela contribui para desenvolver mentalidade científica e levar o iniciante à pesquisa e à elaboração de trabalhos monográficos. A resenha, assim, desempenha o papel de instrumento de introdução ao diálogo acadêmico no processo de ensino e aprendizagem dos cursos de graduação e de pós- graduação. Os professores, quando solicitam a redação da resenha, muitas vezes, utilizam diferentes termos para se referir a ela: “resenha”, “resenha crítica”, “resenha bibliográfica”, “recensão crítica”. Neste livro, estamos empregando o termo único “resenha”. Consideramos que o gênero resenha implica não apenas exposição de conteúdo, mas também tomada de posição do resenhista sobre o valor e o alcance da obra que está sendo avaliada. Ao termo resenha acrescentamos a qualificação “acadêmica” – resenha acadêmica –, já que tratamos da organização de resenhas que circulam no meio social acadêmico. Na verdade, a resenha acadêmica está intrinsecamente relacionada à comunidade acadêmica, formada por professores, estudantes, pesquisadores, na qual circulam vários outros gêneros discursivos: o artigo, o resumo, o relatório, por exemplo. Os membros dessa comunidade conhecem as convenções dos gêneros que circulam em seu ambiente e é por meio deles que se intercomunicam. Uma das condições essenciais para fazer parte da comunidade acadêmica é dominar razoavelmente os gêneros de discurso que nela circulam e ser capaz de manejar as convenções comunicativas e os usos da linguagem dessa comunidade. Em se tratando da resenha, a comunidade acadêmica tem certas expectativas quanto às ações linguístico-discursivas do resenhista. Ela espera, por exemplo, que o texto da resenha descreva, relate e argumente. Descreva um conjunto de propriedades da obra (título, credenciais do autor, estrutura da obra, resumo do conteúdo); relate dados que evoluam no tempo e no espaço (passagem da vida do autor, progresso, reformulação de suas ideias); argumente (comentários sobre as ideias do autor, julgamento sobre as qualidades da obra, apresentando argumentos e provas). Para redigir resenhas acadêmicas, são necessários alguns requisitos. Além do indispensável conhecimento na área temática da obra, é preciso conhecer a estrutura da resenha e, como bem salienta Medeiros (2010, p. 152), “saber que resenha não é resumo da obra, nem transcrição de trechos”. O resumo é apenas um dos elementos da resenha: “se, por um lado, o resumo não admite o juízo valorativo, o comentário, a crítica; a resenha, por outro lado, exige tais elementos” (MEDEIROS, 2010, p. 157). O gênero de discurso denominado “resumo acadêmico” circula em cadernos de resumo de eventos acadêmico-científicos como congressos, simpósios, mostras científicas, entre outros. O resumo acadêmico também é encontrado junto ao artigo acadêmico (após o título e o nome do autor), apresentando, num parágrafo único e de forma sumária, o conteúdo que o leitor encontrará no corpo do artigo. O resumo que se mostra na resenha, no entanto, tem outras características e cumpre o objetivo, como acentua Medeiros (2010, p. 161), de “informar o leitor sobre o que contém o livro, qual sua estrutura, quantas partes tem, quantos capítulos, qual a profundidade e extensão dos assuntos abordados”. No Capítulo 6, no qual procedemos à análise de uma resenha, expomos a estrutura da resenha acadêmica a partir das ações que o resenhista deve (ou pode) executar para organizar o texto de acordo com as expectativas dos membros da comunidade acadêmico-científica na qual esse gênero de discurso circula. Outro ponto importante a se observar quando se escrevem resenhas acadêmicas está no fato, conforme Fiorin e Savioli (1996), de que a resenha nunca pode dar conta de forma completa e exaustiva do objeto resenhado. A seleção do que vamos dizer e de como vamos dizer está relacionada a fatores como o fim comunicacional que temos em vista, o público a que nos dirigimos, a área de conhecimento a que pertence a obra, o veículo em que ela é publicada. Por isso, para compor uma resenha, é fundamental que tenhamos claro os aspectos situacionais que envolvem sua produção. É preciso também que saibamos como a área de conhecimento na qual nos encontramos valoriza ideias, posições teóricas, métodos. Não podemos esquecer que a resenha é essencialmente argumentativa, pois defende um ponto de vista. Portanto, quem escreve resenhas deve ter habilidade para argumentar, comparar, distinguir detalhes, saber selecionar argumentos válidos na área de conhecimento em que circula a resenha para provar sua posição. E argumentar não significa tecer elogios ou críticas sem cabimento. Para uma argumentação consistente, que comprove a qualidade (ou sua ausência) da obra, é preciso, de forma objetiva e clara, apoiar-se em fatos, em provas. Assim, “explicar as razões para avaliações positivas ou negativas demanda, por parte do resenhador, uma retórica elaborada”, comentam as linguistas Motta-Roth e Heberle (2005, p. 21). Não esqueçamos que uma das finalidades essenciais desse gênero de discurso é fornecer informações e julgamentos de maneira que o leitor possa se decidir pela leitura ouaquisição da obra original. Salientamos ainda que a crítica presente na resenha, como expõe Severino (1998), deve ser dirigida às ideias e posições do autor, nunca a sua pessoa ou às condições pessoais de sua existência. Trata-se de manter uma postura ética, tecendo considerações justas, pois, como bem afirma Severino, na medida em que o resenhista expõe e aprecia as ideias do autor, estabelece com ele um diálogo. É possível defender pontos de vista coincidentes ou não com o autor resenhado de maneira equilibrada e polida. Neste livro, trabalhamos com o gênero de discurso “resenha acadêmica” a partir dos estudos de John Swales (1990), voltados para gêneros discursivos em contexto acadêmico, e de Patrick Charaudeau (2006), que postula a ideia de que todo locutor (o resenhista, neste caso) deve se submeter às restrições da situação na qual se dá a troca de linguagem e, mais do que isso, deve supor que seu interlocutor (leitor) reconhece as mesmas restrições. De acordo com o linguista, os interlocutores devem ter competência situacional para reconhecer as condições de realização da troca de linguagem em que estão envolvidos. Com o objetivo de descrever aspectos relevantes da situação de comunicação na qual se inserem as resenhas acadêmicas que selecionamos para estudo, valendo-nos da proposta semiolinguística de P. Charaudeau (2006), responderemos às seguintes questões: Quem se dirige a quem? Com que finalidade? De que tema trata? Em que ambiente se inscreve o ato de comunicação? Que canal de comunicação é utilizado para a troca de linguagem? Para análise da organização das resenhas, empregaremos a Sociorretórica, de J. Swales. Essa teoria se apoia em uma análise linguística que revela muito da construção do texto e das práticas sociais – acadêmicas e profissionais – determinantes das escolhas linguísticas que configuram o texto. Swales (1990), a partir do exame da organização retórica de exemplares do gênero artigo de pesquisa, postulou, com fins didáticos, um modelo que aponta movimentos típicos do produtor textual voltados para objetivos específicos. Esse modelo descritivo, constituído de “movimentos” (unidades maiores) e “passos” (unidades menores) retóricos, tem sido aplicado, com adaptações, na análise de diferentes gêneros, entre eles, a resenha acadêmica. É o caso dos trabalhos de Motta-Roth (1995) e de Araújo (1996), para resenhas em inglês, e de Bezerra (2009), que se dedicou a resenhas acadêmicas em português. REFERÊNCIAS ARAÚJO, A. D. Lexical signalling: a study of unspecific-nouns in book reviews. 1996. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. BEZERRA, B. G. A resenha acadêmica em uso por autores proficientes e iniciantes. In: BIASI-RODRIGUES, B.; ARAÚJO, J. C.; SOUZA, S. C. T. de. Gêneros textuais e comunidades discursivas: um diálogo com John Swales. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. CHARAUDEAU, P. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2006. FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1996. MEDEIROS, J. B. Redação científica: a prática de fichamentos e resenhas. São Paulo: Atlas, 2010. MOTTA-ROTH, D. Rhetorical features and disciplinary cultures: a genre-based study of academic book reviews in linguistics, chemistry and economics. 1995. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. MOTTA-ROTH, D.; HABERLE, V. M. O conceito de “estrutura potencial do gênero” de Ruqayia Hasan. In: MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. Gêneros: teorias, métodos, debates. Rio de Janeiro: Parábola, 2005. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 20. ed. São Paulo: Cortez, 1998. SWALES, J. M. Genre analysis. English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University, 1990. Capítulo elaborado por Maria Eduarda Giering. CAPÍTULO 6 NOS PASSOS DA RESENHA Este capítulo sintetiza aspectos relevantes da situação de comunicação de uma resenha acadêmica, esclarecendo o contrato de comunicação de onde emerge esse gênero. A seguir, esclarece como se configura globalmente uma resenha acadêmica, analisando as ações e os passos que a constituem. Para isso, estudamos a resenha sobre o livro Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. Para a caracterização do quadro situacional que delineou a produção textual da resenha Letramentos múltiplos, escola e inclusão social (KARWOSKI, 2010), identificamos as categorias indicadas por Charaudeau (2006) definidoras da situação de comunicação, respondendo às questões: Quem se dirige a quem? Em que ambiente se inscreve o ato de comunicação? Que canal de comunicação é utilizado? Com que finalidade o texto é produzido? De que trata o texto? A resenha foi veiculada online na Revista Delta (Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada), 1 editada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Segundo consta na página indicada, esse periódico “publica estudos de caráter teórico ou aplicado, oriundos de qualquer área referente ao fenômeno linguístico, desde que se trate de contribuições inéditas cujos autores tenham título de doutor”. A revista, portanto, insere-se num contexto acadêmico-científico e se dirige à comunidade de professores, pesquisadores, estudantes e profissionais da área da Linguística, interessada em informações e discussões científicas sobre temas relevantes para essa comunidade e em resenhas que versem sobre obras pertinentes. Um corpo editorial e consultores ad-hoc (especialistas convidados) fazem a avaliação científica dos textos enviados para uma possível publicação. Tanto o redator dos artigos e resenhas presentes na revista quanto os avaliadores, pertencentes a uma mesma comunidade científica, manejam as convenções comunicativas e os usos da linguagem dessa comunidade. Eles sabem qual a expectativa da comunidade acerca dos gêneros discursivos que ali circulam e obedecem às exigências da área. O texto da resenha Letramentos múltiplos, escola e inclusão social é do Doutor Acir Mario Karwoski, atualmente pró-reitor de Ensino da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), atuante em Linguística Aplicada e Português nesta e em outras universidades brasileiras. A resenha faz conjunto com artigos e outras resenhas que versam sobre diversos temas ligados à Linguística, já que não se trata de uma edição especial do periódico, isto é, sobre um só núcleo temático de investigação. O texto em foco integra o grupo de quatro resenhas desse número da Revista Delta, sugerindo a leitura do livro de Rojo que trata de letramentos múltiplos na escola e de relações destes com a inclusão social. Considerando as situações de comunicação na qual a resenha selecionada para estudo nesta obra foi produzida, verificamos que: o resenhista é especialista no tema tratado pela obra que resenha; há veiculação de resenhas em periódicos que circulam em comunidades acadêmicas de áreas consagradas de investigação científica; a submissão de artigos ou resenhas às revistas está sujeita à avaliação por um corpo de pareceristas que zela pela qualidade dos textos (GIERING, 2010, p. 14). Salientamos que a versão eletrônica do periódico Delta está disponível na Scientific Electronic Library Brasil (SciELO Brasil), biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros. O acesso às revistas pode ser realizado por meio do Portal de Periódicos da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), órgão do Ministério da Educação do Brasil, no seguinte endereço: http://www.periodicos.capes.gov.br/portugues/index.jsp. A finalidade principal da resenha é avaliar uma obra. Tal avaliação precisa estar fundamentada em algum critério, para que a crítica seja “justa e razoável” (SWALES; FEAK, 2004, p. 181). Estes autores também ressaltam que os professores oportunizam a produção de resenhas com os alunos para: (i) assegurar-se de que o estudante de fato leu o que foi indicado; (ii) avaliar a compreensão do aluno;(iii) oportunizar o desenvolvimento de hábitos de leitura analítica entre os estudantes; (iv) propiciar aos alunos de graduação a prática de integrar novas leituras a outras antes realizadas, em especial mediante o exercício da comparação; (v) capacitar os estudantes para uma melhor percepção das expectativas de erudição, ou de conhecimento, no campo de estudos escolhido. Estudos sobre a escrita acadêmica em inglês, de Swales (1990), identificaram ações características na estruturação dos gêneros de textos acadêmicos. A partir dessa http://www.periodicos.capes.gov.br/portugues/index.jsp pesquisa, o autor criou um roteiro indicativo de ações mais globais (ações) e outras mais específicas (passos) realizadas para a escrita de cada gênero. Com a ajuda de Motta-Roth (2010, p. 21), é possível dizer que resenhar um livro ou um artigo lido significa desenvolver “quatro etapas em que realizamos ações de: apresentar>descrever>avaliar>recomendar”. Esse esquema conduz a ações obrigatórias (obr.) ou opcionais (opc.), já que são indispensáveis ou apenas complementares, respectivamente, para que, de fato, tenhamos uma resenha. O Quadro 1 enumera as ações e os passos que as sustentam, alguns obrigatórios (obr.) e outros, opcionais (opc.): Quadro 1 – Ações e passos de uma resenha Ações Passos 1. Apresentar O Livro 1. Indicar o título do livro resenhado e definir o tópico geral do livro (obr.); 2. Informar sobre leitores em potencial (opc.); 3. Fornecer credenciais do(a) autor(a) (obr.); 4. Argumentar sobre relevância e origem da obra (obr.); 5. Elaborar generalizações sobre o tópico (opc.); 6. Inserir o livro numa área de conhecimento (obr.); 2. Sumarizar o livro 7. Apresentar a organização geral do livro (obr.); 8. Descrever cada parte da organização do livro (obr.); 9. Citar material extratextual (opc.); 3. Destacar avaliativamente partes do livro 10. Focalizar partes do livro mediante avaliação ou crítica (obr.); 4. Avaliar o livro conclusivamente 11. Recomendar (ou não) o livro (com ou sem restrições) (obr.); 12. Sugerir futuras aplicações (opc.). Fonte: elaborado pela autora do capítulo com base em Motta-Roth (2010), Araújo (1996) e Bezerra (2009). A partir desse quadro, as quatro principais ações que o produtor de uma resenha realiza são: 1. apresentar o livro (criando condições para que o leitor se situe em relação a aspectos gerais do livro que vai conhecer, para optar ou não pela leitura); 2. sumarizar ou sumariar o livro (indicando aspectos gerais do conteúdo do livro, o que oportuniza tomar contato com as linhas teóricas relevantes a que a publicação se afilia); 3. destacar avaliativamente partes do livro (argumentando, como cabe fazer em uma resenha); 4. avaliá-lo conclusivamente (argumentando de forma a recomendar – ou não – o livro, ou para alertar o leitor sobre detalhes que só uma leitura crítica possibilita). Feitas essas anotações, analisemos a resenha Letramentos múltiplos, escola e inclusão social, de Acir Mario Karwoski, o qual utilizou o mesmo título do livro de Roxane Rojo. A ficha do livro, que condensa todos os dados necessários para que o leitor possa buscar e encontrar com mais agilidade a obra procurada, aparece em primeiro lugar no texto: ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. 128 p. A seguir, incluímos um quadro que visa a organizar a análise das ações e dos passos em colunas para dar uma dimensão clara da configuração de uma resenha modelo. Observe que a análise remete a parágrafos, visto que a construção das ações e dos passos predominantemente assim se constitui neste exemplo. Quadro 2 – Resenha – Configuração global: ações e passos Indicação de parágrafo onde isso ocorre na resenha em análise Ações e passos Anotações importantes AÇÃO 1 – APRESENTAR O LIVRO Parágrafo 1 Passo 1 – Indicar o título do livro resenhado e definir o tópico geral do livro (obr.). O resenhista começa o texto explicitando o título do livro resenhado e apresentando o tópico geral que a obra focaliza (frase ou segmento 1 do par.1). Parágrafo 2 Passo 3 – Fornecer credenciais da autora (obr.). O Passo 3, indicar as credenciais da autora, aparece no segmento 3 (frase 3) do parágrafo inicial da resenha. Passo 4 – Argumentar sobre relevância e origem da obra (obr.). Observe que o produtor do texto utiliza a narrativa de sua experiência de vida, ação que não é comum neste gênero, para contextualizar a obra. A história de vida, nesse texto específico, torna-se um argumento de valorização da obra, pois conta como o letramento experiencial do resenhista contribuiu para seu sucesso. AÇÃO 1 – APRESENTAR O LIVRO Passo 4 – Argumentar sobre relevância e origem O resenhista confirma o livro em análise como prova da escolarização vista como uma saída para melhoria das situações do Parágrafo 3 da obra (obr.). mundo. Transcreve uma citação do texto original de Rojo que explicita isso. É possível perceber afirmações que tecem generalizações sobre o tema. Passo 5 – Elaborar generalizações sobre o tópico (opc.). Passo 6 – Inserir o livro numa área de conhecimento (obr.) O livro resenhado, ainda no parágrafo 3, ganha relevo dentro da área da Pedagogia da Leitura e da Escrita. AÇÃO 2 – SUMARIZAR O LIVRO Parágrafos 4 e 5 Passo 7 – Apresentar a organização geral do livro (obr.). O resenhista aponta como se apresenta o livro em resenha: a) qualificando diagramação e ilustrações (par. 4); b) enfatizando o caráter prático e exigente de letramentos múltiplos do leitor do livro em foco; bem como c) elogiando a precisa construção dos 14 capítulos com as respectivas atividades propostas pela autora do livro resenhado (par. 5). A etapa de sumarização da resenha oferece, ao leitor, o mapa da leitura. Parágrafos 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12 Passo 8 – Descrever cada parte da organização do livro (obr.). Nos parágrafos 6 a 12, o resenhista ocupa-se de descrever cada capítulo da obra. Segue a sequência dada pela autora na escrita do livro e organiza cada parágrafo desse passo da ação de sumarizar: a) indicando o título, b) sintetizando o conteúdo e c) inserindo uma citação que comprova o que resumiu de cada capítulo descrito Parágrafos 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15 AÇÃO 3 – DESTACAR AVALIATIVAMENTE PARTES DO LIVRO Simultaneamente ao ato de sumarizar, o resenhista distribui a ação de destacar avaliativamente as partes do livro, especialmente, do parágrafo 2 até o 15. Isso faz quando: a) narra sua experiência positiva e rica de letramento, analisada à luz do que leu no livro de Rojo (par. 2); b) confirma o que é a escolarização e o papel do letramento como base de mudanças para melhor na sociedade (par. 3); c) qualifica com léxico do tipo “ bem diagramado”, “ impressão” de diálogo autora/leitor (par. 4), entre outros exemplos; d) indica a possibilidade de retomar teorias discutidas pela autora, quando lemos o livro, e destaca a experiência de vivenciar o letramento, quando em contato com um livro como esse, que conduz a links, a sites, a leituras não verbais etc.; e) aponta o “ instigante desafio” que a autora traz como motivação para a produção do livro (par. 6); f) enfatiza, em cada capítulo sumarizado, detalhes positivos da obra. Destaquem-se: f.1) contextualização do leitor no tema, remetendo ao aspecto histórico e à apresentação de gráficos e tabelas esclarecedoras (par. 7); f.2) enumeração de resultados de alunos em exames como Enem, Saeb e Pisa, acrescidos de comentários sobre insucessos dos estudantes nas avaliações (par. 8); f.3) elucidação dos conceitos de alfabetismo e alfabetização para que os leitores avaliem atividades de letramento e ressignifiquem o papel da escola (par. 9); f.4) esclarecimento, mediante retrospectiva histórica, do conceito de alfabetização que leva a uma formulação de novas e mais eficazes propostas de ensino (par. 10); f.5) aprofundamento de conceitos de competências e habilidades de leitura e escrita e a indicação, pelaautora, de fontes teóricas que sustentam uma reflexão acerca do ensino da língua portuguesa (par. 11); f.6) relevância (o resenhista fala em “ o capítulo mais esperado pelo leitor”) da contribuição de Rojo (2009) para os estudos de letramento (par. 12). Parágrafo 13 AÇÃO 1 – APRESENTAR O LIVRO Passo 2 – Informar sobre leitores em potencial (opc.). Note que o resenhista destina este parágrafo do final do texto para indicar possíveis leitores. O parágrafo 13 abre-se assim: “ professores da Educação Básica, estudantes de Letras, Pedagogia e áreas afins […] pesquisadores de linguagem e educação”, mostrando que as ações da resenha, salvo as que têm a função de promover a compreensão inicial do texto, podem se diluir por diferentes lugares (ações e passos) desse gênero. Parágrafos 13, 14 e 15 AÇÃO 4 - AVALIAR O LIVRO Após essa indicação de possíveis leitores da obra, o resenhista elogia a hora apropriada em que tal livro vem ao público, em vista da “ perspectiva da comunidade acadêmica em relação à publicação, pois as pesquisas acerca de letramento no Brasil estão em evidência e o livro vem somar-se em boa hora […]”. Passo 11 – Recomendar (ou não) o livro (com ou sem restrições) (obr.). Passo 12 – Sugerir futuras aplicações (opc.). O parágrafo final – “ Sem dúvida, a ausência de uma conclusão ou a omissão proposital de considerações finais na obra é um anúncio de que brevemente teremos o privilégio de ter outro interessante trabalho de Roxane Rojo. Novos questionamentos devem ser apresentados. Novas respostas poderão ser dadas nos estudos acerca de letramentos múltiplos” – fecha a ação de recomendar a leitura do livro, ressaltando a qualidade e oportunidade da obra, sugerindo novos horizontes na área de estudos tão carente de pesquisa. Observe que a recomendação utiliza a ausência de conclusão como uma qualidade da obra. Observação: possível é, também, dizer que essa recomendação final reafirma o valor e relevância da obra dentro de sua área, pois se reiteram: a AÇÃO 1 – APRESENTAR O LIVRO, com os passos: 4 – argumentar sobre relevância e origem da obra (obr.); 5 – elaborar generalizações sobre o tópico (opc.); e 6 – inserir o livro numa área de conhecimento (obr.). Fonte: elaborado pela autora do capítulo, com base no Quadro 1. Essa primeira análise confirma a feição e a função avaliativa que caracterizam o gênero resenha acadêmica e certifica que “os limites entre os estágios […] se confundem e adquirem mobilidade, antecipando-se ou retardando-se em relação a outros estágios do texto” (MOTTA-ROTH; HEBERLE, 2005, p. 21). Se você percorreu os passos e as observações da resenha analisada com calma e atenção, está apto a entender por que se diz que a resenha é um texto de avaliação. Por um lado, esse gênero de discurso não prescinde de um resumo acurado do original (livro) a que se refere; por outro, exige do resenhista um saber-fazer juízos dentro do campo em que se insere o objeto focalizado. Esta crítica, no entanto, não pode dar lugar a “perguntas retóricas ou sarcasmos” nem a deturpações do pensamento do autor do livro (LAKATOS; MARCONI , 1992, p. 90), conforme constatamos. Na universidade, a resenha oportuniza adquirir “consciência da linguagem de avaliação” (SWALES; FEAK , 2004, p. 181). Além disso, mesmo que o resenhista de livros tenha uma certa liberdade de conteúdo e de organização no seu texto (afinal, esses aspectos são expressão daquilo que ele escolhe a partir de seus pontos de vista), é importante conhecermos o que é recorrente na organização desse gênero de discurso. Conhecer as ações e os passos da organização da resenha, já consagrados por meio de estudos e pesquisas como as mencionadas, traz segurança à escrita, pois providencia clareza, precisão, organização, consistência e ponderação na construção de um texto crítico sobre um livro. REFERÊNCIAS ARAÚJO, A. D. Lexical signalling: a study of unspecific-nouns in book reviews. 1996. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. BEZERRA, B. G. A resenha acadêmica em uso por autores proficientes e iniciantes. In: BIASI-RODRIGUES, B.; ARAÚJO, J. C.; SOUZA, S. C. T. de. Gêneros textuais e comunidades discursivas: um diálogo com John Swales. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. CHARAUDEAU, P. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2006. GIERING, Maria Eduarda. As resenhas acadêmicas “Filhos sadios pais felizes” e “Passado, presente e futuro das teorias motivacionais” e suas situações de comunicação. In: ALVES, Isa Mara; GIERING, Maria Eduarda; MELLO, Vera Helena D. de. Leitura e produção de resenha acadêmica. São Leopoldo: Unisinos, 2010. KARWOSKI, Acir Mario. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. Delta (online), v. 26, n.1, São Paulo, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php? pid=S0102-44502010000100010&script=sci_arttext. Acesso em: 20 fev. 2013. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas, 1992. MOTTA-ROTH, D. (org.). Redação acadêmica: princípios básicos. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, Imprensa Universitária, 2010. ______. Rhetorical features and disciplinary cultures: a genre-based study of academic book reviews in linguistics, chemistry and economics. 1995. Tese (Doutorado em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-44502010000100010&script=sci_arttext Linguística Aplicada) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. MOTTA-ROTH, D.; HEBERLE, V. M. O conceito de “estrutura potencial do gênero” de Ruqayia Hasan. In: MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. Gêneros: teorias, métodos, debates. Rio de Janeiro: Parábola, 2005, p. 12-28. ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. SWALES, J. Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. SWALES, J. M.; FEAK, C. B. Academic writing for graduate student: essential tasks and skills. 2. ed. Michigan: University of Michigan, 2004. Capítulo elaborado por Juliana Alles de Camargo de Souza. 1 <www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-44502010000100010&script=sci_arttext>. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-44502010000100010&script=sci_arttext CAPÍTULO 7 A PRODUÇÃO DE RESUMOS E O PROCESSO DE SUMARIZAÇÃO Este capítulo trata das características do resumo como ação (procedimento) discursiva necessária na elaboração da resenha acadêmica e de alguns cuidados importantes para a sumarização. A habilidade de produzir resumos é frequentemente solicitada na vida cotidiana de cada um de nós: como adultos, temos, muitas vezes, que resumir um livro, uma peça de teatro ou um filme, por escrito ou, pelo menos, oralmente. Saber resumir também é uma capacidade necessária, nas sociedades letradas, para o desempenho de várias funções e atividades profissionais. Por exemplo, um advogado precisa resumir o que leu em um processo; um administrador, o que leu em um projeto; um jornalista, o que ouviu em uma entrevista; um professor, o que leu em um manual ou ouviu em uma reunião, e assim por diante. Na vida social, existem muitos textos ou partes de textos pertencentes a diversos gêneros, os quais resultam de um processo de sumarização: títulos e subtítulos de matérias; quadros em reportagens de jornais e de revistas; apresentação concisa de filmes, de peças teatrais ou de outros eventos científico-culturais; abstracts de artigos científicos ou de teses; e o resumo enquanto parte constitutiva de gêneros como resenha crítica e contracapa de livro. Ao estudarmos o resumo como um gênero de discurso, reconhecemos não só seu uso social em diferentes situações de comunicação como também a importância de ele se constituir como um objeto de ensino para o desenvolvimento de capacidades específicas inerentes à compreensão e à produção de textos. O contexto de produção de um texto é constituído pelas representações que temos sobre o local e o momento da produção, sobre os parceiros da comunicação e seu papel social, sobre a instituição social
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